domingo, 26 de janeiro de 2014

UMA ONDA NEONAZISTA NO OCIDENTE

 


Marcelo Hailer, na revista Fórum – em Pravda.ru

Nesta semana, o jogador da seleção da Croácia Josip Simunic foi banido pela Fifa e está fora da Copa do Mundo de 2014. O zagueiro, após a vitória sobre a Irlanda (em novembro), pegou o microfone e entoou cânticos nazistas com o apoio da torcida. A Fifa considerou inadequada a postura do atleta.

Porém, o caso do desportista não é um fato isolado, principalmente diante dos últimos ocorridos na Europa. No começo deste ano, Paris foi palco de uma manifestação contrária ao casamento igualitário, que reuniu cerca de 1,5 milhão de pessoas, porém, o presidente Hollande peitou os grupos conservadores e fez campanha pessoal pela aprovação do projeto, fato que ocorreu em maio.

Na Grécia, foram eleitos seis parlamentares do partido Aurora Dourada, assumidamente neonazista. Recentemente, o líder do partido, Nikos Mihaloliakos, foi preso acusado de fazer parte de um grupo clandestino neonazista envolvido em assassinatos e lavagem de dinheiro. Outros três parlamentares do Aurora Dourada foram presos sob a mesma acusação.

Mas não é apenas na Europa que os ideais eugenistas (base da ideologia nazista) ressurgem, nos EUA e Brasil também. Lá como cá, esses grupos estão organizados nos partidos políticos, nas assembleias e nos meios de comunicação. Os discursos são os mesmos: anti-políticas raciais, contrários a qualquer avanço na legislação no que diz respeito às LGBT e aborto e, principalmente, sobre políticas de drogas.

No Brasil, por exemplo, mais de uma vez, o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) declarou que a África é um "continente amaldiçoado" e que o líder Nelson Mandela implantou a "cultura de morte na África do Sul". E os companheiros de bancada do pastor propagam a ideia de que homossexuais são doentes passíveis de cura. São pensamentos que lembram os eugenistas no século XIX. Com os ativistas do Tea Party norte-americano (ala radical do Partido Republicano) se dá o mesmo.

Com este cenário que se espalha por vários países, será possível afirmar que o Ocidente vive uma nova onda eugenista/neonazista? Para a socióloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Carla Cristina Garcia, não há dúvidas de que vivemos uma nova onda das teses que fundaram o nazismo. Garcia, que também coordena o núcleo de pesquisa sobre feminismo e sexualidades - Inanna - diz que é correto falar em nova onda, pois, as ideias que têm permeado o ideário conservador do Ocidente, nunca deixaram de existir, mas, neste momento, ganham nova força com a ascensão dos movimentos mais progressistas.

Nesta semana, um jogador da Croácia foi expulso da seleção por ter cantado cânticos nazistas ao fim de uma partida em novembro com o apoio da torcida; neste ano, membros do partido grego neonazista Aurora Dourada foram presos depois que investigação descobriu que eles faziam parte de uma quadrilha nazista; no Brasil setores sociais e políticos têm propagado o discurso de ódio contra LGBT, mulheres, aborto, droga... Pode-se dizer que o Ocidente vive uma nova onda eugenista?

Sem dúvida alguma vivemos uma nova onda do pensamento eugenista e é bom frisar o termo onda, pois a ideia, ou melhor, o ideal eugênico nunca desapareceu da sociedade ocidental.

Talvez seja importante lembrar que todas as teorias racistas modernas são fruto do pensamento eugenista, mais precisamente norte-americano, que desenvolveu um tipo específico de eugenia, conhecida como "eugenia negativa": eliminação das futuras gerações de "geneticamente incapazes" - enfermos, racialmente indesejados e economicamente empobrecidos -, por meio de proibição marital, esterilização compulsória, eutanásia passiva e, em última análise, extermínio. O aumento no número de imigrantes no final do século XIX levou o grupo dominante no país, os protestantes cujos ancestrais eram oriundos do norte da Europa, a buscar motivos para exclusão. Encontraram terreno fértil na pseudociência da eugenia.

Os eugenistas usaram os últimos conhecimentos científicos para "provar" que a hereditariedade tinha papel-chave em gerar patologias sociais e doenças. Os imigrantes tornaram-se alvos fáceis de defensores dessa nova "ciência", que empregaram os achados do movimento eugênico para construir a imagem dos imigrantes como pessoas deformadas, doentes e depravadas, encontrando eco em seus contemporâneos nas ciências sociais e na biologia, entre os quais a eugenia propagou-se como algo considerado perfeitamente lógico.

Esse retorno do discurso eugenista em vários países pode ser uma volta do discurso (se é que um dia ele já se foi) do Ocidente enquanto sujeito branco e familista?

Eu não chamaria de retorno do discurso eugenista, pois acredito que este nunca foi deixado de lado, todas as manifestações xenofóbicas por todo o mundo ocidental, o ódio ao estrangeiro propagado em muitos países europeus, além de exibir toda a questão do pensamento colonial, também demonstra claramente que xenofobia e eugenismo são frutos do mesmo tipo de pensamento eurocêntrico, branco e patriarcal.

Acompanhamos nos últimos meses o acirramento entre a bancada fundamentalista e os setores progressistas pró-LGBT, que terminou ontem com a vitória dos religiosos ao enterrarem o PLC 122 sob argumentos bíblicos. Por que é tão difícil se fazer aplicar o Estado Laico?

O problema aqui é muito mais complexo do que parece. Primeiro: há dois direitos individuais em conflito: o que assegura a liberdade religiosa e o que assegura a liberdade de consciência. As pessoas têm o direito de serem religiosas ou ateias, sem darem qualquer explicação. Acreditam ou deixam de acreditar como bem quiserem, e qualquer constrangimento a esses direitos é inconstitucional.

Segundo, o Estado é laico. Ser laico não significa ser ateu. Ser laico significa não tomar partido. Não cabe ao Estado defender essa ou aquela denominação ou agremiação religiosa, e tampouco cabe ao Estado pregar o ateísmo. Cabe ao Estado defender o direito das pessoas, individualmente, escolherem (ou não terem de escolher) se e no que acreditarem. Se alguém resolver acreditar no Coelhinho da Páscoa, cabe ao Estado laico defender tal direito.

Sobre aqueles que estão exercendo um cargo público são agentes do Estado. Logo, ele ou ela o representa perante a sociedade e, por isso, sua liberdade religiosa deve ser ainda mais resguardada enquanto estiver no exercício de sua função. Não há dúvida que ela pode rezar em casa ou no templo, independente de qual seja sua profissão. Mas, em sua vida política, ela é o Estado. E o Estado é laico. Como representante do Estado, ela não deve preferir (ou proferir) uma religião.

Além dos LGBTs, temos acompanhado o fortalecimento dos discursos contra indígenas, negros, usuários de drogas, mulheres e outros difamados. Na sua opinião, estes sujeitos, historicamente subalternizados, deixarão um dia a condição de sujeitos silenciados e difamados?

Há uma nova movimentação no mundo todo contra os abusos do capitalismo e do pensamento colonial. Acredito que a luta por direitos ainda está longe de acabar. Estas novas configurações dos movimentos sociais podem levar a um recrudescimento das forças conservadoras ou podem levar a outro tipo de organização social mais efetiva.
 
 

Ucrânia: CONSERVADORES E FASCISTAS UNIDOS NA DESESTABILIZAÇÃO

 

 
Voltam a correr o mundo notícias de duros enfrentamentos em Kíev, onde manifestantes oposicionistas e pró-europeus tentaram romper os bloqueios da polícia para invadir o parlamento ucraniano. Mais uma vez a mídia relata os fatos de maneira capciosa.

Fabrizio Verde em Marx21

A narração dos acontecimentos é, como normalmente ocorre nesses casos, maniqueísta: de um lado, os manifestantes democráticos, pró-europeus e obviamente amantes da liberdade. Do outro, o governo de Yanucovich, próximo das posições da Rússia, portanto inimigo jurado da liberdade e autoritário. Em suma, um regime repressivo e despótico que deve ser descartado.

