quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

COMO A FIFA TORNOU-SE O NOVO FMI

 


Em estranha reviravolta, entidade que deveria dedicar-se a esporte converteu-se em monstro comercial, pronto a impor obrigações aos povos
 
Marcos de Azambuja, na Piauí – Outras Palavras
 
“Abajo el Fondo!” A mensagem que vi rabiscada na parede de um banheiro público de Buenos Aires, nos idos de 1970, era compreendida por todos os usuários e só podia ter um destinatário. O Fundo alvo daquela ira era o Fundo Monetário Internacional – filho das históricas negociações de Bretton Woods, sediado em Washington e capitaneado, desde a sua criação, por uma sucessão de europeus então ditos “ocidentais”, como era costume nos tempos da Guerra Fria. Tinha como tarefa promover a cooperação monetária global, assegurar a ordem financeira, promover a estabilidade das taxas de câmbio e auxiliar seus membros a enfrentar dificuldades da balança de pagamentos. Finalmente, incumbia ainda ao Fundo estimular o comércio dentro de regras de aceitação mais ou menos geral. Essa declaração de missão era altissonante e virtuosa; a realidade, bem mais modesta e qualificada.
 
Seu irmão gêmeo era o Banco Mundial, também com sede em Washington, chefiado, desde então, por uma outra linha dinástica: a de eminentes financistas, banqueiros e homens públicos norte-americanos. Como primo dessas duas agências fundamentais, veio pouco depois, temporão, o GATT – hoje transformado na Organização Mundial do Comércio (OMC) e aberto, faz pouco tempo, a uma chefia que, agora pela segunda vez, não se origina em uma das duas margens do Atlântico Norte. Isso permitiu que Roberto Azevedo, do Brasil, conduza hoje os seus destinos.
 
Antes, ainda no intervalo entre as duas grandes guerras, foi criado na Basileia o Banco de Compensações Internacionais, com o qual se completa o leque das grandes organizações que atuam no campo das finanças mundiais.
 
As Nações Unidas, elas também, foram o mais abrangente produto da mesma grande fornada que organizou o mundo naquele período de grande redesenho político e econômico das relações internacionais quando terminava a Segunda Guerra Mundial. Embora na ONUíses que são membros permanentes e detêm o direito de veto no Conselho de Segurança, que é onde se resolvem as coisas sérias, sobrou do impulso democrático de Woodrow Wilson e da efêmera e malfadada Liga das Nações a paridade do peso dos votos de cada país na Assembleia Geral, sejam eles grandes, médios, pequenos ou minúsculos. Faço essa digressão porque vivemos ainda dentro da moldura do que foi feito no fim da Segunda Guerra Mundial. Mais uma vez, a violência foi a parteira da história e os quase setenta anos de paz desde então não permitiram que se construísse um edifício melhor e mais sólido. Deixo de lado a grande arquitetura diplomática de nosso tempo, hoje desgastada e enferrujada, e peço licença para voltar ao banheiro portenho onde o FMI era vilipendiado.
 
A pichação de banheiros públicos tem uma longa tradição e mesmo uma certa ortodoxia em sua temática – pornográfica ou não. E isso vem desde a Roma antiga, como se pode ver até hoje em Pompeia. Ataques a organizações financeiras internacionais não costumam enfeitar suas paredes. O sexo e sua oferta, gratuita ou remunerada, é o tema quase exclusivo dessa arte mural.
 
A inscrição sobre o Fundo era o reconhecimento de como sua presença e ação eram influentes e incômodas, e atingiam o que havia de mais sensível à vida política de um país.
 
De alguma forma, a inscrição era uma forma paradoxal de homenagem. O FMI era visto como o instrumento por excelência de intervenção das grandes potências nas confusas e, em geral, mal administradas economias dos países que a ele recorriam em diferentes estágios de descrédito e aflição. Países que foram sendo promovidos, ao longo dos anos, pelo menos verbalmente, da categoria inicial de atrasados para a de subdesenvolvidos, elevados depois à condição de países em desenvolvimento. Agora, finalmente, vemos que uns poucos, inclusive nós, tiveram seu status transposto para a categoria bem mais prestigiosa de países emergentes. A realidade subjacente que separava e separa os pobres dos ricos não mudou tanto ao longo dos anos, mas os rótulos que descrevem os pobres foram ficando, com o tempo, cada vez mais politicamente corretos.
 
Naqueles idos, o FMI tinha preceitos categóricos e um conjunto de certezas que, no mais das vezes, ignorava circunstâncias e especificidades locais. Seus enviados (“fiscais” seria talvez a designação mais correta) costumavam ser burocratas de hierarquia intermediária, geralmente sem treinamento ou experiência relevante em negociações internacionais e sem maiores credenciais acadêmicas. Ao chegarem aos seus destinos, eram elevados (e isso é especialmente verdade no caso brasileiro), por uma atenção intensa da mídia local, a uma posição de visibilidade e pretendida influência que nunca imaginaram poder ter em suas bases de origem. Eram, muitos deles, ingenuamente arrogantes.
 
Naquele tempo costumava ser muito menos comum do que hoje desconfiar da sabedoria e da previdência que se imaginava existir nos países ricos. Aceitava-se, com naturalidade, que entre eles e nós havia um hiato que nos fazia, em qualquer controvérsia e de maneira quase que automática, a parte defeituosa ou culpada. Essa percepção foi se alterando com o passar dos anos, à medida que os países industrializados se metiam em sérias trapalhadas e, para sair delas, passaram a transferir boa parte do ônus de suas correções e o preço de seus desacertos para os ombros dos países mais fracos.
 
Ao lembrar os agentes do FMI entre nós naqueles dias, a lente reducionista do tempo me faz recordá-los, essencialmente, como burocratas de comportamento essencialmente dis-creto e, em alguma medida, homogê-neo. Não mostravam traços próprios acentua-dos e eram, certamente, pouco frondo-sos e coloridos em sua aparência e em vestuário. Muito diferentes eram os representantes dos grandes bancos credores, alguns dos quais tinham exuberância no gesto e uma evidente autoconfiança na fala. Arquétipo foi Tony Gebauer, venezuelano de origem e nova-iorquino por escolha. Tinha nos charutos e nos suspensórios vistosos a marca registrada de sua autoconfiança e de sua autoestima. Foi, por um tempo, o responsável principal pela gerência da nossa dívida. Acabou condenado pela Justiça.
 
