sábado, 1 de novembro de 2014

União Europeia - Itália: RENZI E OS SEUS IRMÃOS



José Goulão – Jornal de Angola, opinião

Em Itália, o artigo 18 do Código de trabalho transformou-se numa fronteira e num símbolo.

É a disposição que obriga os empresários a readmitir trabalhadores despedidos sem justa causa e que sobreviveu até agora no meio do avassalador processo de “flexibilização” do mercado de trabalho, a designação propagandística com que se apresenta o desmantelamento de leis, direitos e regras que asseguravam alguma dignidade ao trabalho e aos trabalhadores.

Nestes tempos em que a “riqueza” circulante no mundo é criada sobretudo pela especulação, outros truques e crimes da alta finança e em que os bens criados pelo trabalho são subprodutos submetidos à selva da manipulação financeira, o artigo 18 em Itália, como outros afins que ainda restam aqui e ali, erguem-se como barreiras ou escolhos que só atrapalham.

Em Itália chegou a hora de o liquidar. Silvio Berlusconi, figura da direita e da trapaça neoliberal, tentou fazê-lo mas não conseguiu. Quem se apresenta agora na primeira linha do combate pela revogação do artigo 18, e com fôlego para não desistir, é Mateo Renzi, o Primeiro-Ministro dito o “chefe da esquerda”, nova vedeta de referência do mundo do “socialismo”.

Ao contrário do que dizem alguns politólogos, MateoRenzi não é nada de novo no panorama do regime global. É um seguidor natural do trabalho desenvolvido por Blair em Inglaterra, Schroeder na Alemanha, Zapatero e outros em Espanha, Hollande em França,Papandreou na Grécia, Sócrates e outros em Portugal, estes com caminho livre desde o momento em que o dinossauro excelentíssimo do socialismo à portuguesa anunciou que metia “o socialismo na gaveta”.

O que distinguirá por ora Renzi, tal como Hollande em França, Sanchez em Espanha e outros que se perfilam, é o processo como chegaram ao poder, o das célebres eleições primárias, uma aberração da democracia representativa com base nos partidos. Através das primárias, os partidos – chamem-se como chamarem – dissolvem-se numa ganga onde desaparecem as ideias, as diferenças, a representatividade de sectores da sociedade, tudo se resumindo ao poder pelo poder numa política feita para gerir os padrões económicos únicos sob a tutela suprema do mercado, o instrumento da ditadura da finança.

A adopção das eleições primárias é mais um salto qualitativo no processo de transformação do multipartidarismo no bipartidarismo à americana, convergindo tudo para um regime de conteúdo único. São poucos, e anacrónicos, os que hoje ainda analisam a política norte-americana em termos de “esquerda”/Partido Democrata, “direita”/Partido Republicano.

A Europa vai por aí com a metáfora do “arco do poder”. Tal como o artigo 18, Renzi, o seu grande inimigo de agora, é igualmente um símbolo. Ele emergiu de primárias num partido que não se chama nem socialista, nem social democrata mas sim “democrata”, à imagem e semelhança do seu inspirador americano, depois de ter engolido socialistas e comunistas de antanho numa primeira amálgama. E Renzi, por seu lado, chegou da democracia cristã depois de, através da conversão ao catecismo neoliberal, ter feito gato sapato da própria doutrina social da Igreja Católica.

As luzes que envolvem MateoRenzi como apóstolo do renascimento da “esquerda” ao serviço da governação única neoliberal são tão óbvias como justas tendo em conta a sua missão. O  primeiro passo que deu quando se tornou chefe do Partido Democrata foi chamar Berlusconi – que caíra completamente em desgraça – para com ele cozinhar uma lei eleitoral capaz de eternizar o bipartidarismo esquerda-direita, acabando com a “ingovernabilidade” e “as crises governamentais” decorrentes da “fragmentação partidária dos parlamentos”, garantindo assim a estabilidade absoluta para as “reformas” necessárias à consolidação do regime de ideologia única. Os êxitos e a ribalta de Renzi reflectidos na imprensa convertida em propaganda ajudaram a criar uma confraria, pelo que vão surgindo os seus irmãos políticos tocando a mesma flauta encantatória, arrastando crédulos, desiludidos, descrentes e desesperados.

A verdade, porém, é que estes renzis trazem mais do mesmo, vêm para acabar com os artigos 18 e afins, mesmo que alguns acordes pareçam pertencer a uma música diferente. Pura ilusão.

Ramos-Horta vai chefiar novo organismo da ONU para operações de paz




Nova Iorque, 31 out (Lusa) -- O ex-presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, vai dirigir o Painel Independente de Alto Nível sobre Operações de Paz das Nações Unidas, anunciou hoje o gabinete de Ban Ki-moon em Nova Iorque.

Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, disse que a equipa dirigida pelo ex-chefe de Estado timorense vai ser formada por "pessoas com muita experiência".

De acordo com o gabinete de Ban Ki-moon, o novo organismo das Nações Unidas tem como missão a "avaliação completa" das operações de paz da ONU e "determinar as necessidades futuras".

O novo grupo liderado por Ramos Horta vai também analisar assuntos como as "mudanças na natureza dos conflitos, mandatos, eficiência das delegações da ONU, os desafios das missões de manutenção de paz, questões de direitos humanos e a proteção de civis".

"Este vai ser o primeiro organismo da ONU que vai examinar as operações de paz e as missões políticas especiais. Ban Ki-moon diz que é preciso reconhecer que atualmente, as operações têm cada vez mais que enfrentar situações políticas complexas", sublinhou a porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas.

Na nota que foi divulgada hoje indica-se também que as missões da ONU são muitas vezes alvo de ataques e funcionam em quadros de segurança muito frágil.

"O secretário-geral espera que seja considerada a forma como a ONU pode promover a paz da forma mais eficiente possível e ajudar os países em conflito", refere o mesmo documento.

O novo grupo vai incluir 14 especialistas de países como Austrália, China, Gana, Índia, Estados Unidos e Reino Unido.

PSP // APN - Lusa

Hong Kong: ASSIM NÃO DÁ





Quando o Chefe do Executivo de Hong Kong justifica a ausência de sufrágio universal, afirmando que se os pobres votassem acabava o capitalismo na ex-colónia britânica, há algo que me perturba, um desejo de revolta comparável ao dos chineses do tempo do “feudalismo” e do império.

Estará C. Y. Leong a fazer um aviso à navegação dos neo-fascistas e seus filhos que na rua não souberam atender às necessidades históricas da China, por pura ignorância e soprinhos estrangeiros? Claro que sim. Desde o tempo dos ingleses que HK é um sítio desprezível, onde a riqueza de uns significou sempre a extrema miséria de outros, onde a luz das lojas de luxo não apaga o negro da miséria que por ali se vê.

