sábado, 22 de julho de 2023

SENHORAS E SENHORES, A NATO NO SEU ESPLENDOR

Entre as novas exigências atlantistas impõe-se então que a Ucrânia proceda a «reformas democráticas e do aparelho de segurança». Disse «reformas democráticas»? Tem a certeza? Importa-se de repetir?

José Goulão* | AbrilAbril | opinião

A cimeira da NATO em Vilnius, Lituânia, gastou dezenas de horas, toneladas de papel, milhões de terabytes, esgotou o armazém de adjectivos, delapidou o inesgotável stock de fervor guerreiro de dezenas de comentadores e analistas; porém, justiça seja feita, conseguiu não se desviar da narrativa delirante, espécie de terrorismo intelectual com que continua a guerrear pela sobrevivência xenófoba do «nosso ADN civilizacional e cultural superior».

«A nossa narrativa vence guerras!», proclamou o Daily Telegraph num irreprimível grito imperial em nome de Sua Majestade. Afinal, é a fé na ficção que nos salva, porque através desse caminho foi possível aos atlantismos personificados pela NATO obter heróicas vitórias no Vietname, no Iraque, na Síria, na própria Líbia em decomposição e em várias outras pelejas, com destaque para o Afeganistão e os «seus pastores de cabras equipados com Kalachnikov», como ironizam algumas vozes nos Estados Unidos.

A «narrativa» descobre sempre a vitória nos escombros dos desastres militares. Assim é também na Ucrânia, onde a NATO está às portas da derrota no terreno, e por isso alega que não se considera em guerra com a Rússia (assim o diz o comunicado final da cimeira), valendo-lhe, uma vez mais, a tal fé inabalável na narrativa de vitória para garantir que cada ucraniano sacrificado sem dó nem piedade é um enorme passo em frente na triunfante defesa dos «nossos interesses» e da «democracia».

CENOURA OTAN

Hassan Bleibel, Líbano | Cartoon Movement

INSCRIÇÃO IMPOSSÍVEL!

Portugal | O PS não é socialista e o PSD não é social democrata

Tiago Matos Gomes* | Diário de Notícias | opinião

Olhar para os nomes e símbolos dos principais partidos portugueses é, por um lado, uma viagem no tempo e, por outro, verificar como são desadequados às suas políticas e ao seu eleitorado. Mas que em parte a sua manutenção serve a narrativa de alguns dos seus adversários.

Começando pelo partido do governo. Alguém intelectualmente honesto pode considerar o Partido Socialista como sendo socialista? O símbolo (também ele ultrapassado - e do qual nem Mário Soares gostava, como revelou décadas mais tarde após a fundação do PS) bem pode ter um punho fechado, mas as lutas dos "socialistas" sempre foram bem moderadas e muito alinhadas com toda a ideologia e prática dos partidos sociais-democratas europeus. Nunca o PS, nem mesmo nos anos seguintes à sua fundação, pós-1973, foi um verdadeiro partido socialista. Nem os seus dirigentes alguma vez foram socialistas, nem as bases do partido alguma vez foram socialistas, nem o seu eleitorado alguma vez foi maioritariamente socialista, ainda que o PS capte voto útil à esquerda mais radical.

É verdade que a partir de certa altura os dirigentes do PS começaram a dizer que eram socialistas democráticos, para distinguir o PS do PCP, esse sim pertencente ao socialismo real, uma espécie de sinónimo de comunismo. O problema é que "socialismo democrático" é uma contradição de termos. Se é socialista não é democrático, se é democrático não pode ser socialista. O PS é um partido social democrata, moderado, de centro-esquerda, que defende uma democracia liberal e que convive bem com o capitalismo, desde que muito regulamentado.

É por isso que se torna inverosímil a narrativa da Iniciativa Liberal, fazendo uma divisão entre socialistas e liberais, como se PCP, BE, PAN e PS (às vezes incluindo o PSD) fossem todos socialistas. E afirmando que vivemos num país socialista, o que está muito longe de ser verdade. Países socialistas são Cuba e Venezuela, para lembrar os mais óbvios. Portugal, retirando o curto período do PREC, nunca teve nada parecido com um regime socialista.

Portugal | PS RECUPERA PRIMEIRO LUGAR, CHEGA E BLOCO EM CRESCENDO

Luís Montenegro não conseguiu aproveitar a crise do Governo e fica a um ponto de António Costa. André Ventura reforça terceiro posto, mas quem mais sobe é Mariana Mortágua.

