segunda-feira, 20 de maio de 2013

Portugal: É URGENTE ACABAR COM ESTE PREC




Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião

Já foi há muito ultrapassado o limite do normal funcionamento das instituições

A sondagem encomendada pelo Instituto Europeu da Faculdade de Direito de Lisboa à Eurosondagem revela, pela primeira vez de uma forma brutal, aquilo que se pressentia nas ruas: a maioria esmagadora dos portugueses – genericamente silenciosa – está contra o cumprimento do Memorando da troika. O número dos que defendem a posição habitualmente enunciada pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda (denunciar o Memorando e procurar alternativas) é impressionante face ao peso eleitoral dos dois partidos: 41,5%! A defesa da renegociação profunda do Memorando – a posição oficial do PS – é partilhada por 41% dos inquiridos. A política revolucionária do governo em curso (“cumprir o acordado”) apenas tem o apoio de 10,8%. O “ajustamento” só é “bonito” na cabeça estalinista do ministro das Finanças – todas as previsões, do desemprego à recuperação económica, falharam estrondosamente. E quando Gaspar diz que “o ajustamento do sector privado foi notável, exactamente como o previsto”, esqueceu-se de dizer que quem previu as consequências deste ajustamento foram outros – a começar no desemprego galopante – e que só uma cabeça desconcertada lhe pode chamar “notável”. É óbvio que este governo já não está em condições de negociar o que quer que seja com a troika – ou com Durão Barroso, a quem recentemente Merkel, armada em polícia boa por um dia, culpou pelo desastre da austeridade. A agenda do Conselho de Estado é um exercício inútil: Portugal não tem que discutir o pós-troika, tem que discutir o programa da troika, que é o programa do governo, porque no pós--troika, como dizia o outro, que até era razoavelmente popular em Belém (Keynes), estaremos todos mortos.

A única via possível para acabar com este processo de revolução liberal em curso é a convocação urgente de eleições. Já foi, há muito, ultrapassado o limite, não só dos sacrifícios – como dizia Cavaco relativamente aos cortes de Sócrates – como do normal funcionamento das instituições. Se houvesse alguém em Belém no pleno uso das suas faculdades constitucionais, o reconhecimento institucional do desaparecimento do governo seria mais célere.

Portugal: CAVACO QUE FAÇA O “MILAGRE” E DEMITA GOVERNO




Jornal i - Lusa

Durante a manifestação em frente à residência oficial do Presidente da República, que reuniu algumas centenas de pessoas, ouviram-se vários cânticos que visaram diretamente Cavaco Silva

O PCP e o BE acusaram hoje o Presidente da República de ser "o principal pilar da coligação" e de permitir violações da Constituição, mas exigiram a Cavaco que demita o executivo, "mesmo que isso pareça um milagre".

Durante a manifestação convocada pelo movimento "Que se lixe a troika", em frente ao Palácio de Belém, enquanto se realiza uma reunião do Conselho de Estado, dirigentes bloquistas e comunistas ouvidos pela agência Lusa convergiram na ideia de que esta iniciativa do chefe de Estado vem "no seguimento do discurso do 25 de Abril" e pretende dar um sinal de apoio ao Governo.

"Este é um governo de iniciativa presidencial, o Presidente tem sido o principal pilar de uma coligação que se desmorona à medida que os resultados da austeridade vão sendo conhecidos e à medida que o país vai julgando o Governo pelas promessas que fez e não está a cumprir", disse o dirigente e ex-deputado do BE José Gusmão.

Segundo o antigo deputado do BE, "o discurso do Presidente da República no 25 de Abril assinalou o fim de qualquer disfarce de neutralidade" por parte de Cavaco Silva.

"O Presidente, que deve ser uma espécie de árbitro da nossa democracia, tomou um partido e um partido muito claro em torno das políticas do seu partido, o PSD, isso significa que atualmente o Presidente, perante o quebrar de todas as promessas que este Governo tinha assumido na campanha eleitoral, tem de escolher, ou demite o Governo ou demite-se a si próprio", defendeu.

Também para Miguel Tiago, deputado do PCP, este Conselho de Estado "vem no seguimento da declaração na Assembleia da República do senhor Presidente, em que deixou muito claro que pretende estar ao lado do Governo nesta política de esbulho, de afronta, de sacrifício da soberania nacional".

"Entendemos que esse não é o compromisso que um Presidente da República deve assumir e por isso mesmo é que nos associamos a todos os protestos que visem exigir a rápida demissão do Governo e alteração da política", sustentou o comunista.

O parlamentar do PCP considerou que o aumento dos protestos "mais cedo do que tarde fará com que certamente o poder em Portugal tenha de ouvir a voz do povo".

"Não sabemos o dia, mas o certo é que com a intensificação da luta esta política vai ter de mudar", acrescentou.

Já o bloquista Jorge Costa, ex-deputado e membro da Comissão Política do BE, defendeu que "o povo faz milagres quando luta".

"Este protesto hoje quer fazer a força necessária para que o Presidente da República faça aquilo que jurou fazer, que é cumprir e fazer a Constituição e isso implica demitir o Governo, porque toda a governação está a ser feita contra aquilo que a Constituição consagra, os direitos sociais", disse Jorge Costa.

O dirigente do BE referiu que "o chefe de Estado tem a incumbência constitucional de demitir um Governo que não respeite a lei fundamental" e que essa "é uma exigência do povo e das pessoas que se mobilizam, perante o Presidente da República, para que ele cumpra o seu papel, mesmo que isso pareça um milagre".

Costa apontou uma "sondagem recente" que "revela que a grande maioria das pessoas exige o rompimento com o memorando da ‘troika'", sublinhando que "a rutura com a austeridade e por uma nova política na Europa cruza fronteiras", referindo-se à manifestação internacional do próximo dia 01 de junho.

Durante a manifestação em frente à residência oficial do Presidente da República, que reuniu algumas centenas de pessoas, ouviram-se vários cânticos que visaram diretamente Cavaco Silva.

"Sai do caixão e pede a demissão" ou "a múmia continua a não os pôr na rua" foram algumas das palavras dos manifestantes, que por diversas vezes também se juntaram a rir enquanto de um sistema de som se ouviam declarações de Cavaco Silva, de Paulo Portas ou de Vítor Gaspar.

Portugal: Manifestantes em Belém começaram a desmobilizar pouco depois das 20:00




CMP - VAM – GC - Lusa

Os manifestantes que hoje à tarde protestaram em frente ao Palácio de Belém para pedir a demissão do Governo começaram a desmobilizar pouco depois das 20:00.