Em HK há de tudo realmente, como gostam de dizer os defensores do democratismo. Sobretudo miséria humana, gente comprada e vendida, e gente que compra e vende de aqui para acolá, sem que por isso venha algo de novo ou belo ao mundo. É o paraíso do neoliberalismo que está a destruir o mundo.

HK (exceptuando o skyline) é uma cidade horrível, sobretudo do ponto de vista dos valores: trata-se de um sítio onde as pessoas estão sempre mais preocupadas com o dinheiro do que com a própria vida. É uma cidade que tem no seu ADN o péssimo exemplo britânico, misturado com o ressaibiamento dos chineses que para ali fugiram e devotam um ódio muito especial à China.

Agora o Chefe do Executivo – um homem que é suposto ter emergido para a fortuna do negócios das classes mais desfavorecidas – vem justificar a ausência de sufrágio universal, ostentando o medo dos ricos e associando a ausência de democracia eleitoral completa à sobrevivência do capitalismo. Assim não dá.

A coisa ainda vai acabar mal.

Macau - EPM: GOVERNO ACUSADO DE ESCONDER INFORMAÇÕES SOBRE OBRAS



FILIPA ARAÚJO – Hoje Macau, em Política

O Governo é mais uma vez criticado por não dar informações. Desta vez o reparo vem do deputado Leong Veng Chai a propósito do adiamento da obras no Estabelecimento Prisional de Macau

Oatraso nas obras para a construção do Estabelecimento Prisional de Macau (EPM) volta a ser assunto para o deputado Leong Veng Chai. Numa interpelação escrita, Leong Veng Chai critica o Governo por, depois do adiamento das obras da 1ª fase de construção, não ter avançado com qualquer informação sobre a abertura do concurso para essas obras.

Em causa está o projecto de construção da nova prisão que começou em Agosto de 2010 e com final previsto para o 4º trimestre deste ano. “Até ao momento, as obras ainda não chegaram à metade, o que vem obstruir o desenvolvimento e a ordem social”, argumenta o deputado.

Por essa mesma razão, Leong Veng Chai quer que o Governo esclareça a população sobre o assunto, questionando-o se este já possui uma data definitiva para a abertura do concurso para a 2.ª fase da construção. Na mesma pergunta, o deputado quer ainda saber quando estará pronta a nova prisão.

E O MATERIAIS?

Mas não é só. O deputado levanta também uma questão relacionada com a qualidade dos materiais das obras. Na argumentação de Leong Veng Chai são usados os recém-problemas com os materiais de construção usados no campus da Universidade de Macau, na Ilha da Montanha.

Por essa razão, o deputado indaga o Governo se vão existir “normas mais rigorosas ou normais especiais nos materiais utilizados na respectiva construção, a fim de garantir a segurança do funcionamento do novo estabelecimento prisional”.

O deputado tenta ainda perceber se o Executivo vai proceder à fiscalização dos materiais utilizados pelo empreiteiro, para que se evitem problemas quanto à qualidade da obra. Qualidade esta que não deve ser colocada em causa, pois segundo Leong Veng Chai, este tipo de construção – as prisões – devem conter materiais rigorosos.

Recorde-se que, durante o ano passado, um engenheiro do Estabelecimento Prisional, Lei Ka Nang, afirmou que até ao final deste ano as obras da primeira fase estariam terminadas. “As obras da segunda fase estão a concurso nas Obras Públicas. Por enquanto, devido ao atraso nas obras da primeira fase, é difícil divulgar o prazo de conclusão das obras da nova prisão. De facto houve atrasos nas obras. Houve um atraso acima de um ano. O atraso deveu-se ao sol e às chuvas”, justificou na altura o engenheiro.

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Moçambique: UM ESTADO À BEIRA DO DESCRÉDITO



Verdade (mz) - Editorial

Na tarde de 21 de Outubro, um agente da Polícia de Investigação Criminal (PIC) foi alvejado a tiro na Avenida Mao Tse Tung, em Maputo, e sobreviveu por um triz. À mesma hora, a 22 do mesmo mês, uma cidadã de ascendência asiática foi sequestrada na Avenida Milagre Mabote, também, em Maputo, deixando claro que para a Polícia e a Justiça ainda prevalece a árdua tarefa de investigar e deter os verdadeiros cabecilhas deste crime, que pulam entre nós.

Na mesma cidade, a 24 de Outubro, os serial killers, ora à solta e que aparentemente não só controlam os movimentos das suas vítimas, mas, também, das autoridades da Lei e Ordem, perpetraram mais uma acção selvagem: Paulo Estêvão Daniel (Danger Man) foi crivado mortalmente de balas. Estes problemas gravíssimos, que apavoram todos nós, tornaram-se ummodus vivendi e um modus operandi de facções do crime organizado perante o desespero aterrador da sociedade e a incapacidade do Estado.

Estamos constantemente indispostos por conta desta situação. Com os assassinos e sequestradores cada vez mais violentos, a população vive endoidecida e o Estado fica fragilizado e prestes a cair no descrédito. As facções do crime organizado, que a olho nu ameaçam colocar em causa a legitimidade e a credibilidade do Estado, desafiam de forma descarada e abusiva o vigor da Polícia e as instituições de administração da Justiça, que se mostram impotentes para conter tamanha violência.

O poder do Estado em relação a este tipo de maléficos refreou e prevalece a ideia de que esta pouca-vergonha deriva do facto de aqueles cuja tarefa é garantir a nossa integridade física e protecção pactuam com gente pouco honesta ou com mau carácter. Há gente na Polícia, do topo à base, que está do lado de facções do crime organizado? O desrespeito pela legalidade está a ficar assustador.

Os criminosos matam a sangue-frio, dia e noite, longe e nas proximidades das subunidades da Polícia. À velocidade a que estes crimes acontecem e dado o rumo que tomam, torna-se consistente a ideia de que a Polícia, no seu todo, como as restantes instituições que velam pela legalidade e integridade territorial e física, foram tomadas e são controladas pelo crime organizado.

As armas que deviam estar em poder da Polícia são cada vez mais administradas por criminosos e não é muito difícil perceber como e em que circunstâncias chegam às mãos deste grupo. Todavia, acreditamos que o Estado pode e é capaz de tomar medidas concretas para estancar este problema – se é que há interesse para tal – que se repercute na generalização do medo e da insegurança pública. Uma rede composta por uma punhado de gente que vive à margem da Lei não pode continuar mais forte que um Estado.

Este deve impor-se com vista a assegurar que não fiquemos reféns de gangues e não tenhamos receio de sair das nossas casas. Os bandidos não podem colocar uma população inteira à mercê da sua sorte. A Polícia e o sistema de Justiça não podem ser vigorosos apenas quando se está diante de ladrões de galinhas. As artimanhas dos raptores e dos assassinos não podem ser de tal sorte bem-sucedidas a ponto de transparecer que a corporação e o Estado se baldam perante este caos.

