domingo, 27 de novembro de 2011

Património Imaterial da Humanidade - As palmas, o fado e o Estranha Forma de Vida



MSE - LUSA

Nusa Dua, Indonésia, 27 nov (Lusa) - O dia na ilha indonésia de Bali foi longo para a comitiva da candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade, mas no final as palmas foram para a música de Lisboa e para a canção Estranha Forma de Vida.

Depois de horas perdidas a discutir o que o presidente da comissão científica da candidatura, Rui Vieira Nery, considerou como um "ponto mínimo", o VI Comité Intergovernamental da UNESCO decidiu remeter para segunda-feira as candidaturas que levantam questões e passar a apresentar e a inscrever as que tinham a unanimidade daquele órgão.

Antes do fado, o México conseguiu ver inscrito os mariachi como Património Imaterial da Humanidade, e, depois de horas de discussão, um primeiro momento de descontração e alegria entraram na sala com uma atuação de um grupo daquela música mexicana.

Depois, esperou-se mais um bocado, porque foi preciso o comité decidir a passagem da candidatura de Omã para segunda-feira e então ouviu-se, finalmente, a apresentação da candidatura do Fado.

Sem objeções, sem dúvidas, apenas as representantes do Paraguai e de Espanha fizeram questão de intervir para destacar o seu apoio ao fado de Portugal.

O fado foi considerado Património Imaterial da Humanidade e as palmas foram muitas, porque "todos os colegas estrangeiros conhecem e têm um amor muito especial pelo fado", disse o presidente cessante da comissão nacional na UNESCO, o embaixador Fernando Andresen Guimarães.

Sem fadista e guitarras na sala, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, num momento de grande simplicidade, tirou o telemóvel pô-lo junto ao microfone e ouviu-se o fado.

"Acho que foi a melhor forma de homenagear aqueles que têm de ser hoje homenageados. São aqueles que têm feito o fado, que são os fadistas e aquela Estranha Forma de Vida é uma homenagem a eles todos", afirmou.

No fim mais palmas, muitas, e o VI Comité Interparlamentar da UNESCO encerrou a sessão.

Vídeo: ESTRANHA FORMA DE VIDA – Amália Rodrigues

No reino lusitano ainda está para nascer um primeiro-ministro que minta tanto quanto ele




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*

Pedro Passos Coelho assegurou que "o Governo está, como sempre esteve, aberto ao diálogo com todas as forças políticas e sociais que queiram participar activamente no debate acerca de todas as escolhas".

Aí está o primeiro-ministro de Portugal ao seu melhor nível. Isto é, a mentir e a passar atestado de menoridade aos portugueses que nele acreditaram, levando na mesma onda os que nunca foram à sua missa.

Falando em Coimbra, o primeiro-ministro assegurou que "o Governo valoriza o consenso político em torno das grandes questões estratégicas nacionais", tendo mesmo o desplante de garantir que quer "manter um contacto construtivo constante com o principal partido da oposição" em todas aquelas matérias.

Mesmo para os portugueses que votaram em Passos Coelho mas que, nesta altura, já têm dúvidas se o primeiro-ministro não será Miguel Relvas, as palavras deste governo pouco mais são do que a confirmação de alguém que acredita ser um ser superior e, por isso, dono de todos aqueles que tentam sobreviver no estado esclavagista que está a construir.

"O debate político frutuoso e a coesão social são condições decisivas para a superação da emergência nacional", acrescentou o chefe do governo, para quem não basta ter os seus servos a aprender a viver sem comer, pelo que ainda entende que eles não têm direito de pensar… a não ser que seja pela cabeça do sumo pontífice do reino.

"Não bastam os votos na Assembleia da República dos deputados da maioria para superar a emergência nacional", sublinhou, defendendo ser "necessária a convergência de todas as forças políticas e sociais em Portugal".

Falando para um país que julga já estar suficientemente castrado e de barriga vazia, Passos Coelho continua a fazer gala da sua capacidade de impor a regra de ouro deste governo: quero, posso e mando. Quem não estiver bem, acrescenta, que abandone a “zona de conforto” e vá pensar para outros reinos.

Para Passos Coelho, todos (menos os seus lacaios) são culpados até prova em contrário. Não tardará muito que vá dizer que ainda está para nascer um primeiro-ministro que tenha feito, pelos portugueses, tanto como ele.

E tendo em conta os seus objectivos e aspirações, até está a fazer obra. Por exemplo, conseguiu uma nova dieta alimentar para a maioria dos portugueses. Se os porcos propriamente ditos comem farelo e não morrem, os escravos portugueses também o podem fazer.

Há coisas que este governo quer ressuscitar que foram extintas há centenas de anos. Mas a verdade é que, perante a passividade de todos, Passos Coelho está a dar corpo a mais uma forma de escravatura.

