terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O TANGO DAS BANANAS

 

Rui Peralta, Luanda
 
I - Há países onde as elites não conseguem efectuar o mecanismo de renovação e de reprodução, países que são mercados incipientes, de economia atrasada (geralmente muito ruralizados), em que o poder político pertence aos mesmos que detêm o poder económico e a separação de poderes (judicial, executivo e legislativo) não existe, ou apenas aparente. Quando isso acontece, quando as elites não efectuam os mecanismos de renovação e de reprodução (como o efectuam na democracia formal), estamos na presença de oligarquias. Um exemplo vivo de um regime oligárquico encontra-se nas Honduras (o outro é a Colômbia, mas já em fase de transformação para a democracia formal).
 
A penúltima tentativa da soberania popular a assumir-se no país foi já no presente século, processo interrompido pela oligarquia hondurenha que, através de um golpe militar expatriou o presidente José Manuel Zelaya Rosales e suspendeu o poder legislativo. A última tentativa foram as recentes eleições no passado mês de Novembro (dia 24), aparentemente manipuladas pela oligarquia. Parece que a candidata Xiomara Castro de Zelaya, candidata que reunia grande apoio de amplas camadas do povo hondurenho, venceu em quase todos os departamentos do país, mas não venceu nos computadores do Supremo Tribunal Eleitoral (STE), que anunciou a vitória de Juan Orlando Hernandéz, o candidato da oligarquia.
 
Não considero que seja penoso e muito menos estranho isto acontecer. O que considero penoso é a crença de que as oligarquias podem ser derrubadas, através do voto popular, como se os cidadãos já vivessem em sociedades onde possam exercer a sua cidadania de forma plena (o que nem sempre sucede, nem mesmo nas sociedades formalmente democráticas). É que as oligarquias apenas podem ser derrotadas nas ruas, nos campos, nas montanhas, através dos punhos cerrados empunhando armas bem oleadas. Qualquer outra forma de lidar com uma oligarquia é perca de tempo, ou um jogo entediante, uma mistificação.  
 
Para completar a encenação, os meios de comunicação (maioritariamente pertencentes á oligarquia, como aliás todas as actividades lucrativas), culpabilizaram Enrique Flores Lanza, do Partido Libertad y Refundacion e ex-ministro de Zelaya. Segundo a indústria mediática Lanza realizou as mais obscuras e macabras manobras. Claro que jornais, rádios, televisão, jornalistas, comentadores e analistas, não disseram uma palavra sobre o facto do Presidente do STE ser membro e militante activo do Partido Nacional, o partido do candidato Hernandéz, que ganhou nos computadores do STE.  
 
Lanza é persona non grata para a oligarquia e nas Honduras é muito pouco provável que personas non gratas possam falsificar actas eleitorais e efectuar malabarismos eleitorais, mas como a oligarquia tem contas a ajustar com Lanza, uma vez que ele foi o responsável, durante o curto governo de Zelaya, do aumento do salário mínimo, coisa sem pés nem cabeça num país onde os empresários (e toda a escumalha denominada de empreendedores) nem impostos pagam. É também culpado de ter avançado com o seguro social para as empregadas domésticas e um dos culpados de ter afectado o negócio da CHEVRON e outras pobres petrolíferas multinacionais, para além de ter afectado os lucros dos empreendedores banqueiros.
 
Feitas as contas, temos assim uma oligarquia que joga tudo por tudo para controlar a situação e continuar a exercer o seu domínio, frente a uma elite em formação, apoiada pelas camadas populares, que pretende formalizar a democracia e utilizar a soberania popular para assumir o seu lugar ao sol, terminando com a velha oligarquia e instituindo um mecanismo de renovação e de reprodução, estabelecedor de consensos, assente num contrato social e não no bastão da policia ou no fuzil do exército.
 
II - Os hondurenhos vivem no segundo país mais pobre da América Latina e Caribe. Em pior situação só os haitianos. A oligarquia crioula hondurenha assenta o seu domínio em dois pilares: como representante dos USA e no exército (formado e treinado pelos USA). Eleições nas Honduras são mera fantochada e as camadas mais pobres da população precisam de deixar a sua posição de carne para canhão (ou de votos nas urnas) para as elites em formação (repare-se nos residios oligárquicos destas elites, através da importância da família Zelaya).
 
Os grupos paramilitares de extrema-direita amedrontam a população, os candidatos do Partido Nacional (o partido da oligarquia) compram votos e recorrem às “técnicas eleitorais” mais inverosímeis. Os mortos votam e o curto período de Zelaya (de 2006 a 2009) foi apenas um mero ensaio, que serviu na perfeição para a oligarquia controlar o processo de democratização, de forma a perpetuar o seu domínio em novos mecanismos e reproduzir-se (participando mais activamente no processo de enriquecimento das elites globais, renovando a sua importância para os patrões do norte).      
 
Um dos momentos em que se tornou mais visível a santa aliança entre os oligarcas crioulos e os interesses norte-americanos, foi em 2008 (durante o governo de Zelaya) em que as Honduras ingressaram na ALBA. Esta posição colocou em tensão toda a oligarquia e todas as multinacionais, como a Chiquita (antiga United Fruit, de tão triste memória), que exporta das Honduras, anualmente, 8 milhões de caixas de ananás e 22 milhões de caixas de bananas, ou como a indústria farmacêutica, que importam 80% dos medicamentos existentes no país.
 
Através da cooperação com a ALBA, as Honduras receberam milhões de dólares norte-americanos para diferentes projectos económicos e sociais, assim como 20 mil barris de petróleo venezuelano por dia. Esta cooperação permitiu que os serviços de saúde e de educação melhorassem e se expandissem, o mesmo acontecendo com as redes básicas sanitárias e com o combate ao analfabetismo. Foi esta cooperação que permitiu ao governo de Zelaya decretar, em 2009, o aumento do salário mínimo mensal de 184 dólares para 289 dólares. Mas mais um país centro-americano na ALBA (a Nicarágua também aderira, um pouco antes) fazia perigar os Tratados de Livre Comércio, impostos por Washington.
 
O mesmo comércio livre (de comércio pouco tem e de livre só o nome) responsável pelos dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística das Honduras, publicados em Fevereiro deste ano, que apontam para 6 milhões de pobres (71% da população), dos quais cerca de 4 milhões (ou seja 50% da população) estão em situação de extrema pobreza, sobrevivendo com cerca de um dólar por dia. No lado oposto estão as 15 famílias que controlam 80% das riquezas.  
 
A Lei do Salário Minino foi congelada e foram restituídos os privilégios às empresas multinacionais. As finanças públicas, em finais de Outubro, encontravam-se num estado deplorável, com uma divida publica superior a 8 mil milhões de Dólares (mais de metade do PIB) e um deficit fiscal de 8%. A isto soma-se a violência quotidiana, que provoca mais de 30 mortos por dia, de bandos que assolam pequenas cidades aterrorizando as populações, gangues da cocaína, responsáveis pelo transito em território hondurenho de cerca de 80% da cocaína que vai para os USA e que mantem cerca de 200 pistas de aterragem clandestinas, segundo o ministro defesa, Carlos Roberto Funes.
 
