terça-feira, 18 de dezembro de 2012

BRADLEY MANNING RELATA O INFERNO QUE PASSOU NAS MÃOS DOS MILITARES DOS EUA

 


O soldado Bradley Manning pode, finalmente, falar publicamente em sua defesa, em uma audiência preliminar ao conselho de guerra a que será submetido no próximo ano. Manning é a suposta fonte do maior vazamento de inteligência na história dos Estados Unidos. Nos últimos dois anos, ele sofreu calvário de encarceramento em confinamento solitário, em condições cruéis e degradantes que muitos sustentam equivaler à tortura. O artigo é de Amy Goodman.
 
Amy Goodman - Democracy Now - Carta Maior
 
O soldado Bradley Manning pode, finalmente, falar publicamente em sua defesa, em uma audiência preliminar ao conselho de guerra a que será submetido no próximo ano. Manning é a suposta fonte do maior vazamento de inteligência na história dos Estados Unidos. O soldado, que trabalhava como analista de inteligência no Exército dos Estados Unidos e tinha acesso á informação ultra-secreta, foi enviado ao Iraque. Em abril de 2010, Wikileaks publicou um vídeo onde um helicóptero Apache, das Forças Armadas estadunidenses, dispara contra uma dezena de civis, entre eles dois funcionários da Reuters, um câmera e seu chofer, em Bagdá.

Um mês depois da publicação do vídeo, Manning foi preso no Iraque e acusado de ter vazado o vídeo e outras centenas de milhares de documentos. Assim começou seu calvário de encarceramento em confinamento solitário, em condições cruéis e degradantes que muitos sustentam equivaler à tortura, desde sua detenção no Kuwait até os meses de detenção na base militar Quantico, na Virgínia, Estados Unidos. Após a condenação mundial contra suas condições de detenção, as forças armadas estadunidenses transferiram Manning para um centro de detenção em Fort Leavenworth, Kansas, onde as condições não são tão severas.

Enquanto Manning enfrenta 22 acusações em um conselho de guerra que pode condená-lo à prisão perpétua, seu advogado argumentou na audiência preliminar que o caso deveria ser encerrado por causa do castigo ilício aplicado ao soldado antes do julgamento.

O advogado constitucionalista de longa trajetória, Michael Ratner, encontrava-se na sala de audiências em Fort Meade, Maryland, no dia em que Manning prestou seu depoimento. Ratner descreveu a cena: “Foi uma das cenas mais dramáticas que já vi em uma sala de audiências (...)
Quando Bradley começou a falar não estava nervoso. Seu testemunho foi extremamente comovedor, realmente emotivo para todos nós, mas especialmente, como é evidente, para o próprio Bradley pelo que teve que suportar. Foi terrível o que aconteceu em dois anos, mas ele descreveu tudo com riqueza de detalhes, de um modo eloquente, inteligente e consciente”.

Ratner disse que Manning descreveu como ficou detido em uma jaula no Kuwait: “Havia duas jaulas. Disse que eram como jaulas para animais. Estavam sob uma tenda, só estas duas jaulas, uma ao lado da outra. Uma delas continha alguns dos pertences de Manning, na outra, onde ele estava, havia uma pequena cama, uma estante e um vaso sanitário. Ele permaneceu nesta jaula escura durante quase dois meses. Ele foi retirado dela por curto espaço de tempo e depois, sem dar explicações, voltaram a colocá-lo na jaula (...) Bradleuy disse sobre esse período: “Creio que perdi a noção do tempo. Não sabia se era dia ou noite. Meu mundo se tornou muito pequeno. Converteu-se nessas duas jaulas”. Ratner acrescentou: “Isso quase o destruiu”.

Depois de sua detenção no Kuwait, Manning foi transferido para uma base militar em Quantico. Seu advogado, David Coombs, disse este mês: “O modo pelo qual trataram Brad em Quantico ficará gravado para sempre na história de nosso país como um momento lamentável. Não foi somente estúpido e contraproducente. Foi criminoso”.

O advogado Michael Ratner também descreveu o momento no qual Bradley Manning explicou o que ocorreu em Quantico: “Bradley contou como era estar nessa cela, na qual deve dormir em uma pequena cama, com uma luz frontal apontada na sua direção, que deixavam acesa para poder observá-lo. Se ele se movia para evitar a luz iam acordá-lo. Isso acontecia pela noite. Durante o dia, passava de 23 a 23 horas e meia na cela. Às vezes, tinha 20 minutos do que chamavam de “exercício ao sol”, o que não é nada. O que ele podia fazer? Porque supostamente está em serviço, devendo ou estar em péi ou sentado nesta cama de metal com os pés no solo e sem poder apoiar-se em nada. Isso durante 10 ou 15 horas por dia, o que deve se chamar de privação dos sentidos”.

O relator especial das Nações Unidas sobre a tortura, Juan Méndez, tentou visitar Manning, mas acabou se negando quando as forças armadas disseram que iriam vigiar e gravar a visita. Méndez informou: “A detenção em confinamento solitário é uma medida severa que pode provocar grave dano psicológico e fisiológico aos indivíduos, independentemente de sua situação específica”.

Os oficiais do exército descreverem o tratamento cruel aplicado a Manning como necessário, devido ao fato de que, segundo afirmaram, havia risco de que ele tentasse o suicídio. No entanto, o capitão da Marinha, William Hocter, um psiquiatra forense de Quantico, disse que não existia tal risco, mas que não o escutaram. “Sou médico chefe há 24 anos e nunca vi algo igual”, declarou Hocter. “Estava claro que estavam decididos a tomar um determinado curso de ação e pouco importavam minhas recomendações”.

A primeira etapa do conselho de guerra, que Coombs denomina “a etapa das moções de castigo ilícito antes do julgamento”, considerou uma moção da defesa pedindo o fim do caso. Embora seja improvável que isso aconteça, aqueles que seguem o caso sustentam que a defesa solicitou, como alternativa, que o conselho de guerra considere reduzir a pena de Manning resultante do julgamento a uma razão de dez dias por cada dia que teve que suportar o trato cruel e degradante no Kuwait e em Quantico, o que, em tese, poderia significar uma redução de seis anos em sua condenação à prisão.

Bradley Manning é acusado de vazar uma série de documentos para Wikileaks, que incluem o vídeo do massacre de Bagdá, duas grandes séries de documentos relacionados com os registros militares estadunidenses das guerras do Iraque e do Afeganistão e, talvez o mais importante, o vazamento de mais de 250 mil telegramas do Departamento de Estado dos EUA, conhecida como “Cablegate” (em referência a Watergate). Após uma avaliação realizada em agosto de 2010, o então Secretário de Defesa, Robert Gates, sustentou que a publicação dos documentos “não revelou fontes nem métodos de inteligência importantes”.

Manning concordou em se declarar culpado pelo vazamento dos documentos, mas não pelas acusações mais graves de espionagem e nem de ter ajudado o inimigo.

