terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

O IMPÉRIO DECIDE-SE PELO AVILTAMENTO NEOCOLONIAL DE ÁFRICA!

Martinho Júnior, Luanda

Dez anos depois do assalto e desastre da Líbia, África jaz quase inerte, indelevelmente “tocada por um destino” que a condena para o patamar aviltante dum mero despojo neocolonial, pasto do jogo que o império da hegemonia unipolar eminentemente anglo-saxónico tece, com seus vassalos e suas “coligações” malparadas, geradas particularmente desde o Afeganistão, da Nicarágua e da Angola dos tempos de Ronald Reagan e de Margareth Thcatcher!

Já antes Cecil John Rhodes foi o arquitecto não só da concepção da pista elitista “do Cabo ao Cairo”, mas também e sobretudo do domínio da cultura anglo-saxónica a partir da ossatura do império colonial britânico, algo que os Estados Unidos assumiram no mesmo dia em que acabou a IIª Guerra Mundial!

É esta a “globalização” que o império hoje tece, mobilizando seus imensos recursos, a ponto de os poder ramificar por todas as “transversalidades” sociopolíticas africanas, particularmente depois do 11 de Setembro de 2001 e da eclosão do AFRICOM, em 2008!

O encadeado de conflitos tornam-nos “transfronteiriços” e muitos deles, se não resultam directamente da disputa antropologicamente dialética entre os desertos mais quentes do globo e as ricas regiões húmidas tropicais, têm que ver com a água interior em função da sobrevivência dos próprios rebeldes face aos estados africanos fragilizados e vulnerabilizados!

Urge reconstruir as fileiras da resistência africana a partir da longa luta de libertação contra o colonialismo e o “apartheid”, avaliando antes de mais das razões de tanto se ter soçobrado ao capitalismo neoliberal impante do império, algo que desde Angola, com todas as sensibilidades do Sul Global sobre o qual recai a IIIª Guerra Mundial, em nada é ininteligível!

De facto, o movimento de libertação em África, de que o FNLA (Argélia), o MPLA, o PAIGC, a FRELIMO, a SWAPO, a ZANU e o ANC foram parte integrante, emergia sobre qualquer artificioso impacto etno-nacionalista, até pela sua identidade em termos de lógica com sentido de vida!

As resistências africanas têm de recuperar essa lógica, que também animou as hostes dos que com toda a legitimidade que lhes assistia, tiveram de lutar de armas na mão, pela autodeterminação e contra qualquer tipo de regionalismo, de tribalismo, de divisão e de desagregação!...

Quase um ano de uso de máscaras "matou" milhares de portugueses e o Carnaval

O Carnaval foi "morto" pelo covid-19 em Portugal, assim como também matou mais de dezena e meia de milhares de portugueses. Os de mais idade à frente. Resultado de "sábios" do governo vigente e de "iluminados" de cátedra do setor da saúde, entre outros dessas ilhargas. Laxismo, incompetência, rendição aos interesses económicos de uns quantos, etc. O mar bate na rocha e o mexilhão lixa-se. O habitual.

Hoje as notícias dão-nos conta de uma baixa nos registos de mortandade e de casos de infetados revelados. Estima-se que depois de casa arrombada e só então meterem trancas (confinamentos), morrendo às centenas de idosos e avolumando números de novos casos de infetados, é agora "aliviada" a morte de centenas por dia e milhares de novos infetados. Os políticos e as autoridades sanitárias sacodem a água de capote  e até parece que "estamos todos bem". Todos quem? Eles?

Da redução de casos de mortandade e de novos casos covid-19 há a notícia do alívio. Até quando vamos assistir ao alívio?

Redação PG

Mais 1.502 casos e 111 mortes devido à Covid-19 em Portugal

Já foi divulgado o boletim epidemiológico da Direção Geral de Saúde desta terça-feira.

Portugal somou, nas últimas 24 horas, mais 1.502 novos casos de infeção pelo novo coronavírus e 111 mortes relacionados com a Covid-19, indica o boletim epidemiológico da DGS divulgado esta terça-feira.

Trata-se de um aumento de 0,19% nos novos casos de infeção e de 0,72% no que toca aos óbitos. Desde o início da pandemia, o país registou 788.561 casos e 15.522 mortes.

O relatório desta terça-feira dá conta de 8.865 recuperados nas últimas 24 horas (total é de 677.719).