III - Não é, pois, surpreendente a fraude eleitoral, consequência lógica desta engrenagem montada pela oligarquia crioula e pelos seus parceiros dos USA. No dia 26 de Novembro a Missão de Observação Eleitoral da UE (MOE-UE) apresentou na imprensa hondurenha e internacional um informe preliminar sobre as eleições, que evidenciava “sérios indícios de tráfico de credenciais e outras irregularidades” para além de “um claro desequilíbrio na visibilidade dos distintos partidos nos meios de comunicação social” e “a falta de transparência no financiamento das campanhas eleitorais”. Apesar de tudo isto a missão afirmou ter uma avaliação positiva “tanto da transparência da votação como do respeito da vontade dos eleitores no escrutínio”. Mais á frente a MOE-UE afirma que “o sistema de transmissão das actas garantiu a todos os partidos políticos uma ferramenta fiável de verificação dos resultados divulgados pelo STE” felicitando o trabalho das autoridades eleitorais por ter conseguido “uma maior transparência” em relação ao passado.   
 
Este informe da MOE-UE contrasta com as irregularidades denunciadas pelo LIBRE (Partido da Liberdade e Refundação) e pelo PAC (Partido Anticorrupção), que juntos somam quase 50% dos votos escrutinados. Xiomara Zelaya e Salvador Nasralla, os respectivos candidatos destes partidos não aceitaram os resultados divulgados pelo STE e afirmam ter provas de fraude. Com pouco mais de 88% das actas escrutinadas o STE declarou que o candidato do PN venceu as eleições, obtendo cerca de 36,5% dos votos, enquanto Xiomara Zelaya contou com cerca de 29% dos votos.        
 
Será que outras razões falarão mais alto para os observadores europeus? Esta pergunta faz todo o sentido. O Acordo de Associação entre a UE e a América Central foi afectado pelo golpe hondurenho. Ao apresentar o processo eleitoral como limpo e transparente a UE passa um pano sob a imagem manchada das Honduras, recolocando em bom andamento o Acordo Comercial.
 
Claro que isto representa um golpe muito forte para a credibilidade destas missões de observação, mas é um facto que estas missões representam interesses e que esses interesses sobrepõem-se às boas intenções. Assim sendo estas missões valem o que valem e poderão ser consideradas um atentado á soberania nacional (pelos interesses que representam) e uma grave ameaça á soberania popular (uma vez que são mecanismos de falsificação de resultados).   
 
Também aqui as Honduras são exemplares…Talvez nas mentes de alguns medíocres líderes europeus (e norte-americanos) até já exista uma “via hondurenha para a democratização”…No fundo não diverge muito das trapalhadas que assolam o Ocidente (Será que aconteceu ás elites um processo de oligarquização e começaram a casar-se entre primos direitos? Isso justificaria o grande números de idiotas que estão instalados nos aparelhos de estado do Ocidente).
 
IV - Mais a sul, na Argentina, deparamos com uma economia que desliza por um perigoso barranco: inflação descontrolada, procura de dólares norte-americanos, reservas baixíssimas e deficit fiscal.         Estes desequilíbrios não são novidade na economia argentina, mas até ao momento conseguiu-se a estabilidade do endividamento privado, do grau de solvência dos bancos e dos preços das exportações, mantendo-se em alta a entrada de fundos internacionais para adquirir empresas.
 
Este cenário díspar convive com o clima político introduzido pela derrota eleitoral do “kircherismo”, que reduziu a autoridade presidencial, abrindo a corrida á sucessão, por parte dos intendentes e governadores. A presidente optou por mudar o gabinete governamental, na expectativa de aguentar os dois anos que faltam, mergulhado em tensões económicas. Só que as elites argentinas tradicionais (que sobrevivem á conta dos movimentos especulativos gerados pelas constantes crises económicas do país) exigem imediatos cortes nos gastos sociais e uma brutal diminuição nos salários.  
 
É claro que o avanço que algumas forças populares nas ultimas eleições, que conquistaram espaço de actuação no poder legislativo e nos governos provinciais, representam um novo contexto de resistência às politicas de manutenção do status quo económico e às tentativas de implementação dos novos mitos elitistas. Por outro lado esta situação propicia o desenvolvimento de outras vertentes radicais que se fazem sentir nos sindicatos e nos movimentos sociais, o que causa muito desconforto às elites argentinas.
 
Das arestas da crise económicas económica argentina, a mais explosiva é a corrida ao dólar. Desde 2011 o valor oficial do dólar passou de 4 para 6 pesos e no mercado paralelo ultrapassa os 10 pesos. Para contrariar esta tendência o governo argentino vendeu reservas, gerando uma hemorragia que reduziu perigosamente a circulação do peso. Neste ano (2013) “evaporaram-se”, no Banco Central, 11 mil milhões de dólares e os 32 mil milhões de dólares restantes cobrem apenas 5 meses de importações.
 
Os neoliberais atribuem este descalabro ao “intervencionismo governamental”, considerando a actual situação como uma “reacção natural dos mercados”, esquecendo que o controlo sobre as divisas foi instaurado de forma defensiva, para deter as pressões da desvalorização. O grande problema é que o controlo foi tardiamente introduzido e o governo argentino manifestou uma evidente incapacidade na sua aplicação.
 
Os especuladores não foram penalizados e tolerou-se a apropriação bancária dos dólares. Entre Julho de 2007 e Outubro de 2011 o governo argentino permitiu a saída para o exterior de 80 mil milhões de dólares, para pagamentos de dívidas e de remissões. Por outro lado, para manter eleitores, o governo consentiu que a classe média (a sacrossanta “classe eleitoral”, por excelência) andasse a brincar aos turistas e deixou esbanjar reservas por tudo o que era sitio.  
 
E assim chegou-se ao limite. A economia necessita urgentemente de divisas para cobrir o deficit energético, manter e criar infraestruturas, etc..Para procurar as divisas o governo retoma o endividamento externo, obrigando o país a pesados compromissos. A essas obrigações adiciona-se a decisão oficial de pagar as sentenças emitidas pelo Tribunal do Banco Mundial a favor de cinco empresas afectadas pela “pesificação”. Ao aceitar estes pagamentos o governo abriu as portas às reclamações de outras 30 empresas e às petições dos velhos credores do Clube de Paris (que representam 9 mil e 600 milhões de dólares). Estas e outras obrigações provocarão um aumento de cerca de 20% na divida externa (de 198 mil milhões de dólares para cerca de 237 mil milhões de dólares)      
 
Em consequência as finanças do país retornariam á custódia do FMI. O governo já deu o primeiro passo, ao aceitar que o FMI supervisione a elaboração de um novo índice de preços, o que implicará que o FMI surgirá como lobista dos bancos, para induzir índices que favoreçam a cobrança de bónus indexados, ou os pagamentos por cupão – PIB (que obriga o Estado a desembolsar 3 mil milhões de dólares adicionais, cada vez que o crescimento supere os 3,2% ao ano). Com esta situação saem favorecidas as grandes empresas exportadoras de cereais (muitas delas veriam as autoridades fecharem os olhos a velhas denuncias de fraude fiscal) e as empresas petrolíferas, dois sectores que poderiam liquidar as divisas a um câmbio mais próximo ao do mercado paralelo. 
 
V - A inflação é o problema maior da economia argentina. A acumulação média dos últimos seis anos supera em muito a média global, ou a média sul-americana e situa-se actualmente acima dos 25%. A gestão quotidiana das empresas é afectada pela ausência de estatísticas credíveis. O governo acabou por reconhecer a “variação dos preços” mas não esclarece qual a taxa de inflação, tentando limitar os efeitos imediatos da inflação através de acordos de preços com as grandes empresas, esforços que revelaram-se fracassos e que nos últimos tempos nem sequer são implementados.
 
