quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A OPERETA DOS BURLÕES, O IMPERADOR SÚBDITO E ASTERIX NO MALI

 

Rui Peralta, Luanda
 
I - Durante duas décadas a Itália teve por primeiro-ministro um delinquente fiscal que deliciava-se com as imagens do Paraíso de Alá, feito de rios de leite e mel e povoado por inúmeras jovens doces e esbeltas. Um delinquente fiscal reincidente, que defraudou o Estado, como Primeiro-Ministro, título conquistado e mantido graças aos desmesurados recursos que possuía e á impotência propositada de uma oposição conivente.
 
A sentença do poder judicial, que condena o delinquente Berlusconi, põe a descoberto, de forma transcendente, duas décadas da mais pura malandragem. Duas décadas em que o poder executivo foi um antro de canalhas e o poder legislativo um retiro de imbecis. E nenhum juízo político sério o pode atenuar, nem mesmo o bem passante - e melhor falante - Partido Democrático, que candidamente (como donzela que deixou cair o lenço perfumado no chão enlameado) repete a cantilena que separa as questões judiciais das questões politicas (como se a Politica prescindisse dos pressupostos da Justiça).           
 
Sejam quais forem as respostas e os gestos de “indignação” dos actuais protagonistas da opereta (os gritos de desespero do centro-direita e os sussurros desconcertados do centro-esquerda) uma coisa é certa: terminou um ciclo de impunidade, onde os negócios se cruzaram com a vida pública, numa emaranhada e bem compactada teia de interesses privados. Afirmou-se um princípio da legalidade, comprovando que a Lei não se detém às portas dos palácios e caiu um “poderoso”, como quando se quebrou a influência da MAFIA nos corredores políticos (abençoados pela Democracia-Cristã e com os tapetes estendidos pela “Sinistra democrática”)
 
As consequências deste facto são difíceis de calcular. No imediato, pode-se afirmar a ilegitimidade política do partido a que Berlusconi presidia (e onde era o principal accionista, sendo por isso o “seu” partido). A actual maioria e o actual Parlamento são aberrações, perante os acontecimentos. Nem um assomo fingido de indignidade. Nada! Apenas um súbito despertar da necessidade em “reformar a Justiça”. Foi a única ideia que ocorreu aos pelintras falsários do poder executivo e aos apalermados e ensonados representantes do povo, o poder legislativo.
 
No abismo da crise italiana, a Constituição é a única rocha firme. Permitir que forças ilegítimas e indignas minem a sua integridade é mais um delito. Nunca como hoje, urge aplicar os princípios e os valores constitucionais e não alterá-la conforme pretende o coro desafinado da opereta. E a urgência ainda é maior, quando ouvimos da boca (suja, obviamente) do presidente da Republica a intenção de sacrificar a Magistratura perante a ira do centro-direita, no exacto momento em que o seu chefe, na sua desconexa mensagem televisiva a atacava de forma grosseira (a típica grosseria arrogante dos que se habituaram á impunidade). Parece que o deus do obtuso presidente da Republica de Itália é o deus da estabilidade governamental e a ele sacrifica tudo, mesmo a Justiça.
 
No longo-prazo vamos assistir a uma troca de assentos entre o centro-direita e o centro-esquerda (as trocas do tacho) e á deambulação do eleitorado da direita que vai andar em busca de uma nova morada, passando pelos ares macambúzios do eleitorado de esquerda, que procura uma razão para votar. Esta será a “nuvem tóxica” que pairará sobre as cabeças dos eleitores, efeito dos “grandes entendimentos” de interesses, que anulam os anticorpos morais, que ainda resistem á “infecção berlusconiana” na torpedeada sociedade italiana.
 
A solução passa por uma mudança da partitura, do maestro, do coro, dos cantores solistas e da orquestra. E se calhar, também, por uma mudança da sala…É que a acústica e o visual da actual só mesmo para surdos, cegos e mudos!
 
II - Outro produto da ordem imposta pelos Aliados após a II Guerra Mundial é o Japão actual. Aliás pode-se mesmo afirmar que a II Guerra Mundial nunca terminou para o Japão. Sessenta anos depois do navio de guerra “US Missouri” ancorar na Baia de Tóquio para receber a rendição do Império Japonês, o Japão permanece uma nação derrotada, mesmo sendo um dos grandes poderios económicos á escala global. Aos japoneses é constantemente recordado o mais recente período negro da sua História, não como forma pedagógica, para não ser esquecido pelas gerações mais novas, para que os erros que conduziram a esse período nunca se tornem a verificar, mas de uma forma que implica a submissão do povo japonês, como se o japonês fosse um ser maléfico, de maus instintos, que tem de ser constantemente lembrado dos crimes e das atrocidades que o Império cometeu.  
 
O Japão é um gigante de pés de barro, atolado na estagnação económica. Reformas e mais reformas não conseguiram injectar vida no crescimento económico. E por uma razão: o Japão, o gigante económico, caminha sob pés de barro porque não tem Forças Armadas, ou melhor, porque está proibido de ter Forças Armadas. A chamada Força de Autodefesa foi criada para deter o avanço anfíbio dos soviéticos sobre as ilhas do norte do país. A constituição imposta pelos norte-americanos, durante o acto de rendição, impede o Japão de realizar operações militares ou de exportar armas e equipamentos. O gigante económico é, afinal, um pigmeu militar.    
 
O Tratado de Segurança, assinado em 1960, entre os USA e o Japão, estabelece as relações de Segurança e Defesa entre os USA e o Japão. Por esse tratado os USA responsabilizam-se pela defesa do Japão. A chave do tratado é o estabelecimento de bases áreas, de forças terrestres e navais permanentes dos USA em território japonês. E assim permanece desde essa data. O Japão tornou-se num imenso porta-aviões norte-americano, que domina estrategicamente todo o Norte da Ásia. Em troca o mercado norte-americano abriu as portas á indústria japonesa (mais tarde, á Coreia do Sul, foi dada a mesma oportunidade).
 
Este cozinhado foi alterado pelo rápido crescimento económico e militar da China, nas últimas décadas. A China é uma das nações que mais fala do militarismo japonês (sofreu a invasão japonesa e sentiu na pele as atrocidades dos militaristas) e que espalha na região o fantasma do militarismo nipónico. Mas a China fá-lo com um sentido estratégico, não porque tema o renascimento do militarismo japonês (que esperemos os japoneses nunca permitam), mas porque sabe o que pode acontecer á sua estratégia xenófoba, nacionalista e hegemonista, na região se o Japão se arma. Um Japão com Forças Armadas, um Japão realmente independente é um obstáculo incontornável para a China.
 
