Nota de abertura: Reposição de
artigo publicado no PG em 26 de março de 2023 de autoria de Martinho Júnior,
autor que colabora com ediçóes do PG e de outros títulos associados há cerca de
18 anos.
Martinho
Júnior, Luanda
Os animais que estão fartos de
ser governados por um agricultor e têm um estilo de vida de ?classe? inferior
ao do agricultor, lideram uma revolta contra este e ganham o controle da
quinta. No começo dessa liberdade há esperança e a promessa de igualdade. Os
porcos (que são os animais mais inteligentes da quinta) tomam o controle e no
princípio a vida é melhor. Contudo, ao longo do tempo, a quinta começa a
modificar a vida dos animais, para alguns deteriora e para uns poucos eleitos
melhora dramaticamente…
Esta alegoria assente que nem
luva no capitalismo neoliberal e nos ajustamentos sucessivos de guerra
psicológica que são elaborados pela hegemonia unipolar contra o Sul Global
(neste caso Angola), desde a explosão das bombas atómicas em Hiroxima e Nagasaqui,
em 1945…
GUERRA PSICOLÓGICA CONTRA O SUL
GLOBAL
Desde que fizeram explodir as
duas bombas atómicas em Hiroxima e em Nagasaki, respectivamente a 6 e 9 de
Agosto de 1945, que os Estados Unidos nos moldes de sua hegemonia unipolar,
desencadearam uma constante guerra psicológica contra o Sul Global,
entrecortada por conflitos localizados que se foram disseminando mundo fora,
numa escala e numa escalada sem precedentes em épocas anteriores.
O medo de que alguma vez mais os
Estados Unidos recorressem de novo ao lançamento duma bomba atómica onde quer
que fosse e contra quem fosse, foi um expediente subjacente que acompanhou a
construção de sua hegemonia unipolar, de facto um expediente que tem alimentado
todos os conteúdos da IIIª Guerra Mundial não reconhecida como tal, mas
expressa em todas as práticas de conspiração, de subversão, de terrorismo, de
caos, de violência, de medo inculcado, de desagregação que tentou sempre criar
e, à medida que foram surgindo novas tecnologias, recriar!
Angola tem sido como todo o Sul
Global, pasto dessas práticas de conspiração alimentadas de guerra psicológica
que têm como matriz do medo, Hiroxima e Nagasaki, tanto pior por que muitas
dessas práticas de conspiração advêm da profundidade do exercício colonial de
séculos todo ele feito na base da opressão e repressão a ponto de, durante
séculos, fazer prevalecer a escravatura!
O medo obsta a liberdade, a
igualdade e a fraternidade por todo o Sul Global e isso criou e recriou os
parâmetros das ingerências, das manipulações incessantes e das motivações
expressas em termos de propaganda e contrapropaganda incentivadas pelo
exercício dominante da hegemonia unipolar e sujeitas aos seus próprios
interesses, conveniências e preceitos de guerra psicológica.
O MPLA, POR
TABELA ANGOLA, ALVOS DE GUERRA PSICOLÓGICA DESDE A MATRIZ HISTÓRICA DA LUTA
POPULAR DE LIBERTAÇÃO
O fraccionismo do 27 de Maio de
1977 é um produto colonial-fascista nutrido dos termos da “africanização da
guerra” e da “a-psic” que semeou Angola de etno-nacionalismos capazes de
alimentar divisão, tribalismo, regionalismo e racismo!
Foi possível para o
colonial-fascismo fazer gerar um embrião de etno-nacionalismo quimbundo, de 1961
a 1974, procurando subverter os ideais do MPLA, sobretudo nas áreas da Iª
Região Político Militar e da luta clandestina dos comités, sobretudo os de
Luanda…
Esse esforço passou pelo grau de
neutralização da Iª RPM e o grau de
neutralização desses comités, sujeitos a pressão de toda a ordem, sem armas e
infiltrados por peritos de inteligência, de propaganda e de contrapropaganda
colonial-fascista.
Nas prisões coloniais muitas das
ideias de fermentação etno-nacionalista quimbunda se assumiram em termos de
divisão: os que lutaram no “interior”, contra os que chegavam da guerrilha
“exterior” e o ideólogo terá sido Juca Valentim, ele próprio um golpista do 27
de Maio de 1977.
Depois da proclamação da
Independência da República Popular, a fracção nitista alimentou-se dessa
“reserva de energias” instigada pelo colonial-fascismo que vinha detrás e é por
isso que a tentativa do golpe tem esse tipo de conteúdos humanos, que não eram
mesmo assim exclusivos das ideologias de divisão e subversão nitistas, mas
também motivações para outros grupos de oportunistas que esperavam a sua hora
para tirar proveito da evolução da situação e, paulatinamente, procurar fazer
prevalecer a toxidade que tanto trabalhou, através da prática e da psicologia,
para a sua formatação e disponibilidade concorrente à tomada do poder.
O golpe do 25 de Novembro de 1975
em Portugal, duas semanas após a Independência de Angola, teve corpo, alma e
carácter de “retornado”, com cargas de ódio e de vingança por causa duma
descolonização que só os podia hostilizar; essa gente com influência
contrarrevolucionária no “arco de governação”, ao ser umbilicalmente favorável
aos etno-nacionalismos angolanos, era filtrada por aqueles que haviam nutrido a
inteligência colonial-fascista nesse sentido, inclusive os “links” que haviam
devassado a Iª RPM, alguns dos comités de luta clandestina e as prisões.
Assim, se o golpe do 27 de Maio
de 1977 vingasse, seria o “arco de governação” um dos seus beneficiários
“naturais”, mas como não vingou, então tem-se aproveitado do fraccionismo
nitista para forjar todo o tipo de manobras e manipulações de propaganda e contrapropaganda,
visando em última análise colocar sempre em causa o estado angolano, fosse ou
não popular!
Com as campanhas alimentando os
vínculos cultivados desde a “a-psic” e a “africanização da guerra” fluindo do
colonial-fascismo, essa propaganda e contrapropaganda acabou por se tornar num
nicho da guerra psicológica da hegemonia unipolar, até por que o “arco de
governação” sempre propiciou a vassalagem incondicional de Portugal cultivada
com a União Europeia e a NATO.