quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

NOITE DE NATAL NA CALÇADA PORTUGUESA SOMADA À ARTE... DESUMANA


Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

São verdadeiros artistas do empobrecimento dos países e dos povos. A receita artística é distribuir a riqueza só por alguns, os soberanos. Artistas que até mesmo na República conseguem fazer vingar suas artes como se verdadeiros e cruéis reis sejam. Oficialmente podem, por exemplo, ser presidentes da dita República, podem ser primeiros-ministros, podem ser ministros e coadjuvantes, podem ser deputados, juízes, banqueiros, grandes empresários, gestores e outros mais dessa cáfila que vulgarmente o povo denomina de "eles", vampiros, chulos, insaciáveis devoradores, etc.

São esses os artistas. Artistas, como no caso da imagem acima, que adicionam miseráveis sem-abrigo à arte da calçada portuguesa para lhe emprestar elementos de... Humanidade? Em Portugal, país da calçada e dos miseráveis, também todos os artistas têm nome. Lembro alguns desta tenebrosa atualidade: Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho, Paulo Portas, os seus ministros e outros executantes governativos do bando, Espírito Santo, Mexias, papagaios que debitam as vozes dos donos na Assembleia da República... Tantos. Tantos. Sem esquecer os devoradores do arco do poder e da corrupção.

E assim a calçada portuguesa fica melhor ornada. Está presente também a fome, apesar da objetiva não mostrar por se ter volatilizado nos ares lusos que respiramos. Imagem de valor incalculável. Rica, pela desumanidade. Mais rica de motivos ao acrescentar-lhe o miserável sem-abrigo. Imagem muito mais valorizada em qualquer noite de natal... E também na noite de hoje.

Feliz natal? Para quantos? O menino nasceu... Portugal está a morrer. Morre por via da miséria, das injustiças, dos roubos dos devoradores artistas atrás citados e muitos outros mais. Feliz natal? Para quem? Certamente que não para os que já são nesta República ninguém.

ENQUANTO A REVOLTA NÃO EMERGE PARA ANIQUILAR A GANÂNCIA DAS ELITES CRIMINOSAS




Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
em de morte morrer-se,
e de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?

Jorge de Sena

(lembrança de amigo - título PG)


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