domingo, 8 de dezembro de 2013

QUE ETERNIDADE PARA MANDELA? – I

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Dez anos e um mês depois de eu ter interrogado pela primeira vez, no desaparecido semanário ACTUAL (nº 371, de 15 de Novembro de 2003), “que eternidade para Mandela?” eis que se dá o seu finamento!
 
De então para cá sobejos motivos de reflexão sobre a trajectória histórica da África do Sul foram-se-me sucedendo, julgo eu com legítima preocupação e pertinência.
 
A propósito em “O vulcão sul-africano” teci na parte final do artigo que está ainda em destaque no Página Global (“Marikana como Sharpeville”) a seguinte consideração:
 
…“O que mudou entre 1960 e 2012, quando ao apartheid político-institucional se deu sequência, em função da lógica capitalista e de suas práticas elitistas, a uma democracia representativa de 1 homem, 1 voto, fórmula mágica com a qual se pretende esconder o apartheid social que como um pântano impede alcançar-se a harmonia, o equilíbrio, a justiça e a solidariedade, impede a sublimação do passado de forma a atingir-se um patamar minimamente aceitável que tornaria mais saudável a sociedade e o povo sul-africano?!
 
O monstro sobreviveu há mais de um século a esta parte e agora tem a cobri-lo um mal avisado governo de maioria, deformado pelo elitismo de tão pouco escrupulosa trajectória na África do Sul, um governo que, esquecendo-se como me pareceu ter-se esquecido o velho Nelson Mandela em 2003 das lições da história, é agora obrigado, de forma pungente, a tirar a máscara perante o seu próprio eleitorado de maioria, perante o seu próprio povo!”…
 
Por isso se mantém “actual” minha interrogação de há dez anos trás: “que eternidade para Mandela?”…
 
2 – Agora que se finou Nelson Mandela, o símbolo da luta contra o regime do“apartheid”, as preocupações têm todo o motivo de existirem:
 
Quantos “estranharam, interrogaram e se interrogaram por que o fim dum regime tão ignóbil como o do apartheid ocorria precisamente no mesmo momento em que desaparecia o socialismo real na Europa e se implodia a União Soviética…” (coloquei eu em “O vulcão sul-africano”, segunda parte – “Para além do apartheid”).
 
Quantos dos que hoje exprimiram o seu deslumbramento e exaltação perante a personalidade de Nelson Mandela manifestaram até de forma aberta, no momento em que a solidariedade, a dignidade e o respeito para com a luta do movimento de libertação em África era o único caminho ético e moral a seguir, cobertura e alinhamento para com o regime fascista do “apartheid”?
 
Quantos foram fazendo o aproveitamento da figura de Nelson Mandela no âmbito dum projecto elitista que fazia esbater o “arco-íris” sul-africano, afinal tão pejado de múltiplas contradições?
 
Até que ponto Nelson Mandela o permitiu?
 
A personalidade de Nelson Mandela obriga-nos à reflexão histórica, numa via de paz, de aprofundamento da democracia com vista a uma cada vez maior cidadania e participação, de acordo com uma lógica com sentido de vida e sem perder de vista as contradições próprias duma luta de classes num ambiente sócio-político tão complexo como o da África do Sul!
 
Por isso perante o vulto do recém-finado, ouso ainda distanciar-me dos oportunistas, como daqueles a quem a história só interessa quando ela é a favor das elites globais, daquelas elites que se constituem naqueles 1% que controlam em seu próprio proveito, a riqueza disponível à face da Terra e tanto têm a ver com a exploração mineira, a industrialização e a potenciação da África do Sul!
  
Reprodução: Capa do número 371 do ACTUAL, dada à estampa a 15 de Novembro de 2003.
 
A consultar:
- Rapidinhas do Martinho – 49 – Resgatar África – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/rapidinhas-do-martinho-49.html
 

EX-PRESIDENTE SUL-AFRICANO QUESTIONA QUALIDADE DA ATUAL LIDERANÇA DO PAÍS

 


O ex-presidente sul-africano, Thabo Mbeki, questionou hoje se a atual liderança do país tem um comportamento consistente com os valores defendidos por Nelson Mandela, colocando publicamente em causa os seus colegas de partido (ANC).
 
«Eu acho que para celebrar devidamente a sua vida, é preciso fazer uma pergunta sobre a qualidade dos nossos líderes», disse Mbeki, durante uma cerimónia de oração na sinagoga Oxford, em Joanesburgo, segundo noticiou a agência de notícias francesa AFP.
 
E reforçou: «Até que ponto estamos a seguir os critérios que eles (Nelson Mandela e sua geração) estabeleceram sobre a liderança de qualidade».
 
Mbeki sucedeu a Mandela como líder do país em 1999, antes de ser deposto em 2008 pelo atual chefe de Estado Jacob Zuma.
 
De acordo com Mbeki, o ideal de transformar a África do Sul numa sociedade de liberdade, justiça e igualdade, foi «em muitos aspetos, mais difícil do que a luta para acabar com o sistema de 'apartheid' [segregação racial]».
 
A questão da liderança «torna-se muito mais importante, muito mais complexa, no contexto do que resta a ser feito» na atualidade, disse o ex-presidente.
 
Os sul-africanos precisam questionar a sua lealdade para com os valores de Mandela e sua geração, frisou Mbeki, considerando que qualquer que seja a classe social, tudo o que é feito na política, negócios, sindicatos e empresas, deve incorporar as qualidades de liderança de Mandela.
 
«Ao celebrarmos a vida de Mandela, devemos pensar sobre o que precisa ser feito para manter o legado de Mandela, para garantir que não será traído tudo pelo que ele e outros se sacrificaram», assinalou.
 
A atual liderança do Congresso Nacional Africano (ANC), liderado no passado por Mandela e Mbeki, é cada vez mais criticada, entre acusações de nepotismo e corrupção.
 
O presidente Zuma é acusado de ter utilizado mais de 200 milhões de rands (14,5 milhões de euros) de dinheiros públicos para obras de melhoria na sua residência privada.
 
TSF
 

Portugal: PRIVATIZAÇÕES

 

Triunfo da Razão
 
Uma das mais fortes componentes do programa de ajustamento prende-se com um vasto rol de privatizações. Agora é a vez dos CTT.