Rafael Barbosa | Diário de Notícias

Durou pouco a liderança virtual social-democrata. De acordo com a mais recente sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, se houvesse eleições o PS ficaria em primeiro lugar, mas longe de uma maioria absoluta (28,8%). O PSD seria o segundo (27,7%). O Chega reforça o terceiro lugar (13%), mas a maior recuperação é a do Bloco de Esquerda que, com Mariana Mortágua sobe quase dois pontos relativamente à projeção de abril passado (8%), afastando-se dos liberais, que continuam em perda (5,2%). Seguem-se PAN (3,8%) e CDU (3,2%), ambos a cair, o Livre (2,7%) e, no fundo da tabela, o CDS (1,1%).

Se considerarmos a "margem de erro" da sondagem, o que se regista é, na verdade, um empate técnico. Os dois maiores partidos estão, pelo menos desde o barómetro de janeiro passado, altura em que a diferença começou a ser quase irrelevante, numa luta taco a taco pela liderança. Com vantagem para os socialistas, uma vez que os sociais-democratas só uma vez estiveram em primeiro lugar, em abril passado, e por escassas três décimas. Agora lideram os socialistas por um ponto.

Sem razões para sorrir

Quando se fazem outras contas e se acrescentam dados qualitativos, a balança pende, sem margem para dúvidas, para o socialista António Costa: está bastante à frente de Luís Montenegro na confiança dos portugueses, que também o consideram mais competente, solidário e influente que o social-democrata. São, provavelmente, as vantagens de estar no poder e conseguir, dessa forma, uma notoriedade que não se compara à de um líder da Oposição que não tem sequer assento no Parlamento. 

Se, relativamente aos resultados de abril, as diferenças são insignificantes, quando se faz a comparação com as legislativas de janeiro de 2022, nenhum tem razões para sorrir. Costa porque perde quase 13 pontos e fica sem hipótese de repetir a maioria absoluta , Montenegro porque, apesar da crise no Governo, não consegue sequer repetir o resultado de Rui Rio (fica ponto e meio mais abaixo).

ELEIÇÕES EM ESPANHA - RUMO AO FASCISMO?

Jorieri | Freepik

Eleição geral em 2023. Eleitor e urna, em Espanha. Rumo à extrema-direita?

Espanha–Eleições | Sánchez pede "último esforço" para "travar direita e ultra direita"

As eleições em Espanha estão marcadas para amanhã, domingo. Este sábado (hoje) é dia de reflexão. Na última sondagem os socialistas espanhóis só conseguem o segundo lugar, atrás do PP, de direita, que poderá aliar-se ao VOX partido da extrema-direita e fascista para obter maioria absoluta e governarem a seu bel-prazer e infernizar a vida dos eleitores espanhóis. Amanhã, domingo, ao fim da noite, se saberá acerca dos resultados.

O primeiro-ministro e líder do Partido Socialista de Espanha, Pedro Sánchez, pediu na sexta-feira, fim da campanha eleitoral, aos espanhóis para irem votar no domingo, num "último esforço" para "travar a direita e a ultra direita" no país.

"Há muitos argumentos para termos mais quatro anos de avanços e de governo progressista. Por isso, o que vos posso pedir é que façamos um último esforço e dizer àqueles que estão indecisos, (...) sobretudo, os que estão indecisos entre ir ou não votar, que é um dia só e [depois] quatro anos de avanço e travamos o retrocesso. Um dia só", afirmou.

Sánchez falava num comício em Getafe, no sul de Madrid, no encerramento da campanha do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) das legislativas de 23 de julho.

"No próximo domingo, em 23 de julho, todos a votar, em frente, vamos ganhar as eleições, vamos travar a direita e a ultra direita, que ninguém fique em casa", insistiu, num discurso em que pediu aos eleitores para apostarem "tudo no vermelho", a cor do PSOE.

MANOBRAS MULTIPOLARES NO INDO-PACÍFICO -- MK Bhadrakumar

Em meio à crescente  cooperação comercial e econômica na região,  MK Bhadrakumar analisa como os países menores estão tentando evitar as tentativas de Washington de causar atrito entre eles e a China.