É muito mau que praticamente ninguém tenha se preocupado em ir além das versões ocidentais. Para tentar enquadrar o que está acontecendo às portas da Rússia - um território estrategicamente importante - onde mais que um duro protesto pela suspensão da associação com a União Europeia e contra a política do governo, parece ser, ao contrário, uma verdadeira desestabilização - levada adiante no clássico estilo das revoluções coloridas - com vistas a sequestrar o país para a órbita da União Europeia e da Otan.

No entanto, bastaria não se deter na superficialidade dos acontecimentos e tentar ir mais fundo, talvez esboçando uma análise sobre a aglutinação de forças heterogêneas que representam a oposição pró-europeia, onde se destacam os "hiper-democratas" nazistas do Svoboda (Liberdade), para ter um mínimo de clareza sobre a questão.

O papel do Canvas

Fora da versão edulcorada e maniqueísta imposta pela mídia, encontramos aqui como o jornalista estadunidense e especialista de questões geopolíticas William Engdahl, obteve informações sobre o papel desempenhado na Ucrânia pelo Canvas (ex-Otpor), organização não governamental sérvia, ativa desde finais dos anos 1990, que se tornou o fulcro da oposição pró-ocidental ao presidente Slobodan Milosevic.

Fontes ucranianas de fato explicaram ao jornalista estadunidense que ônibus de todos os cantos do país são mobilizados para a capital, Kíev. Esses ônibus são lotados por estudantes e desempregados contratados para participar dos protestos, que distribuem na Praça Maidan - coração das manifestações - panfletos idênticos aos difundidos em 2011 na hoje famosa Praça Tahrir, do Cairo (Egito), lugar simbólico e palco das manifestações de protesto que levaram à derrubada de Hosni Mubarak.

É necessário, além de interessante e instrutivo, fazer uma retrospectiva para percorrer em grandes linhas a história dessa organização, já ativa na tentativa da "revolução laranja" na Ucrânia em 2004.

O influente "Center for applied non violent action and strategies" (Canvas) [Centro para a aplicação de ações não violentas e estratégias] descende da velha ONG "Otpor!" (Palavra sérvia que significa resistência), movimento que se forma e conquista apoio durante os bombardeios da Otan sobre a Iugoslávia, quando dá vida a uma forte campanha política e midiática voltada para a derrubada do presidente sérvio Milosevic. Tornou-se assim o coração da oposição pró-ocidental. Uma vez conseguida a queda de Milosevic, a organização em 2001 tentou transformar-se em partido político, apresentando-se nas eleições daquele ano. Mas a operação faliu, com uma chapa que alcançou o mísero índice de votação de 1,65%.

Nesse ponto os líderes do Otpor abandonam a ideia de transformação em partido político, decidindo dedicar-se à "consultoria". Passam a desempenhar um papel de primeiro plano, colocando à disposição as suas "competências", além de uma considerável quantidade de dólares, durante as chamadas revoluções coloridas nos países ex-soviéticos. Movimentos de oposição como Kmara na Geórgia e Pora na Ucrânia, entre 2003 e 2004, passam a contar com o apoio dos líderes do ex-Otpor, que em curto tempo se transforma em Canvas.

A organização Canvas, porém, aparece na ribalta da crônica internacional durante a chamada "primavera árabe", onde os movimentos de protesto por meio das redes sociais admitem não só que se inspiram na experiência do ex-Otpor, mas também de receber sua consultoria. Das revoluções coloridas à primavera árabe, para Otpor-Canvas a passagem foi breve, mas significativamente sempre estiveram voltados para a mesma direção - a que conduz rumo aos interesses dos EUA-Otan no cenário internacional.

Atualmente o Canvas se declara uma fundação educativa, à qual seria "proibido receber fundos de governos ou outras fundações". Na realidade - e isto jamais foi desmentido - o Canvas recebe regularmente enormes financiamentos de variadas proveniências, como a Fundação Adenauer, o Open Society Institute de George Soros, a International Renaissance Foundation, o National Democratic Institute de Madeleine Albright e a ONG estadunidense Freedom House (cujo orçamento é coberto em cerca de 80% pelo governo federal dos Estados Unidos), que inclusive contratou dois membros do Otpor como consultores nos movimentos na Ucrânia e Bielorússia.

Os nomes dos financiadores nos levam diretamente a quem está por trás das tentativas, do passado e atuais, de desestabilizar a Ucrânia: a União Europeia e os Estados Unidos, os mesmos que desempenharam um papel fundamental no adestramento dos ativistas sérvios sobre os métodos de combate e desordens na praça. Um ex-agente da CIA, Robert Helvey, foi de fato encarregado de ir a Budapeste (Hungria) para adestrar os membros do então Otpor. Tudo isso, financiamentos e ingerência da CIA, foi confirmado por uma investigação após a queda de Mubarak.

União Europeia, Klitschko e os nazistas do Svoboda

Uma vez apurado o papel do Canvas, que evidentemente se movimenta a favor de tudo o que vem estabelecido por Washington, é interessante descobrir a conexão entre o heterogêneo ordenamento da chamada oposição pró-ocidental e a União Europeia, além de com os incontornáveis Estados Unidos, como já mencionamos anteriormente.

Nesse sentido, figura paradigmática é o ex-campeão de boxe Vitaly Klitschko. Homem forte do partido de direita Udar, capaz de conseguir o apoio estadunidense e europeu, o ex-campeão atualmente indicado como líder da variegada oposição, é respaldado por Victoria Nuland, ex-representante estadunidense junto à Otan sob Bush, que atualmente assume o papel de secretária de Estado para Assuntos Europeus e Euroasiáticos da administração Obama. Nuland pode se orgulhar dos sólidos laços com os círculos neoconservadores: seu marido é Robert Kagan, conhecido falcão, estreito colaborador do ex-vice-presidente dos EUA, Dick Cheney.

No que se refere ao lado europeu, o jornal alemão "Bild" informa que a chanceler Angela Merkel em concertação com o Partido Popular Europeu (conservador), teria abertamente indicado Klitschko como candidato pró-europeu nas eleições previstas para 2015. Há tempos que a União Democrata Cristã da Alemanha (CDU) - partido da chanceler, juntamente com o PPE - oferece apoio econômico e logístico aos membros do Udar, fornecendo também adestramento político dos expoentes do partido de direita ucraniano.

O deputado conservador alemão no Parlamento Europeu Elmr Brok, que esteve em Kíev, chegou ao ponto de pedir aos dirigentes da oposição ucraniana que estejam dispostos a morrer para instaurar um novo caminho pró-europeu.

Encerramos esta breve resenha sobre a oposição ucraniana, que em nossas latitudes ainda é definida como "pró-democracia" - quando na realidade se trata de uma aglutinação de forças conservadoras e fascistas - como o Svoboda. Derivação direta do Partido Socialista Nacional Ucraniano (SNPU), assume a atual denominação em 1998, depois da eleição do seu líder Oleh Tiahnybok ao Parlamento ucraniano. Recorde-se o aberrante discurso sobre a tumba de um nazista ucraniano, onde vociferou contra "a máfia judia de Moscou".

Esse partido chauvinista e nazista cujos militantes foram indicados pelo "New York Times" como os mais "temíveis" manifestantes, autores "das iniciativas mais provocadoras como a ocupação de edifícios e escritórios do governo", é fautor do culto a Stepan Bandera, fundador da Organização dos Nacionalistas Ucranianos que em junho de 1941 uniu as próprias forças com as dos nazistas durante a invasão da União Soviética. A autorização para a atuação do Svoboda foi conseguida graças ao partido pró-alemão Batkivshina da corrupta Julia Tymoshenko, atualmente presa por apropriação indébita e fraude, que na última eleição fez aliança com os nazistas decididamente frutífera para estes últimos, que conquistaram 37 cadeiras. Enquanto isso, a sua influência aumenta cada vez mais, graças ao papel proeminente nos violentos protestos em curso.

Desinformação da mídia e deslumbramento de certa esquerda

Para descrever o papel mistificador da mídia nesses acontecimentos podemos recorrer ao que expressou um alto dirigente comunista, Pietro Secchia, por meio da sua coluna semanal no jornal "Rinascita", em 1950.