Apesar de existir uma multiplicidade de estudos que indicam que são mais as vantagens de manter determinados sectores sob tutela do Estado, o Governo português coadjuvado pelas instâncias internacionais insiste na privatização de sectores estratégicos. A desculpa é invariavelmente a mesma: são exigências do memorando. É evidente que nesta matéria o Governo está à vontade: também faz parte da sua cartilha ideológica o desmantelamento do Estado, desfazendo-se igualmente de sectores estratégicos e beneficiando a casta nacional e internacional.

O memorando da troika tem como objectivo abrir sectores da economia portuguesa. O Governo adopta a mesma bitola. Haverá quem ganhe muito com essa abertura, em Portugal e no estrangeiro. Note-se que estas empresas alvo de privatização são amiúde monopolistas e em larga medida protegidas da concorrência internacional. Os negócios são indubitavelmente apelativos.

O país, esse, perde. O que encaixa de receitas com as privatizações está muito longe de ser determinante para uma qualquer sustentabilidade da dívida e perdem os portugueses que passarão a pagar serviços mais caros, com menos qualidade suportados por mão-de-obra explorada. O país vê-se assim expoliado dos seus recursos para pouco ou nada ganhar com isso.

A médio e longo prazo assistiremos à presença cada vez maior de privados em sectores tradicionalmente públicos, sobretudo na área da saúde, uma das mais apetecíveis. A desculpa será a mesma: para regressarmos aos mercados precisamos de mais austeridade, para mantermos taxas de juros razoáveis precisamos de mais austeridade, logo mais privatizações, menos Estado, menos Estado Social. Seja o BCE, seja o BCE em conjunto com a Comissão Europeia. Haverá sempre um pretexto. Não há alternativas hoje, como não haverá nos próximos anos, enquanto insistirmos na actual receita.

Ana Alexandra Gonçalves
 
Leia mais em Triunfo da Razão

Portugal: QUANDO EU TIVER 87 ANOS

 

Henrique Monteiro – Expresso, opinião
 
Em miúdo ouvia um mega-êxito dos The Beatles, intitulado When I'm 64 (quando tiver 64 anos) que, no fundo, se interrogava sobre se a companheira ainda iria gostar de um homem a perder o cabelo, se ainda lhe mandaria postais no dia de namorados, se ainda lhe daria presentes de anos.
 
Seria, de qualquer modo "many years from now", ou seja, daqui a muitos anos. Na altura em que a música saiu eu tinha 11 anos e agora, que estou a meros sete anos dos 64, vejo que o tempo passa muito mais depressa do que queremos. É um instantinho, como diziam (e dizem) os velhos.
 
Ora, para acabarmos a austeridade é outro instantinho. Segundo contas do Budget Watch, simulados pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, só nos anos 40 cumpriremos os limites do Pacto de Estabilidade. Até lá, a palavra mais em voga será austeridade.
 
É por isso que tenho insistido tanto na irresponsabilidade de colocar uma expectativa elevada na saída da troika, como se tal resolvesse, por passe de mágica, algum dos nossos problemas de fundo. No melhor cenário, dizem estes especialistas, em 2041 estamos com a dívida a 60% do PIB, considerado um rácio absolutamente sustentável. Num cenário menos otimista, mas ainda assim sem loucuras, essa barreira atinge-se em 2044. No início desse ano (se não falecer, coisa que aconteceu ao autor da letra, John Lennon, muito anos dos 64) tenho 87 - farei 88 no seu decorrer - e se a reforma continuar a fugir de mim, quem sabe se ainda não ando por aqui a escrevinhar.
 
É que, seja em que cenário for, a dívida só não aumenta se Portugal conseguir saldos primários (uma diferença positiva entre o que gasta e o que arrecada, descontando os juros da dívida). Para terem uma ideia, este ano teremos um ligeiro excedente, ainda longe do necessário para começarmos efetivamente a poder baixar o peso da dívida no PIB (que está em 127,8%), o que se estima comece a acontecer (com todos os sacrifícios inerentes) em meados de 2014.
 
Ficaram desanimados? Não vale a pena. Isto é um "instantinho". E além disso, pode não ser nada assim. Diz-se que Deus criou a economia para fazer da meteorologia uma ciência exata.
 

PORTUGAL REGRESSA AO "CLUBE DA BANCARROTA"

 


O risco de incumprimento subiu na primeira semana de dezembro. Os juros da dívida a 10 anos regressaram a valores acima de 6%.

Jorge Nascimento Rodrigues - Expresso
 
Portugal regressou na sexta-feira ao "clube" das economias com mais alta probabilidade de entrar em incumprimento da sua dívida soberana, segundo dados da S&P Capital IQ. Neste momento, há três países membros da zona euro nesse grupo: Chipre, na 3ª posição (com mais de 50% de risco); Grécia no 8º lugar (com mais de 33% de risco); e Portugal no último lugar do grupo.
 
A probabilidade de incumprimento da dívida portuguesa subiu para 26,87% desalojando El Salvador que ocupava a 10ª posição. O custo dos credit default swaps (derivados financeiros que funcionam como seguros contra o risco de default) a cinco anos subiu de 341,40 pontos base em 29 de novembro para 361,8 pontos base no fecho de 6 de dezembro. Portugal saíra do "clube" no início de novembro.
 
A trajetória das yields da dívida portuguesa no mercado secundário foi de subida no caso das obrigações do Tesouro (OT) nos prazos a cinco e a dez anos. Nas OT que servem de referência, no prazo a 10 anos, as yields subiram de 5,84% em 29 de novembro para 6,008% a 6 de dezembro, segundo valores de fecho da Investing.com. No quadro dos países periféricos da zona euro foi a maior subida naquele período. Apenas as obrigações eslovenas viram as yields descer naquela maturidade (de 5,71% para 5,69%). As yields das obrigações irlandesas a 10 anos continuam a ser as mais baixas entre os países periféricos (registavam 3,57% no fecho de sexta-feira).
 
Como as yields dos Bunds - designação das obrigações alemãs que servem de referência - no prazo a 10 anos também subiram naquele período (de 1,697% para 1,847%), o prémio de risco da dívida portuguesa subiu ligeiramente, de 4,15 para 4,16 pontos percentuais (ou de 415 para 416 pontos base).
 
Recorde-se que, na semana que findou, a 3 de dezembro, o IGCP (a agência de gestão da dívida pública) realizou uma operação de troca de obrigações do Tesouro que venciam em junho e outubro de 2014 e em outubro de 2015 num montante superior a 6,6 mil milhões de euros que passaram a vencer em outubro de 2017 e junho de 2018. Esta troca de dívida junto dos seus detentores é considerada um primeiro passo no novo processo de regresso ao mercado obrigacionista, que havia sido interrompido em final de maio.
 
