sexta-feira, 10 de junho de 2011

DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES, OU DIA DA RAÇA?




ANTÓNIO VERÍSSIMO

Recordo os tempos idos dos anos sessenta em que qualquer de nós, português e rapaz, já sabia aos 12, 14 ou 15 anos, com a devida antecedência, que ia ter de “gramar” a tropa e a guerra colonial, que nos arrasaria a juventude e nos atrasaria a vida, na melhor das hipóteses. Na pior não regressaríamos vivos ou então deixaríamos lá, pelo dito ultramar, uma ou duas pernas, ou braços, ou pés, ou mãos… a alma… Qualquer parte de nós próprios em nome da glória de uma pátria fascista e colonialista que servia quase em exclusivo uns oficiais das forças armadas cheios de reumático, de teias de aranha e negociatas com a dúzia de famílias a quem pertencia Portugal.

Era no 10 de Junho desse tempo que no Terreiro do Paço, em Lisboa, nas cerimónias cinzentas víamos pais e mães, irmãos e mulheres, até filhos muito pequeninos – dos combatentes mortos – serem condecorados com a cruz de guerra desta e daquela classe por atos heróicos. Espetáculo repleto da negritude da hipocrisia do regime e dos da pátria do cifrão que nas ditas colónias em África exploravam os africanos e nos mandavam reprimi-los em nome de um estado Salazar-fascista e de uma igreja católica que não lhe ficava absolutamente nada atrás com o seu chefe Cerejeira, cardeal capanga de Salazar desde a juventude. Duas nefastas figuras de então a que davam o epíteto de “testículos” por andarem sempre juntos, ou ainda recriar o dito: “Em que pensas cardeal? Em ti, meu grande animal!” Supostamente era Salazar a perguntar e Cerejeira a responder. Na realidade eles eram dois terríveis e temíveis animais que em sintonia arrastaram o país para o atraso que ainda hoje é patente. Esse era o 10 de Junho, Dia de Portugal e Dia da Raça, fascizante e colonialista.

Décadas volvidas, a mostra é de que estamos em caminho regressivo às mãos de políticos que airosamente se escondem na democracia conquistada em Abril de 1974. Este dia para Cavaco Silva, presidente eleito por cerca de um quarto dos eleitores portugueses, ainda é o Dia da Raça. Ele mesmo o disse com todo o desafogo há um ano ou dois, por esta altura de comemorações. Falando com sinceridade e assumindo-se homem do antigamente. E ali continua o cinzento sujeito em Belém, hirto, seráfico, asalazarado, falando de sacrifícios repartidos mas não se privando dos quase exclusivos benefícios da democracia nem da oferta de lautos banquetes pagos pelo povo em festarolas oficiais aos que todos os dias vivem em êxtase e sumptuosamente à conta dos que são na realidade vitimas da crise gerada pelos da pátria do cifrão e seus apaniguados políticos. O tempo voltou para trás. Regressámos a um Portugal cinzento por obras e desgraças arquitetadas por políticos sem decoro ou com aparente decoro mas que não se coíbem de “sacar o deles” antes que “se faça tarde”. O cinismo impera na política portuguesa, a corrupção e os conluios é inenarrável. Isso mesmo se percebe em discursos medíocres que vimos e ouvimos todos os dias com bastante enfado.

Percebe-se que os portugueses estão fartos destes abutres políticos de colarinhos brancos, a exemplo de outros povos da Europa e do mundo. Decerto que eles também já percebem isso. É tão evidente. Mas o que não conseguem é usar de honestidade suficiente para largarem os “tachos”, abandonarem de vez as suas enormes ambições de poder quase eterno, abandonarem a proteção aos amigos a quem distribuíram igualmente mais “tachos” e benefícios que representam imensos milhões e que saem dos sacrifícios dos que sobrevivem com enormes vulnerabilidades. Eles não sabem como poderão sair sem que posteriormente, alguma vez, algum dia, se conclua documentalmente ou por outra via sobre as suas negociatas e responsabilidades naquilo que agora dizem ser o fracasso e responsabilidades de todos os portugueses. É que para se usarem e abusarem dos bens públicos servem-se esbanjadora e egoistamente. Depois as responsabilidades são de todos e os sacrifícios cabem somente aos plebeus e plebeias. Independentemente da hipocrisia contida nos seus discursos em que se declaram também uns sacrificados. Nada é mais falso. Foi Dia de Portugal, um dia quase à moda do antigamente. Da Liberdade e democracia de Abril quase nada sobra. Estamos a ser dirigidos por figuras cinzentas e ainda mais perigosas que os de antigamente. Desmesuradamente oportunistas e gananciosos. Parece ter sido mais um Dia da Raça, com cheiros a incenso, a naftalina, a discursos medíocres e hipócritas. Dali só destoou António Barreto. Alguma coisa. Mas o que disse será inconsequente e sempre emprestou aparentes ares verdadeiramente democráticos ao momento.

Portugal - Cavaco: GOVERNO PODE TOMAR POSSE ANTES DE DIA 23





Presidente da República diz que este cenário só não se concretizará se se registar alguma dificuldade na contagem dos votos de emigração

O Presidente da República disse esta sexta-feira que o novo Governo poderá tomar posse antes do dia 23, caso não surja algo de «confuso» ou «difícil» na contagem dos votos da emigração, noticia a Lusa.

«Os contactos por mim estabelecidos, tal como o presidente da Assembleia da República, há uma indicação que se não surgir algo confuso, difícil na contagem de votos dos círculos da emigração, essa posse pode ter lugar antes do dia 23, mas nos termos da lei depende se surgirem ou não recursos na contagens dos votos da emigração», afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva.

Cavaco Silva, que falava aos jornalistas durante uma visita à Festa da Cereja 2011 em Alcongosta, no Fundão, lembrou ainda que enquanto não forem publicados os resultados legais das eleições legislativas de 5 de Junho, está legalmente impedido de dar posse ao novo Executivo.

A HERANÇA ENVENENADA




MANUEL MARIA CARRILHO - DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião

Pela primeira vez em Portugal, um primeiro-ministro eleito perdeu umas eleições legislativas. E isso aconteceu com o pior resultado que o PS teve nos últimos vinte anos. Sócrates despediu-se depressa, tinha preparado no teleponto um longo discurso em que, mais uma vez, procurou negar a verdade e fugir às evidências - sobretudo a de que deixa um país encurralado e à beira da ruína e um PS embalsamado e com os seus valores patrimoniais fundamentais muito abalados.

O que o discurso revelou - apesar do que dizia o teleponto - foi, por um lado, um Sócrates aterrorizado com o juízo da história e com o lugar que ela certamente lhe reserva, associado à bancarrota de 2011. E, por outro lado, a obsessão em condicionar o natural debate interno sobre as lições que há que tirar deste desaire, que se traduziu na perda, em seis anos, de um milhão de votos.

