sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Brasil: “É PRECISO QUE AS PESSOAS QUEIRAM EXERCER O DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE”




Márcio Markman - De Recife, Especial para Carta Maior

Em entrevista à Carta Maior, Maria do Amparo Almeida Araújo, que combateu a ditadura pela Ação Libertadora Nacional (ALN), fundou o Coletivo Tortura Nunca Mais de Pernambuco e hoje é secretária de Direitos Humanos e Segurança Cidadã na Prefeitura do Recife, fala sobre a Comissão da Verdade e os obstáculos para que a memória e a verdade sobre o período da ditadura venham à tona. "É preciso que as pessoas queiram exercer esse direito. Infelizmente, talvez pela distância, pelo tempo, as pessoas não estão muito sensibilizadas com isso", afirma.

Não há qualquer exagero em afirmar que a alagoana de Palmeira dos Índios, Maria do Amparo Almeida Araújo, 61 anos, tem uma vida dedicada à luta pela liberdade e a defesa dos Direitos Humanos. Após três anos morando em São Paulo, ela ingressou ativamente no combate à ditadura militar, através da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização da qual se tornou militante junto com o irmão mais velho, Luiz. Tinha apenas 17 anos.

Amparo é um exemplo de uma cidadã brasileira que teve a vida marcada pela face mais desumana da ditadura. O irmão Luís está na lista dos militantes desaparecidos. Durante os anos de chumbo, teve ainda três companheiros desaparecidos. Iúri Xavier Pereira, Luiz José da Cunha e Thomaz Antonio da Silva Meireles Neto. Iúri e Luiz José foram mortos por policiais do Doi-Codi, o braço forte da repressão. Thomaz foi preso em 1974, no Rio de Janeiro, e engrossou a lista de desaparecidos políticos.

Entre 1972 e 1977, a família pensou que Amparo também havia sido executada pelas forças reacionárias. Só ficaram sabendo que estava viva quando retornou a Alagoas, no final de 1977, após a dissolução da ALN.

No ano seguinte, ela ruma para o Recife, onde se forma em Serviço Social e permanece de forma ativa na defesa dos ideais libertários e, após a queda do regime militar, na busca pela verdade do que realmente ocorreu com os brasileiros que tiveram seus direitos humanos violados no período da ditadura. Milhares de torturados, centenas assassinados e de desaparecidos.

Juntamente com quatro ex-militantes, o jornalista e poeta Marcelo Mário Melo, o vereador de Olinda, Marcelo Santa Cruz, e os sociólogos Francisco de Assis e Alberto Vinícius, fundou o coletivo Tortura Nunca Mais, de Pernambuco. O movimento tem como pilares divulgar e esclarecer a prática da tortura durante a ditadura militar e auxiliar os presos políticos na busca pela anistia plena.

Atualmente, a ONG Movimento Tortura Nunca Mais, que já teve Amparo como presidente, toca uma série de projetos sociais na busca pelo resgate da cidadania e da paz em Pernambuco. São ações das mais variadas formas e alcances, como o combate à violência doméstica, a prevenção à violência nas escolas, a profissionalização de jovens e a capacitação de policiais na defesa dos Direitos Humanos.

A trajetória de Amparo Araújo ganhou mais um capítulo em 2003, quando ela se tornou ouvidora da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, função exercida até dezembro de 2008. Foi quando ela deixou o Governo de Pernambuco para assumir a função que exerce no momento, a de secretária de Direitos Humanos e Segurança Cidadã da Prefeitura do Recife.

Foi no escritório apertado e cheio de pilhas de papéis, na Secretaria de Direitos Humanos, que Amparo conversou com Carta Maior. Ela vinha de uma semana puxada, com reuniões de trabalho da Secretaria, uma viagem a Brasília e compromissos em eventos institucionais da Prefeitura do Recife. A eterna militante começou a entrevista pedindo desculpas pela fala pausada e o tom de voz cansado, por conta do corre-corre dos dias anteriores. Ao final do encontro, parecia uma outra pessoa. Falava com energia ao relembrar as tristes histórias do passado e ainda com mais altivez sobre os temas futuros, como a batalha que se inicia com a Comissão da Verdade.

Carta Maior – Qual a sua expectativa sobre a criação da Comissão da Verdade e o que ela pode representar de real nessa luta que a senhora desenvolve há tantos anos para buscar o paradeiro dos milhares de desaparecidos políticos da época da ditadura militar brasileira?

Amparo Araújo – Há 30 anos a gente luta por essa comissão, pela abertura dos arquivos, pelo reestabelecimento da verdade. E a gente tem alguns acervos. O acervo da Comissão da Anistia, que tem um pouco dessa história. Tem o acervo da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos. Mas nenhum desses acervos indica como as pessoas foram mortas. Quem matou, onde, quando, onde estão os restos mortais. Agora surge a nova possibilidade dessa comissão, que é uma revindicação antiga. Podemos dizer que é uma terceira tentativa. Nenhuma delas se propõe a fazer Justiça.

De qualquer jeito, é um passo – um terceiro passo – o que já mostra que nós não paramos, que os familiares e a Sociedade continuam pressionando o Estado brasileiro para que ele deixe de ser um estado terrorista. Tiveram os oito anos do Governo Lula, onde a gente tinha grandes expectativas que não foram cumpridas. Se avançou um bocado na estruturação da Secretaria de Direitos Humanos, com todas as publicações que, por um esforço sobrehumano do ex-ministro Paulo Vannuchi foram feitas, mas isso ainda é muito pouco. Eu tenho receio que essa comissão, do jeito que está aí, também seja muito pouco. E a gente vai ter que continuar lutando. A gente não pode pensar que um dia essa história vai ter fim, porque é muito difícil o fim dessa história.

Carta Maior – A criação da Comissão tem gerado sentimentos distintos. Enquanto alguns comemoram a iniciativa, outros preferem enxergar os pontos negativos para justificar uma insatisfação. Em que campo a senhora está?

Amparo Araújo – Não posso dizer que esteja totalmente insatisfeita, mas não estou satisfeita. Não era isso que a gente queria. A comissão, do jeito que está colocada, tem vários pontos polêmicos. Mas o importante é que o tema voltou a ser pautado, tanto na mídia quanto na Política. E se nós, a Sociedade civil, os familiares e os sobreviventes, conseguirmos nos organizar... A gente não vai poder parar, entendeu? Não sei até que ponto a gente sonhou com uma coisa pronta e acabada. Ela não veio pronta e acabada e isso gerou uma certa frustração. Eu tenho visitado outros países do Mercosul, todos eles por onde tiveram ditaduras, e nesses outros países já tiveram várias comissões. Na Argentina, a Lei do Ponto Final foi derrubada, porque houve uma pressão da Sociedade civil. Forçou o governo a tomar essa decisão política.

Carta Maior – Quais os pontos que a desagradam na Lei, como está posta?

