quarta-feira, 28 de maio de 2014

António Costa disponível para avançar com proposta de congresso no domingo




Se Seguro não marcar congresso, o seu opositor vai pedir à Comissão Nacional que o faça

António Costa esteve reunido com António José Seguro esta quarta-feira e à saída disse que se o secretário-geral do PS não convocar um congresso extraordinário, apresentará uma proposta nesse sentido na reunião da Comissão Nacional de sábado no Vimeiro.

“É útil que haja congresso, se o secretário-geral não propuser a realização do congresso, naturalmente apresentarei a proposta na Comissão Nacional para que exista um congresso”, garantiu o socialista depois de um encontro que demorou pouco mais de uma hora, na sede nacional do PS. A resposta de Seguro ao desafio de Costa não foi dada na reunião, de acordo com António Costa, e o PS vai emitir um comunicado ainda hoje com a posição do seu líder.

O autarca socialista insistiu ainda que “nas actuais circunstâncias” era “muito importante que houvesse congresso e que se devolvesse a palavra aos militantes”. “É no debate democrático que fortalecemos a unidade, reforçamos o partido”. Costa não quis adiantar se partirá para a terceira hipótese para que seja antecipado um congresso no PS, que é reunir os apoios das federações socialistas. De acordo com os estatutos, a proposta de um congresso pode ser apresentada pela maioria das comissões políticas federativas que representem a maioria dos militantes do partido. Mas atirou a farpa: “Sinto que muitas vezes os cidadãos têm muitas perplexidades sobre o funcionamento das estruturas partidárias e é nestas questões metodológicas que muitas vezes se cria o fosso entre a sociedade e os partidos.”

Lusa, em jornal i – foto Mário Cruz, Lusa

Portugal: OS DIAS INFERNAIS NO PARTIDO SOCIALISTA



Ana Sá Lopes – jornal i, editorial

Se Costa tivesse arriscado perder há ano e meio teria hoje legitimidade acrescida

O resultado das europeias é terrivelmente frágil para um PS na oposição, três anos depois do choque em cadeia que tem sido a gestão do país pela troika e por um governo PSD/CDS empenhado em “ir além da troika”. António José Seguro não conseguiu, ao contrário do que seria minimamente expectável, transformar o PS numa alternativa credível. A vitória à justa nas europeias conseguiu pôr os derrotados da noite, no meio daquele caos, a mostrar ânimo com o vislumbre de que nem tudo pode estar perdido nas legislativas, o que seria um fenómeno a ser obrigatoriamente estudado pelos especialistas em ciência política. Pior do que as alucinadas declarações de Passos e Portas – os responsáveis nacionais pela redução do país a estilhaços – foram as sondagens divulgadas no dia seguinte  que deram um sinal inequívoco de que este PS não é uma alternativa consistente à presente governação do país. Evidentemente, isto é um susto.

Seguro percorreu um terrível caminho de pedras, herdando um partido devastado pela derrota de Sócrates, um partido que esperou pacientemente que lhe caísse no colo – raramente divergindo do ex-líder e remetendo-se ao silêncio durante longos anos. Quando chegou a vez de ser entronizado no Largo do Rato, optou pela estratégia do assim-assim, convencido de que bastaria esperar pelo apodrecimento de um governo em desagregação para se tornar primeiro-ministro. Crispou-se, fechou-se, refugiou-se numa trincheira. Abrir-se à sociedade não é só fazer uma convenção num hotel com Joana Amaral Dias.

Dito isto, António Costa é co-responsável pela fraca vitória do PS. Foi ele que achou que estava tudo bem e recuou numa famosa noite no Largo do Rato depois de ter tudo preparado para ser candidato à liderança do partido. Aquele era o momento certo para começar a construir a alternativa interna: aliás, nada se passou entretanto de novo, a não ser uma vitória nas autárquicas e uma vitória pouco expressiva nas legislativas. Mas foi Costa que nos disse que tinha chegado a um acordo com Seguro sobre não sei o quê (nunca ninguém soube muito bem em redor do que era o acordo). Era o tempo certo para discutir a liderança e foi marcado um congresso onde o candidato Costa não compareceu. Se tivesse arriscado perder teria hoje uma legitimidade acrescida. Ao recusar, tornou-se co-responsável pelos resultados de domingo. Agora, há uns estatutos blindados que toda a gente já sabia que existiam. Vai ser um calvário doloroso e era escusado. Se é verdade que António Costa é um dos quadros mais inteligentes do PS, também é verdade que junta à sua volta uma amálgama de gente totalmente contraditória entre si, que vai desde os que defendem alianças à esquerda aos que as abjuram e estão prontos para o bloco central. Costa já mostrou que é capaz de aglutinar – mas não se lhe pode exigir menos do que a maioria absoluta. Quer dizer, se houver congresso e ele ganhar.

Portugal: ANTÓNIO COSTA JÁ ESTÁ REUNIDO COM SEGURO




O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, já está reunido com o secretário-geral do PS, António José Seguro, na sede do partido, em Lisboa.

António Costa chegou ao Largo do Rato, onde está situada a sede do PS, quando passavam oito minutos das 17h30.

À entrada para a reunião com António José Seguro, o autarca recusou-se a fazer qualquer comentário, garantindo que irá falar com os jornalistas no final da reunião.

António Costa e António José Seguro estão agora reunidos para discutir aquele que será o futuro do partido, em especial no que à liderança diz respeito, uma vez que o autarca disse ontem estar disponível para assumir essa ‘missão’.

Além das dezenas de reações verbais, hoje Jorge Lacão, membro da direção do PS, apresentou a sua demissão por não concordar com a não realização de um congresso socialista.

Patrícia Martins Carvalho - Notícias ao Minuto

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OTAN PRECISA DE UMA NOVA GUERRA FRIA



Igor Siletsky – Voz da Rússia

A OTAN pretende colocar tropas na fronteira com a Rússia. Segundo o jornal The Sunday Times, esses planos serão na próxima semana objeto de discussão numa reunião dos ministros da Defesa da Aliança.

Na sede da OTAN já estão dizendo que o “ato de cooperação” assinado com Moscou perdeu sua validade. Na opinião de analistas, nos últimos 17 anos a Aliança perseguiu um único objetivo: expulsar definitivamente a Rússia do espaço pós-soviético.

Os países integrantes da OTAN estão desenvolvendo planos de colocar tropas em países do antigo bloco soviético. Isso efetivamente irá pôr fim ao acordo com a Rússia, assinado após o fim da Guerra Fria, escreve o The Sunday Times.

