quinta-feira, 8 de novembro de 2012

LULA DA SILVA VISITA ÁFRICA E ÁSIA NA PRÓXIMA SEMANA

 


José Maria Tomazela - Agência Estado – A Tarde
 
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara-se para deixar o País em viagem institucional. Entre 16 e 23 deste mês, o ex-presidente visita três países africanos - África do Sul, Moçambique e Etiópia -, e estica a viagem à Índia, no continente asiático, cumprindo agenda do Instituto Lula, do qual é presidente de honra. Lula deixa o Brasil no feriado do dia 15 e retorna no dia 24. Na viagem, o ex-presidente encontra-se com chefes de Estado, dirigentes sindicais, lideranças populares e empresários para discutir, entre outros temas, ações de combate à fome.
 
O roteiro seria cumprido no ano passado, mas teve de ser adiado em função do câncer diagnosticado na laringe de Lula. Com sua recuperação, ele decidiu retomar a agenda. O Instituto Lula desenvolve, desde sua criação em 2011, um trabalho de aproximação com países do continente africano, segundo a assessoria. Lula encontra-se com os presidentes da África do Sul, Jacob Zuma, e de Moçambique, Armando Guebuza, e ainda com os primeiros-ministros da Etiópia, Hailemariam Desalegne, e da Índia, Manmohan Singh.
 
Na visita que fará à sede da União Africana, na Etiópia, o ex-presidente tratará do encontro organizado pela Fundação das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), com apoio do instituto brasileiro, a ser realizado em março de 2013, naquele país, para discutir ações de combate à fome na África. Na Índia, onde encerra o roteiro internacional, Lula receberá o prêmio Indira Gandhi para a Paz, que lhe foi concedido em 2010, ainda na Presidência, em reconhecimento pelo reforço nas relações entre as nações em desenvolvimento. Em conferência no Nehru Memorial, ele fará discurso em homenagem a Jawaharlal Nehru, líder da luta pela independência indiana.
 

NOBEL DA PAZ ELOGIA E ESTUDA PROGRAMAS BRASILEIROS DE COMBATE À FOME

 

Pragmatismo Político
 
Nobel da Paz estuda programas brasileiros de combate à fome. A ativista iemenita Tawakkol Karman foi recebida nesta quarta-feira pela presidente Dilma Rousseff
 
A ativista iemenita Tawakkol Karman, prêmio Nobel da Paz em 2011, foi recebida nesta quarta-feira pela presidente Dilma Rousseff e se interessou pelos programas brasileiros de combate à fome.
 
Depois do encontro, que aconteceu no Palácio do Planalto, Tawakkol pediu ao Brasil que ajude o Iêmen na elaboração de planos similares, os quais qualificou de “exemplares”.
 
Mais jovem Nobel da Paz e primeira mulher árabe a receber o prêmio, a jornalista de 33 anos foi uma das líderes da revolta que derrubou uma ditadura de 32 anos no Iêmen.
 
Ela também pediu ao governo brasileiro que financie bolsas de estudo para jovens iemenitas que se engajaram na Primavera Árabe, a onda de protestos ocorrida em países árabes entre 2010 e 2012.
 
Sorridente, ela elogiou os brasileiros por terem escolhido uma mulher para comandar o país. “Queria parabenizar vocês brasileiros por ter uma presidenta. Tenho certeza de que todas as brasileiras têm orgulho de serem governadas por uma mulher”, afirmou.
 
Tawakkol viajou ao Brasil para participar da 15ª Conferência Internacional Anticorrupção (IACC, na sigla em inglês), organizada pela organização Transparência Internacional (TI) e inaugurada nesta quarta-feira em Brasília.
 
Agência EFE
 
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COMBATE À CORRUPÇÃO NO BRASIL ESBARRA NA IMPUNIDADE

 

Deutsche Welle
 
Entraves para punição de culpados vão desde o foro privilegiado até a morosidade da Justiça brasileira. Apesar disso, o país tem avançado no combate a atos ilícitos, avaliam observadores.
 
Em meio à fase final do julgamento do mensalão – considerado por analistas e autoridades o maior julgamento de um caso de corrupção no país -, a capacidade brasileira de punir desvios na administração pública é questionada. Autoridades, representantes de ONGs e ativistas estão reunidos em Brasília desde esta quarta-feira (07/11) para a 15ª Conferência Internacional Anticorrupção, promovida pela ONG Transparência Internacional.
 
Os mais de 1,5 mil participantes apresentam e debatem, até o próximo sábado, exemplos de iniciativas consideradas eficientes no combate à corrupção. A conferência acontece a cada dois anos e, desta vez, o Brasil foi escolhido para sediar o evento por ser reconhecido pelos organizadores como um país que tem avançado no combate a práticas ilegais na administração pública e privada.
 
Nos debates, a corrupção é considerada uma força destruidora de sociedades. Huguette Labelle, presidente da Transparência Internacional, coloca esse problema no centro das principais ameaças enfrentadas pela humanidade. Para ela, ter instituições sólidas e um sistema de leis eficiente não esgota o problema. “Nós todos sabemos que fazer valer as leis é o que realmente importa, no final das contas. O ‘não à impunidade' não deve ser apenas um slogan”, disse. “É aí que o sistema judiciário deve cumprir seu papel."
 
Dados recentes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostram que a corrupção tem impactos devastadores sobre o desenvolvimento. Estima-se que a corrupção custe, a cada ano, mais de 5% do PIB global, o equivalente a 2,6 trilhões de dólares ou à sexta economia do mundo se fosse considerada um país.
 
Foro privilegiado e recursos intermináveis
 
Jorge Hage, ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), a agência anticorrupção brasileira, afirmou que as “possibilidades de eternização de um processo no Brasil” são responsáveis pelo entrave ao combate à corrupção. Para ele, o julgamento do mensalão representa um avanço, por reafirmar a independência da Justiça brasileira, mas é um caso excepcional, por envolver nomes importantes no cenário nacional. “Esta foi a primeira ação importante de muitas e muitas que ainda não foram julgadas e que tramitam - e tramitarão - por 10, 20 anos sem nunca chegarem ao final”, lamentou o ministro.
 
No caso do mensalão, o julgamento foi iniciado diretamente na corte suprema do país pelo fato de muitos dos acusados terem o chamado foro privilegiado, direito concedido a ocupantes de determinados cargos, como ministros. Mas esse não é o caso da maioria das ações, que podem passar pelas quatro instâncias do sistema judiciário brasileiro.
 
