terça-feira, 24 de abril de 2012

25 DE ABRIL JÁ!



Helena Ricoli

ONDE ESTÁS ABRIL?

Foi naquela madrugada de há 38 anos. Acabaram-se os miúdos que iam para a escola descalços (os que iam), com fome, às vezes com uma camisa coçada, velha, do pai, apesar de fazer um frio de gelar os pingos de orvalho. Foram tempos dificeis que superámos depois de tanta fome, de tanta escravidão, de tanto mau trato, de tanta exploração, de tanta guerra, de tantos mortos e estropiados. Naquela madrugada começámos a ouvir a palavra NÃO, primeiro baixinho, dita só por alguns, e depois mais alto e dita por mais, e mais, e mais, e muitos e todos!

Abriram-se as portas. As portas que Abril abriu estão agora a querer fechá-las completamente. A amnésia invadiu os portugueses. O desânimo também. Estamos a voltar à fome permanente, à escravidão, ao mau trato, à exploração, talvez volte uma guerra qualquer que os poderosos considerem de sua utilidade e daqueles que servem? Voltará a PIDE a entrar pelas nossas casas de madrugada e a levar os nossos filhos, os nossos pais, os nossos netos, homens, jovens, mulheres, só porque querem voltar a Abril, só porque querem liberdade, justiça e democracia?

Onde estás Abril? Porque quase não te vimos e quando apareces és tão difuso que muitas das vezes nem pareces ser tu?

E os portugueses nada farão para te salvar? Para se salvarem?

25 de Abril Já!

MIGUEL PORTAS MORREU AOS 53 ANOS




São José Almeida, Rita Brandão Guerra - Público

Esta tarde, em Antuérpia

Miguel Portas, eurodeputado pelo Bloco de Esquerda, morreu esta terça-feira, aos 53 anos, de cancro no pulmão, em Antuérpia.

Economista, durante vários anos jornalista, foi, ainda antes do 25 de Abril de 1974, militante e depois dirigente da União de Estudantes Comunistas. Foi activista contra a ditadura desde jovem, tendo sido preso quando tinha ainda 15 anos.

Já em adulto foi militante do PCP a partir de 1974, de onde saiu em 1989.

Miguel Portas integrou então, desde 1989, a Terceira Via, grupo de militantes comunistas que se opunham à direcção e onde pontificavam figuras como Joaquim Pina Moura e Barros Moura. Após o golpe de Estado na União Soviética a 20 de Agosto de 1991, a maioria dos elementos que integravam a Terceira Via rompe e abandona o PCP, entre eles Miguel Portas, em protesto com o apoio que a direcção do partido deu aos golpistas. Neste processo seriam expulsos do PCP figuras como Barros Moura, Raimundo Narciso, Mário Lino, tendo José Luís Judas abandonado o PCP para evitar a expulsão e preservar a CTGP de que era dirigente.

Durante os anos 90 pertenceu ao grupo Plataforma de Esquerda, que integraria o MDP/CDE, partido que então muda para o nome Política XXI e que virá a integrar a formação do Bloco de Esquerda (BE).

Miguel Portas cumpria actualmente o segundo mandato como eurodeputado pelo BE. Foi eleito pela primeira vez nas europeias de 2004. Tinha sido cabeça de lista já em 1999, nas primeiras eleições em que o movimento foi a votos, mas não conseguira qualquer eurodeputado.

Segundo informação do BE, o eurodeputado faleceu por volta das 18h desta terça-feira, no Hospital ZNA Middelheim, em Antuérpia.

“Encarou a sua própria doença como fazia sempre tudo, da política ao jornalismo: de frente e sem rodeios. Teve uma vida intensa e viveu-a intensamente”, recorda o partido em comunicado. Durante o período em que esteve doente “continuou sempre a cumprir as suas responsabilidades e estava, neste preciso momento, a preparar o relatório do Parlamento Europeu sobre as contas do BCE”.

Miguel de Sacadura Cabral Portas nasceu em Lisboa a 1 de Maio de 1958. É filho do arquitecto Nuno Portas e da economista Helena Sacadura Cabral e é irmão de Paulo Portas e de Catarina Portas.

Durante a sua carreira de jornalista, foi director da revista cultural Contraste e depois redactor e editor internacional do semanário Expresso. Fundou o semanário Já e a revista Vida Mundial, dos quais foi director. Também foi cronista no Diário de Notícias e no semanário Sol. Actualmente tinha ainda uma crónica semanal na Antena 1.

É autor dos livros E o resto é paisagem, Líbano, entre guerras, política e religião e Périplo. Estes dois últimos resultaram do seu fascínio pela região do Mediterrâneo, por onde fez diversas viagens.

Périplo - Histórias do Mediterrâneo começou por ser um documentário em quatro episódios realizado por Camilo Azevedo e escrito e apresentado por Miguel Portas. Filmado em 2002 e 2003 em longas viagens pelos países da bacia mediterrânica, acabou por só ser transmitido pela RTP em 2005, dando depois origem ao livro com o mesmo nome. A dupla tinha já feito em 2000 o documentário Mar das Índias, uma co-produção entre a RTP e a Comissão dos Descobrimentos que recebeu o Prémio Bordalo de melhor trabalho televisivo do ano, atribuído pela Casa da Imprensa.

Miguel Portas tinha sido operado a um cancro no pulmão em 2010.

Relacionado em Público

PR reafirma necessidade de soluções para crise na Guiné-Bissau "respeitando a democracia"



CLI/JSD - Lusa

Cidade da Praia, 24 abr (Lusa) - O presidente cabo-verdiano disse hoje que a cimeira extraordinária da CEDEAO, marcada para quinta-feira em Abidjan, "deverá permitir encontrar as soluções práticas" para que a Guiné-Bissau possa encontrar o caminho da estabilidade política.

Jorge Carlos Fonseca, que estará na reunião, adiantou que o objetivo da cimeira da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) é encontrar "soluções táticas", com base nas resoluções tomadas por outras organizações internacionais, para que a Guiné-Bissau possa descobrir caminhos para a sua estabilidade política e para a retoma do processo da democracia.

"Vamos tentar encontrar caminhos práticos e realísticos para que alguns princípios sejam tomadas em conta no que respeita à não existência de soluções que constituam legitimação de golpes de estado. Nos tempos que correm não faz sentido que a Guiné-Bissau esteja sempre em situação de instabilidade", realçou.

"Este é o ponto de princípio que iremos levar à CEDEAO, mas vamos ouvir. Teremos relatórios sobre o diálogo que tem havido com os políticos e as forças envolvidas no golpe na Guiné-Bissau. Mas o ponto de partida é que as instituições devem funcionar com critérios de legitimação e o único critério de legitimação na democracia é a vontade popular", salientou.