A OTAN e a Rússia assinaram o chamado “Ato fundamental sobre relações mútuas, cooperação e segurança” em 1997. Bruxelas e Moscou concordaram em que os países ocidentais não iriam colocar forças militares consideráveis a leste do Elba. Agora os funcionários da OTAN estão afirmando que o acordo era válido enquanto a situação se mantinha a mesma e ambas as partes respeitavam os seus termos. Mas, desde que a Rússia, em suas palavras, “anexou” a Crimeia, tudo mudou.

Só que a situação mudou não em março deste ano, quando o povo da Crimeia se pronunciou num referendo em favor da reunificação com a Rússia. Ainda na década de 1990, após o colapso da União Soviética, surgiu a questão da existência da Aliança do Atlântico Norte. Bruxelas, na altura, prometeu não expandir a influência da Aliança para Leste mas, dentro de poucos anos, quase todos os países do antigo bloco soviético se juntaram à OTAN, nota o vice-diretor do Instituto dos EUA e do Canadá Pavel Zolotarev:

“Então ficou claro que é pouco provável que essa organização se dissolva a si própria. Porque ela é o principal instrumento de influência dos EUA na Europa. A Rússia acreditou que, já que não somos inimigos, podemo-nos aproximar. E o Ocidente em sua política real, apesar da retórica sobre a necessidade de cooperação, usou isso para expandir a sua área de influência para o Leste. Aceitando novos membros na OTAN, primeiro de entre ex-países socialistas, e depois até de alguma repúblicas que fizeram parte da União Soviética”.

Segundo o perito, o objetivo principal que se propõe a Aliança do Atlântico Norte é expulsar a Rússia do espaço pós-soviético. Já durante muitos anos a OTAN está encaixando a Geórgia em seus padrões, e agora se ocuparam ativamente da Ucrânia. Esta última se tornou um obstáculo nas relações entre Moscou e Bruxelas por altura do 17 aniversário da assinatura do acordo de cooperação, nota o especialista do Instituto dos países da CEI Valeri Yevseev:

“De momento, as relações entre a Rússia e a Aliança do Atlântico Norte estão extremamente difíceis. Os países da OTAN estão aumentando a sua presença perto das fronteiras da Federação Russa. E isso não pode deixar de preocupar a Rússia. Deste ponto de vista, dada o extremo agravamento das relações entre Moscou e Bruxelas por causa da crise ucraniana, há que tomar algumas medidas para reduzir as tensões. Do lado russo tal decisão foi tomada. A ela é devida a retirada das tropas russas da fronteira com a Ucrânia”.

Segundo o especialista, a principal finalidade da colocação de tropas da OTAN na fronteira com a Rússia é o desejo de justificar a sua existência. Isso requer um inimigo externo. E encontraram-no em Moscou. Esta é a única maneira para Washington de provar a seus aliados que precisam da OTAN.

Ora, provar está se tornando cada vez mais difícil. Por exemplo, Berlim se recusa a aumentar os gastos em defesa, deixando sem resultados as inúmeras tentativas de Bruxelas. O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble se opõe ao aumento do orçamento militar da Alemanha em resposta à crise na Ucrânia. Segundo ele, na situação atual tal passo não seria uma política muito sábia. Além disso, o ministro falou contra a colocação de tropas da OTAN em Estados da Europa do Leste. Schaeuble tem certeza de que isso só irá agravar a situação.

O presidente russo há dias lembrou aos seus parceiros ocidentais: Rússia e a OTAN realmente poderiam colaborar frutuosamente. Segundo Vladimir Putin, existem áreas onde esforços conjuntos podem ser aplicados: a segurança comum, a defesa contra o terrorismo, a luta contra o tráfico de drogas. Para resolver todos esses problemas é necessário consolidar os esforços. E não provar quem é o dono do mundo, como a Aliança do Atlântico Norte está fazendo.

Foto: Flickr.com/7thArmyJMTC/cc-by

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BRICS: uma nova arquitetura de finanças e desenvolvimento




Os BRICS iniciaram tratativas para a criação de alternativas ao FMI e ao Banco Mundial, instituições dominadas hoje pelos EUA e pela União Europeia.

José Carlos Peliano* - Carta Maior

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo de países chamado BRICS, têm debatido entre si a possibilidade de estruturar novas alternativas de assistência financeira internacional e de financiamento ao desenvolvimento mundial que atendam aos seus interesses e as suas necessidades. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM) estão na berlinda.

Dominadas pelos Estados Unidos e União Europeia (UE) essas duas instituições multilaterais há tempos não têm reconhecido a importância do grupo no cenário internacional nem favorecido condições para um papel mais positivo dos BRICS nos seus órgãos decisórios.  Daí ter o grupo iniciado tratativas sobre a necessidade de criação de alternativas, um pool de reservas monetárias em substituição ao FMI e um novo banco de desenvolvimento em lugar do BM.

A imprensa estrangeira indica que um rascunho preliminar sobre a organização do banco dos BRICS já teria sido proposta pelo Brasil, enquanto o desenho dos acordos intergovernamentais dos países membros do grupo está a cargo da Rússia.

As propostas das duas novas instituições referenciadas aos BRICS, se aprovadas até o final deste ano, devem entrar em funcionamento já no ano que vem segundo fontes dos países do grupo.

O capital previsto para as duas instituições gira em torno de US$ 100 bilhões cada. Conversações já existem entre os membros do grupo para a distribuição do capital inicial de US$ 50 bilhões entre eles bem como a localização das sedes das instituições. Todos os países demonstraram interesse em ter as sedes em seus territórios.

No estágio atual das conversações, a distribuição prevista das reservas internacionais é a seguinte: China, US$ 41 bilhões, Brasil, Índia e Rússia, US$ 18 bilhões cada e África do Sul, US$ 5 bilhões. As participações têm por base o tamanho de cada economia.

Para se ter uma ideia do montante previsto de assistência financeira pelo novo Fundo dos BRICS, as reservas do FMI expressas em “Special Drawing Rights (SDR)” ou Direitos Especiais de Saque atingem US$ 370 bilhões. Mas enquanto os US$ 100 bilhões do Fundo dos BRICS serão divididos pelos 5 membros, os US$ 370 do FMI são potencialmente divididos pelos 188 países membros.