A próxima semana é marcada por uma reunião do Eurogrupo (ministros das Finanças da zona euro) em Bruxelas a 9 de dezembro, pela concretização ou não de um acordo orçamental no Congresso dos Estados Unidos (data limite a 13 de dezembro) e pela conclusão do programa de resgate na Irlanda (15 de dezembro).
 
A não obtenção de um acordo no Congresso norte-americano em torno da questão orçamental poderá colocar na ordem do dia o risco de novo shutdown da administração federal a partir de 6 de janeiro, quando os congressistas regressaram de férias.
 

É MELHOR TER NEGÓCIOS EM PORTUGAL DO QUE NA ALEMANHA

 


Portugal aparece à frente da Alemanha no ranking da "Forbes" dos melhores países para fazer negócios.

Liliana Coelho e Mariana Cabral - Expresso

Não é habitual, mas desta vez Portugal surge à frente da Alemanha num ranking, e por boas razões. Portugal é o 20.º melhor país do mundo onde sediar negócios, segundo a revista "Forbes", que coloca a Alemanha no 24.º posto.

Pela primeira vez nos oito anos de história da lista, a 'resgatada' Irlanda surge no topo, à frente da Nova Zelândia - em 1.º lugar no ano passado - e de Hong Kong.
 
Como lembra a publicação, três anos depois de ter sido ajudada pela troika com 85 mil milhões de euros, a Irlanda continua a atrair investimentos de algumas das maiores empresas do mundo, como a Google, o Twitter e o Facebook.
 
A "Forbes" determina o ranking dos 25 melhores países para fazer negócios avaliando 145 nações em 11 diferentes factores, tais como, entre outros, impostos, inovação, tecnologia, corrupação e burocracia.
 

TEA PARTY À PORTUGUESA

 


Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
 
Há quem tenha ficado muito revoltado, chocado até, com a posição assumida pelo secretário de Estado da Integração Europeia, Bruno Maçães, numa mesa redonda sobre "governância económica e crise europeia", em Atenas. Em termos muito simples, este cavalheiro, representando o Estado português, mostrou total alinhamento com as posições alemães e contra qualquer tipo de iniciativa, dos países mais afectados pela crise, para encontrar uma alternativa. Mais tarde, quando acusado de ser mais troikista que a troika, mais alemão que os alemães e fanático da velocidade do ajustamento, veio para uma rede social orgulhar-se de assim ser tratado.
 
Ora, eu acho que o ex-autor de discursos de Passos Coelho merece ser elogiado. Não pelas posições expressas, mas pela maneira clara e desassombrada como exprimiu a posição do Governo português e as convicções políticas e ideológicas de quem nos governa.
 
Bruno Maçães, um dos principais ideólogos do primeiro-ministro, fez cair todas as máscaras. Não é que já não suspeitássemos, mas agora ficou absolutamente claro que o Governo não negoceia com a troika. Ou melhor, negoceia mas dentro do espírito "tu dizes mata, e eu esfola". Hoje, estes liberais de badana devem estar a esconjurar Gaspar, esse traidor que não percebeu o sentido da História.
 
Espero que agora não exista mais discussão sobre o porquê do Governo ter aplicado o dobro da austeridade contratada no memorando. Nem sobre se o primeiro-ministro queria dizer outra coisa quando afirmou que este seria sempre o seu programa, mesmo sem memorando. Ficou cristalino que aquilo de ir para além da troika não foi um "erro de comunicação". Era mesmo assim. E às tantas até foi escrito pelo Maçães.
 
Afinal não se pediu nada. Nem mais prazo, nem menos esforços para a classe média, nem para ninguém: é preciso esmagar. "Drill, baby, drill": o Maçães é capaz de ter aproveitado este slogan desse movimento que tanto admira, o Tea Party americano - é um confesso admirador e apoiante de Sarah Pallin -, e sugerido aos nossos credores que o adaptassem aos portugueses: "Perfurem, rapazes, perfurem, que os meus concidadãos ainda não estão secos."
 
Como é do conhecimento de quem frequenta este espaço, não tenho dúvida nenhuma de que o caminho prosseguido pela Europa e caninamente seguido pelo Governo português está a levar a própria Europa, e ainda mais rapidamente Portugal, para uma situação que terminará em desagregação económica, social e, finalmente, política. Que no fim deste "reajustamento", não vai haver nada para reajustar: nem empresas, nem emprego, nem nada. Que o nosso incipiente Estado social se tornará uma gigantesca sopa de pobres. Que o fim acelerado da classe média destruirá a democracia.
 
É, no entanto, esse o fim do caminho que Passos Coelho, Maçães e camaradas defendem. Na perspectiva deles, o País estará muito melhor depois de tudo isso acontecer. Pensarão, com certeza, que a democracia - uma democracia sem classe média e em que a liberdade económica será tudo e as outras liberdades pouco ou nada - se aguentará. A vida vista desde um gabinete na faculdade, rodeado de grandes idealistas que nunca conheceram uma empresa, uma exploração agrícola, uma fábrica, um hospital, uma escola pública, uma família pobre ou sequer de classe média deve ser um mundo fantástico. Onde se mexe na folha de cálculo, se tira dali e põe acolá, e tudo bate certo. Onde se pensa que a liberdade pode existir sem igualdade e a igualdade é um conceito comunista.
 
E o serviço nacional de saúde, a educação pública ou o salário mínimo instrumentos limitadores da liberdade individual. Um mundo dividido entre fortes e fracos, vencedores e derrotados, empreendedores e funcionários, velhos e novos, ricos e pobres.
 
Muito se podia rir a esquerda, se não tivesse em grande parte também entregue a patetas parecidos com estes. Gente que pensa que os direitos crescem nas árvores e que o dinheiro é uma coisa que se produz numa máquina. Visionários que dão como garantido que não há altos e baixos na vida da comunidade e que os filhos ficarão sempre melhor que os pais. Tipos que julgam que as dívidas são uns papéis sem valor. Lunáticos que acham que o Estado social é um dado adquirido e que não exige um constante esforço de adaptação aos tempos, às condições económicas e à realidade social.
 
Neste momento estamos nas mãos do Tea Party à portuguesa e de indivíduos como o Bruno "Pallin" Maçães. Os irmãos americanos destes inconscientes estão a destruir o Partido Republicano e a direita americana. Estes estão apenas a destruir a direita e o centro-direita português - sob o olhar de quem apenas critica pela calada e espera pela "melhor oportunidade" para os parar.
 