Bradley Manning completará 25 anos dia 17 de dezembro na prisão, data que também marca o segundo aniversário da morte do jovem tunisiano que se imolou em protesto contra o governo corrupto de seu país, dando início à Primavera Árabe. Há um ano, quando a revista Time nomeou o “manifestante”, em termos genéricos, como Personagem do Ano, o lendário informante dos Documentos do Pentágono, Daniel Ellsberg, elogiou essa decisão em uma declaração que também se aplica à realidade atual: “A capa da revista Time nomeia o manifestante, um manifestante anônimo, o “Personagem do Ano”, mas é possível colocar um rosto e um nome nesta foto do “Personagem do Ano”. O rosto estadunidense que apareceria nesta capa seria o do soldado Bradley Manning”.

(*) Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.

Tradução: Katarina Peixoto
 

África do Sul: UM MILIONÁRIO AO LADO DE ZUMA NA LIDERANÇA DO ANC

 

Deutsche Welle
 
Jacob Zuma foi reeleito para a presidência do Congresso Nacional Africano, o ANC. Ao seu lado estará Cyril Ramaphosa, eleito vice-presidente. Mas o regresso do empresário à política tem gerado controvérsia.
 
"Vamos reduzir a fosso entre os membros do partido e a sua liderança". Foi esta a tarefa a que se comprometeu o presidente sul-africano, Jacob Zuma, na conferência nacional do ANC, perante 4 mil delegados do partido. Zuma foi reeleito esta terça-feira (18.12) como líder do ANC por mais cinco anos. Os delegados deram ao presidente 2.978 votos contra 991 do vice-presidente do partido e único rival de Zuma à liderança do ANC, Kgalema Motlanthe.

Apesar das disputas internas no seio do partido, a nomeação de Zuma para um novo mandato não surpreendeu. As filiais locais do partido e as influentes organizações de jovens e de mulheres já se tinham pronunciado, em grande maioria, a favor de Jacob Zuma.
 
"Problemas do partido não estão resolvidos"

O director do Centro para o Estudo da Democracia da Universidade de Joanesburgo, Steven Friedman, comenta os resultados sublinhando que agora, existe "uma liderança eleita com uma grande maioria". O que não quer dizer que os problemas fundamentais do partido estão resolvidos, na opinião do analista: "O presidente Zuma identificou-os durante o discurso no congresso. Mas, infelizmente, o ANC é melhor a identificar os problemas do que a encontrar formas de os resolver."

Com a eleição de Cyril Ramaphosa para vice-presidente do partido, regressa aos palcos políticos um peso-pesado da luta anti-apartheid.

Analistas consideram que Ramaphosa poderá trazer ar fresco à política sul-africana. O ex-secretário-geral do ANC é um dirigente histórico do partido. Quando Ramaphosa foi eleito no congresso, com 75% dos votos, os delegados irromperam em aplausos. Mas há também ressalvas: Ramaphosa acumulou nos últimos anos uma fortuna como empresário. Além disso, o seu nome foi associado à morte violenta de 34 mineiros em greve na mina de Marikana, em meados de Agosto.

Ramaphosa desculpou-se, entretanto, pelo seu papel no sucedido. Os defensores da sua candidatura sublinharam os seus feitos na transição para a democracia plena no país e na elaboração de uma das mais modernas Constituições do mundo. Mas, para os críticos, Ramaphosa é a prova viva dos conflitos de interesses de políticos proeminentes com o "big business", o grande negócio – afinal, o dirigente está em vários conselhos de administração de grandes empresas.

"Vice" polémico deverá encontrar obstáculos

O analista Steven Friedman considera que Ramaphosa vai encontrar no futuro uma forte oposição dos sindicatos. Ainda assim, afirma "Ramaphosa tem uma grande credibilidade no mundo dos negócios, é muito popular na classe média e nos meios de comunicação". Por isso, o especialista supõe que "ele será em breve vice-presidente e vai, assim, desempenhar um papel mais proeminente no governo. Fica por esclarecer se o conteúdo da política vai melhorar."

Hein Möllers acompanha há décadas os acontecimentos na África do Sul para o Observatório da África Austral (o ISSA), próximo dos sindicatos. De acordo com o analista, a maioria dos sul-africanos ainda não beneficiou da democracia. E a paz social está seriamente ameaçada. Por esta razão, explica, "a nova liderança vai ter sobretudo a tarefa de conseguir um maior equilíbrio entre os diferentes grupos populacionais, e os grupos com maiores e menores rendimentos na África do Sul."

Autores: Ludger Schadomsky / Guilherme Correia da Silva - Edição: Maria João Pinto / António Rocha
 

ESTUDO INDICA QUE CLASSE MÉDIA ESTÁ ENCOLHENDO NA ALEMANHA

 

 
Segmento que formava 65% da população do país em 1997 diminuiu participação para 58%, segundo estudo da Universidade de Bremen e do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica. Especialistas cobram uma ação do governo.
 
Na Alemanha, 58% da população pertence à classe média, enquanto em 1997 essa cota ainda era de 65%. Estas são as conclusões de um estudo recente da Universidade de Bremen e do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW), realizado por encomenda da Fundação Bertelsmann. Uma dificuldade encontrada no estudo foi a complexidade deste segmento da sociedade, formado tanto por arquitetos, especialistas em informática e pessoal administrativo, como por artistas, médicos e professores. Não há uma definição clara do termo.
 
Um ponto de referência é o rendimento médio, também chamado de renda mediana. Ele divide a população em dois grupos de tamanhos iguais, um com renda maior e outro, com renda menor. O estudo atual inclui na classe média todos os que ganham entre 70% e 150% da renda mediana. Uma família alemã de classe média, de quatro pessoas, ganharia então entre 2,4 mil e 5 mil euros.
 
Ascensão quase impossível
 
"O estudo também levou em conta educação e carreira como critérios mais restritivos", explica Olaf Groh-Samberg, professor de sociologia da Universidade de Bremen e um dos autores do estudo. "A distribuição de renda está se polarizando na Alemanha, e há menos oportunidades de ascensão das classes mais baixas para a classe média", conclui, classificando esse fenômeno como "dramático", devido ao seu poder de influir negativamente sobre a vida social.
 
"A solidariedade desaparece quando a classe média alta se orienta para a classe alta e a classe média baixa começa a temer a queda de status, enquanto os das classes mais pobres temem não conseguir ascender à classe média", observa. "Além disso, a parcela da classe média na sociedade caiu de 65% há 15 anos para os atuais 58%", ressalta o cientista social, em entrevista à DW.
 
O professor de sociologia Stefan Hradil, da Universidade de Mainz, tem opinião parecida, mas adverte do alarmismo. "Muitos integrantes da classe média também subiram", pondera. "Partes da classe média têm excelentes chances de ascender a um status superior. Se a classe média encolheu, isso não é apenas uma má notícia, mas, em parte, também uma boa notícia", avalia, em entrevista à DW.
 