MK Bhadrakumar* | no Indian Punchline | em Consortium News | # Traduzido em português do Brasil

Na segunda-feira, ao fazer o  discurso principal  na Cúpula anual de negócios da China realizada em Auckland, o primeiro-ministro da Nova Zelândia, Chris Hipkins, opinou sobre a dinâmica de poder no Indo-Pacífico. 

A estimativa da Nova Zelândia é importante porque é um pequeno país no Pacífico Sul fortemente dependente do comércio com a China para preservar sua prosperidade e ainda um dos Cinco Olhos (juntamente com os EUA, Reino Unido, Austrália e Canadá), o exclusivo grupo de segurança secreta de países anglo-saxões. 

O discurso de Hipkins ocorreu apenas três semanas após seu retorno de Pequim em uma visita oficial com uma delegação empresarial, quando se encontrou com o presidente da China, Xi Jinping.

Nesse ínterim, Hipkins havia acabado de voltar da Cúpula da OTAN em Vilnius na semana passada. Os primeiros-ministros da Nova Zelândia começaram a participar das cúpulas da OTAN desde o ano passado como um dos “IP4”, os quatro parceiros Indo-Pacífico da aliança (juntando-se à Austrália, Japão e Coreia do Sul).  

A leitura chinesa   da reunião de Xi com Hipkins em Pequim em 27 de junho atribuiu as seguintes observações a este último:

“Ele [Hipkins] disse que a Nova Zelândia valoriza suas relações com a China… (e) acredita que as relações bilaterais não devem ser definidas por diferenças, e é importante que os dois lados tenham uma comunicação franca, respeito mútuo e harmonia sem uniformidade. A Nova Zelândia está disposta e pronta para manter comunicação com a China para ajudar os países insulares a se desenvolverem.” 

Mas em Auckland na segunda-feira, Hipkins acrescentou advertências:

“A ascensão da China e como ela procura exercer essa influência também é um dos principais impulsionadores da crescente competição estratégica, particularmente em nossa região mais ampla, o Indo-Pacífico. Nossa região está se tornando mais contestada, menos previsível e menos segura. E isso representa desafios para pequenos países como a Nova Zelândia, que dependem da estabilidade e previsibilidade das regras internacionais para nossa prosperidade e segurança”.

O que emerge é que os conceitos tradicionais de segurança de balanceamento e band-wagoning são insuficientes para entender como estados menores como a Nova Zelândia estão respondendo à rivalidade EUA-China. (Veja o comentário do USIP  Nova Zelândia se aproxima da OTAN com um olhar cauteloso .)

Este também foi o leitmotiv das escolhas de política externa e de segurança exibidas pela cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático e eventos relacionados em Jacarta no último fim de semana.

A África do Sul estragou a ótica de seu compromisso do BRICS com a Rússia

Andrew Korybko* | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil

O que Pretória deveria ter feito era jogar com calma, recusar-se a ceder ao circo da mídia em torno da próxima cúpula e discutir abertamente tudo com o bloco a portas fechadas. Isso teria mantido as aparências para todas as partes envolvidas e facilitado a possibilidade de transferir totalmente o evento para um formato online sem qualquer explicação necessária. Em vez disso, a África do Sul desacreditou sua própria integridade e a dos BRICS depois que seu comportamento pouco diplomático impossibilitou a implementação tranquila desse plano de backup, resultando assim em uma vitória política ocidental.

A África do Sul anunciou na quarta-feira que o presidente Putin participará virtualmente da Cúpula dos BRICS no próximo mês, em vez de pessoalmente, como originalmente planejado. O porta-voz do presidente Cyril Ramaphosa confirmou mais tarde que isso foi acordado por causa das “obrigações legais de Pretória para com o Estatuto de Roma” depois que o TPI emitiu um mandado de prisão do líder russo. Portanto, não existe base para especular que havia qualquer outro motivo, como muitos na Alt-Media Community (AMC) afirmaram desde então nas mídias sociais.

Se houvesse ameaças críveis à vida do presidente Putin a caminho daquele país ou enquanto lá, o Kremlin teria informado a comunidade internacional sobre elas para aumentar a conscientização sobre a conspiração especulativa do Ocidente para assassiná-lo e, assim, desacreditar essa ameaça de fato. Fria A Rússia revelou anteriormente que destruiu uma célula terrorista que queria assassinar a chefe do RT, Margarita Simonyan, então não faria sentido encobrir uma conspiração supostamente muito maior pertencente ao presidente Putin.

