domingo, 15 de setembro de 2013

Brasil: QUE CAIAM AS MÁSCARAS!

 


Rodolpho Motta Lima – Direto da Redação
 
O pensamento, com a liberdade de escolher os caminhos que bem entende, faz, às vezes, com que construamos as mais estranhas ligações. Essa discussão sobre se pode ou não haver mascarados nas manifestações de rua me lembrou uma composição lançada para um carnaval dos anos 60: “Máscara Negra”, de Ze Keti.
 
Você pensará, obviamente, que a associação direta é com os Black Blocs, esse grupo anárquico que anda por aí assustando a tradição, as famílias e as propriedades da classe média com atitudes que misturam a revolta saudável com uma pra lá de discutível ação predatória, que mais afasta que aproxima, impedindo que se ouça com ouvidos atentos o que têm a dizer.
 
Mas não foi neles que pensei, a não ser como detonadores (aqui no bom sentido) de outros pensamentos, ligados a outras máscaras negras que andam por aí e que ninguém pensa (ainda) em proibir.
 
A música de Ze Keti fala em “mais de mil palhaços no salão” e foi essa passagem que me fisgou. Não estamos no carnaval, estamos bem longe daquela época em que os brasileiros entoavam os versos da composição, nos quais pierrôs, arlequins e colombinas compunham o clássico drama amoroso, enquanto um outro drama, o do país inteiro, se desenrolava no campo das liberdades democráticas.
 
Mas as máscaras e os palhaços – bem mais que mil - estão aí, por todos os cantos, no grande salão brasileiro. A variedade de umas e de outros é incrível. Há os que se mascaram de democratas ou de defensores da moralidade, uma forma antiga usada no país, mas só quando interessa, para mais facilmente violentar os princípios da democracia. Esses estão em todos os setores, com corporativismos imorais e casuísmos inaceitáveis. As máscaras de alguns não são negras, são até brancas, para combinar com os jalecos do preconceito, da intolerância e da insensibilidade, venenos que andam destilando perversamente por aí.
 
Há os mascarados do voto, aqueles que se escondem atrás de máscaras legais – de todas as cores, diga-se – para negar-nos o direito de saber como nos estão representando, ou melhor, como estão defendendo interesses mesquinhos e/ou negociatas diversas que não têm nada a ver conosco. Quando parece que vão enfim, mostrar sua cara, sempre aparece alguém para dizer frases emblemáticas do tipo “não é bem assim”. Como fizeram com a ideia do plebiscito, por exemplo. Essa é a turma do bloco “Mudar para deixar como está”.
 
Há máscaras importadas, feitas com um material especial, a subserviência, compradas em moeda estrangeira. Os que as usam assumem imediatamente os ares das terras onde são produzidas e saem por aí, nas redes sociais da vida ou fora delas, admitindo, com o tal complexo de vira-latas de que falava Nelson Rodrigues, que é preciso conviver com os superespiões planetários porque, afinal, “eles são mais fortes que nós”. Essa turma vive sonhando em trocar uma estrela verde-amarela por outra naquela outra bandeira do norte... Um conhecido produtor e crítico musical, tão bom nessa área das artes quanto não o é na política, deixou gravado na coluna do jornal em que escreve que “na era da internet espiona quem pode, defende-se quem for capaz...”. Eles também têm máscaras especialmente produzidas contra as perversas armas químicas, talvez lembrando-se de relatos antigos de bombas atômicas jogadas sobre os japoneses civis, ou de napalm lançado nos vietnamitas, ou, bem recentemente , dos aviões não pilotados que matam indiscriminadamente os inocentes da hora errada no lugar errado...
 
Há outras máscaras por aí, que a gente não vê de cara (ou na cara) , mas existem: a máscara dos jornalistas “descomprometidos”, que cobrem com absoluta fidelidade os fatos que interessam aos seus patrões e procuram ouvir exaustivamente todas as vozes capazes de dizer o que lhes interessa...e só. São auxiliados, nessa missão altamente louvável, por “especialistas” de plantão, ávidos por colocarem suas mentes à disposição.
 
Há as máscaras dos artistas. Muitos deles (ou serão poucos?), justiça seja feita, preservam as máscaras que simbolizam a origem histórica da sua atividade, mas há outros que há muito trocaram as originais por outras, em que a glória da fama - efêmera ou não – sufoca e tritura as suas responsabilidades sociais e a sua busca estética. E fazem o que dá dinheiro...
 
Há máscaras de Super-homem ou de Batman (a escolher), heróis contemporâneos a serviço de uma justiça que não é cega, porque é caolha e só enxerga um lado do direito, em uma visão maniqueísta que busca obter as vantagens da exposição garantida pela mídia ávida de vinganças pontuais, a mídia que lhes garante a “opinião publicada” e forja a “opinião pública”.
 
E aí chegamos aos palhaços, também mascarados e espalhados pela pátria, muito mais de mil, iludidos por um aparelho de tevê na sala, avessos a informações diferenciadas, arrogantes e rancorosos nas suas superficiais convicções e sempre dispostos a frequentar, denotativa ou conotativamente, as mesmas festas e os mesmos salões dos disfarçados que andam por aí. Gente que, no tempo do egocentrismo e do consumismo, quer ser como eles, mas a quem dirijo, para reflexão, os versos de Raimundo Correa: “Se se pudesse, o espírito que chora, / Ver através da máscara da face, / Quanta gente, talvez, que inveja agora / Nos causa, então piedade nos causasse!”
 
Claro que há muitas outras máscaras. Quem me lê neste momento pode identificar outras, diferentes das que denuncio, até contrárias às que enxergo. Isso acontece quando somos de blocos diferentes. Ou, se quiserem, quando frequentamos escolas diferentes... De qualquer forma, penso que, antes de tirar as máscaras dos manifestantes de rua, que pelo menos perseguem algo em que acreditam e que vai além dos seus umbigos, muitas outras máscaras deveriam cair neste país que, apesar delas e contra elas, vai caminhando rumo ao seus desígnios maiores.
 
*Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.
 

Portugal: O GRITO

 

We Have Kaos in the Garden
 
O PS pediu este sábado ao primeiro-ministro que se pronuncie sobre a destruição de documentos alusivos aos contratos ´swap´. «Isto não pode ser um caso em que se fala e fala e depois não há apuramento de responsabilidades.
 
Eu já devo andar a confundir a realidade com a premonição. Iria jurar que este assunto da destruição dos documentos que comprometiam os bandalhos que andaram a roubar com as Swaps e foram destruídos ao fim de três anos e não dos vinte exigidos por lei já foi notícia há alguns meses. Mas, pelos vistos, o abananado Seguro só agora se lembrou de gritar em protesto.
 