"Não é de hoje - escrevia Secchia - que a imprensa é um poderoso instrumento do qual se serve a classe dominante para manter a sua ditadura. O grande capital não domina somente com a banca, os monopólios, o poder financeiro, os tribunais e a polícia, mas também com os meios quase ilimitados da sua propaganda e da corrupção ideológica. Jamais, porém, como hoje, a imoralidade da imprensa capitalista se manifestou de forma tão vulgar e abjeta. Houve um tempo, no início da Idade Moderna, até as revoluções do século 18, em que, como escreveu Lênin, a luta pela liberdade de imprensa tinha a sua grandeza porque era a palavra de ordem da democracia progressista em luta contra as monarquias absolutas, o feudalismo e a Igreja. Mas na fase da decadência do capitalismo a imprensa conservadora e reacionária perdeu todo o senso moral e todo o pudor. O jornalismo a serviço dos grupos imperialistas é uma forma corrente de prostituição. O capitalismo em putrefação tem necessidade de mentir continuamente. A realidade o acusa, por isso deve ser falsificada. A fábrica de mentiras se tornou uma arte, uma técnica e uma norma de vida".

As palavras de Pietro Secchia, que mantêm uma extraordinária atualidade, bastam por si sós para descrever o papel dos meios de informação, incluindo os chamados de esquerda, que continuam a manter o dístico de jornal comunista.

São fruto de clara má fé as tolices de certa esquerda, que sem qualquer hesitação apoia as políticas imperialistas. Destaca-se sobre os demais o deputado Boccadutri, parlamentar do partido Socialismo e Liberdade (SEL) que no twitter se referiu a "um povo de jovens que enche as praças para pedir ingresso na UE". Enquanto isso, o vice-presidente do Parlamento Europeu, Gianni Pittella (Partido Democrata), é autor de um sincero apelo: "Que a Europa escute o grito de liberdade e amor que vem de Kíev".

Certo, amor pelos dólares americanos e os euros alemães, além de pelo vulgar revanchismo de marca nazista.

Fonte:www.marx21.it

Tradução de José Reinaldo Carvalho
 

ARÁBIA SAUDITA: UMA RETRÓGADA DITADURA RENTISTA E TERRORISMO GLOBAL

 

James Petras
 
A Arábia Saudita tem todos os vícios e nenhuma das virtudes de um estado rico em petróleo como a Venezuela. O país é governado por uma ditadura familiar que não tolera qualquer oposição e pune severamente os defensores dos direitos humanos e os dissidentes políticos. Centenas de milhares de milhões de receitas do petróleo são controlados pelo despotismo real e alimentam investimentos especulativos no mundo inteiro.
 
A elite dirigente confia na compra de armas ocidentais e nas bases militares dos EUA para sua protecção. A riqueza de nações produtivas é sugada para enriquecer o consumo notório da família saudita governante. A elite dirigente financia a versão mais fanática, retrógrada e misógina do Islão, o "waaabismo", uma seita do Islão sunita.

Confrontada com a dissidência interna de súbditos reprimidos e de minorias religiosas, a ditadura saudita vê ameaças e perigos por todos os lados: no exterior, governos xiitas seculares nacionalistas; internamente, sunitas moderados, nacionalistas democratas e feministas; no seio das cliques realistas, tradicionalistas e modernizadores. Como resposta, virou-se para o financiamento, treino e armamento de uma rede internacional de terroristas islâmicos que têm como objectivo atacar, invadir e destruir regimes que se opõem ao regime clerical-ditatorial saudita.
 
O cérebro da rede terrorista saudita é Bandar bin Sultan, que há muito tem ligações profundas a altos funcionários políticos, militares e de informações dos EUA. Bandar foi treinado e catequizado na Base da Força Aérea Maxwell e na Universidade Johns Hopkins e foi embaixador saudita nos EUA durante duas décadas (1983-2005). Entre 2005 e 2011 foi secretário do Conselho de Segurança Nacional e em 2012 foi nomeado director-geral da agência de informações saudita. Desde muito cedo Bandar mergulhou profundamente nas operações terroristas clandestinas que funcionavam em ligação com a CIA. Entre as inúmeras "operações sujas" com a CIA durante os anos 80, Bandar canalizou 32 milhões de dólares para os Contra da Nicarágua envolvidos numa campanha terrorista para derrubar o governo revolucionário sandinista na Nicarágua. Durante o seu mandato enquanto embaixador envolveu-se activamente na protecção da realeza saudita com ligações ao ataque terrorista às três Torres e ao Pentágono em 11/Set/2001. A suspeita de que Bandar e os seus aliados na família real tinham conhecimento prévio do ataque por terroristas sauditas (11 em 19) é sugerida pela súbita fuga da realeza saudita na sequência do acto terrorista. Documentos das informações americanas relativas à relação saudita-Bandar estão a ser analisados pelo Congresso.

Com a abundância de experiência e treino em dirigir operações terroristas clandestinas, proveniente das duas décadas de colaboração com os serviços secretos americanos, Bandar estava em posição de organizar a sua rede terrorista global em defesa da despótica monarquia saudita, isolada, retrógrada e vulnerável.

A rede terrorista de Bandar

Bandar bin Sultan transformou a Arábia Saudita de um regime virado para dentro, com base tribal, totalmente dependente do poder militar dos EUA para a sua sobrevivência, num importante centro regional duma vasta rede terrorista, apoiante financeiro activo de ditaduras militares de direita (Egipto), de regimes clientelistas (Iémen) e de regimes que intervêm militarmente na região do Golfo (Bahrain). Bandar financiou e armou uma vasta série de operações terroristas clandestinas, utilizando afiliados islâmicos da Al Qaeda, a seita waabita controlada pelos sauditas, assim como muitos outros grupos armados sunitas. Bandar é um operador terrorista "pragmático": reprime os adversários da Al Qaeda na Arábia Saudita e financia os terroristas da Al Qaeda no Iraque, na Síria, no Afeganistão e noutros locais. Embora Bandar tenha sido um trunfo a longo prazo dos serviços secretos dos EUA, mais recentemente assumiu um 'percurso independente' em que os interesses regionais do estado déspota divergem dos interesses dos EUA. Na mesma linha, embora a Arábia Saudita tenha uma inimizade antiga com Israel, Bandar desenvolveu um "entendimento secreto" e uma relação de trabalho com o regime de Netanyahu, em torno da sua inimizade comum para com o Irão e, mais especificamente, em oposição ao acordo provisório entre os regimes Obama-Rohani.

Bandar interveio, directamente ou através de amigos, para reformular alinhamentos políticos, desestabilizando adversários e reforçando e expandindo o alcance político da ditadura saudita desde o norte de África até ao sul da Ásia, desde o Cáucaso russo até ao Corno de África, por vezes em concertação com o imperialismo ocidental, outras vezes projectando as aspirações hegemónicas sauditas.

Norte de África: Tunísia, Marrocos, Líbia e Egipto

Bandar injectou milhares de milhões de dólares para reforçar os regimes pró-islâmicos de direita na Tunísia e em Marrocos, assegurando que os movimentos de massas pró-democracia seriam reprimidos, marginalizados e desmobilizados. Os extremistas islâmicos que receberam apoio financeiro saudita são encorajados a apoiar os islamitas "moderados" no governo, assassinando líderes seculares e líderes sindicalistas socialistas da oposição. As políticas de Bandar coincidem amplamente com as dos EUA e da França na Tunísia e em Marrocos, mas não na Líbia e no Egipto.

O apoio financeiro saudita a terroristas islamitas e a afiliados da Al Qaeda contra o presidente líbio Kadhafi, estiveram em linha com a guerra aérea da NATO. Mas surgiram divergências no pós-guerra: a NATO apoiava um regime cliente feito de neoliberais e de expatriados contra os sauditas que apoiavam a Al Qaeda e grupos terroristas islamitas e pistoleiros e salteadores sortidos. Os extremistas islâmicos na Líbia financiados por Bandar foram financiados para alargar as suas operações militares à Síria, onde o regime saudita estava a organizar uma ampla operação militar para derrubar o regime de Assad. O conflito ruinoso entre a NATO e os grupos sauditas armados na Líbia transbordou e levou ao assassínio islamita do embaixador dos EUA e de operacionais da CIA em Bengasi. Depois de derrubar Khadafi, Bandar abandonou praticamente o interesse no subsequente banho de sangue e caos provocado pelos seus homens armados. Estes, por sua vez, auto-financiaram-se – roubando bancos, surripiando petróleo e esvaziando tesourarias locais – relativamente "independentes" do controlo de Bandar.