Segundo Jorge Carlos Fonseca, os golpes de Estado não são admissíveis no quadro de instituições que estabilizam por valores e princípios de liberdade, de legalidade, do respeito pelo direito e de instituições constitucionalmente autorizadas.

O presidente cabo-verdiano reafirmou que o arquipélago participará em todas as iniciativas com vista à normalização da situação na Guiné-Bissau, "na medida das suas possibilidades".

Cabo Verde juntou, desde a primeira hora, a voz de "firme condenação" do golpe de Estado à da comunidade internacional, com as Nações Unidas e União Europeia (UE) a ameaçarem com sanções personalizadas ou individuais caso os golpistas se recusem a repor a normalidade constitucional e a libertarem os dirigentes detidos desde então.

Entre eles figuram o Presidente interino, Raimundo Pereira, bem como Carlos Gomes Júnior, candidato presidencial vencedor da primeira volta das eleições presidenciais de 18 de março, primeiro-ministro e até então e líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

No fim-de-semana, Jorge Borges, ministro das Relações Exteriores cabo-verdiano, que estará também presente na Cimeira, foi portador de uma mensagem de Jorge Carlos Fonseca ao novo Presidente do Senegal, Macky Sall, cujo conteúdo não foi revelado.

Fonte diplomática cabo-verdiana disse, entretanto, à agência Lusa que Macky Sall, na audiência a Jorge Borges, se mostrou "bastante preocupado" com a crise na Guiné-Bissau, país com quem tem fronteira, juntando no rol das preocupações a situação pós-golpe no vizinho Mali.

Segundo a fonte, no encontro foi debatida também a questão da necessidade de uma maior aproximação de posições entre a CEDEAO e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), sobretudo depois de os "oito" terem sido arredados das conversações com o Comando Militar golpista.

Governante angolano diz que golpe foi preparado após morte de Malan Bacai Sanhá



EL - Lusa

Luanda, 24 abr (Lusa) - O golpe de Estado realizado a 12 de abril na Guiné-Bissau começou a ser preparado logo a seguir à morte do Presidente Malan Bacai Sanhá, a 09 de janeiro, acusou hoje em Luanda um governante angolano.

A acusação foi feita pelo vice-ministro da Defesa, Salvino de Jesus Sequeira "Kianda", que implicou o antigo Presidente e atual candidato presidencial Kumba Ialá no golpe, durante uma intervenção no debate hoje realizado no parlamento angolano para a votação de uma resolução sobre a Guiné-Bissau.

Segundo Salvino Sequeira, Kumba Ialá manobrou os militares guineenses para protagonizarem um golpe de Estado, tendo mesmo dado uma soma de dinheiro ao chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, general António Indjai.

"A preparação do golpe de Estado começou a partir da morte do ex-Presidente Malam Bacai Sanhá", e nessa ocasião o ex-Presidente Kumba Ialá chegou a Bissau, proveniente do estrangeiro, salientou Salvino Sequeira.

Kumba Ialá ter-se-á dirigido ao Estado-Maior General das Forças Armadas, depois de ter apresentado condolências à família de Bacai Sanhá, onde se reuniu com o general António Indjai, a quem entregou uma soma em dinheiro.

"O Chefe de Estado das Forças Armadas da Guiné-Bissau e o candidato Kumba Ialá são parentes. A mulher de Kumba Ialá é tia do chefe de estado", explicou o general "KIanda", acrescentando que, uma vez no Estado-Maior, Ialá "fez um discurso aos militares que lá estavam e, inclusive, tirou dinheiro e entregou ao Chefe de Estado-Maior General".

Na intervenção hoje perante os deputados angolanos, o vice-ministro da Defesa caraterizou as forças armadas guineenses como sendo maioritariamente formadas por antigos guerrilheiros.

"As forças armadas da Guiné-Bissau têm um efetivo de 4 mil homens e a maioria desses efetivos são elementos que vieram da guerrilha. Quase todos eles são guerrilheiros e até hoje, infelizmente, mantêm aquela consciência guerreira. Acham que eles é que são os donos do país e que nenhum político dentro da Guiné-Bissau deverá falar mais alto do que um militar", considerou.

"Daqui podemos ver por que é que os golpes de estado na Guiné-Bissau vêm sucedendo uns atrás de outros", reforçou.

Relativamente à alegação feita por deputados da oposição acerca do material bélico levado pelo contingente militar angolano para a Guiné-Bissau, considerado desproporcional face ao objetivo do envio daqueles efetivos, para a reforma dos setores de defesa e segurança guineenses, Salvino Sequeira respondeu que não é "com paus e brinquedos" que se formam militares.

"O protocolo fala de formação de pessoal e as forças da Guiné-Bissau não podem ser formadas com paus ou brinquedos. Teve que se levar armamento, teve que se levar técnicas de combate, teve que se levar técnicas de fogo, portanto, o que é que a gente vai ensinar a eles se eles não têm armamento?", questionou.

Salvino Sequeira acrescentou que Angola mantém estacionados na Guiné-Bissau 232 militares e 38 polícias, razão pela qual considera não ter fundamento que aqueles 270 efetivos representem uma ameaça à estabilidade guineense.

Um autodenominado Comando Militar tomou o poder na Guiné-Bissau no dia 12 de abril e prendeu o Presidente da República interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.

O BOSQUE EM FLOR



Rui Peralta

Guiné-Bissau: notas sobre a geoestratégia do narcotráfico (2)

Geografia e clima

A Republica da Guiné-Bissau situa-se na costa ocidental de África e estende-se desde o cabo Roxo até á Ponta Cagete. Fronteira a Norte com o Senegal, a Este e Sudeste com a Guiné-Conakry, banhada pelo Atlântico a Sul e a Oeste. Para além do território continental integra aproximadamente oitenta ilhas, agrupadas no Arquipélago dos Bijagós, a pouca distância da costa. Com uma área de 36.126 km2 a Guiné-Bissau estende-se por uma área de baixa altitude, situando-se o seu ponto mais elevado a 300m acima do nível do mar. A planície pantanosa no litoral contracena com as savanas no interior. Duas estações anuais, uma de chuva que estende-se de Maio a Novembro e outra de seca, nos restantes meses do ano, características do clima tropical, quente e húmido, marcado pelos ventos quentes provenientes do Sahara.