Tudo indica que a vida não vai ser fácil para o Partido Socialista, que fica agora à mercê de uma diabolização política que não vai tardar, em previsível resposta ao funambular optimismo dos últimos tempos. É que Sócrates deixa nos braços do PS uma herança envenenada, que é a de ter que "ser oposição" a um programa que ele próprio assinou. O socratismo corre, assim, o risco de se tornar numa verdadeira maldição para o PS.

Isso só não acontecerá se houver, desde já, lucidez e coragem para reconhecer que, com este julgamento dos portugueses, o tempo dos álibis acabou e se abre agora um tempo de debate e de balanço. Um tempo de debate, porque infelizmente a capacidade de ouvir, de pensar e de debater, que deve sempre acompanhar o exercício democrático do poder, foi um défice constante, e crescente, destes seis anos. E um tempo de balanço, porque só com efectivo espírito de responsabilidade, mas também com verdadeiro sentido patriótico, será possível reconquistar a credibilidade perdida.

Em suma, o PS precisa, antes do regresso ao combate político, de dar ao País um forte sinal político, mas também ético, feito de humildade e de verdade. Este vai ser, sem dúvida, o maior e o mais imediato desafio da sua próxima liderança.

Com a vitória da "coligação" PSD/CDS, o País entra agora numa nova fase. Se se trata de um novo ciclo político ou, apenas, de uma nova legislatura, só o tempo o dirá. Mas seria bom ter consciência que a crise em que Portugal tem vivido traduz, no essencial, um prolongado e difícil impasse, constituído por um cerrado nó de problemas que esta primeira década do século XXI, em particular nos últimos dois anos, agravou pesadamente.

E estes problemas são fundamentalmente três: o problema cultural, o problema económico e o problema financeiro. O primeiro decorre da falta de valores e de visão estratégica que permita pensar com consistência um rumo para o País, capaz de se afirmar ao mesmo tempo no quadro europeu, no âmbito lusófono e na globalização. É isso que pode dar aos portugueses uma ideia global de si próprios como sociedade e como nação, dotados de convicções e de projectos colectivos.

Só com este problema bem equacionado se poderão definir as audazes apostas que é preciso fazer para resolver o problema económico, de modo a conseguir essa articulação tão difícil, que é a de se atingir um crescimento significativo do País, aumentando o emprego para os portugueses, nomeadamente para as qualificadas novas gerações. E só com estas bases é que o problema financeiro virá a ter outra solução que não seja a dos habituais cortes atrás de cortes, amparada num constante aumento de pressão fiscal.

Incapazes de, até ao momento, equacionar e resolver este nó de problemas, acabámos nas mãos de uma troika que o fez à sua maneira, segundo um "memorando" cujo cumprimento nos condiciona em tudo no imediato, sem, contudo, garantir nada a prazo, como de resto a tragédia grega bem tem mostrado nesta últimas semanas.

Com um dado novo, que merece muita atenção: é que agora o que está em causa não é o incumprimento, por parte da Grécia, do plano estabelecido, mas - o que é bem diferente - o facto de a sua concretização não ter conduzido ao resultado previsto pela troika há um ano. O que só pode reforçar as mais sérias apreensões sobre o caminho e o destino da União Europeia.

É por isso que me parece uma funesta ilusão alimentar, como se tem feito, a ideia mais ou menos sebastiânica de que a saída da crise decorre automaticamente da aplicação do "plano de ajuda" externo estabelecido com o BCE, a CE e o FMI. Por mais incontornável que, dadas as circunstâncias, ele seja no imediato, este plano não dispensa - muito pelo contrário - uma exigente reflexão sobre o rumo do País e as suas possíveis opções estratégicas no médio e longo prazo.

Portugal precisa de se pensar. Portugal precisa sobretudo de se libertar do paradigma do betão e dos serviços, que tudo tem bloqueado com as suas mitomanias em carrossel. Portugal precisa de olhar para o seu imenso potencial em termos de recursos naturais, de indústrias criativas, de economia do mar - era esta, afinal, a troika para que devíamos olhar.

ANISTIA INTERNACIONAL CRITICA AÇÃO POLICIAL NO BRASIL





A entidade critica a atuação das forças policiais no Brasil. “A polícia não tem respondido adequadamente às reclamações sobre os ataques e ainda há mais a cultura da impunidade”, diz a ONG.

Brasília – A organização não governamental (ONG) Anistia Internacional cobrou quarta-feira (8) das autoridades do Brasil que investiguem os atos de violência no campo e encerrem o ambiente de intimidação que há no Norte do país. Em comunicado, divulgado na página da entidade, a ONG destaca os últimos episódios envolvendo pistoleiros e camponeses. Apenas no final do mês passado, quatro ambientalistas foram assassinados na região.

A entidade critica a atuação das forças policiais no Brasil. “A polícia não tem respondido adequadamente às reclamações sobre os ataques e ainda há mais a cultura da impunidade”, diz a ONG. A Anistia Internacional afirma ainda que para conter a violência no campo é necessário garantir a proteção às pessoas ameaçadas e investigar de forma plena as denúncias.

"Estamos muito preocupados com a segurança das famílias nessas comunidades, que vivem constantemente com medo, após as mortes de seus líderes que estavam 'marcados para morrer' por pistoleiros contratados", disse o pesquisador da Anistia Internacional para o Brasil, Patrick Wilcken.

"As autoridades devem completar o processo de reforma agrária na região e levar segurança a longo prazo para as comunidades ameaçadas."

A Anistia Internacional cita os estudos da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Igreja Católica, indicando que as disputas de terras no Brasil causaram mais de mil assassinatos desde 1970. Do total, poucos foram investigados e levados à Justiça.

A reação da Anistia Internacional ocorre no momento que o governo enviou ao Pará uma força-tarefa, formada por homens da Polícia Federal, Força Nacional de Segurança, Polícia Rodoviária Federal e das Forças Armadas. O estado do Pará, segundo dados do governo, concentra o maior número de ameaças no campo.

A campanha de combate à violência foi determinada pela presidente Dilma Rousseff durante reunião no último dia 3. Participaram do encontro os governadores do Pará, Simão Jatene, do Amazonas, Aziz Elias, e de Rondônia, Confúcio Moura, além dos ministros Nelson Jobim (Defesa), José Eduardo Dutra (Justiça), Maria do Rosário (Secretaria de Defesa dos Direitos Humanos), Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário). As informações são da ABr.