Classe média garante estabilidade
 
O filósofo grego Aristóteles já dizia que uma classe média grande e bem estabelecida tem um efeito positivo sobre o conjunto da sociedade. Ele afirmava que a classe média é mais propensa a ouvir à razão, não explora os pobres e não inveja a prosperidade dos ricos.
 
"Sempre quando uma grande parte da classe média começa a ter dificuldades, surge uma época politicamente instável. É quando essa parte ameaçada da classe média tende a ter uma conduta eleitoral relativamente radical", acrescenta Stefan Hradil, citando como exemplo o pujadismo na França da década de 1950, movimento de protesto de pequenos artesãos e comerciantes que mais tarde se tornou o modelo para a Frente Nacional, de extrema direita. O sociólogo também destaca que o enfraquecimento da classe média pela crise econômica do final da década de 1920 também exerceu um papel na ascensão do nazismo.
 
Hradil afirma que o Estado deve tentar impedir o encolhimento da classe média. "Neste momento, são mais importantes do que nunca estratégias de profissionalização e exemplos positivos, ou, no caso das crianças, a criação de um sistema de ensino mais permeável e motivador, especialmente para filhos de famílias de classe baixa e de imigrantes."
 
Cobranças à classe política
 
Mais de metade dos alemães continua pertencendo à classe média, segundo o estudo. Isso faz com que a Alemanha continue numa boa situação, na comparação internacional. Em muitos outros países, a relação é muito pior, coisa que, segundo Hradil, pode ser percebida através de critérios objetivamente mensuráveis. "Quanto maior a desigualdade social, mais você tem que lidar com criminalidade e outros problemas."
 
O sociólogo Olaf Groh-Samberg também acha que o governo tem que agir, devido à forte proliferação de famílias com baixa renda, o que torna a ascensão à classe média algo quase impossível. O especialista acredita que deve haver mudanças nas políticas para o mercado de trabalho com intuito de facilitar o acesso à classe média. "Além disso, os políticos devem pensar em formas de impedir que diminua a solidariedade das classes sociais mais altas", aconselha. Pois Aristóteles já dizia ser importante encontrar em tudo o justo meio entre os extremos.
 
Autor: Martin Koch (md) - Revisão: Carlos Albuquerque
 

A EUROPA ESTARÁ LOUCA?

 


Dagens Nyheter, Estocolmo – Presseurop – imagem Kazanevski
 
Criada para dar uma forma política aos valores comuns dos europeus, a União Europeia, com a cumplicidade dos seus Estados-membros, acumulou poder e competências em detrimento dos interesses dos povos que devia defender, denuncia o escritor irlandês Colm Tóibín.
 
 
A União Europeia parece um sonho esquisito; serviu para dar forma e criar um conjunto de valores políticos num complexo sistema que poria os valores humanos, uma cultura rica e a noção de igualdade mesmo no centro das suas preocupações. Acontece que, como sistema, a União Europeia seria capaz de aguentar tudo, menos uma crise.
 
Neste momento, sob a pressão de uma crise financeira, os países só conseguem que as suas fronteiras e os seus interesses próprios se sobreponham a qualquer bem comum. Embora as velhas moedas tenham desaparecido quase todas, as velhas mentalidades persistem. Segundo o nosso sentido de lealdade, assim que a pressão se faz sentir, vivemos em Estados-nação, apesar de os nossos bancos funcionarem de acordo com uma nova ordem mundial.
 
O dinheiro circula como o ar, completamente livre, sendo soprado de um lado para o outro pelo vento, desregulado, instável, incerto. São ideias que estiveram privadas de liberdade. E com as ideias as identidades. Neste momento, sabemos quem é alemão e quem é grego; sabemos que somos irlandeses e que vocês são suecos.
 
O direito a rir do Rei
 
É importante recordarmos o significado do sonho. É importante, neste momento, na periferia da Europa onde vivo, recomeçarmos a utilizar a linguagem do idealismo político e cultural, pegarmos na língua que foi degradada pelos nossos políticos e vermos que determinadas (ou indeterminadas) palavras ou conceitos podem significar alguma coisa, mesmo que seja apenas para ficarmos com o consolo que a poesia nos dá, uma língua cheia de sonoridades e responsabilidade, numa época de privações privadas.
 
Um dos aspetos da nossa herança europeia é a maneira de rir. No nosso dia-a-dia, na literatura e nos contos tradicionais, aquilo que é ridículo e depreciativo está no âmago da sensibilidade europeia. Temos o direito de nos rirmos do Rei que passa por nós com toda a pompa e circunstância. O Rei vai nu. Passámos a vida a rirmo-nos dos nossos dirigentes.
 
O general sabe que o cabo, assim que chega a casa ou bebe uns copos, perde todo o respeito pela farda e pelas medalhas do general. Em Shakespeare, o parvo ou o coveiro dizem coisas mais acertadas do que o Rei ou o príncipe. Em Cervantes, Dom Quixote é um herói só por ser obviamente pateta. E na Europa, quando nos apetece, rimo-nos de Deus e pensamos que ele, se calhar, é um pouco parvo. Isto é o que nos distingue dos cidadãos norte-americanos, chineses, ou do Médio Oriente.
 
Na Europa, existe a noção de uma cultura humanista comum a todos nós, qualquer coisa que resulta da liberdade de escrevermos e de lermos o que nos apetece e de termos pensamentos arejados e de criarmos imagens frescas. Houve tempos em que a União Europeia deu mostras de personificar isto mesmo, de exercer uma influência secularizante na Europa ao colocar as ideias humanistas, e a tolerância e a igualdade de oportunidades e a possibilidade de progresso mesmo no seu centro.
 
A Europa significava progresso, especialmente em países como a Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda, países com estradas más e políticas ultrapassadas. Significou paz nos países que tinham passado pela guerra. Melhorámos a infraestrutura de cortesia da Europa e, aos poucos, a nossa cultura política também se alterou. Mas houve épocas em que a Europa significou dinheiro e poder. Demos conta de que, por exemplo, quando juízes, funcionários públicos, ou políticos irlandeses iam trabalhar para a Europa, recebiam uns salários que pareciam ser muito generosos.
 
O dispendioso álibi da transparência
 
O que também aconteceu foi o secretismo de que gozam aqueles que gostam de poder. A União Europeia assentou num sistema diplomático em vez de assentar, digamos assim, num sistema parlamentar. Desse modo, aquilo que acontecia à porta fechada e aparecia em memorandos secretos afetava mais a nossa vida do que aquilo que se passava nos nossos próprios parlamentos nacionais. Quando os membros do Conselho de Ministros se encontravam, faziam afirmações insípidas e pousavam para a fotografia. Ninguém sabia o que tinham realmente decidido, nem como. O Parlamento Europeu continua a ser um enorme e dispendioso álibi da transparência.
 
