sexta-feira, 5 de julho de 2013

TODOS DE JOELHOS?




Depois da verborragia dos governantes europeus que fizeram coro contra o sistema de vigilância americano contra países amigos, o silêncio evidencia apenas uma pergunta: que país, entre aliados e nem tanto aliados dos Estados Unidos, está realmente disposto a desafiar a nação mais poderosa do mundo e conceder asilo a Edward Snowden? Por Elizabeth Carvalho, de Berlim

Elizabeth Carvalho – Carta Maior

Dia 1º de julho, depois do vendaval das revelações publicadas na revista alemã Der Spiegel, foi o dia da indignação; dia 2 foi o dia do temor, a hora de encarar a realidade dos fatos. Depois da verborragia dos governantes europeus que fizeram coro contra o sistema de vigilância americano contra países amigos, o silêncio evidencia apenas uma pergunta: que país, entre aliados e nem tanto aliados dos Estados Unidos, está realmente disposto a desafiar a nação mais poderosa do mundo e conceder asilo a Edward Snowden, o jovem que revelou ao mundo como cada um deles é severamente espionado a cada respiro de seus governos e de seus cidadãos? 

Snowden é hoje um homem sem pátria, confinado no aeroporto de Moscou. Postou um depoimento no site do WikiLeaks, contando que pediu asilo a 21 países, entre eles a França, a Noruega, a Polônia, a Austria, a Finlandia, a Irlanda e a Alemanha, que ontem falou grosso a Obama: Chanceler Angela Merkel mandou dizer que o monitoramento de amigos é inaceitável e não vai ser tolerada. Mas agora todos dizem a mesma coisa: pedidos de asilo devem ser feitos dentro do território onde se pretende asilar, e assim vão fechando suas portas. 

Snowden ficaria na Rússia, se o Secretário de Estado americano John Kerry não tivesse explicitado ao seu colega russo as implicações dessa decisão. O presidente Wladimir Putin disse que daria o asilo, desde que o rapaz abandonasse o que chamou de “atividades antiamericanas”. Snowden não quer ficar. E até agora, não tem para onde ir. 

Na Alemanha, o partido Verde saiu na frente na defesa do asilo a Snowden, seguido pelo Die Linke e pelo SPD. O líder do partido, Jurgen Trittin, se referiu ao ex-agente da SNA como alguém que deveria ser protegido porque serviu aos europeus e à causa democrática, tornando pública a massiva violação dos direitos humanos da humanidade pelo serviço secreto americano. 

A sociedade alemã tem uma relação historicamente traumática com violentos processos de espionagem. O regime nazista tinha absoluto controle sobre a vida de seus cidadãos. A condição de nação derrotada e ocupada depois da Segunda Guerra Mundial oficializou a espionagem como direito incontestável da OTAN. E seus museus ainda exibem a monumental coleta de dados da STASI, o serviço secreto da antiga RDA, que acumulava informações inúteis sobre a rotina de vida de cada alemão do Leste. Para uma parcela considerável desta sociedade, é na Alemanha que Snowden deve aportar. Acredita-se mesmo que este seria o “pulo do gato” de Angela Merkel: acolher um jovem que em última instância lhe prestou um favor, porque oferece a ela a chance de provar ao mundo a emancipação da tutela americana. Uma chance inédita de colar em sua campanha eleitoral a imagem de uma líder poderosa e astuta.

Mas tudo não passa de mera conjectura. As consequências das revelações de Snowden para as relações norte-atlânticas, sempre tão íntimas, continuam imprevisíveis. Será tudo apenas indignação e orgulho ferido? Estarão os europeus realmente prontos para colocar em ponto morto o tratado bilateral de livre comércio que os Estados Unidos desejam para combater a força emergente da China? Der Tagespiegel, o jornalão do mainstream alemão, pergunta em seu editorial de hoje se os Estados Unidos podem ser considerados uma democracia. Pouco importa. A realidade dos fatos é que o mundo continua de joelhos diante do poder americano, apesar da crença – mais desejo do que crença - de seu inexorável declínio.

O único país que acenou imediatamente com a possibilidade de asilo foi a Venezuela. Em visita a Moscou, o presidente Nicolas Maduro usou palavras enaltecedoras para descrever o homem que prestou um serviço para a humanidade e merece a proteção do mundo. Se Maduro fala sério e não cede às pressões terríveis por que deve estar passando, estaremos diante de um pequeníssimo, mas importante, deslocamento da placa tectônica da geopolítica mundial do século XXI.

*Elizabeth Carvalho é jornalista correspondente em Berlim

UNASUR EXIGE DESCULPAS POR PARTE DE PORTUGAL, ESPANHA, FRANÇA E ITÁLIA



TSF

Os seis países membros da UNASUR exigiram quinta-feira «desculpas públicas» aos quatro países que recusaram a passagem no seu espaço aéreo do avião do Presidente Evo Morales.

Numa reunião de emergência na cidade boliviana de Cochabamba para avaliar a crise aberta com a Europa devido ao incidente, os chefes de Estado da Argentina, Bolívia, Equador, Suriname, Uruguai e Venezuela aprovaram uma declaração em que também reclamam aos governos dos países visados uma explicação da decisão.

«O que fizeram ao Presidente Morales ofende não apenas o povo boliviano, mas todos os nossos países», assinala o comunicado da União de Nações Sul-Americanas (UNASUR), lido no final da reunião pelo ministro dos negócios estrangeiros boliviano, David Choquehuanca.

Para além de Portugal, Fraça e Itália, a declaração inclui a Espanha entre os países que vetaram a passagem do avião presidencial, apesar do Governo espanhol ter negado que tenha feito alguma proibição nesse sentido.

Nesta declaração política, é ainda pedida uma intervenção clara das diversas organizações internacionais, especialmente da ONU.

Os líderes dos paises sul americanos dizem que há um contínuo desrespeito pelo bloco sul americano e, desta vez, ao ofenderem as Bolívia, ofenderam toda a América do Sul.

«A práticas coloniais que subsistem no século XXI. A falta de transparência sobre as motivações das decisões políticas que impediram a passagem aérea do avião presidencial boliviano e do seu presidente. E o dano causado ao presidente Evo Morales, uma ofensa não apenas para o presidente da Bolívia, mas para todos os nosso estados».

Em Portugal, a única reação do Governo sobre este caso é um comunicado de quarta-feira, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde se apontam razões técnicas para impedir a aterragem do avião de Morales no país.

Em França, François Hollande já apresentou publicamente um pedido de desculpas ontem de manhã.