Os charutos estão, de fato e de direito, banidos dos lugares de trabalho e de convívio. Os suspensórios, enfeitados com símbolos do dólar e da libra esterlina, saíram de moda e não são mais parte do uniforme imaginário dos então donos da verdade e senhores do universo.
 
Foi em 1971 que os Estados Unidos, pressionados por enormes gastos e não menores derrotas no Vietnã, abandonaram a conversibilidade a taxas fixas entre o dólar e o ouro. Poucos anos depois, no contexto do chamado “choque do petróleo”, deu-se a elevação dramática das taxas de juros norte-americanas, levando o Brasil e vários outros países que haviam contraído grandes dívidas em dólares a ingressar num longo ciclo de turbulência e insolvência. As sucessivas crises de pagamento da dívida se estenderam por quase três décadas e deixaram traumatizada mais de uma geração de brasileiros.
 
O FMI tinha um receituário de aplicação geral. Enganou-se várias vezes não só sobre o remédio a ser empregado, como sobre a dose a ser prescrita. Produziu bons resultados, em alguns casos, menos pelo talento de seus agentes e pela sabedoria de suas receitas do que pelo constrangimento que criava, induzindo os governos monitorados a fazer finalmente e melhor o que deviam ter feito antes, de forma espontânea: adotar políticas sóbrias e sensatas para remediar situações que haviam levado seus países a graus diferentes de ingovernabilidade, quase sempre por causa daquela combinação tóxica, mas demagogicamente irresistível, de populismo, nacionalismo exaltado e desrespeito pelos contratos e compromissos assumidos.
 
Fui ao Palácio do Planalto em um fim de tarde – já muito distante – para tratar de algum assunto urgente durante a presença de uma das missões de fiscalização do FMI entre nós. Encontrei, instalada em uma sala cuja localização e dimensões indicavam o prestígio que atribuíamos ao ocupante circunstancial, uma representante do Fundo. Operando na própria sede do nosso governo, monitorava dali o que fazíamos. A imagem dessa situação humilhante não é fácil de esquecer.
 
O FMI, não é preciso dizer, não tem mais o poder que tinha. E a relação do Brasil com ele sofreu uma decisiva modificação. Passamos da condição de país devedor à de credor. Ampliamos nossas contribuições, temos maior peso e qualquer revisão futura de normas e práticas deverá levar em conta as nossas expectativas, ao lado de um punhado de outros grandes países que estão mudando a repartição do poder mundial.
 
Não encontrei em safras recentes, em muros e paredes brasileiros, palavras de repúdio ao FMI. Para nós, o Fundo simplesmente importa menos. Sofre ainda as ondas de choque causadas pelo afastamento de seu diretor-geral, Dominique Strauss-Kahn, em circunstâncias vexatórias, e procura agora recuperar o prumo e a credibilidade com a administração de Christine Lagarde.
 
Teve papel pouco significativo em toda a crise financeira que começou em 2007. Os recursos exigidos para enfrentar os problemas estavam muito acima do seu caixa; suas antigas receitas, testadas nas crises dos países periféricos, encontraram pouco espaço no encaminhamento de uma questão que se originou quase exclusivamente no mundo industrializado de onde nos vinham antes tantos conselhos. O G-20, de invenção muito mais recente, teve que ser chamado e, mais uma vez, foram os Estados Unidos que demonstraram sua posição dominante no cenário financeiro mundial.
 
Talvez na parede de algum banheiro público grego, espanhol ou português – suas vítimas de hoje –, o FMI seja ainda alvo de uma indignada rejeição. Sua receita de austeridade, formulada com algum simplismo, continua a ser, em muitos casos, inadequada como panaceia e cruel nas doses recomendadas.
 
Na recente e explosiva mobilização da opinião pública brasileira e no extenso e veementecahier de doléances [lista de reclamações] de nossas insatisfações, o FMI não mais aparece como vilão. Agora, como expressão de um novo poder, ainda menos legítimo e transparente, vamos encontrar a Fifa – Federação Internacional de Futebol, presunçosa e intrometida, transformada em grande estrela no cenário mundial, com direito até a bandeira e hino, coisa que o FMI, mesmo em seus momentos mais afoitos, nunca pretendeu ter. Não ouvi falar ainda de nenhum banheiro nosso pichado com palavras de repúdio à entidade que controla o futebol mundial, mas não duvido nada que esses registros já existam.
 
Vi nas imagens das muitas manifestações não um, mas muitos cartazes que identificam na Fifa um provedor de circos caros e seletivos, que desvirtua a sabedoria do Conselho de Roma, segundo a qual ao povo devia ser oferecido pão e circo.
 
Um desses cartazes de protesto simplesmente dizia: “Eu não votei na Fifa”; outro, ainda mais agressivo e sintético, dizia apenas: “Fifa da Puta” – o que me pareceu transmitir um sentimento difuso, mas muito presente nesta geração que tem desafiado as prioridades e os critérios governamentais no uso de recursos públicos.
 
Não é fácil saber com clareza como a Fifa opera e quais são seus rendimentos. Com sua sede em Zurique, uma cidade que cultiva a opacidade, e sem os constrangimentos e obrigações a que outras organizações públicas ou privadas são submetidas, a organização controla hoje o mais universal e popular dos esportes, provavelmente a atividade lícita que gera os maiores lucros e as mais poderosas emoções e paixões em todas as partes do mundo.
 
Um dos grandes talentos da Suíça, ao longo dos anos, tem sido o de acolher organizações desenhadas para procurar controlar, em escala mundial, importantes atividades ou procedimentos. Em uma ponta do espectro estão entidades de manifesto valor humanitário, como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Na outra ponta, estariam o Fórum Econômico Mundial, de Davos, a Organização Internacional para Padronização (ISO), em Genebra e em Zurique, e aquilo que aqui nos interessa, a Fifa, que se desta-ca entre outras poderosas máquinas de ganhar dinheiro.
 
Valendo-se de uma cultura e de uma tradição que protege o sigilo e resiste a disclosures – vale dizer a “revelações embaraçosas” –, a Suíça oferece um hábitat ideal para aquelas atividades que preferem a discrição e a sombra. O objetivo de muitos que ali operam não é fazer alguma coisa melhor do que outros fariam ou com uma melhor relação de custo–benefício, mas, antes, oferecer serviços discretos e confiáveis, sujeitos ao menor número possível de indagações embaraçosas.
 