Repare-se na forma como os chineses pressionam a integridade territorial japonesa nos últimos meses, na questão das Ilhas Senkaku, administradas pelo Japão desde o século XIX, mas reclamadas pela China, No mesmo sentido, expansionista, está a recente ofensiva propagandística do regime pós-maoista chinês sobre Okinawa, alegando que esta região pagava, no passado, tributo ao Império do Meio. Se a estas reivindicações chinesas, juntarmos o rápido crescimento da frota naval de guerra chinesa e da Força Aérea Chinesa, que projectam a influência chinesa em todo o Pacifico, conseguiremos a profunda preocupação dos japoneses, que não têm meios militares para se defenderem. Enquanto os tambores do nacionalismo chinês soam cada vez mais alto, a sensação de vulnerabilidade cresce no Japão. Os japoneses sabem que os norte-americanos não arriscarão um confronto com a China e que fazem tábua rasa sobre a questão das Ilhas Senkaku ou das Ilhas Ryu Kyu (Okinawa).
 
Pelo seu lado a China vê no Japão um obstáculo que impede a livre movimentação da sua frota no Pacifico, o que já acontecia com a ex-URSS. O fluxo logístico marítimo chinês tem de passar pelos pontos das Ilhas Senkaku e Ryu Kyu, no Japão, ou pelo estreito de Luzon, nas Filipinas (por isso os USA negoceiam com Manila a reabertura da base aéreo-naval de Subic Bay, desactivada em 1992).  
 
A China tenta claramente resolver estas questões de forma musculada e recorrendo a largas campanhas de intoxicação propagandística, relembrando constantemente o fantasma do militarismo nipónico na II Guerra Mundial e mostrando a toda a Asia quem é o novo macho alfa da região. É com um sorriso amarelo que poderemos ver no oficioso CCTV News, a forma sobranceira e arrogante com que os japoneses são tratados e na forma como os analistas e jornalistas chineses falam dos Estados vizinhos (nem mesmo os seus parceiros BRICS da India escapam a uma certa condescendência, excepto os Russos que, por razões óbvias, são sempre referidos formalmente). 
 
Os japoneses estão perfeitamente conscientes da sua posição, mas não têm decisão soberana. Submetido aos USA pela força nuclear, o Japão não tem capacidade para responder aos actuais acontecimentos. A apreensão japonesa aumenta quando deparam com a recente nomeação da embaixadora norte-americana Caroline Kennedy, uma apoiante de Obama e financiadora das suas campanhas, que não é a pessoa mais adequada para o cargo - tendo em conta o peso e a responsabilidade dos USA – nestes tempos conturbados.
 
As opções japonesas são claras: ou esperam que os USA resolvam a questão e permanecem enjaulados aos tratados derivados da II Guerra Mundial, ou rompem com esses tratados, mandam o Imperador às urtigas (ou para os seus amos na Casa Branca), implementam a Republica e assumem o seu destino nas suas mãos. Só com uma Republica Democrática e independente, os japoneses poderão ultrapassar o longo ciclo de estagnação que sujeita a sua economia e transpor o seu manancial económico para a reconstrução das suas forças armadas (incluindo a capacidade nuclear) assumindo-se como garante da Paz na região, limpando os fantasmas do passado.
 
A chave desta região passa pois pelo Japão. É apenas uma questão deste assumir a sua soberania. Sem complexos. 
 
III - Saindo das Periferias do Centro e entrando na Periferia Profunda, observemos o Mali. Não para referir as eleições e todas as expectativas geradas pelo processo eleitoral, ou para analisar os resultados da escolha popular, mas para nos centrarmos na ocupação do território por parte da França.
 
A versão oficial, os argumentos apresentados e divulgados pela máquina de propaganda, diz-nos que a guerra do Mali tem por objectivo “desfazer-se das forças islâmicas radicais”. Como cidadãos globais atentos concluiremos que esses “islâmicos radicais” são os mesmos que combateram ao lado dos “Guardiões do Ocidente” (onde se incluem os franceses) na Líbia e são apoiados por estes na Síria, sempre financiados pelos “amigos” estados do Golfo. Claro que este facto nunca é referido ou explicado pela máquina de propaganda global, que tem por objectivo simplificar ao máximo os factores que originaram a ocupação do país, para melhor intoxicar e iludir a opinião pública internacional.
 
Se vermos, ouvirmos e lermos a propaganda informativa (ou a informação propagandística) concluiremos (erroneamente) que nunca houve uma intervenção militar tão bem sucedida como a da França no Mali. Nem o Tintim belga teve tanto sucesso em África como o Gaulês do elixir mágico. Se nos basearmos nas fontes oficiais estaremos perante uma intervenção militar que não causou uma só vítima civil, que não eliminou inocentes e neutralizou centenas de “terroristas”, tal como nos contos de Asterix, Obelix, Ideafix e a aldeia gaulesa contra o Império Romano, em que nunca ninguém morria e o bardo sempre tentava cantar no final feliz, acabando amordaçado. 
 
A única vítima da propaganda é a verdade. E este é um facto que não se consegue omitir, por muito apurada que seja a técnica do vendedor de banha da cobra. 99% das notícias que se publicam no Mali sobre o Mali são dos meios de informação franceses, em particular da Agence France-Press (AFP) e da Radio France International (RFI). Se vermos, ouvirmos e lermos estas notícias concluiremos que apenas morreram soldados franceses, soldados malianos e terroristas e alguns pouco civis, mortos pelos terroristas e pelos seus atentados. O que é estranho, atendendo ao facto da França ter respondido ao “pedido de socorro” do Mali com bombardeamentos intensivos.
 
Mas será que a entrada da França no Mali foi mesmo uma reacção rápida ao pedido de ajuda do presidente interino maliano? Não é verdade que já estavam posicionadas no Mali tropas francesas? Ou será que o Primeiro de Infantaria Naval, um regimento de paraquedistas, helicópteros das Operações Especiais, três Mirage 2000D, 2 Mirage F-1, três C-135, um Hércules C130 e um Transall C160 estavam apenas a montar um circo para as crianças malianas, oferta dos “enfants de la pátrie”?  
 
A AFP pintou um quadro napoleónico: os malianos receberam os soldados franceses, na sua entrada triunfal, com bandeiras francesas e gritando “Merci France”. Que pesado o fardo do colono…
 
IV - Para situarmos correctamente a intervenção francesa é necessário recorrermos á História (coisa que os manipuladores de opinião não gostam de fazer, porque “complica”). Quando os colonialistas franceses entraram no Mali, o território formava parte de uma vasta área económica, atravessada por enormes caravanas que para ali chegarem atravessavam o deserto. Os nómadas negociavam com os camponeses vendendo-lhes as mercadorias provenientes de outras regiões, originando uma zona económica próspera, na época. Para termos uma ideia da riqueza que prosperava na região centremo-nos neste exemplo: se convertermos, ao preço actual do ouro e levarmos em conta a inflação através dos séculos, os bens do rei Mansa Moussa - que dirigiu no século XIV um reino situado no interior do Mali - concluiríamos que a fortuna deste rei era de 400 mil milhões de USD.       
 