Wellington Cabral Saraiva, membro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de grupos de trabalho sobre corrupção, defende sistemas de recursos mais simples e revisão de uma interpretação do Supremo Tribunal Federal que somente obriga o condenado a cumprir as penas quando forem esgotadas todas as possibilidades de recurso. “Os advogados criminalistas no Brasil hoje são estimulados pela legislação e por essa interpretação do Supremo a recorrer indefinidamente, só para que o processo demore e para que o réu não comece a cumprir a pena”, explicou.
 
Uma das saídas encontradas pelos órgãos brasileiros anticorrupção foi adotar mecanismos administrativos para afastar funcionários culpados. “Nos últimos oito anos, mais de quatro mil funcionários públicos foram dispensados da administração federal sem que nós tivéssemos que apelar para o judiciário”, disse o ministro-chefe da CGU. O conselheiro Wellington Saraiva admite a eficácia desses instrumentos, mas ressalta que atos administrativos não anulam a necessidade de investigações criminais em muitos dos casos.
 
Cidadão comum sai perdendo
 
Com essa combinação, a população em geral acaba sendo a maior prejudicada, avalia Hugette Labelle. “No final das contas, o que temos são processos que nunca chegam ao final e, se são culpadas, as pessoas acabam conseguindo ‘comprar' sua liberdade”, disse Labelle ao lembrar que isso cria uma sociedade desigual formada por pessoas que não confiam no sistema de leis.
 
No Brasil, a Transparência Internacional é representada pela Amarribo (Amigos Associados de Ribeirão Bonito), ONG que surgiu do desejo dos moradores da pequena cidade brasileira de retirarem do poder um prefeito corrupto. O presidente da instituição, Jorge Sanchez, reconheceu que o julgamento do mensalão tem ajudado a população a restaurar a confiança na justiça, mas é preciso ir além. “Para o cidadão comum, não importa que os culpados sejam postos na cadeia, mas que esses recursos [desviados] voltem aos cofres públicos para serem reinvestidos em saúde, educação e segurança, que é o que importa, efetivamente, para o cidadão comum.”
 
Metas do Judiciário
 
Como resposta à demanda social por punições, os presidentes de tribunais brasileiros assumiram, nesta terça-feira, o compromisso de identificar e julgar, até dezembro de 2013, todos os processos que envolvam denúncias de corrupção. A meta foi traçada durante o VI Encontro Nacional do Poder Judiciário e atinge os processos iniciados antes de dezembro de 2011.
 
Durante esse evento, o presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ayres Britto, afirmou que o combate à corrupção é um das metas do CNJ. “Precisamos fazer de nossas pautas de audiências mecanismo de diálogo permanente com a sociedade que anseia pelo banimento da corrupção. Se fizermos isso, estaremos cumprindo nosso compromisso que se legitima pelo cumprimento da constituição”, disse o ministro durante pronunciamento.
 
Welington Cabral Saraiva lembra, entretanto, que a meta é uma recomendação, e não uma norma. “Isso é uma sinalização do CNJ e de todo o Poder Judiciário brasileiro da importância que as ações relativas a corrupção têm no serviço do próprio poder judiciário”, avaliou.
 
De acordo com dados de 2011 do Conselho Nacional de Justiça, há dois anos o Brasil tinha mais de 1,4 mil ações penais em tramitação e mais de 800 apelações em andamento nos Tribunais Estaduais. Nos Tribunais Federais, eram 8.144 as ações penais e mais de 200 recursos em tramitação. Nos Tribunais Superiores, os números mostravam uma ação penal e 103 recursos em andamento.
 
Autor: Ericka de Sá, de Brasília - Revisão: Francis França
 

A JONET QUE “BRILHA” E SE PROMOVE COM A MISÉRIA E FOME DOS PORTUGUESES

 

 
 
Presidente do Banco Alimentar diz que não há miséria em Portugal - vídeo
 
Beatriz Silva – i online
 
A presidente do Banco Alimentar Contra a Fome afirmou que “cá em Portugal não existe miséria”, apesar " de estarmos mais pobres". Estas declarações foram dadas numa entrevista no programa “ Edição da Noite”, da SIC Notícias, onde Isabel Jonet comparou a situação portuguesa com a grega.
 
Para Isabel Jonet, “há toda uma concepção de vida e de necessidade permanente de bens e consumo para uma satisfação das pessoas que conduz à felicidade que não é real”, acrescentando ainda que “vivemos de uma maneira idiota. Sou do tempo que lavava os dentes com o copo dos dentes. Os meus filhos lavam os dentes com a água a correr”, exemplifica, considerando que, ao longo do tempo, “perdeu-se a total noção do que é o custo de oportunidade”.
 
A responsável refere ainda que as prioridades têm sido trocadas. “Ou vamos a um concerto de rock ou vamos tirar uma radiografia”, considerando que “há toda uma faixa de idade que vive acima das possibilidades”
 
“Se não temos dinheiro para comer bifes todos os dias, não comemos bifes todos os dias. E esse empobrecimento é porque comemos bifes todos os dias e achávamos que podíamos comer bifes todos os dias e não podemos”, realçou.
 
“Estou a falar de uma determinada camada de população, que tinha previsto viver bem. População essa, jovens, e muitos desempregados, que não vão encontrar lugar no mercado de trabalho e vivem na casa dos pais e que podem ir ao concerto de rock”
 
A presidente do Banco Alimentar, acredita que “vamos ter que empobrecer muito e aprender a viver mais pobres. Claro que já estamos a empobrecer, mas porque andamos a viver acima das possibilidades”, considerou.
 
Isabel Jonet defende ainda que é necessário mudar as mentalidades. “Temos de mudar a maneira como olhamos para a organização da sociedade. E temos que pensar que efectivamente cada um de nós tem de fazer um esforço, não olhando para aquilo que vai deixar de ter como um empobrecimento, mas se calhar como uma necessidade de voltar a olhar para aquilo que é o mais básico”, concluiu.
 
Petição pública pede demissão de Isabel Jonet do Banco Alimentar
 
Beatriz Silva – i online
 
As declarações da presidente do Banco Alimentar Contra a Fome gerou polémica nas redes sociais e até já há quem peça a sua demissão.
 