Demografia

         Conforme falamos no artigo anterior a Guiné-Bissau é um mosaico étnico, onde coexistem mais de 20 etnias, com línguas, estruturas sociais e superestruturas culturais distintas, sendo o crioulo a língua veicular, num universo populacional de 1,5 milhão de habitantes, estimativas de 2008, sendo que os Balanta (30%), Fulas (20%), Manjacos (14%) e Mandingas (13%), os grupos de maior influencia. 45% da população pratica cultos animistas e 42% são Islâmicos, com 12% de Cristãos.

A taxa de crescimento da população, estimada em 2000 é de 2,4%, sendo a taxa de mortalidade infantil de 130 mortes por 1000 nascimentos (2004), a taxa de natalidade de 5,27 crianças por mulher (2000) e a expectativa de vida de 49 anos (2004). Em 1997 46% da população com 15 anos e mais, não sabia ler e escrever.

O caminho da libertação (e da colaboração)

         Em 1444 as caravelas portuguesas, capitaneadas por Nuno Tristão chegaram ao actual Senegal. Em 1446 Nuno Tristão mais 19 dos seus homens foram mortos entre os rios Sine-Saloum e Gâmbia. Estas mortes foram as primeiras baixas europeias de um conflito que iria prolongar-se por séculos. Se duvidas houvesse por parte da coroa portuguesa estas mortes revelaram a firme determinação das populações africanas em lutarem pela sua soberania.

         Foi este factor que levou o colonialismo português a recorrer á diplomacia, estabelecendo relações através da costa, as quais permitiram a penetração comercial a partir de Cabo-Verde, cujas ilhas foram encontradas em 1460, sofrendo uma imediata colonização. Só que o comércio passou a ser regulado pelos reis e chefes africanos. Os comerciantes vindos de Cabo-Verde eram forçados a pagar taxas a estes, que por sua vez ignoravam os acordos estabelecidos com a coroa portuguesa. Surge a figura do lançado, comerciantes aventureiros, que embrenhavam-se no interior africano, á margem da coroa, estabelecendo as suas próprias relações com as populações desafiando as autoridades portuguesas e negociando directamente com os africanos. Este é um acto de prova da rebeldia africana perante a coroa portuguesa, pois os lançados, hospedes em terra alheia, reconhecem a autoridade africana, aceitando as suas regras.

         Em meados do século XVI, sob a pressão de espanhóis, holandeses e depois de franceses e ingleses, as pretensões portuguesas de exclusividade dos territórios da “Guiné de Cabo-Verde” tornam-se insignificantes. A influência comercial portuguesa fica reduzida a uns poucos postos comerciais entre o rio Cacheu e o rio Grande de Buba. Os chefes africanos souberam aproveitar-se destes problemas entre os colonizadores, revertendo estas contradições a seu favor. É nesta altura que surgem os primeiros fenómenos de agenciamento das elites, nos contratos efectuados pelos chefes africanos e os corsários e piratas holandeses, franceses e ingleses.

         No entanto as hostilidades dos africanos contra as potências coloniais nunca deixou de manifestar-se, desde a resistência passiva á luta aberta. O colonialismo português só se impôs na região da Guiné, com pacificação das populações em 1915, sendo apenas em 1936 que quebraram os últimos focos de resistência armada nos Bijagós. Foram seculos de luta até á Pax Lusitana se impor no território.

A multiplicidade étnica nunca permitiu, durante este período, uma estratégia comum, ou alianças entre povos diferentes. Este factor foi paulatinamente explorado pelo colonialismo português que aos poucos estabeleceu a política do dividir para reinar e explorou a via do agenciamento das elites africanas. Tal como hoje, a reacçäo das classes dominantes variou entre a hostilidade, quando os seus interesses não estavam assegurados e a hospitalidade, quando o colonialismo defendia a sua posição e dispunha-se a distribuir migalhas.

Este é um período fundamental para a compreensão do actual quadro político africano, em particular para a compreensão dos acontecimentos da recente história das independências africanas e dos jovens estados. Quem resistiu e porque resistiu, quais os interesses envolvidos, na resistência e na colaboração. Quais os que gozam dos frutos da independências e quem cuida da árvore onde os frutos crescem. Os que sofrem das ulceras dos repastos e os que sofrem das ulceras da fome.

É toda uma História gloriosa de resistência, mas é também uma história de traições e colaborações. Repare-se nos eventos que levaram ao assassinato de Amílcar Cabral e aos laços de interesses que iam da PIDE, ao Senegal, passando pelo interior do PAIGC e pelas lutas internas da Guiné-Conakry. São teias tecidas por aranhas mestras, desde tempos ancestrais.

Deste período há que salientar os seguintes pontos, importantes para a compreensão do estabelecimento das rotas do narcotráfico nesta região e das particularidades que assumiu na Guiné-Bissau.

Os lançados. Foram eles os primeiros a estabelecer redes internacionais de comércio livre internacional na região.

As alianças entre as autoridades tradicionais e os contra-poderes coloniais dos corsários e piratas holandeses e franceses, principalmente.

Os acordos com as autoridades coloniais para defender interesses de classe, clã e casta.

As alianças com as autoridades coloniais para dominar terras, escravos e comércio.

Os acordos de suserania e tributos

O período pós-independência

O PAIGC declarou a independência aos 24 de Setembro de 1973, reconhecida pela comunidade internacional e pelos estados africanos. Portugal reconhece a independência em Setembro de 1974, 6 meses após o 25 de Abril.

No projecto político do PAIGC a Guiné-Bissau e Cabo Verde, inicialmente constituídos como estados separados, tenderiam a formar uma unidade politica. Após a independência os dois países passam a ser dirigidos pelo PAIGC, até ao segundo grande golpe nas aspirações revolucionárias de ambos os povos (o primeiro foi o assassinato de Amílcar Cabral): o golpe de estado de Nino Vieira e do Movimento Reajustador, em 14 de Novembro de 1980.

João Bernardo Vieira, Nino Vieira, era um veterano da guerra de libertação nacional. Comandou o golpe que depôs Luís Cabral, suspendeu a Constituição e extinguiu o projecto de unificação dos dois países. A Guiné-Bissau passou a ser governada por um Conselho da Revolução. As raízes superficiais deste golpe podem ser encontradas nas divisões internas do PAIGC, na crise económica que provocava escassez de alimentos básicos, para além das habituais acusações dos veteranos guineenses contra a elite política de Cabo Verde, acusando-a de delapidar a Guiné-Bissau. As razões profundas são outras, que veremos mais adiante.

O conselho Revolucionário controla o país até 1984 e cinco anos depois a Constituição é revista, ou pelo menos diversos artigos são eliminados, permitindo a convocação de eleições multipartidárias, liberalização da economia, liberdade sindical, etc. Em 1994 tiveram lugar as primeiras eleições multipartidárias para a presidência e parlamento, que legitimaram Nino Vieira na presidência. Mas 4 anos depois, em 1998, o brigadeiro Ansumane Mané lidera um golpe militar que depôs Nino Vieira e mergulha o país na guerra civil.

