Martinho
Júnior, Luanda
1
– A concentração de capacidades capitalistas neo liberais numa aristocracia
financeira mundial está a colocar a União Europeia, por tabela a Europa, na
posição típica duma neo colónia!
A
tendência é de tal ordem que o espectro sócio-político espelha a sua “progressão”,
radicalizando os opostos e fazendo emergir, do chão putrefacto da
social-democracia e em direcção às disputas e engrenagens do poder, uma direita
conservadora tisnada de neo-fascismo e até de neo-nazismo!
Esse
processo decorre dos investimentos que foram sendo feitos de á 20 anos a esta
parte nos emergentes euro-asiáticos, acompanhados de transferência científica e
tecnológica, bem como da deslocação de importantes unidades industriais.
A “requalificação” que
em consequência foi feita na União Europeia determinou, sob o ponto de vista
geo-estratégico, um conjunto de alterações que levaram à concentração do
parque-industrial e tecnológico sobretudo na Alemanha, em França e na
Grã-Bretanha e tornou a “periferia” subsidiária e/ou dependente.
Determinou
também a expansão da União Europeia no leste e nos Balcãs, recorrendo por vezes
a processos violentos ou musculados e quase sempre de tendência
neo-conservadora e muitas vezes até neo-fascista ou neo-nazi!
A
aristocracia financeira mundial ávida de lucro, beneficiando da versão do
capitalismo neo liberal e especulativo, foi a principal reitora desse processo
que foi recriando a paisagem da União Europeia, por tabela de toda a Europa e
do Mundo.
O
universo antropológico anglo-saxónico foi instrumentalizado nesse vasto
expediente desde os primórdios da Revolução Industrial e o mapa das exportações
da Europa reproduz hoje, em síntese, o resultado contemporâneo.
2
– A arrumação do Mundo em função do capitalismo neo liberal e especulativo foi
determinante para a orientação da NATO e para a conduta ideológica e
geo-estratégica dos “think tanks”elitistas, entre eles o poderoso Grupo
Bilderberg, com vínculos decisivos em relação às finanças, à banca, à ciência,
à tecnologia e à indústria, assim como em relação aos tutores que formatam
deliberadamente a psicologia aplicada no artifício que constitui a “opinião
pública”, controlando os “media”.
A “opinião
pública” tornou-se na generalidade em mais um produto-acabado, por que os
media se tornaram também investimento, instrumento e fábrica dos poderosos!
As
mudanças sócio-políicas foram forjadas nesse cadinho, fazendo uso das
instituições burguesas da “democracia representativa”, ela própria
tarimbada e aberta às tónicas beneficiando as oligarquias, os seus interesses e
as suas conveniências.
A
aristocracia financeira mundial instalou o polvo nas duas margens do Atlântico
Norte e por via disso, tirando partido das culturas e procedimentos
anglo-saxónicos, determinou a instalação do centro decisório e do leme dessa
poderosa nave em Washington.
Bruxelas
passou a ser assim uma “correia de transmissão” e Berlim o factor “energético”do
sistema europeu!
3
– O gigante atlântico tem contudo pontos frágeis que podem abrir fendas
susceptíveis de vulnerabilidade:
É
claro e histórico o crescimento de dependência em relação a matérias-primas e
sobretudo em relação ao petróleo e ao gás que rodeia a periferia da União
Europeia a leste e a sul.
As
vulnerabilidades podem surgir e têm portanto referências físico-geográficas,
por isso o Bilderberg, centro decisório e caixa-de-ressonância da aristocracia
financeira mundial, determinou o papel da NATO sem passar pelo controlo
democrático, moldando a sua doutrina e ideologia e instrumentalizando essa
Organização militar e de inteligência em relação aos seus interesses e
conveniências geo-estratégicas, tanto sob o ponto de vista ofensivo, como sob o
ponto de vista defensivo.
A
NATO nessa configuração faz-se sentir por isso dentro e fora do seu espaço
tradicional, neste caso desde o Afeganistão até ao Atlântico Sul… ao redor do
fulcro físico-geográfico e marítimo do Atlântico Norte.
4
– Os processos eleitorais europeus espelham essa conformidade, explorando o
conformismo vinculativo do eleitorado cuja psicologia e mentalidade tem sido, a
propósito, tão contínua e tão profusamente trabalhados pelos “media”…
Os “media” controlados
por esses interesses contribuem para a manipulação de todo o ciclo quotidiano
de vida do europeu, em especial em relação a tudo o que se tornou mais rentável
ao longo desse tão vasto quanto elaborado processo antropológico, desde a
alimentação às religiões, desde as novas tecnologias ao futebol!
A
alienação tende a ocupar toda a comunicação e faz parte da elaboração de todo o
tipo de mensagens, daí que a mentira, a dissuasão e a persuasão sejam “marteladas” a
cada instante, criando rotinas desde o berço do ser humano enquanto
indivíduo-sociável… até ao final da vida de cada um!