Ao longo de três horas centenas de pessoas estiveram concentradas na Praça Afonso de Albuquerque enquanto decorria o Conselho de Estado, que pelas 20:30 ainda não tinha terminado.

O protesto foi intercalado por momentos de silêncio e vaias ao Governo e palavras de ordem.

“Está na hora do Governo se ir embora”, “A múmia continua a não se pôr na rua” e “Sai do caixão e pede a demissão” foram as palavras mais ouvidas durante a concentração que reuniu mais participantes por volta das 18:00.

O protesto foi convocado pelo movimento ‘Que se Lixe a Troika’ e atraiu outras organizações como a ‘Plataforma 15 de outubro’ e o ‘Movimento Nacional de Reformados Portugueses’.

Apesar de os organizadores terem a intenção de pôr termo à manifestação apenas quando terminar a reunião do Conselho de Estado, a maioria dos manifestantes começou a desmobilizar pouco depois das 20:00, após os diretos dos canais de televisão.

A reunião do Conselho de Estado, marcada pelo Presidente da República para discutir o ‘pós-troika', teve início pelas 17:10, com o presidente do Governo Regional dos Açores a ser a única ausência a registar.

A reunião foi convocada há uma semana pelo Presidente da República, que já explicou que considera "importante ouvir a reflexão dos conselheiros de Estado sobre matérias de relevância clara em Portugal, à medida que se aproxima o fim do programa de assistência financeira mas também para obter indicações para a posição portuguesa a ser defendida, pelo Governo português, no Conselho Europeu do mês de junho".

Portugal: O ELO MAIS FRACO




António Marinho Pinto – Jornal de Notícias, opinião

A Assembleia da República aprovou na passada sexta-feira uma lei que permite a chamada co-adopção para casais do mesmo sexo e rejeitou dois projectos de lei - um que eliminava a impossibilidade de adopção para esses mesmos casais e outro que alargava as famílias com capacidade de adopção. O plenário da AR em que ocorreram essas votações será lembrado com um dos raros momentos em que a hipocrisia, o oportunismo e o cinismo se condensaram numa maioria parlamentar de circunstância para aprovar uma lei injusta, iníqua, fraudulenta e antidemocrática.

É injusta e iníqua porque viola a essência da ideia de direito ao atribuir a alguns cidadãos «direitos» que não estão na disponibilidade do legislador. Mas, pior do que isso, para atribuir esses pseudo direitos a uns retira direitos fundamentais a outros. Aqueles a quem atribui «direitos» são cidadãos com muita influência e poder, que têm capacidade para, directamente ou por interpostas pessoas, influenciar os centros de decisão política e aqueloutros a quem são retirados direitos são crianças que não têm voz (nem votos). Elas têm apenas o silêncio das suas tragédias pessoais.

Nenhum Parlamento democrático devia poder retirar o direito de qualquer criança a formar a sua identidade num quadro familiar (biológico ou adoptivo) em que estejam presentes - bem presentes - as referências masculinas e femininas necessárias ao desenvolvimento harmonioso da sua personalidade. Este é um direito fundamental de qualquer criança que nenhuma lei justa poderá retirar. Assim como as leis não atribuem direitos fundamentais - apenas os reconhecem - também os não podem retirar.

É um exercício primário de hipocrisia pretender que o projecto de lei aprovado quer salvaguardar os direitos das crianças a quem tragédias diversas privaram dos pais que as geraram. Não, esse diploma visa apenas salvaguardar pseudo direitos (quase diria caprichos) de alguns adultos - e só isso. Ninguém tem o direito de adoptar crianças. Estas é que têm do direito a serem adoptadas, mas apenas por quem lhes possa proporcionar os referentes masculino e feminino correspondentes ao homem e à mulher que as geraram.

Mas que importa tudo isso quando as pessoas afectadas são crianças sem ninguém que defenda os seus direitos ou sequer fale por elas? Que importância tem isso quando se trata de crianças que nasceram na pobreza, na exclusão social ou então foram atingidas por tragédias que destruíram as suas famílias naturais? Que importa os direitos fundamentais (naturais) dessas crianças perante os direitos artificiais de pessoas poderosas que ocupam lugares importantes no estado e na sociedade? E, já agora, que respostas poderão os membros de um casal de homens dar a uma miúda de dois, três ou mais anos, por eles adoptada, quando ela começar a fazer aquelas perguntas a que só uma mulher sabe responder? Infelizmente, como se vê, as cadeias partem sempre pelo elo mais fraco.

Mas o projecto de lei aprovado não é só iníquo - ele promove também a fraude à lei, pois convida a introduzir, como que envergonhadamente, pela porta das traseiras aquilo que outra lei impede de entrar pela porta da frente. Diz-se em fraude à lei qualquer conduta que vise atingir um fim legalmente não permitido, mas usando caminhos diferentes dos que a lei previu e proibiu. Porém, o que nunca se tinha visto é que seja a própria lei a incentivar à fraude. A partir de agora qualquer casal homossexual poderá adoptar crianças desde que comece pela adopção monoparental.

Finalmente esta lei é antidemocrática porque a esmagadora maioria do povo português não concorda com ela. O projecto de lei (cor)responde aos interesses hipócritas e oportunistas da maioria circunstancial de iluminados que o aprovaram em desrespeito pelos direitos naturais das crianças. A sua aprovação constitui mais uma machadada na credibilidade do parlamento e dos deputados já que desrespeita a vontade maioritária daqueles que este Parlamento diz representar politicamente. A partir de agora, a tripla Coelho/Gaspar/Portas pode continuar a fazer os seus desmandos com mais tranquilidade porque a esquerda perdeu toda a legitimidade política para os acusar de desrespeitar a vontade popular.

Portugal: MUITAS CRÍTICAS A CAVACO SILVA ANTES DO CONSELHO DE ESTADO




NUNO RIBEIRO e LUSA em Público

Personalidades questionam escolha do tema

Horas antes de ter início o Conselho de Estado convocado pelo Presidente da República para analisar “as perspectivas da economia portuguesa no pós-troika no quadro de uma união económica e monetária efectiva e aprofundada”, multiplicaram-se as críticas à iniciativa de Cavaco Silva. Pelo tema escolhido, por não abordar questões presentes e até devido à data escolhida por Belém.