No Egipto, Bandar desenvolveu, em coordenação com Israel (mas por diferentes razões), uma estratégia para sabotar o regime da Irmandade Muçulmana, relativamente independente, democraticamente eleito, de Mohammed Morsi. Bandar e a ditadura saudita apoiaram financeiramente o golpe militar e a ditadura do general Sisi. A estratégia dos EUA de um acordo de partilha do poder entre a Irmandade Muçulmana e o regime militar, aliando a legitimidade eleitoral popular e as forças militares pró-Israel e pró-NATO, foi sabotada. Com um pacote de assistência de 15 mil milhões de dólares e promessas de mais no futuro, Bandar proporcionou às forças militares egípcias sobrevivência e imunidade económica a quaisquer represálias financeiras internacionais. Não houve quaisquer consequências. Os militares esmagaram a Irmandade, prenderam e ameaçaram executar os seus líderes eleitos. Ilegalizaram sectores da oposição da esquerda liberal que tinham sido usados como carne para canhão para justificar a sua tomada do poder. Apoiando o golpe militar, Bandar eliminou um regime islâmico rival, democraticamente eleito, que contrastava com o despotismo saudita. Assegurou um regime ditatorial semelhante ao seu num país árabe fulcral, apesar de os dirigentes militares serem mais seculares, pró-ocidentais, pró-Israel e menos anti Assad que o regime da Irmandade. O êxito de Bandar em olear as rodas para o golpe egípcio assegurou um aliado político mas enfrenta um futuro incerto.

O renascimento de um novo movimento de massas anti ditatorial também atingirá a ligação saudita. Além disso, Bandar rompeu e enfraqueceu a unidade dos estados do Golfo: o Qatar financiou o regime Morsi e ficou sem 5 mil milhões de dólares que tinha disponibilizado ao regime anterior.

A rede terrorista de Bandar é sobretudo evidente no financiamento, armamento, treino e transporte de dezenas de milhares de "voluntários" terroristas islâmicos dos EUA, da Europa, do Médio Oriente, do Cáucaso, do Norte de África e doutros locais, uma operação numa escala de longo prazo. Os terroristas da Al Qaeda na Arábia Saudita tornaram-se "mártires do Islão" na Síria. Dezenas de grupos islâmicos armados na Síria competiram por causa de armas e fundos sauditas. Bases de treino com instrutores americanos e europeus e financiamento saudita instalaram-se na Jordânia, no Paquistão e na Turquia. Bandar financiou o importante grupo armado terrorista islâmico 'rebelde', o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, para operações fronteiriças.

Com o Hezbollah a apoiar Assad, Bandar canalizou dinheiro e armas para as Brigadas Abdullah Azzam no Líbano para bombardear o sul de Beirute, a embaixada iraniana e Trípoli. Bandar canalizou 3 mil milhões de dólares para os militares libaneses na intenção de fomentar uma nova guerra civil entre eles e o Hezbollah. Em coordenação com a França e os EUA, mas com muito maior financiamento e maior latitude para recrutar terroristas islâmicos, Bandar assumiu o papel de liderança e tornou-se o director de princípios duma ofensiva militar e diplomática em três frentes contra a Síria, o Hezbollah e o Irão. Para Bandar, a conquista islâmica na Síria levaria a uma invasão síria islâmica em apoio da Al Qaeda no Líbano para derrotar o Hezbollah na esperança de isolar o Irão. Teerão tornar-se-ia assim o alvo duma ofensiva saudita-Israel-EUA. A estratégia de Bandar é mais fantasia do que realidade.

Bandar diverge de Washington: a ofensiva no Iraque e no Irão

A Arábia Saudita tem sido extremamente útil mas, por vezes, escapa ao controlo de cliente de Washington. É o que acontece especialmente desde que Bandar se assumiu como chefe dos serviços secretos: um activo de longa data da CIA, por vezes também assumiu a liberdade de exigir "favores" em troca dos seus serviços, especialmente quando esses "favores" reforçavam a sua subida no seio da estrutura do poder saudita. Assim, por exemplo, a sua capacidade de garantir os AWAC [1] , apesar da oposição da AIPAC [2] , fizeram-lhe ganhar alguns pontos de mérito. Tal como aconteceu com a capacidade de Bandar para assegurar a saída de várias centenas de 'realezas' sauditas com ligação aos ataques de 11/Set, apesar do bloqueio nacional de segurança a alto nível na sequência desses ataques.

Embora tenha havido transgressões episódicas no passado, Bandar avançou para divergências mais graves em relação à política dos EUA. Seguiu em frente, construindo a sua rede terrorista, no intuito de maximizar a hegemonia saudita – mesmo quando entrava em conflito com os amigos, clientes e operacionais clandestinos americanos.

Enquanto os EUA estão empenhados em apoiar o regime de direita de Malicki no Iraque, Bandar está a fornecer apoio político, militar e financeiro ao "Estado Islâmico do Iraque e da Síria" terrorista sunita. Enquanto os EUA negociavam o "acordo provisório" com o Irão, Bandar exprimiu a sua oposição e "comprou" apoio. Os sauditas assinaram um acordo de armas de mil milhões de dólares durante a visita do presidente francês Hollande, em troca de maiores sanções contra o Irão. Bandar também expressou o seu apoio à utilização por Israel da configuração do poder sionista para influenciar o Congresso, a fim de sabotar as negociações dos EUA com o Irão.

Bandar afastou-se da sua submissão inicial aos treinadores dos serviços secretos americanos. As suas estreitas ligações com presidentes e políticos influentes dos EUA e da UE, passados e presentes, encorajaram-no a meter-se em "aventuras do Grande Poder". Encontrou-se com o presidente russo Putin para o convencer a abandonar o seu apoio à Síria, propondo-lhe uma cenoura ou um chicote: uma venda de armas de muitos milhares de milhões de dólares se acedesse, ou a ameaça de enviar terroristas chechenos para sabotar os Jogos Olímpicos em Sochi. Virou Erdogan de aliado incondicional da NATO que apoiava os opositores armados 'moderados' a Bashar Assad, para abraçar o 'Estado Islâmico do Iraque e da Síria' apoiado pelos sauditas, um estado filiado na Al Qaeda terrorista. Bandar "ignorou" os esforços "oportunistas" de Erdogan para assinar acordos de petróleo com o Irão e o Iraque, os seus continuados acordos militares com a NATO e o seu anterior apoio ao defunto regime de Morsi no Egipto, a fim de assegurar o apoio de Erdogan para a passagem fácil de grande número de terroristas treinados na Arábia Saudita para a Síria e provavelmente para o Líbano.

Bandar reforçou laços com os talibãs armados no Afeganistão e no Paquistão, armando e financiando a sua resistência armada contra os EUA, assim como propondo aos EUA um local para uma 'retirada negociada'.

Bandar provavelmente está a apoiar e a armar terroristas muçulmanos uigures na China ocidental e terroristas islâmicos chechenos e caucasianos na Rússia, enquanto os sauditas alargam os seus acordos petrolíferos com a China e cooperam com a Gazprom da Rússia.

A única região em que os sauditas têm exercido uma intervenção militar directa é no mini-estado do Golfo, Bahrain, onde as tropas sauditas esmagaram o movimento pró-democracia que contestava o déspota local.

Bandar: Terrorismo global em duvidosos fundamentos internos

Bandar envolveu-se numa transformação extraordinária da política externa saudita e reforçou a sua influência global. Só que para pior. Tal como Israel, quando um governante reaccionário chega ao poder e derruba a ordem democrática, entram em cena os sauditas com sacas de dólares para estimular o regime. Sempre que aparece uma rede terrorista islâmica para subverter um regime nacionalista, secular ou xiita, pode contar com fundos e armas sauditas. Aquilo que alguns escribas ocidentais descrevem eufemisticamente como um "ténue esforço para liberalizar e modernizar" o retrógrado regime saudita, é na verdade uma renovação militar da sua actividade terrorista no exterior. Bandar usa técnicas modernas de terrorismo para impor o modelo de governo reaccionário saudita aos regimes vizinhos e distantes com populações muçulmanas.