A proposta do banco dos BRICS além de escapar da acirrada disputa pelos recursos do BM indica a postura do grupo de sair fora da zona de influência e domínio dos Estados Unidos e da União Europeia na aprovação de projetos. Querem os BRICS que seus projetos sejam apresentados por eles e por eles aprovados sem ingerência de interesses externos.  

A oportunidade da proposta do banco dos BRICS vem ao encontro da autonomia na gestão e liberação dos recursos. Mas ela dá conta também da importância assumida pelo grupo de países no cenário internacional em termos dos tamanhos e pujanças de suas economias. A consequência direta da emergência desses novos agentes no mundo é a influência econômica e política que passam a ter entre os demais países, especialmente os menos desenvolvidos.

Pois a influência econômica e política será posta em prática por meio do financiamento externo a projetos de desenvolvimento. O continente mais visado é o africano através da assistência financeira a pequenos e grandes empreendimentos de infraestrutura desde os básicos aos mais complexos. 

Em termos políticos, a ascendência dos BRICS na África será imediata, uma vez que terá condições de propor e desenvolver projetos diferentes dos padrões usuais de negociação e contratos, além de serem diretamente ouvidos pelos países assistidos, diferentemente do que ocorre hoje no âmbito das agências multilaterais. 

Em termos econômicos as empresas do grupo terão mercado garantido como contratantes e fornecedoras de equipamentos.  Ao contrário do que ocorre sob a influência do FMI e BM quando as empresas hegemônicas dos EUA e UE têm sempre preferencia e influência.

Já em termos internacionais, os BRICS não deverão se ausentar do FMI nem do BM, pelo menos de início. Não há razão imediata para a retirada de seus delegados desses foros de negociação internacional. Pelo contrário, a permanência do grupo dá mais força e representatividade podendo até mesmo vir a ser ascendido, ou parte de seus membros, a posições favorecidas e de decisão.

Já a proposta do Fundo dos BRICS tem a ver com uma reserva de moedas que serve de maneira predominante de seguro financeiro. Funciona como último recurso para solucionar situações emergenciais quando um ou alguns de seus membros sofram de problemas financeiros ou déficits orçamentários.

A Rússia, por exemplo, já seria uma candidata em potencial do Fundo ao passar por um período com o valor de sua moeda em queda. O Fundo seria oportuno para suprir a falta temporária de moeda para a cobertura dos problemas de balanço de pagamentos. Igualmente para sanar desequilíbrios localizados do sistema bancário na medida que os bancos, supridos com moeda estrangeira para cobrir seus déficits, não tenham condições de honrar os débitos externos assumidos. Serviria também para entrar em ação quando as moedas de países membros do grupo sofressem desvalorização face à política monetária mais frouxa dos Estados Unidos e/ou da União Europeia.

Como o FMI atua com mais frequência na proteção das crises e valores dos países desenvolvidos e de forma mais emergencial e imediata, o Fundo alternativo dos BRICS vai garantir proteção e ajuda “just in time” de seus membros. Por fim, mas não menos importante, o Fundo vai permitir que o grupo não dependa exclusivamente das moedas e valores internacionais, passando a ser com o tempo e gradativamente provido, garantido e administrado com mais predominância pela cesta de suas próprias moedas.

Nada como um dia depois do outro com a noite no meio. Países antes chamados de em desenvolvimento, depois de menos desenvolvidos, posteriormente de emergentes e agora de novos atores mundiais, começam a atuar como gente grande e a definir com mais autonomia seus próprios rumos e em conjunto suas relações no cenário internacional. Tem tudo para alterar o equilíbrio de forças na ordem econômica mundial vigente pelo menos quanto ao financiamento e à construção de projetos de desenvolvimento para si e países menos favorecidos.
 
(*) Economista

Créditos da foto: Arquivo

Portugal: E AGORA?



Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião

Era presumível, depois da baixa notação das eleições, que António José Seguro tivesse o destino marcado. Mas não era previsível que o bota-abaixo ocorresse a escassas horas da minguada vitória. A verdade é que Seguro não era o homem indicado para as circunstâncias. António Costa sê-lo-á? É uma escolha evidente, e ele próprio manifestou reservas quanto ao resultado da votação e não entrou na pública ufania de Seguro. A estocada final foi desferida por Mário Soares (ontem, em artigo publicado no DN), que não leva desaforo para casa, e fora deliberadamente ignorado pelo pobre secretário-geral, cuja imprevidência, neste e em outros casos, roça a infantilidade.

As eleições para as europeias constituem uma espécie de "primárias" das legislativas, destinadas, historicamente, a tomar o pulso à situação. A direita cá do sítio sofreu um abanão e os semblantes dos seus mais distintos expressavam a dor dos sentidos afectados. Porém, os quatro pontos que separam o PS da Aliança Portugal não podiam deixar de desassossegar quem se interessa pelas regras da arte. No interior do próprio partido ganhador, a bonança não criou morada. E tornou-se cada vez mais evidente que Seguro não era o homem adequado à situação, tanto mais sabendo-se que a coligação já começou a preparar a contra-ofensiva.

Ante esta conjuntura problemática e a ambiguidade sem expectativa, a vitória de Marinho e Pinto e a queda do Bloco não são de estranhar. Ambos representam epifenómenos comuns a um desespero institucional que procura salvação. O Bloco perdeu porque talvez houvesse claudicado na sua genuinidade inicial, e Marinho e Pinto ganhou ao encarnar essa genuinidade perdida. A CDU sobe, embora cercada por uma imprensa desfavorável e por uma televisão que quase a ignora, minimizando deliberadamente uma voz que possui a força de uma filosofia, uma doutrina e uma convicção imprescindíveis pela sua própria história. Além de caracterizar quase dois milhões de militantes, adeptos e simpatizantes.

Ante tudo isto, os "barões" do PS ergueram sombras ao que Seguro queria fazer no partido. A escolha de Assis não foi muito bem aceite entre os socialistas mais "à esquerda", porque ele designa a continuidade de uma política de subserviência aos "mercados", e pouco ou nada difere das orientações proclamadas pela direita europeia.

A experiência democrática, trabalhada pela incerteza dos seus actuais dirigentes e pela inextrincável ignorância dos que dizem representá-la nos diversos parlamentos, está a conduzir o mundo a uma irrefragável desgraça. O ovo da serpente foi reanimado e a deputada Ana Gomes não escondeu, no programa Prós e Contras, o horror que eventualmente nos espera. A queda de Seguro pode ser um sinal moderador. Mas a Europa? Tudo nos conduz ao desespero.