Em 2000, após as tréguas, novas eleições dão a vitória a Kumba Yalá e ao Partido Renovador Social (PRS), que revelam-se factores de instabilidade (Kumba Yalá não passa de um analfabeto letrado, com canudo) e em Setembro de 2003 um novo golpe militar coloca Henrique Rosa como presidente interino. Após adiamentos sucessivos as eleições legislativas têm lugar em Abril de 2004, mas em Outubro Ansumane Mané lidera nova sublevação, que termina com a sua morte. Em 2005 as eleições presidenciais reconduziram Nino Vieira á presidência, mas a situação social e económica entra numa espiral de degradação e a Guiné-Bissau transforma-se num entreposto comercial do narcotráfico.

Vou parar por aqui e prosseguir o relato dos acontecimentos no parte 3 deste artigo, mas queria salientar 3 figuras importantes no estabelecimento do narcotráfico: Nino Vieira, Kumba Yalá, Ansumane Mané. O que são e o que representam

Fontes

Peter Karibe Mendy; Colonialismo português em África: A tradição de Resistência na Guiné-Bissau (1879-1959); INEP, Bissau, 1994
Carlos Lopes; A transição histórica na Guiné-Bissau: Do movimento de libertação nacional ao Estado-Parte1 Nação ou Nação em formação?; Institut Universitaire d’Etudes du developpement, Geneve, 1982
J.Bowman Hawkins; Conflict, Interaction and Change in Guinea-Bissau, 1850-1900; California University Press, Los Angeles, 1980
Journal of African History; Vol. VI, num.3, 1965
Padre Fernão Guerreiro; Relação anual das coisas que fizeram os Padres de Jesus nas suas missões, tomo 1 (1600-1603); Imprensa da Universidade, Coimbra, 1930
Boletim do Arquivo Histórico Colonial, volume 1, pág. 77- 115; Lisboa, 1950
Basil Davidson; The people cause. A History of Guerrillas in Africa; Penguin Books, London, 1981.
Jaime Nogueira Pinto; Os jogos africanos; A esfera dos livros, Lisboa, 2008
Banco Mundial; Guinea-Bissau General Report (2011). World Bank - African Reports.

* Ver todos os artigos de Rui Peralta – também em autorias na barra lateral

Guiné-Bissau: Momentos de tensão na sede do PAIGC na manhã de hoje



FP - Lusa
 
Bissau, 24 abr (Lusa) - Militantes do PAIGC (maior partido da Guiné-Bissau) protagonizaram hoje alguns momentos de tensão junto da sede do partido em Bissau, com versões contraditórias sobre os motivos dos "empurrões".
 
Na primeira volta das eleições presidenciais de março passado o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) apoiou o presidente da estrutura, Carlos Gomes Júnior, mas Serifo Nhamadjo, também do partido, candidatou-se à revelia.
 
Hoje, apoiantes de Serifo Nhamadjo dirigiram-se à sede do partido, mas foram impedidos de entrar por outros militantes. A situação gerou alguns momentos de tensão, mas acabou por se resolver com a retirada dos primeiros.
 
Augusto Olivais, secretário nacional do PAIGC, acusou os apoiantes de Serifo Nhamadjo (atual primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional) de não terem seguido as normas e não terem pedido a sede para dar uma conferência de imprensa.
 
"Isso não aconteceu, tínhamos medo de que fosse um plano para entrarem aqui e arranjar problemas. Disse aos militantes para os fazer afastar sem grande violência", disse Augusto Olivais, explicando que o grupo tinha pedido a suspensão do mandato até à publicação dos resultados eleitorais e que o que se passou hoje foi "um ato de indisciplina, de mostrar força".
 
Do "outro lado", Martinho Dafa Cabi disse à Lusa que não estava a violar os estatutos do partido e que o grupo apenas queria conversar.
 
"Íamos lá falar com a direção do partido, porque urge a necessidade de falar com a direção, por causa da situação do país. Não nos deixaram entrar, puseram lá jovens a empurrar e retirámos para evitar mais problemas", disse.
 
"Somos do PAIGC, vestimos a mesma camisola, só queríamos um encontro com os colegas para falar sobre a situação política do país e sentir que já estamos reintegrados", disse, acrescentando que os militantes que pediram a suspensão já escreveram ao partido na semana passada, a pedir para serem reintegrados.
 
"Continuamos a pedir uma reconciliação da família do PAIGC, nós não somos o problema, não somos golpistas e não somos violentos, eles sabem isso", disse Martinho Dafa Cabi, reafirmando que pretende "conversar" e que é importante que o partido fale "a uma só voz".
 
Um Comando Militar tomou o poder na Guiné-Bissau no passado dia 12 e prendeu o Presidente da República interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.

Reunião da União Africana para pressionar autores do golpe começa em Addis Abeba



FPA (EL) - Lusa

Addis Abeba, 24 abr (Lusa) - A União Africana (UA) começou hoje em Adis Abeba uma reunião para pressionar os autores dos golpes de Estado na Guiné-Bissau e no Mali a restaurar a ordem constitucional.

Os líderes da UA vão também tentar dissuadir o Sudão e o Sudão do Sul de iniciarem novo conflito.

Na abertura do encontro, o comissário da UA para as questões da paz e segurança, Ramtane Lamamra, afirmou que a união quer trabalhar com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e o resto da comunidade internacional "para encontrar soluções rápidas, imparciais, justas e duradouras" na Guiné-Bissau e no Mali, onde militares realizaram golpes de Estado a 12 de abril e 22 de março, respetivamente.

Ramtane Lamamra sublinhou "a dupla dimensão da restauração da ordem constitucional e da preservação da integridade territorial da República do Mali".

O Mali entrou oficialmente num processo de transição depois de os golpistas terem aceitado, a 06 de abril, restabelecer a ordem constitucional, na sequência de uma mediação da CEDEAO dirigida pelo Burkina Faso.

Ameaçada de sanções pela ONU, a junta que protagonizou o golpe na Guiné-Bissau recuou no sábado e afirmou-se pronta para rever os modelos de transição decididos com os partidos que se opunham ao regime deposto, e que previa a suspensão das eleições durante dois anos.

Na sequência dos golpes de Estado, o Mali e a Guiné-Bissau foram suspensos da UA, que ameaçou ainda com sanções individuais os membros da junta guineense.