O problema é que as operações externas "aventureiras" de grande escala de Bandar entram em conflito com o estilo de governo "introspectivo" de algumas pessoas da família real reinante. Querem que os deixem em paz para acrescentar centenas de milhares de milhões às rendas do petróleo cobradas, para investir em propriedades de alta qualidade em todo o mundo, e para apadrinhar discretamente raparigas acompanhantes de gama alta em Washington, Londres e Beirute – enquanto se apresentam como piedosos guardiões de Medina, de Meca e dos lugares santos. Até aqui Bandar não tem sido contestado, porque tem tido o cuidado de prestar homenagem ao monarca dirigente e ao seu círculo interno. Comprou e levou primeiros-ministros, presidentes e outras figuras notáveis ocidentais e orientais para Riade para assinar acordos e apresentar cumprimentos para deleite do déspota reinante. Mas o seu comportamento solícito para com as operações da Al Qaeda no estrangeiro, o seu encorajamento aos extremistas sauditas para irem para o estrangeiro e se envolverem em guerras terroristas, perturba os círculos monárquicos. Têm receio que terroristas sauditas treinados, armados e bem informados – conhecidos por "guerreiros sagrados" – possam regressar da Síria, da Rússia e do Iraque para bombardear os palácios do rei. Além disso, os regimes estrangeiros visados pela rede terrorista de Bandar podem exercer retaliação: a Rússia ou o Irão, os sírios, os egípcios, os paquistaneses, os iraquianos podem patrocinar os seus instrumentos de retaliação. Apesar das centenas de milhares de milhões gastos na compra de armas, o regime saudita é muito vulnerável a todos os níveis. Para além das legiões tribais, a elite multimilionária tem pouco apoio popular e ainda menos legitimidade. Depende do trabalho migrante externo, de "especialistas" estrangeiros e das forças militares dos EUA. A elite saudita também é desprezada pelos mais religiosos do clero waabi por permitir "infiéis" em terreno sagrado. Enquanto Bandar alarga o poder saudita no exterior, as bases internas do governo estão a estreitar. Enquanto ele desafia os políticos americanos na Síria, no Irão e no Afeganistão, o regime depende da Força Aérea e da Sétima Armada americanas para o proteger duma série crescente de regimes adversários.

Bandar, com o seu ego inchado, pode julgar que é um "Saladino" a construir um novo império islâmico mas, na realidade, só com o levantar de um dedo, o monarca seu patrono pode provocar a sua rápida demissão. Uns bombardeamentos civis demasiado provocadores dos seus beneficiários terroristas islâmicos podem levar a uma crise internacional que tornem a Arábia Saudita num alvo do opróbrio mundial.

Na realidade, Bandar bin Sultan é o protegido e o sucessor de Bin Laden: aprofundou e sistematizou o terrorismo global. A rede terrorista de Bandar tem assassinado muito mais vítimas inocentes do que Bin Laden. Claro que isso era de esperar; afinal, ele tem milhares de milhões de dólares do tesouro saudita, o treino da CIA e o aperto de mão de Netanyahu!
 
[1] AWAC: Airborne Warning and Control
[2] AIPAC: American Israeli Political Activity Committee

Ver também:
Saudis, Israelis developing new ‘super Stuxnet’ against Iran nuclear program

O original encontra-se em petras.lahaine.org/?p=1969 . Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/ .
 

O polémico livro que analisa a teia de ligações entre empresas angolanas e portuguesas

 


O livro "Os Donos Angolanos de Portugal” propõe-se a apresentar as principais redes da relação entre os capitais angolanos e os portugueses, identificando quais os principais protagonistas destes negócios bilaterais.
 
“Os Donos Angolanos de Portugal”, apresentado nesta terça-feira em Lisboa, tem como autores o jornalista Jorge Costa, o sociólogo João Teixeira Lopes e o economista e ex-líder do partido político Bloco de Esquerda, Francisco Louçã. Os três autores desenvolvem ao longo da obra uma profunda análise da rede de ligações entre empresas e personalidades angolanas e portuguesas. Mais concretamente, estudam o poder da burguesia angolana em Portugal e as suas relações com a burguesia portuguesa, considerando que a interligação entre os capitais portugueses e angolanos não tem paralelo na história do pós-colonialismo.
 
Francisco Louçã conta que a obra reflete "a influência estratégica nas telecomunicações, na comunicação social, na banca e no petróleo do capital angolano". Propõem-se a compreender como o capital angolano foi aplicado ao longo dos últimos anos "nos investimentos de todo o grupo que está à volta do Presidente José Eduardo dos Santos".
 
O incentivo ao debate
 
O economista disse à DW África que o livro é o estudo mais completo até hoje realizado sobre a estrutura política e económica do capital angolano em Portugal. O estudo, sublinha, contribui para o conhecimento e debate público sobre uma matéria que é tratada com reticências, relativamente à forma como se processa a acumulação primitiva de riqueza.
 
Francisco Louçã destaca a "enorme riqueza angolana que é transferida para o estrangeiro, nomeadamente para Portugal, através de capitais apropriados pelo pequeno grupo, que em torno da Sonangol, em torno de José Eduardo dos Santos e de Isabel dos Santos investe em bens estratégicos na economia portuguesa que tem uma enorme influência política em Portugal". Louçã ressalva que "conhecermos isso é importante para Portugal e é importante também para Angola, para se saber onde está o dinheiro angolano".
 
O poder profundo do capital angolano em Portugal
 
Jorge Costa, outro dos autores, diz que "há um poder muito profundo do capital angolano em Portugal que resulta também da procura de capitais pelos grupos económicos portugueses descapitalizados", em consequência da crise económica e financeira. O jornalista considera haver um silenciamento das formas como se exerce esse poder e essa influência do regime e da pequena elite angolana sobre Portugal.
 
Tanto mais espantoso é esse silêncio, como a utilização de um país como placa giratória para o branqueamento de capitais, como a utilização que é feita pela elite angolana da praça financeira portuguesa". Para Jorge Costa esse conhecimento é preponderante para a economia portuguesa e mereceria uma atenção que segundo o sociólogo, "não tem".
 
A sala do FNAC no Chiado encheu-se de portugueses e angolanos interessados nesta temática, sobretudo pela reflexão que lança no exercício da cidadania, pelo seu peso na economia portuguesa e na extração da riqueza angolana. Nesta operação, refere ainda Jorge Costa, existe uma cumplicidade profunda de quase todos os partidos políticos e de todos os grandes grupos económicos portugueses. Dá o exemplo da banca.
 
A banca portuguesa em mãos angolanas
 
"Os principais bancos privados portugueses estão hoje na mão de capital angolano, como a Isabel dos Santos ou Sonangol". Para Costa isso não é aceitável "nem na ótica do interesse popular angolano nem na ótica do interesse popular português".
 
No final da apresentação, antes da sessão de autógrafos, o jornalista Nicolau Santos, um dos conhecedores das relações luso-angolanas, surpreendeu a plateia com um poema dedicado ao empreendedorismo de Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola, que começou a gerar riqueza vendendo ovos de galinha.
 
Deutsche Welle – Autoria: João Carlos (Lisboa) – Edição: Francisca Bicho / António Rocha
 

Guiné-Bissau: O CONGRESSO PAIGC SEMPRE ADIADO. SERIFO CHAMUSCADO

 


PAIGC - CONGRESSO: SERÁ DESTA?

O congresso do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde vai decorrer até domingo, dia 02 de fevereiro, na vila de Cacheu, no norte do país. De acordo com a mesma fonte, a decisão saiu de uma reunião do Comité Central, realizada ontem, em Bissau. Segundo esclareceu, já estão reunidas as condições necessárias para a realização do congresso, que tem sido adiado há mais de um ano devido a divergências internas sobre os estatutos e sobre a forma de escolha de delegados à reunião magna. o PAIGC precisava, segundo o orçamento a que o Ditadura do Consenso teve acesso, de pouco ais de 1 milhão de euros para realizar o seu congresso.

Mil e duzentos delegados vão tomar parte do encontro para eleger o líder do PAIGC que vai substituir Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro deposto no golpe de Estado de abril de 2012, após o qual saiu do país. Apresentam-se à corrida para liderar o PAIGC vários dirigentes: uns como candidatos ao cargo de secretário-geral (Domingos Simões Pereira, Aristides Ocante da Silva, Cipriano Cassamá e Daniel Gomes) e outros que concorrem ao lugar de presidente do partido (Braima Camará, Carlos Correia e Satu Camará).