“Esta senhora deveria ter consciência que o protagonismo que vem assumindo se deve, essencialmente, à generosidade dos doadores que, muito provavelmente, desconhecem a mentalidade «caritativa» e «salazarenta» - no pior do que o Dr. Oliveira Salazar nos deixou -que, salvo melhor entendimento, a caracteriza”, lê-se na página criada no facebook, intitulada “Demita-se! O Banco Alimentar Contra a Fome merece”.
 
Numa entrevista dada, na passada segunda-feira, no programa “Edição da Noite”, da SIC Notícias, Isabel Jonet afirmou que “cá em Portugal não existe miséria”, apesar " de estarmos mais pobres". Durante a sua intervenção, a responsável refere que “as prioridades têm sido trocadas”, considerando que é necessário “mudar as mentalidades”, vivendo com “aquilo que é mais básico”.
 
As reacções fazem-se sentir. Também na página do facebook do Banco Alimentar Contra a Fome a revolta contra a presidente do Banco Alimentar é notável. Muitos afirmam que deixarão de dar o seu contributo à instituição.
 
Numa carta aberta, o mse (Movimento Sem Emprego) faz fortes críticas à responsável, acusando-a de não saber o que é pobreza. “Afirma que vamos ter que "reaprender a viver mais pobres", quando a senhora só sabe o que é viver mais rica, que "vivíamos muito acima nas nossas possibilidades" quando é sua excelência que tem vivido às nossas custas, que "há necessidade permanente de consumo, de necessidade permanente de bens para a satisfação das pessoas" quando em nenhum momento da sua vida a falta de verba lhe deu tempo para ganhar água na boca”, lê-se na missiva, intitulada “Uma canja para a Jonet”.
 
A carta termina referindo que “no mundo de Jonet "não existe miséria" como "em Portugal", não é assim? Em suma, no mundo de Jonet não se vive o que é preciso para se ganhar um pingo de vergonha”.
 
*Título PG
 
 

OE2013: Cavaco Silva "tem de assumir as suas responsabilidades" - Arménio Carlos

 

JLS – MBA – Lusa, com foto
 
Coimbra, 08 nov (Lusa) - O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, exortou hoje em Coimbra o Presidente da República a assumir as suas responsabilidades na proposta de Orçamento do Estado para 2013, enviando o documento para o Tribunal Constitucional.
 
"O senhor Presidente da República tem de assumir aqui as suas responsabilidades" disse Arménio Carlos aos jornalistas, em Coimbra, à margem de uma iniciativa de preparação da greve geral de dia 14.
 
O líder da CGTP reafirmou que o Governo "merece um veto político" da parte do PR "porque está a afundar o país".
 
Por outro lado, Arménio Carlos exigiu, "no mínimo", que Cavaco Silva "analise, reflita e de acordo com a sua consciência não deixe de ter presente o sofrimento com que a esmagadora maioria do povo português está a ser confrontado".
 
Para Arménio Carlos, em última instância "só resta" a Cavaco Silva enviar a proposta de Orçamento de Estado para o Tribunal Constitucional, para que este se possa pronunciar "no sentido de considerar inconstitucional aquilo que é por demais evidente".
 
O sindicalista reiterou que a CGTP defende a renegociação da dívida nacional, não para não a pagar "mas para pagar", ilustrando com o caso de uma pessoa "que quando está aflita" vai ao banco para prolongar os prazos e reduzir os juros.
 
"Aqui para o país é a mesma coisa. Se não o fizermos e ao contrário do que o senhor Ministro das Finanças diz, que para atingirmos a divida que tínhamos em 2005 vamos levar décadas, nós dizemos que se esta política continuar vamos levar mais de um século".
 
Arménio Carlos citou ainda o discurso de vitória de Barack Obama, nas eleições norte-americanas, fazendo um contraponto com a situação portuguesa: "O senhor Obama dizia ao povo americano que o melhor está para vir. Hoje dizemos em Portugal que com o Governo do PSD e CDS só se pode esperar o pior".
 
O líder sindical revelou ainda que a CGTP vai avançar com um manifesto em defesa das funções sociais do Estado - saúde, educação e segurança social - considerando que estas têm "uma relação direta com o desenvolvimento e o progresso social" e são "instrumentos determinantes para combater as desigualdades e a pobreza".
 
Arménio Carlos citou dados estatísticos de 2010 e embora considerando que estão "de alguma forma desatualizados", frisou que Portugal "tem um nível de pobreza de 19 por cento" em média.
 
"Se porventura não fossem os apoios sociais que uma parte significativa da população recebe a média de pobreza da população portuguesa seria de 44 por cento", argumentou.
 

Política de austeridade defendida por Merkel "é um disparate" - António José Seguro

 

VCP - SMA, com foto
 
Guimarães, 08 nov (Lusa) - O secretário-geral do PS, António José Seguro, afirmou hoje que a linha de austeridade defendida pela chanceler alemã Angela Merkel "está completamente errada" e "é um disparate", criticando Pedro Passos Coelho por ser "um bom executante" daquela política.
 
"A via da austeridade é defendida e exigida pela senhora Merkel e tem um bom executante em Portugal: o primeiro-ministro. Eu considero que é um disparate, que leva Portugal ao empobrecimento. Temos é de tirar Portugal da pobreza e gerar crescimento económico. Discordo dessa política da senhora Merkel", referiu, em Guimarães, à margem de uma conferência sobre "As universidades e a valorização do crescimento",
 
Questionado sobre a posição do primeiro-ministro de que o Governo avançará sozinho para o corte de 4 mil milhões de euros na despesa do Estado, Seguro respondeu: "O primeiro-ministro tem uma responsabilidade, ele é que governa, ele é que tem de fazer os orçamentos do Estado.
 
António José Seguro reiterou que a chanceler alemã "está completamente errada" quando advoga mais cinco anos de austeridade.
 
"Queremos é sair da crise pela via do crescimento económico. Aliás, a própria chanceler já começou vagamente a falar em crescimento económico", acrescentou.
 
Seguro sublinhou que a "austeridade faz parte do problema", contrapondo que o país precisa "é de fazer uma boa gestão dos dinheiros públicos, com rigor e disciplina orçamental", lado a lado com a aposta no crescimento económico.
 
"Os portugueses estão fartos de palavras, o que é necessário é passar das palavras à prática e resolver o principal problema, que é o fraco crescimento económico", acrescentou.
 