“Falar-se em pós-troika neste momento não faz nenhum sentido”, declarou Jorge Miranda durante a conferência Troika ano II, organizada pelo Instituto de Direito Económico e Fiscal e pelo Instituto Europeu para assinalar os dois anos do memorando de entendimento de assistência financeira a Portugal. Para o constitucionalista, o tema desta 10.ª reunião do Conselho de Estado convocada por Cavaco devia antes ser “o estado actual da troika e a situação em que nós estamos”.

Pelo que o professor jubilado da Universidade de Direito de Lisboa classificou a iniciativa presidencial “de uma coisa absolutamente inimaginável neste momento.” Mais: segundo Jorge Miranda, a convocatória do Conselho de Estado é “uma tentativa desesperada [de Cavaco Silva] depois do infeliz discurso do 25 de Abril.” Desta forma, o Presidente, afirmou o constitucionalista, tenta “voltar à mó de cima.”

Também o líder parlamentar do CDS/PP na Madeira, foi duro com Cavaco. “O senhor Presidente da República perdeu a oportunidade para debater a crise que se vive na sociedade e a eventual crise que se vive no Governo”, disse António Lopes da Fonseca, em conferência de imprensa no Funchal.

O chefe da bancada centrista no Parlamento Regional explicitou a posição do seu partido: “O CDS/PP da Madeira já anunciou que esta crise profunda tem uma causa, as políticas seguidas pelo ministro das Finanças, que é o verdadeiro problema do Governo.”

Assim, para Lopes da Fonseca, “o senhor Presidente da República devia estar preocupado sobre a causa do verdadeiro problema da economia e da sociedade portuguesa que é o senhor ministro das Finanças, esse sim seria o tema do Conselho de Estado e não o pós-troika, pois sabemos que nesse altura poderá não existir com este Governo, se cair antecipadamente.”

Recorda-se que no domingo o presidente do Governo Regional da Madeira, e por inerência conselheiro de Estado, declarou-se céptico quanto aos resultados da reunião do Conselho desta tarde. “Vou com sensação de impotência porque não vai resolver nada”, argumentou Alberto João Jardim. O chefe do executivo regional escusou-se a comentar o tema em debate “por ser um critério do Presidente da República.”

Esquecido Dia dos Açores

Outro político insular, o ex-presidente do Governo regional açoriano, foi muito crítico pelo Presidente da República ter convocado os seus conselheiros para a data em que se comemora o Dia dos Açores. “A convocação do Conselho de Estado para hoje é manifestação dessa ignorância, desse abandono secular, dessa desnecessidade que algumas instituições da administração central adoptam”, disse Carlos César na  Horta. Recorda-se que devido à coincidência do Dia dos Açores com o Conselho de Estado, o actual presidente do executivo regional, Vasco Cordeiro, não está presente na reunião que decorre no Palácio de Belém.

“O significado maior do facto do Presidente da República e, atente-se, também do primeiro-ministro não terem enviado mensagens [aos açorianos] nestes dias, não é que sejam nossos inimigos, é de que nem sequer nos conhecem”, lamentou o antigo chefe do Governo dos Açores durante quatro mandatos.

Também as centrais sindicais se manifestaram sobre a convocatória de Cavaco. “Que saia do Conselho de Estado uma clarificação da política do país e dos diferentes actores”, disse Nobre dos Santos, secretário-geral adjunto da UGT no final de uma reunião da concertação social. “Estamos todos numa situação de grande ansiedade relativamente ao futuro próximo uma vez que os diferentes ministros têm posições diferenciadas e pode ser que do Conselho de Estado sai uma conjugação de interesses”, manifestou o sindicalista.

Por seu lado, Arménio Carlos sublinhou “que não se pode discutir o futuro sem encontrar respostas para o presente." O secretário-geral da CGTP foi explícito: “O Governo tem consciência que colocou o país numa situação insustentável, é preciso evitar o mal maior e criar as condições para que o Conselho de Estado se pronuncie sobre a demissão de Governo e a convocação de eleições.”

Voz dissonante e com argumentos diferentes foi a de José Silva Lopes. “A convocação do Conselho de Estado pelo Presidente da República para debater o pós-troika faz todo o sentido, porque o pós-troika pode ser pior que atroika”, disse o ex-ministro das Finanças.

França: “COUBE A MIM SER PRESIDENTE NO PIOR MOMENTO”, diz Hollande




O ano II de François Hollande começa com a mesma política que o primeiro, mas com outra argúcia para comunicá-la. Apesar disso, as linhas traçadas não se moverão: disciplina orçamentária e esforço zero do Estado em favor do poder aquisitivo da população. Em suma, a ortodoxia complexa da União Europeia, envolta como um caramelo de luxo em papel suave e decorado. O presidente francês admitiu que a si coube “ser presidente no pior momento”. Por Eduardo Febbro, de Paris.

Eduardo Febbro - Carta Maior

Paris - Mudança de estilo sem mudança de rumo. Na segunda coletiva de imprensa de seu mandato o presidente francês, encurralado pela crise, o descontentamento massivo da população, a alta do desemprego e a hostilidade crescente da esquerda, encenou uma dessas tradicionais missas políticas de que a França tem o segredo: falar é como uma promessa de mudanças. No entanto, o chefe de Estado ratificou a política centrista que aplica desde que chegou, há um ano, ao poder, e seu eixo motor: redução dos déficits. Quando lhe perguntaram o que era, o presidente respondeu: “sou socialista”. 

Antes e depois desenvolveu um argumento preciso, de uma clareza sem voltas, sobre o que é e será sua política: tudo se resume numa apresentação de duas horas e 45 minutos, diante de 400 jornalistas, da qual não se depreende qualquer anúncio maior nem, tampouco, pistas a respeito das decisões difíceis que terá de tomar: a reforma da previdência, a redução suplementar dos déficits públicos ou a reforma trabalhista. Apenas um par de frases deixam entrever novos sacrifícios e cortes, sobretudo nas aposentadorias: “se vivemos mais é lógico que trabalhemos mais”, disse o presidente.

Quem esperava um “recurso ao futuro” (Libération) ou um novo desenho para sair do presente ficaram sem ter para onde ir. Não haverá transformações rotundas na linha adotada até agora, e menos ainda um giro à esquerda. Afável, com uma dose de humor delicado e eloquente, o Presidente defendeu sua ação e adiantou uma série de ideias e propostas para a França e a Europa. O chefe de Estado defendeu uma ofensiva para tirar a Europa de sua “apatia”, ao mesmo tempo em que propôs a Alemanha um acordo para avançar negociações em torno da união econômica e polícia. Também defendeu a ideia de um governo econômico da zona do euro encarregado de harmonizar o controle público-legal, a convergência de uma agenda social e um dispositivo de luta contra a fraude. 