Antes da votação para a nova liderança será escolhido qual o modelo de estatutos que vai passar a vigorar. Uma proposta sugere que o PAIGC passe a ter um secretário-geral que seja cabeça-de-lista do partido nas eleições legislativas, ou seja, candidato ao cargo de primeiro-ministro.

Nos estatutos em vigor até aqui, há um secretário nacional, mas apenas com funções administrativas, sendo que o presidente é quem dirige o partido politicamente, assumindo-se como cabeça-de-lista nas legislativas. Uma outra prevê que o presidente fique confinado exclusivamente às tarefas de organização, sem se apresentar aos cargos eletivos de Estado. LUSA/AAS

António Aly Silva – Ditadura do Consenso
 
Serifo chamuscado
 
A CEDEAO parece ter acordado da longa letargia, e associou-se finalmente à restante comunidade internacional no cerco ao presidente de ‘transição’, Serifo Nhamadjo, e contra os seus obscuros interesses. O ex-homem-de-mão da CEDEAO quer a todo o custo que as eleições sejam adiadas. Quer ser presidente – coisa que não pode, à luz dos acordos de transição.

Primeiro, pediu ao primeiro-ministro Rui de Barros que este se candidatasse ao posto de comissário da CEDEAO. A Guiné-Bissau tinha dois candidatos - Cacaio Casimiro, economista e Huco Monteiro, sociólogo, e que acabou por ser o escolhido. Há muitas interpretações acerca da candidatura do Rui Barros ao posto de comissário – que, sabe-se agora, nunca foi uma escolha sua e antes uma jogada do PR de ‘transição.

Como vingança por o Rui não ter acedido aos seus caprichos, Serifo tirou-lhe o tapete, exigindo - segundo fontes do DC bem colocadas – que assim sendo, Rui Barros também não poderá sair antes do fim da transição. A estratégia é simples: levar o Rui com ele no mesmo barco que está a meter água por todos os lados. Alguns pensam que é uma forma que Serifo Nhamadjo encontrou para afastá-lo, devido às divergências entre ambos – por todos conhecidas.

Ditadura do Consenso sabe, porém, que a ida de Rui Barros a Abidjan serviu para este cavar ainda mais a ‘sepultura’ de Serifo junto da organização sub-regional. Rui Barros fez finca-pé junto dos presidentes Ouattara e Johnattan, para que as eleições não fossem novamente adiadas, e quis levar garantias junto destes de que Serifo não podia candidatar-se. Disse o mesmo ao Ramos Horta, o representante de Ban Ki-Moon na Guiné-Bissau. AAS
 
António Aly Silva – Ditadura do Consenso
 
*Titulo PG
 

Corre tudo sobre rodas: Passos reeleito, Obiang na CPLP e a malta nos mercados

 

Delito de Opinião
 
Neste momento ainda não sabemos se Passos Coelho terá conseguido bater as votações norte-coreanas de José Sócrates, de Paulo Portas ou de António José Seguro, mas quando um secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros admite a entrada do estafermo da Guiné Equatorial na CPLP, um crápula cujo filho tem inclusivamente pendente o cumprimento de um mandado de captura internacional, só pode estar a pensar na aprovação de um novo acordo ortográfico, que adapte o português "acordês" ao "espanholês" de Obiang.
 
Mas, pergunto eu, em vez de se admitir Obiang na CPLP não seria mais prático, e consentâneo com os valores da "nossa" República, dar-lhe um "golden visa" enquanto o secretário de Estado pede à National Geographic e à Human Rights Watch que o elucidem sobre a exacta localização no mapa da Guiné Equatorial e o cadastro da família Obiang?

Sérgio de Almeida Correia
 

Moçambique: O QUE NINGUÉM DEBATE

 

Verdade (mz) - Editorial
 
Dizem que o Presidente da República, Armando Guebuza, não quer a guerra. Contudo, pelo seu discurso constitui um exercício hercúleo acreditar nessa crença veiculada por muito boa gente. Alegam, nas televisões e na Imprensa fiel ao regime, que o problema reside na intransigência da Renamo. É uma opinião e, por isso, deve ser respeitada. Mas o bom senso indica que é preciso questionar um pouco mais.
 
É preciso olhar para o desenrolar do conflito. E, para não parecermos oportunistas, vamos contornar aquele pensamento fácil de que foi Guebuza quem ordenou que se atacasse a “residência” de Dhlakama em Sathunjira. É um argumento fácil demais para explicar um conflito bem mais complexo de compreender. No entanto, o discurso de Guebuza, no último informe do PR na Assembleia da República pode conceder algumas pistas.
 
Ou seja, é um ponto de partida para aferir a sua responsabilidade. Recordem-se de que Guebuza desqualificou o conflito e alegou que o mesmo não estava a ocorrer na zona centro, mas sim num espaço circunscrito daquela região do país. O que o PR disse era, naquela ocasião, uma verdade rotunda. Porém, depois daquele pronunciamento o conflito alastrou-se como que a transmitir ao PR que o problema poderia, se a Renamo compreendesse, ser nacional.
 
Aqui, por exemplo, não vale o argumento de Mazanga segundo o qual as coisas assim se deram para aumentar o raio de segurança de alguém que se encontra em parte incerta. A responsabilidade, das mortes de civis, não é exclusiva do Chefe de Estado. A Renamo também tem a sua quota-parte. Isso é inegável. Na verdade, nada justifica uma guerra. Portanto, os discursos devem, neste momento, ser cuidadosos. Não podemos, agora, dizer que as FADM vão reagir aos ataques dos homens da Renamo.
 
Nem sequer adianta continuar com aquela pouca vergonha no Centro de Conferências Joaquim Chissano, até porque o povo moçambicano já percebeu que se trata de um teatro mal encenado. Obviamente não se pode, em nome da racionalidade, estabelecer uma relação de causa e efeito entre o pronunciamento do PR e o alastramento do conflito. Contudo, é preciso compreender que as coisas não se dão por acaso.
 
O conflito esteve vários meses circunscrito ao espaço determinado pela Renamo. Presentemente, a situação tem vindo a ganhar proporções alarmantes. O silêncio por parte dos dois principais protagonistas desses acontecimentos cruentos é de uma brutalidade indescritível. Sem nenhuma réstia de sentimento ou compaixão pelo povo, o PR prossegue pendurado no altar da sua arrogância.
 
Não tuge nem muge. O que está, todavia, claro, é que se trata de um jogo de xadrez com o sangue do povo a ser usado como peão no tabuleiro do orgulho de uns e outros. Trata-se de um jogo de paciência do qual ambos pretendem ficar com o maior quinhão. Esperamos, contudo, que quando o jogo terminar o país não seja um amontoado de escombros. Pelo andar da carruagem, somos levados a acreditar que não estamos longe disso. Caminhamos, a passos largos, para um abismo sem precedentes.
 

Moçambique: MISÉRIA E DESIGUALDADES NO CENTRO DA CONFERÊNCIA DE MAPUTO

 

O País (mz)
 
Esperam-se 500 convidados, dos quais 350 estrangeiros, entre quadros seniores de instituições financeiras, políticos e representantes da sociedade civil
 
A economia africana cresce, mas os povos continuam muito pobres. Este é, objectivamente, o problema que se pretende resolver com a realização, nos próximos dias 29 e 30 deste mês, de uma conferência de alto nível, realizada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Governo, sob o lema “África em Ascensão”.
 
No encontro, o FMI estará representado ao mais alto nível, pela directora-geral, Christine Lagarde, acompanhada por quadros seniores daquela instituição. Estarão presentes também representantes do Banco Mundial, ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais de 45 países africanos, além de figuras da área política e representantes da sociedade civil do continente e do mundo. Fonte do FMI em Maputo avançou que foram convidados importantes nomes da arena financeira internacional, mas que ainda não confirmaram presença. Entre eles, consta o antigo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, Melinda Gates, esposa do bilionário norte-americano Bill Gates e presidente da Fundação Melinda Gates – uma organização que luta contra a pobreza e que tem investimentos em Moçambique.
 