A
consciência crítica e as resistências tornam-se assim pequenas ilhas dentro
desse “colete-de-forças”, à imagem duma Suiça que enquanto plataforma
financeira, bancária e de serviços, ocupa sob compressão o centro do espaço
físico-geográfico do continente europeu!
As
periferias, sobretudo a dos Balcãs e a da Europa do Leste, reflectem as tensões
entre os detentores de matérias-primas e de produtos energéticos valiosos na
conformação gerada a partir da Revolução Industrial, com os centros
tecnológicos e industriais da União Europeia.
Por
isso a NATO é, nessa base, também instrumentalizada tanto no desencadear de
processos ofensivos como no desencadear de processos defensivos.
A
Ucrânia, que sofre de dupla periferia, é assim sob o ponto de vista
físico-geográfico um ponto vulnerável para com a União Europeia e todo o seu
processo sócio-político contemporâneo reflecte-o expressivamente.
Essa
periferia resvala para o subdesenvolvimento, a partir da dupla-dependência
tensa e conflituosa que lhe está a ser imposta.
5
– Em função da hegemonia unipolar que foi assim antropológica e historicamente
inculcada, os interesses e as conveniências da aristocracia financeira mundial
na União Europeia tornaram-se imperativos nas instituições burguesas da “democracia
representativa”, beneficiando-se também da alienação do eleitorado em relação
aos poucos processos realmente democráticos estabelecidos (e cada vez mais
esbatidos), processos que tendem a reduzir-se à singularidade dos actos
eleitorais e a pouco mais… cresce assim outro produto acabado: o
conformismo-abstenção!
A
sincronização das ênfases e das tónicas dos expedientes correntes transcendem
por outro lado a União Europeia e decorrem também nas periferias sujeitas a
tensões e a conflitos.
Há
um nexo muito forte entre a ascensão de entidades conservadoras e
ultra-conservadoras na União Europeia, incluindo aquelas que cultivam racismo e
xenofobia e a expressão neo-fascista e neo-nazi despoletada na Ucrânia, em
conformidade aliás com o“fim de hibernação” de muitas redes “stay
behind” sob os auspícios da NATO!
A
aristocracia financeira mundial reitora do capitalismo neo liberal e
especulativo, cultiva desse modo a tentativa de manter o mundo sob controlo
hegemónico e unipolar, algo que tem marcado os relacionamentos internacionais
desde o fim do período referenciado como ”Guerra Fria”.
Com
a Ucrânia esse processo histórico agudizou-se e espelhou-se sob os pontos de
vista geo-estratégico e geo-político: aqueles que controlam uma parte
importante das áreas produtoras de matérias-primas, de petróleo e de gás, não
se configurando nem se conformando ao padrão capitalista neo liberal e
especulativo, procuram a emergência e um universo multipolar.
Esse
desafio contribui também para que a aristocracia financeira mundial se
decidisse a gerar por um lado políticas de austeridade internas à União Europia
e/ou por outro a inculcar e desencadear processos de golpes de estado com
recurso a “revoluções coloridas”e “primaveras árabes”, sempre que
entenda ser necessário, no seu exterior próximo, onde há petróleo ou gás, assim
como oleodutos e gasodutos: no leste europeu, nos Balcãs e na bacia
mediterrânica!
Há
crispação por que escapa-se a hegemonia, esvai-se a hegemonia e as possibilidades
de consolidação do universo unipolar, vão-se enfraquecendo no espaço e no
tempo!
Dividir
a Federação Russa para tornar o expediente mais fácil para a hegemonia está a
tornar-se uma miragem cada vez mais difusa no horizonte!
A
Europa também espelha essa miragem, tão instrumentalizada que está e a Ucrânia
enquanto periferia-fronteira é um dos exemplos correntes mais evidentes.
Desde
a IIª Guerra Mundial que a Europa não assistia à acensão ao poder e ao
crescimento de vocações ultra-conservadoras, fascistas ou nazis como as que
estão sendo patenteadas agora em catadupa, neste momento que se pode considerar
de transição!
Ao
mesmo tempo os mais poderosos emergentes, que rechaçaram a investida neo
liberal e confinaram o potencial dos consórcios multinacionais e dos carteis,
cerram fileiras, resistem e salvaguardam as potencialidades do universo
multipolar, fortalecendo-o!
A
Europa, o quadro geo-estratégico da hegemonia unipolar, obriga desse modo as
suas próprias periferias cada vez mais vulneráveis, à deriva ocidental-centrífuga
de Berlim-Bruxelas e por isso a oriente, Moscovo-Pequim “esperam sentados”,
refinando e consolidando laços comuns, fazendo crescer de forma inteligente
suas capacidades militares, mesmo que aparentemente se mecham pouco perante as
manipulações, as ingerência, as tensões, os conflitos e o incómodo!
A
NATO sob a batuta Bilderberg, lá vai prestando o seu serviço!...
Imagem:
Mapa da visão das exportações europeias: com ele pode-se verificar o relacionamento
próximo entre a concentração tecnológica-industrial e as periferias produtoras
de matérias-primas, petróleo, gás, produtos agrícolas, alguns serviços e
têxteis.