O número de casos ativos também continua a descer. Há menos 7.474, ou seja, 95.320 pessoas com a doença neste momento, em Portugal.

O número de internamentos também desceu significativamente, estando agora 4.482 doentes hospitalizados em enfermaria (menos 350 em relação a ontem). Nos Cuidados Intensivos estão 752 pessoas internadas, menos 32 que esta segunda-feira.

Por regiões, Lisboa e Vale do Tejo (LVT) continua a ser onde mais infeções são reportadas e mortes. Nas últimas 24 horas foram diagnosticados em LVT mais 610 infeções e notificadas 59 mortes relacionadas com a Covid-19. O Norte diagnosticou 406 casos e 20 óbitos; o Centro 300 infetados e 20 mortes; o Alentejo 65 contágios e 10 óbitos e o Algarve 72 diagnósticos positivos e duas mortes.

Nas regiões autónomas, os Açores reportam um infetado e a Madeira 46. Em nenhuma das regiões se registaram óbitos relacionados com a pandemia.

Notícias ao Minuto | Imagem: © Reuters

Quero contar-vos uma história verdadeira: a do Manuel Morais

Carmo Afonso* | Expresso | opinião

O Manuel Morais tirou uma licenciatura em Antropologia no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e, no mesmo instituto, frequentou um mestrado e escreveu a sua tese “Relação das Polícias com os Jovens dos Bairros Periféricos” agora em fase de conclusão. É um homem de esquerda mas este artigo não é sobre isso. Para o bem e para o mal não é. Dizia Nietzsche que “tudo o que se faz por amor está para além do bem e do mal”. Aqui, tudo o que tem a ver com o Manuel Morais está para além da esquerda e da direita.

Para escrever a tese entrevistou agentes da PSP do Comando do Seixal e os bairros que estudou foram os da Quinta da Princesa, Arrentela e Jamaica. Esta tese trouxe-lhe alguns dissabores junto de muitos colegas, poderia adivinhar-se o que aí viria. Numa primeira fase e na sequência de uma entrevista que deu ao Diário de Notícias em 2018, na qual manifestou as suas posições de denúncia do que não estava bem na actuação das forças policiais, ainda teve o apoio da ASPP (Associação Sindical dos Profissionais de Polícia).

Foi vice-presidente desse sindicato, o maior da PSP, cargo que desempenhou até Maio de 2019. Não adianta tapar o sol com a peneira: Manuel Morais saiu pelo seu pé mas tratou-se de uma saída forçada depois de trinta anos de vida sindical a defender os interesses da sua classe profissional. A razão? As declarações que prestou, desta vez numa reportagem da SIC, sobre intervenções policiais violentas nas zonas urbanas sensíveis. Nessa reportagem, expressamente reconhecia a existência de racismo (na verdade é uma palavra que evita por recusar a ideia da existência de raças) nas forças policiais e de preconceito (esta sim a designação que prefere) que condiciona a actuação de alguns agentes policiais e que a inquina.

A ASPP decidiu distanciar-se da posição manifestada por Manuel Morais e o então Presidente Paulo Rodrigues, entendeu que “As declarações de Manuel Morais, apesar de terem sido a título pessoal, geraram uma enorme onda de contestação de muitos sócios que entendem que a opinião dele não representa os polícias.”, conforme relatou o Diário de Notícias, no dia 27 de Maio de 2019, num trabalho da jornalista Valentina Marcelino.

A questão do racismo – nas polícias, nos portugueses ou em cada um de nós – carece de uma análise muito profunda mas existe um aspecto que parece óbvio: é que todos aqueles que o negam padecem do mal. Os que admitem a sua existência na sociedade, e eventualmente em si mesmos, são precisamente os que lutam contra o problema.

Este aspecto não diz respeito apenas ao racismo mas também a outros problemas: quem nega a existência de homofobia são os homofóbicos, quem nega a existência de misoginia são os misóginos e, já agora, quem nega a existência do domínio do patriarcado branco heterossexual deveria arranjar um bom par de óculos.

Deixo então o alerta, vale o que vale, mas quando ouvirem alguém afirmar que não existe racismo em Portugal, desconfiem – não só da afirmação – mas de quem a profere. É que em vez disso deveria logo dizer: eu sou racista e vivo muito bem com isso. Não existe aqui radicalismo ou, se preferirem, existe o radicalismo de uma evidência. As coisas são o que são e esta é assim.