A reunião de hoje foi convocada por Angola, país que este mês preside à União Africana, e os trabalhos serão dirigidos pelo chefe da diplomacia angolana, Georges Chicoti.

Fonte diplomática em Addis Abeba, citada na segunda-feira pela agência noticiosa angolana Angop, disse que, relativamente à Guiné-Bissau, deverá ser aprovada uma "condenação mais firme" dos autores do golpe de Estado de 12 de abril, "no que concerne à responsabilização criminal".

A libertação imediata de todos os detidos, nomeadamente o Presidente interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, deverá igualmente constar do texto final.

A Angop destacou que "os membros do Conselho de Paz e Segurança (CPS) deverão trabalhar com as Nações Unidas no sentido do envio de uma força com mandato internacional para a estabilização da Guiné-Bissau".

Presidente e MNE de Cabo Verde participam na cimeira extraordinária da CEDEAO



JSD - Lusa

Cidade da Praia, 24 abr (Lusa) - O Presidente e o ministro das Relações Exteriores de Cabo Verde participam na quinta-feira em Abidjan (Costa do Marfim) na cimeira extraordinária da CEDEAO sobre a Guiné-Bissau, onde desde 12 deste mês um comando militar tomou o poder.

Segundo a página oficial da Presidência de República no Facebook, Jorge Carlos Fonseca, acompanhado por Jorge Borges, garante que tudo fará para haver "decisões adequadas, justas e eficazes" na cimeira extraordinária da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) sobre a situação na Guiné-Bissau.

Cabo Verde juntou, desde a primeira hora, a voz de "firme condenação" do golpe de Estado à da comunidade internacional, com as Nações Unidas e União Europeia (UE) a ameaçarem com sanções personalizadas ou individuais caso os golpistas se recusem a repor a normalidade constitucional e a libertarem os dirigentes detidos desde então.

Entre eles figuram o Presidente interino, Raimundo Pereira, bem como Carlos Gomes Júnior, candidato presidencial vencedor da primeira volta das eleições presidenciais de 18 de março, primeiro-ministro até então e líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

No fim de semana, Jorge Borges foi portador de uma mensagem de Jorge Carlos Fonseca ao novo Presidente do Senegal, Macky Sall, cujo conteúdo não foi revelado.

Fonte diplomática cabo-verdiana disse entretanto à agência Lusa que Macky Sall, na audiência a Jorge Borges, se mostrou "bastante preocupado" com a crise na Guiné-Bissau, país com quem tem fronteira, juntando no rol das preocupações a situação pós-golpe no vizinho Mali.

Segundo a mesma fonte, no encontro foi debatida também a questão da necessidade de uma maior aproximação de posições entre a CEDEAO e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), sobretudo depois de os "oito" terem sido arredados das conversações com o Comando Militar golpista.

Moçambique: Central sindical denuncia despedimento de 30 sindicalistas em 2011



PMA - Lusa

Maputo, 24 abr (Lusa) - A Organização dos Trabalhadores Moçambicanos - Central Sindical (OTM-CS), a principal central do país, denunciou hoje o despedimento de 30 dirigentes sindicais e trabalhadores de diversas empresas em 2011 como represália por exigirem direitos laborais.

Falando no lançamento das comemorações do 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, o secretário-geral da OTM-CS, Alexandre Munguambe, afirmou que, em várias empresas moçambicanas, o patronato recorre à intimidação e à prepotência para silenciar os trabalhadores.

"Em muitas empresas, as entidades empregadoras não valorizam a negociação coletiva, não respondem às propostas submetidas pelos comités sindicais, chegando até a intimidar e despedir os sindicalistas mais ativos", acusou Alexandre Munguambe.

Os 30 trabalhadores despedidos em 2010 trabalhavam nos setores da indústria alimentar e hotelaria, bem como no comércio na capital do país, acrescentou o secretário-geral da OTM-CS.

Qualificando estes despedimentos como "flagrante violação dos direitos dos trabalhadores", o líder sindical afirmou que a sua organização está a trabalhar com o Ministério do Trabalho, para a reposição dos direitos dos trabalhadores lesados pela medida.

Segundo Alexandre Munguambe, a situação traduz o desprezo das entidades patronais pelo diálogo e negociação laborais, uma falha que está na origem das más condições salariais e de trabalho que persistem em muitas empresas.

Muitas empresas, acusou o secretário-geral da OTM-CS, limitam-se a pagar o salário mínimo fixado pelo Governo, rejeitando negociações para a elevação do ordenado, apesar de os parceiros sociais do setor do trabalho orientarem as empresas a encarar o salário mínimo apenas como uma referência.

Moçambique: Novos blocos de prospeção de gás natural serão lançados ainda este ano



LAS - Lusa

Maputo, 24 abr (Lusa) - O Governo de Maputo prepara o processo ainda este ano para novas ofertas de prospeção de gás natural na bacia do Rovuma, disse hoje em Maputo o presidente do Instituto Nacional de Petróleo (INP).

"Estamos a planear o lançamento de nova série para propostas para áreas não exploradas na parte sul da bacia do Rovuma, até ao fim do ano", disse Arsénio Mabote, citado pela Reuters.

Na zona, existem já blocos concessionados a dois consórcios, um liderado pela italiana ENI, e de que faz parte a Galp, e outro, dominado pela norte-americana Anadarko, ambos reivindicando descobertas de quantidades incalculáveis de gás natural, o que torna a região numa "nova fronteira de energia na África Oriental".

TRIBUNAL DISTRITAL DE DÍLI INICIOU JULGAMENTO DA MINISTRA DA JUSTIÇA



MSE - Lusa

Díli, 24 abr (Lusa) - A ministra da Justiça de Timor-Leste, Lúcia Lobato, começou hoje a ser julgada pelo Tribunal Distrital de Díli por alegados crimes de corrupção, abuso de poder e falsificação de documentos.

O julgamento estava inicialmente previsto para começar a 23 de maio, mas foi antecipado, depois de o parlamento ter suspenso a ministra de funções no passado mês de março.

No final da sessão, a ministra da Justiça recusou prestar declarações à imprensa.

Segundo o despacho do Tribunal Distrital de Díli, a que a agência Lusa teve acesso, a acusação pública é deduzida contra Lúcia Lobato e contra um homem identificado como António de Araújo Freitas.

O despacho refere também que os arguidos são "acusados do crime de corrupção, abuso de poder e de falsificação de documento", nomeadamente por favorecimento em concursos públicos para a construção de conservatórias de registo civil em vários distritos.

Em conferência de imprensa, realizada no final de março, a ministra da Justiça garantiu que iria estar presente no julgamento, tendo agradecido aos deputados por a suspenderem para poder ir a tribunal.