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O GENERAL E O JURISTA QUE COMANDAM O EGITO



Deutsche Welle

O jurista Adli Mansur assumiu como presidente interino do Egito após a destituição de Mohammed Morsi. Mas o poder no país está onde sempre esteve: nas mãos dos militares, comandados pelo general Abdel Fattah al-Sisi.

"Juro, em nome de Deus, cumprir a lei e a Constituição e governar com justiça." Menos de 24 horas após a queda do presidente Mohammed Morsi, Adli Mansur fazia seu juramento, assumindo como presidente interino do Egito.

O chefe das Forças Armadas, Abdel Fattah al-Sisi, anunciou a destituição de Morsi na noite desta quarta-feira (03/07), em pronunciamento transmitido pela televisão.

Após dias de protestos contra Morsi, o general havia dado um ultimato de 48 horas ao primeiro presidente eleito do Egito, para que atendesse às demandas da população. Até a realização de novas eleições, Mansur deve governar o país, juntamente com um conselho de transição, formado por tecnocratas.

Candidato de consenso

"No cenário político do Egito, Mansur é uma personalidade completamente desconhecida", observa o cientista político Christian Achrainer, da Sociedade Alemã de Política Externa (DGAP, na sigla original).

O jurista de 67 anos, membro do Supremo Tribunal Constitucional desde 1992, ocupava o cargo de presidente do órgão havia apenas dois dias. Morsi o promovera do cargo de vice-presidente para suceder Maher al-Behairi, que havia se aposentado no final de junho.

Devido a uma lei que passou a vigorar após a queda do ditador Hosni Mubarak, o presidente não pode mais ocupar o posto mais alto do Supremo Tribunal Constitucional com um candidato externo, sendo obrigado a escolher um dos três vice-presidentes mais antigos do órgão.

Durante as disputas entre o governo Morsi e o judiciário egípcio, Mansur sempre teve uma posição discreta, diz Achrainer. Entre outras coisas, Morsi revogou emendas constitucionais e negou ao Supremo Tribunal Constitucional a competência para se pronunciar sobre a legalidade da Assembleia Constituinte, dominada por islamitas. Já o Supremo Tribunal Constitucional retirou, em junho, a legitimidade da câmara alta do Parlamento, dominada pela Irmandade Muçulmana.

Mas Mansur esteve muito envolvido nas principais decisões da era pós-Mubarak, ressalta Achrainer. "Antes da última eleição presidencial, ele foi uma das pessoas que lutaram para garantir que representantes do antigo regime fossem autorizados a participar nas eleições." Esse foi um motivo de críticas, assim como a sua longa carreira jurídica durante o governo do presidente Mubarak.

Jovem general

Mas o poder no país não está nas mãos do presidente interino, e sim do Exército – tal como após o golpe de Estado de 1952 e após a queda de Mubarak, em 2011. "Sem os militares, Mansur não teria se tornado presidente", destaca Ronald Meinardus, diretor do escritório no Cairo da Fundação Friedrich Naumann.

E à frente do Exército está Abdel Fattah al-Sisi. Em agosto de 2012, após a queda do ministro da Defesa, Mohammed Hussein Tantawi, Morsi nomeou al-Sisi para o cargo. O general é tido como um muçulmano devoto. "Ao mesmo tempo, ele foi socializado na tradição do nasserismo", sublinha Meinardus. "O Exército egípcio vem dessa tradição. O corpo de oficiais é de tendência laica." O ex-presidente Gamal Abdel Nasser era considerado um opositor ferrenho da Irmandade Muçulmana.

Com 58 anos, al-Sisi é um dos generais mais jovens do país. Ele não lutou nas guerras contra Israel em 1967 e 1973. Após a queda de Mubarak, em fevereiro de 2011, tornou-se o membro mais jovem do Supremo Conselho Militar e chefe da inteligência militar.

Após a renúncia de Mubarak, al-Sisi foi criticado por ter justificado publicamente, em 2011, agressões sexuais de soldados a mulheres egípcias, os chamados "testes de virgindade". Após indignação internacional, al-Sisi reviu sua posição e anunciou que tais "exames" não ocorreriam mais.

"A ditadura militar após a remoção de Mubarak foi um período não muito feliz na história do Egito", reconhece Meinardus, referindo-se aos 17 meses em que Tantawi dirigiu o Supremo Conselho Militar como a mais alta autoridade no Egito e concedeu aos militares amplos poderes políticos.

Nova Constituição e antigos interesses

Com a nomeação de Mansur como presidente interino, os militares não estão na linha de frente do governo. Al-Sisi ressaltou à imprensa que os militares "vão ficar longe da política".

A Constituição de forte influência islâmica, aprovada na gestão Morsi, foi revogada. Um grêmio deve preparar uma nova Constituição para o país, que deverá ser aprovada por referendo.

"Mas, por trás dos acontecimentos, ainda estão os interesses dos militares", alerta Achrainer. "O império econômico dos militares não deve ser posto em perigo, e a liderança do país não deve se intrometer nos assuntos das Forças Armadas", resume. No governo Morsi, os militares sentiram seus interesses ameaçados e decidiram intervir.

Acordo de comércio livre UE-Estados Unidos: Apesar de indignada, a Europa aceita negociar



El Periódico de Catalunya - Presseurop

Apesar da “indignação e das grandes declarações” em torno das revelações sobre a espionagem de que a UE foi alvo por parte dos Estados Unidos, as ameaças de bloqueio das negociações do acordo de comércio livre (TTIP) foram retiradas, adianta El Periódico. De facto, as negociações deverão ocorrer na data prevista, dia 8 de julho, uma vez que o Parlamento Europeu recusou a proposta que propunha o seu adiamento e a Comissão se mostrou claramente a favor da continuidade das discussões.

No início, a Comissão mostrou alguma “hesitação, [mas] defendeu com determinação o começo iminente” das negociações, tendo em conta que a Alemanha “desistiu da ideia de utilizar esta arma política [o bloqueio] contra os Estados Unidos”, escreve o jornal. Por seu lado, o Parlamento Europeu aprovou a criação de uma Comissão das Liberdades Cívicaspara realizar uma “investigação minuciosa” sobre o assunto, que deverá apresentar as suas conclusões antes do final do ano.

Além disso, realça o diário, a UE continuará a fornecer aos Estados Unidos o acesso aos dados privados das transações financeiras dos europeus para que possam ser espionados, tratados e arquivados, tal como acontecia até agora.