A União Europeia parecia preparada para assumir cada vez mais poder. Também mostrava não ter interesse em se reformar, ou em analisar os seus próprios procedimentos. Ao recorrer aos sistemas dos diplomatas, criou um estranho inimigo chamado povo. Deste modo apareceram dois poderosos blocos – os cidadãos da Europa, cada vez com menos poder, e os dirigentes da Europa, com mais poder a cada ano que passa. Os dirigentes enganavam muitas vezes o povo; os dirigentes mostravam saber o que era melhor para o povo.
 
Presos ao euro
 
No entanto, algumas alterações que fizeram foram maravilhosas. Podíamos atravessar as fronteiras da Europa sem precisarmos de um carimbo no passaporte, ou, quando íamos de carro, sem nos termos de submeter a qualquer tipo de controlo. Podíamos fazer circular mercadorias, na sua maior parte sem pagar direitos aduaneiros. Podíamos viver e trabalhar onde nos apetecesse na Europa. Adorei a maneira como a Europa ocidental abraçou os países do Leste a partir de 1989. Adorei a ideia de que a Europa passaria a ser um espaço de cidades em vez de Estados, porque as nossas cidades e as ideias e as imagens que se espalhavam por toda a parte eram a nossa grande criação europeia.
 
Adorei a ideia de que o conceito de nacionalidade e nacionalismo passaria a pertencer ao século XIX e o pesadelo do século XX terminava agora. Adorei inclusivamente o euro assim que apareceu e tive orgulho de que a Irlanda tivesse aderido a ele logo desde o início. Adorei os novos éditos que chegavam da Europa sobre ambiente; adorei a liberalização das viagens de avião. Acreditei inclusivamente que chegaria uma altura em que a Europa teria alguma importância no mundo, em que o nosso conceito de direitos humanos seria tão forte como o euro e faria a diferença em relação à realidade da China e do Médio Oriente.
 
Na Irlanda, nos anos de crescimento, toda a gente tinha trabalho. Não precisávamos de emigrar como sempre tínhamos feito. Trabalhámos imenso. Numa conjuntura de recessão, normalmente seríamos capazes de desvalorizar a nossa moeda e teríamos em conta a inflação. Agora já não podemos fazer isto. O euro serve a Alemanha e outros países ricos e torna competitivas as suas exportações e deixou de nos servir a nós. Mas estamos presos a ele.
 
Entretanto, a Alemanha e outros países europeus ricos falam como se fossem a fonte de toda a sabedoria na Europa e, talvez mais importante, a fonte de toda a autoridade. Sob pressão, a ideia de União Europeia falhou. Agora, há apenas Estados-nação a cuidar dos seus próprios interesses. Acordámos do grande sonho. É de dia na Europa. Tudo aquilo que temos para nos confortar é a capacidade de rir da nossa loucura e da loucura deles; tudo aquilo que temos é a recordação daquilo que um dia foi possível.
 
E a seguir a recordação dos quadros, dos livros, da música e das sinfonias, das belíssimas galerias e museus e bibliotecas e edifícios públicos que dão corpo à nossa cultura. Podemos passear à noite solitariamente pelas ruas de Lisboa e de Riga, de Atenas e de Dublin, de Constança e de Estocolmo e ter a noção de que o impulso para a solidariedade social e o idealismo político poderão voltar outra vez, até mesmo mais intensamente agora que conhecemos a sua fragilidade. Mas não tão cedo.
 

60 MILITARES AUSTRALIANOS DEIXARAM HOJE TIMOR-LESTE, ADEUS MISSÃO ONU!

 


Dezenas de elementos das forças de defesa australiana deixaram hoje Timor-Leste
 
18 de Dezembro de 2012, 18:09
 
Díli, 18 dez (Lusa) - Sessenta militares australianos destacados em Díli, Timor-Leste, no âmbito da Força de Estabilização Internacional (ISF), que encerrou oficialmente a missão em novembro, regressaram hoje a casa.
 
A ISF foi estabelecida em 2006 na sequência da grave crise política e militar que assolou o país e provocou dezenas de mortos, milhares de desalojados e a implosão da polícia nacional de Timor-Leste.
 
A Austrália tinha destacado em Timor-Leste 380 militares no âmbito daquela força.
 
A ISF, liderada pela Austrália, era composta no total por 460 elementos das forças de defesa australianas e da Nova Zelândia.
 
Os militares da Nova Zelândia regressaram a casa no passado mês de novembro, os militares australianos ainda presentes no país devem regressar a casa até ao Natal.
 
Os elementos que hoje deixaram Timor-Leste faziam parte da companhia ANZAC.
 
"Este é definitivamente o fim de uma era e o começo de uma nova e excitante fase para o povo de Timor-Leste. É o fim do envolvimento australiano e o início da independência timorense", disse o comandante da ANZAC, major Jarrah Hands, citado pela agência noticiosa AP.
 
Além do ISF, as forças militares australianas contribuíram também com elementos para a Missão Integrada da ONU em Timor-Leste (UNMIT), que termina no próximo dia 31.
 
As forças australianas vão manter no país até abril alguns elementos para enviar equipamento para a Austrália e entregar ao governo timorense terrenos e instalações ocupadas por aquela força.
 
MSE // PMC
 
Missão das Nações Unidas chega ao fim após 13 anos ao país
 
18 de Dezembro de 2012, 18:29
 
Díli, 18 dez (Lusa) - As Nações Unidas terminam a última missão em Timor-Leste no dia 31 de dezembro, 13 anos depois de terem chegado para a consulta popular que levou o ex-território português à independência.
 
Das cinco missões que passaram pelo país desde 1999, duas foram missões políticas - a Missão das Nações Unidas em Timor-Leste (UNAMET, do acrónimo em inglês) e o Escritório da ONU em Timor-Leste (UNOTIL) - e a atual Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT), com sete anos, foi a mais longa.
 
No final de outubro, o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, e o último representante em Díli do secretário-geral da ONU, o dinamarquês Finn Reske-Nielsen, puseram fim às operações da missão de manutenção de paz em Timor-Leste.
 
A missão acaba no dia 31, Timor-Leste deixa de estar na agenda do Conselho de Segurança da ONU e começa uma nova fase da sua independência, sem forças estrangeiras.
 
A relação da ONU com Timor-Leste começou em 1975, quando o Conselho de Segurança reconheceu o direito dos timorenses à autodeterminação, mas só 24 anos mais tarde, após a ocupação indonésia (1975-1999), foi criada a UNAMET, liderada pelo britânico Ian Martin, em resultado dos acordos celebrados em maio de 1999, entre as diplomacias de Lisboa e Jacarta.
 
À consulta popular de 30 de agosto de 1999, organizada pela UNAMET e na qual a maioria dos timorenses rejeitou uma proposta de autonomia especial no seio da Indonésia, optando pela independência, seguiu-se um período de violência e destruição, protagonizado por milícias timorenses pró-integração e militares indonésios.
 