É claro que as responsabilidades de quem rouba quando está no poder ficam sempre esquecidas ou faltam provas. Seja o BPN, as Parcerias público privadas, os submarinos ou os Swaps, tudo acaba em águas de bacalhau e sem ninguém ser responsabilizado. Vivemos na terra em que alguns tudo podem fazer impunemente enquanto outros são despedidos só porque demoraram um pouco mais de tempo na casa de banho ou não vergou a espinha quando passou o patrão. Só apetece mesmo é gritar e hoje é um dia tão bom para o fazer como qualquer outro. Às 16H30 na Praça de Espanha vamos libertar esse grito com as vozes ao alto. Um grito que não possa deixar de ser ouvido e assuste este poder corrupto, ladrão e desumano.
 
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Portugal: PARTIDO SOCIALISTA SEM SOCIALISTAS

 

Balneário Público
 
Críticos preparam revolta se Seguro não conseguir mais câmaras”. É título no jornal i, texto assinado por Luís Claro. E diz: “Seguro não quis misturar autárquicas com legislativas, mas PS pode voltar às guerras internas se PSD conseguir ter mais câmaras”. Guerras se não ganhar mais câmaras e assim punem Seguro. Por isso. O que eles querem é mais câmaras, mais tachos, mais oportunidades de dominar, de controlar, de “negociar”. Não ameaçam de entrarem em guerra por haver ausência e muita falta de socialistas no PS. É interessante, um autodenominado Partido Socialista sem socialistas (ou quase). Os que ainda por lá constam nas fichas de militância estão velhos e alguns até já são defuntos. O Partido Socialistas encafuou há muito o socialismo na gaveta e nem se apercebe disso? Façam guerra, sim, por terem eleito um basbaque jotinha que de socialista só tem alguma conversa, de resto… Socialista o tanas. Façam guerra, sim, por haver falta de fidelidade aos propósitos e intenções, aos estatutos elaborados na fundação do partido. Que já há muito subverteram para socializarem-se e conluirem-se com o grande capital, com a exploração desregrada dos que trabalham, com a falta de respeito pelos mais antigos (os velhos), com o desprezo a que os têm votado - apesar de terem sido eles e os anteriores que repuseram a liberdade e a democracia em Portugal, vos pagaram estudos, que agradados e esperançados vos deram as mãos e aceitaram-vos como a esperança do futuro de Portugal. Um futuro progressista, justo, democrático, transparente, ausente de corrupção, de cambalachos, de negociatas… Seguramente que não é Seguro o socialista, o capaz. Mas também não se vislumbra no Partido Socialista um socialista que possa vir a ser eleito para secretário-geral. Não existe! O melhor que os do atual PS poderiam fazer, respeitando os fundadores e os estatutos, a Declaração de Príncipios, seria aderirem ao PSD do Passos e do Cavaco, o tal que colaborou com a PIDE, que se refere ao Dia da Raça, o tal fascistoide que ocupa Belém para mal de Portugal. Mas que o PS deixa à solta na sementeira do saudosismo salazarista. Ou… Existem várias soluções para que tudo acabe em bem, direiteinho, certinho, limpinho. A mais evidente: O PS tem por dever procurar socialistas para a sua direção, para seus militantes. Melhor será usar apelos na comunicação social (publicidade paga porque de borla já andam a viver há demasiados anos). Um anúncio simples: “Socialistas, precisam-se. Resposta ao Largo do Rato”.
 
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Portugal: Jerónimo de Sousa responsabiliza PS e chama atenção para desemprego

 

Hugo Godinho
 
Serpa, 15 set - O secretário-geral do PCP reafirmou hoje a responsabilidade do PS na política seguida pelo atual Governo PSD/CDS-PP, por ter assinado o acordo externo de auxílio financeiro, e alertou para o aumento do desemprego
 
"Como entender esta posição política do PS que tem lá a assinatura, em como está de acordo, e depois vem para Serpa ou para outros lados dizer que esta política da 'troika', do Governo, não serve. Retire a sua assinatura e então podemos conversar. Enquanto não o fizer, responsabilizamos o PS por esta política que realiza contra o nosso povo", desafiou Jerónimo de Sousa, num almoço com cerca de 800 apoiantes, em Serpa.
 
O líder comunista sublinhou também que "o PCP tinha razão para não se mostrar animado" com os alegados "sinais" económicos positivos anunciados pelo executivo de Passos Coelho e Paulo Portas.
 
"Vão dois anos e a verdade é que hoje, não resolvendo os problemas do défice e da dívida, o país andou para trás dez anos no plano económico, com uma recessão a prolongar-se", afirmou.
 
O também deputado comunista classificou a situação do desemprego como estando em "níveis impensáveis, só comparáveis com os últimos tempos do fascismo".
 
O número de desempregados inscritos nos centros de emprego em agosto era de 695.065, o que representa um aumento de 3,2 por cento face há um ano e de um por cento em relação a julho deste ano, segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).
 
Em Serpa, o recandidato a presidente da Câmara Municipal local, Tomé Pires, substituiu em 2012 o anterior e histórico autarca João Rocha e vai tentar manter a maioria absoluta no município, comunista desde sempre, pela Coligação Democrática Unitária (CDU), que congrega ainda "Os Verdes" e a Intervenção Democrática.
 
HPG // JLG - Noticias Ao Minuto/Lusa
 
Jerónimo: "Mentira" da viragem durou "tanto como manteiga em nariz de cão"
 
O secretário-geral do PCP acusou este sábado o Governo de, em vésperas das autárquicas, “ensaiar uma manobra” de que o país estava “num momento de viragem”, mas a “mentira durou tanto com manteiga em nariz de cão”.
 
“Com a aproximação das eleições autárquicas, começaram a ensaiar uma manobra que era, no fundo, dizer que íamos entrar num momento de viragem, começaram a falar dos sinais positivos que havia em relação ao emprego, ao Produto Interno Bruto (PIB)”, lembrou Jerónimo de Sousa.
 
Segundo o líder do PCP, bastaram “umas décimas de crescimento conjuntural desse PIB” ou que “o desemprego deixasse de cair tanto como estava a cair” para dizerem “aí está a viragem”.
 
“Esta mentira durou tanto como manteiga em nariz de cão”, contrapôs, afirmando que a realidade é “um despedimento massivo de professores, de pessoal docente e não docente, que hoje se estão a dirigir aos centros de emprego”.
 