Um exemplo disto é o recente convénio assinado com os supermercados. Este acordo estava inicialmente previsto para todos os bens, mas ficou reduzido a 500 marcas e terminou em ficção pura. Ganharam os que sempre ganham com as mistificações, neste caso as grandes cadeias de supermercados que, desta forma, demoliram o pequeno comércio e alargaram a sua influência a sectores do mercado geralmente dominados pelos pequenos e médios comerciantes. 
 
Alguns economistas “oficiais” (metereólogos de serviço que não utilizam os serviços on line e os dados dos satélites e que se limitam aos cataventos e aos medidores de chuva) referem a gravidade da inflação, para ressaltarem a existência de mecanismos de compensação salarial, ficando preservado o poder de compra (como se no meio da tempestade e com ventos fortíssimos, os serviços meteorológicos avisassem para as pessoas saírem para a rua com chapéus de chuva e gabardine por cima de camisas de manga curta e calções de banho, pois o sol irá romper quando a tempestade passar). Estes mecanismos são paliativos (e com o tempo terminarão na sopa para os pobres) e os seus defensores esquecem-se dos rendimentos dos trabalhadores informais, e dos muitos que estão em regime de trabalho precário, desprotegidos face á escalada de preços dos bens básicos.     
 
Esta política omite, ainda, uma outra situação: é que empresários e assalariados não participam em igualdade de condições neste processo. Os empresários aumentam primeiro os preços e os assalariados atenuam, posteriormente esse impacto. Essa desigualdade de condições será agravada com o prolongamento da tendência inflacionária e acaba por induzir um tecto salarial baixo, durante as negociações de concertação para o Pacto Social, acabando por instaurar uma política anti-inflacionária á custa dos salários.
 
O problema reside no papel regulador do Estado. O Estado intervém na regulação dos preços mas não na sua formação. Esse é o factor que permite aos capitalistas (desculpem o termo, oh inocentes almas do livre empreendedorismo e de outras liberdades inócuas) recorrerem á inflação quando enfrentam obstruções ao livre fluxo dos lucros (e na reprodução de capital). O reduzido nível de investimento frente a uma procura recomposta determinou a actual pressão inflacionaria argentina (não, não é preciso ler o Marx, basta ficar pelo Adam Smith). A recuperação da actividade económica e dos níveis de consumo não foram seguidos, desde 2007, da renovação do parque de equipamentos e de maquinaria. A rentabilidade foi mantida através do baixo nível de investimento e o parque tecnológico deteriorou-se, sendo os níveis de produtividade tão baixos que permitiram o uso intensivo de mão-de-obra, cada vez mais barata.
 
Esta vaga inflacionária obedece á proeminência da estrutura exportadora do sector alimentar, que encarece o consumo local de forma compassada, de arrasto com a valorização internacional (ou seja com a desvalorização do peso). Quando o trigo e a carne estavam no topo das exportações argentinas esse factor era visível. Na actualidade, o efeito é causado pela soja. E será para qualquer outro produto agropecuário, que opere como referência de rentabilidade mínima.
 
Por outro lado a decisão governamental de suster o consumo interno intensificando o ritmo de criação de moeda, agravou ainda mais a tendência inflacionária. A emissão intensa de moeda, nos últimos dois anos, ficou divorciado da correspondência em divisas e separou-se do volume de moeda requerido para a produção. Por aqui se originou a depreciação do peso. Os bancos recebem as grandes massas de dinheiro emitido e convertem-na em crédito disponível para os seus clientes, protegendo desta forma os investimentos efectuados com capital disponibilizado pela banca e assegurando o seu retorno. E este ciclo vicioso é alimentado pela emissão constante de moeda. 
 
VI - Em 2013 o crescimento do PIB (cerca de 3%) será semelhante ao da região. A expansão do consumo interno, a boa colheita agrícola, os preços da soja nos mercados internacionais e a venda de automóveis e sobressalentes autos ao Brasil permitiram uma recuperação face a 2012. Mas estes factores não se irão manter para 2014. A taxa de desemprego oficial ronda os 7%, mas o trabalho precário e informal escondem a verdade destas estatísticas.
 
A receita aplicada entre 2003 e 2007 perdeu consistência durante o período de 2008 – 2010 e tornou-se inviável a partir de 2011. Um sistema económico baseado no lucro não assenta apenas na procura. Requer altos lucros que não emergem automaticamente da expansão da procura. O crescimento do consumo incrementa os benefícios em determinadas conjunturas mas obstrui a rentabilidade noutras circunstâncias. É ingenuidade esperar que grandes expansões da oferta possam surgir como consequência do incremento da procura.          
 
Claro que para a maioria dos empresários revela-se uma atitude positiva, mas as suas empresas acabarão por ser engolidas nos turbilhões das dinâmicas dos mercados, por não terem efectuado uma análise mais aprimorada da situação e por esquecerem determinadas variáveis, como a do factor de risco (mal avaliado) ou a rentabilidade. Apostar na renovação da procura e num modelo de autocorrecção com base nesta prerrogativa será enviar as empresas para o abismo, com um sorriso no rosto, pois as empresas estão crentes de que a autocorrecção as fará evitar o abismo e que este é apenas uma miragem ou um mecanismo de impulso para ganharem velocidade. Acabarão estateladas no solo se levarem esta ilusão até ao fim, servindo apenas para alimentar os abutres e outros necrófagos que pululam pelos mercados globais.  
 
Os mercados latino-americanos já padeceram de inúmeras conjunturas internacionais de alta liquidez que terminaram em tormentosas e dolorosas crises de endividamento. As febres não se curam com bons termómetros, pois estes apenas efectuam a leitura da temperatura, de forma mais ou menos precisa, conforme a qualidade do termómetro.
 
Se nas Honduras a oligarquia exerce o seu domínio através da violência directa, politica (usando a astucia inerente aos vigaristas sem estilo, falsificando com pouca arte os dados e os factos), na Argentina, sociedade capitalista mais avançada (sem ser um capitalismo avançado como a Europa, USA e outros) onde as elites renovam-se através dos mecanismos da democracia formal, a economia é a arma de arremesso para controlar o poder. Nada melhor que uma crise para fazer recuar as conquistas sociais alcançadas e calar as revindicações.
 
Desta forma matam-se dois coelhos com um só cajado: Amplia-se o domínio (coagindo os grupos sociais resistentes através do acesso ao dinheiro e ao aparelho económico, transformando a economia, a prazo, em única realidade, despolitizando a sociedade) e restruturam-se os grupos dominantes, tornando-os mais aptos (eficazes, para usar uma linguagem menos darwinista) para exercer a sua função de domínio.   
 