PS estará no Parlamento para discutir proposta do Governo de corte dos 4 mil milhões

 

JF – PGF – Lusa, com foto
 
Porto, 08 nov (Lusa) - O secretário-geral do PS, António José Seguro, afirmou hoje que o Governo vai ter que apresentar a proposta do corte dos quatro mil milhões da despesa no Parlamento e que o Partido Socialista "lá estará para discutir".
 
"Há aqui algo que deve ser clarificado. O Governo vai ter que apresentar essa proposta no Parlamento e o Partido Socialista lá estará para discutir", disse hoje António José Seguro, no Porto, aos jornalistas quando questionado sobre as declarações de quarta-feira do primeiro-ministro que disse aceitar que o PS se tenha excluído do processo de redução da despesa em 4 mil milhões de euros.
 
Na opinião do secretário-geral do PS, "o primeiro-ministro tem uma responsabilidade que é governar".
 
"E como os portugueses gostariam que o primeiro-ministro governasse bem", disse.
 
No final da visita às instalações da UPTEC (Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto), Seguro sublinhou que "esses quatro mil milhões é uma responsabilidade que foi assumida pelo Governo com a ´troika´" e que a pergunta de como vão ser feitos esses cortes deve "ser dirigida ao primeiro-ministro".
 
"O PS foi muito claro em relação a essa matéria. Total disponibilidade para discutirmos a modernização do Estado. Total indisponibilidade para dizer ao Governo o que é que ele deve fazer", sintetizou.
 
O líder socialista enfatizou que "quem governa o país é o primeiro-ministro e é o Governo" e que "há uma maioria no Parlamento", questionado "porque é que se lembraram agora do PS, ao fim destes meses todos".
 
"Nós estamos a discutir o orçamento para 2013. O Governo já falou na necessidade, porventura, de um retificativo, com cortes de mais 800 milhões de euros e agora já querem discutir o orçamento para 2014 ? Vamos discutir o orçamento para 2013 que este orçamento é uma autêntica bomba atómica fiscal sobre os contribuintes", criticou.
 
Seguro afirma ainda que "sobre esta matéria tem havido a maior das confusões", clarificando que o "que o Governo quer é cortar quatro mil milhões de euros na saúde pública, na escola pública, na segurança social pública" e que o "PS está contra".
 
"Outra coisa completamente diferente é discutirmos a modernização do Estado português. Como é que o tornamos melhor, mais amigo das pessoas, das empresas, mais eficiente e para isso o PS tem total disponibilidade", enfatizou.
 
Na opinião do líder da oposição uma reforma destas "não se faz de afogadilho", não se faz "em dois ou três meses".
 
"Isso é algo que tem que mobilizar a sociedade portuguesa, os parceiros sociais, as universidades, os portugueses", considerou.
 

Visita de Merkel: PSP ESTÁ PREPARADA PARA TODAS AS MANIFESTAÇÕES

 

 
PSP garante que está preparada para todas as manifestações que possam surgir durante visita de Merkel
 
CMP – MAG - Lusa
 
Lisboa, 08 nov (Lusa) - A PSP garantiu hoje que está preparada para todas as manifestações que possam surgir durante a visita da chanceler alemã, Angela Merkel, a Portugal, que exige "uma operação policial cuidada".
 
Em conferência de imprensa, em Lisboa, a PSP afirmou que o policiamento vai ser reforçado, na segunda-feira, devido à visita de Angela Merkel e à realização de manifestações e ações de protesto em diversas cidades, especialmente na capital portuguesa.
 
Sem divulgar o número dos polícias destacados, a porta-voz da Polícia de Segurança Pública (PSP), subcomissária Carla Duarte, adiantou que o dispositivo de segurança montado inclui diversas valências PSP, da investigação criminal, do trânsito e da aeroportuária, à Unidade Especial de Polícia (UEP).
 
A porta-voz disse que a PSP, em colaboração com outras forças e serviços, é responsável pela segurança e policiamento durante a visita, nomeadamente da segurança pessoal da chanceler alemã, para a qual vai contar também com a colaboração dos agentes que acompanham Angela Merkel.
 
Carla Duarte sublinhou igualmente que se trata de "uma operação policial cuidada", que contou com reuniões preparatórias, como qualquer outra visita de um chefe de Estado a Portugal, quando é necessário garantir a segurança nos locais de visita e percursos a utilizar.
 
No entanto e por estarem marcadas várias manifestações, existiu "a preocupação de montar o policiamento" nos locais dos protestos, disse.
 
Segundo a PSP, o policiamento vai ser montado de acordo com os protestos previstos.
 
"A PSP prepara-se para todas as ações que possam existir, quer as que estão planeadas, quer as que possam ser inopinadas, quer as que possam insurgir-se com maior intensidade. [A PSP] está preparada com unidade de reserva, como sempre", realçou.
 
Carla Duarte disse ainda que todas as possibilidades, mesmo as manifestações que possam acabar em violência, foram equacionadas.
 
"Temos de averiguar todas as possibilidades neste tipo de situações", afirmou.
 
Algum do dispositivo de segurança vai levar ao condicionamento ou interdição da circulação de pessoas e automóveis, nomeadamente nos espaços envolventes da residência oficial do primeiro-ministro, da Assembleia da República, da Presidência da República e do Centro Cultural de Belém.
 
A avenida da Índia, entre o Centro Cultural de Belém e a Presidência da República, vai estar cortada ao trânsito a partir das 08:30 de segunda-feira.
 
A PSP não definiu quais as vias que vão estar interditas ao trânsito, porque vão ser cortes pontuais e não vão causar grandes transtornos, explicou a porta-voz, que não se pronunciou sobre o programa e o percurso da chanceler alemã.
 

Lituânia: O KGB AINDA MEXE!

 


Veidas, Vilnius – Presseurop – imagem FaceMePLS
 
Vinte e dois anos após o desmantelamento do KGB, as ligações à organização continuam a desencadear fortes emoções na Lituânia. A publicação dos nomes de ex-colaboradores dos serviços de segurança soviéticos traz a lume políticos e quadros do Estado. Será que ainda representam uma ameaça para o país?
 
 
O KGB [Comité de Segurança do Estado] – os serviços de informação da União Soviética – foi desmantelado em outubro de 1991. Desde então, sempre que o Centro de Pesquisa sobre Genocídio e Resistência na Lituânia publica um novo documento – listas de quadros ou antigos agentes do KGB, ou testemunhos sobre a atividade dos agentes soviéticos –, desencadeia-se uma enorme reação: o sítio de Internet do centro (www.genocid.lt) deixa rapidamente de funcionar, devido ao afluxo de visitantes. Dentro de 50 anos, a história do KGB deixará de suscitar grande interesse, mas, hoje, continua a afetar as vidas e as relações de muitos lituanos, nomeadamente dos ex-agentes da segurança soviética que se tornaram políticos ou altos quadros do Estado.
 