Quando Manuel Morais saiu da ASPP, em 2019, ouviram-se algumas vozes (mesmo de dentro ou ligadas às forças de segurança) em sua defesa. Vozes que concordavam, que reconheciam o problema e que valorizam Manuel Morais como agente da polícia, como sindicalista, como cidadão e como humanista.

As intenções de Manuel Morais, com as declarações prestadas na reportagem da SIC, ou na sua tese de mestrado - nas suas palavras - não pretendiam denegrir os agentes policiais mas sim contribuir para uma melhor formação dos polícias. Como acabar com o racismo nas forças policiais sem passar pelo momento em que se admite que ele existe? Desconheço tal fórmula.

O tempo passou. A sua vida não tem sido fácil mas sim uma luta. Muito cuidado com aquilo que se deseja. Prestar atenção ao Manuel Morais faz intuir que é um homem de luta, como se sempre o tivesse desejado. Não é o melhor destino para quem as trava mas é uma grande sorte para o colectivo quando alguém, mesmo que sozinho, o decide fazer e por uma boa causa. É o caso.

Sucede que as coisas mudaram. As questões para as quais Manuel Morais chamou a atenção agravaram-se. Falo também da infiltração da extrema-direita nas polícias. Neste momento já não é bem um caso de infiltração. Estão encharcadas. A infiltração que poderia acontecer agora é a do bom senso e a dos princípios democráticos.

Mais, a simpatia pelo Chega entre os agentes policiais e forças de segurança – com tudo o que implica: racismo, autoritarismo, repressão e tolerância, senão mesmo promoção, à violência policial - atingiu um ponto de alastramento e de gravidade tais que fará sentido questionar se, quem está à frente de sindicatos ou associações sindicais, não estará constrangido nas declarações que profere pelo receio de perder associados ou pela responsabilidade de definitivamente perderem a mão. Não falo em defesa dos sindicatos mas pela obrigação ética de admitir essa possibilidade. Claro que isto seria ainda mais grave. Estou a admitir a possibilidade de dirigentes sindicais, e eventualmente de elementos da Direção Nacional da PSP, medirem bem as suas palavras e as suas posições não pelas suas convicções mas por uma estratégia de controlar a praga que sabem ter em mãos.

O Manuel Morais segue a estratégia do que sente. É também por isso que hoje, num dia em que finalmente está sol, escrevo sobre ele, prescindindo do meu direito ao passeio higiénico (raio de nome. É suposto levarmos pasta de dentes?).

No dia 15 de junho de 2020, Manuel Morais publicou um post na sua página de Facebook, no qual se referiu a André Ventura como “aberração”. Nesse mesmo post criticava os que decapitavam estátuas – bom, ninguém é perfeito – e sugeria, de forma claramente metafórica que deveriam sim decapitar racistas. Fê-lo na sua página pessoal.

Por causa desse post foi instaurado contra Manuel Morais um procedimento disciplinar e foi entretanto proferida uma decisão de punição de dez dias de suspensão.

Talvez aqui faça sentido recordar que “é do conhecimento público que não se encontra em curso qualquer procedimento disciplinar relativamente a agentes condenados em processo crime e com condenação confirmada pela Relação de Lisboa que, também através das redes sociais, proferiram insultos contra o sistema judicial português”. Foi o grupo parlamentar do PCP que assim o expressou num requerimento apresentado na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, em 2 de fevereiro último. Nesse requerimento foi suscitada a existência de “dois pesos e duas medidas quanto ao exercício da ação disciplinar da PSP” e foi requerida a audição da Inspectora Geral na Administração Interna com o objectivo de conhecer a sua posição acerca dos critérios para o exercício da referida ação disciplinar. Todos os partidos, à esquerda e à direita, à excepção do PS, que se absteve, e do Chega e do CDS - cujos respectivos deputados faltaram - votaram favoravelmente este requerimento.

Adiante mas com algum recuo:

Se este é o critério da PSP porque não se abriram processos disciplinares contra os oito agentes envolvidos no processo da Esquadra de Alfragide, condenados na primeira instância, e com decisão confirmada pelo Tribunal da Relação de Lisboa, nos seguintes crimes (sem precisar aqui os nomes dos agentes e as respectivas condenações): ofensas à integridade física, sequestro agravado e falsificação de documento? Sobretudo, e se a questão é a importância de uma publicação numa rede social, porque não se abriu um processo disciplinar ao agente da PSP, João Nunes, condenado no âmbito do referido processo e que ainda fez um post no Facebook no qual referiu que o sistema judicial era “madeira podre” e, já agora, que as vítimas dos crimes cometidos pelos agentes da PSP eram “traficantes e bandidos”?

