domingo, 7 de julho de 2013

ESCÂNDALO SOBRE VOO DE MORALES CORRESPONDE A ATO DE PIRATARIA AÉREA



John Pilger, Londres – Opera Mundi

O que ocorreria se um presidente europeu passasse pela mesma situação na América Latina?

Imagine a aeronave do presidente da França sendo forçada a descer na América Latina por suspeita de que esteja levando um refugiado político para algum lugar seguro – e não apenas um refugiado comum, mas alguém que revelou ao mundo uma série de atividades criminosas em escala épica.

Imagine a reação de Paris, ou da “comunidade internacional”, como eles mesmos se denominam. Um coro de indignação erguendo-se de Londres a Washington, Bruxelas a Madri. Forças especiais heroicas seriam enviadas para resgatar seu líder e esmagar a fonte deste ato de gangsterismo internacional. Editoriais iriam aclamar a atitude, talvez lembrando aos leitores que o tipo de pirataria derrotado teria sido praticado pelo Reich alemão em 1930.

Negar espaço aéreo à aeronave do presidente boliviano na França, Espanha e Portugal; e depois forçar seu pouso na África, submetendo-o a 14 horas de confinamento na Áustria, enquanto oficiais inspecionavam o avião por suspeita de que o “fugitivo” Edward Snowden estivesse a bordo foi um ato de pirataria aérea e terrorismo de Estado. Foi uma metáfora para o gangsterismo que governa hoje o mundo e a covardia hipócrita dos espectadores que não ousam em dizer seu nome.

Em Moscou, perguntaram a Morales sobre Snowden – que continua preso no aeroporto da cidade. Respondeu: “se houver um pedido [de asilo político], claro que iremos analisar e considerar a ideia.” Isso foi suficientemente provocativo para o Chefão. “Estamos em contato com diversos governos que poderiam ter permitido a Snowden aterrisar em seu país ou atravessá-lo”, disse um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.

A França – que tanto gritou contra o esquema de espionagem de Washington, revelado por Snowden – foi a primeira a se curvar, seguida por Portugal. Em seguida, a Espanha fez sua parte, proibindo voos em seu espaço aéreo, dando tempo o suficiente para os mercenários vienenses do Chefão descobrirem se Snowden havia invocado o artigo 14 da Declaração dos Direitos Humanos, que sustenta: “Todas as pessoas têm o direito de solicitar asilo político em outros países, em caso de perseguição”.

Aqueles pagos para seguir os procedimentos à risca fizeram sua parte no jogo de gato-e-rato. Reforçaram as mentiras do Chefão, para quem este jovem heroico esta fugindo do Judiciário e não enfrentando uma máquina que encarcera por vingança e tortura — vide Bradley Manning e os fantasmas que vivem em Guantánamo.

Os historiadores parecem concordar que a ascensão do fascismo na Europa poderia ter sido evitada, se a classe política liberal e de esquerda compreendesse a natureza do seu inimigo. Os paralelos de hoje são muito diferentes, mas a espada de Dâmocles sobre Snowden, como o rapto informal do presidente da Bolívia, deveria nos estimular a reconhecer a verdadeira natureza do inimigo.

As revelações de Snowden não são apenas sobre privacidade, liberdade civil ou espionagem maciça. São sobre o inominável: a fachada democrática dos EUA agora mal esconde um gangsterismo sistemático, historicamente identificado o fascismo, embora , não necessariamente na forma clássica. Na terça-feira, um drone norte-americano matou 16 pessoas no Waziristão do Norte, “onde os militantes mais perigosos vivem”. Estão longe de ser os militantes mais perigosos, se os próprios drones forem levadas em conta. Drones enviados pessoalmente por Obama toda terça-feira.

Quando aceitou o prêmio Nobel de Literatura, em 2005, Harold Pinter referiu-se a “uma vasta tapeçaria de mentiras, das quais nos alimentamos”. Ele perguntou porque “a sistemática brutalidade, as atrocidades generalizadas” da União Soviética eram bem mais conhecida no Ocidente, enquanto os crimes da América eram “superficialmente registrados, menos documentados e menos reconhecidos”. O silêncio mais duradouro da era moderna encobriu a morte e a desapropriação de inúmeros seres humanos, por um país violento e seus agentes. “Mas você não saberia”, disse Pinter. “Nunca aconteceu. Mesmo enquanto acontecia, nunca aconteceu”.

Essa história oculta – não realmente oculta, é claro, mas excluída da consciência das sociedades mergulhadas nos mitos e prioridades norte-americanas – nunca foi tão vulneráveis à exposição. A denúncia de Snowden, assim como a de Manning e Julian Assange, do Wikileaks, corre o risco de quebrar o silêncio que Pinter descreveu. Ao expor o vasto aparato policial orwelliano a serviço da maior máquina de guerra da história, ele ilumina o verdadeiro extremismo do século XXI. Em um comentário sem precedentes para ela, a revista alemã Der Spiegel descreveu o governo Obama como “totalitarismo soft”. Em momentos de crise, devemos olhar mais de perto nossa casa.

*John Pilger teve sua carreira como repórter iniciada em 1958, e ao longo dos anos tornou-se famoso pelos livros e documentários que escreveu ou produziu. Especializou-se nas áreas de jornalismo investigativo e direitos humanos.  

Tradução Cauê Seignemartin Ameni. Texto originalmente publicado em Outras Palavras.

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BRASIL COBRA ESCLARECIMENTOS DOS EUA SOBRE ESPIONAGEM



Opera Mundi, São Paulo

Itamaraty já entrou em contato com embaixador norte-americano em Brasília

O governo brasileiro pediu, neste domingo (07/07), explicações dos EUA sobre a espionagem de cidadãos e empresas do país revelada ontem (06) pelo jornal O Globo, com base em documentos vazados pelo ex-consultor da CIA Edward Snowden, responsável por ceder informações sigilosas de programas de espionagem dos Estados Unidos à imprensa.

O Ministério das Relações Exteriores já entrou em contato com o embaixador norte-americano no Brasil, Thomas Shannon, para cobrar esclarecimentos sobre o assunto e também pediu à embaixada brasileira em Washington para que fizesse o mesmo com o governo de Barack Obama.

O governo federal também vai enviar uma moção à ONU pedindo por mais segurança cibernética, para evitar esse tipo de comportamento por parte de outros países. 

A presidente Dilma Rousseff tomou a decisão de como reagir na manhã de hoje, depois de reunião no Palácio da Alvorada, em Brasília, com Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, Gleisi Hoffmann, ministra da Casa Civil, Ideli Salvatti, de Relações Institucionais, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, Aloizio Mercadante, da Educação, e Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência.

O presidente nacional do PSOL (Partido Socialista), Ivan Valente, anunciou que pretende apresentar um requerimento até terça-feira (09/07) convidando o embaixador Shannon a participar da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, para prestar esclarecimentos. Ele afirmou que a conduta dos EUA é “inaceitável e invasora” e que “as ruas devem execrar e repudiar a atitude de ‘polícia do mundo’” dos norte-americanos.

De acordo com a agência de notícias AP, o porta-voz da embaixada norte-americana no Brasil, Dean Chaves, disse apenas que só o governo em Washington comentaria o caso. Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, Tovar Nunes, disse que, se a espionagem for comprovada, seria uma situação muito grave, à qual o Brasil “responderia de acordo com a gravidade”.  