Economia portuguesa perdeu 680 mil empregos em cinco anos



Ana Suspiro – jornal i

A reestruturação financeira das empresas, em particular das PME,é apontada como um factor crítico para a retoma econômica no período pôs ajustamento, na medida em que dela depende o crescimento do investimento e a criação de emprego

A economia portuguesa perdeu 680 mil postos de trabalho nos últimos cinco anos. Os dados do Banco de Portugal mostram que a perda de empregos foi especialmente relevante na indústria onde atingiu 360 mil pessoas.

Uma parte desta evolução é o resultado do processo de viragem da economia para o sector terciário, visível na subida do emprego nos serviços. No entanto, a análise da economia portuguesa do relatório anual, aponta para "aspectos particulares" que levaram ao crescimento do emprego em sectores da administração publica, saúde e educação.

A par da queda do emprego, os dados do Banco de Portugal, ilustram uma descida acentuada da população activa face às projecções feitas em 2006. Só no ano passado, a população activa perdeu 121 mil trabalhadores, dos quais 70 mil se concentram no grupo com menos de 25 anos. No grupo entre os 25  e os 34 anos, a população activa caiu 51 mil indivíduos. O Banco de Portugal admite que os fluxos migratórios expliquem esta evolução, a par com o aumento dos anos de escolaridade e um maior nível de desencorajamenro dos desempregados.

A evolução do mercado do trabalho é um ponto chave do relatório que analisa a evolução da economia portuguesa no período do ajustamento em que se assume que o aumento do desemprego foi um dos maiores custos do processo de consolidação e reestruturação. Apesar dos sinais positivos visíveis na reorientaçao da economia para os sectores transaccionáveis, a nível micro este dinamismo não se sente ainda.

Entre as fragilidades estruturais que já existiam antes da crise econômica e financeira e que ainda não foram ultrapassadas, destacam se o elevado nível de endividamento das empresas portuguesas, que trava o investimento. Um baixo grau de qualificação e inovação, em particular ao nível da gestão e orientação das empresas, associado à pequena dimensão e estrutura familiar da maioria das sociedades, também pesam.

A reestruturação financeira das empresas, em particular das PME, é apontada como um factor crítico para a retoma econômica no período pôs ajustamento, na medida em que dela depende o crescimento do investimento e a criação de emprego.

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Portugal: DIA DAS ELEIÇÕES



Mário Soares – Diário de Notícias, opinião - ontem

O Senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, na tarde das eleições, fez um único apelo aos portugueses: "não deixem de votar; é importante votar". Contudo, o povo, de norte a sul, respondeu com uma abstenção, que foi a maior de sempre: 66%, quase dois terços dos eleitores não votaram. Quer dizer que não o ouviram e desinteressaram-se dos partidos da coligação. Mas a "vitória" do PS, infelizmente, foi uma vitória de Pirro... Isto é: que não devia ter sido aclamada com o entusiasmo com que o seu líder o fez. O povo falou claro, não quer a direita que está no poder. Mas também quer que o PS dê expressão política ao descontentamento popular.

António Costa disse na televisão, cito: "Partilho como todos os socialistas a alegria da vitória e a preocupação de à derrota histórica da direita não ter correspondido uma vitória histórica do PS."

Com efeito, assim foi.

Mas o que diz o Presidente da República, que pediu com tanto empenho aos portugueses para que que votassem, sobre o facto de não lhe terem correspondido minimamente? Vai fazer, mais uma vez, orelhas moucas? E passar adiante como se nada fosse?

Lembre-se de que o Tribunal Constitucional, que esperou até agora para não ser acusado de prejudicar o Governo, como foi por estrangeiros e portugueses, aliás sem razão, vai ter de dizer finalmente o que pensa do Orçamento que lhe foi apresentado. Não creio que seja uma decisão favorável a este Governo, que tão mal tem feito a Portugal e aos portugueses. O Presidente da República não pode deixar de falar e de encontrar uma saída para a terrível crise em que Portugal está e continua com a austeridade que mata, como diz o Papa Francisco. Crise que acrescida agora com uma situação de impasse político.

O Presidente da República está a pouco tempo de ainda poder resolver, em parte, o mal que este Governo tem feito a Portugal e aos portugueses, só pensando nos mercados e ignorando completamente as pessoas. E que o Presidente sempre protegeu. Porque o tempo de Cavaco Silva para ter possibilidade de decidir é curto. Lembre-se de que sairá muito mal da cena política, continuando ainda como Presidente, sem ter poder para que possa ajudar ainda a salvá-lo, um pouco, das terríveis consequências da política deste Governo. É preciso que o demita antes. Se o não fizer, terá um péssimo fim. Quem o avisa, seu amigo é.

Os partidos do chamado arco do Governo estão desacreditados, como se viu. Têm de se compenetrar disso se quiserem subsistir. A vitória de Marinho e Pinto é um bom exemplo. Felicito-o. Mas o bom resultado da CDU, Partido Comunista, isolado como está e igual a si próprio, tendo como inimigo principal o PS, ao contrário do que Álvaro Cunhal fez em tempo de eleições presidenciais, não leva a lado nenhum para ninguém. E, de resto, como sempre foi, continua contra a União Europeia.

Contra a direita é preciso que a esquerda se una e que o Partido Socialista, por seu lado, também não fique isolado. E tente cooperar com toda a esquerda que o queira, de igual para igual.

As eleições do passado domingo devem fazer repensar os partidos da esquerda, como ocorreu na Grécia com Tsipras, cujo partido Syriza, ganhou as eleições. O que infelizmente não aconteceu com o Bloco de Esquerda. Mas este não deve desanimar.

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Portugal: Fantoche de Passos Coelho a leilão




Casa de apostas online vende boneco do primeiro-ministro. Dez dias para licitar Passos e levá-lo para sua casa. Dinheiro reverte a favor de associação de solidariedade designada pelo "dono" do fantoche.

Uma casa de apostas online abriu um leilão em que está a licitar um "fantoche de dois metros e meio" do primeiro-ministro. Segundo um comunicado divulgado esta quarta-feira, a Unibet quer "vender Pedro Passos Coelho", depois de ter realizado idênticas iniciativas no Europeu de futebol, na Áustria, e nas comemorações do 5 de Outubro.

Durante dez dias, o leilão - que parte de um "preço de licitação de 3euro, um euro por cada ano de austeridade da troika" - estará disponível para os portugueses com acesso à internet. Depois o "valor final de aquisição" arrecadado "será revertido para uma Associação de Solidariedade designada pelo novo 'dono' do primeiro-ministro".