Muito bem.

Vejamos a fundamentação para a condenação de Manuel Morais. Refere a decisão que “a forma como se expressou, numa rede social, na qual se encontra identificado como polícia, sobre um deputado da Assembleia da República”, “Toda a liberdade tem limites e esta liberdade, a de expressão, também tem os seus limites”, “Não podem os profissionais de polícia ir tão longe nas suas liberdades”, “Publicando comentários depreciativos sobre um deputado da Assembleia da República, consubstancia a violação do dever de prossecução do interesse público”.

Isto faz algum sentido?

Faz.

As forças policiais dividem-se entre os que estão radicalizados pelo ideário de extrema-direita e os que, não estando, não sabem exactamente o que fazer para controlar o problema ou como se posicionar em relação a ele. Enquanto esta hesitação se mantém, o primeiro grupo cresce.

Manuel Morais está a fazer aquilo que deveria estar a ser feito pelo próprio Governo; o combate ao racismo e à extrema-direita nas forças policiais, a luta pelo valores democráticos e constitucionais. É nas mãos do Super Intendente Chefe Manuel Magina da Silva que está o recurso apresentado por Manuel Morais, é lá que pode ser revista a decisão da sua suspensão.

Não podemos, não devemos, deixar o Manuel Morais sozinho nesta luta. É importante que, quem tem nas mãos a decisão do procedimento disciplinar contra Manuel Morais, saiba que tem nas mãos muito mais do que a avaliação de dez dias de suspensão e que saiba também que o que for decidido é importante para todos. Um homem que luta pela Democracia merece que o povo o defenda. Está visto que parte do povo está cego mas os que não estão devem acusar que veem.

Lembro aqui um excerto da última entrevista de Jorge Luís Borges, foi em Outubro de 1985 ao jornalista Roberto D’Ávila:

“- Como é a cegueira?

- Uma das primeiras cores que se perde é o negro. Perde-se a escuridão e o vermelho também. Vivo no centro de uma indefinida neblina luminosa. Mas não estou nunca na escuridão. Neste momento esta neblina não sei se é azulada, acinzentada ou rosada, mas luminosa. Tive que me acostumar com isto. Fecho os olhos e estou rodeado de luz, mas sem formas. Vejo luzes. Por exemplo, naquela direção, onde está a janela, há uma luz, vejo a minha mão. Vejo movimento mas não coisas. Não vejo rostos e letras. É incómodo mas, sendo gradual, não é trágico. A cegueira brusca deve ser terrível. Mas, pouco a pouco, as coisas distanciam-se, esmaecem.”

Borges era melhor que quase todos nós mas, mesmo assim, era um homem. A descrição que fez do processo que o levou a ser cego, na qual quis ser literal em vez de usar uma linguagem simbólica ou metafórica como lhe era próprio, acaba por ser uma boa metáfora para este processo que faz as pessoas perderem a noção dos valores fundamentais em que assenta a democracia.

Primeiro perde-se o negro, depois o vermelho. Não, estas cores não se podem perder. E a perda lenta da visão poupa o choque, o impacto bruto, mas vai-se ter exactamente ao mesmo lugar: um lugar onde não se veem os rostos e, por isso, a sua igualdade.

Nota final: Manuel Morais, esta história era sobre ti. Agora tenho uma para ti. Vou contar-ta a propósito do que disseste no teu post sobre os que derrubam estátuas:

Em dezembro de 1997, em Nova Iorque, chegou ao fim o processo que poderá ter estado na origem dos derrubes de estátuas que conhecemos: após um ano de manifestações de protesto, e na sequência de uma petição pública, as autoridades do Bairro de Queens decidiram proibir uma estátua em bronze, de 15 metros, da escultora Audrey Flack. A estátua representava a rainha Catarina de Bragança que casou com Charles II de Inglaterra. Foi o seu cunhado, futuro sucessor da coroa, com o título James II, que, ao comprar Nova Amsterdão aos holandeses, rebaptizou a cidade como Nova Iorque e deu a uma parte da cidade o nome de Queens, em sua homenagem.