Jerónimo de Sousa, que discursava em Évora, aludiu também ao número de desempregados inscritos nos centros de emprego em agosto, que aumentou 3,2% face ao período homólogo do ano passado e 1% em relação a Julho.
 
“O desemprego continua a aumentar, tanto em relação ao período homólogo do ano passado, como em relação ao mês de Julho”, disse o líder comunista, a propósito dos números divulgados hoje pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional.
 
Dados que, segundo Jerónimo de Sousa, servem para verificar que, “afinal, essa viragem, esse sinal animador, não passava de conversa fiada” por parte do Governo.
 
O secretário-geral do PCP discursava num jantar de apoio à candidatura da CDU à câmara municipal daquele concelho alentejano nas autárquicas do próximo dia 29, cuja lista é liderada por Carlos Pinto de Sá.
 
A proposta de lei do Governo para a convergência de pensões entre o sector público e o sector privado, entregue na sexta-feira no Parlamento, “pela calada do fim-de-semana”, voltou a merecer críticas de Jerónimo de Sousa, tal como hoje à tarde, em Montemor-o-Novo.
 
O líder do PCP lembrou a “fita de Paulo Portas”, quando este “dizia que era irrevogável a sua saída do Governo”, precisamente porque “o corte nas reformas e pensões era a linha vermelha que ele não podia passar”.
 
Ora, ironizou, Paulo Portas “não só passou, como engoliu” esse limite, sendo agora “responsável também por esta proposta de lei apresentada na Assembleia da República”.
 
Os socialistas também não escaparam às “baterias” do líder comunista, que defendeu que, “ao contrário do PS”, que já disse que vai “votar contra e apresentar um requerimento ao Tribunal Constitucional” relativamente ao diploma, o que há a fazer é “não esperar pela decisão do TC”, mas sim “lutar agora contra essa medida”.
 
Jerónimo de Sousa realçou ainda a importância de combater a abstenção nestas eleições e defendeu que o eleitorado deve “penalizar quem roubou as freguesias ao povo”, a propósito da reorganização administrativa do território implementada pelo Governo, mas da qual o PS “é cúmplice”.
 
Além de Carlos Pinto de Sá pela CDU, os outros candidatos à Câmara de Évora nestas eleições autárquicas são o presidente do município, Manuel Melgão (PS), Paulo Jaleco (PSD/CDS-PP) e Maria Helena Figueiredo (BE).
 
Lusa
 

Portugal: BRINCAR COM O FOGO

 


Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
 
Há tiques muito mais irritantes e bem mais graves, mas dos que sobraram do período pós-Revolução há um que me encanita particularmente: aquele que manda os dirigentes partidários, nas noites eleitorais, realçar o civismo dos portugueses e salientar a normalidade com que decorreram as eleições. Digamos que a normalidade democrática, pelo menos no que diz respeito a eleições, já não tem dois anos.
 
Na noite de 29 de Setembro, porém, ninguém terá o descaramento de dizer que este processo eleitoral decorreu sem problemas. Foram precisos quase quarenta anos de democracia e outros tantos de campanhas eleitorais e eleições para que assistíssemos a tanta irregularidade. De facto, os nossos políticos não precisam de populistas demagogos, de crises económicas, de campanhas negras, para destruir o prestígio de toda a classe. Eles dão muitíssimo bem conta desse recado.
 
Começamos na vigarice da lei que institui o eterno autarca, que perpetua a promiscuidade entre público e privado nas autarquias, que endeusa o clientelismo, que promove a não renovação da classe política. A lei também conhecida como da limitação dos mandatos. Se houvesse o mínimo de decência mudava-se ao menos o nome do diploma: o que de facto a lei, pelos vistos, impõe é a ilimitação de mandatos, é o presidente de câmara profissional, é o que faz doze anos em Oeiras, mais doze em Sintra, mais doze em Lisboa, o que traz as suas pessoas de confiança (fornecedores, colaboradores, assessores) de concelho em concelho sem que estas precisem sequer de mudar de casa. Repito o que já aqui escrevi: estamos perante uma vigarice sem nome promovida pelo PSD e pelo PS. O PCP, ao menos, foi coerente. Bem sabemos que os comunistas nunca foram adeptos da limitação de mandatos de espécie nenhuma, destes e doutros, e nunca disfarçaram. Já a forma como o PSD e o PS nos aldrabaram dizendo que estavam a fazer uma lei para renovar a classe política foi chocante. Disseram-nos uma coisa e puseram outra na letra da lei. Não há maior falta de respeito pelos cidadãos.
 
Depois, no que à normalidade democrática diz respeito, temos também este absoluto disparate de ser praticamente impossível promover debates televisivos ou radiofónicos e, mais importante ainda, não se poder fazer, de facto, a cobertura da campanha eleitoral. O absurdo de se obrigar a fazer reportagem com o mesmo tempo de antena duma acção de campanha dum candidato do PS ou do PNR ou forçar a debates entre todos os candidatos dum dado concelho fala por si.
 
Só quem não percebe que tratar de forma igual o que é diferente é a maior fonte de desigualdade é que pode apoiar semelhante aberração. É penoso ter de lembrar que esta espécie de campanha eleitoral clandestina ajuda apenas os que já estão no poder, os candidatos com mais disponibilidades financeiras, os que dispõem de mais notoriedade. Mas as consequências mais grave são a falta de escrutínio e o aumento da abstenção. Situações como ofertas a eleitores, organismos públicos, autarquias, a promover candidatos e a financiar directa ou indirectamente campanhas, com muito mais dificuldade chegarão ao conhecimento público. E, claro está, a falta de informação, sobretudo nos grandes centros urbanos, levará a um aumento certo da abstenção.
 
No que diz respeito às notícias da campanha, parece claro que a CNE está a fazer uma interpretação que é um ataque à liberdade editorial dos meios de comunicação social, senão mesmo um ataque à própria liberdade de imprensa. E essa interpretação jamais poderia ser legítima. Mas a verdade é que alguém devia ter previsto que era muito provável que viessem a existir problemas? Não eram já conhecidas estas possíveis interpretações das leis? Claro que sim. O que fizeram os legisladores? Rigorosamente nada. Num país em que se legisla por tudo e mais alguma coisa achou-se melhor deixar à interpretação dos tribunais e da CNE o que teria de ser absolutamente claro, sobretudo numa matéria tão importante como a cobertura duma campanha eleitoral.
 
Numa época em que a confiança dos portugueses nos políticos anda literalmente pelas ruas da amargura, de crise política e económica, nada como batotices e comportamentos negligentes para ajudar a desprestigiar ainda mais a nossa classe política e a nossa democracia.
 