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ESPIONAGEM NORTE-AMERICANA: O MELODRAMA DOS EUROPEUS



THE NEW YORK TIMES, NOVA IORQUE – Presseurop – imagem Dave Brown

O ultraje ostentado pelos dirigentes da União Europeia sobre a espionagem dos Estados Unidos é exagerado, escreve-se no “New York Times”, tal como a ameaça de suspender as negociações comerciais UE-EUA. Essa vigilância é legal nos EUA, e Washington tem mantido os parceiros europeus informados sobre os seus frutos.


Há um toque de encenação na indignação que a França, a Alemanha e outros governos europeus têm manifestado desde que a edição onlineda revista alemã Der Spiegel informou, na semana passada, que aAgência de Segurança Nacional norte-americana – NSA tinha investigado representações diplomáticas e penetrado nos seus sistemas informáticos.

Espiar aliados parece mal e é raramente discutido em público, exceto quando, como agora, documentos de uma agência de espionagem chegam à Comunicação Social. Mas os governos de ambos os lados do Atlântico (e de quase todo o mundo) espiam aliados e inimigos há muito tempo.

Estamos muito longe da época em que o secretário de Estado Henry Stimson, ao explicar a sua decisão de, em 1929, encerrar o gabinete de cifras do Departamento de Estado, dizia: “Cavalheiros não leem a correspondência uns dos outros.” A NSA foi secretamente criada em 1952, com mandato para intercetar quaisquer comunicações de fontes estrangeiras, usando todo o tipo de dispositivos de escuta imagináveis.

Criação de restrições políticas

O novo elemento é a tecnologia informática, que torna o armazenamento tão barato e a análise de dados tão rápida que a agência não tem hoje restrições técnicas quanto à quantidade de dados que pode reunir e usar. Isso torna muito mais importante a criação de restrições políticas. Mas é difícil debater a política de informação quando os pormenores são mantidos em segredo para o público.

A maioria dos governos europeus há muito que estava, presumivelmente, consciente das capacidades da NSA. No entanto, os cidadãos europeus não o sabiam, até Der Spiegel publicar, esta semana, os dados de umas quantas chamadas telefónicas privadas, e-mails e mensagens de texto que a NSA controla agora na Europa por mês. A revista fala de 500 milhões só na Alemanha, num único mês. Um tão grande número levanta suspeitas de que grande parte da investigação secreta da NSA não tem qualquer ligação com a segurança nacional dos Estados Unidos ou eliminação de perigos terroristas.

Escutas a cidadãos europeus pela NSA é perfeitamente legal segundo a lei dos Estados Unidos. A agência só está proibida de bisbilhotar os norte-americanos sem autorização judicial. Os serviços de informação alemães têm as mesmas restrições para espiar os alemães. É ingénuo supor que os serviços aliados não partilham dados que possam estar fora dos limites de uns e não de outros.

NSA tem de passar a ser mais cuidadosa

Daí que a indignação dos políticos europeus pareça exagerada, tal como as suas ameaças de suspender as negociações sobre um acordo de comércio transatlântico – as estratégias de negociação parecem ter sido o objetivo da espionagem da NSA. Não seria surpreendente saber que os europeus também têm andado a tentar recolher informações sobre a estratégia de negociação dos Estados Unidos. Contudo, a negociação continua a ser do interesse de todos os participantes.

Um resultado positivo das divulgações recentes poderá ser o reforço das exigências europeias por regras mais rígidas na recolha de dados sobre pessoas físicas, por parte quer de empresas quer de governos. A NSA pode não encarar essas regras como limitativas para as suas atividades secretas; mas vai ter de passar a ser mais cuidadosa e seletiva nas suas práticas. Antagonizar os cidadãos de alguns dos nossos aliados mais próximos não é uma estratégia muito promissora em termos de reforço da segurança internacional.

VISTO DA EUROPA

Por que temos que ouvir conversas maçadoras?

“A NSA recolhe informações apenas por recolher e isso é mau”, garante um analista estratégico do Hague Centre for Strategic Studies. Num artigo de opinião publicado por De Morgen, Teun van Dongen pergunta o que é que os Estados Unidos podem fazer com todas as informações recolhidas em Bruxelas, na sua maior parte “extremamente maçadoras”:

Em relação à espionagem do Conselho Europeu, a maior parte das informações dizem respeito a políticas que não têm qualquer interesse para os Estados Unidos. Isso dá-nos até uma imagem algo curiosa: um funcionário dos serviços secretos de um dos países mais poderosos do mundo, com um capacete na cabeça, os olhos fechados, a ouvir em segredo uma conversa telefónica sobre o desemprego dos jovens ou as quotas de pesca.

“Usar a NSA contra os diplomatas europeus é um meio muito dispendioso de seguir um caminho conhecido”, escreve Teun Van Dongen, que acrescenta: “De acordo com os documentos revelados, as atividades de espionagem tencionavam dar a conhecer os desentendimentos entre os países membros sobre os “assuntos mundiais”, mas “até mesmo um leitor assíduo de jornais poderia fornecer informações à NSA” porque se trata de informações públicas.

EUA/Escutas: SNOWDEN DENUNCIA QUE ALEMANHA SABIA DO PROGRAMA



ALU – MSF - Lusa

O ex-analista da CIA Edward Snowden denunciou hoje, em declarações à revista Der Spiegel, que os serviços secretos alemães conheciam o programa de espionagem dos Estados Unidos, mas não informaram os seus detalhes às autoridades políticas.

A Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA) "estava em conlúio com os alemães", assegurou o jovem informático que revelou o escândalo do programa Prism, que desvendou as milhares de escutas efetuadas por Washington.

Segundo o seu relato, os serviços secretos alemães beneficiaram da informação obtida graças ao programa Prism, sem que se preocupassem com os detalhes da sua obtenção, ultrapassando o âmbito político.

Assim, evitava-se ter que dar explicações sobre os métodos ilegais aplicados, que estão no centro da atual polémica.

Desta forma, "os políticos não tinham que assumir qualquer responsabilidade", em caso de ser revelado que tal "viola a esfera privada das pessoas em forma massiva", explicou Snowden, numa entrevista realizada antes do analista se tornar um fugitivo, há duas semanas.

A cooperação entre os serviços secretos de ambos os lados do Atlântico estava organizada de tal maneira que as autoridades estavam "protegidas" perante uma possível reação social caso o programa se tornasse público.

A troca de informação asssenta em que os vários serviços secretos não fazem perguntas sobre a origem da informação, acrescentou.

"As outras autoridades não nos perguntavam onde tínhamos obtido os dados e nós fazíamos o mesmo", disse.

A revelação do programa de espionagem norte-americano irritou visivelmente o Governo alemão, que considerou que uma ação destas entre "parceiros e amigos" é "inaceitável", já que "a Guerra Fria acabou".

Na próxima semana está previsto que um grupo de especialistas alemães, liderado pelo ministro do Interior, Hans Peter Friedrich, visite Washington para conhecer os detalhes do programa Prism e a sua ação na Alemanha.

O NAVIO FANTASMA (13)



Pacheco Pereira - Abrupto

Nunca em toda a minha vida, antes ou depois do 25 de Abril, senti um tão agudo ambiente de "luta de classes". Os de baixo contra os de cima. os de cima contra os de baixo. Os de cima que fazem de conta que não há os de baixo, não existem, ponto. Os de baixo que se pudessem apanhar os de cima, sem a corte de guarda-costas, os fariam passar um mau bocado. Sem organização, sem instigação, como quem respira. 