ESPIONAGEM AMERICANA: POR QUE DEVE A EUROPA PROTEGER EDWARD SNOWDEN




LE MONDE, PARIS – Presseurop – imagem Joep Bertrams

Num artigo publicado em vários jornais europeus, o cofundador do WikiLeaks e o Secretário-geral dos Jornalistas sem Fronteiras argumentam que, em nome da liberdade de imprensa e do direito à informação, os Estados europeus devem conceder direito de asilo a quem deu o alerta e revelou as escutas da NSA.


A 12 de outubro de 2012, o prémio Nobel da Paz foi atribuído à União Europeia pela “sua contribuição para a promoção da paz, da reconciliação, da democracia e dos Direitos do Homem na Europa”. A Europa deve estar à altura e demonstrar a sua vontade de defender a liberdade de informação, quaisquer que sejam os medos e as pressões políticas do seu “melhor aliado”, os Estados Unidos.

Quando Edward Snowden, o jovem norte-americano que revelou os dispositivos de vigilância mundial PRISM, pediu asilo a duas dezenas de países, os Estados da União Europeia, principalmente a França e a Alemanha deveriam ter-lhe concedido apoio, fosse sob que estatuto fosse.

Se os Estados Unidos continuam a ser um dos países do mundo com um elevado ideal de liberdade de expressão, a sua atitude relativamente aos informadores é claramente contrária à primeira adenda da sua Constituição.

Desde 2004 que o relator especial das Nações Unidas para a liberdade de expressão, o seu homólogo na Organização dos Estados americanos e o representante da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) para a liberdade dos meios de comunicação apelam em conjunto aos governos para protegerem os promotores de fugas de informação contra “todas as sanções jurídicas, administrativas ou profissionais, desde que tenham agido de boa-fé”.

Os informadores eram definidos como “indivíduos que comunicam informações confidenciais ou secretas, apesar de vinculados, oficialmente ou doutra forma, a preservar a confidencialidade ou o segredo”. Em 2010 a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa afirmava que “a definição das revelações protegidas deve incluir todos os avisos feitos de boa-fé contra vários tipos de atos ilícitos”. A resolução 1729 exige que as leis abranjam “aqueles que revelem segredos, tanto públicos como privados, incluindo os membros das forças armadas e dos serviços secretos”.

Traidor ou informador?

À exceção dos amadores da caça ao homem, que o acusam de ser um traidor à pátria, e dos sofistas que emaranham os debates com argumentos jurídicos, quem pode seriamente contestar que Edward Snowden não é um informador? O antigo informático divulgou junto da imprensa internacional – Washington Post, The Guardian e Der Spiegel – a existência de um sistema de vigilância que atinge dezenas de milhões de cidadãos, nomeadamente europeus.

Afetados por um dispositivo que atenta contra a sua soberania e contraria os princípios em que se fundam, os países da UE estão em dívida para com Edward Snowden, por as suas revelações serem, à evidência, de interesse público. Este jovem não pode estar abandonado na zona internacional do aeroporto de Moscovo sem que isso represente para os países europeus um abandono dos seus princípios e de parte da razão de ser da própria UE. Seria inconsequente começar com choraminguices diplomáticas e deixar cair quem faz revelações.

Além de ser necessário proteger os promotores de fugas de informação, a proteção da vida privada é do interesse público, nomeadamente quando se trata da liberdade de informação. Num relatório de 3 de junho, Frank La Rue, relator especial das Nações Unidas para a liberdade de expressão, afirmava que “a proteção da vida privada é o corolário da liberdade de expressão e de opinião”. A confidencialidade das trocas é uma condição necessária ao exercício da liberdade de informação.

Quando as fontes dos jornalistas são expostas (como foram as da agência Associated Press); quando os Estados Unidos recorrem, sem fundamento, à Lei da Espionagem (este texto, de 1917, foi usado nove vezes contra pessoas que revelaram segredos, seis das quais durante a presidência de Barack Obama); quando o WikiLeaks é amordaçado por um boicote financeiro; quando os colaboradores e amigos de Julian Assange não podem transpor uma fronteira americana sem serem submetidos a uma investigação exaustiva; quando o fundador e os colaboradores deste sítio na Internet são ameaçados judicialmente em solo dos EUA, não é apenas a democracia americana que está em perigo. É o exemplo democrático de Thomas Jefferson e Benjamin Franklin que deixa de fazer sentido.

Apenas palavras eloquentes?

Em nome de quem os Estados Unidos se eximem de respeitar os princípios que, eles próprios, exigem ver aplicados em todo o lado? Em janeiro de 2010, num discurso histórico, a Secretária de Estado americana, Hillary Clinton, fez da liberdade de expressão na Internet uma pedra basilar da diplomacia americana. Numa posição reafirmada em fevereiro de 2011, a mesma Hillary Clinton, relembrava então que “sobre a questão da liberdade na Internet, estamos do lado da abertura”.

Belas palavras, encorajantes para os resistentes de Teerão, Pequim, Havana, Asmara, Moscovo e tantas outras cidades. Mas como colmatar a deceção quando a enormidade da vigilância norte-americana parece rivalizar com a Grande Muralha tecnológica da China ou com a Internet nacional do regime dos mulás? A mensagem democrática e de promoção dos Direitos do Homem da Casa Branca e do Departamento de Estado perdeu crédito. Significativamente, o sítio da Amazon registou nos Estados Unidos um aumento de 6000% das vendas do livro de George Orwell 1984.

O “Big Brother” está de olho em nós e a partir de Washington. As instituições que garantem a democracia americana devem desempenhar o seu papel de contrapoder face ao executivo e aos seus abusos. O sistema do dever e do haver, o “equilíbrio de poderes”, não é apenas um chavão para leitores ávidos de Tocqueville e Montesquieu. Os membros do Congresso devem refrear o mais rapidamente possível as terríveis implicações na liberdade a pretexto da segurança trazidas pelo Patriot Act (a lei antiterrorismo adotada após o 11 de Setembro) e reconhecer a legitimidade dos homens e mulheres que fazem soar o alarme.

Whistleblower Protection Act, a lei de proteção aos que revelem segredos tem de ser corrigida e alargada para assegurar uma defesa eficaz dos que agem no interesse legítimo do público, o que não tem nada a ver com a forma como os serviços secretos interpretam os interesses nacionais imediatos.