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Moçambique: ESTUDANTES CEGOS AMEAÇADOS DE DESPEJO NA BEIRA




Maputo, 01 Nov (AIM) Um grupo de nove estudantes portadores de deficiência visual, acomodados numa residência pertencente ao Ministério da Mulher e da Acção Social, cidade da Beira, capital da província central de Sofala, em Moçambique, mostraram-se preocupados com o prazo de 15 dias que lhes foi concedido para abandonarem o imóvel, sem garantias de outro alojamento para conclusão de seus estudos.

Quatro dos referidos estudantes frequentam a Universidade Pedagógica (UP) e os restantes as escolas secundárias Samora Machel, Mateus Sansão Muthemba e da Ponta-Gêa.

Citado na edição de hoje do jornal
Diário de Moçambique, Cremildo João Moda, um dos abrangidos pelo aviso, explicou que o prazo de 15 dias é insuficiente para o grupo conseguir outro espaço para acomodação, sobretudo porque vivem de esmola.

Moda, estudante da 11ª classe na Escola Secundária da Ponta-Gêa, disse que para além do prazo que lhes foi dado para abandonar a cave do imóvel, onde também funciona o Gabinete da Esposa do Governador de Sofala, o grupo sente-se ameaçado com a informação de que, caso não se retire voluntariamente dentro de 15 dias, será desalojado compulsivamente e com recurso às forças da Lei e Ordem.

Estamos todos a estudar e para nos alimentarmos tem sido uma gincana e através esmola. Por isso, pedimos que dêem espaço de tempo suficiente para nos prepararmos e não os 15 dias impostos, disse Moda.

Zeca Chire, estudante da 11ª classe na Escola Secundária Mateus Sansão Muthemba, deplora a retirada coerciva sem que lhe seja concedido a oportunidade de concluir os seus estudos para assegurar o seu futuro e esta questão acontece num momento em que nem os resultados foram anunciados.

Tratar de documentos de um momento para outro não é fácil. Pelo menos se nos deixassem até ao final do ano, rogou.

Milagre da Conceição, estudante da UP, lamenta o facto e explica que não poderá prosseguir com os seus estudos porque não tem onde morar. Aliás, aquele local era único que lhe ajudava a não acarretar custos pela sua vulnerabilidade.

(AIM) SG

OS CURDOS NUMA ARMADILHA DA HISTÓRIA




Estão cercados: Estado Islâmico e OTAN querem afogar a semente da liberdade e a ideia de que pode haver no Oriente Médio mulheres e homens iguais

Nuno Ramos de Almeida – Outras Palavras

No filme Yol, “caminho” em turco, realizado a partir da prisão pelo realizador curdo Yilmaz Guney, são contadas as histórias de cinco presos que saem em licença precária da cadeia. Um deles dirige-se para a sua terra, no Curdistão ocupado pelos turcos. Numa das sequências mais belas pode ver-se o esforço dos cavalos de correrem livres pelos campos salpicados de mortos, em que os cadáveres de centenas de pessoas massacradas são transportadas em camionetas de caixa aberta, literalmente a escorrer sangue. Yilmaz teve uma vida difícil. Curdo na Turquia a contar histórias das suas gentes cedo chamou a atenção das autoridades. Foi preso pela primeira vez em 1974 por albergar anarquistas. Continua a escrever e a filmar. É preso novamente e é condenado a 15 anos de prisão. A acusação é de estar envolvido num atentado mortal. Na Turquia todos os curdos estão condenados. A história da pseudodemocracia turca é a história das prisões dos deputados, dirigentes, militantes e votantes dos partidos curdos, que são legalizados para depois serem presos todos aqueles que aparecem à luz do dia. Ser curdo é, na melhor das hipóteses, uma condenação à morte. Regra geral, são condenados a viver numa ditadura para sempre. Yilmaz nunca aceitou as grades que lhe impunham. Libertou-se da prisão pela escrita e pelo pensamento, e com ajuda de camaradas conseguiu dirigir Yol, um filme duro feito de carne e osso que ganhou a Palma de Ouro de Cannes em 1986. Posteriormente conseguiu mesmo escapar da cadeia e refugiar-se em França. Os turcos retiram-lhe a nacionalidade. Morreu de câncer com 47 anos, mas morreu sem o ferrete do opressor.

Os curdos são vítimas das fronteiras de regra e esquadro traçadas pelo colonialismo. São a maior nacionalidade sem estado. São mortos no Irã, assassinados na Turquia, gaseados no Iraque, reprimidos na Síria. Os burocratas de Bruxelas e os comandantes de drones de Washington declararam “terroristas” as organizações que combatem pela sua libertação. A vida tem sempre vários lados; os resistentes franceses eram enforcados como terroristas pelos nazis. Os judeus que morreram de armas na mão nas ruas do gueto de Varsóvia foram apelidados de bandidos, criminosos, pela imprensa dos seus carrascos. Os curdos resistiram contra tudo e contra todos durante dezenas de anos. A seu favor apenas a vontade de ser livres.

Uma noite em que dormi numa casa do PKK em Madrid, estava na cidade para preparar uma reportagem que fiz com as FARC colombianas, e tinha combinado a possibilidade de ir em reportagem para as áreas controladas pela guerrilha curda, vi uma série de vídeos de propaganda. Alguns tinham imagens de manifestantes curdos que se imolavam pelo fogo nas ruas da Alemanha, numa tentativa desesperada de chamar a atenção para um povo condenado à invisibilidade.

Com a queda do regime secular do Iraque e a guerra civil da Síria. as áreas curdas ganharam liberdade. “A Região Autônoma da Rojava é um dos poucos pontos brilhantes a emergir da tragédia da revolução síria. Depois de expulsar os agentes do regime de Assad, em 2011, e apesar da hostilidade de quase todos os seus vizinhos, Rojava não só manteve a sua independência como constitui uma experiência democrática notável. Foram criadas assembleias populares enquanto órgãos de decisão final, os conselhos foram constituídos com um cuidadoso equilíbrio étnico (em cada município, por exemplo, os três principais responsáveis têm de incluir um curdo, um árabe e um assírio ou armênio cristão, e pelo menos um dos três tem de ser uma mulher). Existe um exército feminista, a milícia YJA Star (União de Mulheres Livres, a estrela refere-se à antiga deusa mesopotâmica Ishtar), que realizou uma grande parte das operações de combate contra as forças do Estado islâmico”, escreve David Graeber, antropólogo e ativista do Occupy Wall Street no The Guardian.