“Se a Europa não avançar, desaparecerá do mapa do mundo e do imaginário coletivo. Não se trata de ser conservador ou progressista, mas de superar egoísmos nacionais e de salvar o projeto. Chegou a hora de dar um novo impulso a Europa, e meu dever é liderar esse desafio”, disse o presidente francês. Disse, claro, mas não explicou na realidade como, já que, globalmente, o que defendeu de fato é seguir caminhando pela mesma rota centro-liberal com a qual, em 2012, iniciou seu mandato. 

Neste contexto, o presidente evitou também provocar novos ruídos com a Alemanha. Algumas semanas após a divulgação de documento em que o partido socialista evocava a “intransigência egoísta de Angela Merkel”, Hollande reconheceu que Merkel e ele não “tinham as mesmas ideias, mas as mesmas responsabilidades”. Hollande recusou, assim, “enfrentar” a direita europeia e, em particular, a Alemanha, como sugeriram os socialistas, no polêmico documento que circulou há alguns dias.

Com a bíblia do realismo orçamentário numa mão e a pedagogia para vendê-lo na outra, François Hollande se comprometeu mais uma vez a baixar o desemprego antes do fim do ano e anunciou um plano de investimentos destinado a fomentar o mercado de trabalho em setores como o digital, o de energia, a saúde e as infraestruturas de transporte. O dirigente socialista admitiu contudo que “no longo prazo não se poderá ganhar a batalha se o crescimento econômico não voltar”. Por ora, essa perspectiva é impossível. A França ingressou no começo do ano numa fase recessiva. O Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos (INSEE) indicou que o PIB do país tinha retrocedido 0,2% no quarto trimestre de 2012 e que a atividade tinha voltado a cair ao mesmo nível, ao longo do primeiro trimestre de 2013. As luzes vermelhas se acenderam em todos os setores da economia. 

O presidente francês tem assim dois horizontes recessivos: o de seu país e o de sua própria popularidade, a mais baixa (25%) que um presidente da Quinta República já teve. Este último detalhe não o preocupa. “Não busco ser popular, mas tomar as boas decisões”, disse e reiterou seu credo inicial: “peço que me julguem pelos resultados”.

François Hollande aposta no trabalho de longo prazo, no resultado positivo que terá o arrocho orçamentário e nos efeitos benéficos acarretados pela manutenção do custo da dívida em níveis baixos. Menos técnico que outras vezes, Hollande reapareceu com a convicção que que havia mostrado durante a campanha eleitoral de 2012. Pela primeira vez desde que assumiu a presidência em maio do ano passado, o Chefe de Estado pareceu encarnar um projeto, com uma perspectiva a um só tempo nacional e europeia. Inclusive, se em substância não há ingredientes novos nem um golpe de mestre à esquerda, a forma de comunicação deu à sua intervenção um caráter mais convincente. O ano II de François Hollande começa com a mesma política que o primeiro, mas com outra argúcia para comunicá-la. Apesar disso, as linhas traçadas não se moverão: disciplina orçamentária e esforço zero do Estado em favor do poder aquisitivo da população. Em suma, a ortodoxia complexa da União Europeia, envolta como um caramelo de luxo em papel suave e decorado. O presidente francês admitiu que a si coube “ser presidente no pior momento” e, de passagem, apresentou um novo rosto da esquerda. 

Resumindo sua política, Hollande disse que antes a esquerda “gastava” e perdia as eleições: “agora, vamos arrochar e vamos permanecer”.

Tradução: Katarina Peixoto


Reino Unido - “EMPRESÁRIOS BRITÂNICOS: TEMOS DE FICAR NA UE”




The Independent - Presseurop

Um grupo de empresários britânicos enviou uma carta ao Independent acusando os políticos eurocéticos de “porem a política à frente da economia” ao defenderem a saída do Reino Unido da UE.

Os signatários, que incluem o magnata da aviação e da música Richard Branson, pedem ao primeiro-ministro David Cameron um envolvimento “mais forte e profundo” no mercado único.

“A carta, que é assinada por importantes personalidades, incluindo o atual e o próximo presidentes da Confederação Britânica da Indústria (CBI) bem como os presidentes da BT, da Deloitte, do Lloyds e da Centrica, é a primeira resposta coordenada da comunidade empresarial à crescente retórica política antieuropeia”, escreve o diário.

150 MILHÕES DE EUROPEUS PASSARAM A ODIAR ISRAEL




Voz da Rússia

Uma pesquisa, realizada a pedido da fundação social-democrata alemã Friedrich Ebert, demonstrou que cerca de 150 milhões de europeus consideram o Estado de Israel como ilegal e demonizam tanto o próprio Estado, como os seus cidadãos, informa a mídia israelense.

“O ódio relativamente aos judeus impregna o espírito dos parlamentos europeus na mesma medida em que o faz nas madraças muçulmanas”, escreve o jornalista italiano Giulio Meotti.

Na opinião de Meotti, essas são as consequências da guerra psicológica islâmica palestina. Se conseguiu convencer a opinião pública europeia que Israel é um Estado que deve ser desmantelado.

Suécia: Cerca de 100 carros foram incendiados durante tumultos em Estocolmo





Cerca de cem carros foram incendiados durante os tumultos no norte de Estocolmo. Os distúrbios começaram na noite de domingo e resultaram em confrontos com a polícia. Os confrontos envolveram cerca de 50-60 jovens. Três policiais ficaram feridos. Nenhum dos manifestantes foi preso.

A organização pública Megafonen que representa os interesses dos moradores dos subúrbios do norte de Estocolmo, caracterizou os confrontos como uma reação à brutalidade policial. A área onde ocorreram os choques é habitada principalmente por imigrantes.

Portugal: BANIF E OS VAMPIROS




Daniel Oliveira – Expresso, opinião

Foi na semana passada que o governo anunciou, através de notícias colocadas nos jornais - o que não deixa de ser um forma muito pouco corajosa de lidar com os cidadãos - que os funcionários públicos terão mais um corte nos seus salários. Em média, 4% de perda. Se juntarmos a isto o que já foi cortado no ano passado e o aumento do horário - que reduz o que é pago por hora de trabalho -, teremos uma perda salarial que andará entre os 10% e os 15%.

Também foi por estes dias que ficou claro que a os pensionistas do Estado verão as suas reformas reduzidas em cerca de 11%, numa medida retroativa, que acaba com qualquer relação de confiança com o Estado e que me parece indiscutivelmente inconstitucional.