Traduzido por Ana Marques

VISTO DA POLÓNIA

Fim da caça a Snowden

“A Europa não deve ficar indiferente ao destino de Snowden”, escreve o Gazeta Wyborcza, realçando que os europeus não devem autorizar a América a mandar o informador para a cadeia, o resto da vida, só por ter divulgado atividades que ele condena por considerá-las ilegais. Segundo o diário de Varsóvia, o problema deveria ser resolvido através de “um compromisso tácito” entre europeus e americanos:

Podiam arranjar-lhe uma Ilha de Santa Helena (como Napoleão) e deixá-lo em paz. Entretanto a América, que pouco se tem interessado pela Europa nos últimos anos, deveria começar a reconstruir as suas manchadas relações com o Velho Continente. Recordemo-nos que estamos condenados a viver uns com os outros para sempre. A América e a Europa têm problemas comuns com os terroristas e com os chineses que jogam tudo por tudo. Seria uma verdadeira catástrofe se nos esquecêssemos disso só por causa de Snowden.

Portugal: PORCARIA NA VENTOÍNHA




Fernanda Câncio – Diário de Notícias, opinião

Dava tanto mais jeito, hoje, escrever sobre o Egito. Tanta coisa para dizer, tanta reflexão para fazer, sobre o derrube, pelo Exército, de um presidente que resultou das eleições democráticas pós-revolução de fevereiro de 2011, num golpe que, incrivelmente, tem o apoio da mesma rua moderna e laica que iniciou há dois anos e meio o movimento para destituir o poder militar. Um derrube pelas armas de um Governo eleito democraticamente saudado em nome da democracia? É muito paradoxo junto. Mas é também uma coisa grandiosa, épica, para filmes de Eisenstein, com doses prodigiosas de risco, coragem e esperança. Em contrapartida, aqui a coisa está ao nível dos Malucos do Riso.

Uns tristes malucos do riso, de resto, porque o que isto suscita mesmo é tristeza e desalento. A tristeza de ver Portugal ir pelo buraco e o desalento de não saber como o evitar nem ver quem, podendo, o faça. Um Presidente reduzido a bobo palaciano, que dá posse ao que aparece mesmo quando toda a gente sabe que está a acolher uma farsa, e considera que tudo é melhor que eleições - inclusive isto. Um primeiro-ministro que no seu ricto de boca fina e olhar esvaziado se julga um predestinado, decidido a, mesmo abandonado e traído pelo seu sagrado piloto Gaspar, amarrar-se sozinho ao leme do barco para o levar, pelo mapa abjurado por aquele, ao naufrágio final. Um presidente do segundo partido da coligação que se demite com estrondo, anunciando a irrevogabilidade da decisão e explicitando ser incapaz de conviver mais com aquilo que descreve como total desconsideração, sendo a seguir mandatado pelo seu partido para se entender com quem, publicamente, lhe chamou duas vezes mentiroso (no episódio da TSU e neste da nomeação da nova ministra das Finanças). Um líder do principal partido da oposição percecionado como tão fraco e incapaz que não permite a projeção de esperança que levantaria o País. E dois outros partidos dos quais ninguém espera qualquer solução.

Sim: somos neste momento um país acabrunhado. Um país que aprendeu à sua custa o que dá acreditar que qualquer coisa é melhor do que o que está. Um país que saiu duas vezes à rua para se fazer ouvir e percebeu que lida com surdos. Um país que vê o défice com o freio nos dentes (10,6% no primeiro trimestre), o desemprego previsto (pelo Governo) de 19% para o fim do ano - este ano que nos garantiram ser o da retoma, depois de ter garantido o mesmo de 2012 -, a dívida a 127,3% do PIB, os juros quase nos 8% e a recessão estimada (por Gaspar; INE prevê pior) em 2,3% e não pode deixar de perguntar porque é que se muito menos era em 2011 apelidado de "bancarrota" isto é, na boca de banqueiros e troika, "sucesso" e "bom caminho", que não pode ser "deitado a perder". Um país que tem todos os motivos para concluir, como os egípcios que anteontem saudaram a queda de Morsi, que às vezes a democracia dá nós que ninguém sabe como desatar.

Portugal: Cavaco Silva sugere que segundo resgate se tornou mais provável nos últimos dias




SÉRGIO ANÍBAL - Público

Presidente da República defendeu que o sucesso do período pós-troika em Portugal depende da estabilidade política.

O Presidente da República mostrou-se, nesta sexta-feira, preocupado com a possibilidade de nos últimos dias se ter tornado mais provável um cenário em que Portugal não consegue obter acesso ao mercado a taxas de juro razoáveis, sendo forçado a recorrer a um segundo resgate.

Na sua intervenção inicial, esta manhã no encontro de economistas que a Presidência está a promover no Palácio de Belém, Cavaco Silva repetiu por diversas vezes que existia a possibilidade de, nos últimos dias, as probabilidades de Portugal conseguir o regresso bem-sucedido aos mercados terem mudado.

A traçar cenários para o período após a conclusão do programa de ajustamento português em Junho de 2014, o Presidente disse que "ou Portugal consegue obter financiamento nos mercados a taxas razoáveis, o que era considerado ate há poucos dias a hipótese mais provável, (...) ou verifica-se a hipótese mais negativa, a que os analistas atribuíam até há poucos dias baixa probabilidade, de se verificar uma incapacidade de Portugal recorrer aos mercados".

O Presidente salientou ainda, como uma das condições para o sucesso de Portugal no período pós-troika, a necessidade de existência de estabilidade política.

No lançamento do debate, que reúne 30 economistas portugueses de diversas universidades, Cavaco disse também que o objectivo do encontro era debater a situação após o final do programa de ajustamento, "independentemente do Governo que estiver em funções nessa altura".

Cavaco Silva tem gerido a crise política nos bastidores e na quinta-feira exigiu que o acordo entre o PSD e o CDS passe pela manutenção dos líderes dos dois partidos da coligação. O Presidente considera que não é viável um Governo de coligação em cujo Conselho de Ministros não se sentem os responsáveis máximos dos dois partidos.

O primeiro-ministro e o líder dos centristas estiveram reunidos para tentar encontrar uma base de acordo que mantenha o Governo. Passos Coelho esteve com Cavaco em Belém na quinta-feira à tarde e, no final, disse aos jornalistas que se comprometeu com o Presidente da República encontrar uma solução para um Governo estável. Nesse sentido, acrescentou que irá "aprofundar" junto de Paulo Portas e do CDS "uma forma de garantir as condições necessárias" com o objectivo de "procurar um reforço" da solução.

A actual situação política levou também a direcção do CDS a propor o adiamento do congresso previsto para este fim de semana na Póvoa de Varzim, justificando que Paulo Portas ainda está a negociar com Passos Coelho.

Entretanto, o Presidente da República remeteu para a próxima segunda-feirao início das audiências com os partidos políticos que anunciou na quarta-feira de manhã.