Governo português ajuda timorenses a construir sistema contributivo de segurança social



MSE - Lusa

Díli, 24 abr (Lusa) - O ministro português da Solidariedade e Segurança Social, Pedro Mota Soares, assinou hoje com a homóloga timorense, Maria Domingas Alves, um protocolo de cooperação para ajudar Timor-Leste a construir o sistema contributivo de segurança social.

"É uma área nova na cooperação com Timor-Leste (...) abrimos agora um novo capítulo, dando um conjunto de ajudas técnicas, que vão desde a produção de estudos à formação de recursos humanos, a apoios à gestão e administração", afirmou o ministro português, no final da assinatura do protocolo.

O protocolo foi assinado no Palácio do Governo, após um encontro com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão.

"São ajudas técnicas para que o sistema em Timor-Leste possa vir a funcionar", disse Pedro Mota Soares, explicando que a ajuda vai permitir a montagem do sistema de segurança social timorense.

Para a ministra timorense da Solidariedade Social, o protocolo de cooperação vai permitir "assegurar que haja sustentabilidade e que o sistema de segurança social timorense seja bem alicerçado".

O ministro português da Solidariedade e Segurança Social terminou hoje uma visita de três dias ao país, durante a qual conheceu vários projetos apoiados pela cooperação portuguesa no âmbito da erradicação da pobreza.

Sobre a visita, Pedro Mota Soares fez um "balanço muito positivo", salientando que deu para conhecer no terreno um conjunto de projetos e a forma como verbas transferidas para Timor-Leste são aplicadas e o efeito que isso tem sobre as pessoas.

"É muito importante, muitas vezes quando temos de tomar decisões, conhecermos efetivamente o que está a acontecer no terreno e, nesse sentido, foi um enorme privilégio ver aqui como um conjunto de verbas, que têm vindo a ser transferidas para Timor-Leste, são aplicadas no terreno e os efeitos que isso tem sobre as pessoas", disse.

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OS GANGUES TOMARAM CONTA DO PAÍS




Redação PG

“Isaltino Morais foi condenado em 2009 a sete anos de prisão e à perda de mandato autárquico por fraude fiscal, abuso de poder, corrupção passiva para ato ilícito e branqueamento de capitais.” Sempre foi condenado, e de que serviu?

Isaltino desde então pavoneia-se em liberdade. Quem tem dúvidas de que UM GANGUE TOMOU CONTA DO PAÍS. Não só um, mais que um gangue apoderou-se do país. Há individualidades nos três partidos políticos do “arco da governação”, que têm alternado nos poderes, que melhor que todos nós sabem disso e disso têm beneficiado. Algumas corporações, o PS, o PSD e o CDS. Precisamos de um novo 25 de Abril, JÁ! (Redação PG)

Relação considera que alegados crimes de Isaltino não prescreveram


O Tribunal da Relação rejeitou esta terça-feira os recursos da defesa e do Ministério Público sobre o caso Isaltino Morais e considera que os crimes não prescreveram.

De acordo com a Agência Lusa, o Tribunal da Relação de Lisboa considerou que os crimes a que Isaltino Morais foi condenado não prescreveram e rejeitou um pedido do Ministério Público (MP) para que o autarca fosse preso.

Na decisão, a Relação alega que enquanto a decisão sobre a prescrição dos crimes não transitar em julgado, permitindo recurso para o Tribunal Constitucional, Isaltino Morais não pode ser detido.

Relativamente ao recurso do MP para que a juíza de Oeiras desse cumprimento à ordem de prisão, o Tribunal da Relação de Lisboa rejeitou o pedido, dizendo na sua fundamentação que entende que, enquanto não transitar em julgado o outro recurso (da defesa relativamente à prescrição dos crimes), o arguido não pode ser detido.

Isaltino Morais foi condenado em 2009 a sete anos de prisão e à perda de mandato autárquico por fraude fiscal, abuso de poder, corrupção passiva para ato ilícito e branqueamento de capitais.

Posteriormente, no que diz respeito ao crime de branqueamento de capitais, a Relação de Lisboa decidiu baixar a pena aplicada para um ano e cinco meses de prisão.

Em cúmulo jurídico, pelos três crimes de fraude fiscal e um de branqueamento de capitais, a Relação decidiu condenar Isaltino Morais a uma pena de dois anos de prisão.

Este caso levou tanto a defesa como o Ministério Público a apresentarem vários recursos para diversas instâncias, desde o Tribunal da Relação ao Tribunal Constitucional.

No âmbito deste processo, Isaltino Morais chegou a ser detido a 29 de setembro de 2011, mas acabou por ser libertado menos de 24 horas depois por decisão do tribunal de Oeiras.

A GERAÇÃO RASCA E O 25 DE ABRIL



Carlos Fonseca – Aventar

Da geração rasca, como de todas as gerações, na evolução do tempo, sobejam os resquícios. Tal geração foi-se diluindo socialmente e volatizando-se através de comportamentos de cidadania múltiplos e distintos. Passados os anos de ‘charros’, gritos e euforias nos concertos de Abrunhosa, parte substantiva desmobilizou, carregada de desencantos e frustrações ou motivada por projectos de vida individual.

No entanto, na espuma do tempo, permanecem sempre redutos remanescentes cristalizados à volta de diferentes polos ideológicos. Subsiste, por exemplo, uma parcela, imberbe ou mesmo sem existência à data de 25 de Abril de 1974, do tempo que verdadeiramente não teve consciência de viver, que assimilou e propagou no futuro as ideias conservadoras de progenitores e educadores, normalmente adeptos do Estado Novo. Uns viviam em África, sob a protecção de jovens da minha geração, idos daqui – “África é aqui”, era a palavra de ordem da soberba que exibiam nas visitas à metrópole, nesse tempo.

Do balanço da história recente, o absurdo é o domínio da descabelada contestação aos capitães de Abril, por parte desses homenzinhos de patológicas dissonâncias. Homenzinhos pseudo-sabedores do desconhecido, porque não habitaram, de facto, o País pobre, semeado de miséria, desigual e a desfazer-se em emigração maciça e na guerra colonial em 3 frentes; esses homenzinhos que, ao contrário da minha geração, jamais testemunharam e conviveram na Escola Primária com miúdos da Quinta dos Peixinhos, da Curraleira e de outros acantonamentos miseráveis, de barracas, no País de lés-a-lés – miúdos, diga-se, famintos, rotos, descalços e sujos com quem os outros dividiam o pão; esses homenzinhos que, ao contrário da minha geração, não tiveram amigos mortos e estropiados em África; esses homenzinhos que, ao contrário da minha geração, não sofreram perseguições da PIDE à menor tentativa de usar a liberdade de expressão para falar, escrever ou ler; esses homenzinhos que não tiveram a oportunidade de visitar o Tarrafal e, como eu, ver as condições ultra-desumanas como era tratado quem ousava opor-se a Salazar.