Que fazer? O primeiro passo é apoderamo-nos do cajado…
 
Imagem: Le Christ jaune - Gauguin
 
Fontes
Melconian, Carlos Faltan dólares, sobran pesos... Y seguiremos así http://www.lanacion.com.ar
Ferreres, Orlando Cómo salir del camino de la decadencia http://www.lanacion.com.ar
Heller Carlos La deuda en un debate http://www.lanacion.com.ar
Schorr, Martín y Manzanelli, Pablo Inflación oligopólica http://www.pagina12.com.ar
Crespo, Eduardo y Fiorito, Alejandro Es la puja distributiva http://www.pagina12.com.ar
Rappoport, Luis Las piedras del futuro gobierno http://www.lanacion.com.ar
Frigerio, Rogelio La Argentina es el único país donde faltan dólares http://www.eltribuno.info
Felleti, Roberto La crisis global y el futuro de la región http://www.lanacion.com.ar
Cortés Conde, Roberto Acumular desequilibrios: la causa de las crisis recurrentes del país http://www.lanacion.com.ar
Artana, Daniel Los mismos desafíos ordenar las cuentas fiscales y destrabar los controles http://www.lanacion.com.ar
Dujovne, Nicolás Los dilemas de un cambio necesario http://www.lanacion.com.ar
Scibona, Néstor Más dogmatismo a contramano de las expectativas http://www.lanacion.com.ar
 

A MORTE DE UM HOMEM BOM

 

Mário Soares – Diário de Notícias, opinião
 
1. Era esperado o falecimento de Nelson Mandela. A doença prolongou-se e a idade era muita. Nos últimos dias, uma filha falou, já sem esperança.
 
É óbvio que a comunicação social do mundo inteiro, com grande antecedência, preparou-se para o acontecimento. Eu próprio fui solicitado, com antecipação, para ter preparado um artigo para quando o triste momento chegasse. Recusei. Talvez com um pouco de superstição. A morte representa o fim irrevogável e merece silêncio, respeito e recolhimento.
 
Finalmente, surgiu, por via da filha, a tristíssima notícia. E a comunicação social do mundo inteiro disparou com o que estava há muito preparado. Durante os dois ou três dias que se seguiram não se falou nem se escreveu outra coisa: televisões, rádios, jornais, revistas. Não só em Portugal como no mundo inteiro. E os funerais vão ser longos.
 
Recebi a notícia por via da SIC. Foi António José Teixeira, de quem sou amigo, que me telefonou e, obviamente, me pediu logo uma primeira entrevista. Disse-lhe que sim e assim fiz, discretamente. Mas depois disso choveram os pedidos de rádios, televisões e até da Lusa. Mas não respondi a mais ninguém. Porque para mim, Nelson Mandela é uma personalidade única do nosso tempo, de um idealismo, de uma bondade pessoal e de um sentido humanitário raríssimo. E por isso deve ser em absoluto respeitado. E não utilizado por quem apenas o quer aproveitar por razões pessoais. Como sucedeu com alguns políticos com grandes responsabilidades, infelizmente não assumidas, da nossa infeliz terra, que se tivessem vergonha teriam ficado calados.
 
Isso custou-me, porque representa um aproveitamento que salta à vista. Por isso fiquei calado. E só agora no Diário de Notícias o faço porque é o jornal em que escrevo todas as semanas. Mal seria se não dedicasse o meu artigo, em primeiro lugar, ao meu tão admirado amigo - porque o foi - Nelson Mandela.
 
Começo por responder a três perguntas do jornalista do Diário de Notícias João Pedro Henriques.
 
Pessoalmente só o conheci depois de ter sido posto em liberdade. Mas antes disso, estando Mandela preso, em pleno apartheid, tive de ir a Pretória, por causa do desastre, quase fatal, que o meu filho e mais dois seus companheiros do CDS e do PSD sofrerem em Angola, quando foram visitar Jonas Savimbi. O meu filho esteve entre a morte e a vida e foi quem mais foi atingido no desastre. Eu era então presidente da República e parti nesse mesmo dia para a Hungria e para Holanda, em visita de Estado, mas a minha mulher e a então mulher dele, o meu sobrinho cirurgião Eduardo Barroso e o meu médico da Presidência Daniel de Matos, partiram logo para a África do Sul.
 
Eu fui poucos dias depois, apesar de nenhum dirigente político europeu ou americano, dada a posição da ONU, poder ir à África do Sul. Fui, como é natural, dada a situação do meu filho, sem qualquer hesitação.
 
Contudo, quando lá cheguei, fui recebido pelo nosso embaixador José Cutileiro mas também pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul, Pik Botha. Disse-me que estava a representar o presidente De Klerk, que me enviava cumprimentos. Respondi que estava ali para visitar tão-só o meu filho, que não tinha naquele momento qualquer função oficial porque como europeu e presidente de um Estado europeu não a podia ter. E, ainda por cima, porque sempre fui, em absoluto, contra o apartheid.
 
Sem comentários, teve a delicadeza de me levar ao hospital, onde vi finalmente o meu filho ainda em coma.
 
Digo isto porque só muito mais tarde conheci Mandela. Mas não posso nem devo esquecer o que se passou antes. É que dias depois - já o meu filho tinha saído de coma - fui convidado por Pik Botha para ir almoçar com o presidente De Klerk.
 
Fui. E a conversa foi só e sempre sobre o apartheid e sobre Mandela. Porque De Klerk me disse querer acabar com o apartheid. Disse-me que iria libertar, quando eu partisse, dez presos do ANC. Perguntei-lhe se entre eles se contava Mandela. Disse-me que não e acrescentou: "Porque os militares não deixam." Contei-lhe então o que se passou em Espanha, quando era primeiro-- ministro Adolfo Suárez. Os militares espanhóis também não queriam que Santiago Carrillo, líder do Partido Comunista Espanhol, entrasse em Espanha. Mas num domingo de Páscoa, em que as pessoas saem de Madrid, Suárez anunciou a sua entrada e nada se passou com os militares...
 
Realmente no dia do meu regresso a Lisboa foram libertados vários companheiros de Mandela. Mas não ele. Veio a sê-lo tempos depois, tendo De Klerk tido a amabilidade de me convidar a ir de novo a África do Sul, onde há, e sempre houve, uma comunidade imensa de portugueses.
 
Quanto à imagem que guardo de Mandela, que acabei por conhecer bem e sempre me deslumbrou, não podia ser melhor. Um homem extremamente bom, modesto, inteligente e amável para toda a gente, independentemente do nível dos seus interlocutores.
 
Tudo isso me surpreendeu e por isso me tornei não só amigo como rendido admirador. E desde a sua morte, saudoso e até ao fim da minha vida, assim serei. Pude ver como ele foi sempre admirado, mesmo pelos boers e também pelos imensos portugueses que vivem e trabalham na África do Sul e com alguns dos quais conversei quando estive em Pretória, na Cidade do Cabo, como lhes chamaram os portugueses da Boa Esperança, e em Durban, terras e mares que os navegadores portugueses - note-se - foram os primeiros europeus a conhecer.
 
Permitam-me breves notas que me ocorrem.
 
Como disse, estive na África do Sul quando do acidente do meu filho João, em 1989, estava ainda Nelson Mandela preso. Falei com De Klerk, como já disse, no sentido da sua libertação e, modestamente, contribuí para que viesse a sair do cárcere.
 
Em 5 de outubro de 1993, recebi, em Lisboa, e condecorei, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, distinção rara, criada pela Revolução dos Cravos, Nelson Mandela então presidente do ANC.
 
Em maio de 1994 fui à sua tomada de posse como presidente da República. Foi algo que muito me impressionou por ele ter convidado dois dos seus carcereiros para a cerimónia.
 
Em novembro de 1995, fiz, como presidente da República, uma visita de Estado à África do Sul, acompanhado quase sempre pelo então já presidente Nelson Mandela.
 