Diário de Notícias

Angola: "O 27 tem muitas verdades e Neto não era um herói" - Lara Pawson




“Em Nome do Povo - O Massacre que Angola Silenciou” , um livro de relatos de gente que viveu o Fraccionismo, directa ou indirectamente.

Voz da América

 O 27 de Maio de 1977 marca um momento na vida de muitos angolanos que até hoje pouca gente sabe explicar. À falta de respostas definitivas ou certezas absolutas, a investigação de Lara Pawson, jornalista britânica, resultou no “Em Nome do Povo -  O Massacre que Angola Silenciou” , um livro de relatos de gente que viveu o Fraccionismo, directa ou indirectamente.

O livro que para muita gente vem trazer mais perguntas do que respostas é para a sua autora, um passo para abrir a discussão e gerar a reflexão e é também o seu contributo para a História de Angola.
O que foi o 27 de Maio?

Encarada como a primeira e única tentativa de golpe de Estado em Angola, a acção revolucionária liderada por Nito Alves a 27 de Maio resultou na morte de milhares de pessoas e ainda hoje assombra os angolanos.

A imagem de Nito Alves como o possível herói do povo tem servido de inspiração a alguns jovens que se rebelam contra o Governo do MPLA, convocando manifestações.

No livro, Lara consegue transportar o leitor a cada detalhe da sua vida enquanto investigava, bem como à vida dos seus intervenientes, pessoas irreverentes, assustadas, reprimidas, mas acima de tudo “corajosas”, como as descreve Pawson, que fugindo ao convencional retrata um Governo de Neto sem dó, nem piedade.

Lara foi correspondente da BBC em Angola, em 1998, altura em que teve conhecimento do 27 de maio. A partir daí, confessa, tornou-se “obcecada por um tema que não encontrava escrito em lado nenhum”. Para a jornalista, tentar definir se o 27 foi uma tentativa de golpe de Estado ou uma manifestação, é demasiado simplista, é preciso ir mais longe.


Angola: A MEMÓRIA E OS ELEFANTES



Artur Queiroz – Jornal de Angola, opinião

O historiador Carlos Pacheco gosta de fazer o papel de mártir. Está no seu direito. Mas para satisfazer as suas tendências tem de saber que há limites. O Presidente Agostinho Neto conduziu os angolanos num processo revolucionário que terminou com a Independência Nacional. A luta foi difícil, os obstáculos a transpor, inumeráveis. Os perigos eram muitos, a missão exigia mais sacrifícios do que permitia a força humana. 

Um líder que conduziu o seu povo pela via agreste da liberdade até à Independência Nacional, somando sucessos e vitórias, merece o respeito e a admiração de todos os que se consideram angolanos. Muitos dos que se puseram contra a sua liderança, acabaram por reconhecer o seu génio político e as suas qualidade de dirigente revolucionário. Apenas ficaram de fora os que não têm dimensão para ser oposição a nada. 

O historiador fala de repressão sangrenta e de crimes. Diz que é a sua experiência. Mas para ser levado a sério tem que explicar muito bem esta contradição insanável: o regime era ditatorial mas o "ditador" só esteve no poder entre 11 de Novembro de 1975 e 10 de Setembro de 1979, menos de quatros anos. Os mandatos presidenciais nas democracias são quase sempre de cinco ou mais anos. 

O regime do MPLA é sanguinário e no 27 de Maio de 1977 matou milhares de pessoas. Mentira infantil que facilmente se comprova. Mas tal como Pacheco não quer falar do "juízo" de Nito Alves também eu não vou entrar nessa discussão. Mas Pacheco tem que explicar muito bem porque razão ele não foi morto. Esteve preso. Diga porque foi libertado e continuou a fazer a sua vida. Fez investigação histórica. Diga quem lhe pagou tudo isso. Até às eleições viveu entre nós. Depois foi fazer a sua vida. Ninguém o impediu. Nas ditaduras isso não costuma acontecer. Os ditadores não dão tantas oportunidades aos "inimigos".

O MPLA foi a organização política que proporcionou aos intelectuais a oportunidade de lutarem pela libertação do Povo Angolano. Carlos Pacheco, eu e muitos outros agarrámos essa oportunidade e assim demos sentido às nossas vidas. Por muito que façamos, jamais conseguiremos retribuir a honra que foi participarmos nesses combates. Devemos ao MPLA tudo o que somos de bom e positivo. Jamais conseguiremos pagar ao Povo Angolano os dias gloriosos que vivemos, com a pele encostada ao chão, na exaltante luta pela liberdade.

Pacheco, estás equivocado! Em Angola a ditadura acabou no dia 25 de Abril de 1974. Desde então, raia na nossa Pátria o Sol da Liberdade. Se tu não queres, é um direito que te assiste. Mas não lances lama sobre a figura ímpar de Agostinho Neto. Estás a ofender-te a ti próprio. Se és alguma coisa, a ele o deves. Tal como eu e todos os da nossa geração.

O 27 de Maio não é para esquecer. Nunca! É uma lição dolorosa, mas que nos ensinou muito. Ficámos sem os melhores, de um e do outro lado. A irresponsabilidade e a ambição fazem uma mistura explosiva que cega e bloqueia o pensamento. Eu aprendi em criança, com o mais velho Tuma, que jamais devemos tocar no ninho do marimbondo. Alguém se esqueceu de vos dar essa lição. Vejam bem a tragédia que causaram!  Isso sim, é preciso discutir. Porque os agressores foram os golpistas. Os agredidos não podem ser apontados a dedo como se tivessem culpa por terem resistido aos golpistas e sobrevivido.

Angola: Ativistas detidos pela polícia libertados a 60 quilómetros de Luanda




Vinte jovens ativistas angolanos queixaram-se hoje de agressões pela polícia por tentarem promover uma manifestação no centro da cidade de Luanda, tendo sido detidos e libertados ao início da noite a 60 quilómetros da capital.

De acordo com um dos rostos da manifestação, convocada pelo autodesignado Movimento Revolucionário, Manuel Nito Alves, estes ativistas foram detidos pelas forças policiais cerca das 15:00 de hoje, quando tentavam aceder ao Largo da Independência, na cidade de Luanda.

"Fomos detidos, escorraçados do Largo da Independência, pela polícia que nos levou. Agrediram-nos antes de nos deixarem em Catete [província do Bengo], eram 20:00. Estamos muito machucados", disse à agência Lusa Manuel Nito Alves.