Na coluna dos valores positivos, a Suíça tem coisas a oferecer: uma centralidade geográfica quase que ideal na Europa; a beleza de sua paisagem; a segurança e o conforto de suas cidades; o discreto, mas implacável, controle pelas autoridades policiais sobre quaisquer atividades que possam representar alguma medida de risco ou desordem.
 
Qualquer país que pretenda receber uma Copa do Mundo tem hoje, cabe reconhecer, uma mão negociadora fraca. A posição de poder da Fifa é tal que ela não se sente obrigada a ceder ou até mesmo a mostrar flexibilidade. Não faltam candidatos para sediar os eventos máximos do futebol mundial. Já estão escolhidos a Rússia para a Copa de 2018 e o Catar para a de 2022. Não foram poucos nem frágeis, em ambos os casos, os candidatos derrotados ou desencorajados a competir. Como todo império em fase de afirmação, a Fifa se expande. Controla hoje as Copas do Mun-do de Futebol, masculina e feminina, a Copa das Confederações, a de Futebol de Areia, a Copa do Mundo de Futsal, os campeonatos Sub-20 e Sub-17 dos dois sexos, a Copa do Mundo de Clubes. Faz tudo isso apoiada sobre uma estrutura de poder de dirigentes (“cartolas” seria a palavra datada que melhor os descreve) em boa parte navegando acima dos 70 anos, que mostram uma surpreendente disposição de se perenizar por meio de sucessivas reeleições.
 
Quem controla uma Copa do Mundo controla – é desnecessário dizer – todas as etapas seletivas que precedem o evento maior. Resumindo: tanto no plano horizontal quanto vertical a Fifa é hoje, em todos os sentidos, a dona da bola.
 
Também como acontece com os grandes impérios, a Fifa soube se cercar de patrocinadores que são pode-rosos aliados. Em algum momento, porém, e talvez próximo, a expansão do poder da Fifa e sua apropriação crescente do controle do futebol tenderão a ser desafiadas por alguma estrutura rival ávida de partilhar os lucros e o monopólio. Os escândalos e as denúncias envolvendo a entidade deverão se acumular, tanto em termos corporativos quanto pessoais, de maneira irresistível. Acredito que, em algum momento, a cúpula da Fifa irá receber um previsível cartão vermelho.
 
Antes que isso aconteça – a julgar pela lição do passado tantas vezes repetida –, será talvez a própria Fifa que perderá a ideia de seus limites. Disso deu sinal seu presidente, Joseph Blatter, na partida inaugural da Copa das Confederações, em Brasília, quando repreendeu em portunhol o público, pedindo que tivesse respeito e mostrasse fair-play com a presidente Dilma Rousseff. A vaia, que até aquele momento era apenas convencional, tornou-se então uma vaia verdadeiramente digna do nome. Nossa presidente mostrou juízo e sangue-frio. Dispensou a não solicitada mediação helvética e preferiu abreviar o procedimento com uma só frase, pela qual apenas declarava aberto o torneio, ponto final. Escaldada como deve estar, é pouco provável que voltemos a vê-la (ou ouvi-la) em qualquer estádio, até o fim de seu mandato.
 
Dizia Nelson Rodrigues que no velho Maracanã até minuto de silêncio era vaiado. Não imagino que isso tenha mudado com as reformas. As exortações da Fifa só terão efeito de reforçar um comportamento que, também desde a Antiguidade clássica, faz dos estádios um lugar que os políticos devem usar com extrema moderação e, se possível, de forma não conspícua e silenciosa.
 
Não estou seguramente informado sobre os custos adicionais, legítimos ou não, que o Estado brasileiro assumiu na construção ou modernização dos doze estádios em que se jogará a Copa de 2014. Esse torneio, disputado nas duas últimas copas em nove locais, será agora, por impulso nosso, ampliado para que seja jogado em doze cidades diferentes. Com isso foram atendidas, suponho, as pressões de governadores, prefeitos e os interesses de construtores e empreiteiros.
 
É fácil entender, em um país do nosso tamanho, os motivos que levam a essa expansão de sedes e de custos, mas é também fácil entender como essas ambições federativas, regionalistas ou apenas empresariais inflacionaram brutalmente os gastos e tornaram muito mais complexa a logística do evento.
 
Para pouca sorte dos que conseguiram que a disputa viesse até nós, a etapa final de preparação para o grande evento parece ocorrer em um momento em que no Brasil está acontecendo uma mudança verdadeiramente tectônica. O futebol continua a provocar entre nós o interesse e a adesão entusiasmada de sempre, mas os seus resultados não parecem mais se projetar para além do próprio universo do jogo. As expectativas e emoções ficam como que encapsuladas no terreno da própria disputa esportiva. Minha impressão é que futebol e política tenderão a estar no Brasil, a partir de agora, desacoplados. Isso, suponho, será bom para o futebol e bom para a política.
 
Assistimos, na Copa das Confederações, a um novo fenômeno. O Brasil comemorava dentro dos estádios a qualidade e o conforto das instalações, o jogo bonito e, sobretudo, as nossas vitórias. Mas, do lado de fora, uma nova agenda era proposta e defendida. Valores de uma sociedade comprometida com o combate contra a corrupção, com escolas e hospitais de qualidade – no “padrão Fifa”, como se viu nos cartazes nas ruas – não foram afetados pelo entusiasmo das arquibancadas. Em outras palavras: o futebol continua a nos divertir e empolgar, embora não baste mais para definir uma sociedade hoje bem mais complexa, mais do que nunca com aspirações de outra natureza.
 
Num momento em que o crescimento acelerado da nossa economia parecia assegurado, fizemos um intenso lobby para atrair a Copa, os Jogos Olímpicos e um punhado de outros grandes eventos. É lícito supor que os governantes tenham se fiado na convicção de que uma opinião pública entretida nos campos de jogo iria desviar os olhos de todo um processo caro, quando não irregular, utilizado para a montagem desses megaeventos.
 
Hesito em criticar o que foi feito apenas como expressão de uma vocação para o gigantismo irresponsável. Quase toda obra que vi ser feita no Brasil sofreu no começo a acusação de ser superdimensionada e mesmo desnecessária. Vi depois, como em poucos anos, o que parecia desmesurado ficar pequeno para atender a uma demanda que, entre nós, não para de crescer. Sei, também, como é difícil hierarquizar a importância do lazer nos gastos públicos e como não é fácil inscrevê-lo em qualquer coluna de prioridades.
 