Por fim, foi ainda esta semana que ficámos a conhecer o parecer da Unidade Técnica de Acompanhamento Orçamental (UTAO) da Assembleia da República, que diz que as previsões do governo, em que se baseiam estes cortes, não refletem o impacto da redução da receita dos impostos e não têm em conta o custo que o Estado terá com o pagamento de indemnizações aos funcionários públicos que rescindam contrato. Ou seja, que não haverá a folga que Gaspar julga ter. O que pode significar que a famosa "TSU dos reformados", que, apesar de ser a "linha vermelha" de Paulo Portas, está longe de ser a medida mais grave deste pacote, terá mesmo de avançar.

Na mesma semana em que, na surreal estratégia de comunicação deste governo, fomos conhecendo os pormenores deste massacre, outra notícia foi tornada pública: Conceição Leal, administradora do Banif Banco de Investimento do Brasil, um negócio que correu mal, recebeu um prémio de gestão de 533,7 mil euros no momento em que o banco se retira do mercado brasileiro. Se a isto juntarmos o seu salário anual de 448,6 mil euros, temosum rendimento anual de quase um milhão de euros. O que faz desta senhora a gestora bancária mais bem paga do País. Isto, trabalhando num banco virtualmente falido graças, em grande parte, à promiscuidade que foi mantendo com o regime jardinista da Madeira.

Não, não é um assunto de uma empresa privada. O Banif é, desde o final de 2012, graças à intervenção pública para o salvar, detido em 99,2% pelo Estado. Esta nacionalização provisória custou aos contribuintes mais de mil milhões de euros que o Estado espera um dia ver devolvidos (se tiver mais sorte do que teve no BPN).

Não tenho feito dos salários de políticos e gestores públicos assunto de muitas crónicas. Apesar de muitas vezes ficar chocado, sei onde acaba esse debate e como ele tantas vezes serve para alimentar um discurso contra o parlamentarismo, contra as funções económicas e sociais do Estado e até contra a democracia. E como muitas vezes esconde a falta de vontade em discutir as verdadeiras razões desta crise. Mas tudo tem um limite. E este prémio, conhecido na semana em que o governo assalta pensionistas e funcionários públicos, ultrapassa todas as marcas.

É sabido que os gestores bancários transformaram-se nos salteadores dos tempos modernos. Que, para proveito próprio, esmifraram as instituições que os empregam e depois entregam os resultados desastrosos da sua ganância ao Estado, para que os contribuintes paguem a factura. Mas quando vemos isso continuar a acontecer num  banco intervencionado pelo Estado percebemos que o elogio ao sacrifício dos portugueses e a conversa sobre insustentabilidade das funções sociais e económicas do Estado tem sempre e apenas os mesmos destinatários: aqueles que não têm qualquer responsabilidade nas causas desta crise.

A conduta dos que, durante anos, viveram à custa da bebedeira irresponsável do sistema financeiro, continua como antes. Em bancos privados mas também em bancos que o Estado se viu obrigado a salvar. Num dia em que haja justiça, senhoras como Conceição Leal terão de devolver aos portugueses, até ao último cêntimo, este dinheiro. Dinheiro que é dos portugueses. Que resulta dos impostos que, todos os meses, com tanto sacrifício, tiram dos seus salários. Dinheiro que devia ser usado em escolas, hospitais, reformas. E que a senhora Conceição Leal usa para si própria.

Na foto: Alguns "Senhores dos Bancos".

Portugal: MÁRIO SOARES JUNTA ESQUERDAS PARA DEBATER COMO SAIR DA AUSTERIDADE




Susete Francisco – Jornal i

Ex-presidente da República promove sessão pública, no final de Maio, que vai juntar representantes do PS´, PCP e Bloco de Esquerda

Mário Soares vai juntar representantes do PS, PCP e Bloco de Esquerda a fim de discutir o caminho para Portugal sair da austeridade. O ex-presidente da República falou com os líderes dos três partidos de esquerda, que se vão fazer representar, a 30 de Maio, na sessão pública “Libertar Portugal da Austeridade”, que decorrerá em Lisboa.

A iniciativa – noticiada este fim-de-semana pelo semanário Expresso – conta, entre os promotores, e além de Mário Soares, com nomes como os socialistas Manuel Alegre e Vítor Ramalho, Maria do Rosário Gama (líder do movimento “APRE!”, que representa aposentados, pensionistas e reformados) ou Sampaio da Nóvoa – reitor da Universidade de Lisboa, que presidirá à sessão.

Além dos três partidos, e numa altura em que as centrais sindicais ensaiam também uma aproximação, estarão presentes os secretários-gerais da CGTP e UGT, Arménio Carlos e Carlos Silva. Confirmada está também a presença do sociólogo Boaventura Sousa Santos, bem como do social-democrata Pacheco Pereira.

Aproximação à esquerda Em alguns sectores do PS o encontro promovido por Soares está a ser visto como uma forma de o fundador e histórico socialista promover uma aproximação entre os partidos da esquerda, isto depois de António José Seguro ter admitido, no último congresso do partido, coligações de incidência parlamentar quer à esquerda quer à direita.

Fonte próxima do ex-presidente da República garante, no entanto, que a iniciativa não tem qualquer perspectiva partidária – “É uma reflexão conjunta à esquerda, mas sem que cada entidade perca a sua autonomia.”

“É uma conjugação de esforços à esquerda, isso  é, juntando pessoas que não concordam com o rumo que o país leva”, reforça a mesma fonte, sublinhando que o próprio Soares fez diligências ao mais alto nível entre os partidos de esquerda, garantindo o assentimento das direcções à sessão pública – “Isto não é uma iniciativa sectária”.

Mário Soares tem sido uma voz activa na defesa de que os  três partidos da esquerda têm de encontrar soluções – concertadas – para a crise económica que o país atravessa e para a resposta e para a resposta ao clima de austeridade e ao memorando da troika.

 Recentemente, em entrevista à Antena 1, o histórico socialista foi mais longe, ao afirmar que  “é possível um entendimento bastante grande [dos socialistas] com o Bloco de Esquerda”, porque este último partido “está numa situação de muita clareza”.

Portugal: Ministro da Educação diz que não permitirá que greve prejudique alunos




Jornal i - Lusa

Nuno Crato escusou-se a adiantar como garantirá a normalidade dos exames em caso de greve, nomeadamente se o Governo pondera recorrer aos serviços mínimos

O ministro da Educação, Nuno Crato, garantiu hoje que o Governo tudo fará para que os alunos não sejam prejudicados nos exames pela anunciada greve dos professores que classificou de “estranha”.