A região disfrutava de uma vida intelectual riquíssima e Tombuctu foi um dos principais centros intelectuais mundiais. O Império do Mali começava a sul do Sahara, penetrava pelo actual Sudão e estendia-se até á costa do Senegal, onde abraçava o Atlântico, tendo o árabe como língua veicular. Toda esta imensa riqueza cultural e material foi destruída pelo colonialismo. As fronteiras foram redesenhadas e os equilíbrios socias, culturais e ambientais alterados. Os franceses introduziram a região numa área administrativa, a que denominaram Sudão Francês e quando em 1960 o Mali tornou-se independente, foi através de uma federação com o Senegal, que apenas durou dois meses, ficando o Mali entregue á sua sorte, sem fronteiras marítimas, depois do Senegal ter abandonado a federação.
 
O primeiro presidente do país Modibo Keita presidiu desde 1960 (ano da independência) até ter sido deposto por um golpe de estado em 1968, período após o qual o país sentiu fortemente a pressão neocolonial, O Norte, uma região desértica, foi votada ao abandono e os seus habitantes descriminados. As tensões entre os nómadas tuaregues e as restantes comunidades do país foram aumentando. O comércio próspero que caracterizou a região em épocas passadas extinguiu-se e já nada resta das vastas caravanas nómadas. 
 
Grande parte dos tuaregues nómadas e dos berberes do Mali converteram-se em soldados, integrados por Kadhafi no exército líbio. Após a ingerência estrangeira que originou a queda de Kadhafi, tuaregues e berberes regressaram ao Norte do Mali, onde o descontentamento provocado pela pobreza e pela ausência de políticas de desenvolvimento social, gerou a ideia independentista de Azawad, uma questão que nas últimas décadas tem provocado revoltas e acordos diversos. Em Janeiro de 2012 os rebeldes tuaregues ocuparam a cidade de Aguelhok e mataram uma centena de soldados do exército maliano. Este massacre originou um forte descontentamento no seio das forças armadas do país, que mal equipadas, não podiam fazer frente aos rebeldes de Azawad, bem equipados e melhor treinados. Em Março o presidente maliano Amadou Toumani Touré (conhecido pelas suas iniciais: ATT) foi deposto por um golpe de estado levado a cabo por oficiais subalternos, liderados por Amadou Sanago.
 
Durante o ano de 2012 o Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA) apoderou-se do norte do país, mas acabou por ser expulso por três grupos apoiados pelos estados do golfo (particularmente a Arabia Saudita e o Qatar): O Ansar Dine, a Al-Qaeda do Magreb Islâmico (AQMI) e o MUJAO. E eis que o presidente interino, Dioncounda Traoré pediu a intervenção francesa, o que afundou o esmerado plano da ONU e da União Africana (UA).
 
Deste exemplo do Mali, África deve tirar conclusões acertadas. Os estados africanos são demasiado débeis, os mecanismos institucionais necessitam de ser reforçados e esta é uma acção urgente em grande parte do continente. Débil é também a UA, emaranhada em cumplicidades e infiltrada pelos interesses neocolonialistas. Muitos Estados africanos da UA são estados suseranos que recebem ordem dos seus amos europeus e norte-americanos. Os actuais conceitos desenvolvimentistas que dominam a superestrutura ideológica do continente, espelhadas em slogans publicitários e em grandes e encobertas acções de marketing das multinacionais, como o afro-capitalismo e o “black capitalism”, ou as mais elaboradas, como as criadas em torno da ilusão do “Renascimento Africano” são opiáceos que intoxicam as massas africanas e facultam a penetração neocolonial e a recolonização, que marcam as políticas de rapina do Ocidente e esventram as entranhas do continente africano.
 
A Líbia, o Mali, o Egipto e a Tunísia, no continente, assim como a Síria, na Ásia Ocidental, o Japão no extremo-oriente e a Itália, na Europa, são lições (entre muitas outras) que devem ser analisadas de forma séria e responsável pelos Estados africanos. Por uma questão de respeito pelos antepassados é altura de construir, no presente, uma Africa-Futuro, com afro-realismo.
 
E já agora… Houve eleições no Mali. Quem ganhou? Barak François Sarkozy Hollande d`Obama…      
 
Fontes
Hassan, Mohamed e Pestieau, David  L`Irak face à l`occupation EPO, 2004
Hassan, Mohamed e  Lalieu, Grégoire e  Collon, Michel La stratégie du chaos , Investig´Action/Couleur Livres, 2012.
Moro,  Rosa Intervención francesa en Malí, ¿sin víctimas? Pueblos - Revista de Información y Debate, nº 57, 2013
 

Portugal: O CONCLAVE DA QUARTEIRA

 


Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião - hoje
 
Um coro de comentários indignados acolheu as palavras de Pedro Passos Coelho, no conclave do Pontal, sobre os "riscos" impendentes das decisões do Tribunal Constitucional. "Pressão inqualificável", "ameaça despropositada", "desrespeito pela democracia", foram as qualificações atrozes postas em circulação. Ninguém disse da raiz do melindre. Ao assinalar os "riscos", o primeiro-ministro confessou, subliminarmente, que os conhecia, que os enfrentara, malicioso, e tentava fintá-los, com translúcido desprezo pelos juízes que compõem a instituição. Aliás, este Governo tem sido fértil em desembocaduras deste estilo, interpretando a Constituição como um empecilho incómodo, a evitar, a contornar, a ignorar, a combater e, até, a destruir.
 
O mimoso encontro da Quarteira apresentou voluptuosos decotes e míticos penteados (os adjectivos podem, também, ser aplicados ao contrário), e a brisa arrastou consigo doces odores de Chanel 5 e de Maderas del Oriente, que se adquire a bom preço nos supermercados da fronteira. O Marcelo asseverou, na TVI, que estava de acordo com a reunião, por causa do "símbolo", e que, noutra circunstância, pagara do seu bolso ("muito dinheiro", confessou) o preço do "símbolo", porque Mendes Bota lhe revelara não haver dinheiro para suportar as despesas. Esta instrutiva confidência deixou aos telespectadores duas particulares conclusões: o PSD estava com os cofres vazios, o que será de espantar, e o Marcelo com os bolsos cheios, o que não é surpresa por aí além, abençoado seja!
 
Passos Coelho apareceu notoriamente fatigado e envelhecido, ombros descaídos, costas curvadas, calvície à vista. Insistiu no sketch de que o rumo está certo; vamos pagar caro um pouco mais; porém o tempo das flores já se sente, foi o que disse, e é parvoeira. Creio que confundiu os perfumes das damas com a metáfora desejada. Tudo isto sem fé nem convicção: um realejo enfadonho, por gasto.
 
As câmaras de televisão deram, de relance, o rosto amargurado do ministro Maduro, o qual exprimia a dramática infelicidade de quem se sentia a mais, ali e no Governo. Os operadores de imagem procederam a indagações de pormenor, no vão empreendimento, calcula-se!, de filmar o dr. Pedro Lomba, secretário de Estado de qualquer coisa que não fixei, e ex-comentador de hábitos e costumes. O dr. Lomba, desde que, expeditamente, despediu do Governo o colega do Tesouro, com a frase assassina, "incongruências problemáticas", nunca mais foi visto em campo. É detestado, pela circunstância de ter um ar enfatuado, de não dar bons dias a ninguém, e de citar autores desconhecidos pelos seus pares. E, claro!, pelas tais "incongruências problemáticas", cujo exacto significado constitui um denso mistério.
 