O sambódromo do Rio talvez seja o exemplo mais eloquente disso. É utilizado apenas algumas poucas noites por ano para o fim a que se destinou quando criado. Entretanto, sua construção inventou uma demanda, criou uma imagem, levou outras cidades a imitarem o modelo – e hoje seria uma heresia e até um disparate demoli-lo. Um velho e austero senador romano no seu tempo teria dito, provavelmente, coisas terríveis sobre os gastos e a inutilidade do Coliseu. E ele, glorioso, continua lá. Mesmo as pirâmides (digam os egípcios e os mexicanos de hoje) não foram, afinal, uma tão má ideia.
 
Não vejo como, a esta altura, procurar reverter decisões e procedimentos. Nem como voltar atrás de compromissos formalmente assumidos. Estamos embarcados em um calendário exigente, que impede que se possa pensar em não receber o papa, driblar a Fifa ou fugir do Comitê Olímpico Internacional. Ainda acho que seja possível, no entanto, criar um pequeno grupo de assessoria do ministro do Esporte. Ganharia ele e ganharíamos todos nós se um grupo de provados negociadores com experiência nas transações financeiras e em políticas internacionais estivesse disponível para trazer a ele – mesmo que informalmente – o benefício de seu conselho e de sua experiência.
 
Fui um dos mais de 150 mil espectadores do fiasco de 1950 no Maracanã. Tinha 15 anos e serei hoje, imagino, um entre alguns poucos milhares de sobreviventes. Nunca participei de uma procissão mais triste do que aquela em que estávamos todos embarcados ao descer as rampas depois da derrota. Desde então vi o Brasil ser campeão cinco vezes. Pessoalmente, estou consolado e vingado, mas não saciado. Uma nova vitória, desta vez em casa e no mesmo lugar, provocaria em mim um prazer inefável.
 
Reconheço o que a Fifa tem feito para trazer aos estádios pontualidade, conforto e uniformização de práticas e procedimentos. Gostaria que ficassem nisso e que sua autoridade não fosse além de definir a duração de cada hino nacional. Estaria mesmo disposto a aceitar, com algum pesar, que os hinos fossem abandonados (o da Fifa deveria ser o primeiro), como desapareceram as bandas militares que antes os executavam nos estádios.
 
De tudo o que aconteceu até agora, o que me lavou a alma foi aquele momento triunfal do espírito libertário que vivemos ao ver o nosso hino, depois de esgotado o tempo rigoroso que lhe foi concedido, continuar a ser cantado, como se dizia antigamente, “no gogó” (expressão que parece mais eloquente e apropriada do que a erudita “a capela”), e que, ao fazê-lo, mostrássemos os limites que estamos dispostos a aceitar em nome da organização. Há mesmo um milagroso ganho colateral: que a Fifa nos esteja ajudando a aprender de cor a letra do hino nacional.
 
Além de um certo ponto, mesmo para a Fifa é temerário esquecer que os estádios são lugares de liberdade onde presidentes são vaiados e o hino é cantado com emocionante fervor. Inventamos um futebol jogado com imensa alegria e criatividade. Não vamos nos afastar desse caminho. Não somos no final das contas a Suíça, onde, como se costumava dizer, tudo o que não era proibido era obrigatório.
 

Desigualdade é o principal risco para o mundo, segundo peritos reunidos em Davos

 


À frente do aquecimento global ou dos efeitos de estufa, à frente das catástrofes naturais, à frente mesmo do desemprego - está a ameaça representada para o mundo pelas crescentes desigualdades sociais. Essa é, pelo menos, a conclusão que acreditaram cerca de 700 peritos reunidos na estância suíça de Davos, no âmbito do Fórum Económico Munidal
 
Segundo o relatório anual do Forum sobre os riscos mundiais, "o persistente fosso entre os rendimentos dos cidadãos mais ricos e os dos mais pobres é considerado como o risco susceptível de provocar os estragos mais graves no mundo no decurso do próximo decénio".

É certo que, segundo o mesmo relatório, "o colapso generalizado do sistema financeiro é o risco cujos efeitos seriam mais marcantes se se materializasse". Mas essa materialização surge no relatório como uma hipótese de trabalho mais do domínio teórico, ao passo que "as profundas disparidades de rendimentos constituem o risco mundial mais susceptível de se concretizar no decurso do próximo decénio".

Outros riscos têm que ver com a penúria de água - um dos riscos mais preocupantes -, de crise orçamental ou com cenários de colapso massivo dos sistemas informáticos - designado como "cibergedão", ou "armagedão cibernético".

No que diz respeito ao "cibergedão", é a dependência crescente face à internet que o torna potencialmente explosivo. Acontece que os primeiros laivos de uma cooperação intergovernamental para prevenir esse cenário apocalíptico se viram recentemente desencorajados pelas revelações trazidas a público por Edward Snowden.

O presidente do Forum Económico Mundial, Klaus Schwab, comentou a este respeito, segundo citação do Le Monde: "As nossas vidas mudam a um ritmo sem precedentes. As transformações em curso na economia, no ambiente, na geopolítica, na sociedade e na tecnologia oferecem oportunidades sem incomparáveis, mas as interconexões entre elas conduzem também a um aumento dos riscos sistémicos".

RTP – foto Denis Balibouse, Reuters
 

PORTUGAL VAI FORNECER APOIO MATERIAL ÀS ELEIÇÕES NA GUINÉ-BISSAU

 


Portugal vai "fornecer material, incluindo boletins de voto, em apoio às eleições presidenciais e legislativas de 16 de março" na Guiné-Bissau, anunciou hoje a embaixada portuguesa na capital guineense.
 
O apoio surge "em resposta à solicitação apresentada" e dele foi já dado conta à Comissão Nacional de Eleições da Guiné-Bissau, em reuniões realizadas na quarta-feira em Bissau e Lisboa, refere a representação diplomática, em comunicado.
 
À semelhança do ocorrido noutras eleições, Portugal vai "fornecer material, incluindo boletins de voto".
 
O trabalho será feito em coordenação com "a estrutura das Nações Unidas na Guiné-Bissau, aguardando-se mais informação por parte da Comissão Nacional de Eleições quanto ao material necessário, tendo em conta os compromissos já assumidos por doadores internacionais".
 