Portugal: Ferreira Leite teme que Governo esteja a esconder situação financeira mais grave



TSF

A antiga líder do PSD disse ontem que considera que a carta de demissão de Vítor Gaspar não é esclarecedora e e admitiu que possa estar em causa um segundo resgate a Portugal.

Manuela Ferreira Leite, no habitual comentário na TVI24, mostrou-se desconfiada, pois considera que a saída de Vítor Gaspar devia ter sido explicada.

«Mais do que qualquer outra pessoa, o ministro das Finanças sabe quais são as consequências de uma decisão desta natureza. Tenho receio que estejamos numa situação muito pior do que aquela que nos é dado saber. E que o ministro sai antes de isso ficar absolutamente claro e que sai a tempo de se poder dizer ou interpretar que essa situação grave que está para acontecer é decorrente de termos perdido o ministro das Finanças. E portanto a saída do ministro das Finanças não seria uma causa e sim uma simples consequência», afirmou.

Manuela ferreira Leite teme que a situação financiera do país «seja muito pior» do que a revelada pelo Governo e desconfia da possibilidade de um segundo resgate.

«Eu gostava por exemplo de saber o que é que o ministro das Finanças pensava sobre a possibilidade ou não de um segundo resgate. Um segundo resgate escondido? Evidentemente que pode estar escondido. Nós acabámos por não conseguir atingir nenhum dos objetivos a que nos tínhamos proposto, pode estar a preparar-se o caminho para se dizer que tudo isto aconteceu devido à ausência do ministro das Finanças», sublinhou Ferreira Leite.

A demissão de Paulo Portas suscita «exatamente a mesma dúvida», acrescentou. Para Ferreira Leite, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros pode estar «a querer saltar fora num momento em que sabe que estar dentro pode ser bastante desgastante do ponto de vista político».

Sobre a crise política, a antiga presidente do PSD classificou-a como «birras» e defendeu que não se realizem eleições antecipadas «se houver entendimento entre os partidos».

Quanto ao papel do Presidente da República, Ferreira Leite diz que «está a apadrinhar um Governo que mantenha a estabilidade».

Portugal: PRODUÇÕES NÃO FICTÍCIAS



Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

O filme da crise passou a ter Cavaco como figura fulcral

Só mais tarde se poderá, com algum rigor, fazer o historial destes dias de crise política em que dois alegados responsáveis bateram a porta com estrondo, deixando o primeiro-ministro sem número dois e sem número três.

À hora do fecho desta edição nada estava resolvido e aparentemente até havia muita coisa por esclarecer, passando pela posição final de Cavaco Silva relativamente às propostas de remodelação que Passos Coelho lhe apresentou depois de as negociar com Paulo Portas.

O Presidente quer uma solução sólida e sabe que a pressa é má conselheira pelo que não se irá importar de esperar até ao fim do congresso do CDS e às audiências com os partidos parlamentares para decidir, em última instância.

Engana-se quem acha que o Presidente é um simples verbo de encher que vai abdicar das suas prerrogativas e dos seus poderes. Não é do seu perfil. Pelo menos do ponto de vista formal, Cavaco Silva vai querer que haja uma legitimidade inquestionável de quem integrar o executivo. E isso é algo que na verdade só pode existir se estiverem os dois líderes no governo, sejam eles quais forem.

Quem tiver dúvidas que veja o que aconteceu ao governo PS/CDS que Mário Soares liderou e no qual Freitas do Amaral não quis entrar, dando a vez a Basílio Horta.

Mas para além das questões ligadas à recauchutagem do governo, importa voltar aos motivos da fuga de Gaspar e da atitude, até ver irrevogável, de Portas.

À falta de explicações substanciais há que perguntar o que é que eles sabiam que o país não soubesse para que tenham desertado daquela maneira?

Se as coisas estavam a melhorar, menos sentido fazem as suas atitudes respectivas. O que aconteceu adensa as dúvidas e o mistério sobre o estado real da economia do país, sendo lícito pensar que tudo está bem pior do que nos é dito e transmitido.

Esta forma de abandonar o barco remete para o Titanic e a fuga dos privilegiados da primeira classe, enquanto os outros passageiros eram entregues à sua sorte e a orquestra tocava sob a batuta do maestro que nesta versão foi interpretado por Passos Coelho.

Aparentemente ainda não fomos ao fundo, mas, sem um acrescento sério de maturidade por parte dos governantes executivos, dificilmente evitaremos uma ida a pique se é que ela não é já inevitável e que não é exactamente por isso que se verificam deserções que pouco terão a ver com os motivos invocados.

Vai ter de se esperar um tempo para se perceber minimamente os meandros subterrâneos dos jogos políticos dos últimos dias.

Angola: A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA



Jornal de Angola, editorial - 5 de Julho, 2013

Já temos uma lei específica sobre a violência doméstica, mas continuam a existir casos que atentam contra a integridade física e moral de mulheres, crianças, idosos ou cidadãos portadores de deficiência. E muitas acções são protagonizadas por familiares e dentro do lar.

O facto de termos uma lei que prevê penalidades contra os que cometem ilícitos criminais no seio familiar não constitui garantia para que os problemas da violência doméstica sejam resolvidos. O problema resolve-se em cada um de nós.

Todos os dias decorrem em Angola acções que visam mobilizar as comunidades contra a violência doméstica. Até há quem considere que existe um exagero por parte do Ministério da Família e Promoção da Mulher e instituições públicas ou privadas que batem na tecla desse mal que está a corroer por dentro as nossas famílias. Até os efectivos das Forças Armadas e da Polícia Nacional participam em seminários, conferências e sessões de esclarecimento sobre a violência no lar.

Esta é a via certa para contrapor aos traumas adquiridos durante décadas de uma guerra que foi desencadeada por quem tinha como objectivo a violência gratuita e fazia da política um acto bélico e das pessoas alvos a abater.

Foi bom o Parlamento ter produzido uma lei contra a violência doméstica, mas é necessário que, além  desse diploma legal, haja acções que, promovidas por instituições da sociedade civil e mesmo do Estado, sejam orientadas para a promoção da harmonia no seio das famílias.

A estabilidade das famílias é fundamental para a nossa sociedade. É no seio familiar que se educam as crianças e se transmitem os valores que sustentam uma sociedade equilibrada e sadia. Não é admissível que exista violência neste espaço de comunhão e partilha. Mas existe e temos de encarar esta realidade sem meter a cabeça debaixo da areia. Existe a todos os níveis e em todos os estratos sociais.

O legislador ordinário produziu a Lei Contra a Violência doméstica, na perspectiva de assegurar que sejam protegidas as pessoas vulneráveis. E muito particularmente dentro do lar.