A justificação para a proibição foi que Catarina havia sido membro do conselho de administração da Royal African Company, durante séculos traficante de escravos de África para as colónias britânicas no continente americano.

Esta história, com muito mais detalhe, foi contada no Público, pelo também antropólogo, Manuel João Ramos, em 20 de Agosto de 2020.

Se fizeram bem? Diria que sim. Incompreensível é ter vindo uma réplica para a Expo, que ainda lá está, em tamanho proporcional ao nosso, à qual, graças à nossa sistémica distração, nunca ninguém prestou muita atenção. A mãe foi bem fundida numa fábrica em Boston.

* Carmo Afonso  - Advogada

Os vaivéns na missão da OMS e a geopolitização da covid

#Publicado em português do Brasil

Ocidente mostra-se cada vez mais incapaz de controlar a pandemia. Mas ressurge, no governo e na mídia dos EUA, ideia de culpar a China… E mais: Bolsonaro e Pazuello gastam, com vacinas, apenas 11% do dinheiro disponível

Raquel Torres | Outras Palavras

APÓS O RETORNO

Poucos dias após o fim da missão de especialistas independentes liderada pela OMS que foi à China investigar as origens do SARS-CoV-2, o diretor-geral da Organização, Tedros Ghebreyesus, veio a público aparentemente contradizendo os pesquisadores. Na sexta-feira, ele disse que nenhuma hipótese foi descartada – enquanto, em coletiva de imprensa no último dia 9, membros da missão haviam dito que o surgimento do novo coronavírus a partir de um laboratório era “altamente improvável” e portanto não deveria mais ser investigado. “Questionou-se se algumas hipóteses foram descartadas. Tendo conversado com alguns membros da equipe, quero confirmar que todas as hipóteses estão sendo cogitadas e exigem mais análise e estudo”, disse. Mais tarde, cientistas da missão confirmaram que a teoria do laboratório ainda está na mesa (aqui e aqui).

Mas essa não foi a única reviravolta do fim de semana. O microbiologista Dominic Dwyer, que participa da equipe, disse ao Wall Street Journal, à Australian Broadcasting Corporation e ao New York Times que a China negou acesso aos dados brutos sobre os primeiros  casos de covid-19 reportados no país. A matéria do NYT, que também traz entrevistas com outros membros da missão, afirma que “as divergências sobre os registros dos pacientes e outras questões eram tão tensas que às vezes irrompiam em gritos entre os cientistas de ambos os lados, normalmente educados”. 

A falta de registros detalhados dificulta a resposta sobre quando, afinal, o surto começou – uma determinação que, por sua vez, afeta diretamente a avaliação do resto do mundo sobre a resposta e a transparência da China. De acordo com Dwyer, em “várias ocasiões” foram pedidas informações sobre 174 pacientes identificados em dezembro de 2019, mas elas só foram fornecidas em parte. Na CNN, o líder da missão Peter Ben Embarek disse ainda que naquele mês havia 13 cepas do vírus em Wuhan. Ele não sustentou nenhuma conclusão a partir disso, mas para o virologista Edward Holmes, da  Universidade de Sydney, o achado sugere que o vírus já pudesse estar circulando antes

Também houve questões sobre outro grupo de pacientes que tiveram sintomas como febre e tosse entre outubro e dezembro daquele ano. As autoridades chinesas detectaram um grupo de 92 pessoas que poderiam ter tido covid-19, mas dois terços foram testadas para identificar anticorpos e os exames deram negativo. O outro terço morreu ou não quis ser testado. A equipe internacional da OMS acha que os testes sorológicos podem não ter sido confiáveis, pois não está claro se os anticorpos permanecem no corpo um ano após a infecção.

Além do mais, o grupo gostaria de revisar os critérios que levaram à identificação desses 92 possíveis casos, porque eles foram pinçados, com critérios não muito claros, a partir de 72 mil pacientes com sintomas. “Descer de 72 mil para 92 mostra que os critérios talvez tenham sido um pouco rígidos demais. Pode ser uma ideia melhor revisitar o processo e encontrar um conjunto de critérios menos rigorosos, então talvez acabemos com mil casos ou mais e então possamos refazer a avaliação”, explica Ben Embarek numa longa entrevista ao site da Science. 