No comunicado, a embaixada portuguesa salienta que "a realização de eleições livres, justas e transparentes é da responsabilidade das autoridades de transição guineenses".
 
"Portugal continuará, tanto a título nacional, como em conjunto com os seus parceiros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e da União Europeia, a apoiar a realização das eleições gerais de 16 de março", sublinha o documento.
 
O sufrágio é classificado como "um passo essencial para o retorno à ordem constitucional na Guiné-Bissau, nos termos das relevantes resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas e suas subsequentes Declarações".
 
As eleições serão as primeiras depois do golpe de Estado de abril de 2012.
 
Lusa, em RTP
 

Portugal: CRIME DE TRÁFICO DE INFLUÊNCIAS NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

 


Paulo Morais: terá chegado a hora de pedir uma investigação, a toda a Assembleia, pelo crime de tráfico de influências?

Apodrecetuga

Os maiores grupos económicos portugueses dominam o Parlamento através das dezenas de parlamentares a quem garantem salários e consultadorias.

Estes deputados colocam-se na posição ambígua que decorre duma dupla representação: do povo que os elegeu e das empresas que lhes pagam.

(Quase sempre a defesa do interesse das empresas choca com o interesse de quem os elege)

Assim, quando o deputado Miguel Frasquilho aparece a defender em público o Orçamento de 2014 em nome do PSD, fá-lo porque acredita que o Orçamento é bom para o País, ou porque este favorece a Banca, em particular o Grupo Espirito Santo ao qual deve obediência, enquanto funcionário?

A discriminação continua: A promiscuidade é, infelizmente, a regra. O presidente da comissão de Segurança Social,
José Manuel Canavarro, é consultor do Montepio Geral, banco que actua na área da solidariedade.

Na saúde, sector tão sensível, o deputado Ricardo Baptista Leite, é consultor da Glintt Healthcare , empresa fornecedora de hospitais.

Na área da defesa, há interesses privados representados pelo atual presidente da Comissão de Defesa, Matos Correia, advogado no mesmo escritório que o seu antecessor na função, José Luis Arnaut, cujo principal sócio é o ex-ministro também da Defesa, Rui Pena.

Na comissão de agricultura, Manuel Issac tutela, em nome do Parlamento, um ministério que, por sua vez, influencia a atribuição de subsídios a empresas agrícolas em que detém participações.

Também Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola e accionista da Zon, está representada no Parlamento, através do deputado Paulo Mota Pinto, administrador daquela empresa de comunicações.

Os deputados supra mencionados são do PSD, com a excepção do Ministério da Agricultura, que é do (PP/CDS). Também há os do PS da oposição, que se calam.

A lista é interminável e assustadora.

Mas, mesmo assim, no debate sobre regime de incompatibilidades que há dias teve lugar no Parlamento, os deputados que transformaram a Assembleia, a casa da democracia, num escritório de negócios e favores, nem se dignaram a aparecer para se justificarem.

Para restaurar alguma higiene democrática, exige-se que os deputados promíscuos se decidam: abandonem os cargos que ocupam em empresas que recebem benesses do Estado ou saiam do Parlamento cuja dignidade arruínam.

Se o não fizerem de modo próprio, nem forem censurados pelos seus pares, terá chegado a hora de pedir uma investigação, a toda a Assembleia, pelo crime de tráfico de influências.

DESTES SENHORES NÃO SE PODE CONFIAR NO QUE DIZEM, MAS, APENAS NAQUILO QUE FAZEM!...
 


* Assembleia da República.
 
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Portugal: ESCÂNDALO

 

Zé Povinho
 
Os governantes portugueses têm beneficiado de verdadeira impunidade, apesar dos inúmeros casos conhecidos de má governação e de prejuízos elevados causados ao Estado. Por norma considera-se que as decisões políticas não podem ser criminalizadas, o que em vários casos não faz qualquer sentido.
 
O caso das PPP’s é um dos casos exemplares onde a impunidade é verdadeiramente incompreensível. Este tipo de “negócio”, a que se chamou de parceria, começou logo desde o princípio por uma mentira monumental, pois foi apresentado como um “negócio” sem custos para os contribuintes.
 
Julgo que a mentira seria suficiente para condenar os políticos que assim apresentaram as parcerias, mas não se ficou por aí, porque também foram indicadas necessidades que não eram reais, os custos derraparam e fala-se até de revisões de contratos que foram prejudiciais para o erário público.
 
Os governantes que assinaram estes contratos nunca foram chamados à responsabilidade, e os privados que lucram com os seus erros, continuam a embolsar dinheiro, dos nossos impostos, não são chamados a contribuir em conformidade.
 
Numa altura em que a generalidade dos trabalhadores é chamada a esforços suplementares, esta situação é um escândalo que descredibiliza ainda mais a política e a justiça nacionais.
 
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Portugal: RESULTADOS

 

Triunfo da Razão
 
O Governo procura resultados. O Governo luta por resultados. O Governo apresenta resultados. Os números do défice; os números da dívda; os números do crescimento económico; os números do desemprego. Os números; sempre os resultados.
Todavia, há resultados que ficam de fora dos discurso do Governo:

- Os resultados desastrosos na área da Saúde, verificando-se um retrocesso sem precedentes na qualidade dos serviços e nas respostas a situações de acentuada gravidade. Importa no entanto referir que este é um resultado almejado pelo Governo e por todos aqueles que vão comer da mesma gamela, designadamente o sector privado.

- Os resultados alarmantes no que diz respeito à Educação e Ensino Superior, com a existência de alunos que não concluem os estudos por falta de capacidade económica, voltando Portugal a estar na cauda da Europa neste particular e com o CDS a insistir numa discussão sobre o ensino obrigatório, havendo mesmo quem defenda o fim do ensino obrigatório de 12 anos.

- Os resultados angustiantes nas vidas de pensionistas que, em escassos anos, assistiram a um retrocesso que seguramente nunca lhes havia passado pela cabeça; muitos destes pensionistas que para além de serem vítimas de roubo das suas reformas ainda têm de socorrer os filhos desempregados ou trabalhadores precários.

- Os desempregados que para além de viverem um verdadeiro paroxismo inerente à sua condição, ainda ouvem membros do Governo discutir o decréscimo da taxa de desemprego, como se esses números apresentassem alguma correlação com a realidade.

- Os resultados no que diz respeito à desvalorização salarial e ao aumento da precariedade.