A lei existe, está em vigor, e pelos dados que são conhecidos, em alguns meios da sociedade angolana a violação da integridade física das pessoas nos lares tem diminuído de uma forma significativa. Mas há ainda muitos casos, sobretudo em zonas onde a pobreza e o analfabetismo estão presentes. É para aí que devem ser dirigidos todos os esforços no sentido de resolver o problema de uma forma definitiva. E a lei por si de nada vale. É preciso apostar nas campanhas de alfabetização, redobrar esforços para incluir todas as crianças no sistema público de ensino, criar postos de trabalho e garantir a todos um rendimento mínimo que garanta a todas as famílias angolanas o mínimo para viverem de uma forma harmoniosa e equilibrada.

A Lei Contra a Violência Doméstica foi feita na perspectiva de acabar ou reduzir os casos de agressões nos lares, contra mulheres, crianças, idosos e pessoas portadores de deficiência. Queremos que em Angola os lares sejam locais em que as pessoas possam viver em harmonia e felizes.

Temos instituições que estão vocacionadas para trabalhar na educação moral e cívica dos cidadãos. É necessário traçar planos que estabeleçam programas que reduzam substancialmente o índice de violência doméstica, pelo que é imperiosa uma conjugação de esforços na assistência às famílias mais desprotegidas, no seio das quais se registam casos de violência sobretudo contra as crianças e mulheres.

Vários meses depois da lei contra a violência doméstica ter sido promulgada e publicada, é hora de se fazer um balanço para sabermos em que medida o diploma exerceu um efeito preventivo, em termos de casos de actos contra a integridade física das pessoas.
 
Os bens e as pessoas devem ser protegidos nos termos da lei. Faz bem o Estado produzir legislação que salvaguarde direitos e interesses legítimos dos cidadãos. Mas não basta apenas existirem leis bem feitas a prever penalidades para os que tenham condutas criminosas. É importante que existam acções preventivas, a fim de se evitarem os problemas.

Em consequência da violência doméstica têm ocorrido mortes e é dever de todos nós defender um bem fundamental que é vida. A defesa da vida não cabe apenas às autoridades policiais ou aos Tribunais. Os cidadãos devem colaborar denunciando todos os que possam pôr em perigo a vida das pessoas, mesmo nos seus lares.

Que continue a haver uma ampla divulgação da Lei Contra a Violência Doméstica, para que as pessoas possam conhecer o seu conteúdo, a fim de contribuírem para o combate contra todos os que põem em perigo a integridade física das pessoas. Que o Ministério da Família e Promoção da Mulher prossiga no seu papel de divulgação de valores morais e cívicos para que tenhamos em Angola lares com muita harmonia e paz.

Leia mais em PG

Angola: ZÉDU NO GOVERNO DO ZÉNU



Alfredo Muvuma – Maka Angola, opinião

As especulações sobre a eventual preparação de José Filomeno dos Santos “Zenú”, como sucessor do seu pai, José Eduardo dos Santos “Zedú”, têm-se adensado nos últimos meses.

O que não é do conhecimento público é o modo como Zenú tem estado já a participar na gestão corrente de assuntos do Estado. Exemplo recente foi a nomeação, a 6 de Maio, de Armando Manuel, então assessor económico do presidente Zedú e presidente do Fundo Soberano de Angola, para o cargo de ministro das Finanças.

Inicialmente, Zenú propôs ao pai a nomeação de Armando Manuel para o cargo de presidente do Conselho de Administração da Sonangol. Fontes da presidência referiram ao Maka Angola que José Eduardo dos Santos declinou o pedido. Explicou ao filho a falta de capacidade técnica e arcaboiço político de Armando Manuel para gerir a complexa teia de engenharias financeiras, negócios e intrigas políticas da Sonangol.

Como compromisso, Zenú avançou, então, com a proposta de nomeação de Armando Manuel para ministro das Finanças, ao que o presidente concordou.

Um dos objectivos pretendidos por Zenú, com a indicação de Armando Manuel para PCA da Sonangol, seria o controlo da petrolífera nacional. O Fundo Soberano, actualmente presidido por Zenú, recebe a sua dotação orçamental da Sonangol. Por sua vez, esta empresa estatal já colocou à disposição do referido fundo o montante de US $5 biliões. O actual PCA da Sonangol, Francisco de Lemos, é referido como uma figura “complicada”, por Zenú, por requerer algumas explicações sobre certas transacções envolvendo a Sonangol ou fundos provenientes desta.

Mas no exercício das suas funções no Ministério das Finanças, através da qual a Sonangol deverá encaminhar as suas receitas, Armando Manuel cumpre já com o papel de ministro do Zenú e não do Zedú. É ao primeiro a quem presta contas, num acto de partilha de poder entre pai e filho.

Para garantir o seu poder pessoal, Armando Manuel tem estado a fazer constar ao seus altos funcionários que é um alto quadro dos Serviços de Inteligência e Segurança de Estado em missão de serviço no Ministério das Finanças. Na realidade, Armando Manuel actua como o primeiro ministro de Zenú, na transferência gradual de poder de pai para filho.

A ascensão de Zenú, como o filho eleito do presidente, tem sido marcada também nas cerimónias presidenciais, no palácio da Cidade Alta, onde frequentemente surge por detrás do pai e da primeira dama, acompanhado da sua esposa.

É também notada a decrescente influência de Tchizé dos Santos e de José Paulino dos Santos, filhos do chefe de Estado e de Milucha Abrantes, a actual presidente do Agência Nacional de Investimentos Privados (ANIP).

Recentemente, o antigo director do Instituto Nacional de Estradas de Angola (INEA), Joaquim Sebastião, manifestou-se disposto a oferecer US $30 milhões a uma das filhas do presidente, para que esta convencesse o seu pai a nomeá-lo ministro da Construção. A tentativa de corrupção de Joaquim Sebastião, que amassou uma fortuna superior a um bilião de dólares, enquanto director do INEA, foi um fracasso.

A entrada de Armando Manuel no Ministério das Finanças também significa o fim da influência da primeira-dama Ana Paula dos Santos, cujo cunhado, Carlos Lopes, exerceu as funções de ministro da pasta até Maio passado. Carlos Lopes é marido da irmã da primeira-dama, Artemísia Cristóvão de Lemos Lopes, que, por sua vez, exerce o cargo de sub-directora da direcção de Estatísticas do Banco Nacional de Angola.

Com o poder crescente de Zenú, o vice-presidente Manuel Vicente continuará a fazer o papel formal de candidato à sucessão, na qualidade de “lebre de corrida”.