Em 1974-5, o conflito era de outra natureza, era dominantemente político, e não tinha essa fractura social evidente e agressiva como base. Era sobre liberdade e ditadura, sobre o Portugal do passado mais do que sobre o Portugal do futuro. Com excepção dos retornados, pouca gente sofreu nesses anos, nem mesmo os presos pelos mandatos de captura em branco do Otelo, ou  as centenas de MRPP presos. Dez anos bastaram para normalizar a democracia, acabar com os restos do PREC, absorver os retornados, sem feridas permanentes. 

Agora as feridas vão ser profundas e vão durar muito tempo. A identidade do país soçobrou dentro da Europa a favor da burocracia de Bruxelas e do directório alemão. Antes era por inconsciência, agora é pela necessidade. Mas, antes e agora, porque a nossa elite dirigente tem em pequena conta o país, não gosta dos portugueses, desconhece a nossa história e tradições, e está dominada por interesses. Não lhes passa pela cabeça que, agora que as pessoas têm que comer terra, talvez escolhesssem comer a mesma terra que comem e vão comer no futuro, sem ter que suportar a tutela arrogante de quem, nos desprezando, nos dá lições de moral e disciplina.

O tecido social está rasgado, o país deslaçado, onde um discurso de guerra civil penetra, fazendo o vizinho dono de um pequeno café, vergado de impostos, voltar-se contra o vizinho professor em vésperas de ser  "requalificado", em vez de olhar para cima, para quem de forma leviana e muitas vezes incompetente, balizado apenas pelo círculo de ferro do nossso establishment, no qual a banca define a pertença e a exclusão, está a conduzir uma operação de empobrecimento colectivo de muitos para salvar a "economia" de poucos. E esses poucos, são os que nos colocaram na situação em que estamos.

Hoje há reacção, reacção de reaccionarismo. Há um acantonamento de emergência com armas e bagagens do lado do governo, preparado para tudo, para ser agressivo, para fazer todas as chantagens (a chantagem teve um papel nesta crise), a cilindrar tudo e todos à frente. Do outro lado, tem um enorme vazio, Antònio José Seguro, o homem que não existiu nesta crise, porque eleições antecipadas era a última coisa que queria, em razão inversa das vezes de que falou nelas. À direita aconselham-no a "fazer de morto", para castrar todas as veleidades de ele fazer qualquer oposição que se veja. É um conselho errado, porque ele está já de há muito morto, não precisa de se "fazer".  E está morto do lado deste Navio Fantasma que é o governo.

E depois tem um BE encurralado e sem estratégia, e um PCP, há muito tempo numa posição defensiva, que tem um papel fundamental nos sindicatos (sem a acção sindical de resistência, real ou potencial, ninguém falaria de "cansaço da austeridade" e o governo e a troika teriam ido muito mais longe na criação do país de mão de obra barata e disciplinada que pretendem), mas é inútil no plano político. Os "indignados" e companhia tem folclore a mais e a actuação pelas redes sociais é no essencial preguiçosa e atentista. 

Ou seja, a maioria dos de baixo está entregue à fúria populista e ao desespero.


O NAVIO FANTASMA (12)



Pacheco Pereira - Abrupto

Já repararam que em todas as discussões sobre o novo governo, não tem nenhum papel a condição social dos portugueses, as suas dificuldade, o empobrecimento, o desemprego, tudo que diz respeito ao sofrimento dos homens comuns? Fala-se em economia, mas é das empresas que se fala, fala-se de política, mas é do jogo partidário que se fala, fala-se de quem ganha e quem perde, mas é como se  fosse  futebol. Este vazio é o mais dramático sinal da captura da política portuguesa por interesses e por um discurso público superficial e dominado pela gramática do poder.

Portugal: NÓS POR CÁ…




Fernanda Mestrinho – Jornal i, opinião

Professor Vítor Gaspar:

Imagino que está de férias. Descontraído, a perder as olheiras. Melhor que muitos portugueses por não lhes terem pago o subsídio de férias, a que tinham direito, e suam as estopinhas para terem um pouco de praia e acertarem alguns "negativos". Aqueles que ainda têm emprego, claro.

Explicou-nos porque se demitiu: falhou todas as previsões e perdeu credibilidade. Professor, aqui está o currículo ideal para um lugar internacional. Já enviámos Durão Barroso, um primeiro-ministro que se pirou, e Vítor Constâncio, o governador do Banco de Portugal que não viu nada de ilícito no BNP, e outros.

Calculo que não ouve notícias, mas posso dizer-lhe que "nós por cá? todos mal". Deixou-nos na miséria, fala-se pouco de si (que sorte, hem!!!) graças à rebaldaria da maioria governamental.

Nem lhe conto os adjectivos com que são mimoseados Coelho e Portas. Roubaram-me as palavras? mas assino por baixo.

Imagino que irá, formalmente, para o lado dos credores. Depois da experiência que teve, os "papers" que fazem lá por fora não interessam nada. Está de acordo?

Se fosse para o FMI, teria Christine Lagarde. Acabei de ler uma transcrição do "Le Monde", a propósito do "escândalo Tapie", um cartão enviado por ela ao ex-presidente Sarkozy: "Utiliza- -me como te convier". Vê, também nos enganamos. Queremos as mulheres no poder e algumas servem-se disso como escadote.

Professor Vítor Gaspar: está a salvo e nós afundamo-nos. Dê notícias.

Jornalista/advogada - Escreve ao sábado

Portugal – Seguro: PAÍS PRECISA DE UM GOVERNO “COESO, FORTE E CONFIÁVEL”



TSF

O secretário-geral do PS, António José Seguro, defendeu hoje que o país precisa de um novo Governo para ultrapassar a crise e responsabilizou o executivo pela atual situação.

«É preciso que os portugueses e os investidores olhem para o Governo, para o primeiro-ministro, para os principais ministros e acreditem na sua palavra. A pergunta que eu faço é: um português independentemente das suas opções partidárias olha para este governo e acredita na palavra deste governo?», questionou.

Para António José Seguro, a política de austeridade dos dois últimos anos «foi um disparate» e o atual Governo já não tem condições de fazer «alguma mudança» no país.

«Diga o primeiro-ministro o que disser, diga o líder do segundo partido da coligação o que disser, o mal está feito e eles são os responsáveis», acrescentou.

Seguro, que falava em Vizela, durante a sessão de apresentação da recandidatura de Dinis Costa à Câmara local, reiterou que não está apenas em causa «o mal» da última semana, em que «o Governo juntou uma crise política à crise económica e social que já existia», mas sim o «mal» feito nos últimos dois anos.

«Alguém, no seu perfeito juízo, consegue entender que é empobrecendo que pagamos as nossas dívidas?», questionou. Defendeu que Portugal precisa de «uma visão, um horizonte, uma estratégia, uma mudança».

«É isso que o PS põe à disposição de Portugal, nunca do lado dos problemas, sempre do lado das soluções», acrescentou.

O líder socialista advogou ainda que Portugal precisa também da ajuda dos parceiros europeus para sair da crise, sendo para isso necessário ter «uma voz forte na Europa». «Nós já não nos bastamos a nós próprios», afirmou.