Estes são os resultados que verdadeiramente contam para os que ficam e para os que partem. Estes são os resultados que ficam de fora das contas do Governo, resultados que representam um inquestionável retrocesso social, um país mais pobre sob todos pontos de vista.

Ana Alexandra Gonçalves
 
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Portugal: PREVISÃO DE SEXTA-FEIRA NEGRA COM CHUVA E VENTO FORTES

 

Jornal de Notícias
 
A Proteção Civil emitiu um alerta de mau tempo para sexta-feira. Chuvas fortes e vento com rajadas superiores a 100 km/hora aconselham a cuidados a quem tem de andar na rua, prevendo-se a ocorrência de "fenómenos extremos de vento", como o que ocorreu em Paredes no início do ano.
 
A acalmia meteorológica que se regista desde o início da tarde desta quinta-feira é a bonança que antecede a tempestade prevista para sexta-feira, de norte a sul do país, com previsão de queda de neve, agitação marítima e chuva e ventos fortes.
 
Para o litoral norte e centro, prevê-se "precipitação localmente intensa", acompanhada de queda de granizo e rajadas de vento, podendo variar entre os 60 e os 100 km/h, entre a meia-noite e as 9 horas da manhã de sexta-feira. É "expectável a ocorrência de fenómenos extremos de vento", similares ao que destruiu cerca de 50 casas e algumas fábricas em Paredes, a 4 de janeiro.
 
A partir das nove horas, o mau tempo desloca-se para sul, com níveis de precipitação e força de vento idêntica, sendo possível a ocorrência dos mesmos fenómenos extremos.
 
Em face desta previsão, a Protecção Civil recomenda a adoção de medidas de prevenção, como ter especial cuidado na circulação junto de áreas arborizadas, estando atento para a possibilidade de queda de ramos e árvores, e na circulação junto da orla costeira e zonas ribeirinhas historicamente mais vulneráveis a inundações rápidas.
 
Entre os cuidados a ter, é conveniente garantir a desobstrução dos sistemas de escoamento das águas pluviais e adotar uma condução defensiva, reduzindo a velocidade e tendo especial cuidado com a possível formação de lençóis de água.
 
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MILITARES PENSAM QUE SÃO “DONOS DA HISTÓRIA” NA GUINÉ-BISSAU – Vaz Martins

 


O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) considerou hoje que os militares assumem-se, "de forma algo paternalista", como "donos da História e do presente" na Guiné-Bissau, contando com uma classe política "muito pobre" para dominar o país.

Falando aos jornalistas à margem da 1.ª Conferência Internacional sobre Políticas de Drogas nos Países Africano de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), que termina hoje na Cidade da Praia, Luís Vaz Martins considerou que esta situação leva a que a classe castrense guineense não queira largar o poder.

"A Guiné-Bissau passou por um período complicado para ser independente, tendo como palco o seu próprio território. Não houve preparação para a fase de transição. Acredito que os militares sempre dirigiram o país, numa primeira fase, às vezes com vestes civis, como foi o caso de Nino Vieira, que foi um militar", explicou.

Lusa
 

NARCOTRÁFICO LIGADO AO GOLPE DE ESTADO NA GUINÉ-BISSAU

 


A implicação dos militares no narcotráfico na Guiné-Bissau parece não deixar dúvida à sociedade civil daquele país. A ponto de ter tido um papel importante no golpe de Estado de 12 de abril de 2012.
 
Em Cabo Verde terminou esta quinta-feira (16/01), na Cidade da Praia, a Primeira Conferência Internacional sobre Políticas de Drogas nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Na conferência participou também o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Luís Vaz Martins, que disse à DW África ser incorreto considerar a Guiné-Bissau um narco-Estado: “Não é a melhor maneira de resolver o problema, apelidar o país de narco-Estado, porque estaremos a criar maiores problemas do que o narcotráfico já está a criar no país”.
 
O ativista dos direitos humanos acredita que a terminologia narco-Estado foi gerada internamente, na ganância de arrancar apoios financeiros junto da comunidade internacional: “Às vezes, nessa lógica de aceder a meios financeiros para resolver os problemas, não somos muito prudentes nas designações que arranjamos para determinados fenómenos”.

O narcotráfico “presente” no golpe de Estado na Guiné-Bissau
 
Luís Vaz Martins reconhece, no entanto, que as instituições guineenses são frágeis e que há um défice de responsabilização. Afirma que, por isso, o tráfico de droga tem contribuído também para a deterioração da situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau: “O narcotráfico tem contribuído negativamente para a afirmação da democracia e o narcotráfico esteve presente no golpe de estado último. A droga tem a sua parte nesta realidade nefasta que o país atravessa”.

Luís Vaz Martins entende que os militares são “naturalmente” responsáveis por esta situação, mas ressalva que contaram sempre com a cumplicidade de uma

O Brasil discute a liberalização

No Brasil, o tema é outro: está em curso um debate sobre a liberalização da venda de droga no país. Rubens Casara, juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, afirma: “Discute-se muito a necessidade de mudar de paradigma”. O que implica abandonar a repressão como resposta “preferencial” para a questão das drogas, e “passar a investir em políticas de redução de danos”. O especialista admite tratar-se de um tema muito controverso: “Estamos atentos às experiências de legalização e de regulamentação para além do direito penal noutros países”. Rubens Casara destaca o procedimento do Uruguai e do estado federado do Colorado, nos Estados Unidos da América, como possíveis exemplos a seguir no Brasil.

Cabo Verde quer contribuir para o combate ao narcotráfico

 
Ao discursar perante membros de governos dos PALOP, representantes diplomáticos e de organizações internacionais, especialistas e autoridades nacionais e estrangeiras no domínio da prevenção da toxicodependência e do combate ao narcotráfico, o Primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, deixou uma mensagem de firmeza do seu Governo e da sociedade cabo-verdiana nessa luta global: “Asseguro a todos que este país será um parceiro útil e estratégico na luta contra as drogas”.
 
Deutsche Welle – Autoria: Nélio dos Santos (Cidade da Praia) – Edição: Cristina Krippahkl / António Rocha
 

GREVE PÕE EM CAUSA DATA DAS ELEIÇÕES NA GUINÉ-BISSAU

 


A realização das eleições gerais a 16 de março está em risco devido a vários constrangimentos que podem atrasar o recenseamento. O Governo debate-se com várias paralisações. Faltam também tinteiros para o recenseamento.
 