“É uma declaração um pouco estranha, é um anúncio de greve, uma intenção de greve que surge por parte de alguns sindicatos sem ter havido um pedido de negociação, sem ter havido um outro aviso, sem se estar a meio de algum diálogo, portanto isto é um pouco surpreendente”, declarou.

O ministro, que falava em Trás-os-Montes, afirmou esperar que não se concretize a greve anunciada pelos sindicatos de professores para 17 de junho, coincidente com o primeiro dia de exames nacionais do ensino secundário, mas vincou que não permitirá “que os alunos sejam prejudicados”.

Nuno Crato escusou-se a adiantar como garantirá a normalidade dos exames em caso de greve, nomeadamente se o Governo pondera recorrer aos serviços mínimos.

“A única coisa que eu posso dizer é o seguinte: nós esperamos que não haja greve, discutiremos o que for necessário discutir com os sindicatos e com os representantes dos professores, mas não podemos permitir que os nossos alunos sejam prejudicados, tudo o resto são especulações”, reiterou.

O ministro manifestou ainda abertura para o diálogo e adiantou ter agendada para esta semana “uma discussão com sindicatos no âmbito da reforma da Administração Pública" em que estará presente também o secretário de Estado da Administração Pública por causa da requalificação dos funcionários públicos.

O novo regime que o Governo está a preparar para reduzir o número de funcionários públicos abrange também os professores, mas o ministro da Educação afirmou estar a trabalhar para que “não haja professores” nessa lista.

“É isso que estamos a fazer em relação aos quadros de zona pedagógica, à fluidez do sistema, de forma a que as insuficiências letivas de um local sejam colmatas com professores que existam noutros locais, não muito longe, e que possam dar essas aulas e continuar a contribuir para o nosso sistema”, acrescentou.

“Nós tudo faremos para evitar a mobilidade de os professores”, insistiu.

Nuno Crato referiu-se ainda ao processo negocial em curso do aumento do horário de trabalho na Função Pública para 40 horas semanais, afirmando que “os professores na realidade trabalham já 40 horas e muitos trabalham muito mais do que as 40 horas”.

“Porque os professores não estão só na sala de aula: corrigem testes, preparam aulas, fazem correção de exames, têm uma atividade muito intensa. Muitos professores têm já mais de 40 horas de trabalho por semana”, concretizou.

O ministro da Educação falava na escola EB 2/3 de Macedo de Cavaleiros, onde visitou uma turma do ensino vocacional, uma via de formação que está a funcionar a título experimental em 13 escolas de Portugal e abrange “algumas centenas de alunos”, segundo o governante.

Brasil: CARTAS DE GEISEL A VIDELA MOSTRAM ELOS DA OPERAÇÃO CONDOR




Um dos segredos melhor guardados da Operação Condor foi a participação do Brasil e a sua conexão com a Argentina. A história dessa associação delituosa só será revelada quando Washington liberar os documentos brasileiros com a mesma profusão com que liberou os documentos sobre a Argentina e o Chile. Documentos até hoje secretos, obtidos por carta Maior, mostram correspondência entre Jorge e Videla e Ernesto Geisel e indicam colaboração das duas ditaduras no pacto terrorista que foi a Operação Condor. Por Dario Pignotti.

Dario Pignotti (@DarioPignotti) - Carta Maior

Brasília - Jorge Videla cumpriu o papel que dele se esperava na Operação Condor, o pacto terrorista que há 27 anos ocupou um capítulo importante na agenda argentina com o Brasil. O ditador Ernesto Geisel recebeu de bom grado a “nova” política externa do processo de reorganização nacional (e internacional), tal como se lê nos documentos, em sua maioria secretos, até hoje, obtidos pela Carta Maior.

“Foi com a maior satisfação que recebi, das mãos do excelentíssimo senhor contra-almirante César Augusto Guzzetti, ministro de Relações Exteriores, a carta em que Sua Excelência teve a gentileza de fazer oportunas considerações a respeito das relações entre nossos países...que devem seguir o caminho da mais ampla colaboração”.

A correspondência de Ernesto Beckman Geisel dirigida a Videla exibe uma camaradagem carregada de adjetivos que não era característico desse general, criado numa família de pastores luteranos alemães.

“O Brasil, fiel a sua História e ao seu destino irrenunciavelmente americanista, está seguro de que nossas relações devem basear-se numa afetuosa compreensão...e no permanente entendimento fraterno”, extravasa Geisel, o mesmo que havia reduzido a quase zero as relações com os presidentes Juan Perón e Isabel Martinez, quando seus embaixadores na Argentina pareciam menos interessados em visitar o Palácio San Martin do que frequentar cassinos militares, trocando ideias sobre como somar esforços na “guerra contra a subversão”.

A carta de Geisel a Videla, de 15 de dezembro de 1976, chegou a Buenos Aires dentro de uma “mala diplomática”, não por telefone, como era habitual. No documento consta “secreto e urgentíssimo”, ao lado dessa nota.

Em 6 de dezembro de 1976, nove dias antes da correspondência de Geisel, o presidente João Goulart havia morrido, em seu exílio de Corrientes, o qual, de acordo com provas incontestáveis, foi um dos alvos prioritários da Operação Condor no Brasil, que o espionou durante anos na Argentina, no Uruguai e na França, onde ele realizava consultas médicas por causa de seu problema cardíaco.

Mais ainda: está demonstrado que, em 7 de dezembro de 1976, a ditadura brasileira proibiu a realização de necropsia nos restos do líder nacionalista e potencial ameaça, para que não respingassem em Geisel a parada cardíaca de origem incerta.

Não há elementos conclusivos, mas suspeitas plausíveis, de que Goulart foi envenenado com pastilhas misturadas entre seus medicamentos, numa ação coordenada pelos regimes de Brasília, Buenos Aires e Montevidéu, e assim o entendeu a Comissão da Verdade, da presidenta Dilma Rousseff, ao ordenar a exumação do corpo enterrado na cidade sulista de São Borja, sem custódia militar, porque o Exército se negou a dar-lhe há 10 dias, depois de receber um pedido das autoridades civis.

Voltemos à correspondência de Geisel de 15 de dezembro de 1976.

O brasileiro escreveu em resposta a outra carta, de Videla (de 3 de dezembro de 1976), na qual ele se dizia persuadido de que a “Pátria...vive uma instância dinâmica no plano das relações internacionais, particularmente em sua ativa e fecunda comunicação com as nações irmãs”.