Amparo Araújo – Essa questão do tempo, por um lado eu acho um tempo muito longo. Que pega desde a ditadura de Vargas. Mas tem muita coisa desse período que não foi esclarecida. Quando a gente abriu os arquivos do Dops, em 1989, que foi o primeiro arquivo a ser aberto, a quantidade de dossiês da época da ditadura de Vargas é muito grande. O que aconteceu com essas pessoas? A gente não sabe. A quantidade de pessoas que farão parte da comissão é muito pequena, o período também é muito pequeno. Acho que vai ser uma medição de forças o tempo todo.

Dois anos é impossível investigar todo esse período. Dois anos é um tempo curto até para o período da última ditadura, que dirá o da ditadura anterior. A gente vai ter que fazer um esforço sobrehumano. Nós, os sobreviventes, os familiares, a gente tentar envolver as universidades, os sindicatos, o movimento que trabalha a questão da terra, ir atrás dessa memória. Não é um trabalho fácil. Mas nada nunca foi fácil nesse nosso país, para ninguém.

Carta Maior – Para muitos, havia a expectativa de que a Comissão da Verdade pudesse ter poderes de punir possíveis torturadores, algo que só diz respeito ao Judiciário. A senhora acredita que, de certa forma, o trabalho da comissão pode ao menos gerar uma nova leva de processos contra os que praticaram crimes na época da ditadura?

Amparo Araújo - É muito duro, porque nossas mães já morreram. Nós estamos envelhecendo. A gente tem que encerrar essa história. Clarear essa história. A punição das pessoas é importante para resolver uma questão de Justiça. A impunidade de que essas pessoas tiveram a benesse, depois de terem cometidos crimes contra a humanidade, faz com que esses crimes se perpetuem. Os profissionais de Polícia se consideram impunes. Essa nossa ação, nossa luta, nossa busca, o maior objetivo dela, além da punição das pessoas que violaram os diretos humanos dos nossos familiares e os nossos, é a ação pedagógica. Para que o Estado nunca mais volte a permitir que crimes dessa natureza aconteçam.

Carta Maior – Como a senhora avalia a proposta de alguns parlamentares da Oposição e de lideranças das Forças Armadas que defendem que os militantes dos grupos armados de Esquerda que atuaram no período da repressão também sejam analisados pela Comissão da Verdade?

Amparo Araújo – Eles pensam que as pessoas têm deficiência cognitiva. Há uma diferença muito grande. Porque nós todos fomos presos e cumprimos penas. Inclusive a presidenta Dilma. Quem nunca cumpriu pena, quem nunca foi preso, foram justamente eles, que foram os perpetradores das violações contra os direitos humanos de toda uma sociedade. Porque todo mundo sofreu na época da ditadura. É difícil você encontrar uma família que não teve um membro, ou um amigo, um conhecido ou um parente que foi preso, torturado e perseguido. Eles estão equivocados. Nós fomos perseguidos, presos, torturados, muitos foram mortos e ainda tiveram seus cadáveres ocultados. Nunca houve uma punição para esses crimes.

Carta Maior – Eles se apegam à Lei da Anistia para argumentar que o Brasil já zerou essas questões...

Amparo Araújo – Eles dizem que foi um acordo, mas acordo com quem? As pessoas estavam presas, exiladas. Isso não é verdade. Os setores conservadores da Sociedade brasileira que estão representados no Congresso dão a interpretação que eles querem dar. O Governo não tem uma hegemonia. A presidenta Dilma se submete ao que o Congresso decide. Não é isso que o estado democrático de direito dentro do regime presidencialista que a gente vive? Se a gente permitir que esses crimes continuem impunes, a gente está permitindo que se perpetue a violação dos Direitos Humanos por parte dos agentes do Estado. Não foram só os militares que cometeram crimes contra a humanidade durante o período da ditadura. Muitos civis foram coniventes. Dirigentes de órgãos públicos que emprestavam sua estrutura para ser utilizadas para fazer atentados.

Aqui, em Pernambuco, temos vários casos, como o da Rural Willys branca e verde que aparece no atentado a Sandro Tito, na morte de Padre Henrique, na ocultação do cadáver de Ezequias. Ele era do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]. E os dirigentes desses órgãos não eram militares, eram civis. O pessoal costuma chamar de ditadura militar, mas foi uma ditadura civil e militar. O Brasil está se recusando a cumprir a sentença da corte. Nosso país assinou os tratados, está submetido à Corte da ONU em sua plenitude. O descaso com que eles trataram a família dos desaparecidos do Araguaia... Isso é um crime continuado, está valendo até hoje.

Carta Maior – Mas, recentemente, o Supremo Tribunal Federal referendou o que havia sido decidido na Lei da Anistia, ao se colocar contra um processo de revisão.

Amparo Araújo – Essa posição do STF é retrato do que é o Poder Judiciário em nosso País. Não sou da área de Direito. Nós temos três poderes. Nada impede, nem mesmo hoje, que nós entremos na Justiça contra qualquer torturador. Tanto é que tem duas famílias que movem processos contra Carlos Alberto Brilhante Lustra, a família Teles e a família Medeiros. Independentemente de comissão. É uma luta muito difícil dessas famílias, pois eles estão praticamente sozinhos. Mas eles tiveram a coragem de entrar na Justiça contra essa criatura aí. Há provas concretas contra ele, com testemunhas e tudo. Se a comissão trabalhar bem a coleta de documentação, a oitiva de testemunhas – a comissão vai ter poder de convocar os perpetradores que ainda estão vivos a depor, para serem interrogados – essa peça que vai ser construída vai ser um instrumento paras que as famílias entrem na Justica, que é um outro poder. Correndo o risco do processo ser arquivado. Só vai para a corte depois que todas as instâncias no Brasil forem esgotadas.

Além do processo do Araguaia, tem um processo que eu abri na corte interamericana dos diretos Humanos, pela morte de Luís José da Cunha, meu ex-marido, que foi morto em 1973. Ele foi preso vivo e é morto na Operação Bandeirantes. Pude entrar na corte interamericana porque todos os processos que movi em nível de Brasil foram arquivados. Entrei através do Ministério Públuco Federal, em São Paulo. Entrei com o meu processo e Clarissa Herzog entrou com o processo de Wladimir Herzog, jornalista que foi morto sob tortura. No caso dela, também se esgotaram todas as possibilidades na nossa corte. Outras famílias também podem fazer a mesma coisa.

Carta Maior – A senhora nunca deixou de ser uma ativa militante pelo respeito aos Diretos Humanos. Inclusive com uma atuação bem próxima das forças policiais. É possível afirmar categoricamente que a tortura é algo que perdura no País?

Amparo Araújo – Durante o período da ditadura militar, ela foi uma política de Estado. Nós tínhamos um estado terrorista. E a tortura ainda continua. Tenho certeza que, neste momento, em praticamente todas as delegacias, tem alguém sendo torturado. É uma herança, por conta da impunidade. E a forma como a nossa Polícia atua ainda está muito carregada dessa certeza da impunidade. Se você olhar, tem o caso do menino Jean, no Rio de Janeiro. Eles agiram igual. Eles atiraram no garoto, sequestraram o garoto, talvez ainda com vida, mataram o garoto e ocultaram o cadáver dele.