Uma greve de funcionários do Parlamento da Guiné-Bissau ameaça a realização de uma sessão extraordinária para debater o prolongamento do recenseamento eleitoral até ao final de janeiro.
 
A decisão do prolongamento foi tomada pelos atores políticos e militares guineenses no início do mês, face ao baixo número de registos em dezembro. Mas o prolongamento apenas será possível com o voto do Parlamento. Só se a lei for alterada as eleições gerais poderão realizar-se na data prevista, 16 de março.
 
Isto porque, para que o período de recenseamento seja prolongado sem mexer na data das eleições, o Parlamento tem de encurtar o prazo previsto para que os cadernos eleitorais sejam publicados em locais públicos, 60 dias antes do escrutínio – ou seja, esta quarta-feira (15.01).
 
Falando em nome dos funcionários do Parlamento guineense, que reclamam o pagamento de dois meses de salários em atraso e subsídios de viagens, Justino Sá diz que, neste momento, está à espera da sessão parlamentar para se poder retomar a greve.
 
"A greve agora não vai ter impacto nenhum, porque a Assembleia não está a reunir", disse. "Por isso achámos por bem suspender a greve esperando o início da reunião da plenária para a retomar."
 
Justino Sá acrescenta que, até agora, o Governo ainda não deu resposta às reivindicações dos funcionários sobre o pagamento dos meses de salário em atraso.
 
Faltam tinteiros
 
Outro problema que também provoca atrasos assinaláveis no processo de recenseamento é a falta de tinteiros para as máquinas que devem imprimir os cartões de eleitor. Várias pessoas já foram recenseadas, mas até ao momento não receberam os seus respetivos cartões de eleitor.
 
"Recenseei-me há duas semanas e quero ter o meu cartão", afirmou um guineense. "Passo ali de vez em quando, para ver, mas dizem-me sempre que estão a trabalhar para nos entregar o cartão."
 
Decorridos cerca de 40 dias do processo de recenseamento, o Governo de transição anunciou que cerca de 60 por cento de eleitores estavam cadastrados, havendo ainda zonas da Guiné-Bissau por recensear.
 
Batista Té, ministro da Administração Territorial, entidade do governo que coordena todo o processo eleitoral, faz contudo um balanço positivo.
 
"Estamos a evoluir muito. Estamos muito satisfeitos com os nossos jovens, os rapazes, que até nesse momento ponderaram e estão a compreender as dificuldades que temos no terreno", disse o ministro guineense.
 
Greve nas Alfândegas
 
Enquanto a população guineense espera poder votar no dia 16 de março, o porto comercial de Bissau vai permanecer encerrado devido a uma greve geral nas Alfândegas do país até quinta-feira (16.01).
 
Os funcionários reclamam o pagamento de 12 meses de subsídios previstos na lei, segundo Gregório Mbana, da comissão que convocou a paralisação.
 
"A Alfândega está de greve porque [os funcionários] estão a reclamar as remunerações acessórias que não foram pagas durante um ano", afirmou Mbana. "Reunimos com o Governo, mas não chegámos a um entendimento."
 
Deutsche Welle – Autoria: Braima Darame (Bissau) / LUSA – Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha
 

FRELIMO CONVOCA MANIFESTAÇÃO DE APOIO AO PRESIDENTE MOÇAMBICANO

 


A Frelimo vai realizar no sábado uma manifestação de apoio ao seu líder e Presidente da República, Armando Guebuza, anunciou o partido no poder em Moçambique.
 
A manifestação, cujos pormenores serão dados hoje a conhecer numa conferência de imprensa expressamente convocada para anunciar a marcha, realiza-se dois dias antes do 71.º aniversário de Guebuza, que terá que abandonar o cargo este ano por estar constitucionalmente impedido de concorrer a um terceiro mandato presidencial.
 
A Frelimo pré-selecionou um grupo de três dirigentes, do qual sairá o seu candidato às eleições presidenciais de outubro, numa escolha que o comité central do partido fará no final de fevereiro.
 
Mas esta situação está a ser contestada internamente, por interpretações que defendem que o comité central é livre de escolher qualquer outro candidato e não tem que ficar cingido ao grupo, que inclui o primeiro-ministro Alberto Vaquina, e os ministros da Agricultura, José Pacheco, e da Defesa, Filipe Nyussi.
 
A Frelimo, que governa o país desde a independência, em 1975, atravessa um momento conturbado, marcado pela sucessão de Guebuza na presidência do país, mantendo-se, no entanto, como líder do partido, e por resultados considerado negativos nas últimas eleições autárquicas de novembro.
 
Nessa votação, o Movimento Democrático de Moçambique, na oposição e terceiro partido parlamentar, conquistou três das quatro principais cidades moçambicanas e teve votações acima dos 40% em Maputo, Matola e Chimoio.
 
LAS // HB – Lusa – foto António Silva
 

ATAQUE DE QUARTA-FEIRA NO CENTRO DE MOÇAMBIQUE CAUSOU TRÊS MORTOS

 


O ataque de quarta-feira contra uma coluna militar de viaturas na região de Muxúnguè, Sofala, centro de Moçambique, causou três vítimas mortais, confirmou hoje à Lusa uma fonte médica.
 
Um corpo sem vida deu entrada no Hospital Rural de Muxúnguè após o ataque, onde viria a morrer um dos cinco feridos graves registados naquela unidade hospitalar. A terceira vítima morreu quando era levada por uma ambulância para o Hospital Central da Beira.
 
"Subiu para três o número de óbitos. Um, foi no local do ataque, o segundo após dar entrada no hospital e, outro, na ambulância", precisou Pedro Vidamão, diretor do Hospital Rural de Muxúnguè, o que mais assiste as vítimas dos ataques, atribuídos a homens armados da Renamo.
 
Na quarta-feira, um autocarro de passageiros da empresa Etrago foi "fortemente metralhado", quando a coluna de viaturas foi parada a tiros na zona de Chimutanda, a 15 quilómetros da vila de Muxúnguè, uma área pouco habitual para este tipo de ataques, e não distante de uma posição do exército.
 
Entre os feridos, disse Vidamão, estão dois antigos jogadores do Ferroviário de Quelimane, que seguiam viagem para Chibuto (Gaza, sul) para se apresentarem ao novo plantel da equipe que milita no campeonato nacional, Moçambola. Outros dois jogadores que saíram ilesos seguiram viagem.
 