Nos Estados Unidos, esta gente não conseguiu levar os seus planos para a frente. Tinha de nos calhar a nós, desgraçados portugueses, sermos o laboratório deste bando de loucos furiosos.
 

Plano Prawer: O ROSTO MODERNO DA LIMPEZA ÉTNICA NA PALESTINA

 


O governo mais ultradireitista da história de Israel conseguiu o que os líderes palestinos não foram capazes de fazer: unir todo o povo palestino.
 
Maria Landi – Carta Maior
 
O governo mais ultradireitista da história de Israel conseguiu o que os líderes palestinos não foram capazes de fazer nas últimas décadas: unir todo o povo palestino, hoje dividido entre o Estado israelense, a Faixa de Gaza, os territórios ocupados da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental (anexada ilegalmente em 1967), e a diáspora.

No sábado, dia 30, os palestinos organizaram o Terceiro Dia de Fúria, jornada de protesto contra o Plano Prawer que se estendeu do mar Mediterrâneo ao rio Jordão.

Levando o sobrenome do parlamentar israelense que o elaborou, o plano pretende destruir 36 aldeias beduínas “não reconhecidas” por Israel no deserto do Negev (Naqab, em árabe) para construir, em suas terras, colônias para a população judia.

Para isso, cerca de 70 mil beduínos serão retirados à força de sua terra ancestral, e 800 mil dunams dela serão confiscados por Israel.

Calcula-se que em Israel haja mais de 150 aldeias árabes “não reconhecidas” pelo Estado sionista nas regiões do Naqab e da Galileia. Essas aldeias são consideradas ilegais pelo governo, não figuram nos mapas e não contam com água corrente, eletricidade, telefone, arruamento, escolas e centros de saúde. As comunidades beduínas (cujos habitantes têm cidadania israelense) constituem cerca de 30% da população do Naqab, mas suas aldeias ocupam apenas 2,5% do território.

Antes da criação do Estado de Israel, os beduínos deslocavam-se livremente pelo deserto; agora, dois terços da região foram designados pelas autoridades israelenses como “campos de treinamento militar”, inacessíveis à população beduína. Mas a verdade, conhecida por todos, é que grupos de colonos judeus aguardam ansiosamente que os habitantes nativos sejam retirados daquelas terras, para instalar-se nos povoados modernos e cômodos que Israel construirá para eles em território beduíno.

O governo israelense pretende apresentar o Plano Prawer como uma ação “humanitária”, que oferecerá moradia adequada, serviços públicos e “um futuro melhor para as crianças” beduínas do Naqab/Negev, permitindo-lhes “integrar-se à estrutura de um Estado moderno ao mesmo tempo que conservam suas tradições”.
 
A realidade, porém, é que nenhuma das comunidades afetadas foi consultada nem está de acordo com o plano. E têm bons motivos para isso: além de perder suas terras, serão realocadas em sete assentamentos superpovoados e pobres, nos quais outros grupos beduínos foram concentrados há anos (por isso há quem trace um paralelo entre o plano e as reservas indígenas dos Estados Unidos).

“Vivemos aqui desde muito antes da criação do Estado de Israel”, declarou Maqbul Saraya, 70 anos, à rede Al-Jazira. "Sentimos que a democracia e a justiça de Israel não se aplicam a nós”.

Rechaço local e internacional

Nos países árabes vizinhos e em várias nações da Europa, além de Turquia, Túnis, Coreia do Sul, Kuwait, Canadá e Estados Unidos também houve manifestações de solidariedade aos palestinos no dia 30, para denunciar o que se considera a operação sionista de limpeza étnica de maior envergadura desde a Nakba (catástrofe) de 1948. O Parlamento europeu, o Comitê contra a Discriminação Racial da ONU (CERD) e outros organismos intergovernamentais pediram a Israel que cancele o projeto, que se transformará em lei no final do ano. Organizações e redes internacionais como Anistia Internacional, Vozes Judias pela Paz, Avaaz, entidades palestinas e algumas israelenses também criticaram o plano e lançaram campanhas pedindo sua anulação. Mais de 50 intelectuais e artistas britânicos (entre eles Ken Loach, Mike Leigh e Peter Gabriel) publicaram uma carta no jornal The Guardian, qualificando o objetivo de Israel de desarraigar a população beduína como “deslocamento forçado de palestinos/as de seu lugar e de sua terra, discriminação e apartheid”.

Nos territórios ocupados, houve protestos em Gaza, Ramala, Jerusalém, Hebron, Nablus. Mas talvez as imagens mais eloquentes, e que tiveram maior difusão , tenham sido as das localidades que se encontram dentro das fronteiras de Israel – onde a repressão teve o mesmo excesso de violência imposto à Cisjordânia: gás lacrimogêneo, granadas de som, canhões de água química tóxica, surras com porretes e pontapés dos policiais, e dezenas de prisões. Ao ver a profusão de bandeiras palestinas nas ruas, praças e postes públicos, e de rostos envoltos em kuffies, aqueles que não estão familiarizados com a geografia do país acham difícil entender que as fotos de Yaffa ou Haifa (cidades costeiras que eram joias da Palestina antes de 1948 e que ainda contam com uma grande população palestina) foram tiradas dentro de Israel.

Isso também vale para a manifestação na aldeia beduína de Hura, uma das afetadas pelo Plano Prawer: as imagens podiam ser do vale do rio Jordão ou das colinas do sul de Hebron, territórios palestinos ocupados e submetidos às mesmas políticas de deslocamento forçado da população nativa, obrigada a entregar suas terras a colonos judeus. A paisagem e o povo que a habita são os mesmos; o poder que os oprime, também.

Em resposta à jornada de protesto, o ministro israelense de Relações Exteriores Avigdor Lieberman (um colono fanático e ultranacionalista – ironicamente emigrado da Moldávia – que defende abertamente a anexação da Cisjordânia e de Gaza, com a expulsão da população palestina e a aniquilação da que vive em Gaza) fez uma de suas habituais declarações de racismo explícito: “Estamos lutando pelo território nacional do povo judeu, e há aqueles que querem deliberadamente roubar essa terra e controlá-la à força” .

O sionismo como ele é

Talvez o maior “mérito” do Plano Prawer, além de unir a população palestina de todos os setores políticos e geográficos, tenha sido colocar em evidência, mais que todas as políticas israelenses, a natureza e o programa do projeto sionista: a expansão demográfica e territorial judaica, a contenção demográfica e o despejo da população palestina nativa. O objetivo último dessas políticas, perfeitamente articuladas em ambos os lados da Linha Verde, a fronteira internacional – não reconhecida por Israel – é consolidar um regime que muitos cientistas sociais (como o geógrafo israelense Oren Yiftachel ) qualificam de etnocracia.