Resumindo e concluindo: ignora-se para que serviu o Pontal, a não ser, acaso, por uma questão de "símbolo".
 

Portugal: PROFESSORES INSCRITOS NOS CENTROS DE EMPREGO AUMENTAM 44%

 


A classe dos professores foi a que registou maior aumento percentual de inscritos nos centros de emprego, onde as inscrições, em julho, aumentaram 44% em relação a igual período de 2012.
 
No mês passado, 14.714 professores do ensino secundário, superior ou que desempenhavam funções similares inscreveram-se num centro de emprego do país, segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), que indica ainda que apenas dez conseguiram encontrar trabalho.
 
Em termos percentuais, os docentes foram os que mais sofreram com o desemprego, tendo registado um aumento de 44% em relação a igual período do ano passado, altura em que se inscreveram 10.221, revela o relatório mensal do IEFP.
 
No entanto, esta classe não é exceção, já que o desemprego cresceu entre quase todos os grupos profissionais: No total, em julho inscreveram-se 62.949 desempregados (quase mais 33 mil pessoas que em igual período do ano passado).
 
Depois dos docentes, surge o pessoal dos “quadros superiores da administração pública”, que registou um aumento de 39,6%.
 
Em julho havia cinco grupos profissionais que representavam mais de metade (52%) dos desempregados inscritos no continente: “Pessoal dos serviços, de proteção e segurança” (84.261); “Trabalhadores não qualificados dos serviços e comércio” (73.625); “Empregados de escritório” (64.786); “Operários e trabalhadores similares da indústria extrativa e construção civil” (60.481) e “Trabalhadores não qualificados das minas, construção civil e indústria transformadora” (54.056).
 
Em relação às ofertas de emprego, o IEFP informa que não foram ocupadas 18.452 vagas, o que representa um aumento de 61,6% em relação a 2012.
 
A “administração pública, educação, atividades de saúde e apoio social” estava entre as atividades económicas com mais ofertas disponibilizadas no continente. No total, havia 1.062 vagas (em julho do ano passado eram 948).
 
No entanto, o número de docentes colocados é muito residual: apenas dez professores conseguiram arranjar emprego. Já comparando com igual período de 2012 nota-se um ligeiro aumento (no ano passado foram apenas três).
 
As “atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio”, “comércio por grosso e a retalho”, “alojamento, restauração e similares” e a “construção” são as outras quatro atividades económicas com mais ofertas.
 
O número de docentes inscritos nos centros de emprego tem vindo a aumentar. No ano passado, por exemplo, o número de inscritos mais do que duplicou em relação a igual período de 2011, sendo o grupo profissional com um aumento mais significativo.
 
Lusa
 

A EUROPA É A MELHOR OPORTUNIDADE PARA O EGITO

 


Süddeutsche Zeitung, Munique – Presseurop – imagem Dave Brown
 
Numa altura em que a turbulência abala o Egito, a União Europeia acaba novamente de exibir a sua impotência. No entanto – por mais utópico que possa parecer hoje –, só a Europa tem capacidade para orientar o Egito na senda de uma política moderna.
 
 
Não há nenhum vídeo nem fotografia conhecida da visita de Lady Ashton a Mohamed Mursi [30 de julho], prisioneiro dos generais egípcios. No entanto, a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, com a sua tentativa desesperada de mediação, causou forte impressão. Para conseguir ver Mursi e influenciar a sua posição, a representante de 570 milhões de europeus meteu-se num helicóptero, há três semanas, para destino desconhecido, e aceitou as condições do novo regime.
 
Agora, depois de a tragédia do Cairo não ter sido evitada, esta imagem ganha pleno efeito. Mostra uma mediadora bem-intencionada, mas fraca. Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, reunidos a 21 de agosto, em Bruxelas, para uma reunião extraordinária, têm, portanto, não apenas de encontrar uma solução para a violência no Egito, mas também para essa imagem da sua própria impotência.
 
Os europeus repetem hoje no Egito a descoberta que fizeram há anos na Síria: não têm qualquer peso decisivo sobre o curso dos acontecimentos. Isto aplica-se à União como um todo e aos Estados-membros individualmente. Isoladamente ou em coletivo, os europeus têm-se mostrado incapazes de exercer pressão suficiente para persuadir, ainda que temporariamente, os chefes militares a recuarem no seu plano de erradicar a Irmandade Muçulmana do espectro político.
 
Mesmo que os ministros dos Negócios Estrangeiros não possam fazer nada por isso, para já, a reunião continua a ser importante. Primeiro, porque nada seria mais lamentável do que resignar-se à impotência, perante a carnificina em curso. Depois, porque a Europa – por mais utópico que pareça hoje – é a melhor oportunidade para o Egito, senão mesmo a única. Se pode ser substituída no papel de credora (pela Arábia Saudita, por exemplo), não tem substituto em termos de acompanhamento para um regime político moderno.
 
Força não resulta nas crises do mundo árabe
 
Abalados pela crise do euro e chocados com a visão de um Médio Oriente a ferro e fogo, os europeus habituaram-se a perspetivar os acontecimentos de uma distância que só enfatiza as suas fraquezas. Por exemplo: uma representante dos Negócios Estrangeiros que se faz convidada furtivamente e sem ideias claras. Um novo Serviço Europeu para a Ação Externa dececionante para as expectativas. Governos nacionais que defendem os seus próprios interesses – umas vezes sem rebuço, como os britânicos e franceses, outras com excesso de zelo e precipitação, como a Alemanha, na pessoa do seu ministro dos Negócios Estrangeiros. Ao que deve acrescentar-se um peso militar inexistente.
 
Tudo isto é facto, mas pode ser colocado numa perspetiva mais abrangente. O exemplo norte-americano prova que, hoje, a força não resulta nada bem nas grandes crises do mundo árabe. Nem sendo colegial a política externa fica imunizada contra a desorientação – como evidenciou o secretário dos Negócios Estrangeiros dos Estados Unidos, John Kerry, quando caiu na tolice de justificar o golpe militar egípcio como emanando da vontade do povo. Atualmente, os únicos que mostram determinação são aqueles que não têm nenhum problema em relação à violência, desde que vá no sentido das relações de poder que lhes convêm na região (mais uma vez, os sauditas).
 
É a credibilidade que pode tornar a União Europeia eficaz – se se dotar realmente de meios para tal. E ela advém do facto de a Europa não perseguir interesses “nacionais”. O interesse europeu é muito mais negociável. No caso do Egito, a indignação legítima contra a tomada do poder pelo exército e a repressão sangrenta dos movimentos de protesto deve ser equilibrada com o desejo – também legítimo – de não deixar a situação tornar-se ainda mais caótica. Um desejo expresso sobretudo pelos países europeus banhados pelo Mediterrâneo. No pior dos casos, as divergências de pontos de vista conduzem a um bloqueio; na melhor das hipóteses, forçam a adotar uma posição justa e credível.
 