No Recife houve outro caso assim há poucos dias. Acho que eles só não fizeram a mesma coisa porque tinha gente vendo. Mas eles largaram o menino, nem sequer socorreram. Eu fui ouvidora da Polícia. Fiquei arrasada com aquilo, porque aqui, desde 1993, existe a cadeira de Direitos Humanos na grade curricular da formação dos policiais. A instrução que eles recebem era para que não houvesse mais esse tipo de atitude. É inadmissível que isso ainda aconteça. Acho que ainda tem na cabeça deles a certeza da impunidade. A Polícia continua extremamente violenta. O que eles chamam de auto de resistência são execuções sumárias. A maioria dos autos de resistência é tiro na cabeça. Isso é execução. Mas não sei se a sociedade está preocupada com isso. Quem morre mais é pobre.

Em 2006, em São Paulo, naquela ação em alguns policiais foram mortos pelo crime organizado, a recíproca foi muito mais forte. Não me iludo em relação a isso. A questão do respeito aos Direitos Humanos, ela tem que ser uma luta com o Estado. Nós tínhamos uma coordenadoria na época do doutor [Miguel] Arraes [ex-governador de Pernambuco]. Depois passou a ter uma Secretaria Especial de Justiça e Direitos Humanos, agora ela também tem a questão da Ressocialização. Mas quantos municípios têm secretaria de Direitos Humanos? Só Recife e Jaboatão dos Guararapes. E são 186 cidades em Pernambuco. O simples fato de existir já significa uma sensibilidade política.

Carta Maior – Com todos esses questionamentos sobre a eficiência ou a ineficiência do que da Comissão da Verdade, o que a senhora espera da Sociedade. Não falo dos movimentos organizados, mas do cidadão comum. Que tipo de postura a senhora imagina que o brasileiro vai ter no momento em que forem à tona as histórias dos anos de chumbo?

Amparo Araújo – É preciso que as pessoas queiram exercer esse direito. Infelizmente, talvez pela distância, pelo tempo, as pessoas não estão muito sensibilizadas com isso. Eu vou em outros estados e vejo como reverenciam Frei Caneca, por exemplo. Aqui, em Pernambuco, as pessoas não sabem qual o papel de Frei Caneca na revolução [de 1817]. É muito maior que o de Tiradentes. Qual o valor que Pernambuco dá a ele? Veja Zumbi. Nós temos um memorial, as pessoas que trabalham com a questão da igualdade racial sempre lembram disso, mas é só. Zumbi é considerado um herói das Américas! O centenário de Paulo Freire é muito pouco falado. Apolônio de Carvalho, um brasileiro, militante internacionalista, participou da Guerra Civil Espanhola, da Resistência Francesa, estamos no centenário de Apolônio de Carvalho e ninguém o conhece. E sabe de quem é a ficha número 1 do Partido dos Trabalhadores? É de Apolônio de Carvalho. Mas ninguém fala nisso. Eu gostaria muito que a Sociedade, como um todo, entendesse que o direito à memória e à verdade é de todos. É algo de que a gente não pode abrir mão.

Fotos: Eduardo Seidl

EUROPEUS TENTAM CONVENCER CHINA A INVESTIR MAIS NO RESGATE DO EURO





Chefe do fundo de resgate europeu, Klaus Regling, viaja a Pequim e tenta atrair investimentos para salvar economia do bloco em crise. Cautelosos, chineses preferem esperar por detalhes sobre plano de recuperação do euro.

Ainda sem enxergar uma solução efetiva para pôr fim à crise da dívida que ameaça as economias do continente, a Europa busca ampliar ajuda externa. Nesta sexta-feira (28/10), o chefe do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), Klaus Regling, esteve em Pequim para buscar apoio financeiro da China. Nenhum acordo ainda foi fechado, mas Regling afirma estar confiante que o gigante asiático continuará comprando títulos emitidos pelo fundo de resgate.

O encontro com os chineses aconteceu um dia após líderes da zona do euro terem anunciado medidas para a busca de uma solução para a crise. Os chefes de governo e de Estado acertaram o perdão de 50% da dívida da Grécia e o fortalecimento do FEEF, que passará dos atuais 440 bilhões de euros para 1 trilhão de euros.

Assim que os europeus chegaram a um acordo em Bruxelas, nas primeiras horas da última quinta-feira (27/10), o presidente francês, Nicolas Sarkozy, já começou a buscar ajuda financeira na China por telefone, afirmando que Pequim "tem um papel importante a desempenhar".

O vice-ministro chinês das Relações Exteriores, Fu Ying, cumprimentou os europeus pelo "resultado positivo" da cúpula do euro. Antes de ampliar seus investimentos no agora reforçado fundo europeu, porém, o país pretende aguardar os detalhes técnicos sobre o funcionamento do novo mecanismo, disse o vice-ministro chinês de Finanças, Zhu Guangyao. Ele classificou sua conversa com Regling como "bastante profissional".

A China é atualmente o mais importante investidor em títulos do FEEF. Guangyao espera que as novas condições para investimento sejam finalizadas entre o final de novembro e o início de dezembro.

Joseph Jannig, diretor de Estudo no Centro de Políticas Europeias em Bruxelas, ressalta os investimentos da China costumam ser dirigidos politicamente. Segundo ele, os europeus querem agora convencer os chineses que "eles têm interesse em contribuir para a estabilidade do sistema internacional".

Interesses comuns

Os líderes da zona do euro agora estão sob pressão para concluir rapidamente os detalhes do fundo, a fim de melhor convencer a China e outros eventuais investidores a apoiarem o bloco. Os ajustes finais do FEEF devem esclarecer a maneira como serão alavancados recursos. Espera-se que ele ofereça alternativas de investimento mais atraentes do que os títulos estatais.

"Todos nós sabemos que a China tem uma necessidade particular de investir seu superávit", afirmou Regling em uma coletiva de imprensa. A China é o país com o maior volume de reservas em moeda estrangeira no mundo – 3,2 trilhões de dólares. O chefe do FEEF ressaltou que o resgate à Grécia foi um caso excepcional, e que não deve se repetir com outros países.

Especialistas acreditam que a negociação deve ser produtiva e os europeus receberão dinheiro asiático. Para Jonathan Holslag, do Instituto de Estudos Contemporâneos sobre a China em Bruxelas, os chineses devem acabar investindo no fundo, ainda que para eles não seja "uma questão de escolha, mas sim de necessidade".

"Sabemos que eles estão tentando diversificar seus investimentos globais e não apenas colocar todos os ovos na cesta do dólar", avalia Holslag. "Eles têm que participar de uma maneira ou de outra da estabilização do euro se quiserem manter sua atual política monetária".

Holslag admite, porém, que a zona do euro não é tão atrativa quando os líderes europeus tentam destacar, e que o entusiasmo asiático é bem menor que há alguns anos. "Os chineses perderam sua confiança na Europa como um ator político, uma economia de liderança, e como um modelo para construir um estado de prosperidade e desenvolvimento social", afirma Holslag. Ele acredita ainda que os chineses hoje em dia enxergam o Velho Mundo como um "grupo arruinado de países decadentes, que não merecem o produto do árduo trabalho da China".