No "Setembro Negro" de 1999, as ações de violência levaram à fuga da maioria do pessoal das Nações Unidas, incluindo timorenses, quando a sede da organização em Díli foi abandonada, à exceção de uma presença residual na capital. Este período custou cerca de mil mortos e centenas de milhares de pessoas obrigadas a viajar para Timor Ocidental e outras províncias indonésias.
 
Só depois de grande pressão internacional, acentuada com a suspensão da venda de armas pelos Estados Unidos, o então Presidente indonésio, Bacharuddin Jusuf Habibie, aceitou uma força internacional para pôr fim à violência naquela que Jacarta considerava como a 27.ª província da Indonésia.
 
A 20 de setembro de 1999, chegou a Timor-Leste a Interfet (Força Internacional para Timor-Leste), liderada pela Austrália, a operar de acordo com uma resolução do Conselho de Segurança da ONU mas sem pertencer à organização.
 
A Indonésia aceitou os resultados da consulta popular em outubro do mesmo ano, e a ONU criou a Administração Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste (UNTAET), a primeira na história da organização com funções de gestão de um território, liderada pelo brasileiro Sérgio Viera de Mello, que assumiu também o comando militar da força internacional.
 
Durante a presença da UNTAET, Timor-Leste realizou eleições para a Assembleia Constituinte e presidenciais, que ditaram as primeiras lideranças do país quando se assumiu como Estado soberano, a 20 de maio de 2002.
 
Na sequência desta restauração da independência, decretada originalmente em 28 de novembro de 1975, o Conselho de Segurança criou a Missão de Apoio das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMISET), que a 20 de maio de 2004 entregou aos timorenses a responsabilidade pela segurança.
 
Um ano mais tarde, esta estrutura deu lugar à UNOTIL, que terminou em agosto de 2006, logo após uma crise política e militar, que provocou dezenas de mortos, milhares de deslocados e a implosão da polícia nacional.
 
Uma força de estabilização internacional, de novo liderada pela Austrália, e vários contingentes de polícia, entre os quais a Guarda Nacional Republicana (GNR) portuguesa, garantiram a segurança no país, perante uma nova reconfiguração das Nações Unidas, a atual UNMIT.
 
Em 2011, a missão transferiu as responsabilidades de comando e controlo das operações policiais para a Polícia Nacional de Timor-Leste.
 
Durante o seu mandato, foram realizadas as eleições legislativas e presidenciais em 2007 e 2012. A forma como decorreram os escrutínios deste ano, considerados livres, justos e transparentes pela comunidade internacional, foram determinantes para o Conselho de Segurança da ONU decretar o fim da missão.
 
MSE // HB
 

QUEM NÃO DESEJA A ESTABILIDADE NA GUINÉ-BISSAU?

 


Eugénio Costa Almeida* – Pululu
 
Estava programada uma conferência em Bissau levada a efeito por uma missão internacional que agruparia várias organizações internacionais para analisar e debater a situação constitucional da Guiné-Bissau.
 
Estaria, se não fosse a CEDEAO ter pautado pela sua ausência, no primeiro dia agendado, da referida reunião.
 
Daí que a reunião tenha sido adiada para hoje o que aconteceu conforme despacho do MNE do Governo de Transição (que legitimidade?)
 
Note-se que, de acordo com o ministro da presidência e porta-voz do governo de transição, Fernando Vaz, em declarações recentemente proferidas, “os países que recusam vistos à Guiné-Bissau também não terão visto para entrar no país”, ora, Portugal é um destes casos, pelo que não se sabe se está , ou esteve, presente.
 
Ainda assim, a CPLP, enquanto organização a que a Guiné-Bissau ainda pertence, está presente através do novo secretário executivo da comunidade lusófona, o moçambicano Murade Murargy que afirmou que “O que a CPLP quer é defender os interesses dos guineenses. Não queremos interferir no processo, queremos é que eles se entendam”.
 
Pois esse parece ser a vontade contrária da CEDEAO.
 
Enquanto os Bissau-guineenses estiverem desavindos não haverá unidade nacional, estabilidade política e social e paz militar!
 
Na realidade a CEDEAO não deseja a unidade Bissau-guineense. Pelo contrário.
 
O que a CEDEAO deseja, ou melhor dizendo, o que dois dos países que integram a CEDEAO desejam – e são dois dos principais, sendo, um deles, potencial player regional – é a “shatterização” do país para dele obter mais-valias como o petróleo, o bauxite e, principalmente, as férteis planícies e bacias hídricas Bissau-guineenses.
 
É altura dos Bissau-guineenses perceberem, de vez, que se não podem desprezar o apoio dos vizinhos e dos verdadeiros amigos – nas relações internacionais estes são difíceis de serem descortinados porque os interesses privados são mais importantes que os interesses públicos – também não devem deixar perder o seu maior valor público: a defesa da sua unidade nacional.
 
Daí que, como afirmou Murargy, o que se torna necessário é que os Bissau-guineenses se entendam! E, se puderem, sem a presença de terceiros cuja a principal – única –- conveniência é a defesa dos seus interesses.
 
* Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.
 

Parceiros da Guiné-Bissau devem trabalhar em conjunto para resolver desafios, diz UA

 

FP – EJ - Lusa
 
Bissau, 18 dez (Lusa) - A Guiné-Bissau tem "desafios enormes" e complexos e os parceiros internacionais devem reforçar a "eficácia da sua ação", devendo para isso trabalhar em unidade, defendeu hoje a União Africana, em Bissau.
 
El Ghassim Wane, diretor do gabinete para a Paz e Segurança da União Africana (UA), chefia uma delegação de cinco organizações internacionais numa visita conjunta à Guiné-Bissau, a primeira do género depois do golpe de Estado no país ocorrido em abril.
 
Após uma reunião com o ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de transição, Faustino Imbali, o responsável explicou aos jornalistas que a missão tem como finalidade escutar, compreender e analisar a realidade da Guiné-Bissau.
 
E depois, determinar como é que as organizações internacionais parceiras da Guiné-Bissau podem vir a trabalhar em conjunto no apoio aos esforços para resolver os grandes desafios, e de longa duração, com que o país se confronta, acrescentou.
 
"A situação neste país teve uma evolução, que teve apreciações de cada uma das organizações em questão, que tomaram as decisões que pensaram tomar", lembrou El Ghassim Wade, explicando que agora é preciso analisar a situação e fazer as recomendações sobre o trabalho que pode ser feito em conjunto pela comunidade internacional na Guiné-Bissau.
 
Além da UA, a missão é composta por elementos da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), das Nações Unidas e da União Europeia.
 
Para o ministro Faustino Imbali, a vinda da missão é "uma boa prenda de Natal para o povo da Guiné-Bissau", porque as cinco instituições vão poder constatar o que se passa no país.
 