Quem pensa que estamos livres dum populista, dum demagogo, mesmo dum candidato a ditador, que pense duas vezes. Estamos a criar o ambiente ideal para o seu aparecimento. Tudo o que tem acontecido nesta pré-campanha é só mais uma pequena contribuição.
 

Moçambique: GUEBUZA É QUE FEZ, GUEBUZA É QUE FAZ?

 

Moçambique Para Todos
 
Há cerca de dois meses, a Televisão (Pública) de Moçambique (TVM) iniciou a projecção de“programas”, seguidos de debate, intitulados “Balanço da Governação do Presidente Armando Emílio Guebuza”. Longe de neles se fazer o balanço do desempenho do Governo de Moçambique na sua dimensão plena, do desempenho – positivo e negativo – da máquina da administração pública do Estado moçambicano, centra-se tudo na pessoa do chefe de Estado, Armando Guebuza, como se não existisse mais ninguém a trabalhar no País, como se tudo o que se fez tenha sido feito só por Guebuza e como se o que não se fez Guebuza não tenha culpa disso. São peças televisivas espectaculares porque nelas a culpa de tudo o que está mal é dos outros. Guebuza só fez coisas boas. Que maior atestado de incompetência se poderia passar aos outros!? Nunca visto!
 
Nas ditas“reportagens” e nos depoimentos, Armando Guebuza é tido como um ente omnipresente, cuja obra individual alcança todos os sectores, como se de um ser omnipotente se tratasse.
 
Todo e qualquer contributo dos milhares de técnicos da administração pública para o desenvolvimento desta Nação fica engolidopela omnipresença e omnipotência de Guebuza. Começou por ser a “Frelimo é que fez, a Frelimo é que faz” e agora entrou numa fase mais apurada se bem que não menos ridícula: a fase do “Guebuza é que fez, Guebuza é que faz”.
 
Todo o esforço que o empresariado possa ter feito neste período em que Guebuza esteve a dirigir o País não é esforço de quem realmente fez – é esforço de Guebuza.
 
Para quem produz os tais programas, os trabalhadores não fizeram nada…Guebuza é que fez.
 
Na avaliação que a TVM tem andado a promover com o dinheiro dos contribuintes, não há outros, só há Guebuza.
 
É só propaganda que atingiu níveis ridículos incomparáveis. Quem ainda se dá ao trabalho de tentar perceber se pode valer a pena estar-se a gastar dinheiro dos cofres do Estado a mostrar-se coisas boas para estimular-se os moçambicanos para que ganhem brio no que de positivo andam a fazer, com os “pastéis” mal confeccionados que nos andam a tentar impingir só se pode afinal concluir que o dinheiro do Estado que não existe para coisas muito mais importantes existe afinal a granel para pagar má propaganda de um gestor falhado do Estado que vai ficar para a história como quem teve afinal o mérito de mostrar aos seus próprios correligionários que quem se esforça não será nunca reconhecido, por existir um “deus” acima deles todos.
 
Tanta má propaganda tem no entanto uma marca mais positiva do que se possa imaginar. Guebuza em vez de sair com a sua imagem lavada ou menos chamuscada porque pior já não era possível, com estes programas ridículos acaba por ficar ainda mais emporcalhado – desculpe-nos a expressão – de facto não há outra para sermos mais verdadeiros.
 
Valeria muito mais um elogio que até pode ser que haja pontualmente alguma razão para o fazer da parte de um “apóstolo da desgraça” do que de um qualquer moleque adulador que anda a enganar Guebuza ao ponto de só faltar ouvirmo--los a dizerem que até os elogios que lhe andam a fazer na TVM foi também Guebuza que pensou neles e os fez em causa própria.
 
Aqueles que montaram as más peças de “banda desenhada” que andam a tentar impingir aos moçambicanos na TVM e agora também na “espectaculosa” ainda não tiveram oportunidade de perceber que só estão a conseguir ridicularizar Guebuza na praça pública mais do que ele já está com a história de ter enriquecido a criar patos?
 
Para a equipa de bajuladores, entre os quais se incluem até ladrões confirmados pelo Tribunal Administrativo, Guebuza é tudo. Ao mesmo tempo é arquitecto, é engenheiro, planeia e executa obras de construção de estradas, pontes e edifícios governamentais, é engenheiro electrónico, expande a rede de telecomunicações, enfim, faz tudo de bom. Só nos falta ouvirmos um dia destes chamarem-lhe o “Vodacom”, pois nele “é tudo bom”.
 
Guebuza também é especialista em cobrança de impostos. De casa em casa, de família a família, de empresa a empresa, foi ele que fez tudo. A electricidade levada a quase todas as vilas sedes distritais do País, as dezenas de bombas de abastecimento de combustível construídas, as agências bancárias, tudo foi Guebuza que fez. Até o que já estava erguido antes de Guebuza, foi Guebuza que fez.
 
Para esses bajuladores Guebuza é um “deus”. O “deus moçambicano”. É um especialista em finanças, é um especialista bancário, é tudo. Guebuza fez tudo. “Guebuza é que fez, Guebuza é que faz”.
 
Afinal a Frelimo não fez nada… bem queria parecer!
 
Este Guebuza “faz-tudo” reduz a máquina administrativa do Estado à sua pessoa. O Estado com ele deixa de existir e personifica-se na sua figura. É como se o íntegro e competente Presidente da Autoridade Tributária não fizesse nada senão implementar as ordens de Guebuza. É como se Ernesto Gove, no Banco Central, ficasse apenas à espera das ordens de Guebuza para tomar decisões sobre o sistema financeiro moçambicano.
 
Os buracos nas estradas não foi Guebuza que fez.
 
É caso para se perguntar: A Estrada Nacional N1 toda escavacada de Vilankulo para o norte é obra de Guebuza? A estrada toda escavacada entre a Beira e o Inchope é obra de Guebuza? A falta de água para milhões de moçambicanos é obra de Guebuza?
 
Quantas coisas tremendamente más não ficaríamos aqui a perguntar se também são obras de Guebuza?
 
Os raptos também são obra de Guebuza?
 
Também é Guebuza que “engoma” as pessoas?
 
Para os senhores que andam entretidos a tentar enganar os moçambicanos, só há coisas positivas. Guebuza para eles é “deus”.
 
Os outros são o diabo. Oh, diabo!
 