Para além de serem obrigados a pensar com a barriga… vazia, os escravos (excluem-se desta categoria os políticos, directores, administradores, gestores patrões e similares) até deveriam era trabalhar sem ganhar ou, até, pagar para trabalhar, sendo com certeza essa a melhor metodologia para vencer a crise.

Como bem sabem os 800 mil desempregados, os 20% que ainda vivem (isto é como quem diz) na miséria e os outros 20% que a têm à porta, em todas as sociedades (é o caso de Portugal) em que existem seres superiores e inferiores, em que os esclavagistas estão no poder, os escravos têm de pagar os manjares dos seus donos, seja pelas pensões vitalícias ou por outros emolumentos.

Aliás, por muito que seja o dinheiro envolvido na chulice, importa reconhecer que os políticos portugueses, os de ontem e os de hoje (a fazer fé nas fábricas partidárias, possivelmente também os de amanhã), são mesmo seres superiores que, como exímios azeiteiros, exploram os escravos até ao tutano. E exploram porque tal lhes é permitido. E sé é isso que a plebe quer, não há nada a fazer.

Aliás, basta ver a galeria de notáveis e superiores cidadãos lusos para ter a certeza de que todos eles, de Dias Loureiro a Oliveira e Costa ou Ângelo Correia, de Jorge Coelho a Armando Vara merecem tudo o que recebem e ainda muito mais.

Se em Portugal a casta superior é constituída por todos aqueles que trabalham não para os milhões que têm pouco ou nada (os escravos), mas sim para os poucos que têm cada vez mais milhões, ninguém pode dizer que eles não são competentes e merecedores que os plebeus continuem a pagar para manter a sua mama.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: QUALQUER BESTA QUE ESTEJA NO PODER É BESTIAL


Europa: SALVE-SE QUEM PUDER!




Luiz Gonzaga Belluzzo – Carta Capital

As economias mais frágeis da Eurolândia, as chamadas periféricas, continuam sob a estrita vigilância dos mercados financeiros, mas agora gozam de boa companhia. Chegou a vez de a Alemanha provar das poções amargas destiladas nas retortas dos senhores do universo. No último leilão de Bunds, títulos do Tesouro germânico, os investidores recusaram 2,35 bilhões de euros dos 6 bilhões oferecidos. “Isso é um completo desastre”, declarou um analista da Monument Strategies ao Financial Times. Ralph Unlauf, economista de um banco estatal dos Länder do Hesse e da Turíngia, afirmou que o fracasso do leilão é um “voto de desconfiança na Zona do Euro”.

Seja como for, o “desastre” não irrompeu na cena europeia como um raio em céu azul. Na esteira da desregulamentação financeira, a criação do euro estimulou a competição entre os bancos alemães, franceses, suecos, austríacos e ingleses, o que promoveu um impressionante “movimento de capitais” intraeuropeu. A maioria dos ditos PIIGS caiu na farra do endividamento privado, facilitado, entre outras coisas, pela redução dos spreads- entre os títulos alemães, o benchmark, e os custos incorridos na colocação de papéis públicos e privados dos países cujas moedas, se existissem, não proporcionariam tal moleza.

A exuberante expansão do crédito intraeuropeu gerou a bolha imobiliária espanhola e deflagrou uma explosão de consumo na periferia da Eurolândia e nos países do Leste do Velho Continente, os que ancoraram suas moedas no euro. A demanda frenética foi chuva criadeira para as exportações alemãs de manufaturados e, ao mesmo tempo, cavou buracos de dois dígitos na conta corrente dos pródigos eslavos e mediterrâneos. Nos tempos de euforia, os “gastadores” apresentavam contas correntes amplamente deficitárias e resultados fiscais superavitários.

Com a eclosão da crise, as medidas governamentais de socorro aos bancos com grande exposição aos consumidores endividados transferiram o estoque privado para dívida pública. Enquanto isso, as receitas dos governos despencavam, as despesas cresciam e os déficits se agigantavam.

Em meio à desconfiança quanto à solvência dos papéis soberanos, as lideranças europeias tropeçam em seus preconceitos e vacilações. Apresentada ao público comodestemida decisionista, Angela Merkel reagiu ao fracasso do leilão. Acorreu pressurosa aos microfones para acalmar os mercados e declarar sua inconformidade com a emissão de eurobônus em substituição aos títulos “nacionais” denominados na moeda única. Merkel teme pagar juros mais elevados nos eurobônus. No clima de desconfiança que impera na Europa, os temores e a hesitação da chanceler alemã estão prestes a desencadear uma crise bancária.

São muitos os analistas que diagnosticaram a doença congênita do euro. É desvairado definir um espaço monetário comum sem o apoio de um arranjo jurídico-político capaz de prover o fundamento fiscal para a gestão de uma moeda fiduciária. Sendo assim, desta vez é prudente prestar atenção no que os mercados “dizem”: não é possível prosseguir na moeda única sem que o devedor soberano esteja unificado.