A outra explicação que está sendo cogitada pelo AMC, alegando que o líder russo está muito ocupado gerenciando a operação especial para viajar para qualquer lugar no exterior, é desacreditada pelo fato de ele ter ido para a Central Ásia e ao Irã . no ano passado, apesar da situação no campo de batalha ser muito mais séria naquela época. É importante desmascarar essas teorias da conspiração para que as pessoas não sejam enganadas por elas e concordem com a mídia tradicional (MSM) de que é bom que ele não venha para a África do Sul no mês que vem.

Alt-Media Needs To Stop Overdosing On Copium & Finalmente Reconheça a Realidade ”, cujo conselho pode ser aplicado neste contexto simplesmente reconhecendo que o último anúncio é um revés, mas sem cair na armadilha do MSM de abraçar narrativas de “desgraça e melancolia” após esta decepção. O BRICS continuará acelerando gradativamente os processos de multipolaridade financeira em paralelo com seus membros e Estados parceiros em sua rede ampliada, contando mais com moedas nacionais em seu comércio bilateral.

Angola | ERROS CAPITAIS E DANOS FATAIS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Primeiro erro capital. Um grupo de notabilíssimos membros do MPLA exigiu que José Eduardo dos Santos não levasse o seu mandato de líder do partido até ao congresso como mandam os estatutos. Correcto teria sido aproveitar o desfasamento entre as eleições gerais e as eleições partidárias. Os dirigentes tinham tempo de criar autonomia e não serem uma espécie de secretários de segunda linha, do Presidente da República. A sede do partido deixava de ser um anexo do Palácio da Cidade Alta. Os danos desse erro estão a revelar-se fatais, até para a unidade do “Eme”.

João Lourenço foi ao saco dos despojos e de lá retirou Fernando Garcia Miala, fazendo dele o rosto da vingança contra José Eduardo dos Santos, familiares mais as figuras políticas e militares que lhe eram próximas. Este erro capital, o segundo, causou um dano que vai ser difícil reverter. A disputa do cadáver do anterior Chefe de Estado vai ficar nos anais da história universal da infâmia. Está aberto o caminho para o presidente de turno perseguir todas e todos que sirvam o seu antecessor. Os danos são irreversíveis. O próprio Fernando Miala é um dano incomensurável.

O combate à corrupção é um emblema que fica bem na lapela de qualquer Presidente da República. Mas o sistema capitalista morre se não existir a exploração de quem trabalha, a corrupção e o roubo que pode ir até às formas violentas de latrocínio. Fazer desse floreado político o único objectivo do mandato presidencial é um erro capital, o terceiro, que teve como principal dano a falência das políticas sufragadas pelo eleitorado. Leiam o último comunicado do Bureau Político do MPLA antes que a falência atinja o próprio partido.

 O dia 1 de Junho de 2019, em Lopitanga, registou o quarto erro capital de João Lourenço e sua equipa (ainda acredito que não está sozinho…). O Presidente da República nunca devia ter permitido que o cadáver do criminoso de guerra Jonas Savimbi fosse transladado e se fizesse o segundo funeral. Este disparate foi justificado com razões humanitárias. As autoridades angolanas podiam permitir a operação de propaganda da UNITA, se o partido devolvesse os corpos de todas as vítimas, desde as elites femininas a altos dirigentes assassinados por Savimbi. Dar a um bando de assassinos a certeza de total impunidade é um erro capital. Os resultados nefastos estão à vista.

Quinto erro capital. João Lourenço transformou os assassinos do 27 de Maio de 1977 em vítimas e as vítimas em assassinos. Os membros da direcção política e militar do golpe de estado foram julgados em tribunal marcial, condenados e executados. Porque decapitaram a cúpula das FAPLA. Porque se levantaram em armas contra o MPLA. Porque desencadearam um golpe militar quando o país estava em guerra. Porque se aproveitaram das debilidades de um Estado que tinha nascido do nada e pouco tinha avançado. Este erro capital já teve graves consequências mas vem aí mais e mais grave. Leiam com atenção o último comunicado do Bureau Político do MLPA. Mas leiam mesmo!