O esforço dos dirigentes e técnicos sectoriais que trabalham neste País e que obviamente só seriam notícia se o que fazem não fosse sua obrigação porque para isso lhes pagam, com a propaganda de quem quer fazer crer que Guebuza é “deus” acabam sendo notícia apenas porque afinal alguém se lembra de vir dizer que o seu esforço é afinal algo que quem deveria ser o primeiro a reconhecer isso anda apenas a querer tirar dividendos pessoais para ainda estar a tempo de nos causar alguma surpresa ao anunciar-nos a sua candidata(o) às presidenciais do ano que vem…
 
A obra de propaganda desses imbecis que andam por aí a tentar fazer crer os moçambicanos que Guebuza é “deus” tem para nós, Canal de Moçambique, um enorme mérito: permitir-nos finalmente elogiar certas pessoas que muito têm feito por este país anonimamente e que agora são esquecidas e ignoradas pelos bajuladores de Guebuza que acreditam que eles nada fizeram porque para eles “Guebuza é que fez, Guebuza é que faz”
 
Sempre nos ensinaram que só é notícia quando um homem morde num cão e não quando um cão morde noutro ou morde num homem.
 
Por isso sempre elegemos para publicação notícias e temas controversos.
 
Recusámo-nos sempre a elogiar por elogiar. Queremos que o País avance. Não queremos que nos batam palmas. Não queremos bater palmas a uns e esquecer os milhões que tanto fazem todos os dias por este nosso nobre País. Nunca quisemos ser injustos.
 
Bater palmas a Guebuza como se mais ninguém tivesse feito obra até agora é seguramente pior que usar o tempo só a pôr em evidência coisas más uma vez por semana ou em poucas linhas diárias, com a esperança de ver as nossas contribuições poderem ser acatadas ou úteis a alguém.
 
Mas, sinceramente, sentimo-nos lisonjeados com os programas elogiosos a um Guebuza omnipresente e omnipotente, porque finalmente isso permite-nos elogiar quem conseguiu de facto fazer o que nós ainda não tínhamos conseguido: pôr Armando Emílio Guebuza completamente no ridículo. (in Canal de Moçambique de 11.09.13)
 
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Moçambique: Renamo reafirma interesse do seu líder em dialogar com Guebuza

 

O País (mz)
 
A Renamo considera “infundado e falacioso” o discurso segundo o qual Afonso Dhlakama não quer encon­trar-se com o Presidente da Repúbli­ca, Armando Guebuza. Para o maior partido da oposição, este encontro pode ser realizado em qualquer par­te do país.
 
Assim, a “perdiz” convocou a im­prensa, ontem, para reafirmar o in­teresse do seu líder Afonso Dhlaka­ma, em se encontrar com Armando Guebuza em qualquer parte do país. A Renamo reiterou que o Governo deve retirar os homens das Forças de Defesa e Segurança instalados em Gorongosa. “Como é que se escapa se ele tem uma equipa a tempo intei­ro, que discute todas as segundas-fei­ra, dias de folga do ministro Pache­co, com o Governo. Reafirmamos a predisposição do presidente Afonso Dhlakama, para se encontrar com o senhor Armando Guebuza, investi­do nos poderes de Chefe do Estado e Comandante em chefe das Forças de Defesa e Segurança de Moçam­bique”, disse o porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga.
 
Durante a conferência de impren­sa, o porta-voz de Afonso Dhlakama avançou que a expectativa da Rena­mo é que os dois signatários dêem prioridade aos aspectos que possam garantir a sobrevivência da democra­cia multipartidária, através de uma legislação eleitoral, fruto da experi­ência vivida em pleitos eleitorais an­teriores.
 
Fernando Mazanga, considera ain­da que uma das questões de maior re­levo para o encontro tem que ver com a questão da composição das Forças de Defesa e Segurança. “É chegado o momento de o Comandante em Chefe das Forças Armadas de Defesa e Segurança do nosso país explicar aos moçambicanos e ao mundo em geral, ao serviço de quem actua a PRM, as FADM e o SISE. Os moçam­bicanos que não estão ao serviço do partido no poder são molestados por estas forças, pelo que os dois digna­tários tem a responsabilidade de de­volver a tranquilidade e segurança, criando uma plataforma que garan­ta que ninguém será perseguido em razão da sua escolha política”, frisou.
 
A Renamo reconhece que Mapu­to, legalmente, é a capital do país, mas para tal não pode ser entendido como o único lugar que acolha even­tos de interesse nacional. “A provín­cia de Sofala constitui, neste momen­to, o lugar de maior segurança para o Presidente da República, pois, nos últimos meses, concentrou maior contingente das Forças de Defesa e Segurança. Assim, este lugar, em ter­mos de segurança para as duas indi­vidualidades é o mais privilegiado”.
 
Leia mais na edição impressa do «Jornal O País»
 
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Moçambique – PARIDADE E DEMOCRACIA: ASPETOS ESQUECIDOS E ANALISTAS ATÍPICOS

 

Jornal Notícias (mz), análise
 
O Governo e a Renamo estão na sua 18ª ronda negocial, e, como das outras vezes, nenhum fumo saiu do Centro de Internacional de Conferências Joaquim Chissano, e as partes se desdobraram em justificações, cada uma defendendo a sua parte.
 
Porém, o pomo da discórdia é a famosa paridade, que a Renamo exige e impõe que seja o modelo da constituição da Comissão Nacional de Eleições (CNE), alegadamente porque a actual composição favorece ao partido no poder.
 
A Renamo ameaça com os seus homens armados acantonados em Satunjira, os quais de vez em quando vão assassinando civis como uma forma de pressão política ao Governo, de modo a que este ceda nas exigência renamistas no diálogo em curso.
 
Esta exigência da Renamo é secundada por grande parte de analistas conceituados, democratas de gema que juram a pés juntos que fazem qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, pela democracia, uma vez que os valores dela são sublimes e representam a vontade popular, neste caso da maioria.
 
Aliás, estes analistas até questionam se essa tal de paridade poderá alterar alguma coisa na paisagem legal e política nacional, uma vez que eles não vêm onde está mesmo o problema de adoptá-la como a forma de composição da CNE.
 
Os ilustres analistas esquecem-se que todas as leis nacionais são aprovadas na Assembleia da República (AR), e que é lá que todos nós estamos representados através das pessoas que votámos num processo democrático em que todos aceitamos, porque os nossos representantes tomaram posse, não só dos assentos, mas também das regalias inerentes à função.
 
Estando de acordo que os deputados na AR representam a todos nós, logo quer dizer que as leis que são produzidas naquela casa são as aspirações de todos nós, e indirectamente participamos na sua concepção e aprovação, uma vez que os 250 deputados que ali estão são nossos representantes, eleitos por nós.
 