Não tomar partido
 
Por enquanto, o mais razoável parece ser não tomar partido. Dados os erros cometidos por quase todos os protagonistas do Cairo, seria difícil escolher um dos lados. No entanto, isso não significa que devamos aceitar o regime despótico que se instalou no Egito, com o consentimento de pelo menos uma parte da população. A chanceler Angela Merkel e o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Guido Westerwelle, assumiram a liderança nesta matéria, e com razão. Seria absurdo dar ao novo regime fundos que eram destinados, à partida, para instaurar uma democracia. Quando se constata que não servem senão para a importação de armas.
 
Perante a chocante visão de um desastre que não conseguimos evitar, a União Europeia não pode refugiar-se agora no puro pragmatismo. A credibilidade, em política externa, é uma qualidade rara, porque extremamente lenta a renovar-se. Sem ela, a União Europeia não vai conseguir nada no Egito.
 

UNIÃO EUROPEIA SUSPENDE FORNECIMENTO DE ARMAS AO EGITO

 


Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) decidiram hoje suspender as licenças de exportação de equipamentos de segurança e de armas para o Egito.
 
Numa reunião extraordinária em Bruxelas, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE decidiram ainda rever a ajuda ao Egito, em resposta à onda de violência registada desde há uma semana no país, com centenas de mortos.
 
Lusa
 

A VIDA SECRETA NOS MEGA-ARMAZÉNS DA AMAZON

 


Provocados por site norte-americano, trabalhadores da gigante do varejo global relatam suas experiências: precariedade, jornadas exaustivas e chefes-tiranos por… um salário no final do mês
 
Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo – Outras Palavras, em Outras Mídias
 
A Amazon caminha para ser a nova rainha do comércio on-line no mundo. Hoje, ela emprega 100 mil pessoas. Ao contrário de redes como Wal-Mart, essas pessoas não têm contato com os consumidores. As encomendas são empacotadas em imensos galpões espalhados pelos Estados Unidos por anônimos. O site Gawker resolveu abrir um espaço para as pessoas enviarem suas histórias nesses armazéns. Abaixo, algumas delas.
 
A Amazon é o futuro do varejo nos Estados Unidos. No início desta semana, pedimos aos funcionários invisíveis que recebem as encomendas que você faz que enviem suas histórias.
 
Como a Amazon não precisa de lojas abertas ao público, a maioria do trabalho real acontece em enormes “centros de atendimento” — grandes armazéns de estoque estrategicamente localizados em todo o país, onde os pedidos chegam e são enviados. Um trabalhador comparou seus afazeres inexpressivos à vida na prisão. No ano passado, Mac McClelland escreveu um artigo esclarecedor sobre os armazéns no site Mother Jones. (Estranhamente, as histórias envolviam o empacotamento de um consolo).
 
Varejo on-line é o futuro. Ao contrário das grandes lojas tradicionais, os funcionários que empacotam os produtos encomendados on-line estão fora da visão e da mente. É ainda mais importante ouvir suas histórias. Trabalhadores da Amazon parecem não compartilhar o senso coletivo feroz de desespero dos colegas do Wal-Mart. Esta é uma oportunidade de ouvir o que eles têm a dizer.
 
Um trabalho, não uma carreira
 
“Eu amei o meu tempo na Amazon. Trabalhei no armazém de Fernley, em Nevada, durante 90 dias na época do Natal. É o trabalho mais difícil e o que eu mais gostei de fazer. Perdi peso, estou na melhor forma dos últimos anos e conheci algumas pessoas fora da minha zona de conforto. Você já se perguntou onde as pessoas com moicanos, tatuagens e piercings no corpo inteiro trabalham? Eu sei! Sim, as ordens são estarrecedoramente chatas e a segurança é uma piada, mas adivinhem???? A Amazon tem de fazer isso para se proteger de chorões que querem uma desculpa para contratar um advogado e ganhar dinheiro. É um trabalho, não uma carreira. Eu era um selecionador de itens. Andava a pé de 8 a 25 quilômetros por dia. Tirei algumas coisas esquisitas das prateleiras. Aprendi muito. As pessoas fazem encomendas permanentes de fraldas e alimentos para animais. Comida, doces, maquiagem, brinquedos, além livros, discos e calendários!”
 
“Roubo? Sim, há pessoas estúpidas que pensaram que poderiam fugir com material. Elas foram removidas e fichadas. Eu escolhi transformar essa experiência em algo positivo e, por isso, fui contratado novamente para a temporada de Natal. E, no próximo ano, a menos que eu acerte na loteria, vou concorrer a um emprego em outro armazém.”
 
“Faço parte de um grupo chamado Camperforce. A maioria de nós tem mais de 50 anos. Contratos de curto prazo para que possamos continuar fazendo nossas viagens de RV! Eu amava meu trabalho na Amazon. Eu estava exausto e feliz. Eu recomendo. É um trabalho e não uma carreira!”
 
Jogos da mente
 
“Eu tenho três principais reclamações. Eles mentem para você quando você chega à porta. Eles definem metas irreais. E as pausas são muito curtas.”
 
“Eu trabalho no armazém de Chester, em Virginia. Eles pintam essa imagem de um lugar divertido. Que você brinca durante os intervalos e se diverte muito. As únicas brincadeiras que eles fazem com você são os jogos mentais. Isso me leva a minha segunda denúncia, de metas irrealistas. Eles esperam que você trabalhe num ritmo incrível. Eu estava em boa forma quando cheguei lá, mas não estava preparado para os quilômetros de caminhada a cada dia. Meus pés doem, eu tive problemas para dormir, eu tinha muita dor. Meus pés melhoraram, mas o salário não.”
 
“Outro problema das metas irrealistas é que eles têm esse negócio de pagamento de bônus — se o armazém não comete erros, você recebe bônus no seu salário. É claro que isso nunca acontece. Eles dizem que outros armazéns têm melhores números, mas eles não mostram. Você só tem que acreditar naquilo e entender que o armazém de Chester tem um bando de perdedores idiotas.”
 
“Intervalos… Eles dizem que você tem duas pausas de 15 minutos e um intervalo de meia hora, mas não existe permissão para sair das instalações no início. Em um dia de 10 horas, você tem permissão para duas pausas de 5 minutos e uma de 20 minutos.”
 
Trabalho temporário
 
“Eu trabalhei na Amazon como temporário durante alguns meses em 2012. Foi em um dos vários armazéns que eles têm nas redondezas de Phoenix. Eu trabalhava no turno da noite, que começava às 19h e terminava às 7h, ou sempre que eles mandavam pessoas embora.”
 