Toma lá, dá cá

O professor de Estudos Europeus do Instituto de Estudos Estrangeiros de Pequim, Liu Liqun, confirma o ceticismo chinês, mas ele também acredita que o país deve ajudar, embora não incondicionalmente. "Se ajudarmos, vamos esperar algo em troca", diz ele, citando como exemplo o fim da "política discriminatória" contra Pequim, revogando o embargo de armas e também elevando seu status para economia de mercado – pedidos que os líderes europeus talvez não estejam dispostos a atender.

O vice-diretor da consultoria econômica Brügel, Guntram Wolff, avalia que a Europa pode se beneficiar de algumas concessões. "É óbvio que se você fornece dinheiro a alguém, vai querer algo em troca. Mas talvez seja possível que os chineses contentem-se com os lucros dos juros e de certas reformas estruturais, como na Itália e em outros países da zona do euro, o que vai garantir a segurança de seus investimentos. E isso não seria nada mal", diz Wolff.

Papel de avalista

Para o ministro francês das Finanças, François Baroin, investimentos da China, "o terceiro maior acionista da Fundo Monetário Internacional", ajudariam a inspirar a confiança de outros investidores na Europa. "O que está acontecendo na Europa e criando instabilidade é que investidores públicos e privados estão pulando fora", afirmou Baroin.

Muitos mercados financeiros estão preocupados que o fundo não seja amplo o suficiente para cobrir eventuais dificuldades da Itália e da Espanha, caso os dois países se afundem ainda mais na crise.

A Suíça afirmou estar avaliando a possibilidade de participar do FEEF por meio de um investimento especial. A ideia, porém, tem grandes chances de encontrar barreira na oposição por conta do tradicional ceticismo suíço com relação ao euro.

A Noruega, porém, cujo fundo de petróleo de 572 bilhões de dólares é o maior investidor em ações europeias, disse ter menos de 100 milhões de euros em investimentos no FEEF e afirmou que não investe em qualquer esquema de resgate do euro que tenham elementos de auxílio.

MSB/dw/rts/dpa - Revisão: Francis França

KADAFI – OS ERROS DE APRECIAÇÃO ESTRATÉGICA PAGAM-SE CARO – III




MARTINHO JÚNIOR, Luanda

Ao longo dos primeiros anos do século XXI as potências ocidentais iniciaram, com base na ilusão das parcerias estimuladas pelo próprio Kadafi, os programas estratégicos que preparavam as profundas alterações de conveniência, de que a guerra de oito meses que findou com o assassinato de Kadafi é apenas o cenário evidente e sangrento da transição, conforme aliás à filosofia crítica que tem sido exposta com tantos e tantos exemplos por Naomi Klein em “Doutrina de choque” – http://www.naomiklein.org/shock-doctrine.

A crise financeira global e em especial nos constituintes do império da hegemonia anglo saxónica, bem como a chegada ao poder da explosiva conexão de conservadores e neo liberais na Grã Bretanha e na França, estimularam a decisão dos abutres sobre o corpo inerte da Líbia!

Se o MI-6 garantia a continuidade dos esforços de inteligência que mergulhavam pelo menos até ao passado de mais de 42 anos e à instalação da monarquia do rei Idris (os britânicos possuem um acervo de inteligência que sob o ponto de vista histórico não tem paralelo por que foram eles que formaram o maior império colonial), a inteligência francesa (outra potência colonial de maior grandeza em África), sob os auspícios dos falcões de Sarkozy, intimamente associados a norte americanos e a britânicos, depressa foi instada como nervura táctica sensível que tornava praticável o desencadear das acções operacionais, civis e militares, que se seguiriam para fazer explodir Kadafi e o seu poder por via intestina em Tripoli, enquanto se preparavam as formas convenientes da sua substituição (Bengazi e desenvolvimentos em curso)…

A batalha pelas cidades, sob o ponto de vista estratégico, foi outro embuste para Kadafi engolir: de facto, as cidades líbias, quase todas elas situadas junto à costa, são fulcrais para o país, mas numa situação de ingerência, manipulação, desestabilização e de guerra tornariam o poder progressivamente vulnerável.

Ao invés de colocar capacidades estratégicas em lugares difíceis do território nacional e de sua periferia, Kadafi aceitou o estímulo pelas cidades, que foi lançado a toda a sua articulação.

É isso que tem acontecido até agora e, à medida que o tempo dita a sua lei, é difícil prognosticar que algo saia daquele imenso deserto para alterar a situação corrente.

Como a França foi a potência que se opôs a Kadafi nas disputas do norte do Chade, como a França aglutina conhecimentos importantes e diversificados sobre todo o Sahel, a França era imprescindível para a aliança formada a partir da decisão do Conselho de Segurança da ONU, inclusive para compor o ramalhete de interessados na vingança.

Por essa razão eu coloco Sarkozy, o seu poder de decião e intelectualmente, como o principal algoz “táctico” de Kadafi, por que os indícios que despontam até ao assassinato de Kadafi, apesar das tentativas de ocultação que se têm lançado através de várias cortinas de fumo pela via dos “media de referência”, bem como as tentativas para apagar cenários e fontes, se conjugam e são sugestivos, sob os pontos de vista das técnicas de que se servem os serviços de inteligência, os reconhecimentos em profundidade e as forças especiais!

Essa manobra integrada (com recurso a componentes político-diplomáticos, aos serviços de inteligência, ao reconhecimento profundo, às forças especiais, a empresas e iniciativas empresariais e tecnológicas e à panóplia de meios adstritos a esses sectores de actividade), terá começado em 2007.

Os sinais a que me reporto referem-se à chegada à Líbia, por via do “mercado dos negócios”, da empresa “Amesys” e com ela do “Groupe Bull” a Tripoli.

Uma notícia sensível, publicada a 18 de Setembro de 2011, levantava uma pequena ponta das iniciativas comerciais da “Amesys” em Tripoli:


“Segundo o Mediapart, o valor da venda foi de 4 milhões de euros

Uma empresa francesa forneceu em 2008 ao regime líbio, com a aprovação do governo, um veículo blindado para garantir a proteção do então líder Muamar Kadafi, afirmou neste domingo (18) o site Mediapart.

O veículo utilitário, fabricado pela francesa Amesys, filial da Bull, foi fornecido a Trípoli por intermédio do franco-libanês Ziad Takkieddine, acusado em um caso relacionado aos atentados de Karachi, no Paquistão, informou o site.

A venda teve, desde 2007, o apoio do então ministro do Interior e atual presidente, Nicolas Sarkozy, e de seu então chefe de gabinete, Claude Guéant, atual ministro do Interior.

O carro foi entregue em 2008, dessa vez com a aprovação do Palácio do Eliseu, detalhou o site.

A presidência francesa não quis comentar o caso.

Segundo o Mediapart, o valor da venda foi de 4 milhões de euros.