Rio de Janeiro: BOMBEIROS TRAZEM PMs E PROFESSORES PARA O MOVIMENTO





Depois de dias obedecendo as ordens do governo estadual, ontem (08/06), associações de cabos, soldados e oficiais da Polícia Militar decidiram apoiar o movimento dos bombeiros, com a criação de uma frente única de luta por maiores salários e pela liberdade dos 439 oficiais presos em Niterói. O grupo é apoiado, também, pelo Sindicato dos Policiais Civis. O clima de tensão já chegou até Brasília.

Ontem (08/06), na avenida Nilo Peçanha, no Centro, os brasões das duas corporações apareciam em cartazes com as palavras “Juntos somos fortes!”. A concretização da união aconteceu depois de uma reunião entre representantes do movimento e o novo comandante do Corpo de Bombeiros, coronel José Simões, nomeado pelo governador Sérgio Cabral. Reuniões têm acontecido todos os dias sem, no entanto, nenhum acordo efetivo.

Hoje (09/06), eles vão entegar a Simões um documento no qual pedem a libertação imediata dos oficiais presos e exigem uma audiência com Cabral. A reivindicação do piso salarial foi elevada de 2 mil para 2.900 reais.

“Somos militares como os PMs. Os soldos são iguais. Não pode haver diferença. Estamos unidos com um mesmo propósito”, disse Nilo Guerreiro, presidente da Associação de Cabos e Soldados dos Bombeiros, ao jornal O Globo.

Desde segunda-feira pela manhã, já era possível ver pelas escadarias da Alerj policias adereçados com as fitas vermelhas que têm sido distribuídas pelos bombeiros a simpatizantes do movimento. Quando um oficial superior passou pelo acampamento à tarde, no entanto, os PMs tiveram que retirar as fitas, temendo represálias.

No próximo domingo, bombeiros, policiais militares, partidos e organizações populares estarão juntos em uma marcha pela orla de Copacabana. A concentração está marcada para começar às 9h, em frente ao Copacaba Palace, e a previsão é de que o ato seja bastante ecumênico.

Em Brasília, parlamentares alarmados

Ontem (08/06), deputados federais de vários estados fizeram um apelo ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para que ele entre em contato com o governador Sérgio Cabral e peça pressa nas negociações para minimizar a crise aberta com o movimento. O motivo seria evitar, como temem os parlamentares, que as manifestações comecem a se espalhar pelo país.

No Rio, na onda do movimento, professores da rede estadual também entraram em greve. A categoria reivindica um aumento de 26% e fará uma passeata amanhã (10/06), às 13h, partindo da Candelária em direção à Alerj. Lá, deverão encontrar com os bombeiros, que acampam nas escadarias do prédio desde domingo.

Texto publicado em 09/06/2011 às 14:28 na(s) seção(ões) Opinião da revista Consciencia.net.

Outros títulos em Debates Culturais:
 

DECISÃO SOBRE INQUÉRITO A CHRISTINE LAGARDE ADIADA


Fotografia © REUTERS/Petar Kujundzic, em Diário de Notícias

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

A justiça francesa adiou para 8 de Julho a decisão sobre a eventual abertura de um inquérito judicial contra a ministra francesa da Economia e candidata à direcção do FMI, Christine Lagarde, disse fonte judicial citada pela AFP.

A justiça deverá decidir se Lagarde vai ou não ser processada por abuso de autoridade, um procedimento que a própria já qualificou como "normal".

O processo envolve uma decisão da ministra de recorrer a um tribunal arbitral - ou seja, à justiça privada e não à justiça tradicional - para resolver um litígio entre o ex-empresário Bernard Tapie e o Estado francês.

Esse tribunal decidiu em 2008 que o Estado francês teria de pagar 200 milhões de euros ao empresário, pelo que Lagarde pode ter incorrido em "abuso de autoridade" ao gerir o litígio de uma forma que pode ter lesado o Estado francês.

O processo está na comissão de requerimentos do Tribunal de Justiça da República (TJR) - única jurisdição francesa competente para julgar um ministro por factos cometidos no exercício de funções -- que deve anunciar hoje se abre um processo, se arquiva ou ainda se ordena a abertura de um inquérito.

A comissão pode, por outro lado, não anunciar uma decisão hoje para continuar a avaliar o caso numa próxima reunião, a qual deverá realizar-se dentro de dias ou semanas.

Lagarde, candidata à sucessão de Dominique Strauss-Kahn na direcção do Fundo Monetário Internacional, afirmou esta semana que a decisão é uma etapa normal do procedimento judicial e não vai ter influência na sua candidatura.

"O que pode acontecer é que a comissão encarregada de analisar este tipo de processos o ache demasiado complexo e decida pedir uma investigação adicional. Isso faz parte do processo e não me preocupa nada", disse Lagarde na terça-feira

Outras notícias sobre a Europa:

Timor-Leste: "A Língua Portuguesa não é do colonialismo mas Língua do povo" - Mari Alkatiri




MSO - LUSA

Díli, 10jun (Lusa) -- O antigo primeiro-ministro de Timor-Leste e líder da oposição, Marí Alkatiri, defendeu que a Língua Portuguesa tem de ser desenvolvida e recusou que seja uma forma de discriminar a geração criada durante a ocupação indonésia.

Falando num seminário na Universidade Nacional Timor-Lorosae (UNTL), Mari Alkatiri disse compreender a resistência de alguns jovens à aprendizagem do Português, "porque não é fácil aprender", mas rebateu os argumentos de que "é a Língua do colonialismo" e uma imposição das gerações mais velhas aos mais novos, que os descrimina na sociedade.

"Alguns disseram que o uso da Língua Portuguesa é para descriminar os jovens. Compreendo porque a Língua Portuguesa também não é fácil de aprender, mas depois de se saber até é fácil.

A opção pela Língua Portuguesa não é para haver uma descriminação dos jovens, mas, tal como o Tétum, para a afirmação da independência de Timor-Leste", disse.

O atual líder da FRETILIN defendeu que cabe ao sistema de ensino ajudar a criar condições para aprender Português, e que isso não deve ser confundido com nova colonização.

"A Língua Portuguesa não é do colonialismo mas Língua do povo e não de qualquer regime político. É afirmar a identidade de Timor-Leste ligada à sua História.

Os timorenses aprenderam a Língua Indonésia, que também é língua do colonizador, e agora muitos querem aprender Inglês, mas a Língua Inglesa não faz parte da nossa História e a Indonésia só o fez em 24 anos", comentou.

Mari Alkatiri defendeu que a adoção da Língua Portuguesa "não é só um olhar sobre a História, mas para o futuro, porque abre caminhos no mundo", numa alusão aos países da CPLP.

Língua: Estratégias nacionais serão revisitadas devido à importância económica – CPLP




ASP - LUSA

Madrid, 10 jun (Lusa) -- As estratégias nacionais de promoção das línguas serão obrigatoriamente revistas com o progressivo reconhecimento da "importância económica transcendente" do espaço linguístico, afirmou hoje o secretário-geral da CPLP.