Hoje em Kobane, as centenas de combatentes curdos que se batem contra o Estado Islâmico — vigiados ao longe pelos tanques turcos, que estão lá para evitar qualquer vitória destas pessoas sobre a morte — são dirigidos por uma mulher. Mais uma vez os curdos estão cercados: o Estado Islâmico e a maior potência da NATO na região querem afogar em sangue a semente da liberdade dos curdos e provar que não pode haver na região um povo livre em que as mulheres e os homens são iguais.


CONTRA EXTERMISMO ISLÂMICO, UMA REVOLUÇÃO




No norte da Síria, curdos criam região autônoma, governam por meio de conselhos e mobilizam, contra terror do IS, exército popular com forte presença de mulheres 

Iskender le Verink, RoarMag – Outras Palavras - Tradução João Victor Moré Ramos

Há semanas, a cidade curda de Kobanê, em Rojava (curdistão sírio), tem sofrido severos ataques do Estado Islâmico (IS). Os ataques começaram no dia 15 de setembro, quando milhares de combatentes  do IS, apoiados por dezenas de tanques e artilharia pesada, se dirigiram em três frentes a Kobanê. Até agora, o IS obrigou milhares de curdos sírios a se retirar de suas casas nas aldeias vizinhas e buscar refúgio em Kobanê ou do outro lado da fronteira, na Turquia.

Graças à corajosa resistência dos curda Forças de Defesa do Povo e das Mulheres (YPGe YPJ), o IS foi incapaz de entrar na cidade. O presidente do Partido da União Democrática (PYD), Salih Muslim, afirmou com muita confiança: “Eu conheço o povo de Kobanê muito bem. Algumas aldeias podem ter sido derrotadas, e retiradas em massa podem acontecer. Eles podem até fechar a cidade. Mas Kobanê nunca vai cair. Para Kobanê cair, todo mundo tem que ser morto”.

Por mais terrível que pareça, pode ser isso, exatamente, o que o IS planeja. Até porque foram justamente as forças do YPG e YPJ, juntamente com guerrilheiros experientes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que quebraram o cerco de Sinjar no Iraque, onde milhares de Yezidis sofreram um massacre nas mãos do IS. Agora os jihadistas podem considerar o momento ideal para a vingança.

Mais preocupantes, ainda, são os relatos de possível apoio turco aos combatentes islâmicos. Mesmo que a Turquia negue categoricamente todos os vínculos com IS, coincidentemente dias antes da liberação de 49 reféns turcos, moradores turcos da região observaram a movimentação de trens, tanques e munições em áreas controladas pela IS — o que despertou a atenção dos observadores críticos da situação.

Kobanê sob ataque

Esta não é a primeira vez Kobanê sofre ataque do IS. No início de julho, depois de o IS capturar Mosul, os jihadistas usaram armas pesadas, que tomaram do exército iraquiano, para sitiar Kobanê. Depois de vários dias de combates, e centenas de baixas entre as fileiras do IS, o grupo terrorista aceitou a derrota diante das forças de defesa curdas.

De todo modo, a cidade de Kobanê é importante para ambos os lados, tanto em termos estratégicos quanto simbólicos. Situada perto da fronteira com a Turquia, a menos de duas horas de carro ao norte de Raqqa, capital do Estado Islâmico, Kobanê esteve na lista dos objetivos islâmicos por um longo tempo. Conquistar a cidade significaria dividir em duas a Rojava — região no norte da Síria predominantemente povoada pelos curdos, também conhecida como “Ocidente Curdistão” – e assegurar, em favor do IS, o importante controle sobre um trecho da fronteira com a Turquia, tornando ainda mais fácil receber suprimentos do exterior e adesão de jihadistas estrangeiros.

Além disso, a derrota anterior do IS pelas forças curdas da Síria em ambos locais, Kobanê e Sinjar, foi interpretada como um tapa na cara dos jihadistas. Especialmente, o fato de que quase um terço das milícias curdas serem constituídas por mulheres tem servido para envergonhar os islamitas radicais — que preferem ver mulheres cobertas de túnicas pretas da cabeça aos pés, ao invés de despidas de véu, independentes e empoderadas por um fuzil AK-47 em suas mãos.

O último fato importante que coloca Kobanê no topo da agenda do Estado Islâmico é o fato de que foi neste lugar que começou a Revolução Rojava em 19 de julho de 2012. Então, a cidade foi libertada das forças de Bashar Assad e tornou-se o lar de Revolução Democrática Popular. Nessa luta, os curdos da Síria declararam sua autonomia em relação ao Estado e estão em continuo trabalho de desenvolver assembleias democráticas e populares em prol do confederalismo como um meio para se governar.

O papel da Turquia

Apesar da urgente situação em Kobanê, outra questão tem dominado as manchetes dos meios de comunicação controlados pelo Estado na vizinha Turquia. Em 20 de setembro, 49 funcionários do consulado turco em Mosul foram libertados, depois de terem sido sequestrados pelo IS em 11 de junho, quando o grupo terrorista invadiu a cidade.

Nos meios de comunicação turcos, a Organização Nacional de Inteligência (MIT) e o Ministério das Relações Exteriores estão cobertos de glória por seus papéis na libertação dos reféns. Mesmo que o presidente Erdoğan pessoalmente negue qualquer especulação sobre um acordo firmado com o IS, observadores críticos questionaram as relações da Turquia com a organização terrorista e seu papel no ataque a Kobanê.

Quase não é segredo que a Turquia tem sido um defensor secreto de longa data do IS. Contudo, como um dos principais aliados dos Estados Unidos na região, o governo turco escondeu este apoio até quando o cenário tornou-se tenso no Iraque. Tanto a Turquia quanto outros membros da NATO viram inicialmente a organização islâmica como um aliado importante na guerra por procuração para derrubar o regime sírio de Assad. Nem o fato de as ações do grupo serem orientadas por um fundamentalismo extremo, semelhante ao da Al Qaeda foi suficiente para que a Turquia cortasse seus laços com IS.

Pelo contrário, parte dos milhares de combatentes estrangeiros que engrossam as fileiras da IS entrou na Síria cruzando ilegalmente a fronteira da Turquia. Há relatos de que soldados feridos do IS foram tratados em hospitais turcos, além de que o petróleo do território controlado pelo IS é contrabandeado para a Turquia e vendido, com o reconhecimento das autoridades locais, no mercado negro.

À luz dos ataques em curso sobre Kobanê, circulam rumores persistentes sobre um apoio mais direto da Turquia para o IS. A Firat News informou que um dia antes do início do ataque, em 14 de setembro, milhares de membros do IS foram levados para a fronteira em ônibus, e autorizados pelo exército turco a entrar na Síria. Um cidadão local relata: “As milícias do IS trazem pessoas e armas através da fronteira, sob supervisão do exército turco. Temos assistido isso muitas vezes. Nesta ocasião, foi um dia antes de os ataques começaram.“

Autonomia em Rojava

Por que a Turquia se preocupa com a população curda na Síria? A explicação mais provável é que a Turquia teme muito menos os próprios curdos sírios do que suas conquistas. A revolução social em Rojava tem servido como luz de esperança para milhões de curdos na região, cuja terra natal tradicional foi retalhada e dividida entre Turquia, Síria, Iraque e Irã no Acordo Sykes-Picot, de 1916.