Em artigo publicado no Financial Times em 29 de setembro, George Soros recomendou que as autoridade se entendessem a respeito da criação do Tesouro comum. Enquanto o acordo não for celebrado, diz, três providências devem ser tomadas: 1. Os bancos seriam colocados sob a direção do Banco Central Europeu em troca de garantias temporárias e permanente capitalização. 2. O BCE obrigaria os bancos a manter as linhas de crédito e os empréstimos. 3. O BCE permitiria o refinanciamento temporário a baixo custo de países comoEspanha e Itália. “As medidas acalmariam os mercados e dariam tempo para a Europa desenvolver uma estratégia de crescimento, sem a qual o problema da dívida não pode ser resolvido”, conclui.

Enquanto isso, esquenta o debate sobre a conveniência de se permanecer na moeda única ou cair fora da “prisão” que impede as desvalorizações cambiais. A controvérsia envolve a esquerda que pretende o avanço da Europa unificada. Eles também sublinham as dificuldades da construção europeia na ausência de um pacto federativo e de suas consequências fiscais. Os xenófobos à direita, não é difícil adivinhar, pretendem retornar imediatamente às moedas -nacionais.

À esquerda e ao centro, os defensores do euro consideram a proposta de saída da moeda única um recuo imperdoável que levará a consequências nefastas, tal como a guerra de desvalorizações competitivas e o calote na dívida denominada na moeda comum. Já a corrente radical do sindicalismo não deixa barato. Sugere chutar o pau da barraca: 1. Anunciar o default e propor a reestruturação da dívida. 2. Nacionalizar os bancos e as companhias de seguros; desmantelar os mercados de securities e de derivativos; controlar duramente os movimentos de capitais


Westerwelle: BRASIL MOSTRA QUE MUNDO DO SÉCULO PASSADO NÃO EXISTE MAIS




DEUTSCHE WELLE

Em entrevista à DW Brasil, ministro alemão do Exterior diz que o Brasil é uma potência que ganha cada vez mais influência política e que a América Latina é subestimada pelos europeus. "Essa avaliação precisa mudar".

O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, afirmou em entrevista à DW Brasil que os europeus "devem repensar certos conceitos e construir o quanto antes novas alianças estratégicas e parcerias, e a América Latina desempenha um papel-chave nisso".

Westerwelle também comentou a crescente presença do Brasil no cenário político internacional. "O Brasil é uma potência, é um país que, internacionalmente, se desenvolve de forma muito dinâmica, não só economicamente, mas também está ganhando cada vez mais influência política."

Segundo ele, a atuação internacional do Brasil mostra "que o mundo do século passado foi superado de forma irreversível." Ele elogiou o discurso da presidente Dilma Rousseff na abertura da mais recente Assembleia Geral das Nações Unidas, afirmando que a fala evidenciou pontos em comum entre Brasil e Alemanha.

A entrevista foi concedida nesta quarta-feira (23/11) em Berlim, durante a conferência "América Latina em Transformação", promovida pelo Ministério do Exterior da Alemanha.

DW Brasil: Qual foi o intuito do Ministério do Exterior da Alemanha ao organizar, em Berlim, a Conferência "América Latina em Transformação"?

Guido Westerwelle: A América Latina é um continente de grande dinamismo e importância estratégica para a Alemanha e a Europa. A América Latina é, ao mesmo tempo, um continente subestimado e um continente com grandes potenciais. Isso vale não só para a cooperação econômica, mas se aplica explicitamente no que diz respeito à cooperação política. Neste nosso mundo em transformação, novos centros de poder estão surgindo, e a América Latina e o Caribe, sem dúvida, fazem parte deles.

Assim como o Brasil, a Alemanha está lutando por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas o Brasil se absteve por exemplo, na votação de uma resolução contra a Síria na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, e prefere o diálogo com o Irã ao invés do uso de uma maior pressão sobre a república islâmica. Uma potência emergente como o Brasil não deveria se posicionar mais claramente em defesa dos direitos humanos?

O Brasil e a Alemanha não estão unidos apenas pelo desejo comum de assumir mais responsabilidades no Conselho de Segurança, como também na avaliação comum de que um Irã com armas nucleares é algo inaceitável. Cooperamos de forma muito estreita e afinada em muitas questões, também no Conselho de Segurança da ONU, e o próprio fato de o Brasil atuar de forma tão determinada também na política mundial mostra que o mundo do século passado foi superado de forma irreversível.