A Lusa tentou obter uma posição da Polícia Nacional angolana sobre estas queixas, mas sem sucesso até ao momento.

Os manifestantes detidos, um grupo de vinte jovens, queixam-se ainda da utilização de gás lacrimogéneo por parte dos agentes policiais.

Um forte dispositivo policial impediu hoje à tarde o acesso ao centro do Largo da Independência onde deveria ter lugar esta manifestação.

Aquele espaço principal de Luanda e artérias envolventes estavam a ser vigiadas por dezenas de elementos policiais, equipas cinotécnicas e polícia de choque, constatou a Lusa no local.

A manifestação de hoje, que acabou por não acontecer nos moldes previstos, foi convocada pelo Movimento Revolucionário sob o lema "Chega de chacinas em Angola".

Contactadas pela Lusa nas últimas horas, as autoridades não confirmaram se esta manifestação tinha sido autorizada pelo Governo Provincial de Luanda.

"Nós cumprimos tudo o que estava previsto na Lei, mas somos acusados pelo Governo angolano de sermos arruaceiros", disse ainda Nito Alves.

Este movimento de jovens tem protagonizado manifestações de protesto na capital angolana desde 2011, nomeadamente com críticas à atuação das forças de segurança, terminando geralmente em confrontos com a polícia.

O protesto de hoje acontece na passagem do 37.º aniversário da liquidação da ala do MPLA - partido no poder em Angola -, dirigida por Nito Alves e José Van Dunem.

Sobre esta data, estes exigem a criação de uma "Comissão da Verdade" sobre o que aconteceu em 1977.

Reclamam ainda "Justiça" para o caso dos ativistas e ex-militares Alves Kamulingue e Isaías Cassule, que desapareceram em maio de 2012. Estes tentavam na altura organizar uma manifestação de outros antigos camaradas de armas, para exigir o pagamento de subsídios alegadamente em atraso, nalguns casos há mais de 20 anos sem serem pagos.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Português morto nos arredores de Luanda em assalto violento




Um português de 48 anos morreu em Viana, nos arredores de Luanda, depois ter sido espancado e esfaqueado durante um assalto que envolveu seis elementos, indicou hoje fonte oficial do Comando Provincial da Polícia Nacional angolana.

De acordo com o porta-voz daquele comando, citado pela agência de notícias angolana Angop, o crime ocorreu no domingo no bairro de Luanda Sul depois de seis assaltantes terem abordado a vítima e a sua namorada, que se encontravam a conversar na rua, tendo roubado os telemóveis.

Durante o assalto, o português, com um canivete, "conseguiu libertar a namorada, e foi depois agredido mortalmente pelos marginais, com um ferro e uma faca", explicou o porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, Mateus Rodrigues.

Segundo aquele oficial, a polícia já deteve os suspeitos do crime, que integravam um grupo, também desmantelado, envolvido em assaltos na via pública e residências no município de Viana, em Luanda.

Lusa, em Notícias ao Minuto

PM anuncia verdadeiro período de transição na Guiné-Bissau



Encontro com partidos políticos

Bissau – O Primeiro-ministro eleito da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, anunciou esta segunda-feira, 26 de Maio, que com a vitória do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e do seu candidato Presidencial, José Mário Vaz (JOMAV), os guineenses vão, a partir de agora, começar um verdadeiro período de transição.

Falando durante o encontro que manteve com líderes de formações políticas que apoiaram o seu candidato na segunda volta destas eleições, Domingos Simões Pereira adiantou que estão em causa consensos fundamentais que vão permitir às pessoas compreender que é normal uma luta política, que existe numa base que sustenta uma nação ou um país.

Durante a reunião, Simões Pereira lembrou o encontro que manteve com a direcção do Partido da Renovação Social (PRS), tendo sublinhado que a sua formação política tudo fará para manter o PRS informado das decisões a serem tomadas em termos de governação pelo PAIGC. 

«Temos que eliminar o princípio da imprevisibilidade e o princípio da inclusão deve ser baseado fundamentalmente no diálogo, com critérios transparentes, a maior objectividade possível e não como se faz crer, que esta inclusão se trata de ter todos os partidos no Governo», referiu Simões Pereira.

O líder do PAIGC apelou a mais diálogo entre os guineenses: «Não aguardemos por aquilo que podemos considerar ser a razão da nossa parte, chamemos uns aos outros para discutirmos os nossos problemas, mesmo aqueles que eventualmente não estejam de acordo com as nossas linhas de pensamento», apelou.

A terminar, o Primeiro-ministro eleito da Guiné-Bissau explicou que nenhum país se conseguiu desenvolver ou aplicar reformas correctas sem o envolvimento da sociedade.

A reunião serviu ainda para o Presidente da Republica eleito, José Mário Vaz, lembrar que todos os contratos referentes à economia da Guiné-Bissau vão ser revistos em benefício do povo guineense. 

«Quem eventualmente tenha recebido dinheiro de uma pessoa com base na assinatura deste contrato, o melhor é que o devolva à procedência», disse JOMAV, mostrando estar determinado a cumprir as leis da Guiné-Bissau e fazer cumprir as mesmas, doa a quem doer, tendo enumerado os contratos de exploração de areia pesada de Varela, o contrato de fosfato, de petróleo e das pescas.

O novo Presidente da República da Guiné-Bissau disse, por outro lado, que o país não se pode desenvolver sem trabalho e com falta de verdade, como tem sido o caso desde há alguns anos.

(c) PNN Portuguese News Network - Bissau Digital

Retoma de ligações aéreas Lisboa- Bissau em avaliação




Portugal vai contactar as novas autoridades da Guiné-Bissau para verificar se estão reunidas as condições de segurança para retomar os voos entre Lisboa e Bissau, anunciou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros no parlamento.

"Iremos iniciar os contactos com as novas autoridades guineenses logo que estas sejam empossadas. Teremos de verificar se estão asseguradas as condições de segurança no aeroporto de Bissau, para que episódios como o de 10 de dezembro não voltem a ocorrer", afirmou o ministro Rui Machete, durante uma audição na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades.

Os voos da TAP entre as capitais dos dois países foram interrompidos depois do embarque forçado de passageiros ilegais, em Bissau.

"As 'autoridades de facto' nunca nos deram tais garantias", referiu o governante, que acrescentou que uma vez asseguradas as condições de segurança, "caberá depois às companhias a decisão de operar a rota".

Neste caso, a TAP "terá depois de analisar e ponderar as necessárias questões operacionais".