Carta do Contrato Social, que funciona como uma Constituição para os três cantões autônomos em Rojava, deixa pouco espaço para discussão quando se trata da relação entre as pessoas e o Estado: “[A Carta] protege os direitos humanos e liberdades fundamentais e reafirma aos povos o “direito à autodeterminação“. Isto, obviamente, representa insulto e injúria para o Estado turco, que trava há décadas uma guerra de décadas contra o Partido Comunista do Curdistão (PKK). Anteriormente separatista, esta organização abandonou recentemente a luta armada e já não exige a independência para o Curdistão — mas alto grau de autonomia para os curdos que vivem dentro das fronteiras do Estado turco.

As ligações estreitas entre o PKK e o povo do Curdistão sírio vêm de longa data. Foi aqui que o fundador e atual líder do PKK, Abdullah Ocalan, procurou refúgio, no final de 1990; e foram remanescentes do PKK na Síria que fundaram o Partido de União Democrática (PYD) em 2003. Aos olhos da Turquia, o PYD nada mais é que um ramo sírio do PKK, tratado como tal.

No ano passado, quando o governo da Síria tirou suas forças de Rojava, para reforçar as tropas que sitiavam Aleppo, o PYD declarou que estava pronto para governar a região. Então, o primeiro-ministro turco Erdogan (agora presidente do país) declarou que não aceitaria a criação de uma “estrutura terrorista” na região. Ao afirmar que um enclave curdo separatista seria uma ameaça direta aos interesses e segurança da Turquia, ele acrescentou: “É nosso direito natural para intervir (no norte da Síria), pois essas formações terroristas irão perturbar nossa paz nacional”.

A estreita relação entre os curdos na Síria e na Turquia, não existe apenas na imaginação de Erdoğan: é parte muito importante das realidades cotidianas das populações que vivem na região. As fronteiras arbitrárias desenhadas nos primeiros anos do século 20 dividiram tribos e famílias, que de repente viram-se vivendo em lados diferentes das fronteiras nacionais recém-criadas. No entanto, devido ao difícil acesso às regiões montanhosas da fronteira, os curdos locais, com conhecimento íntimo das vias secretas para além da fronteira, continuaram a viver suas vidas onde enxergavam o Curdistão.

Por estas razões, os curdos do sudoeste da Turquia ainda sentem-se intimamente ligados a seus parentes no norte da Síria. A solidariedade entre os dois grupos já era evidente, quando centenas de homens e mulheres jovens cruzaram a fronteira para a Síria, há dois meses, durante o primeiro ataque do IS em Kobanê. O mesmo processo repetiu-se nos últimos dias.

Para auxiliar a resistência, Öcalan apelou ao povo curdo para iniciar uma mobilização em massa contra o IS: “Em relação aos ataques do IS, todos os nossos povos devem moldar sua vidas de acordo com a guerra que se intensificou no Curdistão, neste exato momento. Não só a população de Rojava mas também os moradores do Norte e de outras partes do Curdistão devem agir em conformidade”, disse ele.

Ativistas curdos que protestaram na fronteira, contra a suspeita de envolvimento turco com os eventos em Kobanê, foram atacados por forças de segurança com canhões de água e gás lacrimogêneo.

Apoiar os curdos

Embora o avanço do IS tenha sido refreado, ou mesmo interrompido em várias frentes pelas forças do YPG / YPJ, Kobanê e o resto de Rojava ainda estão sob ameaça iminente de serem massacrados pelos combatentes islâmicos radicais. Os recentes bombardeios praticados pelos EUA e seus aliados posicionados na Síria pode oferecer algum alívio àqueles que defendem a cidade, especialmente após os ataques aéreos durante a noite, aparentemente realizados pelo IS nas proximidades do território de Kobanê. Mas o que realmente os curdos precisam agora é o reconhecimento internacional de sua posição única como uma entidade autônoma, bem como fontes de financiamento e armas em seu apoio.

Enquanto a comunidade internacional permanecer em silêncio sobre o suspeito apoio da Turquia ao IS, só aumentará sua cumplicidade com crimes cometidos contra o povo curdo. O avanço do IS não pode ser interrompido por meio de ataques aéreos e condenações diplomáticas. Pelo contrário, faz-se necessário cortar seus vínculos fundamentais de articulação (isto é o afluxo de novos recrutas e apoio financeiro de material a partir de países da região), e derrotá-lo militarmente. Em ambos os casos, a Turquia e os curdos terão um papel fundamental a desempenhar. A Turquia precisa encerrar qualquer tipo de apoio velado ao IS. Os curdos precisam estar armados e apoiados, pois só assim conseguirão enfrentar as as forças extremistas que espalham o terror no Oriente Médio.

*Iskender le Verink é um escritor freelance que vive em Istambul, e um dos editores da ROAR Magazine. Você pode segui-lo no Twitter via @Le_Verink.

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A resistência dos curdos contra o IS pode ser acompanhada, quase diariamente, numa página especial da Wikipedia (em inglês).


A ESTÓRIA DO ÉBOLA NÃO CHEIRA BEM


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Paul Craig Roberts [*]

O governo federal anunciou que milhares de soldados adicionais dos EUA estão a ser enviados para a Libéria. O general Gary Volesky disse que as tropas "suprimiriam" o ébola. A estória oficial é que tropas de combate estão a ser enviadas para construir estruturas de tratamento para aqueles infectados com o ébola.

Por que tropas de combate? Por que não enviar uma unidade militar de construção tal como um batalhão de engenharia se têm de ser militares? Por que o governo não faz o que habitualmente fazia, contratar uma companhia de construção para construir as unidades de tratamento? "Milhares de tropas adicionais" resulta numa equipe de construção muito grande e sem experiência para 17 unidades de tratamento. Isso não faz sentido.

Estórias que não fazem sentido e que não são explicadas naturalmente levantam suspeitas, tais como: Estarão soldados dos EUA a serem usados para testar vacinas e curas do ébola ou, mais sombriamente, estarão eles a serem usados para trazerem mais ébola para os EUA?

Entendo porque pessoas fazem estas perguntas. O facto de que elas não receberão nenhuma resposta aprofundará suspeitas.