Assim, a Frelimo teve a maioria, e representa, neste caso, a maioria do povo moçambicano, e ela trabalhou arduamente para conseguir tais resultados, como em qualquer competição que se quer resultados brilhantes. Ora não acho democrático que se puna aquele que fez maior esforço e teve melhores resultados, só para acomodar a preguiça de outros que não conseguiram bons resultados.
 
Há um recurso monocórdico à comparação com o futebol, mas essa comparação não é completa, porque esquece-se do esforço que houve para que vencedor fosse o vencedor. Esta situação é uma competição, e compara-se a dois alunos que vão fazer testes numa turma. Se um dispensa e o outro exclui, não há mérito em se diminuir valores de quem dispensou só para que os dois admitam ao exame, porque o excluído ameaça queimar as pautas!
 
Democraticamente, não existe nenhum mérito à Renamo para pedir paridade, porque a representatividade é mais democrática que a paridade, uma vez que REPRESENTA as vontades dos eleitores, e esta é expressa nas urnas e não numa mesa negocial.
 
Indo à Wikipédia para uma percepção básica sobre democracia apanhei o seguinte: “Democracia representativa é o exercício do poder político pela população eleitora não directamente, mas através de seus representantes, por si designados, com mandato par actuar em seu nome e por sua autoridade, isto é, legitimados pela soberania popular.”
 
E vai mais ainda, dizendo: “Pela impossibilidade da participação pessoal de todos que façam parte de uma comunidade, por excederem as proporções da mesma, tanto geográficas como em número, é o ato de eleger um grupo ou pessoa que os representem que se juntam normalmente em instituições chamadas Parlamento, Câmara, Congresso ou Assembleia ou Cortes.”
 
E como disparo final: “Usualmente esse lugar de representante, de um povo ou uma população ou comunidade de um país ou nação, para agir, falar e decidir em nome do povo, é alcançado por votação.”
 
Ora, se a democracia representativa é a que nós usamos, de onde vem a “democracia paritária” que está a ser pregada até pelos mais democratas que a própria democracia, incluíndo o pai desta mesma democracia? Esquecemos que é esta democracia que juramos defender que hoje estamos a enterrar?
 
Será democrático mudar as regras da democracia? Será que é democrático somente aquilo que nos favorece, e aquilo que não nos favorece deve ser emendado à nosso favor para se tornar democrático? Há algo que necessita urgentemente de ser emendado na nossa forma de ver as dinâmicas da democracia, e não podemos mover os dados que fazem check mate somente para o adversário poder mover os seus dados e o jogo continuar. Quem não tem capacidade para enfrentar as regras democráticas que atire a toalha ao chão e que não estrague o jogo.
 
Os analistas que oiço a defenderem a paridade estão pontapeando esta regra básica da democracia e do mérito só por causa das ameaças da Renamo ou por causa de outros fins que desconheço, e este posicionamento destes analistas famosos, torna a Renamo nesta criança grande que ainda quer viver de pipocas e doces, sem fazer nenhum esforço de se emancipar.
 
Toda a sociedade tem responsabilidade neste comportamento infantil da Renamo, uma vez que quando diz que não quer comida sólida porque ainda é criança, nós corremos a dar razão a ela, e ela pensa e acha que ainda é uma criança, e fica estática no tempo.
 
Quando diz que não pode jogar porque está em check mate, corremos a pedir ao adversário para remover os seus dados de modo a que jogo continue, mesmo sabendo que a Renamo não fez nenhum esforço para salvaguardar os seus dados através de jogadas estratégicas. Temos que continuar no mesmo jogo que não tem fim!
 
Quando ela exclui por não ter feito nenhum esforço para ter notas para o exame e ou para dispensar, e o outro dispensa com mérito do seu empenho, saímos em defesa dela, e exigimos que quem dispensou deve sacrificar uma parte das suas notas para que a Renamo vá, pelo menos, ao exame.
 
Há uma necessidade de a sociedade se insurgir contra este partido/movimento e denunciar esta preguiça política, exigindo dela uma postura democrática, deixando de chantagear o país, porque no fundo, quem perde com esta infantilidade da Renamo é a própria sociedade que lhe dá razão, uma vez que recuamos e avançamos democraticamente ao ritmo da Renamo.
 
A Renamo deve deixar de sentar à sombra da bananeira, levar na sua enxada e entrar na machamba política como fazem outros partidos, e culimar seriamente para colher algo do seu próprio esforço; deve deixar de jogos ameaçadores de modo a que as pessoas vejam nela um partido sério e assim o levarem a sério.
 
A Renamo deve estudar afincadamente, até fazer directas se necessário, para não excluir; a Renamo deve movimentar estrategicamente os seus dados durante o jogo para não ser apanhado em check; enfim, a Renamo deve usufruir do seu próprio esforço e não esperar clemência ou favores dos que fizeram-se ao mar de madrugada.
 
Os nossos analistas de topo devem ter sempre presente que as regras democráticas são anteriores à preguiça política e elas é que devem ser as balizas para tentar perceber as dinâmicas democráticas, e não se apoiar na preguiça de um dos participantes para acolher patologias que no fundo vem fazer da nossa democracia algo atípico.
 
E se nossa democracia deve ser atípica e sem equivalência lógica, então acho que temos cá na praça analistas atípicos e sem equivalência lógica, com capacidade para descobrirem uma passagem para um camelo num buraco de agulha, pois essa coragem de pontapear os pilares de um modelo de democracia que vêm defendendo, é deveras uma possibilidade sem uma explicação lógica.
 
Haja coerência, e que deixemos de nivelar os procedimentos democráticos por baixo para podermos avançar; e que deixemos de dar razão à preguiça política e à falta de estratégia política; e que deixemos de dar mérito à uma crassa desorganização básica que tem como fim último não ter resultados.
 
As chantagens são recursos políticos para pressionar mentes, mas temos a lei e vários escritos, e também temos precedentes que podemos usar para interpretar as regras de uma democracia que abraçamos há 23 anos, e que está a guiar o nosso país para as mais altas esferas de exemplo. Isso ajuda a “despressionar” a mente, porque haverá uma única visão sobre esses procedimentos, e isola-se quem quer introduzir patologias.
 
Podemos pensar logicamente com base em regras universais para não sermos atípicos?
 