O objectivo da vinda destes quadros é encontrar caminhos para erradicar a miséria no continente negro. “A conferência dará especial realce às estratégias para transformar um crescimento robusto em inclusivo e a criação de emprego, destacando o papel a ser desempenhado pelos parceiros de desenvolvimento”, afirmou o ministro das Finanças, Manuel Chang, em conferência de imprensa convocada para lançar a Conferência.
 
De facto, África é das regiões do mundo com as mais altas taxas de crescimento económico. O director-adjunto do Departamento Africano do FMI, Roger Nord, admite que o padrão de vida melhorou em muitos países da África Sub-sahariana, em resultado de um forte crescimento nos últimos 15 a 20 anos.
 
Ainda assim, “muitos desafios permanecem. A pobreza continua elevada em muitos países... um número crescente de países está a juntar-se às fileira dos produtores de recursos naturais, um desenvolvimento que oferece enormes oportunidades, mas também muitos riscos.
 
Leia mais na edição impressa do «Jornal O País»
 

Angola: UM GIGANTE DA POLÍTICA

 

José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião
 
Pensar e fazer política é uma actividade honrosa, respeitável e de grande valor social. Mas nem toda a gente olha a política por esse ponto de vista e há mesmo quem procure a todo o momento lançar sobre os políticos a lama da infâmia.
 
A política é um serviço público imprescindível e insubstituível no regime democrático. Nada é mais importante do que resolver os problemas do povo através da acção política e da intervenção cívica e da governação. Até porque não vão longe os tempos em que os angolanos tinham a liberdade confiscada e eram brutalmente afastados de qualquer cidadania.

Desde a queda do Muro de Berlim, os angolanos apresentaram mais de 100 projectos de partidos políticos. A maior parte deles ficou pelo caminho, mas nunca se perde o mérito da intenção e a participação cívica dos cidadãos tem sido evidente em vários momentos da vida nacional.

Mas há uma característica própria de pensar a política angolana que eu admiro. Temos excelentes políticos que fazem a síntese entre o serviço público, a intervenção cívica e o amor pelo mundo das ideias. Lopo do Nascimento, que anunciou esta semana o abandono da política activa, é um dos gigantes do panorama político angolano.

Há pouco tempo, cruzei-me com ele em Luanda e estivemos à conversa. Nunca estive com ele pessoalmente, mas como jornalista acompanhei a sua actividade pública e ele tratou-me com informalidade. É sempre bom ouvir um homem que pensa e produz ideologia. Naquele momento recordei-me que ele dedicou toda a sua juventude à luta anti-colonial na clandestinidade. Desempenhou um papel extraordinário no período quente após o 25 de Abril de 1974, durante o qual explodiu o fervor revolucionário pela conquista da Independência Nacional. Deu um contributo ímpar na discussão que levou aos acordos de Alvor e ao Governo de Transição. Teve um papel fundamental após a morte do Presidente Neto. Esteve na Comissão Económica para África (ECA) da ONU, no Comércio Externo e nas conversações “non stop” em Bicesse, com Jorge Valentim, outra figura incontornável da cena política angolana. Lopo do Nascimento foi para o terreno e pôs toda a sua experiência e ciência política ao serviço da recuperação da província da Huíla, devastada pela guerra. No MPLA, marcou toda uma geração de jovens militantes e deu um contributo inestimável à vitória estrondosa do seu partido nas primeiras eleições multipartidárias, em 1992.

Lopo do Nascimento é um pensador da política angolana. Recordo neste espaço as suas intervenções muito ponderadas mas contundentes, que foi fazendo em momentos muito precisos da vida nacional. Durante a nossa conversa, Lopo falou exactamente do que mais tarde disse aos seus colegas deputados na Assembleia Nacional, o que revela a reflexão profunda que fez antes de tomar a decisão de se reformar da política.

Na despedida do Parlamento está, uma vez mais, o político que ajudou a construir e a defender o Estado Angolano, preocupado com os caminhos da construção da Nação Angolana, edificação só possível com uma juventude formada e com forças económicas nacionais poderosas, com engenho e arte suficientes para saberem conciliar os aspectos identitários da Angolanidade com a emergente modernização mundial e para conseguirem suplantar a barreira da concorrência externa, sem complexos nem caírem nos erros do passado, cometidos um pouco por toda a África. Estes são, para Lopo do Nascimento, os grandes desafios do futuro. Até ao abandonar a actividade política activa, Lopo do Nascimento prestou um grande serviço à Pátria, que sempre serviu com grande lealdade e nobreza. Lopo sempre foi um homem de carácter e jamais virou a cara à luta, à disciplina do partido que o elevou a alto dirigente e à conduta que se exige de uma figura com responsabilidades de Estado. Essa foi a sua marca na intervenção política. Nem os conceitos inovadores e controversos, nem as mudanças na conjuntura, o fizeram tornar-se desleal em relação aos seus companheiros. Nunca dissimilou as suas ideias nem transigiu, quando foi necessário defender a liberdade e a democracia. Quando entendeu que era preciso divergir, marcou isso de maneira clara. Mas não entrou pelo caminho dos jogos baixos e da traição, como alguns que saíram do partido, regressaram e voltaram a trair o seu ideário. Esta é sempre a opção mais fácil, porque cria o frenesi da mediatização e granjeia aplausos e falsos apoiantes. A diferença de ideias alarga a dimensão da democracia, mas o ataque cobarde na política quase sempre vive de braço dado com a desonestidade intelectual ou a traição.

Lopo, o gigante da política que agora vai participar na construção de Angola noutro ritmo e de outro ângulo de intervenção, foi daqueles que ajudou a criar os alicerces desta Angola que, ao contrário do que disse Margareth Anstee, nunca foi “órfã” da Guerra Fria e apenas quis ser independente e soberana à sua maneira. Por isso, Lopo serve de exemplo para outros políticos, alguns até seus contemporâneos, que mudam ao sabor das modas. Lopo do Nascimento tem um longo percurso de serviço público, que exerceu de maneira nobre. Por isso, merece o respeito e a gratidão dos seus concidadãos.

Presumível sequestro de navio-tanque Kerala foi um embuste - marinha angolana

 


O presumível sequestro do navio-tanque Kerala, realizado há seis dias ao largo de Angola, não passou de um embuste e a embarcação já foi localizada na Nigéria, disse hoje à Lusa fonte da Marinha angolana.
 
O Kerala, com pavilhão liberiano e propriedade da empresa grega Dynacom Tankers, foi fretado pela petrolífera angolana Sonangol, que em comunicado envido sexta-feira à Lusa confirmava o desaparecimento do navio-tanque.
 
Nesse comunicado, a Sonangol acrescentava que desde o passado dia 19 tinha perdido o contacto com o Kerala.
 
Segundo o porta-voz da Marinha angolana, capitão Augusto Alfredo, o Kerala, embarcação de 60 toneladas que aguardava autorização para atracagem no porto de Luanda, para cumprir um frete da petrolífera angolana Sonangol, simulou o sequestro em conluio com um rebocador já referenciado noutras ações de sequestro ao largo do Gabão, em 2013.
 
O Kerala e o rebocador Gare foram já referenciados em águas nigerianas.
 
"O petroleiro Kerala, cujo contrato de prestação de serviço à Sonangol termina no próximo dia 12 fevereiro, na noite do dia 18 desligou o sistema de comunicação e navegou em direção à Nigéria", disse o capitão Augusto Alfredo à Lusa.
 
Segundo explicou o oficial angolano, "tudo aconteceu quando o rebocador Gare, que é réplica de um outro com o mesmo nome e que havia participado em ações de pirataria no Gabão no ano passado e que está desativado na Nigéria, se aproximou do Kerala, entrou em comunicação com este e de seguida o petroleiro levantou âncora e rumaram os dois para a Nigéria".
 
"Portanto tudo não passou de uma simulação de sequestro da parte da tripulação e do seu agente. Neste momento, o rebocador Gare e o petroleiro Kerala estão na Nigéria", frisou.
 
O porta-voz da Marinha angolana acrescentou que um outro "falso alarme" foi registado passada sexta-feira à noite.
 
"Um SOS emitido pelo navio petroleiro SEATRANS CS, encarregue de transportar ramas de petróleos dos blocos, dava conta de um possível assalto ao navio por um grupo de piratas. Uma lancha da Marinha acorreu de imediato ao local, tendo concluído que tal não passava de um falso alarme. Continuaremos vigilantes para evitar situações que possam criar instabilidade nas nossas águas nacionais", salientou.
 