Ela fazia parte de um contrato para aumentar a segurança do regime líbio - que compreendia ainda equipamentos para codificar comunicações e vigiar a Internet - assinado em 2007 com a Bull-Amesys, no valor de 26,5 milhões de euros.

A ONG Sherpa entrou na semana passada com um processo contra a Amesys, por suspeitas de que a mesma vendeu à Líbia em 2007 um sistema de vigilância à distância destinado a perseguir as forças rebeldes".

A pressão de activistas ligados aos Direitos Humanos e à ONG Sherpa, quanto a mim fazem parte da cortina de fumo que deliberadamente os serviços de inteligência franceses desencadearam sobre esse assunto, até por que a “Amesys” afinal não vendeu só o tal blindado, vendeu e instalou todo um sensível sistema de escuta electrónica e comunicações respondendo à motivação “activa” de Kadafi lutar contra os dissidentes internos e, especialmente, “contra o terrorismo islâmico”… e dando oportunidade “passiva” à filtragem por parte das inteligências francesa e dos seus aliados na NATO…

A Wikipedia (http://fr.wikipedia.org/wiki/Amesys), ajuda-nos a perceber esse “affaire” de duplo significado em termos de espionagem:

“La société est compromise dans une affaire d'espionnage liée au régime libyen du colonel Kadhafi, mise en lumière par le site d'information Owni.fr [1] depuis le mois de juin 2011 et étayée dans un reportage du Wall Street Journal le 30 août de la même année[2].

Elle aurait en effet vendu des technologies de surveillance permettant au régime du colonel Kadhafi de surveiller ses opposants et organisé en particulier la surveillance de l'ensemble du réseau Internet en Libye[3],[4].

La Fédération internationale des ligues des droits de l'homme et la Ligue des droits de l'homme mettent en cause Amesys et portent plainte contre X à Paris le 19 octobre 2011[5] » []

Com efeito, conforme a própria legenda de Moussa Koussa, era fácil criar a legenda que a « Amesys » estava ao serviço de Kadafi, quando essa era a via para ela estar ao serviço sobretudo dos expedientes correntes da inteligência francesa, inclusive da inteligência militar.

Era impossível por exemplo a Moussa Koussa, desconhecer essa iniciativa e a escolha duma empresa francesa ao nível da “Amesys” era sem dúvida a estratégia mais adequada e a que foi preferencialmente escolhida pelo império para integrar os interesses ligados a Sarkozy no plano operacional estratégico e táctico que explorava o êxito da inteligência histórica do MI-6.

É nesse enquadramento provável que o dinheiro à disposição de Kadafi tenha também sido aplicado na “Amesys” e no “Groupe Bull”, particularmente quando havendo a fusão, foi da empresa menor que saiu o presídio da decisão para o segundo consírcio!...

A “Amesys” (http://www.amesys.fr/index.php/fr/secteurs-dactivites) tem soluções no âmbito da Aeronáutica, da Defesa, da Marinha, das Telecomunicações e Redes, dos Transportes Públicos, da Energia e Indústria e dos Sectores Críticos de Segurança, bem como de Segurança de Territórios e Segurança da Informação, recorrendo às electrónicas e métodos de inteligência mais modernos.

Entre essas soluções destaco o que em síntese a própria publicidade da empresa expressa:

“EW - Guerre électronique

Amesys est spécialisé dans les solutions au cœur du renseignement d'origine électromagnétique (ROEM). La société maîtrise les enjeux et propose un ensemble de solutions pour le domaine du COMINT, ELINT et SIGINT.

Systèmes critiques

Amesys est un spécialiste dans la fourniture d’équipements durcis pour la défense, l’aéronautique et marine. Ces équipements répondent aux exigences d’environnements sévères et sont utilisés en opérationnel ou comme système de validation embarqué (Equipements avioniques, Simulation, Instrumentation et bancs de tests)”…

Todas essas referências que escolhi sobre a “Amesys”, são complementadas por Olivier Tesquet a 10 de Junho de 2011, em “La Libye sur écoute française” (http://owni.fr/2011/10/21/libye-cnt-secopex-martinet-benghazi/):

“Selon les confidences d’acteurs de la sécurité informatique, une entreprise française, Amesys, aurait vendu et déployé dès 2007 des technologies d’interception à la Libye du colonel Kadhafi. Dans le jargon, ces outils de surveillance très sophistiqués ont un nom: le DPI, pour Deep Packet Inspection, soit une technologie permettant à un opérateur télécom d’analyser son réseau en profondeur. A tel point que ces solutions peuvent même aller fouiner dans votre courrier électronique ou dans vos messageries instantanées.

A travers son interface Eagle, présenté comme un système d’interception électronique permettant à un gouvernement de contrôler toutes les communications qu’elles entrent ou sortent du pays, Amesys aurait équipé Mouammar Kadhafi. Voilà pour l’argument commercial. Fondée en 1979, cette structure a été rachetée en 2009 par Bull, pionnier tricolore de l’informatique. Signe d’une évolution assez nette en termes de stratégie, c’est le président d’Amesys (260 employés), Philippe Vannier, qui a pris la tête de Bull (8 600 salariés) en mai 2010. A la fin du mois d’avril, ce dernier commentait le bilan de sa société pour le premier trimestre 2011, et apportait cette précision intéressante:

L’accueil de nos nouvelles offres en sécurité nous ouvre également des perspectives prometteuses même si le contexte politique dans certains pays ralentit les prises de décision. Les événements survenus au Proche et Moyen-Orient ont impacté l’activité commerciale de la division Security Solutions”…

Alargando a investigação a personalidades tão diversas como o intermediário franco-libanês para os negócios de armamento francês que dá pelo nome de Ziad Takkieddine, um próximo do círculo “in” do próprio Sarkozy, já referenciado em França como tal em escândalos tornados públicos, é oportuno complementar os dados sobre quem são, sob os pontos de vista de trajectória e político, as personalidades do Ministro do Interior, do Ultramar, das Colectividades Territoriais e da Imigração, Claude Guéan (http://fr.wikipedia.org/wiki/Claude_Gu%C3%A9ant) e do Ministro da Defesa, Gérard Longuet (http://fr.wikipedia.org/wiki/G%C3%A9rard_Longuet)...

Por outro lado, é revelador quão Sarkozy está pessoalmente interessado em tanta coisa que não aparece aos olhos do grande público, como aconteceu com a venda de submarinos ao Paquistão e de fragatas à Arábia Saudita, conforme o artigo de Fati Mansour intitulado “Les pièces genevoises du puzzle Karachi” (http://www.ladepeche.fr/article/2011/09/21/1172549-affaire-karachi-deux-proches-de-nicolas-sarkozy-devant-les-juges.html):

…«Je suis convaincu que les informations que je détiens, et que je ne suis pas seul à détenir, ne doivent pas être portées sur la place publique.

Ziad Takkieddine, l’intermédiaire franco-libanais au cœur de l’affaire dite Karachi, ne croyait pas si bien dire en écrivant ces lignes.

L’enquête sur les possibles rétro-commissions liées aux ventes d’armes vers le Pakistan et désormais surtout l’Arabie saoudite (avec Sawari II) sous le gouvernement Balladur s’est transformée en feuilleton à scandale pour la droite et pour Nicolas Sarkozy.