Mais uma vez, a recente publicação da lista dos coordenadores dos serviços regionais do KGB desencadeou novas reações acaloradas. Consta dela o nome do diretor do Instituto da Polícia Criminal, Algirdas Matonis, entre os de muitas pessoas que ocupam atualmente cargos importantes. Até agora, a sociedade lituana desconhecia esse seu passado.
 
Segredo de Estado
 
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, mais de 100 mil pessoas trabalharam para o KGB, na Lituânia. Em 1990, cerca de 6000 lituanos eram agentes da organização. A grande maioria escapou à lustração [purga política] e trata esse passado como um segredo. Cerca de 1500 ex-colaboradores optaram por reconhecer a sua participação e ver, assim, a sua relação com a segurança soviética cair na categoria de segredo de Estado, segundo os termos de uma lei promulgada em 1999. Entre os agentes confessos, muitos trabalharam para o KGB bastante antes de 1990.
 
Não há dados precisos que permitam quantificar o número de ex-funcionários do KGB que hoje trabalham na Função Pública. Segundo Arvydas Anusauskas, que chefia a comissão parlamentar de defesa e segurança nacional, um milhar de quadros lituanos trabalhava ainda para o KGB aquando do seu desmantelamento, em 1991. Alguns reformaram-se. Cerca de 200 entraram para serviços do Estado. Na sequência da aprovação da lei de 1999, que prevê restrições à contratação de ex-funcionários e agentes do KGB pela Função Pública, apenas algumas dezenas de pessoas obtiveram autorização judicial para manter os seus cargos.
 
Entravados pelo seu passado
 
Terese Burauskaite, diretora do Centro de Investigação sobre Genocídio e Resistência na Lituânia, analisa há muitos anos os arquivos do KGB e afirma reconhecer entre altos quadros do Estado pessoas que trabalharam para o KGB e não o admitiram. Mas é difícil prová-lo em tribunal. "Nós, investigadores, não dispomos de provas suficientes, pois apreciamos a atividade como um todo. Mas a justiça tem uma abordagem diferente. Nem todos os documentos apresentados têm necessariamente valor legal. São cópias, documentos sem assinatura, rascunhos, cadernos de trabalho. Sabemos que o material é verdadeiro, os nomes das pessoas estão lá, mas isso não basta para ser usado como prova em tribunal", lamenta.
 
Vários candidatos foram entravados pelo seu passado de agentes do KGB na última eleição legislativa. Foi o caso de um famoso químico que teve que admitir ter colaborado com a segurança soviética: afirmou que essa colaboração durou apenas um ano, mas provou-se que se prolongou por uma década. Os nomes de vários políticos aparecem nas listas de agentes do KGB na reserva, publicadas recentemente pelo Centro de Investigação. Pelo menos sete são membros do Partido Social-Democrata [que venceu as eleições parlamentares de 28 de outubro e vai formar o próximo governo]. O mais famoso é o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e atual embaixador na Letónia, Antanas Valionis. As restrições [nos termos da lei de 1999] para antigos funcionários na reserva do KGB expiraram em 2009. Isso significa que, hoje, os antigos membros do KGB podem ocupar qualquer cargo público.
 
Arvydas Anusauskas não considera isso preocupante. "Se, através dessa lei, uma pessoa perdeu um emprego de procurador, quais são as possibilidades de ser contratado passados dez anos? As suas competências e conhecimentos já deixaram de ser válidos", aponta.
 
Atraídos com promessas ou ameaças
 
Os documentos revelam que nenhum lituano colaborou de bom grado com o KGB. Como explica Terese Burauskaite, os novos colaboradores eram atraídos quer com promessas quer com ameaças. Daí a maioria dos ex-funcionários do KGB ter acolhido tão bem a oportunidade de se redimir. Os que não se confessaram perderam a paz de espírito para sempre, porque nunca vão ter certeza de que a sua relação com o KGB não será revelada algum dia, defende a diretora do Centro.
 
Deve-se então temer o espetro do KGB? Questionado sobre os antigos agentes do KGB que podem, eventualmente, continuar a passar informações à Rússia, Arvydas Anusauskas responde em abstrato: não é possível rejeitar essa hipótese, mas também é impossível responder de forma mais concreta. Igualmente impossível é negar que ex-agentes do KGB na Rússia e na Lituânia continuem a estar em contacto, a entreajudar-se em questões profissionais e a partilhar informações. "Como disse Putin, ex-KGB é coisa que não existe. Nesse aspeto, tem razão", resume o deputado conservador.
 

UMA ESCOLA DE TRISTE MEMÓRIA

 


Mário Augusto Jakobskind* – Direto da Redação
 
Quando se fala em torturas e assassinatos ocorridos nos anos de chumbo no Brasil e em outros países do Cone Sul não se pode esquecer do local onde centenas de militares brasileiros foram treinados por oficiais estadunidenses. A referência é a Escola das Américas, que funcionava no Panamá e hoje funciona nos Estados Unidos. Em 2001, a escola, agora no Forte Benning, na Geórgia, mudou de nome e país, passando a se chamar Instituto de Cooperação e Segurança do Hemisfério Ocidental.
 
Para se ter uma ideia, pela Escola das Américas passaram, entre outros, o general chileno Manoel Contreras, que chefiou a polícia política da ditadura de Augusto Pinochet e cumpriu até pena por assassinatos e torturas a presos políticos.
 
Na escola também conhecida como de assassinos, instrutores estadunidenses adestrados para esse fim seguem ensinando a oficiais latino-americanos a melhor forma de torturar. Só depois de 1996 o Brasil deixou de mandar militares treinarem na escola de assassinos.
 
Nos Estados Unidos, grupos progressistas que não aceitam como norma o ensino da tortura a opositores realizam protestos na entrada de Fort Benning (foto). Este ano está marcado para os próximos dias 16 e 18 de novembro novos protestos que deverão contar com a participação de milhares de ativistas e religiosos, como tem acontecido em outros anos.
 
Em alguns países, entre os quais a Argentina, onde crimes contra a humanidade foram cometidos, os responsáveis foram ou estão sendo julgados. Seria tema de pauta saber quantos dos condenados passaram pela Escola das Américas.
 