Em entrevista à Lusa em Madrid, Domingos Simões Pereira -- que participa num encontro dos "três espaços linguísticos" (português, espanhol a francês) considera vital, porém, reconhecer que há "diferentes dimensões" da intervenção no campo das línguas.

A própria diversidade que se evidencia dentro do espaço da CPLP -- "com oito estados de oito realidades bem diferentes" -- implica que o que para uns "é um debate completamente aceitável a nível multilateral" pode, para outros, "ser ainda uma questão de soberania".

Daí que o responsável da CPLP destaque a importância da troca de experiências, da partilha de informação e dos esforços de colaboração entre os três espaços linguísticos latinos, que assumem "crescente importância económica".

"É neste contexto (de diversidade) que tentamos ver para além do espaço territorial dos nosso países, perceber como outros enfrentam estes grandes desafios", afirmou.

"Mas creio que, a partir do momento em que nossos estados, nacionalmente, compreendam que língua e cultura ultrapassam o domínio da simples pertença e proximidade cultural dos nossos povos, com uma importância económica transcendente, obrigará a revisitar as nossas estratégias nacionais", considerou.

Sobre a promoção do português dentro e fora da CPLP, Domingos Pereira considerou que os Estados "compreendem cada vez mais que a língua não é só uma questão prosaica" abrindo "enormes potencialidades, do económico ao social".

"Estamos a descobrir formas mais completas para utilizar esse instrumento incontornável que é a língua", frisou.

Domingos Pereira dá exemplos dos estudos recentes, realizados tanto pelo Instituto Camões como pelo Instituto Cervantes, que comprovam a relevância económica da língua, "e o seu efeito no PIB".

"Quando o Estado descobre isto, obviamente tem que revisitar as suas políticas, as suas estratégias, para ver se está a tirar proveito dessa nova realidade", disse.

"É o caminho a seguir pelos restantes estados, que no caso da CPLP, devem dar crescente importância a este tema. Claro, sem esquecer o ponto de partida que é a diversidade, a capacidade de trabalharem juntos", considerou.

ANTÓNIO BARRETO ARRASA POLÍTICOS NAS COMEMORAÇÕES DO DIA DE PORTUGAL




António Barreto
defendeu no discurso do 10 de Junho “o apuramento de responsabilidades” pela crise

SIC NOTÍCIAS

O presidente da Comissão Organizadora do 10 de Junho, António Barreto, defendeu hoje "o apuramento de responsabilidades" pela crise, resultado da "imprevidência das autoridades", referiu.

António Barreto discursava na sessão solene do Dia de Portugal, hoje, em Castelo Branco, em que defendeu ainda uma revisão constitucional.
Apesar de não a considerar "solução para a maior parte das dificuldades" defende a revisão "para pôr termo à permanente ameaça de governo minoritários e de parlamentos instáveis".
Segundo referiu, "uma constituição renovada implica um novo sistema eleitoral, com o qual se estabeleçam condições de confiança, lealdade e de responsabilidade, hoje pouco frequentes na nossa vida política".
O discurso de cinco páginas teve como base a crise financeira, mas aborda a crise política e social, apelando a que os portugueses sejam tratados "não apenas como contribuintes inesgotáveis ou eleitores resignados", mas como "cidadãos livres".
Barreto apontou o dedo a "alguns políticos" por "não terem dado o exemplo do sacrifício que se impõem aos cidadãos".
Disse mesmo que "a indisponibilidade (dos políticos) para falarem uns com os outros (...) contrasta com a facilidade e o oportunismo com que pedem aos cidadãos esforços excepcionais".
Agora, e numa alusão às Eleições Legislativas, sublinhou que "o povo falou, fez a sua parte, aos políticos cabe agora fazer a sua".
Para aquele responsável, Portugal está "num desses raros momentos históricos de aflição e de ansiedade colectiva em que é preciso estabelecer uma relação especial entre cidadãos e governantes".

*Com Lusa e Vídeo do discurso de António Barreto, onde os políticos são “desnudados” pelos seus maus carateres e “levam” o recado. (PG)

Portugal: CAVACO SILVA ESTÁ PERDIDO NO LABIRINTO QUE AJUDOU A CRIAR





CAVACO ESTÁ PERDIDO NO LABIRINTO QUE AJUDOU A CRIAR e os seus discursos, mais parecem de um surrealista e patético General reformado da NATO...

O homem cansa até nas condecorações: nunca renegando "os seus", Manuela Ferreira Leite, que também deu sua contribuição à crise corrente, foi uma das personalidades "escolhidas"... não podia ser melhor...

Políticos esgotados, estirpe duma burguesia torpe e mercenária, polvilham os estados europeus e, em relação a Portugal, eles são cada vez mais eloquentes por aquilo que nunca hão-de dizer: entraram num beco sem saída com a lógica que defendem, estão cansados, perderam criatividade, não servem, nem as suas ideias e de há muito que deixaram de ser patriotas íntegros, sérios e dignos!

Por Portugal são convidados a sair e, se persistirem, lá há-de chegar o dia que serão apeados!

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 20




MARTINHO JÚNIOR

O SAL DE ATÍLIO BORÓN

Enquanto uma parte substancial da esquerda latino americana saudava efusivamente a vitória no Peru de Ollanta Humala, o clarividente sociólogo e politólogo Atílio Borón começou por colocar uma pitada de sal na interpretação da conjuntura corrente, esclarecendo a nova encruzilhada em que se está a tornar o Peru, numa síntese de apenas dois parágrafos.

Nessa síntese, Atílio Borón chama a atenção para o comportamento imediato do sector nevrálgico e tão sensível do capitalismo especulativo controlado pela hegemonia e por via do tentáculo que é a Bolsa de Lima: no caso do Peru, no seu entender, esse sector produziu uma autêntica “mensagem mafiosa” (http://www.rebelion.org/noticia.php?id=130024).

“La respuesta es bien simple: porque ante el nuevo cuadro político abierto por la elección de Humala los especuladores que se dan cita en todas las bolsas del mundo (y la de Lima no es una excepción) decidieron enviarle un mensaje mafioso al presidente electo haciendo una pequeña demostración de su poderío y su musculatura financiera.

En suma, una especie de golpe de mercado preventivo, una advertencia y un recordatorio de lo que podría llegar a pasarle en caso de que optara por abandonar el camino trazado por sus predecesores.

El capital no descansa y vota todos los días, y sus estratagemas pueden maniatar a cualquier gobierno.

Humala declaró que será respetuoso de la economía de mercado; al mismo tiempo dijo que quiere acabar con la pobreza y la exclusión social.