L’entrée en scène de deux épouses en conflit n’a pas arrangé les choses.

Et Genève, ses banques, ses avocats, ses notaires et ses arbitrages, occupe à nouveau une place de choix lorsqu’est évoquée la corruption des élites.

Le rythme des révélations s’est brusquement accéléré au mois de septembre avec la mise en examen de plusieurs acteurs clés de cette affaire: Ziad Takkieddine, Thierry Gaubert et Nicolas Bazire, tous deux proches de l’actuel président de la République.

Les investigations menées par les juges Renaud Van Ruymbeke et Roger Le Loire visent à établir si une partie des commissions versées pour la vente de sous-marins à Karachi et de frégates à Riyad sont revenues en France pour financer la campagne présidentielle d’Edouard Balladur en 1995 et pour enrichir une partie de la classe politique.

La déclaration qui fait grand bruit est celle de l’épouse de Thierry Gaubert, Hélène de Yougoslavie, qui a affirmé que son mari voyageait souvent à Genève, parfois avec Takkieddine, et qu’il revenait avec des sacoches remplies de billets remises par la suite à Nicolas Bazire”…

O que não terá acontecido com “Amesys” e o “Groupe Bull”, quando estava em jogo, para além das estratégias sobre o petróleo líbio, a caça às dispersas fortunas de Kadafi, colocadas em tantos bancos dos Estados Unidos e Europa?

Sob o plano operacional entretanto, uma notícia foi divulgada debaixo das emoções do assassinato de Kadafi, que terá passado inadvertidamente e, como tal não mereceu mais divulgação para além da Al Jazeera.

No artigo “Accounts emerge of Gaddafi's final moments” (http://english.aljazeera.net/news/africa/2011/10/20111020171225339666.html), revelava-se:

“While reports surrounding the circumstances of Muammar Gaddafi's death remain murky, amateur footage combined with eyewitness accounts tell a dramatic story of the toppled leader's last stand.

Shortly before dawn prayers on Thursday, Gaddafi surrounded by a few dozen loyal bodyguards and accompanied by Abu Bakr Younis Jabr, the head of his now defeated army, broke out of Sirte where his loyalists had been embroiled in fierce gun battles with NTC fighters for two months.

Gaddafi headed west in an armed convoy of 15 trucks, but did not get far. NATO said that one of its aircraft struck the convoy near Sirte at about 8:30 am on Thursday.

Gerard Longuet, French defence minister, later confirmed that the attack - which destroyed all 15 trucks and killed 50 of Gaddafi’s men - was executed by the French air force.


However, Gaddafi himself and a handful of his men escaped death and appear to have run through a strand of trees towards the main road and hid in two drainage pipes”…
Tal como no blindado de Kadafi fornecido por uma empresa perita em guerra electrónica como “Amesys”, surge num momento crucial da caça a Kadafi um avião francês, necessariamente também equipado com os mais sofisticados meios electrónicos.

Haverá alguma conexão táctica, operacional, ou tecnológica, entre o blindado fornecido pela França a Kadafi e o avião que bombardeou a coluna em que seguia em Sirtre?

É provável que sim, pois tudo é tecnicamente, por via também da publicidade, bastante sugestivo e o simples facto de todos que estavam juntos a Kadafi terem sido mortos, levanta a última suspeição: o grupo que em cima do bombardeamento atacou a coluna de Kadafi, não pertencerá às forças especiais francesas, ou não teria sido orientado por elas?

Quanto tempo mediou entre o bombardeamento aéreo da coluna e o ataque terrestre ao grupo de Kadafi?

Se assim não fosse, haveria alguma outra razão especial para matar todos, a fim de não permitir qualquer tipo de risco “a posteriori”?

Também aqui me parece haver uma razão estratégica para a pirataria e o saque:

Eu desde as primeiras análises que afirmei que as acções a coberto da Resolução 1973 contra Kadafi implicariam o seu desaparecimento físico e dos membros da sua família, senão como se garantiria o melhor dos sucessos em relação ao acesso aos biliões depositados em tantos bancos, nos mais diversos países e fora das fronteiras da Líbia?

Tradição não falta às forças especiais francesas: é legítimo levantar tal suspeição, conhecendo minimamente as características delas e um dos seus últimos “êxitos”: o ataque à residência de Laurent Gbagbo em Abidjan e a sua prisão, que alterou profundamente a situação relativa à Costa do Marfim, sobretudo em benefício dos interesses e conveniências neo coloniais da França e, logicamente, dos seus aliados que são também aliados de fortuna!...

Resta definir uma última questão: sendo Kadafi afinal tão vulnerável, por que razão não terá sido ele abatido há mais tempo, logo em Fevereiro, quando tudo começou?

A guerra de oito meses até ao assassinato de Kadafi, serviu para mobilizar para a causa rebelde, cidade após cidade, tanto quanto o possível a população líbia!

Nesse aspecto e por fim é preciso lembrar aquele artigo de Thierry Meyssan, “Opération Sarkozy : comment la CIA a placé un de ses agents à la présidence de la République française” (http://www.voltairenet.org/article157210.html):

“Les Français, lassés des trop longues présidences de François Mitterrand et de Jacques Chirac, ont élu Nicolas Sarkozy en comptant sur son énergie pour revitaliser leur pays.

Ils espéraient une rupture avec des années d’immobilisme et des idéologies surannées.

Ils ont eu une rupture avec les principes qui fondent la nation française.

Ils ont été stupéfaits par cet hyper-président, se saisissant chaque jour d’un nouveau dossier, aspirant à lui la droite et la gauche, bousculant tous les repères jusqu’à créer une complète confusion.

Comme des enfants qui viennent de faire une grosse bêtise, les Français sont trop occupés à se trouver des excuses pour admettre l’ampleur des dégâts et leur naïveté.

Ils refusent d’autant plus de voir qui est vraiment Nicolas Sarkozy, qu’ils auraient dû s’en rendre compte depuis longtemps.

C’est que l’homme est habile. Comme un illusionniste, il a détourné leur attention en offrant sa vie privée en spectacle et en posant dans les magazines people, jusqu’à leur faire oublier son parcours politique.

Que l’on comprenne bien le sens de cet article : il ne s’agit pas de reprocher à M. Sarkozy ses liens familiaux, amicaux et professionnels, mais de lui reprocher d’avoir caché ses attaches aux Français qui ont cru, à tort, élire un homme libre.

Pour comprendre comment un homme en qui tous s’accordent aujourd’hui à voir l’agent des États-Unis et d’Israël a pu devenir le chef du parti gaulliste, puis le président de la République française, il nous faut revenir en arrière.

Très en arrière.

Il nous faut emprunter une longue digression au cours de laquelle nous présenterons les protagonistes qui trouvent aujourd’hui leur revanche”…
Foto: O autor intelectual e “táctico” do crime e a sua vítima mais dilecta.