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FRENTE-A-FRENTE GUEBUZA-DHLAKAMA: LOCAL DO ENCONTRO NO POMO DA DISCÓRDIA




Jornal Notícias (mz) - Maputo, Sexta-Feira, 5 de Julho de 2013

AS delegações do Governo e da Renamo, reunidas ontem, na capital do país, em sessão extraordinária do diálogo político em curso, não chegaram a acordo sobre o local da realização do encontro, ao mais alto nível, entre o Presidente da República, Armando Guebuza, e o líder do maior partido da oposição no país, Afonso Dhlakama. 

As partes também não se entenderam sobre a questão prévia colocada pelo Executivo relativa à desmilitarização da Renamo.

No início desta semana, o porta-voz do Presidente da República, Edson Macuácua, anunciou a disponibilidade do Chefe do Estado em manter um encontro com o líder da Renamo próxima semana em Maputo.

Em conferência de Imprensa havida quarta-feira em Sathundira, distrito de Gorongosa, Afonso Dhlakama reafirmou estar disponível para um encontro aberto e produtivo com o Chefe do Estado, mas colocou duas condições. A primeira é que o encontro poderá ter lugar em Maputo se houver garantias de segurança que passam pela retirada da Força de Intervenção Rápida (FIR) do perímetro de Satungira onde se encontra aquartelado.

A segunda, que o encontro se realizaria em Gorongosa, se as garantias da primeira condição não fossem concretizadas.

Na sessão extraordinária do diálogo ontem havida em Maputo, o chefe da delegação da Renamo, Saimone Macuiana, disse ter manifestado ao Governo a disponibilidade imediata de Afonso Dhlakama em se encontrar com o Presidente da República na capital do país, desde que sejam retiradas as forças armadas estacionadas em Gorongosa, como primeira possibilidade.

A outra é a de que o Chefe do Estado se desloque à sede do distrito de Gorongosa para o mesmo efeito. “Portanto, queremos aqui reafirmar que o presidente da Renamo está disponível a se encontrar com Sua Excelência o Presidente da República para o devido diálogo em nome dos superiores interesses do povo moçambicano”, disse Saimone Macuiana.

Por seu turno, o chefe da delegação do Governo, José Pacheco, afirmou que em relação à questão prévia sobre o desarmamento da Renamo e disponibilidade do Presidente da República para o diálogo, a delegação do maior partido da oposição ensaiou ignorá-las. Na questão sobre o desarmamento, segundo José Pacheco, a delegação da Renamo disse que não era relevante, que não fazia parte da agenda e que se fosse o caso poderia ser programada como mais um ponto ou então remetê-la à discussão no capitulo das matérias sobre as forças de defesa e segurança.

“Nós reiteramos de forma insistente a pertinência de se tratar a questão do desarmamento pelo facto de os moçambicanos estarem a ser vítimas mortais, verem a sua integridade física ameaçada na região centro do país, assim como bens pessoais e públicos a serem danificados na região sul, por parte da acção militar da Renamo contra um objecto militar do Estado moçambicano”, explicou.

Em relação ao diálogo entre o Presidente da República e Afonso Dhlakama, segundo o chefe da delegação do Governo, inicialmente a Renamo dizia que não trazia mandato para tratar do assunto, não obstante ter recebido uma carta do Executivo. Após muita insistência sobre o interesse e a pertinência da realização do diálogo àquele nível, a Renamo acabou dizendo que também há interesse da parte do seu líder em manter um encontro com o Chefe do Estado, mas que deviam ser observadas as duas pré-condições anunciadas quarta-feira por Afonso Dhlakama.

“Nós sentimos que estamos perante uma franca falta de vontade da parte da Renamo em dialogar, em encontrar soluções para o nosso país. Primeiro não tinham mandato, e depois as condições que estão a impor são completamente desajustadas à acção das forças de defesa e segurança que visam garantir a integridade territorial, a segurança de pessoas e a protecção de bens públicos e privados. Não faz nenhum sentido a proposta da Renamo”, disse.

José Pacheco recordou que o líder da Renamo viveu em Maputo com muitas forças, mas em nenhum momento terá sido interpelado por qualquer acção das forças de defesa e segurança.

Entretanto, as partes continuaram a não se entender sobre a adopção ou não conjunta do documento contendo as propostas da Renamo de revisão da Lei Eleitoral para posterior remessa à apreciação da Assembleia da República.

Moçambique: PARTIDOS REFLETEM SOBRE A PAZ NO PAÍS



Jornal Notícias (mz) - Maputo, Sexta-Feira, 5 de Julho de 2013

A estabilidade política e a manutenção da paz em Moçambique são temas a serem discutidos hoje, em Maputo, no quadro da contribuição dos partidos políticos para a pacificação do país. 

O encontro vai reunir cerca de 40 representantes dos partidos políticos, incluindo a Frelimo, Renamo e o MDM, com representação parlamentar, e é promovido pelo Instituto Holandês para a Promoção da Democracia Multipartidária (NIMD). A iniciativa visa ampliar as iniciativas de diálogo interpartidário para questões que concorrem para o fortalecimento da democracia e a manutenção da paz, e realiza-se tendo em conta o actual momento político caracterizado por tensões que já provocaram a perda de vidas humanas e a destruição de bens públicos e privados.

Exportações de bens de Portugal para Timor-Leste subiram 74% para 3,1 milhões de euros



MBA – VM - Lusa

Lisboa, 04 jul (Lusa) - As exportações de bens para Timor-Leste subiram 73,9% no primeiro quadrimestre deste ano, para 3,1 milhões de euros, o que melhorou a balança comercial em 57,5%, para 2,7 milhões de euros, segundo a AICEP.

Os dados sobre o comércio internacional português, compilados pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal com base nos números do Instituto Nacional de Estatística e do Banco de Portugal, e a que a Lusa teve acesso, revelam que no caso de Timor-Leste, cujos únicos dados disponíveis se referem à transação de bens (ao contrário dos restantes, em que entram também os serviços), as vendas portuguesas tiveram uma fortíssima subida, impulsionada pela venda de livros, aparelhos elétricos para telefonia ou telegrafia, vinhos e azeite, as quatro categorias de produtos mais exportados.

Assim, as vendas de Portugal para aquele país passaram de 1,8 para 3,1 milhões de euros, ao passo que as importações cresceram quase 400%, passando de 88 mil euros para 436 mil euros, nos primeiros quatro meses deste ano.

No total, o saldo da balança comercial entre Portugal e os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) diminuiu de 784 para 536 milhões de euros nos primeiros quatro meses deste ano, de acordo com os dados da AICEP.