Em suma, esses homenzinhos, auto-intitulados de puros e impolutos, que se ufanam de pseudo-verdades, para atingir, e talvez dizimar, um dos marcos fundamentais da História de Portugal, o 25 de Abril, assim como os militares que o realizaram. Sem seriedade, bom senso e respeito pelos sentimentos e apego à democracia de milhões de outros portugueses. Sofrem de perturbações mentais agudas e incuráveis. Nenhum médico, fármaco ou terapia lhes assegura a cura.

Viva o 25 de Abril! Sempre e comemorado nas ruas! Se necessário, que renasça das cinzas a que o pretendem reduzir.

ABRIL NÃO DESARMA?



TSF

No Fórum TSF vamos debater a recusa da Associação 25 de Abril em participar nas cerimónias oficiais de quarta-feira. Este protesto contra a política do Governo, revelado num manifesto intitulado «Abril não desarma» conta com a solidariedade de Mário Soares e Manuel Alegre que também não vão estar no Parlamento. No Fórum TSF queremos ouvir a sua opinião e o seu testemunho: que importância atribui às comemorações do 25 de abril? Costuma festejar o aniversário da revolução? Comente aqui.

QUEM SE LIXA É O MEXILHÃO

António Veríssimo

Neste momento o Fórum ainda está no ar. Os ouvintes participam. Uma dor de alma em alguns comentários, algumas opiniões dos intervenientes. Ressalta o desconhecimento da história e do quanto mal os portugueses sobreviviam no regime de Salazar-Caetano.

Alguns dos que se pronunciaram deixaram perceber serem velho empedernidos completamente frustrados por terem visto suas famílias salazarentas perderem privilégios que obrigatoriamente os abrangeram. Um deles reconheci. Herdeiro de um militar, major quando do 25 de Abril de 1974 completamente conivente com o regime terminado na revolução dos capitães que passou a ser de todos os portugueses. Aquele interveniente mostrou-se francamente ressabiado. Era pré-adolescente em 1974. Viva então cheio de mordomias, com automóvel do Estado, motorista, ordenança à porta, criados. Filho de um major, par de outro que era o chefe máximo da PIDE, Silva Pais. Todas as semanas reunião com o ministro do interior. Todas as semanas gizavam planos para defender os seus tachos, as suas mordomias e dos seus senhores. Nunca foram mobilizados para a guerra colonial que nos dizimou por 13 anos, mas eram militares. Militares e cobardes. Militares e traidores dos superiores interesses do país e do povo. Este interveniente na TSF, filho daqueles monstros, ganhou coragem para destilar ódios sobre os capitães de Abril, sobre aqueles acontecimentos que nos possibilitaram liberdade e a democracia. E mais não fez porque o moderador do programa não permitiu que fugisse do tema. Afinal, ele, o menino salazarento, ainda hoje guarda rancor àqueles que o fizeram perder as mordomias, que não permitiram que o pai reprimisse mais os portugueses que lutavam pela liberdade, que deixou de ter o motorista e o carro a irem buscá-lo ao colégio, e em todos estes anos nada aprendeu. A sua noção de justiça social, de democracia, pouco ou nada mudou. Pior é que uns quantos têm ido e vão atrás destas loas, destes ressabiados. E quem se lixa é o mexilhão.

A falta de noção daquilo que foi na realidade o regime deposto há 38 anos é fruto do branqueamento da história feita por muitos ao longo deste período. Só por isso Cavaco é eleito, assim como os que constituem o atual governo. Filhos dignos daquele major braço direito de Silva Pais, e de Silva Pais e de todos as ratazanas que por mais de 40 anos subjugaram o povo português, proporcionando-lhes somente doenças, fome, porrada e guerra, em beneficio de umas dezenas de famílias.

Se por isso, naquele fórum, neste momento já terminado (12 horas) assistimos a bacoradas de todo o tamanho que revelaram desconhecimento da história e da miséria e atraso que era Portugal, não nos admiremos que a trupe de Cavaco e Passos Coelho singre nos seus objetivos de nos fazer voltar ao “antigamente”, porque este povo está adormecido, está a ficar acarneirado, está a deixar de entender que quando o povo quer é quem mais ordena.

Não vão aparecer outros capitães para nos ajudar. Temos de ser nós a saber defender e repor o que foi conseguido em Abril de 1974 e que Cavaco e Passos estão a conseguir destruir através da argúcia de homens de antigamente independentemente das suas idades. Eles são, afinal, os da laia daquele filho do major cobarde que num país em guerra nunca nela participou porque fazia parte do aparelho repressivo de Salazar-Caetano. Assim são muitos daqueles que temos atualmente nos Poderes: filhos dos majores e de outros repelentes inimigos da verdadeira liberdade e democracia.

Obrigado capitães (militares e civis) antifascistas, democráticos, que ao longo de décadas lutaram para que aquele dia acontecesse em 1974. Urge defendê-lo. Abril não pode desarmar. Se não… quem se lixa é o mexilhão.

25 de Abril: Vasco Lourenço diz que palavras de Passos «só dão para rir»



TSF

À TSF, o presidente da Associação 25 de Abril confessou que só sente «vontade de rir» depois de escutar as declarações do primeiro-ministro.

Questionado sobre as ausências de Mário Soares e Manuel Alegre nas comemorações do 25 de Abril, Passos Coelho disse que está «habituado a que figuras políticas queiram assumir protagonismo em datas especiais».Confrontado no Fórum da TSF com as palavras do primeiro-ministro, Vasco Lourenço respondeu: «Isso só dá para rir».

25 de Abril: PM «habituado a que figuras públicas queiram protagonismo»

TSF

Passos Coelho diz sobre as ausências de Soares e Alegre nas comemorações do 25 de Abril que está «habituado a que figuras políticas queiram assumir protagonismo em datas especiais».

Pedro Passos Coelho disse ter pena que «figuras históricas» como Soares e Alegre tenham decidido faltar às comemorações do «Dia da Liberdade», numa altura que Portugal «vive um regime menos livre do que devia», por «ter tido necessidade de assumir a sua falência interna na gestão das suas finanças públicas», e está a tentar recuperar a sua «completa liberdade» face ao exterior.