Em 1997, com o professor Mário Ruivo, voltámos a encontrar-nos. Participávamos então na 5.ª sessão plenária da Comissão Mundial Independente para os Oceanos. Mandela, entre outros, foi um dos oradores, tendo dado um grande apoio à comissão, cujo relatório final foi apresentado à Assembleia Geral das Nações Unidas.
 
Em 2008, escrevi no Diário de Notícias, quando Nelson Mandela celebrou 90 anos, perante os aplausos unânimes do mundo inteiro. Antigo "terrorista" - assim considerado por bastantes sul-africanos brancos - na luta antiapartheid, pelo que sofreu durante 27 anos de prisão, é hoje uma referência ética e ideológica em todas as latitudes. Pela sua vida, pelo seu idealismo, pelas suas profundas convicções humanistas e, como já disse, pelo seu carácter e personalidade. Tive assim o enorme privilégio de o conhecer pessoalmente. Assisti à sua posse como presidente e visitei--o depois, longamente, nessa qualidade. Sempre o admirei e continuo a admirar como um símbolo. Bem como a sua mulher, Graça Machel, uma pessoa superior. Considero ambos um par de excecional valor.
 
Lembro que a ONU proclamou, em 2010, o dia 18 de julho como o Dia de Mandela e tudo o que ele representa. Foi o dia em que completou 92 anos, em plena juventude de espírito. Juntei-me por isso aos milhões do mundo inteiro e apresentei-lhe modestamente os meus parabéns.
 
No mesmo ano fui convidado a apresentar o livro Nelson Mandela: Arquivo Íntimo, prefaciado por Barack Obama. Assim o fiz, com muita honra.
 
Repito o que tenho vindo a dizer: a sua resistência, a sua força moral, o seu espírito de tolerância, a sua crença no progresso e na humanidade e ainda na igualdade de todos os seres humanos, sem exceção, são exemplo e um ensinamento impar no mundo sem rumo em que vivemos. Leva-nos a acreditar nos outros e no futuro. Obrigado, Nelson Mandela, por ser o que é.
 
2. A crise europeia Era tão fácil acabar com a crise que Portugal e sobretudo a zona euro atravessam, com cada vez mais dificuldades dos Estados membros. Era necessário somente que o Banco Central Europeu fosse capaz de fazer o que a América de Barack Obama faz: emitir dólares. Ora o Banco Central Europeu não fabrica euros, como devia.
 
Porquê? Porque aparentemente a Alemanha não deixa. Parece querer mandar na Europa. O que só lhe vai trazer complicações, como começa a acontecer à própria Alemanha.
 
Veremos se vai ou não haver uma coligação entre o SPD e a pseudo-CDU para governar a Alemanha. E se o ministro das Finanças, que mandava na chanceler Merkel, não ficará na Alemanha. Se for, como parece, para Bruxelas, será um desastre. Veremos do que são capazes, dado o alargamento da crise, a tantos países europeus, de fazer os sociais-democratas alemães que, ao que parece, vão aliar-se com a chanceler. Irá ela continuar a governar a Alemanha e a zona euro? E, como advertiu Helmut Schmidt, cair no abismo...
 
Há muitos sinais de que não será assim. Mas o mundo, por todo o lado, está imprevisível. Como nunca antes aconteceu, nem no tempo das guerras mundiais. Oxalá os alemães não nos atirem, irresponsavelmente, para um novo conflito mundial... Espero que não.
 
3. A Ucrânia É preocupante a situação em que se encontra a Ucrânia, um grande país europeu que não quer continuar a ser uma "província" da Rússia, mas sim um Estado independente que possa aderir à União Europeia, apesar da crise em que esta se encontra.
 
As manifestações do povo ucraniano repetem-se diariamente. É um povo inteiro. E no domingo passado derrubaram e destruíram a estátua de Lenine. Um símbolo da odiada ditadura leninista, que tanto pesou à Ucrânia e à própria URSS.
 
É verdade que Putin não é Lenine nem Estaline, embora tenha sido, antes da queda da URSS, membro da polícia de Estado, o KGB. Contudo, não creio que pense voltar ao passado, o que não parece ser possível.
 
De qualquer modo, a força - e o entusiasmo - do povo ucraniano vai vencer. Assim espero. E a União Europeia, se não for completamente destituída de senso - como tem sido nos últimos meses -, espero que lhe abra a porta com ambos os braços.
 
Grande povo os ucranianos!
 
4. Um livro que recomendo José Medeiros Ferreira acaba de publicar um livro de muito interesse intitulado: Não Há Mapa Cor-de-Rosa. A História (Mal) Dita da Integração Europeia, que merece ser lido e meditado.
 
Começa na I Guerra Mundial, em que Portugal, como se sabe, participou e depois passa para as consequências económicas da paz, para a chamada sociedade das nações, as propostas alemãs na II Guerra Mundial, os planos dos Aliados e finalmente Não Há Mapa Cor-de-Rosa, ou Portugal no Balanço da Europa.
 
É um livro muito interessante e que recomendo vivamente. Vale a pena lê-lo e refletir sobre ele.
 

Portugal: MAL CALIBRADO

 

Triunfo da Razão
 
Depois das notícias que dão conta de um crescimento da economia portuguesa, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, justificou a dureza das medidas aplicadas com o facto do programa de "assistência" "estar mal calibrado", embora "bem desenhado".

Quanto ao crescimento da economia portuguesa a pergunta que se coloca é: a economia portuguesa cresce para quem? Não será seguramente para os jovens que emigram, para os jovens que estão no desemprego, para quem vive na precariedade e dela jamais consegue sair, para os pensionistas que se debatem com cortes nas pensões, para os pequenos empresários que sofrem com a exiguidade do mercado interno ou para os funcionários públicos alvo de todas as desconfianças e apontados como responsáveis por todos os males.

O crescimento da economia, não é por si só, a panaceia de todos os males. É um indicador que, a julgar pela força da realidade, só se concretiza para uma infíma minoria de portugueses, provavelmente aqueles que jogam no tabuleiro económico, financeiro e político.

Relativamente à calibragem do programa de "assistência", não há eufemismo que esconda as verdadeiras intenções deste Governo: transformar de forma irreversível a sociedade portuguesa, uma sociedade assente no retrocesso social, no conformismo, na ausência de esperança - é esta a visão de sociedade que Passos Coelho está incumbido de transformar em realidade, num misto de incompetência, neoliberalismo e mediocridade

Ana Alexandra Gonçalves
 
Leia mais em Triunfo da Razão
 

Portugal: Passos Coelho justifica medidas duras com programa da 'troika' "mal calibrado"

 


O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, considera, em entrevista ao Jornal de Negócios hoje nas bancas, que o programa da 'troika' "estava bem desenhado mas mal calibrado", partindo de défices irrealistas, razão para medidas mais violentas do Governo.
 
"As medidas tiveram de corresponder aos objetivos traçados e durante algum tempo acusou-se o Governo de querer ser mais 'troikista' que a 'troika'", explica o primeiro-ministro, dando conta de que a base de partida definida pelo Governo de Sócrates no PEC IV tinha "perspetivas de défice, quer para 2010 como para 2011, irrealistas".
 
A ideia de vários economistas de que o Estado deveria apoiar a economia investindo é contrariada por Passos Coelho, defendendo que "o Estado deve ajudar a economia contendo a despesa".
 