Americanos desinformados e crédulos responderão: "O governo dos EUA nunca utilizaria os seus próprios soldados e os seus próprios cidadãos como cobaias (guinea pigs).Antes de se fazer de bobo, aguarde um momento para recordar os muitos experimentos que o governo dos EUA efectuou sobre soldados e cidadãos americanos. Por exemplo, investigue online por "experimentação humana não ética nos Estados Unidos" ("unethical human experimentation in the United States") ou "experimentos de radiação humana"("human radiation experiments") e descobrirá que agências federais tais como o Departamento da Defesa e a Comissão de Energia Atómica fizeram: expuseram soldados e prisioneiros dos EUA a altos níveis de radiação; irradiaram os testículos de homens e testaram defeitos de nascimento (o que resultou em altas taxas); irradiaram as cabeças de crianças; alimentaram com material radioactivo crianças mentalmente deficientes.

A oposição do regime de Obama à quarentena para aqueles que chegam da África Ocidental também é um mistério. O US Army anunciou que o Exército tenciona por em quarentena todo soldado americanos que retorne da deslocação à Libéria. O Exército diz razoavelmente que um excesso de cautela é exigido a fim de minimizar o risco de transferir o surto de ébola para os EUA . Contudo, a Casa Branca não endossou a decisão do Exército e manifestou oposição às quarentenas ordenadas pelos governadores de Nova York e Nova Jersey.

Aparentemente, a pressão da Casa Branca e ameaças de processos judiciais daqueles sujeitos à quarenta levaram a que os dois estados afrouxassem suas quarentena. Uma enfermeira que retornou do tratamento de pacientes ébola na África Ocidental foi considerada por Nova Jersey como sã para actuar depois de se verificar que estava livre de sintomas durante 24 horas ao invés dos 21 dias que leva para a doença produzir sintomas. A enfermeira ameaçou com um processo judicial e a falsa questão da "discriminação contra trabalhadores de cuidados de saúde" levantou-se. Como será a discriminação para por em quarentena aqueles com a máxima exposição ao ébola?

Antes de aparecerem sintomas, uma pessoa infectada é perigosa para outros até estar em quarentena. Como o CDC (Center for Desease Control and Prevention) foi agora forçado a admitir, depois de estupidamente negar o facto óbvio, a actual estirpe (strain)de ébola pode propagar-se pelo ar. Tudo o que é preciso é um espirro ou uma tossidela ou uma superfície contaminada .

Por outras palavras, pode difundir-se como a gripe. Negações anteriores deste facto ajudaram a criar a suspeita de que a nova estirpe de ébola é uma estirpe utilizada como arma de guerra biológica [NR] criada pelos laboratórios do governo dos EUA na África Ocidental. Como revelou o professor Francis Boyle, da Universidade de Illinois, Washington instalou seus laboratórios de guerra biológica em países africanos que não assinaram a convenção que proíbe tal experimentação.

O procedimento tortuoso de Washington ao evadir-se da convenção que o governo dos EUA assinou provocou uma outra suspeita. Será que a nova estirpe do ébola escapou, talvez através de acidente de laboratório que infectou seus trabalhadores, ou foi a estirpe libertada deliberadamente a fim de verificar se funciona ?

A única política inteligente e responsável é parar todos os voos comerciais para e das áreas do ébola. Trabalhadores voluntários da saúde deveriam ser transportados por aviões militares e deveria ser-lhes exigido que aguentassem a necessária quarentena antes de serem transportados de volta para os EUA.

Por que a Casa Branca se opõe à única política responsável e inteligente? Por que está o Congresso silencioso sobre a questão?

A resistência a uma política sã promove a suspeita de que o governo ou algum grupo conspirativo tenciona utilizar o ébola para declarar lei marcial e arrebanhar a população ou parte indesejáveis dela para dentro dos campos FEMA que a Halliburton foi paga para construir (sem que alguma vez dissessem ao público a razão destes campos).

Certamente é estranho que um governo envolvido em guerras a longo prazo no Médio Oriente, cujo propósito não é claro para o público, e em fomentar conflito tanto com a Rússia como com a China, dois países armados com ogivas nucleares, esteja tão desatinadamente a criar entre o público mais suspeitas quanto aos seus motivos, intenções e competência.

A democracia exige que o público confie no governo. Mas Washington faz todo o possível para destruir esta confiança e para apresentar um quadro de governo disfuncional com agendas ocultas e não declaradas. 

[NR] Após a derrota do fascismo japonês na II Guerra Mundial, os EUA capturaram os arquivos e os integrantes da unidade militar niponica especializada em guerra bacteriológica e puseram-nos ao seu serviço.   Na década de 1950, na Coreia, os EUA efectuaram experimentos de guerra biológica, crime de guerra devidamente confirmado e comprovado por uma comissão internacional de inquérito.

Ver também: 

[*] Antigo secretário assistente do Tesouro dos EUA e editor associado do Wall Street Journal, autor de How the Economy Was Lost e de How America Was Lost

O original encontra-se em www.paulcraigroberts.org/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Portugal: GESTÃO DANOSA, DESEMPREGO DE LUXO



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

A sequência dos fatores mais relevantes dos negócios da PT Portugal, no seu percurso recente é esta: em 2010, a PT vendeu a sua participação na Vivo à Telefónica por 7,5 mil milhões de euros (as mais-valias não pagaram quaisquer impostos) e comprou 23% da Oi por 3,75 mil milhões, movimentando, nestas duas operações, 11,25 mil milhões e tendo a PT ficado com um excedente de 3,74 mil milhões; após esses negócios a PT pagou ao Estado português 1,8 mil milhões de euros para concretizar a transferência de pensões da empresa para a Caixa Geral de Aposentações, transportando o encargo futuro para o Estado e permitindo contabilizar no Orçamento do Estado (OE) uma receita extraordinária; o remanescente (1,95 mil milhões), no fundamental foi utilizado para entregar dividendos aos acionistas, processo que se acentuou e levou a PT a contrair empréstimos, tendo hoje uma dívida de 6,5 mil milhões de euros.

Hoje conhecem-se as profundas ligações do grupo GES/BES à PT e tornou-se claro que a PT funcionou em momentos cruciais como uma espécie de caixa de tesouraria do grupo. Para satisfazer os outros acionistas de relevo, era preciso alimentá-los e foi isso que a gestão de Zeinal Bava, Henrique Granadeiro e C.ª fizeram.

Os acionistas, os atores do "mercado" que jogam com estes negócios e os exploradores da especulação financeira tinham, pois, fortíssimas razões para eleger Zeinal Bava como "o melhor gestor". Mas o verdadeiro gestor era o grupo GES/BES. A administração Bava e C.ª apenas credibilizava e completava as operações do(s) grande(s) acionista(s). Em cada negócio houve explicações técnicas (e políticas) que os anunciaram como as melhores opções para o futuro da PT e do país. Entretanto, se um dia se fizer um sério combate à corrupção, talvez se venha a constatar que todos estes negócios também tiveram outros "pequenos" beneficiários.