Não se pode esquecer também que pelo menos desde 1996 foram tornados públicos manuais utilizados na escola de assassinos que recomendavam a aplicação de torturas, chantagens, extorsão e pagamento de recompensas por inimigos dos regimes. O tempo passou e poucos anos depois se tornaram conhecidas as torturas praticadas por militares estadunidenses no Iraque. Foram aplicados os mesmos métodos que os da escola de assassinos que adestrou oficiais militares latino-americanos.
 
Mesmo o Brasil, deixando para trás o regime de exceção implantado no país depois de abril de 1964, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), os cadetes continuaram a aprender nos currículos de formação as mesmas matérias do período da Guerra Fria, que moldaram a mentalidade dos militares. Em 1964, por sinal, o comandante da AMAN era nada mais nada menos que o então Coronel Garrastazu Médici, imposto posteriormente à condição de Presidente da República e responsável por um dos períodos mais duros em matéria de violência institucional.
 
E por incrível que pareça, os currículos praticamente não mudaram, tanto assim que Médici já foi indicado como patrono de formandos da AMAN. Hoje, quando o Brasil avança, (lentamente, mas avança) na área de direitos humanos, está na hora de mudar os currículos e aprimorar na formação dos cadetes a questão dos direitos humanos.
 
É recomendação inclusive da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), aceito pelo Estado brasileiro, ampliar o ensino dos direitos humanos no currículo de formação militar, conforme previsão da Estratégia Nacional de Defesa.
 
Nesse sentido, o Estado brasileiro se compromete a realizar estudo sobre a possibilidade de firmar convênio de cooperação com o Instituto Interamericano de Direitos Humanos, cujo objetivo é assegurar, através do curso de capacitação, que a formação dos praças e oficiais das Forças Armadas do Brasil atenda aos padrões internacionais de proteção de direitos humanos.
 
Todas essas questões se devem ao acordo, mediado pela OEA, entre o Estado e a família do cadete Marcio Lapoente da Silveira, morto na AMAN em 1992 quando participava de exercícios. Lapoente sofreu violências por parte de um instrutor e morreu. A família apelou para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que fez as recomendações para o Estado brasileiro.
 
Pelo acordo foi fixada uma placa na AMAN em homenagem ao Cadete Marcio Lapoente da Silveira e outros 22 cadetes mortos em circunstâncias semelhantes na AMAN.
 
Militares da reserva, os tais óleos queimados da história que a todo ano reverenciam no Clube Militar o golpe civil militar de abril de 64, chegaram a lançar até nota condenando a aceitação do acordo. As ameaças feitas contra o ato de grandeza do Estado brasileiro só foram lidas por eles mesmos.
 
A propósito do golpe de 64, já que neste momento se fala tanto em quadrilhas, ou punir quadrilhas, como a do mensalão, não seria o caso de se condenar de fato os remanescentes da quadrilha que tomou o poder a força há quase 50 anos e conduziu o país a uma longa noite escura? Quando se fala nisso, os defensores da impunidade lembram que os ministros do STF confirmaram a vigência da lei da Anistia. No Chile, apesar da vigência da lei da anistia da época de Pinochet, responsáveis por crimes contra a humanidade continuam sendo julgados.
 
Em tempo: derrotar Mitt Romney será um alívio para toda a humanidade. Não é à toa que o presidente Hugo Chávez declarou que se fosse norte-americano votaria em Barack Obama.
 
*É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
 

O MERCOSUL, A AMÉRICA DO SUL E O MUNDO

 

Há uma compreensão insuficiente, nos dois principais países da América do Sul, quanto à urgência da construção de um processo político e de instituições de integração que permitam o desenvolvimento econômico e político regional a partir do Mercosul. Exemplos disto são as relutâncias em fortalecer a Secretaria do bloco, em expandir o Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul, em organizar o comércio das empresas multinacionais, em desenvolver políticas de ciência e tecnologia e a articulação entre Presidentes e Ministros. O artigo é de Samuel Pinheiro Guimarães.
 
Samuel Pinheiro Guimarães – Carta Maior
 
1. O mundo enfrenta extraordinária crise econômica, social e política, um processo silencioso de degradação ambiental e uma disputa (ainda surda) pela hegemonia mundial.

2. A crise econômica, que emergiu como financeira em 2008 com a falência da firma Lehman Brothers, em Nova York, se transformou rapidamente em uma crise social, com a propagação e a persistência de altos níveis de desemprego dentro e fora dos Estados Unidos, e com efeitos sobre o sistema político e os Governos de diversos países altamente desenvolvidos.

3. Na Europa, políticos conservadores foram eleitos e tecnocratas foram escolhidos para chefiar vários Governos, mas todos eles sob o controle e a orientação da Troika, integrada pelo Banco Central Europeu (BCE), pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela Comissão Européia.

4. A Troika, para liberar recursos para “salvar” os Governos devedores dos megabancos e em situação fiscal cada vez pior devido à recessão, exige a execução de políticas de austeridade fiscal, cujo resumo poderia ser o seguinte: salvem-se os bancos (e seus acionistas) com recursos publicos e para tal que se elevem os impostos sobre os trabalhadores e a classe média, que se reduzam os salários, que se cortem os programas sociais e os benefícios previdenciários. Estas medidas, que tem uma natureza pró-cíclica, ao reduzir a demanda agravam a recessão, aumentam o desemprego e as tensões e revoltas sociais, em especial nos países que se encontram na periferia da Europa, muitas vezes chamados, de forma irônica e depreciativa, pelo acrônimo de suas iniciais, em inglês PIIGS: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (Spain).

5. Enquanto isto, nos Estados Unidos da América, país devoto, patrocinador e promotor do neoliberalismo, o embate entre os republicanos, de direita e ultra direita, e os democratas, de centro e ultra centro, impede a execução de uma política contra cíclica efetiva de superação da crise. As medidas até agora adotadas têm beneficiado bancos, banqueiros, executivos e investidores com a compra dos títulos tóxicos e uma derrama de trilhões de dólares enquanto os trabalhadores continuam a sofrer com o desemprego e o subemprego e a estagnação, há mais de 20 anos, do salário médio real.