A repercussão disso tudo entre os membros da equipe tem sido intensa. O cientista mais citado nas reportagens que colocam a cooperação chinesa em xeque, Dominic Dwyer, não veio a público para contestá-las. Porém, outros membros da missão se manifestaram elogiando o país asiático. Um deles, John Watson, disse à BBC que “teria sido incomum para eles entregar os dados brutos, mas examinamos uma grande quantidade de informações em detalhes em discussão com as contrapartes chinesas”.

Outros criticaram abertamente a cobertura da imprensa. “Essa NÃO foi minha experiência na missão. Como líder do grupo de trabalho animal/meio ambiente, encontrei confiança e abertura com meus colegas na China. (…) É decepcionante gastar tempo com jornalistas explicando as principais descobertas de nosso exaustivo trabalho de um mês na China, e depois ver nossos colegas citados erroneamente para se encaixar em uma narrativa que foi prescrita antes de o trabalho começar”, disse Peter Daszak no Twitter, sobre a matéria do New York Times. Foi seguido pela epidemiologista dinamarquesa Thea Kølsen Fischer: “Nossas citações são propositalmente distorcidas lançando sombras sobre importantes trabalhos científicos”, escreveu ela, que foi citada pelo jornal afirmando ter a “opinião de que toda a missão era altamente geopolítica”. Tudo é muito complicado. Como já mencionamos aqui, a EcoHealth Alliance, coordenada por Daszak, colabora com o Instituto de Virologia de Wuhan e já teve um edital de US$ 3,7 milhões retirado pela Casa Branca por conta disso. 

De todo modo, ninguém na equipe ignora a imensa carga política que envolve tanto o desenrolar da investigação quanto seus efeitos, quaisquer que sejam as descobertas. “A política estava sempre na sala conosco, do outro lado da mesa. Tínhamos entre 30 e 60 colegas chineses, e um grande número deles não eram cientistas, não do setor de saúde pública. Sabemos que houve um grande escrutínio sobre o grupo científico de outros setores. Portanto, a política estava lá constantemente. Não éramos ingênuos, eu não fui ingênuo quanto ao ambiente político em que tentamos operar e, convenhamos, sob o qual nossos colegas chineses operavam”, diz Peter Ben Embarek, na Science.

O Pentágono instala-se na Síria

Segundo a Voz da América, a Administração Biden decidiu construir uma nova base militar na Síria ocupada [1].

Em 6 de Fevereiro de 2021, uns cinquenta camiões (caminhões-br) chegaram a Hasaka com material para começar a construção.

Durante o mandato de Trump, a Casa Branca tinha ordenado a retirada de todas as tropas dos EUA da Síria, onde estacionavam ilegalmente. O Pentágono e a CIA, com a cumplicidade do enviado especial do Presidente, James Jeffrey, tinham então pedido uma série de adiamentos, depois haviam alegado ter de deixar algumas tropas a fim de prevenir um retorno do Daesh (E.I.). Na realidade, mercenários curdos exploravam poços de petróleo junto com uma empresa dos EUA. Os lucros eram repartidos entre, por um lado, esses mercenários e, por outro, o fundo secreto da CIA. Eles permitem financiar operações secretas em outras regiões do mundo sem o controlo do Congresso.

Hoje em dia, a Administração Biden reforça a presença militar dos EUA na Síria, em violação do Direito Internacional e das Resoluções das Nações Unidas. Ela pretende, ao mesmo tempo, fazer pressão sobre a Rússia e sobre os Guardas da Revolução iranianos de maneira a retomar a estratégia Rumsfeld/Cebrowski: continuar as guerras sem fim iniciadas no Médio-Oriente Alargado pelos Presidentes George W. Bush e Barack Obama, depois interrompidas pelo Administração Trump.

O novo Secretário da Defesa, o General Lloyd Austin, havia já supervisionado todas as guerras do Médio-Oriente Alargado ---entre as quais a da Síria--- no fim do mandato de Barack Obama. Fora ele quem tornara operacional um programa de $ 500 milhões de dólares para treinar «rebeldes» sírios. Acontece que ele não conseguiu encontrar rebeldes e terá apenas treinado «quatro ou cinco» soldados, segundo as suas próprias palavras, em declarações ao Senado.

Voltairenet.org | Tradução Alva

Nota: -- [1] “US Forces Reportedly Building New Base in Northeast Syria”, Sirwan Kajjo, Voice of America, February 9, 2021.

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