Pero si mantiene la economía de mercado, tal cual hoy existe en el Perú, lo seguro será que la pobreza y la exclusión social crezcan al ritmo desmesurado en que lo hace la tasa de ganancia de las empresas.

Tendrá que optar, y en la pulseada con los mercados su arma principal, tal vez la única, será su capacidad para promover la organización y concientización del campo popular.

A escasas veinticuatro horas de las elecciones el mercado le arrojó el guante a Humala y se constituyó como su enemigo.

Habrá que ver como éste reacciona ante la inveterada afición de aquél por las prácticas extorsivas a las que apela para defender los intereses del capital”.

Atílio Borón fornece-nos assim elementos preciosos sobre o que se passa um pouco por todo o mundo, com ementas adequadas a cada caso, mas nunca divergindo no essencial que é propiciado pela lógica capitalista neo liberal, quando se evidencia a ditadura financeira em que vivemos mergulhados, salvo algumas poucas excepções de que o Peru pode vir a fazer parte.

Na guerra da Líbia, ao procurar derrubar a ditadura de Kadafi a hegemonia busca a todo o transe implantar sua própria ditadura manipulando com a democracia representativa que nem sequer é obstáculo para a possibilidade de restauração duma monarquia dócil com raízes na Cirenaica a fim de levar as ingerências a limites que só ela poderá determinar…

Para isso, o congelamento de capitais líbios no exterior, numa altura em que os Estados Unidos e a União Europeia se vêem a braços com uma crise incontornável que castiga os Povos do respectivo espaço geográfico e o não pagamento das dívidas correntes em função do fornecimento de petróleo, impõem-se pela sua evidência e são um “aviso à navegação” em relação sobretudo à conjuntura africana do século XXI.

Mas se a pobre África, berço da humanidade e um pouco a primeiro dos sepulcros da hegemonia, a situação evolui assim, na Europa decadente os Povos vêem-se cada vez mais confrontados com o carácter da ditadura financeira.

No caso português, foi o capital financeiro que atraiu José Sócrates para o campo minado que ele próprio ajudou a construir sem alternativa a braços com a “troika” externa, o campo minado das contradições e do embuste, que foi claramente posto a descoberto durante a campanha eleitoral e influenciou na derrota do PS tal como na implantação duma “maioria de direita” que tudo fará para mudar o que resta da Constituição de Abril.

Em Portugal, perante um eleitorado que demonstrou que está longe dos parâmetros da Revolução de Abril, mas ainda muito próximo da mentalidade da época da Inquisição mesclada com a que foi cultivada durante a ditadura fascista e colonial de Salazar, a ditadura financeira, hábil na “pródiga” cosmética da democracia representativa, ajeitou a mudança de moscas da forma mais conveniente e está pronta a seguir a pista do grande pesadelo.

Contrariando Europa e África, a América Latina busca nas suas raízes autóctones a capacidade para, 200 anos depois do içar das bandeiras, lutar pela independência e pela integração.

No Peru, apesar de tudo, com Ollanta Humala respira-se um outro ambiente sócio-político-cultural e no mínimo é para hoje a possibilidade de sonhar!

Martinho Júnior - 9 de Junho de 2011

Galeano: O MUNDO ESTÁ DIVIDIDO ENTRE OS INDIGNOS E OS INDIGNADOS - entrevista





Confira abaixo a íntegra da entrevista concedida por Eduardo Galeano ao programa Singulars, de TV3, no dia 23 de maio. Ali, ele conta as suas impressões ao se deparar com a Espanha dos "Indignados", fala sobre a crise do sistema econômico e político institucional e também comenta a respeito de futebol. Sobre as manifestações, ele acredita que "são os invisíveis se fazendo visíveis, e os que pareciam mudos fazendo-se escutar. E estão dizendo aquilo que têm que dizer. E neste mundo em que todos falam sem dizer, eles dizem dizendo."

Eduardo, você chega e encontra as praças cheias de gente gritando “outra democracia é possível!”. Que te parece?

Eduardo Galeano – Me parece uma experiência estupenda. A verdade é que foi muito emocionante, para mim, estar entre essas pessoas quando cheguei a Madrid e recuperar esta energia, este entusiasmo. Esta vitamina “E” de entusiasmo, que às vezes parecia perdida neste mundo que nos convida ao desânimo. Então acho que é uma experiência estupenda, e segue sendo, e a palavra entusiasmo é uma palavra linda, de origem grega, que significa “ter os deuses aqui dentro”. E isto foi o que senti quando perambulava entre as pessoas na Puerta del Sol.

“Nos tiraram a justiça, e nos deixaram a lei.” Esta é uma das frases que você pode ler na Puerta del Sol. Que lei nos deixaram, senhor Galeano?

Galeano – A lei do mais forte. É esta lei que rege hoje o mundo, dentro de cada país e entre os países também, e é uma lei insuportável. Parece hoje que os jovens vêm crescendo em matéria de desobediência contra esta lei que os condena à resignação, à aceitação do mundo tal qual é. E hoje há na América Latina toda, ou quase toda, um problema visível e preocupante que é o divórcio, a separação – eu diria que é um divórcio – entre os jovens, as novas gerações, e o sistema político e o de partidos vigente. Eu não reduziria a política às atividades dos partidos, porque a política vai muito além. Mas, sim, me preocupa que, por exemplo, nas últimas eleições chilenas dois milhões de jovens não tenham votado. E não votaram porque não se deram ao trabalho de se registrar e porque, no fundo, não creem nisto. Suponho que, principalmente, por não acreditarem nisto. E me parece que isto não é culpa dos jovens, é muito fácil culpá-los, mas a questão vem de cima, está concentrada no topo, e a estes não importa nada de nada. E também nesse sentido gostei de estar nas manifestações, pelo menos na da Puerta del Sol que foi onde pude estar.

Sabe quanta gente não votou ontem na Espanha?

Galeano – Não, não imagino.

Dez milhões de pessoas não não foram votar.

Galeano – Bem, é grave, não?

Mas também é um direito não votar, certo?

Galeano – Claro, claro que sim. E é também, por vezes, um modo silencioso de protesto. E também acho legítimo que as pessoas se expressem falando ou calando, pois o silêncio às vezes diz mais que as palavras. E o que eu gostei foi ver toda esta ebulição de um protesto pacífico, sem violência, como o que vi circulando entre a gente nas diferentes horas do dia, e da noite também. Muito solidariamente, unidos em uma causa comum, e sustentado com convicção a partir da situação tão penosa que vivem hoje na Espanha e em muitos outros lugares do mundo sobretudo os jovens, e, sobretudo os jovens que não têm uma posição, digamos, acomodada. Lá no Sol diziam “Com causa, mas sem casa!”, e isso me pareceu revelador, porque uma boa parte das pessoas que estão ali ficaram sem casa e sem trabalho. Isto é uma coisa a ser levada em conta.