“Fui contratado através de uma agência de trabalho temporário. Eu fiz a minha entrevista e um teste de uso de drogas com um cotonete preso na minha boca. Enquanto estava esperando, passava um vídeo que dizia: ‘Você vai para a escola? Isso é ótimo! Basta dizer-nos o seu horário e podemos trabalhar com isso’. Então, quando fui entrevistado, levei minha agenda escolar e uma senhora zombou: ‘Nós não nos importamos com horários escolares.’ Caramba, tudo bem. Eu entendo se esse é o tipo de trabalho, mas é uma bosta que eles sejam hipócritas.
 
“Foi muito difícil ficar de pé durante aquele tempo todo, mas não era muito diferente de quando eu trabalhava na loja Target quando adolescente. Eles fazem aqueles exercícios estúpidos de alongamento no início do turno e novamente na hora do almoço, e o chefe grita com todo mundo para voltar do seu descanso e do almoço a tempo, e lembra a todos sobre os erros a evitar.”
 
“Eu trabalhava no armazém que tinha principalmente grandes artigos e não livros e CDs — utensílios domésticos, ferramentas, brinquedos e outros itens maiores. Eu trabalhei na ‘saída’, que era como eles chamavam o departamento que lida com a embalagem e o transporte. Por algum motivo fui aproveitado na linha de caixas de tamanho grande, que era para as coisas que não se encaixam em nenhuma das nossas caixas padrão. Havia um monte de ferramentas de poda de árvores, pás, escadas e varas de pesca. Eu operava a máquina de caixas personalizadas. Meu trabalho era arrancar o excesso de papelão, jogá-lo fora, dobrar a caixa, colar a tampa, bater um código de barras e colocá-la no escorredor para os empacotadores. Eu fiz isso, provavelmente, mil vezes por noite.
 
“O almoço durava 30 minutos e você tem duas pausas de 15 minutos. Os 15 minutos contam a partir do momento em que você deixa sua área de trabalho. Poderia levar de 5 a 10 minutos para chegar à área de descanso. Nós não éramos autorizados a trazer telefones celulares e tínhamos de passar por detetores de metal até mesmo para chegar à sala de descanso.”
 

EUA: SOLDADO “CÚMPLICE” DO WIKILEAKS CONDENADO A 35 ANOS DE PRISÃO

 


O soldado norte-americano Bradley Manning foi, esta quarta-feira, condenado a 35 anos de prisão após ter sido acusado de ter entregado documentos secretos do governo dos EUA ao site Wikileaks, avança o New York Times. Manning poderá, no entanto, ver a sua pena reduzida, uma vez que parte da mesma já foi cumprida.
 
Bradley Manning foi hoje condenado a 35 anos de prisão após ter sido julgado pela entrega de mais de 700 mil documentos secretos ao site Wikileaks, criado por Julian Assange.
 
À pena imposta ao soldado norte-americano, que acabou por ser expulso do exército, serão reduzidos três anos e meio já cumpridos.
 
Manning foi considerado culpado da maioria das acusações de que era alvo, entre elas violação da lei de espionagem e de segurança nacional, roubo de informação governamental, fraude informática e acto abusivo.
 
Contudo, o antigo soldado foi absolvido da acusação que poderia agravar, ainda mais, a sua pena: ajudar o inimigo, escreve o mesmo jornal.
 
O caso Wikileaks, que está na origem desta condenação, trouxe a público escândalos que envolvem actividades militares e diplomáticas em todo o Mundo, com especial destaque nos Estados Unidos.
 
Notícias ao Minuto
 

Reino Unido-EUA: Revelações de Snowden provocam terrorismo de estado sobre brasileiro

 


Ouvidor britânico da Lei Antiterrorismo busca explicações para a detenção de Miranda
 
À BBC, o ouvidor britânico David Anderson da Lei Antiterrorismo declarou que apenas 40 das mais de 60.000 pessoas interrogadas sob o artigo 7 da Lei Antiterrorismo ficaram detidas por mais de seis horas.
 
Nicholas Watt e Rowena Mason, do Guardian - Carta Maior
 
O ouvidor da legislação antiterrorismo britânica, David Anderson, telefonou ao Home Office* e à polícia metropolitana para que explicassem por que as leis antiterroristas foram usadas para deter por nove horas no aeroporto Heathrow o parceiro de Glenn Greenwald, jornalista do Guardian.

Em meio à crescente preocupação política sobre o tratamento dado a David Miranda, Anderson declarou que a detenção do parceiro de Greenwald domingo lhe pareceu “incomum”.

Miranda declarou que ele foi interrogado por seis agentes sobre sua “vida inteira” enquanto foi mantido em Heathrow. Quando chegou ao aeroporto do Rio de Janeiro na segunda-feira, Miranda disse: “fiquei em uma sala. Havia 6 agentes diferentes que iam e vinham. Eles me fizeram perguntas sobre minha vida inteira, sobre tudo. Levaram meu computador, videogame, celular, cartões de memória. Levaram tudo.”

Em entrevista à BBC, Anderson declarou que apenas 40 das mais de 60.000 pessoas interrogadas sob o artigo 7 da Lei Antiterrorismo ficaram detidas por mais de seis horas. “Vocês podem notar o quanto o caso é incomum, uma vez que o senhor Miranda esteve detido por até nove horas”, disse Anderson.

Miranda é o companheiro de Greenwald, jornalista que escreveu uma série de artigos para o The Guardian revelando programas de vigilância massiva da Agência de Segurança Nacional estadunidense. Ele estava voltando de Berlim para sua casa no Rio de Janeiro quando foi parado no aeroporto de Heathrow, onde oficiais confiscaram equipamentos eletrônicos, incluindo seu celular, laptop, câmera, cartões de memória, DVDs e consoles de videogame.

Durante sua viagem a Berlim, Miranda visitou Laura Poitras, uma diretora de cinema norte-americana que tem trabalhado com Greenwald e com o Guardian. O Guardian pagou as passagens aéreas de Miranda. Miranda não é um funcionário do jornal, mas ajuda Greenwald em seu trabalho.

A intervenção de Anderson apareceu junto do telefonema da observadora de assuntos governamentais, Yvette Cooper, que requisitava uma investigação urgente sobre o uso do artigo 7 da Lei Antiterrorismo na detenção de Miranda.
Cooper disse que os ministros devem descobrir se as leis têm sido mal utilizadas depois que a detenção causou “consternação considerável”.

Cooper disse que o apoio popular ao artigo 7 da Lei de Terrorismo poderia ser prejudicado se houvesse uma percepção de que ele não está sendo usado com os propósitos corretos. “Qualquer sugestão de que os poderes contra o terror estão sendo mal utilizados deve ser investigada e clarificada urgentemente,” declarou.

“O apoio público a esses poderes não deve ser posto em risco por uma percepção de usos incorretos. O Home Office e a polícia precisam explicar rapidamente como eles pretendem justificar, sob a legislação de terrorismo, a detenção de David Miranda por nove horas. Isso causou considerável consternação e respostas rápidas são necessárias

A polícia e as agências de segurança trabalham duro em prol da segurança
nacional e da prevenção do terrorismo. Mas a confiança pública nos poderes de segurança depende de sua utilização de acordo com a lei, e que existam analistas independentes que possam prevenir o uso incorreto de tal legislação”.