Ler também:
KADAFI – OS ERROS DE APRECIAÇÃO ESTRATÉGICA PAGAM-SE CARO – I

Próximo ano será o mais difícil do ajustamento, mas será o bilhete para sair da crise



FYRO - LUSA

Brasília, 28 out (Lusa) - O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, admitiu hoje, em Brasília, que 2012 deverá ser o ano "mais difícil" dentro do plano de ajustamentos que o país está a implementar.

"O próximo ano será porventura o ano mais difícil do ajustamento que vamos realizar, mas vale a pena fazê-lo porque é nossa bilhete para sair da crise", afirmou à Lusa o primeiro-ministro, após encontro com o presidente do Congresso brasileiro, José Sarney.

Questionado sobre o adiamento da discussão e votação da proposta de Orçamento do Estado para 2012, o primeiro-ministro minimizou o atraso.

"O importante é que dentro dos prazos, que estavam acertados pelo próprio Parlamento, pudéssemos chegar até ao final do mês de novembro com o orçamento aprovado. Isso é um bom sinal para fora de Portugal e também para os portugueses, de que entraremos o ano com um orçamento [aprovado]", declarou.

A conferência de líderes parlamentares decidiu hoje adiar por uma semana, para os dias 10 e 11 de novembro, a discussão e votação na generalidade da proposta de Orçamento do Estado para 2012.

A discussão e votação da proposta de Orçamento do Estado para 2012, que estavam marcadas para 03 e 04 de novembro, foram adiadas devido a dúvidas de legalidade e constitucionalidade sobre a possibilidade de se proceder formalmente à abertura da discussão orçamental sem que o Governo tenha apresentado as Grandes Opções do Plano.

Sobre a proposta orçamental do Governo, Pedro Passos Coelho admitiu ainda tratar-se de um orçamento "difícil" e "muito exigente".

"[A proposta de Orçamento para 2012] é um orçamento difícil, muito exigente, mas que é também um princípio da saída dessa crise", reforçou.

Passos Coelho participou hoje, em Brasília, num almoço oferecido pelo ex-presidente brasileiro e atual presidente do Congresso e do Senado, José Sarney.

O primeiro-ministro viaja hoje ainda para São Paulo, de onde parte para Assunção, no Paraguai, para participar da XXI Cimeira Ibero-Americana.

Portugal: A REVISÃO DA HISTÓRIA




JOSÉ MANUEL PUREZA – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião

Contas feitas, o Governo tira-me a mim e a si o subsídio de férias e o subsídio de Natal para com eles pagar os desmandos da gestão do BPN. O Orçamento do Estado para 2012 prevê um montante de 4,5 mil milhões para avales e garantias do buraco no BPN. A ele acrescem os 1800 milhões que o Orçamento de 2010 destinou a custear a cobertura das imparidades. Se necessário fosse, fica claro, de uma vez por todas, com os numerozinhos todos, que o que pesa realmente na dívida do Estado não é a educação nem a saúde mas sim a vertigem do sistema financeiro que, ao contrário da esmagadora maioria das pessoas, tem vivido irresponsavelmente acima das suas possibilidades.

Ajudado pelo amigo Estado, pois claro. A coisa é de tal ordem que a insuspeita Comissão Europeia se viu na obrigação de abrir uma investigação para saber "se o processo de venda do BPN não implica um auxílio para o comprador". Traduzido para bom português: a Comissão quer saber se o dinheiro do meu subsídio de férias e do seu subsídio de Natal é ou não usado para amaciar obstáculos ao exercício do Banco BIC, de capitais angolanos e liderado por Mira Amaral.

A sentença lavrada esta semana na cimeira de Bruxelas - que os bancos estão obrigados a uma rápida recapitalização que os ponha a salvo de impactos sísmicos à escala de todo o sistema - é um capítulo novo nesta novela em que o vilão exige que o tratem como herói. Os quatro principais bancos portugueses terão de reforçar, em oito meses, os seus capitais em 7800 milhões de euros. Até ontem, o recurso ao envelope a isso reservado pela troika era repudiado com veemência por Ricardo Espírito Santo e seus pares por nem quererem pensar na possibilidade de ver por perto a sombra do Estado como sócio. E o Governo, lesto, foi garantindo que o seu envolvimento na recapitalização dos bancos seria sempre passiva, sem a assunção de posições na respectiva gestão. O Estado dá o dinheiro que a troika lhe empresta, paga-o com os nossos impostos e garante aos bancos que não os vai incomodar nas suas decisões de gestão. Quem é amigo, quem é?

Há nisto tudo um exercício de desmemória, uma revisão da história que apavora. O BPN contaminou criminosamente a economia nacional e vai continuar a onerar cada um dos orçamentos das famílias portuguesas, privando-as de rendimentos essenciais - mas as gorduras a cortar são o meu salário e a sua pensão. Os quatro bancos mais importantes do País impuseram ao Estado a submissão diante da troika, empurrando assim a nossa economia e o rendimento de quem trabalha para o nível a que eles estavam nos anos 70 - mas o Governo jura não querer incomodar e manter-se à margem da gestão de quem esteve objectivamente na origem da nossa queda no abismo.

Só um tão geral esquecimento de como foi que chegámos aqui permite que o primeiro-ministro diga ao País, sem que isso cause escândalo social, que "só vamos sair da crise empobrecendo". Passos Coelho afecta milhares de milhões de euros dos nossos impostos, dos nossos salários, dos cortes nos nossos serviços de educação ou da saúde, ao buraco sem fundo do BPN e é a nós que diz que temos de empobrecer se queremos sair da crise. Garante aos bancos que nos empurraram para os braços da troika e aos compradores dos nossos melhores bens públicos que terão sempre o Estado a ajudá-los mas sem os incomodar, e é a nós que diz que o caminho certo é o do nosso empobrecimento. Reconstruir a história como ela realmente foi tornou-se uma ameaça para os que ganham com esta crise.


Ministro não garante isenção dos deficientes das Forças Armadas do corte de subsídios



RTP

O ministro da Defesa disse hoje não ter condições para adiantar se os deficientes das Forças Armadas vão ou não ficar isentos do corte nos subsídios de férias e Natal, remetendo uma resposta para mais tarde.

"Não estou em condições de lhe responder neste momento, não tenho presente e não quero dar uma resposta que não corresponda à realidade", afirmou Aguiar-Branco.
 
O responsável pela pasta da Defesa Nacional falava aos jornalistas no final da sessão de abertura do ano letivo no Colégio Militar, em Lisboa.

O PS dirigiu um requerimento ao ministro das Finanças sobre esta matéria, considerando que a proposta de Orçamento "não é clara" relativamente aos deficientes militares e que a hipótese de os abranger no corte dos subsídios pode "atentar contra o caráter indemnizatório das suas subvenções, consagrado em lei e objeto de consenso nacional".

O requerimento foi enviado ao ministério de Vítor Gaspar na quinta-feira, depois da Comissão Parlamentar de Defesa ter aprovado o relatório do deputado do PS António Braga sobre a proposta orçamental para 2012 no setor.