“A perdurável comunidade de destino americano nos assinala hoje, mais do que nunca, o caminho das realizações compartilhadas e a busca das grandes soluções”, propunha Videla, enterrado ontem junto aos crimes secretos transnacionais sobre os quais não quis falar perante o Tribunal Federal N1, onde transita o mega processo da Operação Condor.

Os que estudaram essa trama terrorista sul-americana sustentam que ela se valeu dos serviços da diplomacia, especialmente no caso brasileiro, onde os chanceleres teriam sido funcionais aos imperativos da guerra suja.

Portanto, esse intercâmbio epistolar enquadrado na diplomacia presidencial de Geisel e Videla, pode ser lido como um contraponto de mensagens cifradas sobre os avanços do terrorismo binacional no combate à resistência brasileira ou argentina. Tudo em nome do “interesse recíproco de nossos países”, escreveu Videla.

Em dezembro de 1976, 9 meses após a derrubada do governo civil, a tirania argentina demonstrava que, além de algumas divergências geopolíticas sonoras com o sócio maior, havia de fato uma complementariedade das ações secretas “contra a subversão”.

Assim, pouco após a derrubada de Isabel Martínez, o então chanceler brasileiro e antes embaixador em Buenos Aires, Francisco Azeredo da Silveira, recomendou o fechamento das fronteiras para colaborar com Videla, para impedir a fuga de guerrilheiros e militantes argentinos.

Por sua parte, Videla, assumindo-se como comandante do Condor celeste e branco, autorizava o encarceramento de opositores brasileiros, possivelmente contando com algum nível de coordenação junto aos adidos militares (os mortíferos “agremiles”) destacados no Palácio Pereda, a mansão de linhas afrancesadas onde tem sede a missão diplomática na qual, segundo versões, havia um número exagerado de armas de fogo.

Entre março, mês do golpe, e dezembro de 1976, foram sequestrados e desaparecidos na Argentina os brasileiros Francisco Tenório Cerqueira Júnior, Maria Regina Marcondes Pinto, Jorge Alberto Basso, Sergio Fernando Tula Silberberg e Walter Kenneth Nelson Fleury, disse o informe elaborado pelo Grupo de Trabalho Operação Condor, da Comissão da Verdade. 

O organismo foi apresentado por Dilma Rousseff perante rostos contidamente iracundos dos comandantes das Forças Armadas, os únicos, entre as centenas de convidados para a cerimônia, que evitaram aplaudi-la.

Ao finalizar o ato realizado em novembro de 2011, o então secretário de Direitos Humanos argentino Eduardo Luis Duhalde, declarava a este site que um dos segredos melhor guardados da Operação Condor era a participação do Brasil e a sua conexão com a Argentina, e que essa associação delituosa só será revelada quando Washington liberar os documentos brasileiros com a mesma profusão com que liberou os documentos sobre a Argentina e o Chile.

Averiguar até onde chegou a cumplicidade de Buenos Aires e Brasília será mais difícil depois do falecimento de Videla, mas não há que se subestimar as pistas diplomáticas.

Em 6 de agosto de 1976, um telefonema “confidencial” elaborado na embaixada brasileira informa aos seus superiores que o ministro de Relações Exteriores Guzzetti falou sobre a “nova” política externa vigente desde que “as forças armadas assumiram o poder” e a da vocação de aproximar-se mais do Brasil, após anos de distanciamento.

Ao longo de 1976, os chanceleres Azeredo da Silveira e Guzzetti mantiveram reuniões entre si e com o principal fiador da Condor, Henry Kissinger que, segundo os documentos que vieram a público há anos a pedido do “Arquivo Nacional de Segurança” dos EUA, recomendou a ambos ser eficazes na simulação no trabalho de extermínio dos inimigos.

“Nós desejamos o melhor para o novo governo (Videla)...desejamos seu êxito...Se há coisas a fazer, vocês devem fazê-las rápido...”, recomendou o Prêmio Nobel da Paz estadunidense, ao contra-almirante e chanceler Guzzetti, em junho de 1976.

Tradução: Katarina Peixoto

UMA VITÓRIA DO BRASIL





O nosso Congresso Nacional está uma vergonha. Repleto de politiqueiros defendendo os seus interesses ou de partidos não voltados às soluções dos problemas brasileiros. Não votam as leis necessárias ao país e se indignam quando o STF, provocado, estabelece as regras, ou quando, por omissão legislativa de fazer as leis para o país se desenvolver, se depara com medida provisória do Executivo, “em função legislativa”, para poder o Brasil sair de seu arcaísmo portuário.

Assim, vê-se um Congresso incompetente, que não busca resolver os problemas da República, sujeitar-se às imposições de medidas provisórias do Executivo, por incúria e desavenças interpartidárias de seus parlamentares, que sabotam a aprovação de medidas importantes, atravancando a vida do país, e o pior: temos um Senado Federal que nada mais é do que um apêndice da Câmara Federal, que não apita nada, e por isso melhor seria a adoção do regime unicameral.

Ora, matéria como a que cria o novo marco regulatório para o setor portuário, de grande importância para o país, deveria ser uma constante preocupação de nossos parlamentares com projetos similares, o que, infelizmente, não ocorre. Daí o Poder Executivo continuar a preencher o espaço que seria do Legislativo. E não adianta agora, por exemplo, o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) destilar desbragada diatribe contra a aprovação açodada da Medida Provisória 595/12, porque tudo isso é o efeito da forma deformada pela qual vem agindo o nosso Parlamento. E, independente de paixões partidárias, a aprovação da referida medida provisória foi uma vitória do Brasil.

*Júlio César Cardoso é bacharel em Direito e servidor federal aposentado e mora em Balneário Camboriú – SC – juliocmcardoso@hotmail.com

Brasil propõe que médicos portugueses em trabalho temporário não necessitem…




… validar diploma

Jornal i - Lusa

A proposta será apresentada hoje, em Genebra, pelo Ministério da Saúde brasileiro à Espanha e a Portugal, durante o encontro anual da Organização Mundial da Saúde

 Governo brasileiro vai propor a Portugal e a Espanha que os seus médicos, que queiram trabalhar temporariamente no Brasil, não tenham de fazer o exame de revalidação do diploma de medicina, divulgou hoje a imprensa brasileira.