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PÁTRIA, LUGAR DE EXÍLIO



César Príncipe

Exilado na internet, dedico este texto aos que defendem a comunicação como veículo intermodal, transportador de memória multifocada, informação contrastada e crítica estruturada. Creio que os leitores compartem este sentimento de vazio e desinserção no contexto mediático. Sentimento que não é sinónimo de queixume, antes constatação da natureza de classe das empresas de informação, opinião e lazer. O capitalismo lançou uma operação de saque global e os jornais, as rádios e as televisões constituem unidades de cobertura. Portanto, quem se opõe ao sistema é irradiado ou reduzido a figura de convite. 

Não ignoramos as leis do confronto, a vocação selectiva e repressiva das instituições, o ânimo insaciável do neoliberalismo. Compete-nos surpreender o manifesto e o inconfessado da ordem cleptocrática. Viver exilado tem sido uma das fracturas e uma das facturas da nossa identidade, um dos défices de habitabilidade da pátria de Camões, ele, por mais que se retoque a iconografia e se agendem evocações solenes, pungente retrato da pátria incomum: deserdado e rec(luso), elevado a poeta oficial. Numerosos titulares das letras, das artes e das ciências legaram, além da sua obra, a sua cólera e a sua melancolia. Para além de Daniel Filipe, [1] Paula Rego [2] , evocaremos mais duas vozes do exílio externo e do exílio interno: Almeida Garrett, [3] no séc. XIX; Egas Moniz, [4] no séc. XX. Mas a exclusão não atingiu nem atinge apenas a intelligentzia. Nem somente as lideranças da dignidade nacional e do progresso colectivo. Milhões de portugueses foram e continuam a ser desapossados de direitos fundamentais, tratados como párias e apátridas. Portugal é uma multissecular praça de silenciamentos e ostracismos. A segregação cobre uma vasta gama de preceitos e preconceitos. Transcende o estigma racial, o confinamento territorial, o nobiliário de sangue, a soberba etnocêntrica, a sobranceria egocêntrica. Os detentores da riqueza e dos instrumentos de coacção só toleram o outro quando fortemente acossados e enquanto não consertam as fendas das muralhas e não absorvem ou isolam os processos de mudança. 

Ilusão do todo 

As classes parasitárias e obscurantistas jamais se movem por impulsos de fraternidade e liberdade ou pelo badalado todo nacional. Na mistificação fascista, o todo era um chavão mitogeográfico (incluía Portugal do Minho a Timor). Não considerava nem poderia abarcar todo o espectro cívico, todo o mosaico populacional. O segmento monopolista, latifundista, financista e colonialista era o sector favorito, beneficiário do escudo protector do Estado. A maioria dos portugueses vivia extremamente condicionada. As forças nacionais e internacionais que provocam tal desvalorização e marginalização de activos culturais e sociais só brandamente pagam as suas dívidas de opressão e sangue. Durante a revolução de Abril (1974-1975) coube às elites da ditadura experimentar o assédio popular. Contudo, o poder emergente consentiu que as figuras de topo ficassem a salvo. Embarcaram para o triângulo do exílio dourado : Lisboa-Funchal-Rio de Janeiro. Todas as formas de governação definem uma pauta de apaniguados e desafectos. De longe a longe, cabe à classe alta descer ao rés-do-chão da História, ferir os tímpanos com o vozear do poboo [5] e preparar as malas de cartão, melhor dizendo, Louis Vuitton. 

Bom aluno euro-americano 

Deter-nos-emos, agora, na comunicação anti-social. Os carros de combate mediáticos existem para cobrir as forças que os sustentam e desarmar ou exacerbar a conflitualidade (conforme a carteira de encomendas), seja através de operações de descrédito da contestação e do desvio de atenções para alvos falsos ou secundários; seja pelas campanhas intimidatórias, incriminatórias, manipulatórias e censórias, dramatizando o reportado ou relegando-o para a não-existência. Objectivo último: afastar o grande público das correntes de contraprojecto e contra-análise, a fim de que as minorias não evoluam para maiorias; limitar os efeitos do anticânone no tecido psicossocial; manter de pé a pirâmide dos interesses. Os jornais, as rádios e as televisões (nas mãos de grupos multimédia, ancorados à finança e balizados pelo consenso rotativista) são chiens de garde dos senhores de turno. Ostentam os guiões do patronato que mais ordena e da agiotagem que mais conta, fornecem argumentário para a resig(nação) e a capitulação. Na emergência, a pátria deles é a patroika, instância de ocupantes e colaboracionistas, da Comandita das Três Siglas e do Clube dos Miguéis de Vasconcelos. Bom aluno euro-americano, o complexo mediático abraça a doutrina do alinhamento e da circularidade e da capsulagem do adverso. Para iludir a questão informativa e opinativa, multiplica os apresentadores da normalidade e aparentadores de diversidade e selecciona trupes de maldizer de superfície. A gramática reaccionária tomou conta de páginas e antenas. A vulgata política e a publicidade comercial confundem-se. Morfologicamente. Ideologicamente. Programaticamente. Vender, vender: mercadorias do ilusório. Formar, formar: opções do tolerado. Fabricar, fabricar: barreiras do cerco. Físicas e mentais. 

Prato único 

A culinária mediática aplica a receita come-em-casa. Socorre-se de enchidos regionais e entalados made in. Os shows de bidé e concursos de ralé complementam jornais e telejornais. Representam uma fatia generosa do menu. Apostados na baixeza dos produtos e infantilização dos públicos, os criativos têm vindo a tabloidizar toda a página impressa e toda a grelha audiovisual. A estilística expõe a natureza dos pratos do dia e da noite. Apesar dos enfeites de mesa, as entradas e as sobremesas não conseguem anular o sabor a prato único. Não será por casualidade que, apartado o lixo institucional e privado (que também abunda no carrossel virtual), numerosos ciber-materiais superam em redacção e especialização o jornalismo corporativo. A qualidade temática e a pertinência vocabular foram, em grande medida, desalojadas da comunicação oficiosa. Prolifera a vassalagem de alterne e impera a ignorância hiperactiva. A generalidade da competência e da decência foi posta na prateleira ou na solitária. Sobeja alguma excelência enquadrada, monitorizada, aperreada. Por vezes, tolerada como engodo para impingir o resto do cardápio. 

Salazar regurgita 

Falemos de vómito. Na ditadura, Paula Rego pintou Salazar vomitando a Pátria. No presente quadro, sentimos vontade de vomitar os restos ou as regurgitações do salazarismo e dos Novos Secretariados da Propaganda. Ler, ver e ouvir o mesmo ou o idêntico começa a causar um fastio de morte, estilo nausée sartreana, mal du pays. Estão a tornar-se impróprios para alimento humano os noticiários e os comentários padronizados, os entretenimentos primários, os atentados à Pátria de Pessoa. Os chefs desta ementa são recrutados pelo bureau económico-político. Compete-lhes manter a pax mediática. Há que reconhecer: têm tido êxito a fabricar dependentes do rendimento cultural mínimo e do rendimento eleitoral máximo. No entanto, até entre os fidelizados, corre uma percepção de enfado: dizem sempre o mesmo, dão sempre a mesma coisa. As manifestações de enjoo são idênticas às dirigidas aos parceiros do poder central: são todos iguais. Daí até o grosso dos consumidores se consciencializar da sua condição (antropológica, histórica, social, classista) vai uma persistente didáctica. Que dificilmente se ministrará sem uma ruptura de modelo. 