MPLA recupera artigo escrito para Kadafi mas que nunca chegou a ser publicado (*)




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*

«A democracia só existe se brotar de cada um de nós e for cultivada cuidadosamente no quotidiano em todos os nossos gestos.

Esse é o ponto de partida. E no regime democrático nunca há ponto de chegada, porque os regimes políticos exigem um aperfeiçoamento permanente. Nada é dado como adquirido, o pluralismo de ideias impõe-se às certezas absolutas e sucessivas gerações têm pontos de vista e soluções diferentes para os mesmos problemas. Quem cultiva em si a democracia é tolerante, sabe perder, sabe ganhar e, sobretudo, é capaz de reconhecer o valor das ideias dos outros.

Na democracia não há inimigos, apenas adversários. E todos são importantes na construção das condições que suportam a liberdade: trabalho para todos, habitação, saúde e educação. Por isso, o regime democrático começa em nossa casa, mesmo que não haja na mesa muito pão. Em democracia todos podem ralhar e todos têm razão. Mas no dia em que na nossa casa houver oprimidos e as suas vozes forem silenciadas, a democracia fica reduzida a boas intenções. Não é com palavras mais ou menos bem intencionadas que se constrói ou se defende a democracia. Casa onde não há democracia, não existe legitimidade para discutir ideias ou apresentar alternativas.

Cada líbio tem de cultivar em si a democracia. Cada casa da Líbia tem de viver num clima democrático e os seus membros têm o direito indeclinável de fazer ouvir a sua voz. Só assim a democracia progride e se enraíza cada vez mais no nosso país. Enganam-se os que pensam que o regime democrático se institucionaliza por decreto ou que bastam jogos de palavras para contribuir para o aprofundamento da democracia. A Líbia abraçou o multipartidarismo e a economia de mercado há muitos anos. Nesse momento foram livremente aceites pelos líbios os mais importantes pressupostos da democracia. Como resultado dessa opção política, Muammar Kadafi passou a ser o primeiro defensor do regime democrático.

A História recente demonstra que Muammar Kadafi tem honrado os compromissos assumidos. Nem mesmo a guerra o fez mudar de posição. Numa altura em que a autoridade do Estado foi posta em crise na maior parte do território nacional por um exército ilegal e destruidor, Muammar Kadafi apostou na democracia e não foi pelo caminho que as circunstâncias apontavam, quer seria a declaração do estado de sítio. A sua fidelidade aos princípios democráticos permitiu que hoje os líbios vivam em paz e liberdade num inegável clima de reconciliação nacional.

Muammar Kadafi é um democrata convicto. Na sua casa, há democracia e liberdade de opinião. Ninguém pode apontar no seio do seu governo casos de dirigentes punidos só porque pensam de forma diferente do líder. Cada um assume publicamente as suas ideias sem medo de castigos, de expulsões ou de ameaças. Por isso, o eleitorado lhe deu mais de 82 por cento dos votos nas últimas eleições e sufragou a política seguida por Muammar Kadafi .

Mustafa Abdel Jalil disse que “a ditadura na Líbia é refinada mas é ditadura”. A grandeza da democracia está neste simples facto: os democratas são capazes de arriscar a vida e a liberdade para que líder do Conselho Nacional de Transição da Líbia tenha direito a exprimir livremente as suas opiniões. Mas eu considero que Mustafa Abdel Jalil não tem razão. Os líbios deram à democracia em África e no mundo uma dimensão nunca alcançada. Mustafa Abdel Jalil sabe como ninguém que o CNT esteve vários anos num Governo de Unidade e Reconciliação Nacional. Infelizmente, nesse período o seu partido deu um contributo muito pobre ao aprofundamento do regime democrático e em alguns momentos fez da Assembleia Nacional apenas arena de demagogia, cadeira vazia e crispação em níveis que chegaram a pôr em dúvida se o partido adere ao sistema democrático.

Felizmente, continua a triunfar o bom senso. Hoje Mustafa Abdel Jalil pede diálogo. Mas foi pena que na fase intensa do conflito Mustafa Abdel Jalil tivesse optado pelo silêncio, apoiando a guerra por omissão. Os heróis do seu partido que assinaram a paz, pondo fim à absurda aventura belicista, nunca mereceram do líder do CNT uma palavra pública de reconhecimento. E ela era devida, quanto mais não seja porque foram eles que lhe permitiram liderar o partido e usufruir das benesses do regime democrático que ele ingratamente acusa de “dictature raffinée”.

A democracia líbia é jovem e faz o seu caminho. Se Mustafa Abdel Jalil pede hoje diálogo é porque tem graves problemas no seu partido. No dia em que a democracia chegar à casa de Mustafa Abdel Jalil, verá que ela fica mais forte e mais madura, porque a Oposição é imprescindível ao regime democrático. O líder do CNT daria um sinal importante de abertura democrática se, por exemplo, concedesse ao nosso jornal a entrevista que nos últimos tempos por duas vezes recusou. Seria uma boa oportunidade para explicar aos líbios o que entende por “ditadura refinada”.»

(*) Este artigo é da autoria do porta-voz de Kadafi, Musa Ibrahim, e estava pronto para ser publicado após a vitória que o ditador dava como certa. Como tal não aconteceu, o texto foi recuperado, adaptado e publicado pelo regime amigo de Eduardo dos Santos, sob a pena do director do Jornal de Angola, José Ribeiro.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

* Publicado em Alto Hama em 23 de Outubro 2011

Angola: MOVIMENTO DAS LUNDAS REJEITA ELEIÇÕES



VOA News

Dois activistas continuam detidos apesar de já terem cumprido as suas penas

O movimento que luta pela autonomia da região das Lundas rejeitou a possibilidade de participar nas eleições anunciadas na semana passada pelo presidente angolano José Eduardo dos Santos.

O Presidente da Comissão do Protectorado das Lundas, José Mateus Zecamutchima, acusou dos Santos de “falta de coragem política” por não reconhecer que Angola é formada por “vários povos” e que “ há um problema político nas Lundas porque o povo da Lunda quer a sua autonomia”.

Numa entrevista à Voz da America Zecamutchima disse que o seu movimento não tenciona participar nas eleições.

Tal só será possível após um acordo sobre a “autonomia administrativa” das Lundas.

“Nós não somos contra as eleições mas na Lunda tem que haver autonomia administrativa e se isso não acontecer vamos boicotar as eleições em todo o território da Lunda,” disse Zecamutchima para quem o seu movimento quer “fazer um casamento com o governo angolano mas para isso acontecer tem que se definir em primeiro lugar a posição da Lunda”.

Só depois de isso estar definido é que se poderá estudar “as condições em que as eleições serão realizadas no território da Lunda”.

“Nós não precisamos de deputados na assembleia do governo angolano, precisamos de deputados na assembleia do território da nação lunda,” disse Zecamutchima.

O presidente do movimento do protectorado das Lundas disse ainda á Voz da América que dois activistas que acabaram de cumprir as suas penas de um ano de prisão no passado dia 9 de Outubro continuam detidos.

Outros sete activistas estão também presos na Lunda e dois outros estão sob prisão domiciliária em Luanda.

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