"É uma boa missão para nós, que não temos nada a esconder, este país não é exatamente a pintura que recebemos lá de fora", afirmou.
 
Faustino Imbali disse também que se trata de uma missão exploratória, para conhecer a ideia dos guineenses e do governo sobre a atual situação e que "soluções e pistas" estão a ser pensadas para a saída da crise, decorrente do golpe de Estado de abril.
 
"Talvez no final possam deixar algumas recomendações, e são desejáveis", apontou o responsável, que considerou que nem sempre as informações passadas na imprensa "correspondem totalmente à verdade".
 
"A nossa expetativa é a de que a verdade seja dita. Fala-se de insegurança, de questões que só estando cá, presente, é possíve ter uma ideia exata. Para nós, é uma missão que pode ajudar a constatar a verdadeira imagem da Guiné-Bissau, a nossa maior expetativa é essa", disse.
 
Além do governo, do Presidente da República interino e do presidente da Assembleia Nacional Popular, a missão tem ao longo desta semana encontros com elementos da sociedade civil, agências especializadas e instituições financeiras, embaixadores, Liga dos Direitos Humanos, partidos políticos, líderes religiosos e representantes do poder tradicional.
 
Mas também com a Ordem dos Advogados e demais "atores" da área da Justiça, organizações de mulheres e de juventude, meios de comunicação social, chefias militares e das forças de segurança, Comissão Nacional de Eleições, organizações não-governamentais, Câmara de Comércio e sindicatos.
 
A missão deve terminar na próxima sexta-feira.
 

Moçambique: RENAMO VAI BOICOTAR ELEIÇÕES, COMUNIDADE LUSA DOA 23M EUROS

 


Renamo diz que vai boicotar eleições por discordar com lei eleitoral
 
17 de Dezembro de 2012, 16:44
 
Maputo, 17 dez (Lusa) - A Renamo disse hoje que vai boicotar as eleições gerais e autárquicas em Moçambique, por discordar com a lei eleitoral hoje aprovada no parlamento, apelando para o "bom senso" do Presidente moçambicano na análise do documento, antes da promulgação.
 
A decisão da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) foi hoje confirmada à Lusa por Arnaldo Chalaua, porta-voz da bancada do principal partido da oposição moçambicana, reagindo à decisão da Assembleia da República, que votou o instrumento perante divergências entre as três bancadas parlamentares.
 
Há dias, a Renamo condicionou a participação nas votações futuras caso os três principais partidos políticos do país não chegassem a um consenso sobre a lei que vai regular as eleições autárquicas de 2013 e gerais (presidenciais e legislativas) de 2014.
 
"Mantemos o boicote. Não vamos falar de eleições enquanto o cenário continuar assim", porque "teremos processos deficientes, com vencedores já a partida", pelo que "sentimos que não vale a pena concorrer às eleições perante este quadro", disse Arnaldo Chalaua.
 
Segundo o porta-voz da bancada parlamentar da Renamo, a decisão cabe agora ao Presidente moçambicano, que irá avaliar o documento antes da promulgação em Boletim da República.
 
"Temos esperança de que o chefe de Estado chame à consciência, porque o caminho a seguir é cheio de espinhos. A lei não é estática, pode ser movível, daí que o Presidente da República não pode estar refém da aprovação da lei pela Assembleia da República", afirmou Arnaldo Chalaua.
 
Os 51 deputados da Renamo defendem uma presença maioritária dos partidos com representação parlamentar na Comissão Nacional de Eleições (CNE) e menor peso da sociedade civil, que acusam de ser favorável à Frelimo.
 
O partido no poder, que tem a maioria de 191 assentos no parlamento, integrado por 250 deputados, defende uma presença menor dos representantes dos partidos na CNE e maior representação da sociedade civil, posição apoiada pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira bancada parlamentar, que tem oito deputados.
 
A Renamo discorda de aspetos importantes da lei, como o debate ao nível da comissão parlamentar encarregada da revisão do diploma.
 
"Nós como bancada sentimos que não podemos fazer outra coisa. A Renamo não vai ceder, usará todos os meios a sua volta para a não vigência desta lei. Da forma como está este pacote, a Renamo vai impedir que as eleições se realizem", afirmou.
 
"O Presidente da República tem um papel muito importante perante essa situação, deixando aquilo que pode ser característico de qualquer pessoa, pois quando cedemos não nos estamos a humilhar", disse ainda Arnaldo Chalaua.
 
Para a Renamo, o veto do chefe de Estado "pode trazer ganhos incontáveis para o bem do povo" e pode encontrar "um meio-termo sem arrogância".
 
O principal partido da oposição boicotou as eleições municipais intercalares realizadas no final de 2011 e início do ano em curso em quatro municípios por considerar que não havia condições de integridade do processo eleitoral.
 
MMT // HB
 
Consulado português em Maputo angariou 24 mil euros para "Natal solidário"
 
17 de Dezembro de 2012, 15:56
 
Maputo, 17 dez (Lusa) - A comunidade portuguesa em Maputo recolheu 900 mil meticais (24 mil euros) em donativos para um Natal solidário, disse hoje à Lusa o cônsul português em Moçambique, Gonçalo Teles Gomes.
 
Gonçalo Teles Gomes adiantou que o valor dos donativos angariados, destinados a apoiar crianças desfavorecidas em Moçambique, foi o triplo do alcançado em iniciativa semelhante em 2011.
 
"O balanço foi positivo. A afluência foi parecida com a do ano passado, mas conseguimos triplicar as receitas, pelo que vamos ter mais fundos para dar às três instituições beneficiárias", disse o diplomata, manifestando-se "surpreendido não com a magnitude, mas com o fato de ter triplicado" o valor.
 
Os fundos angariados vão reverter a favor da Casa do Gaiato, Centro Dia Mães de Mavalane e Centro de Reabilitação Psicossocial das Mahotas, cofinanciadas por Portugal, que passam por dificuldades financeiras.
 
O Natal solidário, organizado pela comunidade portuguesa em Maputo, recolheu apoio financeiro através do sorteio de uma rifa com 30 prémios, e venda de camisolas autenticadas dos clubes de futebol portugueses Benfica, Sporting e Porto.
 
Entre os prémios sorteados está uma viagem às Ilhas Quirimbas, arquipélago protegido no norte de Moçambique.
 
A festa contou com a participação dos DJ portugueses Pedro Cazanova, The Double Trouble e a cantora Andrea.
 
MMT //JMR.
 

SUÍÇA VAI DEVOLVER 32,6 MILHÕES DE EUROS A ANGOLA

 

EL – EJ - Lusa
 
Luanda, 18 dez (Lusa) - A Suíça e Angola chegaram a acordo para a devolução de 32,6 milhões de euros que estavam bloqueados em vários bancos suíços, noticiou hoje o diário estatal Jornal de Angola.
 