O capitão Augusto Alfredo reafirmou que "não há qualquer ação de pirataria nas nossas águas nacionais".
 
Lusa, em Notícias ao Minuto
 

Angola: SANGUE DO POVO FAZ BRILHAR OS DIAMANTES

 

Orlando Castro
 
A justiça é, cada vez mais, aquilo que os go­vernantes, eleitos ou não, querem que ela seja. Os que man­dam no nosso país resol­veram ordenar que a jus­tiça, a portuguesa no caso, arquivasse os processos que tinha em curso sobre eventuais crimes cometi­dos por altos dignitários do regime. Assim aconteceu. Por cá, país onde a demo­cracia tem características muito peculiares, sabe-se que até prova em contrário todos são culpados.
 
E é neste contexto que Rafael Marques vai ser jul­gado, no Tribunal Provin­cial de Luanda, em nove queixas-crime intentadas contra si por generais an­golanos e uma empresa. Nada de novo. Essa coisa de se achar que existe por cá um Estado de Di­reito e que ninguém está acima da lei é, reconheça-se, um delírio que oscila entre uma peregrina ingenuidade e uma atávica tentação pela cadeia alimen­tar dos jacarés.
 
Os generais em questão não gos­taram de ler (o que só por si é um bom princípio) o que Rafael Mar­ques escreveu no livro, publica­do em Portugal, “Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola”.
 
Rafael Marques esclareceu à Lusa (agên­cia que, não se sabe muito bem durante quanto mais tempo, ainda vai ouvindo algumas vozes que não são do regime) que a notifica­ção que recebeu é a res­posta ao pedido de arqui­vamento das queixas por calúnia e difamação, envia­do em Dezembro passado, por ter sido ultrapassado o prazo legal para ser constituído arguido.
 
“Os prazos prescre­veram e ao invés de responderem à peti­ção (de arquivamen­to), ignoraram-na e remeteram (os pro­cessos) para o tribu­nal, para julgamento”, conta Rafael Marques. De facto, também em matéria de justiça, o rei não só vai nu como garante que usa roupas de Hugo Boss e Erme­negildo Zegna.
 
No livro, o autor acusou de “crimes contra a hu­manidade” os generais Hélder Vieira Dias “Ko­pelipa”, ministro de Esta­do e chefe da Casa Militar do Presidente angolano; Carlos Hendrick Vaal da Silva, inspector-geral do Estado-Maior General das Forças Armadas Angola­nas (FAA); Armando da Cruz Neto, ex-Chefe do Estado-Maior General das FAA; Adriano Makenzi, chefe da Direcção Principal de Preparação de Tropas e Ensino das FAA.
 
João de Matos, ex-Chefe do Estado-Maior General das FAA; Luís Faceira, ex-chefe do Estado-Maior do Exér­cito das FAA e António Fa­ceira, ex-chefe da Divisão de Comandos, são outros nomes apontados por Ra­fael Marques.
 
Publicado em Portugal em Setembro de 2011, o livro resultou de uma in­vestigação iniciada em 2004 e documenta casos de homicídio e tortura contra os habitantes na região diamantífera das Lundas. A empresa que figura entre os queixo­sos é a sociedade minei­ra ITM Minning Limi­ted.
 
Folha 8, 17 janeiro 2014
 

Angola: EX-MINISTRO DO INTERIOR A CAMINHO DA CADEIA

 


Retiradas que foram as imunidades, pelo Comandante - em - chefe, José Eduardo dos Santos, na qualidade de oficial superior da Polícia Nacional e ao abrigo da Lei Militar, o ex- ministro do Interior, o todo poderoso Sebastião Martins, acusado de tudo ter feito, para incriminar, sem provas evidentes, o antigo Comandante provincial da Polícia de Luanda, Joaquim Ribeiro e mais 20 oficiais, tudo indica estar a caminho de conhecer o sol aos quadradinhos, depois de ser apontado como o mandante dos fuzilamentos de Alves Cassule e Isaías Kamulingue. Vai provar do próprio veneno, com o andamento da acção judicial.
 
Folha 8, 17 janeiro 2014
 

Portugal: A BANALIDADE DO GOVERNO TRAPALHÃO

 

Balneário Público
 
Passos Coelho foi reeleito para dirigir o PSD. Cerca de 90 por cento dos militantes presentes votaram nele. Era o único candidato. Afinal ele até tem andado a distribuir bons “tachos” aos boys e à girls daquele burgo partidário. Os portugueses são quem paga. Assim não custa nada armar-se em benemérito. Tudo se compra. Tudo se vende. Não existem almoços grátis. Passos, desta vez, parece que preferiu falar verdade (alguma vez haveria de acontecer). Disse ele: “Sabemos que não teremos um milagre económico em maio deste ano. Que quando fecharmos o período de assistência económica e financeira ainda teremos desafios muito importantes para enfrentar, seja ao nível do desemprego, seja ao nível da coesão social, coesão territorial e recuperação económica”. Desmentiu assim o trapalhão seu parceiro de governo, ministro da economia, Pires de Lima – que em finais de outubro dissera que “Está em curso um «milagre económico» em Portugal”. Não há milagre económico, até maio, disse Passos ontem. Não vai haver milagre económico nenhum enquanto estes inqualificáveis mancebos forem detentores dos poderes. E aquela mafia detém quase todos os poderes. Incluindo Belém, que amortece, protege e anula as quedas do governo seu comparsa. Está quase tudo dito. Ou melhor: quando estes mancebos falam, vomitam palavras eivadas das banalidades próprias de um governo e rebanho político trapalhão. Ontem Passos disse assim, amanhã dirá de outro modo, nas eleições já vai acenar com um “milagre” enganador que lhe permita conseguir mais votos dos incautos… ou estúpidos. Passos, o salvador. Passos, o mentiroso, o trapalhão.
 
Manuel Tiago
 
Leia mais em Balneário Público
 

Portugal: DURÃO BARROSO AFASTA-SE DAS PRESIDENCIAIS

 


Depois de Marcelo Rebelo de Sousa, mais um ex-líder do PSD distancia-se de uma candidatura a Belém em 2016.
 
Ângela Silva - Expresso
 
Com a saída de Presidente da Comissão Europeia este ano, Durão Barroso aposta num cargo internacional que o mantenha longe da política portuguesa. E admite, em alternativa, fazer uma sabática da política e ir dar conferência pelo mundo.
 
Com o afastamento de Marcelo e Mendes, é Rui Rio quem ganha espaço para aparecer como candidato do centro-direita.
 
Leia mais na edição de sábado do Expresso
 

Portugal: "As reitorias nunca tiveram vontade de expulsar as praxes" - socióloga

 


A socióloga Rita Ribeiro dá hoje uma entrevista ao Público em que explica que “as reitorias nunca tiveram vontade de expulsar a praxe ou de a domesticar sequer, porque os reitores precisam de ter os alunos do seu lado”. Para a investigadora, “a solução não está na rejeição completa”, mas em “algum equilíbrio da domesticação destas práticas”.
 
Na tentativa de “entender” o fenómeno das praxes académicas, a Universidade do Minho encomendou um estudo à socióloga Rita Ribeiro, que falou com o Público sobre o tema que tando tem sido comentado após a tragédia no Meco.
 
Nas palavras da investigadora, a praxe rege-se por uma “ideia de tradição” e por um sinal de “reconhecimento estatutário por parte da sociedade” (…), que “servem para constituir aquilo a que alguns autores chamam o espírito de corpo” e em que há um “pacto de silêncio” que funciona como “proteção” entre o grupo.
 
Trata-se de um conjunto de práticas e limitações “implícitas”, daí a diversidade entre a praxe de umas universidades e cursos para outros, “em que há uma hierarquia muito forte, sobretudo nos primeiros tempos, e em que há uma formatação completa daqueles que estão a ser praxados”, como contatou Rita Ribeiro.
 
Mas, apesar das críticas que têm surgido ao longo dos últimos anos, “as reitorias nunca tiveram vontade de expulsar a praxe ou de a domesticar sequer, porque os reitores precisam de ter os alunos do seu lado”.
 
“A solução não está numa rejeição completa. Algum equilíbrio da domesticação destas práticas é o ideal, mas não é fácil de se conseguir”, explicou.
 
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