Angola arresta aviões, prédios, um Lamborghini e até um spa

Angola apreendeu e arrestou bens de luxo como aviões, edifícios em Wall Street e Dubai e um Lamborghini, mas também um centro para estágios de futebol e um SPA, no âmbito do combate à corrupção.

Estes bens e ativos, que não estão ainda a ser geridos pelo governo de Angola, aguardando uma decisão judicial definitiva, constam da lista atualizada disponível no site da Procuradoria-Geral da República de Angola, separados por bens apreendidos, arrestados e recuperados.

A lista, consultada pela Lusa, apresenta 219 bens e ativos recuperados, 167 arrestados e 521 apreendidos, incluindo mais de 500 milhões de euros em dinheiro em Portugal, país onde Angola deverá passar a gerir vários imóveis em Lisboa, Porto e Santarém, um apartamento em Rio de Mouro, nos arredores da capital, e vivendas no Algarve, entre outros, caso ganhe os processos que correm em tribunal.

O site da PGR apresenta a descrição do bem, o valor, o fiel depositário, a situação atual e o ano, não especificando quem era o anterior proprietário, sendo que, por exemplo, entre os bens apreendidos estão 30 relógios no valor de 2,6 mil milhões de dólares que estão desde 2021 'à guarda do fiel depositário', o Banco Nacional de Angola, ou o condomínio Tambarino, em Benguela, no valor de 138 milhões de dólares, cujo fiel depositário é o Banco de Poupança e Crédito.

Entre os bens apreendidos está um Lamborghini, apreendido em 2021 que, à semelhança de outras dezenas de veículos de marcas de luxo, iates, camiões, motas de água, atrelados e jipes, aguarda ainda avaliação.

Para além dos veículos, Angola arrestou também, no âmbito do combate à corrupção, camiões, escolas, vivendas no Algarve, apartamentos de luxo em Lisboa, Cascais e Santarém, um parque de estacionamento em Huíla, dezenas de hotéis, um centro de tratamentos e SPA, um centro de hemodiálise em Luanda, 49% das ações do Standard Bank em Angola (no valor de 117 milhões de euros) e até um centro de estágio de futebol em Cacuaco, que está afeto a uma instituição pública.

Entre os bens arrestados pelas autoridades angolanas estão, de acordo com a lista disponível no site da PGR, várias aeronaves, um hotel na China avaliado em 25 milhões de dólares, dois edifícios no valor de 130 milhões de dólares em Singapura, para além do ativo mais valioso de toda a lista, o edifício de quatro andares em Wall Street, Nº 23, avaliado em 450 milhões de dólares, arrestado no ano passado, e cujo fiel depositário é a China Sonangol International.

Isto, claro, para além de muitos milhões de dólares, libras, euros e kwanzas, dos quais mais de 500 milhões de euros foram arrestados em Portugal, em apreensões que vão desde os 484 euros até montantes muito significativos, com valores únicos de 51,9 milhões de euros, 71,9 milhões ou de 102,6 milhões de euros, a apreensão única mais valiosa em Portugal na lista dos ativos arrestados, disponível no site da PGR.

Entre os ativos arrestados estão também os 26% das ações da NOS, que se juntam aos 42,5% das ações do Banco Euro BIC, 51% das participações sociais no Banco Fomento Angola e 42,5% das ações no Banco BIC, cujos fiéis depositários são os conselhos de administração das empresas.

A lista do Serviço Nacional de Recuperação de Ativos (Senra), publicada na segunda-feira, inclui 219 bens e ativos recuperados, apreendidos ou arrestados, parte dos quais relacionados com processos ainda em curso, num total de 19 mil milhões de dólares (17 mil milhões de dólares).

Destes, 7 mil milhões de dólares (6,2 mil milhões de euros) correspondem a bens recuperados e cerca de 12 mil milhões de dólares (10,6 mil milhões de euros) foram apreendidos ou arrestados.

Na semana passada, a diretora do Serviço Nacional de Recuperação de Ativos (Senra), Eduarda Rodrigues, disse que foram identificados, nos dois últimos anos, mais 24 mil milhões de dólares (21 mil milhões de euros) nos processos em investigação sobre recuperação de bens, soma que agora ascende a 70 mil milhões de dólares (62 mil milhões de euros).