Todas as armas 

Não dispõe este exilado de meios para constitucionalizar as indústrias de mensagens, cada vez menos distinguíveis das indústrias de massagens. A viragem programática pressupõe uma outra agenda de valores e um suporte material compatível. Apesar da desproporção de meios, cumpre-nos rebater os centros comerciais mediáticos, ampliando a oferta democrática, introduzindo novas cores na paleta sistémica. Os administradores da informação e do entretenimento não alteram a agulha sem entrar em campo um agente histórico empenhado noutros conteúdos, noutras linguagens, noutras embalagens. Para tal, há que reactivar e renovar o formulário de resistência e alternativa. Teremos de optimizar os recursos da guerra popular prolongada: maquis electrónico, imprensa de trincheira e da linha da frente, editoriais de rua, editoras de nicho, faixas de desfile, folhas volantes, panfletos esvoaçantes, caixas do correio, debates de tertúlia, agitações de assembleia, bandas de megafones, tempos de antena, o que mais a imaginação discorrer, a situação sugerir, a tesouraria consentir. Há que deitar mão a todas as armas. A ironia, por exemplo, não requer grande taxa de esforço patriótico. Procuremos sensibilizar algumas entidades escrutinadoras, reguladoras, fiscalizadoras. Para acudir à Pátria, abarrotada de exilados e carecida de alimentação saudável, o Barómetro Marktest poderia medir os indicadores de repugnância, enriquecendo as teses de doutoramento e os congressos de nutricionismo; a ERC deveria enviar, com carácter de urgência, amostras de víveres ao Instituto Ricardo Jorge; a ASAE deveria entrar de rompante nas empresas de artigos contrafeitos, muitos fora de prazo, talvez do tempo da outra senhora. O denunciado é mais pernicioso do que a venda de cavalo por vaca e peixe-caracol por bacalhau. 

EUA/UE 

Como curar o mal du pays? Haverá alguma estância para doenças hepatomediáticas? Onde procurar a verdade dos manuais? Junto de Assange, Manning e Snowden, derradeiros jornalistas de investigação do auto-intitulado Mundo Livre ? Subsistirá algum recanto seguro para os mensageiros audazes e honrados? EUA e UE são centrais de géneros avariados, de informação subprime. Basta folhear um newspaper ou sintonizar os satélites: teremos de andar com potentes lupas, radares e projectores em busca da objectividade prometida e da pluralidade perdida. Pouco haverá a esperar dos maiores fabricantes e distribuidores de lixo celulósico e hertziano. Mesmo que disfarcem com tecnologias de ponta e cantilenas de rights and liberties os seus programas de liquidação de conquistas civilizacionais e de redução de cabeças. [6] De maneira que urge recolocar a eterna questão: Que fazer? [7]
Eis o testemunho de um ex-aquartelado, actual infoguerrilheiro. 
Para que conste. Na rede.

Notas
1. Pátria, Lugar de Exílio , Daniel Filipe (1925 - 1964). Edição do Autor, sobrecapa de Pilo da Silva, 1963, Lisboa. Despacho da Direcção-Geral da Informação: Trata-se de uma colectânea de poemas do género "revolucionário", escritos em 1962, que pretendem ser um grito contra a opressão em que se vive no País, sob o medo das balas e dos carrascos. (23/03/1972). Proibição de circular: ordem nº 100 - DGI - GE (27/03/1972). Interessante o auto de denúncia transformado em autodenúncia e a sanha persecutória nove anos após a saída do livro. Na verdade, achava-se esgotado. O inquisidor não deixava contudo de fazer doutrina expurgatória. A segunda edição apenas viria à luz depois da Revolução de Abril: Editorial Presença, 1977, Lisboa. 
2. Paula Rego, Salazar a vomitar a Pátria , óleo s/ tela (94 x 120 cm), 1960, Col. Fundação Calouste Gulbenkian. 
3. Almeida Garrett (1799-1854). Escritor, pedagogo, diplomata, lutador de pena e armas na mão. Exilado em Londres e Paris por diversas vezes, entre 1823 e 1931. Viveu períodos de clandestinidade. Participou no Desembarque do Mindelo com as tropas liberais e no levantamento do Cerco do Porto (1832-1833). 
4. Egas Moniz (1874-1955). É-lhe atribuído o desabafo: Vivo exilado na minha pátria. Investigador, neurocirurgião, republicano. Em 1945, foi galardoado com o Prémio de Oslo, graças à descoberta da Angiografia cerebral (1932); em 1949, recebeu o Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina como reconhecimento pela Leucotomia pré-frontal (1935). Nos meios oposicionistas correu durante muitos anos o remoque de Salazar ao saber que Egas Moniz fora laureado: Então já temos um Meio Prémio Nobel! O certo é que a Imprensa, uma alinhada, outra amordaçada, exceptuando o jornal República, foi parca em notícias e vibrações. O ditador quis achincalhá-lo, sob o pretexto de haver partilhado o Nobel com o suíço Walter Hess (1881-1973). Critério recorrente nos domínios da medicina, física, química, paz. A alergia do homo santacombensis pelos avanços científicos (práticos e conceptuais) de Egas Moniz já havia sido patente no arrumo do livro A vida sexual (fisiologia e patologia) na lista negra, apesar de ser uma versão da tese de doutoramento e das provas de concurso para professor universitário. A primeira edição da Fisiologia é de 1901, a da Patologia é de 1902, com chancela da França Machado-Editora, Coimbra. Sucederam-se 20 edições até 1933. A Livraria Ferreira, da capital, fez sair dezenas de milhares de exemplares. Até que o regime de Deus, Pátria e Família diabolizou a obra. Os editores desinteressaram-se do best-seller. Ventura Landesma Abrantes (1883-1956), amigo de Egas Moniz, que fazia pontes com membros do Governo, conceituado agente cultural (fundador da Oliventina, da Casa Editora Ventura Abrantes, da Feira do Livro de Lisboa (1931), representante português nas exposições livreiras de Sevilha, Barcelona e Florença), voltaria a dar à luz o tratado científico. A ditadura passou a tolerar A Vida Sexual , com a devida prudência: mediante receita médica. 
5. Poboo meudo, arraia meuda . Caracterização medieval das camadas desfavorecidas. Alusão a levantamentos populares. Fernão Lopes (1380-1460): Crónica de D. Pedro I, Crónica de D. João I. 
6. O Der Spiegel descreveu a administração Obama como "totalitarismo soft" . ( The Guardian , John Pilger, 04/07/2013). 
7. Que fazer?, Vladimir Ilitch Lénine (1870-1924). Primeira edição em russo: Editorial Dietz, 1902, Estugarda. Obra divulgada no Ocidente sobretudo através das Éditions en Langues Etrangéres, 1941-1954, Éditions du Progrès, 1962, Moscovo, Éditions du Soleil, 1966, Paris. Em Portugal, Que fazer? integrou as Obras Escolhidas , tomo I, Editorial Avante!, 1977, Lisboa. No Brasil, há a edição Hucitec, 1988, São Paulo. 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

Moçambique: INSTABILIDADE PODE AFETAR A ECONOMIA - reitera Manuel Chang




O Ministro das Finanças, Manuel Chang, reiterou que a tensão política e o consequente condicionamento da circulação de pessoas e bens no troço Muxúnguè e rio Save, em Sofala, pode afectar o desempenho da economia moçambicana.