"Enquanto os investidores externos não acreditarem que nós reduziremos o peso da dívida, não é possível criar investimento direto externo e investimento na própria dívida pública", afirma Passos Coelho na entrevista ao Jornal de Negócios.
 
Quando questionado se o Governo não terá privilegiado os cortes em salários e em pensões em vez de cortar nas rendas da energia ou nos contratos de parcerias público-privadas, Passos Coelho responde que essa análise invoca "uma grande demagogia no juízo populista".
 
"Qualquer ideia que se pretenda vender ao país de que o Governo está a impor um sacrifício exagerado aos portugueses e, em particular, aos funcionários públicos, que era completamente dispensável se tivéssemos a coragem de ir buscar o dinheiro aos ricos, pressupõe uma mentalidade que julgava já afastada do pensamento mediano em Portugal", defende o chefe do Governo.
 
Sobre a polémica questão dos cortes nos salários, nomeadamente a insistência do FMI de que Portugal ainda tem de baixar mais nas remunerações no setor privado, Passos Coelho diz discordar desse objetivo, considerando que o privado já corrigiu "em termos nominais cerca de 11% do valor dos salários".
 
O primeiro-ministro sublinha que o Governo não pretende "um modelo de desenvolvimento assente em baixos salários", mas afirma que "não é possível diminuir de forma sustentada a despesa do Estado sem mexer em pensões e salários".
 
O ex-presidente da câmara do Porto, Rui Rio, que tem sido considerado como um possível candidato à liderança do PSD, não é visto por Passos Coelho como um adversário.
 
Diz olhar para Rui Rio "como uma personalidade do PSD com créditos firmados, um dos nomes de referência do partido", e sobre uma possível contestação à sua liderança no partido considera natural que "houvesse uma avaliação dentro do PSD do que têm sido estes dois anos e que também pudessem aparecer vozes críticas".
 
JPF // HB - Lusa
 

OS ARTÍFICES DOS RESGATES CONTEMPORÂNEOS

 

Martinho Júnior, Luanda

1 – Na hora do passamento físico de Nelson Mandela, os povos de África, muito em particular os dos países que compuseram a Linha da Frente e o povo cubano, expressam as mais legítimas expressões de respeito e de dor, irmanados e solidários para com o povo e o estado sul-africano!

De todas as mensagens, as produzidas pelos Chefes de Estado como o de Angola e de Cuba em nome dos respectivos povos, destacam-se por serem sem dúvida das mais legítimas, sublinhando a identidade comum entre a revolução cubana e o movimento de libertação em África no âmbito dos resgates que se sucedem, em nome da dignidade que foi negada durante as trevas da escravatura, do colonialismo, do fascismo e do racismo institucionalizado!

Angola, Cuba e Moçambique destacam-se do cinismo de tantos e emergem nesta hora de luto com a autoridade ética e moral sobre os demais, pois com a ajuda dos países socialistas e dos Não Alinhados, foram aqueles que, integrando o pelotão dos combatentes da liberdade, tornaram possível o resgate de África das mãos de um dos regimes mais retrógrados e obscurantistas que alguma vez existiu à face da Terra!

Face a face, agora, em relação a conjunturas capitalistas neo liberais, são ainda os países que compuseram a Linha da Frente e Cuba que são autênticos nos seus sentimentos, no seu internacionalismo libertador e na solidariedade que tanto se precisa para se vencerem tantos obstáculos que há ainda de ultrapassar em função do subdesenvolvimento crónico que advém do passado!

A Revolução Cubana “saldaba la deuda histórica con los 300 mil esclavos que fueron llevados por la fuerza a nuestro país desde África”!

2 – Durante décadas os combatentes da liberdade de África que cerravam fileiras no movimento de libertação, eram tidos pelos regimes retrógrados e pelo império, como “terroristas”: Amilcar Cabral, Eduardo Mondlane, Samora Machel e Agostinho Neto eram os “terroristas” do espaço lusófono e Nelson Mandela um dos assim considerados no espaço anglófono.

Pelos poderes alinhados ao império e seus sequazes, foram assassinados três desses quatro líderes africanos: Eduardo Mondlane, Amilcar Cabral e Samora Machel!

O próprio Nelson Mandela foi preso pelo “apartheid” em função das informações de inteligência prestadas pela CIA norte americana!

Fidel de Castro entretanto tornou-se no líder mundial em relação ao qual mais tentativas de assassinato sofreu por parte dos instrumentos repressivos e de inteligência do império!

Nada mesmo assim os demoveu da saga da libertação dos povos e em benefício de todos e de toda a humanidade!

Quantos não pagaram como os três líderes africanos do movimento de libertação, o preço mais alto para que os resgates se tornassem possíveis, para que Nelson Mandela tivesse a oportunidade de personalizar, em nome dos combatentes da liberdade e do seu próprio povo, o fim do “apartheid institucional” feito estado opressor, instrumento dos processos mais brutais do elitismo global!?...

3 – Enquanto assim classificavam os combatentes da liberdade de África, o império tal como os estados retrógrados e vassalos (entre eles Portugal e a África do Sul do regime do “apartheid”), consideravam aqueles que lhes eram alinhados conforme ao “diktat” de Ronald Regan: “freedom fighters”!

Em estreita ligação a Savimbi, dilecto “freedom fughter” de Ronald Reagan, estiveram “socialistas” como Mário Soares e seu filho João Soares, “caixas de ressonância” de determinado tipo de alinhamentos (“remember” Frank Charles Carlucci)!... os diamantes, mesmo quando eles foram considerados “de sangue”, falavam mais alto!

Ainda hoje essas entidades têm muita dificuldade em se libertarem desse passado de trevas, pois não conseguem ultrapassar a psicologia do rancor que lhes parece marcar toda a vida!

Em África avaliaram-se bem os “fronts” e nas conjunturas de então percebia-se bem o que era retrógrado e avesso ao progresso dos povos, do que fazia parte do imenso resgate que havia de se realizar em nome da humanidade!

Para África a liberdade foi um parto difícil e ensanguentado e para Angola como para Cuba, como para Moçambique, a quota parte dos sacrifícios foi “sem limites”!... por isso se tornou possível Nelson Mandela símbolo da luta contra o “apartheid institucional”… tão bem aproveitado hoje pelos expedientes de manipulação globais neo liberais!...

4 – Em plena globalização neo liberal, os povos africanos herdeiros do movimento de libertação, conjuntamente com a solidariedade cubana assumida desde as horas mais difíceis e decisivas, têm uma imensa responsabilidade histórica no presente e no futuro, em função do passado.

O império tem usado todo o tipo de argumentos e de manipulações para tornar impossível o sonho dos povos africanos a cerrarem fileiras na luta contra o subdesenvolvimento que redunda dos pesadelos de mais de cinco séculos!

As independências nunca o serão se forem só de bandeira, como nunca o serão se o poder estiver concentrado em elites que não dêem seguimento aos resgates que todos sem excepção aspiram realizar.

Nunca será por via da lógica capitalista que os objectivos maiores da harmonia, do equilíbrio e da justiça social, do respeito pela humanidade e pela Mãe terra, da democracia e da paz serão alcançados!

A saúde e a educação são duas das pedras angulares desses resgates: erradicar o analfabetismo e encontrar padões de saúde condignos são dois dos maiores desafios do presente e para isso necessário se torna equilíbrio, justiça social, socialismo e respeito para com o homem e a natureza!