6. A crise econômica e financeira, que permanece (em parte) devido à resistência das instituições financeiras a serem regulamentadas (inclusive quanto aos fundos nos paraísos fiscais) e, de outro lado, à reduzida expectativa de lucros que leva à aversão ao risco de novos investimentos de parte dos capitalistas, se encontra nas economias desenvolvidas tradicionais, mas não nas novas economias capitalistas da República Popular da China, da Índia e de outros países emergentes tais como Brasil, onde os lucros são extraordinários e os incentivos aos investidores, especulativos ou não, ainda maiores.

7. Quando se toma a economia capitalista como um todo, isto é quando se considera a economia mundial, ela pode ser comparada a uma economia nacional onde, enquanto certas regiões (países) se expandem, outras regiões (países) se contraem. Os capitalistas e suas megaempresas sabem onde estão as oportunidades de lucros, em especial onde se encontram as oportunidades de lucros extraordinários e nestes casos não exibem nenhuma aversão ao risco.

8. Mas, os efeitos da crise sobre os sistemas políticos nacionais e internacionais são enormes. Há extraordinária preocupação nas classes hegemônicas dos países capitalistas tradicionais, os Estados Unidos da América e as Potências européias significativas, que são a Alemanha, a França, a Inglaterra e a Itália (os demais países europeus são, em realidade de pouca monta política e econômica) com a profunda insatisfação política e social que coloca em risco o seu controle político em especial na União Européia. Se, por um lado, investidores, capitalistas e megaempresas lucram com a expansão econômica na periferia de países emergentes, no centro do sistema mundial outros integrantes das classes hegemônicas, tais como políticos, intelectuais orgânicos e tecnocratas das instituições internacionais, se preocupam com a sobrevivência de sua hegemonia e do sistema.

9. Depois, porque a crise nos países capitalistas centrais acaba por afetar os países emergentes devido aos vínculos estreitos que unem emergentes a desenvolvidos, em especial no campo do comércio. Assim, temem que a crise econômica venha a se propagar para toda a economia mundial, fazendo com que os lucros e as expectativas de lucros se esvaeçam e a crise política se globalize, inclusive com a exacerbação das disputas por mercados e pelo acesso a recursos naturais.

10. Neste processo, há a emergência da China (os demais países emergentes em realidade não contam ou por serem apenas supridores de matérias primas ou por terem de enfrentar desafios colossais, como é o caso da Índia devido ao sistema de castas, (inconstitucional mas que sobrevive) ao seu complexo sistema político, à multiplicidade de idiomas e culturas e a sua base industrial menor). Os estrategistas americanos veem a emergência da China como o grande desafio para o que eles mesmos chamam, com toda a clareza e sinceridade, de hegemonia americana, o que significa na prática um sistema mundial que resulta em benefícios políticos e econômicos para os Estados Unidos, e que, segundo eles, beneficiaria a toda a “comunidade internacional”, ou pelo menos o Ocidente central e periférico.

11. Neste panorama internacional, a América do Sul se encontra em situação marginal. Sua capacidade política de influir sobre a grande crise e sobre a reorganização do sistema mundial é diminuta pela insignificância relativa de sua indústria, devido à sua não autonomia já que é constituída em extensa parte por megaempresas multinacionais, e pela vulgaridade (no sentido de comum) de suas matérias primas, que têm numerosos concorrentes tradicionais e futuros, que resultarão da investida chinesa na África, e pela sua desunião política.

12. Na América do Sul, há três Estados vinculados à evolução da economia e à estratégia econômica dos Estados Unidos pelos acordos de livre comércio que celebraram (e que limitam gravemente sua autonomia de política econômica) que são o Chile, o Peru, e a Colômbia, esta dilacerada pela guerra civil e vinculada pelo Plano Colômbia e pelos acordos militares aos Estados Unidos.

13. As tentativas de união sul-americana e ainda mais latino-americana como a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) enfrentam este enorme desafio. São Estados assimétricos em extremo, frágeis, vinculados à esfera de influência econômica e política americana. É uma tarefa de Sísifo, que pode, se não houver o devido cuidado, desviar a atenção da tarefa prioritária de fortalecimento, expansão e aprofundamento, do Mercosul.

14. Brasil e Argentina, núcleo do Mercosul, têm mais de 50% do território, da população, do comércio exterior da América do Sul e de sua indústria. São Estados que retiveram sua capacidade de planejar e executar política econômica e política externa. Tudo o que os estrategistas norte-americanos, aliás, com razão, não desejam é ver uma união mais estreita entre o Brasil, a Argentina e a Venezuela, com suas extraordinárias reservas energéticas e minerais.

15. Se adicionarmos o Paraguai e o Uruguai, o Mercosul atinge números extraordinários, decantados nas manifestações mais utópicas que comparam o bloco sul-americano com outros blocos de países.

16. Os países do Mercosul têm enfrentado suas extraordinárias desigualdades sociais e econômicas com políticas firmes (no caso social) para sua redução. A Venezuela foi o país na região que alcançou maior progresso na redução das desigualdades e do analfabetismo; o Brasil, com seus programas sociais inovadores, tem feito grandes progressos na redução da pobreza absoluta e a Argentina também alcançou notáveis resultados neste campo.

17. Todavia, há uma compreensão deficiente ou, talvez melhor, insuficiente, nos dois principais países da América do Sul, quanto à urgência e à prioridade da construção de um processo político e de instituições de integração que permitam o firme desenvolvimento econômico e político regional a partir do Mercosul. Exemplos disto são as relutâncias em fortalecer a Secretaria do Mercosul, em expandir o FOCEM (Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul), em organizar o comércio intrarregional das megaempresas multinacionais, em desenvolver programas concretos de ciência e tecnologia, em promover, de forma mais intensa e constante, a articulação política entre Presidentes e Ministros.

18. Ficam eles, em especial o Brasil, enleados no mito do livre comércio, sem reconhecer que este levaria a uma hegemonia industrial brasileira, indesejável e perigosa, e sem reconhecer o papel das megaempresas multinacionais em suas economias, em seu comércio exterior e em sua falta extraordinária de dinamismo tecnológico.

19. Sem desprezar, sem esquecer, sem menosprezar a tarefa de fortalecer o Mercosul para enfrentar a crise e a reorganização mundial no século XXI, devem os Estados do Mercosul procurar estreitar seus laços com os países vizinhos da América do Sul e procurar fazer com que venham eles a participar como membros plenos do Mercosul, a começar pela Bolívia, pelo Equador e, em seguida pela Guiana e pelo Suriname, levando em conta, com toda a seriedade e realismo, as assimetrias existentes e suas necessidades de desenvolvimento econômico e industrial que o livre comércio, não praticado pelas Grandes Potências, jamais poderá trazer.
 