O desconforto causado pelo tratamento de Miranda se espalhou pelas fileiras do Partido Conservador no momento em que David Davis, o antigo observador de assuntos governamentais, advertiu que a polícia teria se comportado de maneira truculenta.

O gabinete do primeiro-ministro se recusou a responder questões sobre o tratamento de Miranda, declarando que foi apenas uma questão operacional.

O porta-voz do gabinete acrescentou que a polícia é que deve julgar se eles utilizaram seus poderes de forma proporcional. Ele declarou: “o governo toma todas as medidas necessárias para proteger o público de indivíduos que ameacem a segurança nacional. O artigo 7, usado neste caso, é parte essencial dos dispositivos de segurança das fronteiras do Reino Unido. A polícia é quem deve decidir quando é necessário e proporcional o uso destes poderes.”

No entanto, a posição do gabinete foi contradita por Anderson, que disse: “este é um poder muito importante. Mas não é a polícia que deve julgar se ele foi usado de maneira proporcional em um dado caso”.

Davis também desclassificou a posição do gabinete. Ele disse: “esse não é absolutamente um assunto meramente operacional para a polícia. Isso tem a ver diretamente com liberdade de imprensa e com nossa fidelidade às regras previstas na lei. Não se pode varrer tudo isso para debaixo do tapete com base na segurança nacional”.

Ele acrescentou: “o que os ministros sabem sobre isso? Eles autorizaram isso? Eles devolveram seu computador, eles preservaram os dados do seu computador e celular? Existem muitas questões a serem respondidas urgentemente.

A verdade é que existe um hábito no Reino Unido de utilizar leis de terrorismo para situações muito diversas, disse Davis. Segundo ele, a lei 2000 não foi formulada e certamente não foi apresentada como um mecanismo para vasculhar as informações privadas das pessoas que passam pelo aeroporto de Heathrow em uma conexão entre dois países não-inimigos.

Anderson, que levantou questões sobre o artigo 7 da lei antiterrorismo, declarou que ele espera que os membros do parlamento analisem cuidadosamente essa medida. O governo está propondo - com base em uma recomendação de Anderson - a redução do período máximo de detenção de nove para seis horas. A mudança deve ser feita através das leis de comportamento antissocial, crimes e policiamento.

Anderson declarou: “neste momento, qualquer um pode ser parado sob este poder. Não há necessidade de que a polícia acredite que eles são terroristas ou tenham qualquer suspeita. A única razão que eles podem declarar é a de que pretendem determinar se o elemento é um terrorista.

Me parece que há uma questão a ser respondida sobre se deveria haver a possibilidade de deter alguém - e segurar essa pessoa por seis horas e baixar os dados de seu celular - sem a necessidade de qualquer suspeita. Espero que o parlamento venha a analisar.”

A Scotland Yard se recusou a explicar por que Miranda foi parado por poderes que permitem a policiais parar e interrogar viajantes que passam por portos e aeroportos britânicos.

“Às 08h05 de domingo, 18 de agosto, um homem de 28 anos foi detido no aeroporto de Heathrow sob o artigo 7 da Lei Antiterrorismo 2000. Ele não foi preso. Ele foi liberado às 17h,” disseram em uma breve declaração.

O artigo 7, que se aplica apenas a aeroportos, portos e áreas de fronteira, autoriza de forma controversa que policiais parem, revistem, interroguem e detenham os indivíduos. Miranda foi detido por nove horas, o tempo máximo permitido pela lei antes que os policiais liberem ou prendam formalmente o indivíduo.

*Home Office: departamento do governo britânico encarregado de assuntos relacionados a políticas antiterroristas

Tradução de Roberto Brilhante
 
*Título PG
 
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Brasil: MÉDICOS CUBANOS COMEÇAM A CHEGAR

 


Nesta quarta-feira, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anuncia a formalização do acordo com Cuba para a vinda de 450 médicos ao Brasil. Outros 1.500 profissionais cubanos devem desembarcar um pouco mais adiante. A decisão reflete um novo momento do programa ‘Mais Médicos' que, progressivamente, furou o bloqueio duplo da má vontade conservadora e do elitismo corporativista.
 
Lançado em oito de julho, a iniciativa ataca fatores emergenciais e estruturais que multiplicam áreas desassistidas no país. O Brasil tem apenas 1,8 médico por mil habitante; a Argentina tem três. O governo quer elevar o índice brasileiro para 2,5 por mil. Precisará de mais 168.424 médicos. As escolas brasileiras formam cerca de 18 mil médicos por ano. Mais de 3.500 municípios aderiram ao programa. O ministro Padilha pretende acudir a emergência com a vinda imediata de profissionais estrangeiros; e corrigir a usina estrutural desse hiato incorporando as escolas de medicina à política da saúde pública no Brasil. De dois modos: incentivando a formação do clínico-geral e transformando a residência médica em prestação de serviço remunerada no SUS.
 
O acordo com Cuba, bombardeado originalmente, foi revalidado pelo próprio boicote corporativista, que tornou explícita a indiferença das elites em relação aos segmentos mais vulneráveis da população. Foi obra da paciência política do governo. Hoje, mais de 54% dos brasileiros declaram-se favoráveis à vinda de estrangeiros para socorrer as regiões distantes e periferias conflagradas. Mais que uma vitória isolada, o Mais Médicos descortina uma nova família de políticas públicas, que convoca a universidade se incorporar ao do passo seguinte do desenvolvimento brasileiro. (leia mais aqui: 1 e 2)
 
Carta Maior, 4ª feira,21/08/2013
 

Angola: UM GIGANTE COM PÉS DE BARRO

 


William Tonet – Folha 8, edição 1155, 17 agosto 2013
 
Os actuais dirigentes de Angola, de tão arrogantes e petulantes, desfilam os egos em passarelas barrocas de falsas grandezas. Tudo o que fazem rotulam como sendo maior de África e do mundo. Têm absoluta razão. A boçalidade também tem legitimidade em democracia, diferente da autoridade pagã em ditadura. Na nossa selva indígena, a maldade dos barões, contra os pobres é institucional. As injustiças contra os fracos são arrasadoras e a discriminação contra os que pensam diferente da cartilha regimental, só é superada pela Guiné Equatorial, Zimbabwe, Coreia do Norte e China.
 
O regime angolano, ostentando na lapela tão reluzentes medalhas, não consegue, até hoje, conviver com a democracia, por, como diz o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, com a honestidade e legitimidade que se lhe conhece, “lhes foi imposta”. Ora, quem não acredita na democracia, não consegue beber da sua água, tão pouco implantá-la, como mandam as regras democráticas, por estar intrinsecamente ligado às normas ditatoriais fascistas. Daí ser da mais pura inveja, a revista Forbes falar mal de uma empresária de sucesso inquestionável, Isabel dos Santos, a primeira bilionária angolana e top 10, africana, cuja riqueza foi feita a pulso, vendendo na zunga, ovos de ouro, logo nunca teve nada de Angola e dos angolanos de favor, nem fazendo recurso ao n.º 2 do art.º 23.º da Constituição de Angola, “(…) ninguém, deve ser privilegiado (…) em razão da sua ascendência”.
 