De acordo com o jornal Folha de São Paulo, a proposta será apresentada hoje, em Genebra, pelo Ministério da Saúde brasileiro à Espanha e a Portugal, durante o encontro anual da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os médicos estrangeiros só poderão atuar nas áreas determinadas pelo Governo brasileiro, em periferias e no interior do país, por período que não deve passar de três anos.

Caso queiram trabalhar mais tempo no Brasil, terão então de fazer o exame de revalidação do diploma de medicina, seguindo um modelo já adotado por países como Canadá, Austrália, Reino Unido e a própria Espanha.

Este será o modelo de contratação de estrangeiros que o Brasil vai adotar, disse o ministro da Saúde do Brasil, Alexandre Padilha, ao jornal Folha de São Paulo.

“Nosso maior interesse é atrair médicos de Espanha e Portugal para atuar restritamente em regiões com carência de profissionais, por um período de dois, três anos, na área de atenção primária, em que a Espanha tem grande tradição. O Brasil precisa de mais médicos, mais próximos da população e com mais qualidade”, disse o ministro.

Uma equipa de Padilha reúne-se hoje com autoridades espanholas e portuguesas do setor, em Genebra.

O Governo espanhol, questionado pelo jornal brasileiro, já indicou ter muito interesse no convénio.

A Espanha tem 20 mil médicos desempregados. O Brasil é o segundo local de interesse (depois da Inglaterra) do Ministério da Saúde espanhol para exportar profissionais.

O Governo espanhol já tem contrapartidas para oferecer ao Brasil, como facilidades e bolsas para estudantes brasileiros no país.

“Eu, como ministro da Saúde, vendo de um lado a situação de médicos qualificados sem perspetiva de emprego na Espanha e em Portugal, e de outro, a necessidade de mais médicos para uma população [no Brasil] não vou ficar parado sem pensar em construir parcerias”, acrescentou Padilha.

Inicialmente, o Governo brasileiro queria contratar seis mil médicos, sobretudo cubanos, para preencher as vagas em locais carentes destes profissionais.

As associações médicas mostraram-se contrárias à entrada dos médicos cubanos, alegando a sua "fraca formação" e só aceitariam esta solução se os profissionais passassem pelo exame de revalidação do diploma.

Após as críticas, o Governo brasileiro descartou a validação automática de diplomas e optou por dar prioridade em atrair profissionais espanhóis e portugueses.

Para os médicos, a proposta do Governo não resolve de forma definitiva a carência de médicos em áreas do interior do Brasil e nas periferias das grandes cidades.

As organizações brasileiras dos médicos dizem que têm apoio inclusive da classe médica de Portugal e Espanha, que também se posicionaram contra o ingresso de médicos sem a realização de provas.

EURO-VISÕES




Eric Maurice – Presseurop, editorial

Por estes dias, há muita gente com os olhos postos em Malmö, onde se realiza o concurso da Eurovisão. No entanto, bem poderiam prestar atenção ao que se passa em Londres, Paris e Berlim, onde se desenvolvem diversas visões europeias que um dia terão de ser discutidas.

A 14 de maio, o partido conservador britânico apresentou um projeto de lei de referendo a realizar, o mais tardar, a 31 de dezembro de 2017, para responder à questão: “Quer que o Reino Unido continue a ser membro da União Europeia?”. Os termos do debate foram definidospelo primeiro-ministro David Cameron, em janeiro, quando exigiu “um novo acordo” entre o seu país e uma UE mais flexível. Ao fazê-lo, expôs-se involuntariamente à pressão dos eurocéticos do seu partido e do UKIP, e a inscrição do referendo na lei torna difícil qualquer recuo. Mas também colocou os seus parceiros perante as suas responsabilidades.

No continente, François Hollande apresentou, finalmente as grandes linhas do seu pensamento sobre a União. A 16 de maio, deu dois anos à União para definir o conteúdo da união política. “É um assunto de urgência europeia”, afirmou o Presidente francês. O facto de esses dois anos coincidirem com o fim do mandato de David Cameron não é um mero acaso.

O Presidente francês propôs, igualmente, um governo económico para a zona euro, dotado de um presidente e com reuniões mensais, bem como “uma nova etapa de integração com uma capacidade orçamental que seria atribuída à zona euro e com a possibilidade de, progressivamente, contrair empréstimos”.

Resta saber o que propõe a Alemanha. Ora, até 23 de setembro, a Europa vai ter de esperar para saber quem será o vencedor das eleições legislativas. Angela Merkel parece solidamente instalada na chancelaria, mas a aliança vermelha-verde ainda não disse a sua última palavra.

Talvez por isso, a 14 de maio, o líder dos sociais-democratas, Peer Steinbrück, expôs a sua visão sobre a Europa. Do seu programa constam o reforço do papel do Parlamento Europeu, que participaria nos Conselhos Europeus, e a transformação da Comissão em governo, eventualmente eleito e responsável perante o Parlamento.

E Angela Merkel? Há um ano, a chanceler exprimiu o seu desejo de ver a Comissão desempenhar um papel de governo e ao Conselho de Chefes de Estado e de Governo caberia uma função de segunda câmara de um Parlamento com poderes reforçados. Mais recentemente, o seu ministro das Finanças Wolfgang Schäuble repetiu que a união bancária, considerada uma etapa essencial da estabilização da zona euro, só se fará com um novo tratado europeu. Estamos, por isso, à espera de saber o que propõe atualmente a chanceler.

O discurso de François Hollande recebeu toda a atenção de Berlim, onde desde há um ano se esperava um gesto de Paris, muitas vezes considerado mudo. Mas não é de esperar nenhuma iniciativa franco-alemã antes do final do ano, altura em que ficaremos a saber se Hollande e Merkel estão condenados a trabalhar em conjunto ainda durante mais uns anos ou se é possível um eixo social-democrata franco-alemão.

O mais difícil virá a seguir, quando for necessário confrontar esta eventual visão comum com a dos britânicos. E também quando for preciso confrontá-la com a realidade das opiniões europeias. Sob esse ponto de vista, é uma outra iniciativa franco-alemã que pode – e deve – impulsionar uma visão concreta do futuro da Europa: a que deve ser apresentada até à próxima cimeira europeia, para lutar contra o desemprego jovem. Voltaremos a falar sobre este assunto.

* Eric Maurice é um jornalista francês, nascido em 1972, chefe de redacção dopresseurop.eu. Após completar os cursos de História e de Jornalismo, entrou para o Courrier Internacional em 2000, onde foi responsável das páginas sobre França, cobriu a actualidade norte-americana e dirigiu a secção de Europa Ocidental.

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