Desde 04 abril, quando os ataques foram iniciados no posto policial de Muxúnguè, numa retaliação da Renamo ao assalto e ocupação da sua base local, já morreram, pelo menos, 39 pessoas, 24 das quais após a ocupação, pelo exército, a base de Sadjundjira, a 21 de outubro, quando os ataques foram intensificados no troço Save-Muxúnguè, além de 79 feridos.
 
Os ataques são justificados como protesto contra a "ditadura implantada" pelo Governo e a falta de consenso sobre a lei Eleitoral, levaram o país a viver o pior momento de tensão político-militar após a assinatura do Acordo de Paz, em 1992, que pôs fim a guerra civil dos 16 anos, entre o Governo e a Renamo.
 
AYAC // VM – Lusa – foto André Catueira
 

Timor-Leste: MAIORIA DAS COMUNIDADES DE DÍLI NÃO TÊM ACESSO À ÁGUA POTÁVEL

 

16 de Janeiro de 2014, 16:34
 
As comunidades das áreas de Taibessi, Becora, Tasi Tolu, Kampun Moris Foun, assim como muitos outros sítios na capital de Díli estão insatisfeitas por não terem acesso à água potável, segundo o Suara Timor Lorosae.

Duarte Pinto da comunidade de Taibessi disse que o povo vive há anos à espera de uma resposta do governo sobre a situação de acesso à água potável.

Preocupada com esta situação, a comunidade de Taibessi resolveu furar um cano de água para seu uso próprio. Isto fez com que a entidade competente tomasse medidas e fechasse o cano prometendo resolver o caso. O que ainda não aconteceu até à data, segundo Duarte Pinto.

A estudante Angelina Fernandes da comunidade de Kampun Moris Foun queixa-se que todos os dias tem o mesmo problema. Falta de água para tomar banho antes de ir para a escola. A mesma disse que por vezes tem que aproveitar a água da chuva para esse efeito. Quando não chove tem que ir buscar água a outro sítio.

Alguns estudantes chegam mesmo tarde à escola, Vitória Pereira é uma dessas pessoas que por causa da água nem sempre chega a tempo à escola, pois tem que ir procurar um sítio para ir buscar água.

SAPO TL com STL
 

Macau: O JOGO DO MAL E O JOGADOR DO BEM

 

Leocardo – Hoje Macau, opinião
 
I - Macau é a Meca do jogo, dizem. Blasfémia: Macau é a Sodoma e Gomorra do jogo. O jogo é a principal fonte de receitas de Macau, é o que mostram os números. Facto: a economia de Macau está perigosamente dependente do jogo. O jogo é um entretenimento, e é possível jogar “de forma responsável. Puro engano: o jogo vicia, destrói famílias, arruína vidas, e está na origem dos tipos de crime mais violentos, e em números que teimam a aumentar. O problema da criminalidade não tem a ver com o tráfico de droga ou de pessoas, com o trabalho ilegal, crimes passionais e outros de faca e alguidar. Os delitos mais graves, mais chocantes e desumanos vão quase sempre parar ao jogo, e basta abrir os jornais para comprovar isso mesmo. São filhos que roubam dos pais, amigos que se enganam, famílias destruídas, raptos, homicídios, assaltos à mão armada, o drama, a tragédia, o horror, como dizia um conhecido jornalista português. Já alguém se incomodou a contar quantos casos de roubo, burla e abuso de confiança estão directa ou indirectamente relacionados com o vício e com as dívidas ao jogo? As autoridades nada mais podem fazer do que ocorrer onde o mal já está feito, e ironia das ironias, até um alto quadro das Forças de Segurança foi apanhado recentemente a jogar no casino, quando o seu estatuto não lhe permite que o faça. É uma realidade que a proliferação de casinos no território foi benéfica para os cofres da RAEM, o que é óptimo para a quem eles tem acesso e ainda melhor para as operadoras e os seus executivos, os de cá e os do outro lado do planeta, os “cowboys” do quase falido faroeste do Nevada. E o que ganhamos nós com isso, a não ser os subsídios, cheques anuais, vales de saúde e outras papas e bolos com que enganam os tolos, e que nos vão chegando a conta-gotas? Podíamos questionar quem de direito sobre o que pensam fazer quando a brincadeira acabar, e formos apanhados com as calças na mão, com uma geração de mão-de-obra jovem a quem não ensinaram mais nada a não ser que o jogo “é uma perspectiva de carreira interessante” – aliás, é praticamente a única. Mas não, isso dá muito trabalho. O melhor é ficar a olhar para a manada de elefantes a levar tudo pela frente, enquanto tentamos apanhar algumas bananas que vão saltando da selva que vai sendo esmagada. E já agora fazendo figas para não sermos pisados.
 
II - Portugal ficou mais pobre no domingo com o desaparecimento de Eusébio da Silva Ferreira, o “Pantera Negra”, um mito que atravessa três gerações de portugueses e de amantes do futebol, e não só. Quando se fala do futebol como arte e evento que arrasta multidões, era Eusébio quem punha o “rei” em “desporto-rei”. O mediatismo que rodeou a sua morte, que fez capa na imprensa dos quatro cantos do mundo, e foi no dia seguinte a terceira notícia mais lida na página da Yahoo!, faz-nos sentir culpados de não termos valorizado aquele património em forma de atleta e de homem. Por acaso alguém se lembrou dele aquando daquela foleirice que foi a eleição do “Maior Português” aqui há uns anos? Não, ninguém se lembrou. Ganhou Salazar. Temos o que merecemos, e somos pequeninos em tanta coisa, que até na hora de dar o devido valor a quem o merece revelamos a nossa pequenez. Só que Eusébio era maior que tudo isto, e foi embaixador mesmo em nome de quem não quer saber de embaixadas, nem percebe nada de diplomacia. Uma amiga macaense disse-me ter ficado surpreendida por ver tanta gente a chorar pela morte de um jogador. Respondi-lhe que faz todo o sentido, pois afinal não há por aí tanta gente que chora ao ver telenovelas ou filmes? Pelo menos o Eusébio era bem real, e mais que um mero jogador de futebol com uma carreira que durou 15 anos, é como homem um daqueles exemplos que continuamos a recusar imitar. Ele parte com a consciência tranquila de quem fez o que pode, e pode agora descansar no panteão dos deuses, ao lado do restantes imortais.
 

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