Logo ela, como ucraniana -angolana, filha de um dos mais antigos presidentes africanos no poder (32 anos sem nunca ter sido eleito), tendo-o sido, somente, em eleições atípicas, ao comemorar 33 anos de poder, mas com um ruidoso coro de contestação, não deve ser apontada como um claro exemplo de nepotismo. Isso por haver vícios difíceis de um regime habituado a conviver com a ditadura branquear, conseguir ultrapassar. Mas ainda assim se aceitou fazer a inversão de marcha, não pode apenas avocar para a sua esfera os benefícios da democracia, deve também respeitar as suas regras. Infelizmente, a apetência pelo dinheiro e poder, por parte da clique do regime é tão desmedida, que a fraude, a corrupção, a discriminação, a humilhação, os assassinatos encomendados de membros da oposição e intelectuais não bajuladores, justificam e encobrem os fins da ambição fascista, que “tamis com ela”.
 
Diante deste quadro dantesco, pese toda a publicidade e bajulação dos meios de comunicação social do Estado, estamos diante de um gigante de pés de barro, capaz de ruir, com um toque, bastando que a unidade dos excluídos se efective e, tal como diz o pergaminho da democracia, o povo chame a si a sua soberania, nas urnas ou na rua, para inverter o actual quadro. Isto porque o regime só é forte, por controlar as forças policial, militar e de segurança do Estado, para além de deter ainda um outro aparatoso exército privado ao serviço do Presidente da República. Sem eles, com instituições de cidadania, uma justiça despartidarizada e uma imprensa livre e imparcial, o poder do actual MPLA esfuma-se em dois tempos. E este prognóstico não é por faltar mérito ou competências internas, ao partido dos camaradas. Não! É por se ter transformado numa organização política privatizada, arrogante, petulante, discriminadora e que cultiva o ódio por onde passa. Basta ver como os adversários são tratados e humilhados, sem o mínimo de pudor, nas instituições públicas, incluindo o Parlamento. Recordemo-nos da triste farsa e mentira que virou quase verdade, protagonizada pelo líder da bancada parlamentar do MPLA, a propósito de uma proposta de lei da CASA-CE, matreiramente manipulada e deturpada pelos órgãos de comunicação social públicos, para vaticinarmos como será o quadro e o tratamento dos actuais dirigentes, caso ascenda ao poder um membro radical das forças da mudança.
 
Por tudo isso, tenho a firme convicção de que o actual MPLA, privatizado como está, concorrendo em igualdade de circunstâncias, sem batota, corrupção e fraude, com as demais forças políticas, em qualquer pleito eleitoral; autárquico, legislativo ou presidencial, não tem condições de se sustentar no poder, por muito tempo, porquanto a transparência, a lisura e a ética não fazendo parte da sua cultura, facilmente sucumbirão, pois o eleitor tem consciência de que Angola só será diferente com uma mudança de políticas e de regime.
 
Leia mais desta edição do Folha 8 no PG
 

CHEFES MILITARES REAFIRMAM APOIO AO PRESIDENTE DE ANGOLA

 

África 21, com agência
 
O comandante da Região Militar de Cabinda, tenente-general Eugénio de Figueiredo, reiterou "o apoio inabalável" das tropas ao comandante-em-chefe das Forças Armadas Angolanas (FAA), José Eduardo dos Santos, presidente da República, noticia nesta segunda-feira o Jornal de Angola.
 
Luanda - O comandante da Região Militar de Cabinda, tenente-general Eugénio de Figueiredo, reiterou "o apoio inabalável" das tropas ao Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas (FAA), José Eduardo dos Santos, Presidente da República, noticia nesta segunda-feira o Jornal de Angola.
 
Eugénio de Figueiredo, que falava durante a cerimónia que marcou o início das jornadas alusivas ao 71.º aniversário do Chefe de Estado, que se assinala a 28 de Agosto, sublinhou: "Estamos sempre prontos para dar o nosso melhor, com vista a fortalecer a coesão, disciplina, unidade no seio do nosso colectivo militar e igualmente no melhoramento do nosso dia-a-dia".
 
Aquele oficial superior das FAA disse que foi com muita alegria que os membros do Comando, unidades e subunidades da Região receberam a notícia de o Ministério da Defesa escolher Cabinda para acolher o acto que marca o início das jornadas comemorativas do aniversário do Comandante-em-Chefe.
 
"Esta jornada será não só uma reflexão, mas o momento de um olhar para os grandes momentos e desafios até hoje trilhados pelo nosso grande arquitecto da Paz", prosseguiu o comandante da Região Militar de Cabinda, citado pelo jornal governamental.
 
Durante o acto, o tenente-general Eugénio de Figueiredo exaltou a figura do Chefe de Estado citando frases célebres de Eduardo dos Santos: "Vamos fazer de Angola uma boa terra para viver", "um canteiro de obras", "trabalhar juntos para o desenvolvimento" e "todos somos necessários para erguer a nova Angola, moderna, próspera e democrática", frases que "catapultam o povo angolano rumo ao progresso", concluiu. As FAA estão num processo de reestruturação e modernização que compreende a reconstrução das unidades e quartéis e formação da tropa.
 

Angola: DOS SANTOS É O ROSTO DA CORRUPÇÃO - UNITA

 


Vitorino Nhany diz que corrupção em Angola está "hierarquizada" e só pode acabar com saída do governo
 
Manuel José – Voz da América
 
O presidente angolano José Eduardo dos Santos “é o rosto da corrupção” em Angola e por isso a corrupção no país só acabará quando o seu regime sair do poder, disse segunda-feira um destacado dirigente da UNITA.
 
"O senhor José Eduardo dos Santos não pode assumir o combate à corrupção porque combater a corrupção significa combater-se a si mesmo já que ele 'e o rosto da corrupção," disse o secretário geral da UNITA Vitorino Nhany

Questionado, para apresentar provas do que diz, o secretário-geral da UNITA exemplificou com a noticias de que a filha do chefe de estado tinha-se tornado numa das mulheres mais ricas do mundo graças á conexão familiar com o poder.

Um segundo exemplo apresentado pelo numero dois da UNITA foi o “escândalo Kangamba em Franca.

Várias pessoas associadas ao general foram recentemente presas quando transotavam cerca de 4 milhões de dólares em notas para o Monaco onde alegadamente se encontrava o general.

Este negou qualquer envolvimento

Mas para Vitorino Nhany tudo isto é um sinal claro que em Angola a corrupção é um fenómeno oficializado e controlado pelas autoridades.

"A corrupção em Angola 'e oficial, hierarquizada e controlada porque nunca encontrou um combate cerrado por parte das autoridades," disse.
 

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