As exportações de bens e serviços para os países da CPLP aumentaram 6,4% de janeiro a abril, para 2,1 mil milhões de euros, mas as importações subiram 7,7%, para 1,6 mil milhões, fazendo o saldo da balança comercial diminuir 31,6%, de 784 para 536 milhões de euros.

De acordo com os dados, a maior variação percentual ocorreu na exportação de bens e serviços para São Tomé e Príncipe, com um aumento de 15,7%, para 19 milhões de euros, mas em termos nominais é Angola o país dominante.

No caso das importações, a maior variação percentual aconteceu na relação comercial com o mesmo país, com um aumento de 252,6%, passando as compras portuguesas em São Tomé a valerem 3,7 milhões de euros no primeiro quadrimestre deste ano, contra 1,052 milhões nos primeiros quatro meses do ano passado.

Leia mais sobre aquela região do mundo, Macau e Timor-Leste em TIMOR LOROSAE NAÇÃO

O ÚLTIMO ACTO DUM VASSALO



Martinho Júnior, Luanda

1 – O Ministro dos Negócios Estrangeiros demissionário de Portugal, Paulo Portas, realizou duas visitas à Venezuela durante o período que esteve à frente da diplomacia do governo de coligação português.

Durante essas visitas, Paulo Portas procurou manter em velocidade de cruzeiro os relacionamentos bilaterais que foram incrementados pelo governo anterior do socialista José Sócrates.

Isso não passou despercebido a alguns e, de entre as apreciações a essas visitas, evidencio esta, recolhida do blog Clarinet, com um autor que não pôde resistir nem à ironia, nem à verdade, nem ao facto subtil de ser possível uma melhor colagem entre o actual PS e o CDS, do que entre o PSD e o CDS:

(…) “Paulo Portas é um bluff como vendedor diplomático, não tem carteira de clientes. Anda no fundo a bater às portas que outros abriram. Foi à Líbia para ver se não fugiam os acordos anteriormente firmados com Kadhafi e agora está a fazer o mesmo na Venezuela, usufruindo do trabalho feito pelo governo de José Sócrates.

Trabalho esse ridicularizado e até considerado de lesa democracia não só por políticos (de várias áreas), como também por jornaleiros e blogueiros, que estão com dificuldades em engolir a afronta agora feita pela sua gente. Leia-se aqui as fortes preocupações com que a embaixada norte-americana via as relações do nosso anterior governo com a Venezuela, segundo um documento divulgado pela WikiLeaks. Estavam preocupados pela imagem cordial dos encontros e pelo crescente reforço militar da Venezuela. 

Podemos informar a embaixada dos EUA, e Companhia, sem passarmos por delatores, que isto de negócios de equipamento militar tem sido mais profissão de Paulo Portas do que de José Sócrates. Já agora, se Paulo Portas vendesse os seus submarinos a Chávez, (que precisa mais deles que nós) fazia um grande favor aos portugueses – era menos tralha para nós pagarmos”.

Aparentemente as duas viagens confundiram as sensibilidades dos mentores e tutores da hegemonia e Paulo Portas, ainda que presente na reunião do “Bilderberg” em Londres em princípio de Junho do corrente, ficou a dever uma “prova de força diplomática”… em jeito de vassalagem…

2 – A oportunidade para “prestar vassalagem” de forma mediática à hegemonia, como um “bom Bilderberg”, à medida que se deterioravam as relações com Passos Coelho, foi entretanto ficando cada vez mais curta, mas para felicidade de Paulo Portas as coisas ocorreram de feição e vieram ter às suas mãos à justa, praticamente momentos antes do seu pedido de demissão:

O avião presidencial do Presidente boliviano Evo Morales precisava de fazer uma escala técnica para reabastecimento em Lisboa na sua viagem de Moscovo de regresso à América Latina e o “espantalho inadvertido” da presença a bordo de Edward Snowden foi utilizado para, ao mesmo tempo que a França e a Espanha, Paulo Portas, enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros português, proibir a aterragem da aeronave presidencial, que só o pôde fazer em regime de emergência em Viena, bastante longe do Atlântico e da ponta mais ocidental da Europa!

É evidente que a medida feriu a América Latina ciosa da construção de sua integração e muito em especial os países que compõem a ALBA, o que está a merecer uma tomada de posição comum para fazer face à afronta.

O governo venezuelano considerou que a decisão infundada da França, de Portugal e da Espanha pôs em risco a vida do Presidente Evo Morales, violando por outro lado os direitos do tráfego aéreo.

Em resultado, não seria de admirar que o governo venezuelano respondesse agora com uma revisão das suas relações bilaterais com Portugal, ao contrário do interesse comum, mas sobretudo do interesse de Portugal!

3 – De facto Paulo Portas utilizou o “ponto de exclamação” da sua presença no governo de coligação português para se decidir a um “acto de completa e inequívoca vassalagem”, à boa maneira da idade média mental dos políticos ocidentais contemporâneos, em especial dos políticos europeus deslumbrados com os parâmetros neo liberais em vigor.

Entre os interesses legítimos de Portugal (e do povo português) e os interesses da hegemonia, Paulo Portas não deixa margem para dúvida nas suas opções, ou não fosse essa a tónica da actuação do governo de coligação e a sua própria tónica tendo em conta a ideologia que professa!

Portugal, enquanto colónia, está entregue a este tipo de vassalos da hegemonia e mais uma vez isso ficou marcado num pseudo-acto de soberania com repercussões internacionais, ainda que à custa duma cultura de bons relacionamentos com a América Latina em geral e da excelente relação bilateral que tem sido cultivada com a Venezuela!

Se alguma vez o caminho do “Bilderberg” tornar viável uma coligação PS-CDS, o PS fica com este antecedente que poderá inibir futuras diplomacias em relação à América Latina e em especial à Venezuela.

Um vassalo como Paulo Portas teve de demonstrar, ao gosto de interesses que coincidem com os da CIA, ser mais “papista que o Papa”!... vai-lhe sem dúvida no seu próprio processo genético e no seu próprio sangue, ou não fosse ele um inveterado “animal político”!...

A consultar:
- Paulo Portas proíbe aterragem de avião de Evo Morales em Portugal – http://www.esquerda.net/artigo/paulo-portas-pro%C3%ADbe-aterragem-de-avi%C3%A3o-de-evo-morales-em-portugal/28518
A não perder, para se melhor compreender os actos de vassalagem:
- The human zoo – Desmond Morris – quotes – http://roboconsumer.wordpress.com/2007/05/23/human-zoo-revisited/

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