É claro que a PT era (e é) muito mais que uma plataforma de negócios, teve um importantíssimo papel no país, dispôs e dispõe, no plano técnico, de extraordinários trabalhadores e gestores. Agora, Zeinal Bava - que continua, até fevereiro, com escritório e apoios vários - foi dispensado com direito a um "subsídio de desemprego" de 150 mil euros por mês, durante 3 anos. Se um trabalhador comum prevarica, leva (e bem) com um processo e é despedido sem proteção. Estes privilegiados fazem-se remunerar principescamente, praticam atos de criminosa gestão e ainda recebem indemnização de milhões.

Em Portugal ouvimos todos os dias loas bacocas às superiores qualidades da gestão privada e é forte a inculcação da tese de que os gestores privados têm o direito a decidir como muito bem entenderem sobre a forma de obter lucros e de os distribuir. Nada de mais errado: no sistema político em que vivemos, uma empresa privada (e ainda mais grandes grupos económico-financeiros) é uma organização da sociedade. As suas opções e decisões afetam todos. Por isso é que é indispensável a presença do Estado em setores estratégicos, há necessidade de cumprimento das leis e de regulação efetiva, de princípios éticos na gestão.

A PT é uma realidade demasiado importante para não ser sujeita a análise sólida do seu percurso e do seu papel (1) . É uma empresa herdeira de todo o plano de comunicações e telecomunicações em Portugal e os governos, hoje como no passado, têm de intervir no seu destino. A Assembleia da República pode e deve ser ativa neste processo. Não se pode permitir a destruição ou desmantelamento do segmento das telecomunicações, desta empresa de excelência, que dispõe de tecnologias avançadas e serve centenas de milhares de empresas e milhões de portugueses, que emprega 36 mil trabalhadores com relação direta ou em regime de outsourcing. O seu contributo para a economia nacional, as receitas, desde logo fiscais, que ali têm origem e alimentam o OE são enormes e não podem ser desbaratadas.

Aos trabalhadores da PT, ativos e não ativos, não posso deixar de colocar um desafio: façam toda a ação e intervenção interna e pública que salvaguarde o vosso emprego e ajudem à consciencialização e mobilização dos portugueses para se evitar maiores desastres.

(1) Sobre a evolução do setor e da empresa escrevi umas dezenas de páginas na minha tese de doutoramento.

Na foto: Ricardo Salgado, Henrique Granadeiro (PT), Zeinal Bava (PT)

Portugal: CAVACO SILVA FOGE A SETE PÉS DA CONDECORAÇÃO DE SÓCRATES




Dias depois de Ascenso Simões ter enviado uma carta a Belém a questionar a não condecoração de José Sócrates, o tema parece ainda não aquecer nem arrefecer Cavaco Silva. Segundo o Expresso, o Presidente da República não está interessado em colaborar no processo de reabilitação política de Sócrates e a condecoração do antigo primeiro-ministro vai manter-se, por tempo indeterminado, em banho-maria.

As desavenças entre Cavaco Silva e José Sócrates são públicas e ficaram bem expressas no prefácio dos ‘Roteiros’, em 2012, quando o Presidente da República acusou o socialista de uma “falta de lealdade (…) que ficará na história da nossa democracia”. Contudo, o destino parece querer fazer cruzar de novo o caminho dos dois.

Há dias Ascenso Simões enviou uma carta a Belém a questionar a não condecoração de José Sócrates, mas a questão parece não ser prioritária do lado a Presidência da República. Segundo o Expresso, Aníbal Cavaco Silva não está interessado em condecorar o antigo primeiro-ministro, momento que poderia marcar o seu regresso ‘físico’ à política – sendo que em Belém já se fala de um “espaço” que Sócrates ocupará “pelo menos nas legislativas”.

Por Belém, destaca o semanário, nada está preparado para que a condecoração aconteça e nem tão-pouco se sabe se José Sócrates aceitaria a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo pelas mãos de Cavaco Silva.

Contudo, esta é uma questão que, por si só, divide os socialistas. Se Ascenso Simões e Manuel Alegre saíram em defesa da condecoração, Augusto Santos Silva, por seu turno, disse que Sócrates “não merece tamanha nódoa no seu currículo” e Capoulas Santos também não se mostrou favorável à ideia.

Notícias ao Minuto

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Portugal: SOMOS TODOS DE ESQUERDA



Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião

Em Portugal, sobre a tradicional dicotomia esquerda-direita tem vindo a ser promovida uma nebulosa que baralha a identificação de políticas que temos de distinguir. Se não nos é difícil enquadrar um programa de modernização do parque escolar público como uma medida de esquerda, a forma como foi operacionalizado – sem transparência, favorecendo as grandes construtoras, fazendo transitar a propriedade das escolas ou beneficiando o privado em detrimento do interesse público – destruiu o seu teor progressista.

Tal como há 40 anos a melhor forma de aniquilar o socialismo era propagar que todos eram socialistas, hoje é tido como normal que o ministro Poiares Maduro ensaie qualificar algumas das políticas do seu governo como sendo “de esquerda”.

Esta nebulosa é terreno fértil para a confusão. O PSD diz ter introduzido algumas medidas de esquerda, o PS reivindica a paternidade dos únicos governos de esquerda possíveis, o PCP e o BE recusam aliar-se ao PS por não ser de esquerda, o Livre reivindica o número de deputados necessário para participar num governo com o PS e Marinho e Pinto tem dias que se põe à esquerda, outros à direita.

O problema é que, neste momento histórico, a definição das fronteiras da esquerda é um debate teórico difícil de clarificar que corre o risco de não sair do “quem quer, e não quer, casar com a carochinha (o governo PS)?”.

A forma mais certeira de ultrapassar este impasse parece ser recuperando a terminologia marxista. Da luta de classes à dicotomia entre explorados e exploradores. Na verdade, é aí que os projectos políticos se distinguem, na definição dos interesses que pretendem defender e no seu carácter de classe. É aí que se clarificam as diferenças em temas vitais na actualidade, como o combate à corrupção, o resgate da soberania ou a concretização da democracia. Mais é aí que se identifica o possível quadro de alianças para a governação.

Escreve ao sábado

Portugal - TAP: Nenhum tripulante de cabine se apresentou hoje em Lisboa e no Porto




O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil garantiu que nenhum tripulante de cabine da TAP se apresentou hoje no aeroporto de Lisboa e do Porto, no segundo dia de greve para exigir cumprimento do Acordo de Empresa.

O dirigente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), Nuno Fonseca, disse à TSF que «desde as 00h00 em Lisboa não houve nenhuma saída de voos, vai sair ao final da manhã um voo de serviços mínimos. No Porto, também não houve nenum voo a ser realizado».