A longa batlha pela saúde e a educação está longe de ser ganha, mas a influência neo liberal quantas vezes monta artificiosos obstáculos para que essa trilha possa avançar com mais celeridade, consistência e dignidade!

5 – Muitos dos “activistas-fantoches” contemporâneos são avessos à lógica com sentido de vida que advém do movimento de libertação e reflectem procedimentos típicos, formatados como foram os procedimentos dos “freedom fighters” de Ronald Reagan e dos estados vassalos conformados ao império tutelar da “civilização ocidental”!

Confundiram-se antes esses “freedom fighters” com os “dirigentes” dos bantustões propagados dentro e fora da África do Sul pelo “apartheid” institucional feito estado e pelo império (basta recordar o papel de Mobutu), como se confundem agora os “activistas-fantoches” com os que têm estimulado as “revoluções coloridas” e as “primaveras árabes” de mais recente data, explorando o êxito do fim do socialismo real na Europa e a implosão da URSS!

O emparceiramento dessas novas “luzes da ribalta” cuja energia reflecte o poder, os interesses e as conveniências da hegemonia a que se agarra o império, envolve como não podia deixar de ser, “socialistas” como Mário e João Soares!

O poder hegemónico dos mais poderosos da Terra, os 1% que captaram em seu proveito o grosso das riquezas do planeta, instrumentalizaram o império tornando-o reitor dos obstáculos que estão a ser semeados no caminho daqueles que pretendem continuar os resgates que se impõem a partir das heranças do passado em proveito comum!

Para isso não se cansam de utilizar todo o tipo de fundamentalismos ideológicos que antes foram estimulados no “laboratório” dos “freedom fighters”: as mesmas receitas, a mesma psicologia, a mesma intenção de sempre, como se suas mentes retrógradas não conseguissem superar os traumas do passado!

6 – As fronteiras começam de novo a tornar-se nítidas entre o que estimulam os procedimentos retrógrados e os que lutam com visão progresista em prol dum verdadeiro renascimento africano!
Os esforços dos porgressistas perante o enorme campo de manobra do império que se senta hoje à mesa connosco, têm de ser redobrados:

A cidadania e a participação alargada de âmbito sócio-político devem assumir-se reduzindo o estigma da representatividade, por que só assim se evitará o “apartheid social” fruto da lógica capitalista imposta correntemente por via neo liberal pelo império!

África precisa de em paz, aprofundando a democracia, estabelecendo cada vez mais equilíbrios e consensos sócio-políticos, realizar os resgates do subdesenvolvimento e são aqueles que dão seguimento às mais legítimas apirações do movimento de libertação, os que se podem tornar nos mais lúcidos personagens perante os obstáculos e os desafios, por que se poderão assumir plenamente identificados com os seus respectivos povos e a sua trajectória histórica!

A obra de Nelson Mandela que ficou incompleta e se tornou tão ténue com a sua presença no poder inaugurando a nova África do Sul está aí!

A luta continua e sobre as elites esclarecidas a responsabilidade é maior que nunca: há que romper caminho com tenacidade, paciência, persistência, humildade, solidariedade e amor para construir paz com socialismo numa Terra esgotada que em muitos lugares foi atirada para o beco sem saída do subdesenvolvimento e da miséria, senão da guerra e da morte!

As elites sê-lo-ão apenas e quando compreenderem que os povos se devem assumir como os verdadeiros actores das imensas tarefas que há ainda por realizar em benefício de todos, pela dignidade de África!

No fundo, são os povos e só eles que podem ser os verdadeiros artífices dos resgates contemporâneos!

Mapa: Mapa da riqueza com o PIB distribuído à população.

A consultar:
- Cuba rendió homenaje a Mandela en ONU –
http://www.cubadebate.cu/?p=261877
- Mensagem integral do Chefe de Estado Angolano pelo passamento físico de Mandela –
http://www.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2013/11/49/Presidente-Jose-Eduardo-dos-Santos-considera-Nelson-Mandela-simbolo-Luta-Libertacao-completa-Africa,f7160f06-fb6e-4df2-b9e0-4a78e15f50ca.html
- Mensagem do povo e do governo cubanos pela morte de Nelson Mandela –
http://www.granma.cu/portugues/cuba-p/6diciembre-50mensaje.html
- Resgates com sentido de vida – I –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/11/resgates-com-sentido-de-vida-i.html; II – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/11/resgates-com-sentido-de-vida-ii.html

CAVACO SILVA TRESANDA A HIPOCRISIA NA HOMENAGEM A MANDELA

 


Cavaco Silva, presidente da República de Portugal, está presente nos funerais de Nelson Mandela, o que não deixa de ser descabido quando a polémica remonta desde há décadas quando na ONU Portugal votou contra a luta de Mandela e as causas que o levaram a estar preso pelo regime sul-africano do apartheid.
 
É impossível Cavaco homenagear sinceramente um homem de punho fechado, radical de direita como ele é. Muitas vezes encapotado, mas é um radical de direita. Denunciado saudoso do regime salazarista e colonial-fascista. Recaiu nele, enquanto PR, representar Portugal. Sobressai a hipocrisia e sinuosidade do personagem. Mais valia que Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros, avançasse e fosse ele a representar Portugal, por razão de dignidade, pois neste governo talvez outro não se vislumbre com algum passado anticolonialista mais marcado e até anti-apartheid. Do mal o menos. De Cavaco e do passado de Cavaco (no presente ainda pior) é que tudo não passa de fonte de vómitos.
 
A hipocrisia presente nos funerais de Mandela tresanda, tanto relativamente à representação de Portugal como de uns quantos de outros países. Foi isso que já afirmámos dias atrás no título que se segue e que republicamos. Não é em excesso que o fazemos mas sim para que não seja confundido o que foi e é daquilo que não é. É a opinião de alguns (ou muitos) e a manifestação da nossa homenagem e elevado respeito ao grande homem que foi Nelson Mandela. (António Veríssimo – Redação PG)
 
NELSON MANDELA MORREU, NEM TODA A HUMANIDADE ESTÁ DE LUTO
 
Tudo que se possa dizer sobre Mandela será uma ínfima parte da sua verdadeira estatura política, moral e cívica enquanto ser humano. Como ele já não existe outro ser humano. Outros como ele já nos deixaram fisicamente e agora restam os seus legados de humanidade, liberdade, justiça e democracia, Gandi foi um deles. Não parece que mundialmente os líderes atuais saibam preservar esses mesmos legados, de grandes homens, de grandes líderes, de grandes seres humanos. É impossível que lideranças anãs, em débito total para com os valores que importam e são imprescindiveis à humanidade, saibam fazer prosseguir e desenvolver o legado de Mandela, como não o souberam fazer no exemplo de Gandi.
 
Os atuais líderes mundiais debitam agora - e sempre que lhes for politicamente oportuno e vantajoso – falsas e elogiosas palavras sobre o gigantesto ser humano que foi Mandela, mas nada mais que isso. Melhor seria ficarem calados e envergonhados por não saberem e/ou não quererem seguir o caminho apontado por Mandela, antes por Gandi, e por outros grandes seres humanos que, esses sim, foram bons homens e mulheres, bons líderes… mas sempre traídos nos seus bons exemplos, nas suas lições. Nas suas grandes caracteristicas de humanidade, liberdade e justiça.
 