O que está acontecendo neste momento, em distintos países europeus – e eu suponho que no seu mundo, a América Latina, também, mas conheço mais a situação europeia – é que o povo está dizendo “Basta!”, algo tão claro como nós, pais, dizendo que nossos filhos não terão o mesmo que nós. E tão claro como nós vemos que isto que nós temos é graças à luta que, em seus momentos, lutaram nossos pais e avós com sangue, suor e lágrimas, e conseguiram os direitos que nós, como pais, não podemos dar a nossos filhos.

Galeano – Claro, este é um dos dramas do mundo em nosso tempo, internacionalmente. Dois séculos de lutas operárias que conquistaram direitos muito importantes para as classes trabalhadoras, para os que trabalham, estão sendo descartados, jogados no lixo, por governos que obedecem a uma tecnocracia que se crê eleita pelos deuses para comandar o mundo, esta espécie de governo dos governos. Como este senhor que ultimamente se dedicou a violar camareiras, mas antes violava países e era aplaudido enquanto o fazia e não foi preso por isso. Ele teria que ter sido preso pelas duas coisas, não só pelas camareiras. É esta estrutura de poder que às vezes é invisível e que, no fundo, controla tudo. Então, quando se consegue aglutinar vozes capazes de dizer “Basta!” ou “Não, chega!”, a primeira coisa que se deve fazer é escutar estas vozes, com respeito, sem desqualificá-las de antemão, e saber esperar para ver o que é que a vida quer viver. Estas pessoas não parecem esperar ordens de ninguém, atuam espontaneamente, unindo a razão à emoção. Alguns me perguntam “Como vai acabar isso?” e eu digo “Não sei como vai acabar, talvez nem acabe. E se acabar, aí veremos”. É como o amor que é infinito enquanto dura.

Sabe... O senhor, Eduardo Galeano, com José Luis Sampedro e Arcadi Oliveres, são referentes internacionais de pessoas que, em seu momento, já há bastantes anos, disseram “Basta!”. E Sampedro, muito maior, mas muito jovem, este fim de semana fez uma declaração, não me recordo exatamente, mas era algo assim: “As batalhas, temos que erguê-las e lutá-las. Se ganham, ou se perdem, mas temos que lutá-las. Por que este ato solitário de erguê-las, e de lutá-las, é o que as torna tão valiosas.”

Galeano – Ele é um querido amigo pessoal, e eu o respeito muito. E isto é verdade. Estamos também enfermos de existir. O mundo está preso em um sistema de valores que coloca o sucesso acima de tudo, e, por outro lado, condena o fracasso. Perder é o único pecado que no mundo de hoje não tem redenção. Estamos condenados a ganhar ou ganhar. E, bem, ao longo da história muitas pessoas melhores perderam, e isso não lhes tira nem um pouco a razão. Os dois homens mais justos na história da humanidade, Sócrates e Jesus, morreram condenados pela justiça. Os mais justos foram condenados pela justiça. E não deixam de ser justos.

E nos deixaram a lei.

Galeano – E nos deixaram coisas muito importantes. Em primeiro lugar, amor e coragem.

A santíssima trindade, também chamada de Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch, são as agências que qualificam os riscos. Hoje, elas estão fazendo cair as bolsas e o euro, na Europa, porque voltaram a baixar a qualificação da dívida grega. Quem são estas agências? E a quem obedecem?

Galeano – Segundo minha mulher, Helena Villagra, são “As Meninas Superpoderosas”. Eram personagens de um desenho que passava há não muito tempo. Então são estas meninas, que se consideram no direito de classificar e qualificar os países, e dizer se este ou aquele país está indo por um bom caminho, que é sempre o caminho da obediência às ordens ditadas por um sistema que é sempre inimigo do povo. E são dirigidas por tecnocratas que mandam mais que os governos. Ninguém os elegeu, em nenhuma eleição. Que eu saiba, ninguém votou na Standard & Poor’s – que, se não estou equivocado, significa Médios e Pobres.

Mas você conhece os crimes que cometeram estas agências? Eu entendo quando alguém se equivoca porque se equivoca, sem querer. Mas elas estão destruindo países inteiros, estão jogando contra países inteiros, e ninguém diz nada!

Galeano – E os banqueiros de Wall Street, que foram os principais protagonistas desta crise, que provavelmente é a crise mais grave que o mundo já sofreu em muitos séculos de história, talvez a maior fraude já cometida. E nenhum destes banqueiros foi preso. Vão presos os ladrões de galinhas, mas os banqueiros superpoderosos, como as meninas superpoderosas, estes não vão presos nunca. E cometem crimes de desumanidade. Eu vi agora que o Tribunal Penal Internacional quer julgar Kaddafi. Sabemos que não é nenhum santo e que seguramente merece ser julgado, mas muito mais merecem ser julgados estes senhores que arruinaram o planeta.

E que hoje nos cobram mais que ontem.

Galeano – E que foram recompensados. Eu havia até proposto uma campanha, quando via os pobres banqueiros chorando suas misérias, este desastre, e junto com outros companheiros nós articulamos uma campanha que não teve muito êxito: “Adote um banqueiro”. Vê-se que o mundo tem um mau coração, ninguém o fez.

Eduardo Galeano, como acha que se explica porque nestas reuniões de G20, G8, G1040 – todos dão na mesma –, por que nenhum mandatário, por que nenhum governante, e há alguns das esquerdas, por que nenhum deles se levanta e diz “Basta, acabou! Este mundo não é possível! Eu não vou condenar meus concidadãos à miséria. Não! Basta!” Por que não há nenhum que se levanta, por quê?

Galeano – Há alguns que se levantaram.

No G20?!

Galeano – Não, não, fora do G20. No “G-7 bilhões”, que é esse que abarca a humanidade inteira. Uns tantos se levantaram e disseram “Basta!” e por isso foram condenados ao inferno, claro. Por exemplo, me recordo quando o presidente do Equador, Correa, anunciou que não iria pagar a dívida, que não era legítima. Ou seja, que havia nascido de uma armadilha, de uma fraude, de uma violência. E o mundo se doeu: “Mas como? O Equador vai acabar, esse país vai naufragar. Como é que alguém se atreve?”. E não se acabou nada, porque era perfeitamente legítima a decisão de não pagar as dívidas ilegítimas, que são as que estrangulam a maior parte dos países, sobretudo os países mais pobres.