Ao mesmo tempo, essas políticas revelam a falácia de analisar o conflito sob o paradigma de “dois Estados” ou das “fronteiras de 1967”. A realidade é de um único Estado, que, ao se definir como judeu, exige, para preservar sua “pureza” étnico-religiosa, eliminar de todas as maneiras possíveis a ameaça demográfica que a população não judia constitui. Essas maneiras incluem não apenas o roubo de terras, a colonização, a limpeza étnica e o apartheid dos palestinos, mas também a expulsão em massa dos imigrantes africanos .

Esse Estado não reconhece outras fronteiras senão a totalidade da “terra de Israel” bíblica e não está disposto a cedê-la a seus habitantes não judeus. Não estiveram dispostos os primeiros líderes sionistas, nem estão os atuais. Tudo o mais – incluída a indústria do processo de paz – é discurso para consumo da mídia ocidental.

Não menos importante, ou mais, é a questão da integridade do povo palestino. Realidades como o Plano Prawer mostram a omissão implicada na redução da questão palestina aos mais de 4 milhões que hoje vivem em Cisjordânia e Gaza – em menos de 20% de seu território original. Tão injusto como excluir de qualquer solução os 6 milhões de refugiados/as dispersos pelo mundo é esquecer o 1,5 milhão de palestinas/os que vivem dentro de Israel (20% da população), expostos a mais de 55 leis de apartheid e a políticas de exclusão e deslocamento em consequência do afã ilimitado da judaização. Enquanto não mudar a natureza do regime colonial e racista de Israel, não haverá paz justa nem duradoura – nem democracia – naquela terra desgarrada.

(*) María Landi é ativista latino-americana de direitos humanos, solidária com a causa palestina. Seu blogue é “Palestina en el corazón”:

Mais informações sobre a
resistência ao Plano Prawer.

TRADUÇÃO: Baby Siqueira Abrão - Créditos da foto: Diário Liberdade
 

REINO UNIDO TENTA RECUPERAR RELAÇÕES COM A CHINA

 


O primeiro ministro David Cameron acaba de terminar um giro de três dias à frente da mais importante e forte delegação britânica a visitar a China.
 
Marcelo Justo – Carta Maior
 
Londres - “Não há outro país no Ocidente mais aberto ao investimento chinês, mais disposto a satisfazer a demanda dos consumidores chineses ou a impulsionar a abertura econômica no G8, no G20 ou na União Europeia”. O país em questão é o Reino Unido e o emissor da mensagem é o primeiro ministro britânico David Cameron que acaba de terminar um giro de três dias à frente da mais importante e forte delegação britânica de empresários, acadêmicos e, curiosamente, representantes do futebol inglês.

Cameron não economizou elogios ao presente e futuro da China, uma economia que, segundo suas palavras, “se converteu no ano passado na primeira potência comercial do mundo, e será no próximo ano o mais importante importador de bens e no curso deste século a mais importante economia mundial”.

O primeiro ministro se reuniu com o presidente da China, Xi Jinping, e com o premier Li Keqiang, assinou acordos e, muito importante para a sorte de seus Partido Conservador, buscou projetar no Reino Unido a ideia de um governante em sintonia com os tempos modernos, algo que, no mundo desenvolvido, quer dizer estar com os olhos abertos ao que ocorre na China, nos Brics e em outros países chamados emergentes.

“Asseguramos acordos de mais de 6 bilhões de libras para empresas britânicas e tive um diálogo direto com o presidente com quem estive por mais de três horas. Isso importa para que o Reino Unido seja bem sucedido na competição global”, disse o primeiro ministro à BBC.

Mais além da formalidade diplomática e dos sorrisos nas fotos e nos atos, a resposta chinesa não de todo entusiasta. Um editorial do Global Times, periódico controlado pelo departamento de propaganda do Partido Comunista, advertiu Cameron que as feridas não estavam fechadas e que o Reino Unido era uma potência de segunda ordem. “O governo de David Cameron deveria entender que o Reino Unido não é uma potência importante para a China. É um velho país europeu que nos interessa visitar e no qual podemos estudar. Esta visita não representa de modo algum o fim do conflito entre China e Reino Unido”, assinalou o editorial.

O conflito em questão vem do encontro que Cameron e seu vice-primeiro-ministro Nick Clegg tiveram com o chefe espiritual dos tibetanos, o Dalai Lama, em maio do ano passado. Devido a este encontro, a viagem de Cameron, que estava planejada para abril, teve que ser adiada e só depois de uma longa negociação diplomática se chegou a um acordo para realizá-la em dezembro. “Conseguimos virar a página. Esta visita aponta para o futuro de nossas relações”, disse Downing Street (a residência oficial do governo britânico) ao jornal The Guardian, antes da visita.
Traduzindo ao mundo dos fatos, o Reino Unido se absteria de novas manifestações sobre o Dalai Lama e a independência tibetana e a China receberia sua delegação e assinariam alguns acordos.

Segundo o Financial Times, os mais 6 bilhões de libras mencionados pelo primeiro-ministro são uma mescla de projeções e acordos já firmados. O mais importante é um compromisso da automotriz britânica Land Rover para fornecer cerca de 100 mil veículos que serão postos à venda na China no próximo ano: se vendidos, esses veículos totalizam cerca de 4,5 milhões de libras. “Mas, mais que um acordo, é uma projeção de vendas”, disse o Financial Times.

Outros acordos, como o investimento de 80 milhões de libras que a empresa automobilística chinesa Geely fará no Reino Unido, faz parte de um plano já existente que não tinha muito a ver com a missão de Cameron. Entre as curiosidades se encontram os 45 milhões anuais de libras em vendas de sêmen de porco britânico para a reprodução de seus congêneres chineses e um tratado de coprodução cinematográfica para estimular a cooperação de diretores britânicos e chineses.

O primeiro ministro negou que todos esses acordo – presentes ou passados, foram a expensas da política de direitos humanos. “Não creio que se trata de escolher entre falar de direitos humanos ou de comércio. Eu falei de ambos os temas”, indicou Cameron. Isso até pode ser, mas do Dalai Lama, nem uma palavra.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer - Créditos da foto: BBC
 

Ucrânia: CERCA DE 200 MIL MANIFESTANTES CONCENTRADOS NA PRAÇA DE KIEV

 


Cerca de 200 mil manifestantes pró-europeus estão concentrados hoje em Kiev para reclamar a demissão do presidente Ianukovitch depois de este ter rejeitado um acordo comercial com a União Europeia, optando por uma maior aproximação à Rússia.
 