Falando quinta-feira última, em Maputo, Manuel Chang afirmou que, neste momento, ainda não foi possível fazer uma avaliação dos prováveis impactos negativos resultantes do condicionamento da circulação na estrada tendo, no entanto, manifestado o desejo de ver o problema resolvido o mais rápido possível.

Segundo as perspectivas mais recentes do FMI, as cheias severas no início de 2013 tiveram um impacto significativo, destruindo culturas e infra-estruturas no sul do país, mas o Produto Interno Bruto deverá crescer cerca de 7 porcent este ano, com a expansão da actividade mineira e a recuperação da produção agrícola.

A inflação continuará abaixo de 6 porcento, a médio prazo, a balança comercial vai manter-se altamente dependente do investimento externo na indústria extractiva e o desempenho fiscal está em linha com os objectivos definidos pelo Governo.

Entretanto, segundo explicou Chang, “quando os carros e as pessoas circulam, normalmente, há um maior fluxo de negócios nas várias regiões e isso cria condições para que o Estado continue a arrecadar receitas. O condicionamento da circulação das pessoas, logicamente, que vai reduzir o fluxo de negócios e, consequentemente, as receitas também podem ser afectadas”.

Refira-se que para além do transporte rodoviário, a tensão na região centro, também afectou o transporte ferroviário, sobretudo o escoamento do carvão através da linha de Sena.

O titular da pasta das Finanças considera ser ainda prematuro avaliar os prejuízos, muito embora acredite que o diálogo político actualmente em curso entre o Governo e a Renamo possa trazer soluções para o problema.

Os pronunciamentos do governante foram feitos momentos depois da assinatura entre o Governo e a EXIM Bank da Índia de três importantes acordos de financiamento para o desenvolvimento de infra-estruturas no sector das obras públicas e habitação em Moçambique.

Ao abrigo do referido acordo, o banco indiano irá desembolsar mais de 200 milhões de dólares norte-americanos para a reabilitação da estrada entre Tica-Búzi-Nova Sofala, no valor de 150 milhões de dólares, construção de 1200 casas nas províncias de Tete, Zambézia e Cabo Delgado, no valor de 47 milhões de dólares e desenvolvimento de água rural – Fase III, nas províncias de Manica, Zambézia e Nampula, no valor de 20 milhões de dólares.

Manuel Chang classificou o montante disponibilizado pelos indianos como estando em moldes altamente concessionais, ou seja, com um período de diferimento de seis anos e um prazo de pagamento de 20 anos e uma taxa de juros baixíssima.

Moçambique: MÉDICOS COAGIDOS A CUMPRIR SERVIÇO MILITAR EM SOFALA



Verdade (mz)

Os médicos recém-graduados pela Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane, na província de Sofala, estão inquietos alegadamente porque o Ministério da Defesa Nacional, por intermédio do Centro de Recrutamento, está, desde princípios de Junho último, a contactá-los, telefonicamente, para cumprir o Serviço Militar. A situação está a gerar uma onda de descontentamento entre os visados, pois desconfiam tratar-se de uma perseguição por terem aderido à greve dos profissionais de saúde observada entre Maio e Junho passados no país.

Os terapeutas que denunciaram o facto ao @Verdade contaram que em virtude de terem ignorado o convite do Ministério da Defesa Nacional foram forçados a se apresentarem à inspecção militar. Para justificar a medida por si tomada, o ministério alegou que se tratava de “incorporação extraordinária”.

Apurámos também que a suposta “incorporação extraordinária” abrange a todos médicos recém-graduados em Sofala e estão em processo de exames de aptidão com vista a integrarem as fileiras das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). Até 30 de Junho passado, alguns já devia ter sido distribuídos pelos centros de instrução militar, mas algo correu mal, por isso, a data foi prorrogada para 10 de Julho em curso.

Questiona-se, no entanto, por que razão a referida “incorporação extraordinária” só abrange os terapeutas (por sinal que aderiram à greve que tinha como propósito exigir do Governo melhores condições de trabalho) e não os profissionais de outros sectores em idade de cumprir o Serviço Militar.

Em Maputo e no resto das províncias ainda não há informações dando conta de um acontecimento idêntico ao de Sofala, protagonizado pelo Ministério da Defesa. Porém, os médicos que sabem que ainda não cumpriram o Serviço Militar e não ultrapassaram os 35 anos de idade estão apreensivos, pois a qualquer momento podem ser chamados, compulsivamente, para a mesma missão.

Na capital do país, a verdade é que o Ministério da Saúde (MISAU) decidiu reformar, por limite de idade, apenas quatro médicos numa lista composta por 24. Tratam-se de Ana Maria da Graça Ferreira Lopes Pereira, Benedita Anastácia da Silva, Maria Manuel Caldo Martins Cunha e Elias Suiane Fernando Walle, todos com a categoria de Médico Hospitalar Consultore e que também teriam estado do lado dos profissionais de saúde aquando da última greve que durou 27 dias.

Angola: JOVENS ESPERAM QUE ENCONTRO COM O PRESIDENTE TENHA REPERCUSSÕES



Arão Ndipa – Voz da América

O encontro foi visto por alguns analistas como um primeiro passo de José Eduardo dos Santos para dar uma maior abertura à sua presidência.

A maioria dos representantes das associações juvenis que participaram recentemente num encontro com o presidente José Eduardo dos Santos esperam que as preocupações apresentadas sobre a situação da juventude angolana não sejam  letra morta.

De facto o encontro do mês passado entre o presidente angolano e organizações de jovens não serviu para diminuir o cepticismo de muitos quanto á vontade do presidente em resolver os problemas da juventude.


O encontro foi visto por alguns analistas como um primeiro passo do presidente para dar uma maior abertura à sua presidência e ouvir as preocupações de organizações da sociedade civil.

O encontro teve como promotor Conselho Nacional da Juventude e participaram 30 organizações juvenis.

Para nos falar sobre o assunto, ouvimos Sérgio Luther Rescova, primeiro secretário nacional da JMPLA, Nfuka Muzemba, secretário geral da JURA e Rafael Aguiar, secretário da CASA-CE para a juventude e Wladmir Russso, da Juventude Ecológica Angolana.

Angola: RECORDAR OS HERÓIS DA CIDADE DO CUÍTO




Delfina Vitorino e José Chaves, Cuito – Jornal de Angola - 2 de Julho, 2013

Mais de sete mil civis e militares morreram durante a guerra que a cidade do Cuito enfrentou há 19 anos, entre muitas crianças. Na sua maioria foram enterrados em lugares impróprios, como quintais, jardins e pátios. O município do Cuito, 19 anos depois, lembra os mártires da guerra que eclodiu após as eleições de 1992.

O 28 de Junho de 1992 tem um significado muito especial para os angolanos e em particular para o povo da província do Bié, que enfrentou inúmeras dificuldades nessa fase sangrenta.

A data consagrada aos mártires da batalha do Cuito foi assinalada num ambiente de paz e consolidação da democracia. É considerada como uma das mais sangrentas e destruidoras do conflito pós-eleitoral de 1992, quando a UNITA de Jonas Savimbi recusou os resultados eleitorais. A cidade do Cuito esteve cercada durante um ano e seis meses, de 6 de Janeiro de 1993 a 28 de Junho de 1994. A resistência de civis e militares foi heróica. Durante um ano e meio, a fome, a nudez, as doenças e a morte fustigaram os habitantes do Cuito.