Mandela morreu para o mundo mas não para os justos. Nem toda a humanidade está de luto, principalmente a classe dos atuais líderes mundiais medíocres não está de luto mas sim com roupagens de hipocrisia. Os que ele sempre defendeu, os explorados e oprimidos, estão de luto. (Redação PG)
 

CRISES E MISSÕES DE PAZ

 


A segurança e a paz em África foi tema central da recente cimeira que reuniu em Paris países africanos e a França.
 
Jornal de Angola, editorial
 
Foram tomadas decisões sobre como o continente pode superar situações de crise que afectam alguns Estados. As situações de crise têm a ver com a instabilidade política como a que foi geradora de massacres na República Centro Africana, de que resultou a morte de 300 pessoas. A tragédia do Ruanda está ainda viva na memória dos dirigentes africanos, que discutiram em profundidade com a França as soluções para que o continente africano esteja dotado de estruturas e efectivos militares capazes de neutralizar casos que possam resultar em desagregação de Estados africanos afectados por conflitos internos.

Os comunicados oficiais nada referem sobre a destruição da Líbia e o assassinato do Presidente Khadafi numa guerra de agressão liderada pela OTAN mas entusiasticamente apoiada pela França e outras potências ocidentais que se manifestam preocupadas com a paz em África. Países africanos e França vão nos próximos tempos mobilizar recursos para a formação de uma força de reacção rápida em África, composta por africanos, a fim de participar em operações de paz no continente. Os Estados africanos não querem que se repitam situações idênticas às que ocorreram em vários países africanos, como a Costa do Marfim, a Líbia, o Mali e mais recentemente a República Centro Africana.

A demora na reacção a conflitos armados ou a potenciais conflitos pode ser causadora de muito sofrimento entre as populações civis. É necessário actuar com oportunidade e eficiência para resolver conflitos mas também para preveni-los. O mundo dispensa os que fomentam esses conflitos, armam uma das partes para depois ocuparem esses países militarmente porque a parte vencedora está a cometer graves atentados contra os direitos humanos. A União Africana tem uma grande responsabilidade na busca de soluções para que no continente haja estabilidade e paz. E ainda bem que conta para esta missão com o apoio dos países africanos que estiveram em França na cimeira. Mas também é importante que as potências ocidentais parem de fomentar guerras contra os países africanos para depois se apresentarem como “pacificadores” quando foram elas que lançaram os conflitos. Além da reacção rápida às crises no continente é necessário cuidar da consolidação das instituições democráticas, para assegurar uma permanente normalidade constitucional.

A vulnerabilidade das instituições de certos Estados em África é aproveitada sem hesitações pelas potências ocidentais, que instrumentalizam grupos de aventureiros extremamente violentos e nalguns casos fortemente armados para levar a cabo operações sistemáticas de destabilização. A sinceridade e a cooperação das potências ocidentais é mais importante do que treinar militares ou fornecer material bélico. Se a partir de agora cessarem as actividades subversivas que criam instabilidade e conflitos armados que depois justificam intervenções militares “a pedido”, será dado um importante passo em frente na estabilidade e na paz em África. Os grupos que em África criam o caos e apostam na desagregação dos Estados, inviabilizando a acção das autoridades legítimas, não são de geração espontânea. Alguns têm os seus escritórios nas grandes capitais europeias. E de lá reivindicam ataques terroristas, como aconteceu no CAN Angola 2010, quando em Paris o dirigente de um desses grupos anunciou que a sua organização tinha atacado a tiro a caravana desportiva do Togo e jornalistas angolanos, causando mortos e feridos inocentes. É preciso que os Estados africanos tenham forças armadas com capacidade operacional para lutar internamente contra forças que promovem a violência, pondo em causa a segurança das populações e o processo de desenvolvimento do continente. É importante combinar as acções da força de reacção rápida que se pretende criar com o aumento da capacidade operacional dos exércitos africanos, que precisam de ser reestruturados e bem equipados. A soberania dos Estados africanos deve ser defendida sobretudo pelos próprios Estados africanos. Individualmente, se isso for possível, ou no quadro de uma força africana, cuja capacidade operacional deve ter um efeito dissuasor, a fim de que os inimigos do continente que promovem a destruição e a insegurança não continuem a adiar o sonho de África de se tornar num continente próspero. Há sim inimigos jurados, dentro e fora do continente, que não deixam África atingir níveis elevados de crescimento económico e que tenha instituições sólidas.

Esses inimigos de África surgem do nada, mas os seus mentores estão bem identificados. Sem qualquer projecto de sociedade e incapazes de viver em regimes democráticos, os grupos armados que desestabilizam alguns Estados em África são intolerantes e optam pelo terrorismo. A cimeira França-África só tem realmente sucesso se as potências ocidentais deixarem de apoiar esses grupos. A participação de um elevado número de países africanos na cimeira de Paris diz bem da vontade dos dirigentes africanos de superarem rapidamente situações de crise no continente, estando dispostos a lutar juntos e incansavelmente pela paz e estabilidade definitivas em África. Oxalá do lado europeu exista a mesma vontade.

Angola: Bento Bento nega ligação a rapto e assassinato de Cassule e Kamulingue

 


Alegações são "banditismo político", diz governador de Luanda. Um dos presos pertencia "ao gabinete técnico" de um comité do MPLA.
 
Coque Mukuta – Voz da América
 
O Governador e primeiro Secretário do MPLA, na Província de Luanda, Bento Bento negou peremptoriamente alegações de que estaria envolvido no rapto e assassinado dos activistas Isaías Cassule e Alves Kamulingue.
 
Em declarações num comício para assinalar os 57 anos da sua formação politica, Bento negou também que elementos da sua segurança estivessem envolvidos no crime acrescentando a colagem do seu nome ao caso Kamulingue e Cassule se destina a denigrir o seu nome e atingir directamente o presidente angolano José Eduardo dos Santos

No comício Bento Bento reservou mais de 30 minutos para falar sobre o que descreveu de “banditismo politico” por parte dos indivíduos que envolverem o seu nome no assassinato de Alves Kamulingue e Isaías Cassule.

“Gostaríamos em primeiro lugar desmentir todas as informações postas a circular nos jornais e noutras imprensas deque o Bento Bento vinha sido informado sobre o plano que levou ao assassinato dos dois jovens, Isaías Cassule e Alves Kamolingue,” disse.

“A pessoa que vos fala também foi sido informado pela mídia e não corresponde à verdade esta afirmação” disse.

Bento Bento disse que um indivíduo preso e citado em vários artigos de jornais como pertencendo á sua segurança é um colaborador do Gabinete Técnico do comité provincial de Luanda.

“O jovem que está detido nunca foi meu escolta nem mesmo membro do Comité Provincial do partido mas sim apenas um simples colaborador do Gabinete Técnico do Comité de Luanda,” disse mencionando ainda que quem se comporta desta forma não é do MPLA.

Continua a desconhecer-se oficialmente a identidade das pessoas presas pelo rapto e assassinato dos dois militantes.

Bento Bento disse que as investigações que levaram ás prisões foram ordenadas pelo Presidnete José Eduardo dos Santos.

O caso abalou as estruturas do poder tendo levado já à demissão do director do Serviços de Inteligência e Segurança do Estados, SINSE.

A sua demissão fo no entanto anunciada sem qualquer explicação poucos dias depois da Procuradoria ter anunciado ter efectuado prisões em relação ao caso.

Notícias não confirmadas afirmaram que entre os presos se encontram elementos ligados ao SINSE.
 

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