Leia mais em Jornal Notícias (mz)
 

ANGOLA É O PAÍS MENOS COMPETITIVO DA ÁFRICA AUSTRAL

 


António Ribeiro Ferreira – Jornal i, ontem
 
Corrupção, qualificação da mão-de-obra, ineficiência do Estado, financiamento e infra-estruturas são as razões do mau desempenho
 
Angola é, em termos de competitividade, o país mais atrasado em relação aos seus parceiros da Comunidade Para o Desenvolvimento da África Austral (SADC em inglês) segundo um relatório global de competitividade do World Economic Forum, divulgado no início deste mês e que faz a manchete do semanário económico angolano "Expansão".
 
Segundo os dados recolhidos por esta organização, o país está em 142º lugar num total de 148 países analisados, sendo que os mais bem classificados são as ilhas Maurícias (45º), África do Sul (53º) e o Botswana (74º).
 
PIB per capita cresceu
 
Apesar da sua baixa classificação relativamente aos restantes países da SADC, o documento refere que Angola obteve um progresso positivo em termos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, atingindo em 2012 os 5873 dólares, quando da última vez que participou, em 2010, o indicador se situava nos 3972 dólares. O relatório refere que a média do PIB per capita nos países SADC se situou em cerca de 2600 dólares em 2012.
 
De entre os 14 países da SADC, o país situa-se em 13º lugar, tendo em atenção que a República Democrática do Congo não participa na lista.
 
No comentário relativamente a Angola, o relatório - liderado por Klaus Schwab, do World Economic Forum, e Xavier Sala-i-Martín, da Universidade de Columbia - indica que "tal como acontece com seus pares exportadores de petróleo", o país "tem um balanço orçamental positivo e uma dívida pública baixa que contribui para um ambiente macroeconómico estável". No entanto, o documento adianta que "ainda há muito a ser feito em toda a linha para construir o País de forma a ser competitivo".
 
Oportunidade única
 
O documento refere ainda que, "dada a sua situação orçamental favorável, o país tem uma oportunidade única de investir as receitas do petróleo em medidas de reforço de competitividade".
 
Neste contexto, "o seu fraco desempenho em todos os indicadores de governação é preocupante". "As instituições públicas e privadas são caracterizadas pela corrupção generalizada e a ineficiência dos gastos do governo põe em dúvida a capacidade passar os recursos para as áreas mais importantes", lê-se no relatório.
 
Além disso, o documento refere também que Angola "é um dos países menos desenvolvidos a nível mundial" e que a sua população "estaria bem melhor se houvesse melhorias na educação nos sistemas de saúde".
 
Corrupção à frente
 
A partir dos inquéritos realizados em Angola e que sustentaram os resultados em conjunto com os restantes 147 países, o documento indica quais os factores mais problemáticos que o país tem para fazer negócio. A corrupção foi apontada por 18,9% dos inquiridos como o problema mais grave, mas também há outros factores, como falta de mão-de-obra qualificada (14,9%), ineficiência do Estado (14,7%), acesso ao financiamento (13,8%) ou infra-estruturas inadequadas (10%).
 

Angola: PACAVIRA, DA PIDE A MINISTRO DO REGIME

 


PACAVIRA QUE SE RECLAMA HISTÓRICO DO MPLA ERA TOUPEIRA INFILTRADA DE SALAZAR
 
Folha 8 – 7 setembro 2013 – edição 1158
 
Manuel Pedro Pacavira licen­ciou­-se em Ciências Sociais pela Universida­de de Havana, foi Minis­tro da Agricultura e dos Transportes e represen­tante de Angola na ONU, Governador do Kwanza Norte. Foi também em­baixador de Angola em Cuba e em Itália. Foi, an­tes de tudo isso, colabora­dor da PIDE como consta da folha 84 do Processo Crime nº 554/66 existente na Torre do Tombo, em Lisboa.
 
Pacavira terá começado a colaborar com a PIDE por volta de 1960, pois, quan­do, em Março daquele ano, se deslocou a Brazza­ville para se avistar com Lúcio Lara, que vinha de Conakry mandatado pelo Comité Director do MPLA, já prestava servi­ços à polícia portuguesa.
 
Por isso, no trajecto até à fronteira do Congo, terá sido acompanhado pelo sub-inspector Jaime de Oliveira da PIDE que ficou inteirado da docu­mentação que levava. O mesmo aconteceu, no re­gresso, já no mês de Maio.
 
Aquele oficial da PIDE aguardava-o no posto de fronteira e ali mesmo to­mou conhecimento de toda a papelada trazida. Os papéis não foram reti­rados a Pacavira mas sim reproduzidos. De modo que, a 8 de Março, na reu­nião do MINA realizada na sua residência e em que esteve presente Agosti­nho Neto, os papéis foram exibidos aos membros da direcção do MPLA. En­tretanto, as cópias tinham passado a figurar nos ar­quivos da PIDE.
 
No final de Maio realizou­-se uma segunda reunião, desta vez em casa do Fer­nando Coelho da Cruz. Nessa altura, Joaquim Pinto de Andrade, mem­bro da direcção, ter-se-á apercebido da presença da PIDE nas imediações por sinais considerados sus­peitos: ao entrar na casa, foi ofuscado pelas luzes de um automóvel, o que o impediu de ver fosse o que quer que fosse em seu redor. [Testemunho do próprio Joaquim Pinto de Andrade, nos anos noven­ta, em Lisboa].
 
As detenções de Joaquim Pinto de Andrade e de Agostinho Neto ocorre­ram no dia 8 de Junho. No decurso dos interrogató­rios e, principalmente, na sessão de acareação com Pacavira, Joaquim Pinto de Andrade afirmava não ter a mínima dúvida de que o denunciante de to­dos eles fora o “Pakassa”, nome de código de Pa­cavira [ Testemunho do próprio Joaquim Pinto de Andrade, nos anos 90, em Lisboa] .
 
Num processo existente nos arquivos da PIDE de­positados em Lisboa, na Torre do Tombo, consta uma nota que reza o se­guinte: “Por divulgação de Lourenço Barros [não se sabe quem seja] teria sido o Patrício de Carva­lho Sobrinho [outro des­conhecido] a pessoa que denunciou o dr. Agosti­nho Neto”.
 
Ora a folha do processo com aquela nota é apenas uma fotocópia, em que o nome do informador está expurgado. Conclusão: nem o Lourenço Barros nem o Patrício de Carva­lho Sobrinho devem ser figuras reais. E a nota em causa parece ser estra­tagema frequentemente usado pela PIDE para en­cobrir os seus informa­dores. Claro que, na folha original, deve constar o nome do Pacavira [Torre do Tombo, Lisboa, Arqui­vos da PIDE, Processo nº 11.15, MPLA, pasta A].
 