Muitos fugiram para outras localidades do interior da província onde encontraram condições de sobrevivência. Conceição Chiocana, natural de Calussinga, Andulo, disse que “vivemos momentos terríveis e tristes de lembrar porque aquilo parecia o inferno. A minha primeira filha, que na altura tinha dez anos, teve que pegar numa arma para se defender enquanto procurávamos alimentos”. Conceição Chiocana lembra que os habitantes do Cuito “foram obrigados a comer folhas e raízes de bananeira, peles de animais, comida sem sal e até as arvores pararam de dar frutos”. Para matar a sede, as pessoas recolhiam água da chuva ou das cacimbas.

A nova cidade

Hotéis, pensões, estabelecimentos comerciais, locais turísticos, agências bancárias, estruturas administrativas e económicas foram erguidas nos últimos anos no município do Cuito, capital da província do Bié. Estruturas administrativas, desde as direcções dos ministérios, escolas do ensino primário, médio e superior foram igualmente erguidas na martirizada cidade do Cuito. Neste momento o município tem a funcionar a Escola Superior Pedagógica e a Escola Politécnica, pertencentes à Universidade José Eduardo dos Santos. Quanto às estradas do município do Cuito, precisam de asfalto para facilitarem a mobilidade das pessoas e as trocas comerciais.

Caminhos-de-ferro

Com a reabilitação do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) e com o surgimento do “Comboio da Paz”, que tem a sua estacão na comuna do Cunje, a circulação de pessoas e bens tornou-se um facto.O cemitério monumento, onde jazem os restos mortais daqueles que lutaram pela pátria, crianças, jovens e idosos, foi erguido na comuna satélite do Cunje. 

O aeroporto Joaquim Kapango também foi renovado para conciliar o crescimento e o desenvolvimento das estruturas sociais e económicas do município do Cuito e facilitar a rápida deslocação das pessoas.

Todas estas estruturas dão outra imagem à martirizada cidade do Cuito, capital do Bié.

IGNACIO RAMONET: “SOMOS TODOS VIGIADOS”




O que é a mega-rede global de espionagem montada pelos EUA. Como os cidadãos são monitorizados. Por que a denúncia de Edward Snowden é um facto histórico.

Nós já temíamos1. Tanto a literatura (1984, de George Orwell), como o cinema (Minority Report, de Steven Spielberg) haviam avisado: com o progresso da tecnologia da comunicação, todos acabaríamos por ser vigiados. Presumimos que essa violação de nossa privacidade seria exercida por um Estado neototalitário. Aí nos equivocamos. Porque as revelações inéditas do ex-agente Edward Snowden sobre a vigilância orwelliana acusam diretamente os Estados Unidos, país considerado como “pátria da liberdade”. Aparentemente, desde a promulgação, em 2001, da lei Patriot Act2, isso ficou no passado. O próprio presidente Barack Obama acaba de admitir: “Não se pode ter 100% de segurança e 100% de privacidade”. Bem-vindos, portanto à era do “Grande Irmão”…

O que revelou Snowden? Este antigo assistente técnico da CIA, de 29 anos, que trabalhava para uma empresa privada – a Booz Allen Hamilton3 – subcontratada pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, sua sigla em inglês), revelou aos jornais The Guardian e Washington Post a existência de programas secretos que tornam o governo dos Estados Unidos capaz de vigiar a comunicação de milhões de cidadãos.

Um primeiro programa entrou em operação em 2006. Consiste em espiar todas as chamadas telefónicas feitas pela companhia Verizon, dentro dos Estados Unidos, e as que se fazem de lá para o exterior. Outro programa, chamado PRISM, foi posto em marcha em 2008. Coleta todos os dados enviados pela internet (e-mails, fotos, vídeos, chats, redes sociais, cartões de crédito), por (a princípio…), estrangeiros que moram fora do território norte-americano. Ambos os programas foram aprovados em segredo pelo Congresso norte-americano, que teria sido, segundo Barack Obama, “constantemente informado” sobre o seu desenvolvimento.

Sobre a dimensão da incrível violação dos nossos direitos civis e das nossas comunicações, a imprensa deu detalhes escabrosos. Em 5 de junho, por exemplo, o Guardian publicou a ordem emitida pela Tribunal de Supervisão de Inteligência Externa, que exigia à companhia telefónica Verizon entregar à NSA os registos de milhões de chamada dos seus clientes. O mandato não autoriza, aparentemente, saber o conteúdo das comunicações, nem os titulares dos números de telefone, mas permite o controle da duração e o destino dessas chamadas. No dia seguinte, oGuardian e o Washington Post revelaram a realidade do programa secreto de vigilância PRISM, que autoriza a NSA e o FBI a aceder aos servidores das nove principais empresas da internet (com a notável exceção do Twitter): Microsoft, Yahoo, Gogle, Facebook4, PalTalk, AOL, Skype, YouTube e Apple.

Por meio dessa violação, o governo dos EUA pode aceder a ficheiros, áudios, vídeos, e-mails e fotografias de utentes dessas plataformas. O PRISM converteu-se, desse modo, na ferramenta mais útil da NSA para fornecer relatórios diários ao presidente Obama. Em 7 de junho, os mesmo jornais publicaram uma diretiva da Casa Branca que ordenava às suas agências (NSA, CIA, FBI), estabelecer uma lista de possíveis países suscetíveis de serem “ciberatacados” por Washington. E em 8 de junho, o Guardian revelou a existência de outro programa, que permite à NSA classificar os dados recolhidos na rede. Esta prática, orientada a ciberespionagem no exterior, permitiu compilar – só em março – cerca de 3 mil milhões de dados de computador nos Estados Unidos…

Nas últimas semanas, ambos os jornais conseguiram revelar, sempre graças a fugas de informação de Edward Snowden, novos programas de ciberespionagem e vigilância da comunicação em países no resto do mundo. Edward Snowden explica “A NSA construiu uma infraestrutura que lhe permite intercetar praticamente qualquer tipo de comunicação. Com esta técnica, a maioria das comunicações humanas são armazenadas para servir em algum momento a um objetivo determinado”.

A Agência de Segurança Nacional (NSA), cujo quartel-general fica em Fort Meade (Maryland), é a mais importante e mais desconhecida agência de informações norte-americana. É tão secreta que a maioria dos norte-americanos ignora a sua existência. Controla a maior parte do orçamento destinado aos serviços de informações, e produz mais de cinquenta toneladas de material por dia… É ela – e não a CIA – a proprietária e operadora da maior parte do sistema de coleta de dados dos serviços secretos dos EUA. Desde uma rede mundial de satélites até as dezenas de postos de escuta, milhares de computadores e as florestas de antenas localizadas nas colinas de West Virginia. Uma das suas especialidades é espiar os espiões — ou seja, os serviços secretos de todas as potências, amigas e inimigas. Durante a guerra das Malvinas (1982), por exemplo, a NSA decifrou o código secreto dos serviços de espionagem argentinos, o que lhe permitiu transmitir aos britânicos informações cruciais sobre as forças argentinas.

O vasto sistema de interceção da NSA pode captar discretamente qualquer e-mail, qualquer consulta de internet ou telefonema internacional. O conjunto total da comunicação intercetada e decifrada pela NSA, constitui a principal fonte de informação clandestina do governo dos EUA.