Empunhando bandeiras da Ucrânia e da União Europeia, os opositores ao atual Governo enchem a Praça da Independência, onde foram instaladas várias tendas.
 
"Estamos aqui por um futuro europeu da Ucrânia para os nossos filhos e netos. Queremos que a justiça reine em todo o mundo e que o poder pare de roubar", disse um dos manifestantes, Viktor Melnitchuk, 52 anos, citado pela agência France Presse.
 
"Não me interesso pela polícia, mas há tantas coisas que me indignam. A última gota foi a agressão aos estudantes", disse outra manifestante, Marianna Vakhniuk, 26 anos, numa referência à dispersão violenta a 30 de novembro de uma manifestação no mesmo local, que causou numerosos feridos, principalmente estudantes.
 
A oposição, que reclama eleições antecipadas, espera mobilizar hoje um milhão de manifestantes.
 
Nos últimos dias, milhares de manifestantes têm desafiado as ordens das autoridades, cercando edifícios governamentais em protesto contra a suspensão das negociações para a assinatura de um pacto comercial e político com a União Europeia.
 
No sábado, a oposição ucraniana acusou o presidente Viktor Ianukovitch de planear a assinatura em breve de um acordo de adesão da Ucrânia à União Aduaneira das Antigas Repúblicas Soviéticas, liderado por Moscovo, e ignorar os protestos de milhares de manifestantes.
 
"De acordo com as nossas informações, o projeto de acordo sobre a parceria estratégica [com a Rússia] está pronto, mas Ianukovych não se atreveu a assiná-lo", disse à France Presse um dos líderes do partido da oposição, Arseniy Yatsenyuk, durante uma conferência de imprensa em Kiev.
 
Para 17 de dezembro está prevista uma reunião da comissão interestadual russo-ucraniana em Moscovo, acrescentou o líder da oposição.
 
Lusa
 

Cerca de 400 mortos nos últimos três dias na República Centro Africana

 

TSF
 
O Governo francês revelou hoje que subiu para cerca de 400 o número de mortos em Bangui, capital da República Centro-Africana, nos ataques das milícias contra civis desde quinta-feira.
 
«Houve nos últimos três dias 394 mortos. A calma retornou a Bangui, embora ainda se verifiquem aqui e ali alguns abusos», disse Laurent Fabius à estação France 3, acrescentando que as operações do exército francês estão em curso e que «as operações de desarmamento [dos ex-rebeldes] a Seleka vão começar».
 
No sábado, a Cruz Vermelha Centro-Africana (CVCA) anunciou a morte de 300 morreram desde quinta-feira em Bangui, números provisórios que hoje aumentaram para mais uma centena.
 
A situação de segurança permanecia no sábado caótica em Bangui, apesar da presença de tropas francesas na cidade, devido à violência na cidade desde que milícias de autodefesa cristãs "Anti-Balaka" iniciaram os seus ataques, tendo sido travadas pelas forças de segurança apoiadas pela milícia muçulmana Seleka.
 
Os combates intensificaram-se na quinta-feira após ataques de militantes "Anti-Balaka", apoiantes de presidente deposto François Bozizé, horas antes da ONU autorizar a intervenção militar da França para proteger a população e restaurar a ordem no país.
 
A República Centro-Africana, com 4,5 milhões de habitantes, mergulhou no caos desde o golpe de Estado de março realizado pela coligação rebelde Séléka, com origem na minoria muçulmana, que afastou do poder o Presidente François Bozizé.
 
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William Tonet: "Presidente não seria alheio a um eventual assassinato da minha pessoa"

 

Deutsche Welle
 
O jornalista e jurista angolano William Tonet escreveu uma carta aberta ao Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, onde lhe agradece pela "maldade e perseguição" a que está sujeito.
 
Na missiva, William Tonet tece duras críticas ao Governo do MPLA, no que diz respeito, por exemplo, à atuação do Ministério do Ensino Superior, que invalidou o seu certificado académico, do isolamento de que é alvo o seu jornal, o Folha 8, e o impedimento de exercer a função de advogado de defesa em pleno processo.

DW África: Porque escreveu esta carta?

William Tonet (WT): Em democracia, é normal quando os cidadãos não têm outro recurso para chegar aos centros de decisão, publicitarem uma carta que poderia ser fechada. Mas acontece um conjunto de situações anormais, de perseguições que não lembram nem ao diabo. Portanto, em princípio podendo parecer atitudes isoladas de alguns governantes que querem mostrar serviço, a forma recorrente e quase mensal de campanhas contra William Tonet não pode passar, no atual quadro constitucional, à margem do Presidente da República, até porque todos os membros do seu gabinete são meros auxiliares. Logo, ele está por trás de tudo isso.
 
DW África: Há ilegalidades e irregularidades cometidas pelo governo do MPLA, como cita na sua carta aberta. Há possibilidade de as mesmas serem executadas sem o conhecimento ou aval do Presidente?

WT: À luz da Constituição, é muito difícil. Penso que o Presidente, ao nível do MPLA, tem competências das quais se podia acercar, tem pessoas que não precisam de o bajular para mostrar competência e fidelidade ideológica. O problema é que queremos fazer um país só com bajuladores. E este é que é o grande problema de Angola. E o que se passa em relação à minha pessoa é, de facto, uma perseguição para a qual não vejo razão de ser e o único responsável é o Presidente da República.

DW África: E porque é que acha que o Presidente da República o quer “aniquilar”?

WT: São todas estas evidências. Ao nível da Constituição, é ele que nomeia tudo. Ao nível do Governo, é ele que nomeia tudo. Não é possível que o Governo, que tem reuniões regulares, consiga perseguir, quer ao nível do Executivo, quer ao nível do partido, um cidadão como William Tonet, porque eu quero continuar a pensar pela minha cabeça. O Presidente não é alheio a toda essa perseguição e não o será a um eventual assassinato da minha pessoa e essa é a minha mais forte convicção.

DW África: Queixa-se do isolamento a que o Folha 8 está submetido, da anulação dos seus certificados académicos, da vandalização dos seus bens. Como é que consegue viver e trabalhar dentro deste contexto?
 