A Guiné-Bissau terminou domingo passado um ciclo eleitoral em que foram indicados um novo Governo e um novo Presidente da República, depois de dois anos de um executivo de transição, na sequência de um golpe de Estado militar.

O ministro reiterou que as eleições foram "um sucesso, perante as difíceis circunstâncias em que se realizaram".

"A vitória do partido derrubado pelo golpe de Estado de 2012 demonstra o claro repúdio da população relativamente ao golpe, aos seus objetivos e aos seus autores. E a exígua votação alcançada pelos representantes das ?autoridades de transição' confirma o que Portugal, a União Europeia e a CLPL [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] sempre afirmaram sobre a sua falta de representatividade e legitimidade".

Para Rui Machete, as eleições marcam "um definitivo virar de página na instabilidade crónica" dos últimos anos em Bissau.

O chefe da diplomacia portuguesa defendeu que Portugal e a União Europeia "confirmarão o seu papel tradicional de principais parceiros da Guiné-Bissau, apoiando técnica e financeiramente a implementação das reformas", que deverão visar a segurança, o reforço do Estado de Direito e combate à impunidade e a reforma da administração.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal disponível para colaborar nas negociações entre Frelimo e Renamo




O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, afirmou hoje que Portugal está disponível para colaborar nas negociações entre a Frelimo e a Renamo, Em Moçambique, "se as duas partes acharem conveniente".

Lisboa, 27 mai (Lusa) - O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, afirmou hoje que Portugal está disponível para colaborar nas negociações entre a Frelimo e a Renamo, Em Moçambique, "se as duas partes acharem conveniente".

Falando na comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros, o governante disse que o Governo português tem esperança de que as negociações entre a Frelimo, partido no Governo, e a Renamo, principal partido da oposição, "vão chegar a bom termo".

"Manifestámos a nossa disponibilidade para que, se eventualmente ambas as partes quisessem, pudéssemos dar alguma ajuda, como outros países darão. Não estamos particularmente interessados em participar, apenas nos interessa o serviço. Se as duas partes acharem conveniente, participaremos", afirmou Rui Machete.

Nos últimos meses, conflitos armados entre o exército moçambicano e homens da Renamo fizeram reaparecer o espectro de um regresso à guerra civil, que destruiu o país entre 1976 e 1992. Atualmente, as duas partes encontram-se em conversações.

Durante a audição, o deputado do PS Paulo Pisco questionou o ministro sobre se já estão normalizadas as relações entre Portugal e Angola, depois de o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, ter anunciado o fim da parceria estratégica com Lisboa, em outubro do ano passado, levando à suspensão da primeira cimeira bilateral, prevista para o início deste ano.

"Recebi um convite para visitar Angola e naturalmente ser recebido pelo senhor Presidente da República Angolana", indicou Rui Machete, acrescentando que falta apenas definir a data da deslocação.

Quanto aos encontros entre os dois governos, o ministro respondeu que "as coisas estão a andar".

"Se as reuniões vão ser rotuladas de uma maneira ou de outra é um problema menor, desde que as matérias e as pessoas tenham a competência jurídica e técnica adequadas para a resolução dos problemas".

JH // ARA - Lusa

A NEOCOLONIZAÇÃO DA EUROPA



 Martinho Júnior, Luanda

1 – A concentração de capacidades capitalistas neo liberais numa aristocracia financeira mundial está a colocar a União Europeia, por tabela a Europa, na posição típica duma neo colónia!

A tendência é de tal ordem que o espectro sócio-político espelha a sua “progressão”, radicalizando os opostos e fazendo emergir, do chão putrefacto da social-democracia e em direcção às disputas e engrenagens do poder, uma direita conservadora tisnada de neo-fascismo e até de neo-nazismo!

Esse processo decorre dos investimentos que foram sendo feitos de á 20 anos a esta parte nos emergentes euro-asiáticos, acompanhados de transferência científica e tecnológica, bem como da deslocação de importantes unidades industriais.

A “requalificação” que em consequência foi feita na União Europeia determinou, sob o ponto de vista geo-estratégico, um conjunto de alterações que levaram à concentração do parque-industrial e tecnológico sobretudo na Alemanha, em França e na Grã-Bretanha e tornou a “periferia” subsidiária e/ou dependente.

Determinou também a expansão da União Europeia no leste e nos Balcãs, recorrendo por vezes a processos violentos ou musculados e quase sempre de tendência neo-conservadora e muitas vezes até neo-fascista ou neo-nazi!

A aristocracia financeira mundial ávida de lucro, beneficiando da versão do capitalismo neo liberal e especulativo, foi a principal reitora desse processo que foi recriando a paisagem da União Europeia, por tabela de toda a Europa e do Mundo.

O universo antropológico anglo-saxónico foi instrumentalizado nesse vasto expediente desde os primórdios da Revolução Industrial e o mapa das exportações da Europa reproduz hoje, em síntese, o resultado contemporâneo.

2 – A arrumação do Mundo em função do capitalismo neo liberal e especulativo foi determinante para a orientação da NATO e para a conduta ideológica e geo-estratégica dos “think tanks”elitistas, entre eles o poderoso Grupo Bilderberg, com vínculos decisivos em relação às finanças, à banca, à ciência, à tecnologia e à indústria, assim como em relação aos tutores que formatam deliberadamente a psicologia aplicada no artifício que constitui a “opinião pública”, controlando os “media”.

A “opinião pública” tornou-se na generalidade em mais um produto-acabado, por que os media se tornaram também investimento, instrumento e fábrica dos poderosos!

As mudanças sócio-políicas foram forjadas nesse cadinho, fazendo uso das instituições burguesas da “democracia representativa”, ela própria tarimbada e aberta às tónicas beneficiando as oligarquias, os seus interesses e as suas conveniências.

A aristocracia financeira mundial instalou o polvo nas duas margens do Atlântico Norte e por via disso, tirando partido das culturas e procedimentos anglo-saxónicos, determinou a instalação do centro decisório e do leme dessa poderosa nave em Washington.

Bruxelas passou a ser assim uma “correia de transmissão” e Berlim o factor “energético”do sistema europeu!

3 – O gigante atlântico tem contudo pontos frágeis que podem abrir fendas susceptíveis de vulnerabilidade:

É claro e histórico o crescimento de dependência em relação a matérias-primas e sobretudo em relação ao petróleo e ao gás que rodeia a periferia da União Europeia a leste e a sul.