Nuno Fonseca adiantou ainda que estão previstos apenas três voos de serviços mínimos: «um voo para Caracas, um para o Funchal e um voo para São Paulo».

No primeiro dia de paralisação, na quinta-feira, a adesão foi de 90%, segundo o SNPVAC, o que obrigou ao cancelamento de 145 voos previstos para aquele dia, de acordo com a TAP.

Para hoje, num total de 291 voos, a TAP prevê a realização de 135, assegurados pelos serviços mínimos decretados pelo Conselho Económico e Social (CES), mas o sindicato contesta o número, esclarecendo que são cerca de 120.

A greve convocada pelo SNPVAC, filiado na UGT, tem como objetivo exigir da TAP o cumprimento de Acordo de Empresa, em vigor desde 2006, designadamente o direito a um fim de semana de descanso de sete em sete semanas e um planeamento atempado das escalas de serviço.

A paralisação dos tripulantes de cabine da TAP está repartida em dois períodos: o primeiro começou entre as 00:00 e as 23:59 de quinta-feira passada e continua hoje, o segundo será a 30 de novembro e 2 de dezembro.

TSF

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SAMAKUVA ARRASA O GOVERNO: “ANGOLA PRECISA DE OUTRA INDEPENDÊNCIA”


Acesso ao Folha 8 digital

Folha 8 (edição digital), 01 novembro 2014

O presidente da UNITA, Isaías Sa­makuva, dis­se em Lisboa que o Orça­mento Geral do Estado “é algo de fachada, que não se cumpre”, acres­centando também que ninguém sabe “de onde surgem enormes somas de dinheiro a passear na Europa”.

Questionado pelos jorna­listas no final de uma in­tervenção em Lisboa, no ‘International Club de Por­tugal’, o líder da UNITA ressalvou que ainda não tinha lido o documento que rege as despesas e re­ceitas de Angola em 2015, mas sublinhou que, pela experiência, podia dizer que “o Orçamento Geral do Estado, em Angola, é algo de fachada, não se cumpre não se respeita, não se sabe de onde vêm enormes somas de dinhei­ro apanhadas em caixas de sapatos aqui na Europa, ou então para fazer muita fes­ta em Angola”.

O OGE, sublinhou, “é algo só para formalidades”, disse, lamentando que o Governo não invista mais na diversificação da economia, apostando no sector da agricultura, e continuando dependente da evolução da produção petrolífera para equilibrar o orçamento.

“O facto de termos todo o Orçamento baseado no petróleo traz consequên­cias enormes, pensamos sempre que os preços do petróleo estão altos e com a produção enorme que temos não há problemas, mas depois vemos, assim que descem, o Presidente da República, no Estado da Nação, a atirar todas as culpas do que não se faz para a diminuição da produção e para a baixa dos preços”, disse Isaías Samakuva.

Por isso, a UNITA “tem insistido para uma real diversificação da econo­mia” e tem afirmado que “não podemos basear toda a nossa economia no petróleo, até seria melhor basearmos a nossa pro­dução na agricultura, um sector vital e estratégico” para Angola, disse.

Antes, no discurso, já ti­nha deixado duas mensa­gens, uma para os inves­tidores, e outra para os estrategas e governantes: na primeira, afirmou que “Angola é um país mara­vilhoso onde se pode ga­nhar muito dinheiro em muito pouco tempo, mas esta facilidade encobre uma séria doença cance­rosa que preocupa os que olham para o seu futuro”.

ANGOLANOS QUEREM MUDANÇA

Num discurso repleto de críticas ao actual Governo e ao Presidente da Re­pública, Isaías Samakuva considerou estar-se “num momento crítico na his­tória de uma nação, um daqueles momentos que redefine o seu futuro”, e defendeu que “os ango­lanos querem mudança, mas o regime continua, e a intensidade deste desejo cresceu de tal forma que um dificilmente sobrevi­verá ao outro”.

Aproveitando a passagem por Portugal, o responsá­vel político deixou bem vincadas as diferenças en­tre os dois regimes políti­cos: “alguém imagina um mandato de 40 anos sem que o Presidente se tenha sujeitado a um único de­bate na televisão? E o que diriam se os deputados só pudessem fiscalizar o Governo se isso fosse au­torizado pelo próprio Pre­sidente da República?”.

O responsável lembrou que “Angola é o único país da CPLP sem autarquias” e disse que “os direitos e liberdades fundamentais não são respeitados”, para concluir que “Angola pre­cisa de outra independên­cia”, porque “o actual go­verno chegou ao seu fim e já não consegue reunir as condições políticas de governabilidade e legiti­midade para se manter em plenitude de funções”.

Noutra frente, Isaías Sa­makuva, considerou que o que se passa no BES An­gola configura “um caso de polícia” e lamentou que, “ao contrário do que se passa em Portugal, em Angola fazem-se pergun­tas mas não há resposta”.

Há várias questões “que configuram inconstitu­cionalidades e uma atitu­de e comportamento não transparente” das autori­dades, disse o presidente da UNITA, respondendo a uma questão do deputa­do do CDS-PP José Ribei­ro e Castro, que integra a comissão de inquérito ao que se passou na gestão do grupo e do Banco Espí­rito Santo.

Recorde-se que o Ban­co Espírito Santo Angola (BESA) vai passar a as­sumir a denominação de Banco Económico SA e entre os novos accionis­tas, como Folha 8 revelou, encontram-se o grupo pú­blico angolano Sonangol e o Novo Banco português, informou na quarta-feira o Banco Nacional de An­gola.

As alterações foram deci­didas durante uma Assem­bleia-Geral extraordinária de accionistas, realizada em Luanda, em cumpri­mento das determinações do banco central angola­no, que assim vai cessar a intervenção no BESA, e que o BES considera sem qualquer valor legal.

Na mesma informação, o Banco Nacional de Angola (BNA) esclarece que “se confirmou a subscrição do capital social”, conforme o próprio banco central tinha deliberado, há uma semana, no âmbito das medidas de saneamento e da intervenção directa no BESA.

Embora sem revelar o peso de cada participação, o BNA informa que “sob aprovação prévia do regu­lador”, a Assembleia-Ge­ral decidiu pela “continui­dade do accionista Geni, S.A.”, que anteriormente detinha uma participação de 18,99 por cento.

A nova estrutura accio­nista envolveu também a entrada para o capital do agora Banco Económi­co da Lektron Capital, do grupo petrolífero estatal Sonangol e do português Novo Banco.

A estrutura anterior era composta ainda pelo Ban­co Espírito Santo (BES) com 55,71%, e pela Portmi­ll, com 24%, participações que, conforme o BNA já tinha anunciado anterior­mente, foram diluídas face ao aumento de capital.


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