WT: As revoluções fizeram-se sempre em contextos diferenciados. Em processos em que havia discriminação, a humilhação de uns sobre outros. Sobrevivemos assim porque temos também a solidariedade de algumas pessoas que, efetivamente, não estão de acordo com esse tipo de práticas que estão a macular o nosso país. O nosso exercício não é fácil, mas temos a plena convicção: se todos nos ajoelharmos perante as injustiças, estaremos cada vez mais a cavar um fosso que nos levará de novo a uma guerra fratricida. Temos de fazer alguma coisa, continuar a resistir, esperar pela bala assassina, mas de pé, na verticalidade dos nossos ideiais.

DW África: O que espera com esta carta que dirigiu ao Presidente? Mudanças? Ou trata-se de gesto de revolta, de desabafo, no contexto da liberdade de expressão?

WT: Eu gostava que nós todos, incluindo o Presidente, refletíssemos. É possível que todos estejamos a cometer excessos, de alguma forma. Mas que é preciso diálogo entre os angolanos, isso é certo. Que há um mal-estar, uma insegurança do regime, isso também é verdade. Se não, o regime não compraria todos os órgãos de comunicação social.
 
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Angola: KOPELIPA INTERPELADO SOBRE A MORTE DE GANGA

 

Diário Angolano
 
O chefe da Chefe da Casa de Seguranca da PR, Manuel Helder Vieira Dias “Kopelipa” foi interpelado, a prestar esclarecimento sobre o assassinato do jovem Manuel Carvalho “Ganga” perpetrado, por militares da Unidade de Seguranca Presidencial, no sábado (23).
 
A interpelação foi feita por CASA-CE, através de uma carta datada de 25 de Novembro. A coligação ao qual o malogrado militava exige por parte de “Kopelipa”, a identificação dos autores dos disparos contra Manuel Carvalho do crime e a sua subsequente responsabilização criminal. O segundo maior partido da oposição, entendem também que o Estado deve assumir as suas responsabilidades quanto a viúva e ao filho menor de 2 anos deixado pelo activista político.
 
As exigências da CASA-CE, surgiram numa altura em que circulam informações segundo as quais a Casa de Segurança da PR, esta a fazer tudo para que o autor do crime não seja apresentado na justiça.
 
Por outro lado, a força liderada por Abel Chivukuvuku em conjunto com a família acertaram em abrir um processo junto a Procuradoria Geral da Repùblica, a fim desta investigar e incriminar judicialmente o autor dos disparos.
 
Club-K, 28 de novembro de 2013
 
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Partidos e autoridades da Guiné-Bissau aceitam prolongamento do período de transição

 


Os partidos políticos da Guiné-Bissau e o presidente guineense de transição, Serifo Nhamadjo, aprovarem hoje no parlamento uma proposta de prorrogação do período de transição até à posse de novos órgãos eleitos.
 
Depois do golpe de estado de abril de 2012, foi definido um período de transição com a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) que devia terminar a 31 de dezembro com a realização de eleições gerais.
 
No entanto, o escrutínio que estava marcado para 24 de novembro foi adiado, fazendo com que a transição seja prolongada.
 
O país vai ter eleições gerais (presidenciais e legislativas) a 16 de março e só com a tomada de posse de um parlamento, presidente e governo eleitos é que deverá terminar oficialmente o período de transição, segundo ficou hoje acordado.
 
Após a reunião com os partidos, na presença de chefes militares e líderes de organizações da sociedade civil, o presidente de transição, Serifo Nhamadjo, disse à agência Lusa que as partes concordaram em não fixar uma data exata para o fim da transição.
 
"A esmagadora maioria considera que se deve limitar o enquadramento legal (do fim do período de transição) até à tomada dos órgãos eleitos, isto é, não fixar uma data", observou Nhamadjo.
 
O presidente guineense entende que fixar uma nova data com precisão "poderia complicar" o andamento do processo rumo ao retorno constitucional.
 
Serifo Nhamadjo disse ter ficado satisfeito pela "colaboração e compreensão" dos partidos, restando agora produzir um documento que terá de ser aprovado pelos deputados para depois ser depositado no Supremo Tribunal de Justiça.
 
De seguida, o documento deverá ser apresentado à CEDEAO e demais parceiros internacionais do país, como resultado do novo consenso nacional sobre o período de transição
 
MB // CC - Lusa
 

Timor-Leste perde com Tailândia na abertura do torneio de futebol dos Sea Games

 


Díli, 07 dez (Lusa) - A seleção de Timor-Leste perdeu hoje 1-3 com a Tailândia no jogo que abriu o torneio de futebol da 27.ª edição dos Jogos do Sudeste Asiático, conhecidos por Sea Games, a decorrer na Birmânia.
 
O golo dos timorenses foi marcado aos 74 minutos por José da Fonseca.
 
"Os jogadores estiveram nervosos na primeira parte e pagámos por isso. É na verdade uma boa lição para eles", afirmou o treinador timorense, o brasileiro Emerson Alcântara.
 
A competição de futebol começou hoje e termina a 21 de dezembro.
 
Timor-Leste integra juntamente com a Tailândia, Indonésia, Birmânia e Camboja o Grupo B. O grupo A é composto pela Malásia, Vietname, Singapura, Laos e Brunei.
 
A seleção timorense volta a jogar segunda-feira contra a Birmânia.
 
Os outros dois jogos realizam-se no dia 12 com o Camboja e no dia 14 frente à Indonésia.
 
Os Sea Games são disputados por 11 países do sudeste asiático, nomeadamente Timor-Leste, Indonésia, Birmânia, Tailândia, Camboja, Malásia, Vietname, Singapura, Laos, Brunei e Filipinas e incluem várias modalidades desportivas. As Filipinas não jogam a competição de futebol.
 
MSE // PA - Lusa
 

Japão e Timor-Leste assinam acordo para reabilitar sistema de irrigação no país

 


Díli, 06 dez (Lusa) - O Japão e Timor-Leste assinaram hoje um acordo para reabilitar o sistema de irrigação em Buluto, a leste de Díli, no distrito de Manatuto, para melhorar as condições de vida da população naquela zona do país.
 
O acordo, que prevê uma intervenção no valor de cerca de 108 mil euros, foi assinado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, José Luís Guterres, e pelo embaixador do Japão em Díli, Yoshitaka Hanada.
 
"Esperamos que este projeto contribua para o aumento da produção de arroz em Timor-Leste", afirmou o embaixador japonês no final da assinatura do acordo.
 
O ministro timorense agradeceu a cooperação japonesa e destacou que é "muito produtiva e direcionada para a melhoria das condições de vida da população timorense".
 