O acordo, alcançado na segunda-feira, foi anunciado oficialmente pelas autoridades suíças em comunicado divulgado em Berna.
 
"A devolução do dinheiro angolano surge depois de um longo processo de negociações empreendido pelos governos dos dois países", salientou o Jornal de Angola.
 
Segundo o diário estatal angolano, as autoridades bloquearam o dinheiro depositado por Angola em bancos suíços, presumindo que se tratava de "dinheiro sujo".
 
Em 2005, após uma investigação, o Procurador-Geral de Genebra concluiu que o dinheiro angolano "tinha origem legal e todas as suspeitas faziam parte de uma campanha internacional, orquestrada contra Angola, para travar a ofensiva contra as tropas de Jonas Savimbi", acrescentou o Jornal de Angola.
 
O acordo, assinado pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros da Suíça, Yves Rossier, e por Carlos Alberto Fonseca, secretário para as Relações Exteriores do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, prevê que o dinheiro a devolver seja aplicado no financiamento de projetos de desenvolvimento em Angola.
 
A execução do acordo atribui à Suíça, bem como a Angola, o controlo da aplicação do dinheiro.
 
O acompanhamento por parte de Berna é feito pela Direção do Desenvolvimento e da Cooperação (DDC) do Ministério Federal dos Negócios Estrangeiros.
 

Angola: EMPRESÁRIOS NORTE-AMERICANOS QUEREM INVESTIR EM MALANJE

 


Isaías Soares – Voz da América
 
Os ramos da construção civil, agro – indústria e turismo poderão brevemente ser explorados conjuntamente por empresários norte-americanos e angolanos na província de Malanje
 
Os ramos da construção civil, agro – indústria, turismo e pescas poderão brevemente ser explorados conjuntamente por empresários norte-americanos e angolanos na província de Malanje com um potencial agrícola e turístico semelhante ao do Estado da Luisiana, Estados Unidos da América.

A presidente da Câmara de Comércio Estados Unidos da América – Angola (USACC), Jeanine Scott à frente de uma delegação de empresários daquele país avistou-se com o governador de Malanje, Norberto Fernandes dos Santos, onde foi manifestada a intenção da instituição e da missão diplomática americana em Luanda.

“O papel da USACC tem por missão promover relações comerciais entre os Estados Unidos e Angola e, também, em relação a intimidades por investimentos em fazer isso”, disse, afirmando por outro lado que “nós estamos a encontrar maneiras em que podemos ver áreas para cooperação e parcerias entre empresas dos dois lados e estamos a encontrar maneiras de conseguir apoios de ambos governo”.

Relativamente pode ser que nós promovemos o desenvolvimento privado, mas também parcerias público – privadas”, prognosticou.

O governador de Malanje que foi convidado a visitar no próximo ano o Estado de Luisiana, mostrou a disponibilidade do executivo local em conceder terrenos para o desenvolvimento das actividades de acordo com as prioridades.

“Aqui tirando a agricultura há também o turismo que é uma coisa fundamental aqui na província de Malanje, deve ser aproveitada tão só pelos turistas, mas também pelos próprios cidadãos angolanos”, afirmou Norberto Fernandes dos Santos justificando o facto com alusão às Quedas de Calandula e os Rápidos do Kwanza”.

“Em termos de terrenos, nós não temos problemas com terrenos, o que temos demais em Malanje é terra, nós precisamos é de investidores como também só estou aqui há dois meses, estou a fazer convites a todos aqueles que querem investir aqui na província vão encontrar uma receptividade da parte do governo e da minha própria parte”, prometeu.

O governante defendeu que sejam encontradas formas práticas para as partes começarem a trabalhar, onde a Câmara de Comércio Angola é o principal intermediário.

O director executivo da Câmara de Comércio Estados Unidos da América – Angola, Pedro Godinho Domingos, apresentou as vantagens para Angola em geral e para a província de Malanje, em particular com a geminação desta região com o Estado de Luisiana.

“Uma boa parte dos produtos produzidos na província de Malanje, como o arroz, o feijão e a soja também é feita nessa região dos Estados Unidos”, exemplificou referindo que “as vantagens são inúmeras, não será demais repetir que os Estados Unidos têm tecnologia de ponta, dominam a ciência como ninguém, tem recursos financeiros e, naturalmente, se a província de Malanje estiver receptiva para esses investimentos e essas relações, e essa interacção, naturalmente, será sempre bem-vinda para o país”.

A comitiva de homens de negócios americanos visitou incubadoras, as fazendas Pedras Negras e Pungo Andongo e o projecto Biocom, vocacionado a produção de biocombustíveis localizadas no município de Cacuso.

 

Angola: Bento Kangamba assegura programa para resolução dos problemas do povo

 

Club K - Angop
 
Luanda - O MPLA vai continuar a trabalhar para resolver os problemas do povo, assegurou, segunda-feira, no distrito urbano do Kilamba Kiaxi, em Luanda, o secretário provincial para organização, mobilização periférica e rural, Bento dos Santos "Kangamba".
 
Falando à imprensa, à margem de um acto recreativo de massas, realizado no pavilhão multiuso do Golfe II para agradecer os militantes, simpatizantes e amigos do MPLA a nível do distrito, pela vitória alcançada nas eleições gerais de 31 de Agosto último, o político ressaltou que o seu partido cumpre com o que promete.

Assim, garantiu que o Executivo trabalha no sentido de resolver gradualmente as dificuldades da população.

Realçou, entretanto, as principais linhas do manifesto eleitoral e do programa de governação do MPLA para o período de 2012 a 2017, que visam a melhoria da qualidade de vida dos angolanos.

"Com a retumbante e clara vitória alcançada no ano das comemorações dos seus 56 anos, o partido demonstra que continua a ser a maior força política do país, com maior implantação nacional e com raízes profundas nas massas populares", disse.

Lembrou que terminada a guerra, o MPLA continua empenhado na construção de uma sociedade abrangente e próspera.

O almoço foi animado por jovens do distrito do Kilamba Kiaxi e contou com mais de 500 militantes provenientes dos distintos comités de acção da circunscrição.