OBAMA É BRASILEIRO

 

João Almeida Moreira – Dinheiro Vivo
 
O candidato democrata é um fenómeno de popularidade em qualquer ponto do mundo e também no Brasil. Aliás, mais no Brasil do que em qualquer outro ponto do mundo.
 
Mikhail Gorbatchev, no tempo da Glasnost e Perestroika, era o homem mais amado à face da terra. Exceto na sua União Soviética, em que a minoria não tão minoritária assim que defendia o antigo regime o odiava e a maioria que sofria com o regresso do racionamento, o défice público gigantesco e a dívida externa de 120 mil milhões de dólares, o condenava.
 
Barack Obama, o primeiro presidente pop dos EUA depois de JFK, sofre do Efeito Gorbachev. Como se tem verificado em sondagens um pouco por todo o globo, fora dos EUA Obama venceria Mitt Romney de goleada. E na sua casa a votação será apertada (a esta hora ainda não se sabem os resultados finais). Um, Obama, e outro, Gorbachev, têm ou tiveram o mundo a seus pés mas não necessariamente os seus países.
 
O Brasil também torceu pelo candidato democrata nesta campanha.
 
Desde logo, o Itamaraty (nome porque é conhecido o Ministério das Relações Exteriores brasileiro por causa do palácio onde está sediado) porque com Obama o Brasil passou a ser o país que recebe mais vistos dos EUA à frente da China, foram estabelecidos acordos de cooperação na área dos biocombustíveis e das energias renováveis, facilitadas vagas nas universidades americanas para estudantes brasileiros no âmbito do programa Ciência Sem Fronteiras e realizados progressos na redução dos mútuos protecionismos comerciais. Obama visitou Dilma Rousseff apenas dois meses depois da presidente(a) ter sido eleita e disse na ocasião que o crescimento do Brasil é um dos seus “empreendimentos prioritários”, como antes dissera “I love this guy” enquanto cumprimentava calorosamente Lula (veja o vídeo aqui).
 
Mas é fora dos portões do Itamaraty que o amor por Obama é mais profundo. Porque é incondicional. Naquela visita ao Brasil espalharam-se cartazes a dizer “Obama, o Brasil te ama”, há cada vez mais desportistas chamados pela alcunha Obama e é fácil encontrar sósias do presidente americano, de fato e gravata, a animar as praias ou os estádios do país. Porque o povo brasileiro, que tem o povo americano como modelo, passou, com Obama, a ter um presidente americano como modelo. Ele podia ser brasileiro: na cor, no swing, no afeto. A ascensão social de um preto, ou negro, ou afro-americano, enquanto não inventarem um nome ainda mais politicamente neutro, tocou o coração dos brasileiros.
 
O Brasil é um dos raros lugares do planeta em que judeus e árabes vivem lado a lado, estudam e trabalham nos mesmos lugares, e, não raramente, se casam e reproduzem. Skinheads e outros grupos de aberrações, de tão residuais, nem são estatística. E no futebol, o lamentável costume europeu de imitar um macaco quando um jogador africano conduz a bola não existe. Não se concebe. À superfície, o racismo não é problema no Brasil. No fundo é. A escada sócio-económica (ainda) é quase impossível de subir e os negros ou pardos (mestiços), 45 por cento da população, estão na sua maioria entre os brasileiros de menores rendimentos. Os EUA, pelo contrário, com apenas 12 por cento de afro-americanos já têm um presidente negro – até nisso se tornaram um modelo para o Brasil.
 
Mas com 44 presidentes ao longo da história e 53 por cento de mulheres na sua população, os EUA ainda não foram capazes de eleger uma. Nesse departamento, o modelo é o Brasil.
 
*Jornalista - Crónicas de um português emigrado no Brasil - Escreve à quarta-feira

Portugal: O CASO DO HOMEM QUE QUERIA AGREDIR MIGUEL RELVAS

 


Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues
 
Afinal o homem que foi à Horta para agredir o Miguel Relvas é o jornalista Nuno Ferreira, que trabalhou para o "Expresso e para o "Público" e que muitos camaradas seus conhecem e apreciam (a insuspeita Ana Sousa Dias, no seu facebook, classifica como "um grande repórter e ótimo companheiro de trabalho"). Afinal, segundo a versão de Nuno Ferreira, a sua ida à Horta não se terá devido a Relvas mas corresponde a um projeto que está a desenvolver: "Açores a Pé Pelas Nove Ilhas". Afinal não se terá instalado propositadamente num quarto próximo de Relvas, até porque deu entrada naquele hotel antes do ministro. Afinal não terá tentado agredir ninguém. Apenas terá dito, no hall de entrado do hotel onde estavam os dois instalados, "você não tem vergonha na cara de andar por ai depois de tudo o que tem feito?" O seu crime terá sido protestar, pacificamente, com um cartaz, em frente à Assembleia Legislativa. "Bem-vindo excelentíssimo sr. dr. Miguel Relvas, Angola gosta do senhor doutor". E, depois de o fazer, terá sido detido quando se dirigia para o seu quarto, no hotel.
 
Já nem choca a mentira que as forças de segurança fizeram circular sobre o jornalista para justificar a sua própria arbitrariedade ou incompetência. O que nos deve preocupar é a repetição de episódios deste género - lembram-se da identificação de um estudante que protestou, dentro das instalações da sua faculdade, contra Passos Coelho, e a agressão a um jornalista da TVI? Acossado e sem se poder deslocar a lado nenhum sem ter de ouvir os protestos dos portugueses, com ministros que, só pela sua presença no Executivo, insultam a dignidade da República, o governo parece apostado em criminalizar a contestação.
 
Mas, acima de tudo, choca como a comunicação social terá sido tão lesta a comprar a versão dos seguranças do Miguel Relvas, quando ela ainda nem podia ser confirmada pelo principal envolvido. Não posso garantir com toda a certeza que o jornalista Nuno Ferreira esteja a contar a verdade. Mas entre ele e os capangas de Relvas não me é difícil escolher quem tenha mais credibilidade. A ver se nos entendemos: este governo, como outros que o antecederam, tem uma relação complicada com a verdade. Seria melhor a comunicação social não comprar as suas versões sem tratar de garantir antecipadamente o contraditório. Até porque, diz-se, é essa a sua obrigação.
 
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