Pacavira foi membro fundador da «TRIBUNA DOS MECEQUES». A denúncia, feita por Nito Alves nas «Treze Teses em Minha Defesa», pode ser confirmada nos arqui­vos existentes na Torre do Tombo.
 
O jornal foi programa­do por São José Lopes, o responsável máximo pela PIDE, num relatório em que declara estar to­talmente de acordo com as soluções apresentadas pelo “grupo de trabalho” que estudara os vários as­pectos sociais e políticos dos muceques de Luanda.
 
No que respeitava à pro­paganda, além da realizada pela rádio (que não alcan­çaria os objectivos dese­jados pelos colonialistas), São José Lopes propunha que se lançasse um jornal do muceque [Torre do Tombo, Lisboa, Arquivos da PIDE, Processo 7477 CI(2), Comando de Ope­rações Especiais, pasta 22, fls. 4 ss.).
 
Aí está, pois, a célebre «Tribuna dos Muceques», um jornal da PIDE, como afirma a Embaixada de Angola na biografia do embaixador Adriano João Sebastião.
 
De resto, nas declarações que faz e assina no dia 7 de Junho de 1966, Manuel Pedro Pacavira diz estar “totalmente regenerado, com arrependimento sin­cero e completo, de todos os seus erros” e oferece à PIDE “toda a sua co­laboração, estando pronto a obedecer, leal e cega­mente, a tudo o que lhe for ordenado”.
 
E para provar a sua lealda­de afirma não se importar “de falar em público con­tra as organizações sub­versivas que lutam pela in­dependência de Angola”. E até “gostaria de redigir e fazer publicar, sob a sua autenticidade, artigos de carácter patriótico, em re­pulsa das falsas promessas dos pretensos libertado­res de Angola” [Torre do Tombo, Lisboa, Arquivos da PIDE, Processo Crime nº 554/66, f. 84].
 
Pacavira seria, pois, um agente duplo, simultanea­mente elemento do MPLA e informador da PIDE, ora trabalhando para uns ora servindo outros. Mas a polícia não lhe perdoa a duplicidade. De modo que, volta e meia, o mandam de novo para a cadeia.
 
Facto saliente prende-se com a figura de Cândido Fernandes da Costa, que pertenceu ao elenco direc­tivo do MINA. Há muitos anos que, em Luanda, a morte de Cândido, ainda antes da independência nacional, terá envolvido Pacavira, se bem que, nes­te caso, possa ter agido a mando de alguém.
 
Mas Pacavira foi o braço executor. Tal como no fuzilamento em praça pú­blica do Virgílio Francisco “Sotto-Maior”. Um e ou­tro, ao que parece, seriam figuras muito incómodas, especialmente Cândido Fernandes da Costa, exe­cutado numa tocaia.
 
Com efeito, em 1975, se­gundo se lê numa auto­biografia do antigo embai­xador Adriano Sebastião, Pacavira mandou fuzilar um antigo companheiro de prisão, Virgílio Fran­cisco (Sotto-Mayor), com base numa falsa acusação [«Dos Campos de Algodão aos Dias de Hoje»].
 
Fiel aos princípios de de­nunciante, Pacavira terá sido “dos primeiros a de­nunciar a existência de uma conjura “nitista” no interior do MPLA” (Ma­beko Tali, O MPLA peran­te si próprio, II, p. 202). E ter-se-á destacado depois como mandante do terror.
 
No dia 29 de Outubro de 2008, Pacavira foi um dos presos angolanos a intervir no Colóquio Internacional sobre o Tarrafal, colóquio este promovido pelo mo­vimento “Não Apaguem a Memória” e pela Associa­ção 25 de Abril e realizado na Assembleia da Repúbli­ca Portuguesa.
 
É autor do livro “José Eduardo dos Santos, uma vida dedicada à pátria” (2006).
 

ANGOLA COM A SEGUNDA PIOR TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL

 


Relatório conjunto da UNICEF, OMS e o Banco Mundial indica que cerca de 6,6 milhões de crianças morreram antes de atingirem os 5 anos em 2012, comparados aos 12 milhões em 1990.
 
Lisa Schlein – Voz da América
 
O relatório realça o progresso que está a ser feito na redução da mortalidade infantil. Contudo, adianta que esse progresso ainda não é suficiente. O documento indica que a maioria dos casos de mortalidade infantil pode ser prevenida, e que mais crianças poderiam ser salvas se fossem aplicadas medidas simples e de baixo custo.

A directora do departamento de saúde materno-infantil da Organização Mundial da Saúde, Elizabeth Mason diz que os primeiros 28 dias de vida de uma criança são os mais críticos para a sua sobrevivência. Para ela, tudo depende directamente dos cuidados que a mãe recebe durante a gravidez, e muito mais importante ainda, dos cuidados que recebe durante o parto, e nas primeiras horas de vida do recém-nascido.

“Nós temos uma nova solução a baixo custo que pode reduzir a mortalidade pré-natal de crianças até ¾. E isso inclui injecções aplicadas as mães antes do nascimento, no momento que entram para a sala de parto, os cuidados mãe-kangaroo que têm a ver com a colocação dos bebés numa bolsa, mas em contacto pele-a-pele, com o peito da mãe que faz com que os recém-nascidos se mantenham aquecidos e com acesso ao leite materno.”

A principal causa de mortalidade entre as crianças antes dos 5 anos, inclui a pneumonia, partos prematuros, asfixia durante o parto, diarreia e malária. Globalmente, a OMS estima que cerca de 45 por cento de crianças com menos de 5 anos fazem parte do grupo dos malnutridos.

O relatório indica ainda que a metade da mortalidade mundial de crianças nessa faixa etária, acontece apenas em 5 países: China, República Democrática do Congo, Índia, Nigéria, e Paquistão. O documento nota ainda que a África Subsaariana é a região com a maior taxa de mortalidade infantil no mundo, com 98 casos de morte por cada mil nascimentos.

Angola é considerado o segundo pior país do mundo na tabela de mortalidade de crianças menores de 5 anos, com 164 mortes em cada mil nascimentos.

A Guiné-Bissau está na 6ª posição (a partir de baixo) em igualdade com a República Centro Africana com uma taxa de mortalidade infantil dos 0 a 5 anos de 129 em cada mil crianças nascidas. Moçambique vem no 22º lugar com 90 mortes em casa mil crianças nascidas.

Timor Leste ocupa o 48º lugar com 57 crianças em cada mil. São Tomé e Príncipe vem na 52ª com 53 mortes em cada mil. Cabo-Verde vem 88ª posição apresentando 22 crianças menores de cinco anos mortas em cada mil nascimentos.
 

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