Em comunicado, distribuído à imprensa durante a cerimónia, a embaixada do Japão refere que o objetivo do projeto é melhorar as condições de vida das pessoas, nomeadamente dos agricultores, e contribuir para aumentar a segurança alimentar do país.
 
"Com este projeto pretendemos construir um sistema de irrigação que controle as águas durante a época das chuvas e que forneça água durante a época seca", explica a embaixada do Japão.
 
Os governos do Japão e de Timor-Leste cooperam no setor económico, agrícola e na capacitação de recursos humanos do setor público com o objetivo de aumentar a produtividade agrícola, o emprego e a redução da pobreza.
 
MSE // JCS - Lusa
 

MACAENSES LUTAM POR MANTER VIVA CULTURA SECULAR E “ÚNICA NO MUNDO”

 

Patrícia Neves, da agência Lusa
 
Macau, China, 07 dez (Lusa) - A comunidade macaense, fruto de 500 anos de convivência entre portugueses e chineses no sul da China, trava uma luta diária nos quatro cantos do mundo para que a sua cultura secular e singular resista à força dos tempos.
 
Fernando Leopoldo do Rosário nasceu em Macau há 68 anos, mudou-se para Hong Kong aos 18 e acabou por seguir as pegadas dos seus antepassados portugueses ao decidir desbravar novos mundos.
 
"Naquele tempo era moda [emigrar], toda a gente ia à procura de um melhor futuro, porque Macau não tinha nada. Falávamos inglês, português e chinês e, por isso, desenrascávamo-nos em qualquer sítio", recordou em declarações à agência Lusa, durante uma visita à terra natal para um encontro da comunidade.
 
Tinha 30 anos quando chegou ao Canadá e nunca mais pensou em regressar a Macau. Passaram-se quase quatro décadas e Leopoldo viu a família adotar a mesma capacidade de se misturar com os locais que aquela que está na base da sua identidade cultural.
 
"Os meus filhos só falam inglês, nunca falaram português, também raras vezes comem comida macaense ou portuguesa, porque nasceram, cresceram e trabalham no Canadá, é tudo à maneira canadiana. Mas já vieram a Macau e sentem alguma coisa, lá dentro sentem" que são em parte macaenses, garante.
 
O português de Leopoldo resiste ao tempo e à distância, tal como a vontade de preservar a sua cultura que cresce com a saudade de Macau.
 
"Tenho pena, mas sei que se vai perder tudo, mas as tradições ainda se mantêm, como o Natal e a Páscoa. Sinto saudade e procuro manter a cultura de Macau, por isso, em casa comemos bacalhau, feijoada, grão-de-bico, dobrada, 'tacho', 'minchi' [pratos típicos macaenses], vaca estufada, tudo, sou eu que faço", apontou.
 
Carlos Cabral, de 46 anos, nasceu e vive em Macau. Os seus olhos rasgados, a fluência na língua de Camões e as palavras em patuá (crioulo de base portuguesa) que floreiam o seu discurso não deixam dúvidas de que é macaense.
 
Carlos lançou recentemente um livro de receitas macaenses, intitulado "Comê Qui Cuza" (em patuá), para "preservar uma gastronomia de fusão" e dar a conhecer os "segredos" desta cozinha aos "jovens da diáspora", pois lamenta que esta "nova geração já não esteja muito familiarizada com a cultura macaense".
 
"Não acredito que a cultura se vá perder, mas era melhor haver mais restaurantes macaenses, porque é uma forma de o mundo inteiro conhecer a nossa cultura", defendeu.
 
Silvana, de 42 anos, e Iana Assumpção, de 21 anos, mãe e filha, duas gerações de macaenses nascidas no Rio de Janeiro, Brasil, levam a sério essa missão.
 
"O meu pai passou-nos este amor por Macau e eu passei-o à minha filha e abrimos há quatro meses o primeiro restaurante macaense fora de Macau para dar a conhecer ao mundo a gastronomia macaense, que é muito rica, e também Macau", explicou Silvana.
 
Iana, o "braço direito" da mãe na cozinha do "Fat Choi", leva os "amigos brasileiros a provarem a comida macaense", considerando que "a culinária é uma forma de aproximar as pessoas, não só os macaenses, mas também quem não o é à cultura macaense".
 
"Definir a gastronomia macaense é o mesmo que definir o que é ser macaense, não há uma definição certa, porque somos uma mistura. Vemos isso no patuá, que é uma mistura de idiomas, na culinária, que é uma mistura de sabores e temperos, é uma mistura única", observou.
 
Para a mãe, a "miscigenação cultural de Macau está dentro da gastronomia" macaense, que "é uma gastronomia do mundo, que 'pegou' o melhor de cada região" e, por isso, defende a sua classificação como Património Mundial pela UNESCO.
 
Iana considera que essa distinção seria um reconhecimento de toda a cultura macaense ao salientar que o "medo é que ela deixe de ser vivida".
 
Luís Machado, presidente da Confraria da Gastronomia Macaense, entidade que se bate pela classificação da UNESCO, refere que "um dos pilares que une [os macaenses] é a mesa, a cozinha macaense, além da fé cristã e do patuá".
 
"Não acredito que esta cultura morra, porque enquanto houver um macaense haverá com certeza um 'minchi' em casa", acrescentou, manifestando confiança na vontade e na capacidade dos jovens macaenses de darem continuidade às tradições das suas famílias.
 
Tânia Sales Marques, de 31 anos, filha de pai macaense e mãe portuguesa, nasceu em Portugal, mas cresceu em Macau, onde hoje vive e se afirma, sem hesitações, como "macaense".
 
"Para manter a identidade macaense viva é preciso adaptarmo-nos à realidade atual", vincou, considerando que um macaense é cada vez mais aquele que se sente como tal "pelo facto de muitos jovens terem já pouco sangue macaense e serem ainda mais mistos do que os macaenses tradicionais".
 
Tânia garante que os macaenses estão "cientes de que há uma maior diluição da [sua] cultura", mas defende que é a "ligação emocional [a Macau] que acaba por a manter viva", constatando que os jovens "começam a perceber a importância de terem um papel ativo na sua preservação".
 
"Nós somos uma comunidade única no mundo (...) e desde que haja pessoas que sintam que fazem parte deste grupo cultural, desta etnia, de uma certa forma, desde que haja esse sentimento de pertença, penso que esta cultura não se perderá", concluiu.
 
PNE // ZO - Lusa
 

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