As vulnerabilidades podem surgir e têm portanto referências físico-geográficas, por isso o Bilderberg, centro decisório e caixa-de-ressonância da aristocracia financeira mundial, determinou o papel da NATO sem passar pelo controlo democrático, moldando a sua doutrina e ideologia e instrumentalizando essa Organização militar e de inteligência em relação aos seus interesses e conveniências geo-estratégicas, tanto sob o ponto de vista ofensivo, como sob o ponto de vista defensivo.

A NATO nessa configuração faz-se sentir por isso dentro e fora do seu espaço tradicional, neste caso desde o Afeganistão até ao Atlântico Sul… ao redor do fulcro físico-geográfico e marítimo do Atlântico Norte.

4 – Os processos eleitorais europeus espelham essa conformidade, explorando o conformismo vinculativo do eleitorado cuja psicologia e mentalidade tem sido, a propósito, tão contínua e tão profusamente trabalhados pelos “media”…

Os “media” controlados por esses interesses contribuem para a manipulação de todo o ciclo quotidiano de vida do europeu, em especial em relação a tudo o que se tornou mais rentável ao longo desse tão vasto quanto elaborado processo antropológico, desde a alimentação às religiões, desde as novas tecnologias ao futebol!

A alienação tende a ocupar toda a comunicação e faz parte da elaboração de todo o tipo de mensagens, daí que a mentira, a dissuasão e a persuasão sejam “marteladas” a cada instante, criando rotinas desde o berço do ser humano enquanto indivíduo-sociável… até ao final da vida de cada um!

A consciência crítica e as resistências tornam-se assim pequenas ilhas dentro desse “colete-de-forças”, à imagem duma Suiça que enquanto plataforma financeira, bancária e de serviços, ocupa sob compressão o centro do espaço físico-geográfico do continente europeu!

As periferias, sobretudo a dos Balcãs e a da Europa do Leste, reflectem as tensões entre os detentores de matérias-primas e de produtos energéticos valiosos na conformação gerada a partir da Revolução Industrial, com os centros tecnológicos e industriais da União Europeia.

Por isso a NATO é, nessa base, também instrumentalizada tanto no desencadear de processos ofensivos como no desencadear de processos defensivos.

A Ucrânia, que sofre de dupla periferia, é assim sob o ponto de vista físico-geográfico um ponto vulnerável para com a União Europeia e todo o seu processo sócio-político contemporâneo reflecte-o expressivamente.

Essa periferia resvala para o subdesenvolvimento, a partir da dupla-dependência tensa e conflituosa que lhe está a ser imposta.

5 – Em função da hegemonia unipolar que foi assim antropológica e historicamente inculcada, os interesses e as conveniências da aristocracia financeira mundial na União Europeia tornaram-se imperativos nas instituições burguesas da “democracia representativa”, beneficiando-se também da alienação do eleitorado em relação aos poucos processos realmente democráticos estabelecidos (e cada vez mais esbatidos), processos que tendem a reduzir-se à singularidade dos actos eleitorais e a pouco mais… cresce assim outro produto acabado: o conformismo-abstenção!

A sincronização das ênfases e das tónicas dos expedientes correntes transcendem por outro lado a União Europeia e decorrem também nas periferias sujeitas a tensões e a conflitos.

Há um nexo muito forte entre a ascensão de entidades conservadoras e ultra-conservadoras na União Europeia, incluindo aquelas que cultivam racismo e xenofobia e a expressão neo-fascista e neo-nazi despoletada na Ucrânia, em conformidade aliás com o“fim de hibernação” de muitas redes “stay behind” sob os auspícios da NATO!

A aristocracia financeira mundial reitora do capitalismo neo liberal e especulativo, cultiva desse modo a tentativa de manter o mundo sob controlo hegemónico e unipolar, algo que tem marcado os relacionamentos internacionais desde o fim do período referenciado como ”Guerra Fria”.

Com a Ucrânia esse processo histórico agudizou-se e espelhou-se sob os pontos de vista geo-estratégico e geo-político: aqueles que controlam uma parte importante das áreas produtoras de matérias-primas, de petróleo e de gás, não se configurando nem se conformando ao padrão capitalista neo liberal e especulativo, procuram a emergência e um universo multipolar.

Esse desafio contribui também para que a aristocracia financeira mundial se decidisse a gerar por um lado políticas de austeridade internas à União Europia e/ou por outro a inculcar e desencadear processos de golpes de estado com recurso a “revoluções coloridas”e “primaveras árabes”, sempre que entenda ser necessário, no seu exterior próximo, onde há petróleo ou gás, assim como oleodutos e gasodutos: no leste europeu, nos Balcãs e na bacia mediterrânica!

Há crispação por que escapa-se a hegemonia, esvai-se a hegemonia e as possibilidades de consolidação do universo unipolar, vão-se enfraquecendo no espaço e no tempo!

Dividir a Federação Russa para tornar o expediente mais fácil para a hegemonia está a tornar-se uma miragem cada vez mais difusa no horizonte!

A Europa também espelha essa miragem, tão instrumentalizada que está e a Ucrânia enquanto periferia-fronteira é um dos exemplos correntes mais evidentes.

Desde a IIª Guerra Mundial que a Europa não assistia à acensão ao poder e ao crescimento de vocações ultra-conservadoras, fascistas ou nazis como as que estão sendo patenteadas agora em catadupa, neste momento que se pode considerar de transição!

Ao mesmo tempo os mais poderosos emergentes, que rechaçaram a investida neo liberal e confinaram o potencial dos consórcios multinacionais e dos carteis, cerram fileiras, resistem e salvaguardam as potencialidades do universo multipolar, fortalecendo-o!

A Europa, o quadro geo-estratégico da hegemonia unipolar, obriga desse modo as suas próprias periferias cada vez mais vulneráveis, à deriva ocidental-centrífuga de Berlim-Bruxelas e por isso a oriente, Moscovo-Pequim “esperam sentados”, refinando e consolidando laços comuns, fazendo crescer de forma inteligente suas capacidades militares, mesmo que aparentemente se mecham pouco perante as manipulações, as ingerência, as tensões, os conflitos e o incómodo!

A NATO sob a batuta Bilderberg, lá vai prestando o seu serviço!...

Imagem: Mapa da visão das exportações europeias: com ele pode-se verificar o relacionamento próximo entre a concentração tecnológica-industrial e as periferias produtoras de matérias-primas, petróleo, gás, produtos agrícolas, alguns serviços e têxteis.

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