Então, você vê, o problema é que não falta quem o diga, mas sim, digamos, que... Há um sistema que absolve ou condena segundo a boa ou má conduta dos diferentes governos. Mas às vezes as lições de vida, as lições de dignidade que o mundo necessita são dadas pelos menores. Por exemplo, a Islândia. A Islândia é um país minúsculo, perdido aí nos mares do norte do mundo, habitado por pouca gente – não sei, cerca de 150 mil pessoas, algo assim –, e foi o que mais claramente disse “Não”, nestas circunstâncias muito difíceis, ao Fundo Monetários Internacional e à ditadura financeira do mundo, em dois plebiscitos. Porque o FMI e a UE já haviam dado a ordem à Islândia de que a população, ou seja, os islandeses, teriam que pagar a bancarrota de três bancos de lá, dois bancos muito importantes e outro não tanto, que tinham recebido depósitos de outros países e não podiam pagá-los, e, portanto, a população deveria pagar 12 mil euros per capita. Ou seja, cada cidadão deveria pagar 12 mil euros pela bancarrota dos bancos! Eu não digo que todos os banqueiros sejam delinquentes, mas há banqueiros que são os assaltantes de bancos mais perigosos que há. Eles não carregam nenhuma arma, nem avisam que estão entrando, porque, afinal de contas, estão entrando em suas “casas”. Mas estes são os mais perigosos. E a população da Islândia foi capaz de dizer “Não! Não aceitamos”, e então se fez um plebiscito.

Mas, como para o FMI e para a UE não pareceu ser suficiente, fizeram outro. E ganharam os dois. A Islândia se negou a aceitar como destino a obediência. E afinal, defenderam dignidade humana. Porque este movimento não é o movimento tão lindo, que me encanta ver. Este se chama Movimento dos Indignados, e eles não se equivocam com este nome, porque afinal o mundo está dividido entre os indignos e os indignados.

A Islândia disse “Não!” aos mercados. Nós, jornalistas, dizemos “os mercados”. Quem são?

Galeano – Sim, os mercados... É um termo que se usa. Na infância, era uma palavra lindíssima que dava nome ao local de encontro dos vizinhos do bairro. Com todas as suas cores, das verduras, das frutas, as vozes dos vendedores que vinham até os bairros para vender suas coisas. E era uma palavra muito linda. Mas depois se converteu no nome de um deus invisível e muito cruel, que é este que rege nossos destinos. Então, sempre se diz: “Não, isso não. Vai irritar o mercado!”, porque ele tem humor, este deus. E o mercado manda, mas ninguém sabe muito bem quem é ou do que se trata. É como quando se fala em “comunidade internacional”. “A comunidade Internacional não deveria permitir isto”, a comunidade internacional é um clube de banqueiros e generais, senhores da guerra e senhores do dinheiro que decidem quem é democrata e quem não é, e decidem quem merece o sucesso, e quem merece a desgraça. E, no entanto, ainda há gente que acredita que outro mundo é possível.

Ontem ocorreram na Espanha, como se sabe, eleições locais e regionais e o eleitorado espanhol resolveu, por assim dizer, castigar muito duramente o Partido Socialista Obrero Español (PSOE). Que você acha disso?

Galeano – De fora, não sou ninguém para ditar à Espanha, ou às Espanhas contidas na Espanha, normas de boa ou má conduta, até porque justamente agora eu estava falando contra os sistemas autoritários de poder. E também creio que são autoritários alguns intelectuais que vão dar lições às pessoas nos lugares onde estão visitando. Eu vivi na Catalunha bastantes anos, dez anos, não me considero estrangeiro aqui, mas deve se ter muito cuidado ao julgar ou emitir opiniões a respeito de acontecimentos tão complexos como é uma eleição, nada menos.

Em princípio, me pareceu muito crível uma manchete do Diário Público de hoje, que vi, que dizia que o PSOE havia sido castigado por praticar uma política de direita. Provavelmente algo disso deve ter havido, porque o governo talvez não tivesse mais remédio. Não sei precisamente. Mas sei que sim, a Espanha concordou em fazer coisas que não coincidiam muito com o programa de governo do Partido que segue, contudo, governando a Espanha.

Eu antes fiz uma pergunta dizendo que, para um governante, pode ser cruel, especialmente se o governante luta pra conseguir mais igualdade. Eu disse que nenhum governante se levantava em nenhuma reunião internacional para dizer “Basta!”. Então volto a perguntar: podem fazê-lo? Me refiro ao G20.

Galeano – Eu repito: se o G20 não é capaz de tolerar, admitir e promover a diversidade no mundo, ou seja, se não é capaz de praticar a democracia – porque a democracia é isso, diversidade, escutar todas as vozes, outras vozes, em pé de igualdade –, bem, então é necessário substituir o G20 pelo “G-7 bilhões”, que é esse de toda a humanidade.

E isto como se dará?

Galeano – Não há receita para isso. Eu não conheço, pelo menos. E desconfiaria muito de alguém que quisesse me vender esta receita. São processos muito complexos, muito complicados, e, além disso, a História é uma senhora de ações lentas e andar suave. As coisas não mudam em uma semana ou um mês. É legítima a necessidade humana de que as coisas mudem enquanto estou vivo, claro, eu quero ver estas mudanças. Esta é uma paixão humana completamente compreensível e partilhável. Mas, não condiz com a realidade. A realidade tem seus tempos e o mundo tampouco caminha em linha reta.

A História é lenta, estou de acordo. Mas imagine você estas dezenas de milhares de pessoas que saíram às ruas, que estão ocupando agora mesmo a Plaza Catalunya, aqui em Barcelona, além de outras cidades da Espanha. Quando isto terminar, pois decidiram terminar daqui a algumas semanas, o que vai acontecer? Estes governantes e políticos democrática e legitimamente eleitos vão levar em conta o que foi feito nas praças, o que foi dito nas praças ou não dará em nada?

Galeano – Nada dá em nada quando, digamos, se transmite energia. A energia fica, de alguma maneira. Às vezes se transforma em outra coisa, se arranja de outras maneiras. Mas é muito importante o que está ocorrendo nestas concentrações, que são sobretudo juvenis, mas não somente juvenis. Pois, em última instância, são os invisíveis se fazendo visíveis, e os que pareciam mudos fazendo-se escutar. E estão dizendo aquilo que têm que dizer. E neste mundo em que todos falam sem dizer, eles dizem dizendo. E dizem coisas que vale a pena escutar. E eu acredito que estas vozes vão seguir ressoando. Mas, contudo, não quero ser um otimista profissional porque eu sou otimista de acordo com a hora do dia, às vezes sou muito pessimista. E a esperança é uma coisa que por vezes me cai do bolso, e tenho que buscá-la, descobrir onde ela está, recolher alguns pedacinhos, muitas vezes. Não sou um otimista full time, e, além disto, não acredito em quem é. Em muitos momentos tenho esperança, mas, quando não tenho agarro meus cabelos e rezo pra uma nave espacial me levar pra outro planeta.