«Estou habituado a que ao longo dos anos algumas figuras políticas queiram assumir protagonismo em datas especiais. Esta data especial não pertence ao Governo, pertence ao povo e ao país. Cada um assume as suas responsabilidades», afirmou o primeiro-ministro aos jornalistas, à margem de uma conferência sobre ciência, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Passos Coelho considerou que «o 25 de Abril é uma data suficientemente importante para Portugal para que não seja utilizada para outros fins que não os de comemorar e de celebrar a liberdade em Portugal».

O chefe do Governo manifestou ainda a expectativa de que as comemorações de quarta-feira «decorram à altura daquilo que os portugueses estão habituados a sentir e a ver, e a participar também».

Na segunda-feira de manhã, a Associação 25 de Abril anunciou que não iria participar nos «atos oficiais nacionais evocativos» desta data histórica por considerar que «o poder político que atualmente governa Portugal configura um outro ciclo político que está contra o 25 de Abril, os seus ideais e os seus valores».

Em solidariedade com a decisão da Associação 25 de Abril, que tem como membros alguns dos «militares de Abril», o antigo Presidente da República Mário Soares e o ex-candidato presidencial Manuel Alegre anunciaram que também não iriam participar nas comemorações oficiais do 38.º aniversário da «Revolução dos Cravos» na Assembleia da República.

UM GANGUE TOMOU CONTA DO PAÍS




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O general Pires Veloso, um dos protagonistas do 25 de Novembro de 1975 que ficou conhecido como "vice-rei do Norte", defende um novo 25 de Abril, de raiz popular, para acabar com "a mentira e o roubo institucionalizados".

Ora nem mais. A última vez que estive com Pires Veloso foi (como o tempo passa!) no dia 25 de Maio de 2007, num evento que ele realizou, no Porto, conjuntamente com Paulo Morais e Augusto Macedo Pinto e que assinalou o Dia de África.

O orador principal foi o Rui Flores, então um dos quatro portugueses que exercia funções na UNIOSIL (United Nations Integrated Office in Sierra Leone), organismo que era dirigido pelo representante especial do Secretário-Geral da ONU no país, o também português, Victor Ângelo.

"Vejo a situação actual com muita apreensão e muita tristeza. Porque sinto que temos uma mentira institucionalizada no país. Não há verdade. Fale-se verdade e o país será diferente. Isto é gravíssimo", disse hoje o general em entrevista à Lusa.

Para Pires Veloso, que enquanto governador militar do Norte foi um dos principais intervenientes no contra-golpe militar de 25 de Novembro que pôs fim ao "Verão Quente" de 1975, "dá a impressão de que seria preciso outro 25 de Abril em todos os termos, para corrigir e repor a verdade no sistema e na sociedade".

Pires Veloso, agora com 85 anos, puxa dos galões de oficial com provas dadas e considera que não poderão ser as forças militares a promover um novo 25 de Abril. Porquê? "Não me parece que se queiram meter nisto. Não estão com a força anímica que tinham antigamente, aquela alma que reagia quando a pátria está em perigo".

"Para mim, o povo é que tem a força toda. Agora é uma questão de congregação, de coordenação, e pode ser que alguém surja" a liderar o processo.

E agora que "o povo já não aguenta mais e não tem mais paciência, é capaz de entrar numa espiral de violência nas ruas, que é de acautelar", alertou, esperando que caso isso aconteça não seja com uma revolução, mas sim com "uma imposição moral que leve os políticos a terem juízo".

Esta entrevista vai, creio, provocar alguns dissabores aos responsáveis editoriais da Lusa que, certamente por descuido, não se dignaram pedir autorização a Miguel Relvas.

Continuemos. Pires Veloso defende uma cultura de valores e de ética. "Há uma inversão que não compreendo desses valores e dessa ética. Não aceito a actuação de dirigentes como, por exemplo, o Presidente da República, que já há pelo menos dois anos, como economista, tinha obrigação de saber em que estado estava o país, as finanças e a economia. Tinha obrigação moral e não só de dizer ao país em que estado estavam as coisas", defendeu o general com a coragem que se lhe reconhece.

Pires Veloso lamentou a existência de "um gangue que tomou conta do país. Tire-se o gangue, tendo-se juízo, pensando no que pode acontecer. E ponha-se os mais ricos a contribuir para acabar a crise. Porque neste momento não se vai aos mais poderosos".

O general deu como exemplo o salário do administrador executivo da Eletricidade de Portugal (EDP) para sublinhar que "este Governo deve atender a privilégios que determinadas classes têm".

"Não compreendo como António Mexia recebe 600 mil euros e há gente na miséria sem ter que dar de comer aos filhos. Bem pode vir Eduardo Catroga dizer que é legal e que os accionistas é que querem, mas isto não pode ser assim. Há um encobrimento de situação de favores aos mais poderosos que é intolerável. E se o povo percebe isso reage de certeza", disse.

Para Pires Veloso, "se as leis permitem um caso como o Mexia, então é preciso outro 25 de Abril para mudar as leis", considerando que isto contribui para "a tal mentira institucionalizada que não deixa que as coisas tenham a pureza que deviam ter".

Casos como este, que envolvem salários que "são um insulto a um povo inteiro, que tem os filhos com fome", fazem, na opinião do militar, com que em termos sociais a situação seja hoje pior, mesmo, do que antes do 25 de Abril: "Na altura havia um certo pudor nos gastos e agora não: gaste-se à vontade que o dinheiro há de vir".

Quanto ao povo, "assiste passivamente à mentira e ao roubo, por enquanto. Mas se as coisas atingirem um limite que não tolere, é o cabo dos trabalhos e não há quem o sustenha. Porque os cidadãos aguentam, têm paciência, mas quando é demais, cuidado com eles".

"Quando se deu o 25 de Abril de 1974, disseram que havia de haver justiça social, mais igualdade e melhor repartição de bens. Estamos a ver uma inversão do que o 25 de Abril exigia", considerou Pires Veloso, para quem "o primeiro-ministro tem de arrepiar caminho rapidamente".

Passos Coelho "tem de fazer ver que tem de haver justiça, melhor repartição de riqueza e que os poderosos é que têm que entrar com sacrifícios nesta crise", defendeu, apontando a necessidade de rever rapidamente as parcerias público-privadas.

"Julgo que Passos Coelho quer a verdade e é esforçado, mas está num sistema do qual está prisioneiro. O Governo mexe nos mais fracos, vai buscar dinheiro onde não há. E, no entanto, na parte rica e nos poderosos ainda não mexeu. Falta-lhes mais tempo? Não sei. Sei é que tem de mudar as coisas", disse Pires Veloso.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: MPLA PÕE A IGREJA CATÓLICA DE JOELHOS

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