A NSA colabora estreitamente com o misterioso sistema Echelon. Criado em segredo, depois da Segunda Guerra Mundial, por cinco potências anglo-saxónicas — Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia (os “cinco olhos”). o Echelon é um sistema orwelliano de vigilância global, que se estende por todo o mundo, monitoriza os satélites usados para transmitir a maioria dos telefonemas, comunicação na internet, e-mails, redes sociais etc. O Echelon é capaz de capturar até dois milhões de conversas por minuto. A sua missão clandestina é a espionagem de governos, partidos políticos, organizações e empresas. Seis bases espalhadas pelo mundo recolhem informações e desviam de forma indiscriminada enormes quantidades de comunicação. Em seguida, os super-computadores da NSA classificam este material, por meio da introdução de palavras-chaves em vários idiomas.

Em torno do Echelon, os serviços de espionagem dos EUA e do Reino Unido estabeleceram uma larga colaboração secreta. E agora sabemos, graças às novas revelações de Edward Snowden, que a espionagem britânica também interceta clandestinamente cabos de fibra ótica, o que lhe permitiu espionar as comunicações das delegações presentes na reunião de cúpula do G-20, em Londres, em abril de 2009. Sem distinguir entre amigos e inimigos5.
Por meio do programa Tempora, os serviços britânicos não hesitam em armazenar enormes quantidades de informação obtidas ilegalmente. Por exemplo, em 2012, manejaram cerca de 600 milhões de “conexões telefónicas” por dia e puseram sob escuta, em perfeita ilegalidade, mais de 200 cabos… Cada cabo transporta 10 gigabites6 por segundo. Em teoria, poderia processar 21 petabytes7 por dia; equivalente a toda a informação da Biblioteca Britânica, enviada 192 vezes ao dia.

O serviços de espionagem constatam que a internet já tem mais de 2.000 milhões de utilizadores no mundo e que quase mil milhões utiliza o Facebook de forma habitual. Por isso, fixaram como objetivo, transgredindo leis e princípios éticos, controlar tudo o que circula na internet. E estão a conseguir: “Estamos a começar a dominar a internet”, confessou um espião inglês, “e a nossa capacidade atual é bastante impressionante”. Para melhorar ainda mais esse conhecimento sobre a internet, o Quartel-Geral de Comunicações do Governo [Government Communications Headquarters, ou GCHQ, a agência de espionagem britânica] lançou recentemente novos programas: Mastering The Internet (MTI) sobre como dominar a Internet, e Programa de Modernização da Intercetação [Interception Modernisation Programme] para uma exploração orwelliana das telecomunicações globais. Segundo Edward Snowden, Londres e Washington já acumulam, diariamente, uma quantidade astronómica de dados, intercetados clandestinamente através das redes mundiais de fibra ótica. Ambos países dispõem de um total de 550 especialistas para analisar essa titânica informação.

Com a ajuda da NSA, a GCHQ aproveita-se de que grande parte dos cabos de fibra ótica por onde trafegam as telecomunicações planetárias passam pelo Reino Unido. Este fluxo é intercetado com programas sofisticados de informática. Em síntese, milhões de telefonemas, mensagens eletrónicas e dados sobre visitas na internet são armazenados sem que os cidadãos saibam, a pretexto de reforçar a segurança e combater o terrorismo e o crime organizado.

Washington e Londres colocaram em marcha o plano orwelliano do “Grande Irmão”, com capacidade de saber tudo que fazemos e dizemos nas nossas comunicações. E quando o presidente Obama menciona a suposta “legitimidade” de tais práticas de violação de privacidade, está a defender o injustificável. Além disso, há de se lembrar que, por intercetarem informação sobre perigosos grupos terroristas com base na Flórida – ou seja, uma missão que, segundo a lógica do presidente Obama seria “perfeitamente legitima” — cinco cubanos foram detidos em 1998 e condenados8 pela justiça dos EUA a largas e imerecidas penas de prisão9.

O presidente Barack Obama está a abusar do seu poder e a diminuir a liberdade de todos os cidadãos do mundo. “Eu não quero viver numa sociedade que permite este tipo de ação”, protestou Edward Snowden, quando decidiu fazer as suas revelações. Divulgou os factos e, não por acaso, exatamente quando começou o julgamento do soldado Bradley Manning, acusado de promover a fuga de segredos da Wikileaks, organização internacional que divulga informações secretas de fontes anónimas. Enquanto isso, o ciberativista Julian Assange está refugiado há um ano na Embaixada do Equador em Londres… Snowden, Manning e Assange, são defensores da liberdade de expressão, lutam em favor da democracia e dos interesses de todos os cidadãos do planeta. Hoje são assediados e perseguidos pelo “Grande Irmão” norte-americano10.

Por que os três heróis do nosso tempo assumiram correr semelhante riscos, que podem custar a sua própria vida? Edward Snowden, obrigado a pedir asilo político no Equador e em vinte países, responde “Quando se dá conta de que o mundo que ajudou a criar será pior para as próximas gerações, e que os poderes desta arquitetura de opressão se estendem, você entende que é preciso aceitar qualquer risco. Sem se preocupar com as consequências”.

Tradução de Cauê Ameni para o Outras Palavras

Notas:
1 Ver, de Ignacio Ramonet, “Vigilância absoluta”, na Biblioteca Diplô, agosto de 2003.
2 Proposta pelo presidente George W. Bush e adotada no contexto emocional que se seguiu aos ataques de 11 de setembro de 2001, a lei “Patriot Act” autoriza controles que interferem com a vida privada, suprimem o sigilo da correspondência e liberdade de informação. Não requer a permissão para escutas telefónicas. E os investigadores podem aceder a informações pessoais dos cidadãos sem mandado.
3 Em 2012, a empresa faturou 1.300 milhões para “missões de assistência de informação.”
4 Recentemente, soube-se que Max Kelly, chefe de segurança no Facebook, encarregado de proteger as informações pessoais dos usuários da rede social contra ataques externos, deixou a empresa em 2010 e foi contratado… pela NSA.
5 Espiar diplomatas estrangeiros é legal no Reino Unido: protegido por uma lei aprovada pelos conservadores britânicos, em 1994, que coloca o interesse económico nacional acima da diplomacia.
6 O byte é uma unidade de informação em computação. Um gigabyte é uma unidade de armazenamento cujo símbolo é GB, igual a mil milhões de bytes, o equivalentes a uma vanrepleta de páginas de texto.
7 Um petabyte (PT) é igual a um quatrilhão de bytes — ou um milhão de gigabyte.
8 A missão dos cinco Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández, Ramón Labañino e René González, era infiltrar-se e observar o processo de grupos de exilados cubanos para evitar atos de terrorismo contra Cuba. Porém o juiz condenou eles à prisão perpétua, disse a Amnistia Internacional num comunicado que “durante o julgamento não mostrou qualquer prova de que os acusados tinham informações classificadas realmente tratado ou transmitida.”
9 Ler de Fernando Morais, Os últimos soldados da guerra fria, Companhia das Letras.
10 Edward Snowden corre o risco de ser condenado a trinta anos de prisão após ter sido formalmente acusado pelo governo dos EUA de “espionagem”, “roubo” e “uso ilegal de propriedade do governo.”

* Jornalista. Foi director do Le Monde Diplomatique entre 1990 e 2008. 

Na foto: O vasto sistema de interceção da NSA pode captar discretamente qualquer e-mail, qualquer consulta de internet ou telefonema internacional. Foto de Light Brigading

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