Por que você acha que neste último domingo, no Uruguai, se disse “Não” À suspensão da lei de anistia?

Galeano – Sim, este também é um processo complicado de explicar assim. Mas, sim, se perdeu por um voto, uma coisa lamentável. Deve-se acabar com uma lei infame, que é uma lei de impunidade. Eu fui membro das duas comissões que organizaram os dois plebiscitos, e os perdemos. Por muito pouco, mas perdemos. E seguiríamos perdendo, um milhão de vezes. Porque eu não creio que valha a pena viver para ganhar, vale a pena viver para fazer o que tua consciência te diz para fazer. E não o que te convém. E isto vale para tudo, para a política, para a vida, para o amor, futebol. O futebol parece estar agora condenado a jogar pelo dever de ganhar, e não pelo prazer de jogar. Por isso estou muito contente de estar aqui em Barcelona para receber um prêmio de um clube que recuperou o prazer de jogar com beleza e limpamente.

Claro, você vai receber amanhã o Prêmio Manuel Vázquez Montalbán de Jornalismo Esportivo.

Galeano – Sim, e é uma sorte para mim. Sou muito fã de futebol, muitíssimo fã de futebol. E creio que o futebol é um espelho do mundo, que a vida se reflete ali. O melhor e o pior da condição humana estão no campo.

Você é muito fã de futebol, como disse, então suponho que verá este time prodigioso que está fascinando o mundo inteiro, como o Barça, certo?

Galeano – Sim, sim. Eu adoro o Barça, e, além disso, gosto muito de ver o Messi jogando. Vou contar algo que me veio à cabeça agora e que tem relação com isto... Eu estava no México e em uma das intervenções públicas que estive, me permiti sugerir aos meus amigos mexicanos que tivessem cuidado com seu poderoso vizinho do norte que tem o péssimo costume de “salvar” os demais países. E lhes contei que quando vou aos Estados Unidos e faço leituras de meus livros, ou vou às universidades, coisas assim, sempre começo por suplicar para que, por favor, não me “salvem”. Eu não quero ser salvo, e este poderoso vizinho do México “salvou” o Iraque convertendo-o num manicômio, está “salvando” o Afeganistão convertendo-o em um vasto cemitério. Então eu dizia aos mexicanos “Vamos desconfiar dos messianismos, dos messiânicos. O único messianismo que não é perigoso é o que se chama Lionel Messi.”

O que é Messi?

Galeano – É a alegria de jogar. Ele joga como se fosse uma criança na várzea, em um campinho, com essa mesma alegria. Espero que não a perca nunca. Ele é excepcional. Por jogar como profissional, tem que cuidar das pernas de outra maneira, mas ele joga esquecendo de que é o número 1. Ou seja, Lionel Messi não acredita ser Lionel Messi, por sorte.

Guardiola?

Galeano – Merece tudo isto, e repito desde que ele era um grande jogador. Não podemos esquecer de que ele foi um grande jogador antes de ser um grande técnico capaz de organizar uma equipe solidária. Um por todos, todos por um, mas onde todos podem jogar e desfrutar. A verdade é que não digo estas coisas para ficar bem com o lugar onde estou, são coisas que acredito profundamente. Não tenho o costume de elogiar quando me convém.

Você sabe que nestas últimas semanas duas equipes antagônicas, Madri e Barça, se enfrentaram quatro vezes, creio. Você enxerga um estilo diferente no Galeanoeal Madrid, você que é tão fascinado por futebol?

Galeano – Sim. Com Mourinho, sim. Mas o Real Madrid pode muito mais do que tem feito nas mãos deste senhor, que além de tudo é muito antipático, porque é muito arrogante. O médico me proibiu contato com os arrogantes.

O médico proibiu? E há muitos deles?

Galeano – Sim, há muitos deles, e eu não sei lidar!

Eduardo Galeano, outra das frases, ou mensagens, das concentrações nas praças da Catalunha e da Espanha é esta: “Se não nos deixam sonhar, não vos deixaremos dormir!”. E eu vou te pedir agora, espero que aceite, que nos faça sonhar com a leitura de algum de seus fragmentos.

Galeano - Sim. Vou ler algumas palavrinhas que tem a ver com o direito de sonhar, com o direito ao delírio, a partir de algo que me ocorreu em Cartagena das Índias, há algum tempo, quando eu estava na universidade fazendo uma espécie de palestra com um grande amigo, diretor de cinema argentino, Fernando Birri. E então os meninos, os estudantes, faziam perguntas – às vezes a mim, às vezes a ele. E fizeram a ele a mais difícil de todas: um estudante se levantou e perguntou “Para que serve a utopia?”. Eu o olhei com dó, pensando “Uau, o que se diz numa hora dessas?”, e ele respondeu estupendamente, da melhor maneira. Ele disse que a utopia está no horizonte, e disse “Eu sei muito bem que nunca a alcançarei, que seu eu caminhar dez passos, ela ficará dez passos mais longe. Quanto mais eu buscar, menos a encontrarei, porque ela vai se afastando à medida que eu me aproximo”. Boa pergunta, não? Para que serve a utopia? Pois a utopia serve para isso: caminhar.

Já sei que você não vai gostar do que eu vou te perguntar a seguir, mas devo perguntar. Vamos falar um pouco de você. Você tocou em quase todas as teclas: narrativas, crônicas, jornalismo, desenhista.

Galeano – Sim, é verdade. E é verdade também que aquilo que escrevo é inclassificável e isso me dá muita alegria. Porque um dos vícios deste mundo, mundo nosso que nos cabe viver, tem um costume perverso, uma espécie de mania, de colocar uma etiqueta na testa de cada pessoa, talvez para poder manipular melhor a condição humana que, por si, tende à liberdade. Classificar-nos seria uma maneira de nos tornar prisioneiros, então o mesmo acontece com os gêneros literários. E aí é que me encanta não ser classificado, quando dizem “O que é isso que estou lendo? É ensaio, poesia, crônica, é ficção, não-ficção, de que se trata?”, e eu respondo que não tenho a menor ideia e não quero saber do que é isso que faço. Porque eu sigo o conselho que um senhor me deu, estando eu perdido pelas ruas de Cádiz, há um tempo, me perco sempre porque sou muito disperso e não tenho senso de orientação, ou tenho um grande senso de desorientação, pois me perco continuamente. E estava perdido em Cádiz e eu perguntei pelo Mercado Viejo a um senhor que estava contra a parede, apoiado, e sem desencostar ele me disse: “Nada, faça o que a rua te disser!”. E eu faço aquilo que a rua me diz. Na literatura e na vida também.

Transcrição e tradução de Cainã Vidor.

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