Deutsche Welle | Lusa

Angola | Pedido de destituição do PR é "muito interessante", diz Marcolino Moco

O ex-primeiro-ministro angolano (na foto) considerou "muito interessante e de grande alcance" a iniciativa de destituição do Presidente angolano, afirmando que o pedido indica "aspetos muito graves" que se passam em Angola.

Marcolino Moco, ex-primeiro ministro angolano comentou hoje (21.07) a iniciativa de destituição do Presidente de Angola. "Em termos políticos, não há dúvidas que é uma iniciativa muito interessante, pelo menos através desta atitude está a se a chamar a atenção a aspetos muito graves que se estão a passar no país por iniciativa do Presidente da República, João Lourenço", afirmou.

Moco salientou ainda que o seu comentário não visa defender se o Presidente angolano deve ou não ser destituído do cargo, mas que a iniciativa legislativa da UNITA"vem a altura de, pelo menos, sacudir a sociedade nacional e internacional no sentido de alertar que o que se passa em Angola é muito grave".

"O Presidente (da República) João Lourenço está a matar os mecanismos judiciais de forma acintosa, à luz do dia, toda a gente a ver", alerta Marcolino Moco, salientando ainda que com os seus despachos o chefe de Estado angolano está a criar "um grande monopólio económico".

Para o ex-primeiro ministro, através dos despachos presidenciais, João Lourenço, reeleito em 2022 para um segundo mantado de mais cinco anos, "está a puxar a brasa para toda a sua sardinha, em termos económicos, sem olhar para as consequências". "Estou a me referir ao grande monopólio económico que ele está a criar, está a empobrecer o país e a congelar o sangue do país: a moeda não circula, a fome, a indigência, o desemprego aumenta", acrescenta.

Angola | Tragédia Humanitária Anunciada -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Até os burros não mudam mas mudar pode ser para pior ou nada valer. Um amigo disse-me que Jaime Nogueira Pinto mudou desde que acampou no Morro da Cal, durante a Batalha de Kifangondo, como terrorista e assassino do ELP. Desde a fronteira com o Zaire de Mobutu até aos arredores de Luanda, a organização deixou um rasto de morte e destruição. Agora já não é terrorista nem assassino. Tornou-se um amigo de Angola. 

Adoro ter amigos que ainda acreditam no Pai Natal. Lá na nossa casinha de pau a pique da Kapopa, no Negage, não havia chaminé e o velhote simpático não nos deixava os presentes de Natal no sapatinho, porque não tinha por onde entrar. Também não existia neve e as renas eram cabras manhosas que devoravam as lavras de batata-doce e mandioca. Para nós o Pai Natal nunca existiu. 

O terrorista do ELP Jaime Nogueira Pinto mudou sim. Trocou a coligação da CIA, tropa zairense, mercenários de várias nacionalidades e fascistas portugueses apeados do poder, pelo Savimbi e o regime racista de Pretória. Foi de mal a pior. O terrorista assassino de camponeses no Norte de Angola criou a imensa fraude chamada Guerra Civil Angolana. Ele sabe que Angola foi invadida por tropas estrangeiras. Fez parte dos invasores. Nunca existiu guerra civil.

Ele sabe que o regime racista de Pretória fez tudo para que Angola fosse um dos seus satélites na África Austral. Jaime Nogueira Pinto, racista e fascista, colaborou com os racistas. Leiam o que escreveu sobre Jonas Savimbi. Era o seu deus. Claro que estava ofuscado pelos diamantes de sangue mas os seus escritos provam que o assassino e terrorista mudou para muito pior, desde que acampou no Morro da Cal, em 1975. Ontem, como convidado de honra da Deloitte, estava sentado ao lado da ministra Vera Daves. Ele enfadado porque a presença de uma negra na sua mesa mexia com a sua crença racista. Ela orgulhosa por ter ali à mão um assassino racista do ELP. Um agente do regime de apartheid.

Triste figura fez Vera Daves. Eu sei que é jovem, nas escolas não ensinam a História Contemporânea de Angola, na Faculdade que frequentou não lhe explicaram que o capitalismo é contra a vida e há defensores do sistema que são capazes até de aderir a uma organização terrorista como o ELP, para matar quem luta pela liberdade e pela vida. Mas a senhora ministra das Finanças tem de aprender a escolher as companhias antes que um dia destes apareça de braço dado com o Riquinho e, quem sabe, seja sua companheira de negócios baseados na burla e extorsão.

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