Cabo Verde: A VERDADE COMO ARMA DA LIBERDADE

 


Alberto Nunes – Liberal, opinião em Colunistas
 
“Está instalada [em Cabo Verde] a ideia e a prática de que o acesso a bens e a benefícios sociais está baseado em relações de arbitrariedade em que alguém tem o poder de dar, não dar, retirar, ameaçar, chantagear, premiar e penalizar. A coberto de total impunidade”. José Ulisses Correia e Silva
 
Nos primeiros meses do ano 2011, Cabo Verde foi invadido por alguns acontecimentos de realce que, na óptica de alguns analistas e estudiosos, marcam início de uma nova página na história do país. Destes acontecimentos, destacam-se: a terceira vitória consecutiva do Dr. José Maria Neves e do seu partido nas legislativas do mês de Fevereiro. Acontecimento, até então, inédito; a candidatura de Joaquim Jaime Monteiro, “candidato do povo” nas últimas eleições presidenciais, que (de)mostrou aos partidos políticos e à sociedade civil cabo-verdiana, que é possível fazer campanha eleitoral sem esbanjamento, sem usar recursos públicos e, sobretudo, sem ofensas, intrigas, rancor e ódio. Alguém poderá dizer: “também não ganhou”. Deveras, não ganhou as eleições. Todavia, ganhou simpatia, honra, como também, construiu uma boa imagem, deu lição de ética e moral na política cabo-verdiana; a participação do Dr. Aristides Raimundo Lima nas eleições presidenciais como “candidato da cidadania”, que pode ter sido prejudicial para o seu partido, mas foi muito bom para Cabo Verde em vários aspectos: esse candidato tinha/tem mais e melhor traquejo para o cargo presidencial do que o outro escolhido pelo conselho nacional do partido; a sua entrada na corrida presidencial, exercendo livremente a sua cidadania, pode ter impedido, em certa medida, a eleição do Engenheiro Manuel Inocêncio Sousa - que desenhava ser um prolongamento do governo - e, ao mesmo tempo, contribuiria para a concentração do poder num só partido e numa só pessoa. Aristides Lima, Cabo Verde lhe agradece pela sua coragem, atitude e determinação. Ele e a sua equipa de campanha pisaram muito os conceitos da liberdade, ética, moral, transparência, lealdade, equidade, cidadania... Com estes conceitos mostraram, de certa forma, que dentro do partido esses valores não se aplicam no campo prático; todavia, a vitória do Dr. Jorge Carlos Fonseca nas eleições de 07 e 21 de agosto é um outro acontecimento que marcou o ano de 2011. Sua eleição como presidente da República de Cabo Verde deixou muitas pessoas boquiabertas. Pois, apesar de ser um cidadão com traquejo e que reúne todas as condições para ocupar, com dignidade, este tão alto cargo, muitos, de forma vergonhosa, tentaram atropelar esta vitória: “jogos sujos” - corrupção, mentira, calúnia, difamação, enfim, muitas outras práticas não abonatórias que todos sabemos que são praticadas nas pré e nas campanhas eleitorais, práticas essas cujo objectivo era levar ao mais alto poleiro nacional pessoa que, na verdade, não apresentava as condições para lá estar. Todavia, desta vez, a verdade e a competência falaram mais alto que todos os meios ilícitos usados. O povo de Cabo Verde mostrou, com o seu voto, a sua maturidade política e democrática. O povo cabo-verdiano está de parabéns.
 
Um outro acontecimento importantíssimo foi a notícia de que o Dr. Eugénio Miranda Veiga (presidente da Câmara Municipal de São Filipe) não vai se candidatar ao quinto mandato no concelho de São Filipe.
 
A entrevista do Dr. Felisberto Vieira é, na nossa opinião a entrevista de 2011. A entrevista foi esclarecedora, confirmadora de todos os actos ilícitos denunciados ao longo destes últimos anos por alguns homens de valores que ainda cultivam ética e moral. Esses homens referidos aqui foram apelidados, durante esses anos todos, pelos “ganhadores” de: contra, perdedores e sobretudo, frustrados. Pensamos e estamos convencidos que nenhum cabo-verdiano tem mais a dúvida sobre compra de votos, de viciação eleitoral, de perseguição, de uso de bens públicos na compra e manipulação de consciência; nenhum cabo-verdiano ignora que nestes últimos anos o cimento, verguinha, azulejos, moisaicos, sanitas e, nestas últimas eleições, entrou um novo produto – o litão (porquinho) na compra e manipulação de consciência. Nenhum cabo-verdiano ignora daqui, para frente, os autores destes actos tão vergonhosos, desonestos e, sobretudo criminosos. Pensamos e estamos convencidos de que não vale a pena gastar mais tempo e recursos para provar que estes últimos anos têm sido marcados por este tipo de prática que muito mexeu com a dignidade, honra, honestidade, valores, ética, moral, orgulho do homem cabo-verdiano. Ninguém precisa usar argumentos, discursos ou poesias para tentar escamotear esta realidade provada e comprovada. Trata-se de uma realidade que, tristemente marca e mancha a nossa história recente.
 
Aqui na terra de Pedro Monteiro Cardoso, Henrique Teixeira de Sousa e António Carreira, após o anúncio feito pelo Dr. Eugénio Veiga de que o mesmo não irá se candidatar ao quinto mandato houve uma proliferação de candidatos nas fileiras do partido que ele representa nesta região. Segundo as informações que tivemos acesso Luís Pires, Nuías Silva, Alindo Brandão, Filipe Pereira e Ernesto Silva são possíveis candidatos a candidato dentro do partido. Do outro lado (MPD), ventila-se por aí que Júlio Andrade (médico – oftalmologista) é o candidato indicado por este partido. Tudo isso no nosso entender enriquece a democracia. Todavia, esperamos que:
 
Todas as instituições envolvidas no processo das futuras eleições trabalhem em conformidade com o que está legislado e obedecem estritamente o critério legal, moral e ético pré-estabelecido;
 
O povo venha ter a liberdade de escolher o melhor. Que não apareça alguém que tente viciar os resultados com meios ilícitos para pôr no poder o candidato que a maioria rejeita;
 
O futuro presidente eleito venha ser presidente de todos, mas de todos, na prática, independentemente da ideologia político/partidária, religião, cor, origem…;
 
O futuro presidente seja capaz de dialogar na verdade com a sociedade civil, com partidos políticos, com outras instituições públicas e privadas e que evite sempre interferir nas competências de outras instituições;
 
O futuro presidente saiba interpretar a crítica e os críticos. Que entenda que a crítica visa, entre outros objectivos, melhorar o que está mal e propor soluções justas para todos os cidadãos. Que entenda que quem critica não é uma pessoa má ou é contra quem quer que seja, mas sim que é um individuo activo que pense e age diferente de quem está no poder e que para isso deve ser ouvido;
 
O futuro presidente cumprimenta todos os munícipes independentemente de estar de acordo com seu trabalho ou não;
 
O futuro presidente não transforme praças na maquete original da cidade em lote para amigos e correligionários políticos;
 
O futuro presidente preserve o património histórico e respeite opinião contrária;
 
O futuro presidente prima pelo diálogo e nunca pelo autoritarismo e totalitarismo;
 
O futuro presidente faça de Paços do concelho um espaço onde todos se sintam tratados de igual para igual assim como regem as leis da República;
 
O futuro presidente faça concurso público para ocupação de cargos públicos, com critérios bem definidos, júri capacitado e com publicação dos seleccionados…
 
OBS: Como se pode ver o artigo foi escrito logo após as eleições legislativas e presidenciais de 2011
 

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