O Brasil é uma potência, é um país que, internacionalmente, se desenvolve de forma muito dinâmica, não só economicamente, mas também está ganhando cada vez mais influência política. O discurso de abertura da nova presidente do Brasil na Assembleia Geral das Nações Unidas foi muito impressionante e definiu prioridades que estimamos muito. E dá para perceber que as nossas posições culturais comuns, principalmente no que diz respeito à proteção da privacidade, à individualidade, aos direitos humanos e civis, também nos unem.

Os países do Brics, incluindo o Brasil, ofereceram ao FMI ajuda financeira para lidar com a crise da dívida europeia. Como os países do Brics podem ajudar?

Temos uma crise na Europa e vamos superá-la. E ficamos satisfeitos com a interconexão econômica mundial, que se amplia constantemente. Só entre os anos 2005 e 2010, o intercâmbio comercial entre Brasil e Alemanha aumentou 60%, ou seja, quase três vezes mais que em outras regiões comparáveis
nesse mesmo período. E a maior comunidade econômica alemã fora da Alemanha fica em São Paulo. Isso, por si só, já mostra que o estreito intercâmbio econômico e a estreita cooperação política são de interesse mútuo.

Com a minha política externa, quero manter, claro, as velhas amizades e parcerias: as alianças europeias, a aliança transatlântica. Mas também quero que os novos centros de poder no mundo ganhem mais nossa atenção. O mundo como ele era na minha juventude não existe mais.

A América Latina da minha juventude era muitas vezes associada a temas como ajuda ao desenvolvimento, e hoje vemos que três países latino-americanos estão conosco no G20, sentados à mesma mesa, em pé de igualdade. Isso mostra que na Europa devemos repensar certos conceitos e que devemos construir o quanto antes novas alianças estratégicas e parcerias, e a América Latina desempenha um papel-chave nisso.

Nos campos da ciência e da cultura, o Brasil e a Alemanha têm uma estreita cooperação, como prova o Encontro Econômico Brasil-Alemanha, um fórum importante, que é realizado anualmente. O senhor acha que as intensas relações bilaterais entre os dois países são percebidas pela opinião pública?

A opinião pública e as discussões públicas ainda se encontram bastante defasadas em relação à situação real. Há muito tempo olhamos de forma muito interessada para a Ásia e para a dinâmica do continente, e damos muito pouca atenção à América Latina e às jovens sociedades que ali emergem e ascendem. Quando na Alemanha falamos sobre desenvolvimento demográfico, geralmente nos lembramos da nossa estrutura etária envelhecida e das necessidades relacionadas com os sistemas de segurança social.

Quando falo de desenvolvimento demográfico, refiro-me ao desenvolvimento demográfico do mundo e uma grande porcentagem de pessoas na América Latina, especialmente no Brasil, é jovem, eles são ambiciosos, dinâmicos, arrojados e, portanto, também é importante que nos unamos e mantenhamos nossas estreitas amizades e fundemos parcerias estratégicas, fundamentadas em nossas raízes culturais e históricas.

Autor: Marcio Damasceno - Revisão: Alexandre Schossler

Kabila muda Constituição para se reeleger na República Democrática do Congo





Dez candidatos enfrentam o atual presidente no pleito de 28 de novembro, mas mesmo as chances do principal oposicionista são reduzidas. Especialistas advertem que violência pode voltar a dominar no país africano.

Quando em 2006 Joseph Kabila se tornou presidente da República Democrática do Congo nas primeiras eleições livres em seu país, ele já governava há cinco anos. As expectativas da população e da comunidade internacional eram grandes, após o pleito democrático.

E Kabila tudo fez para alimentar tais esperanças: prometeu mais e melhores estradas, água corrente para todos, rede elétrica moderna, melhor acesso à educação e ao mercado de trabalho e – sobretudo – paz. Uma grande ambição para um país que há anos sofria sob uma guerra envolvendo várias nações africanas. Cinco anos mais tarde, o presidente encontra-se muito aquém das expectativas.

Para Denis Tull, especialista em Congo pelo Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP), Kabila não alcançou grandes resultados. "O balanço do governo do presidente Kabila é relativamente fraco. Do ponto de vista econômico e social, na verdade não houve progressos dignos de nota. A pobreza no país permanece enorme. Os programas de construção para o país e para a economia não vingaram ou nem chegaram a ser realizados."

Crescimento sem bem-estar

De fato, a República Democrática do Congo é rica em minerais e matérias-primas como ouro e coltan – mistura de minério utilizada em telefones celulares. O crescimento econômico circula em torno de 7%, porém a população pouco lucra com ele: no índice de desenvolvimento das Nações Unidas, referente a 187 países, a nação africana ocupa o último lugar.

A expectativa média de vida é de 48 anos, a renda per capita anual fica em 280 dólares, e o desemprego é imenso. Comparando: um alemão chega, em média, a 80 anos de idade e recebe quase 35 mil dólares por ano.

Para Thomas Wilson, do think tank internacional Control Risks, sediado em Londres, tudo isso se deve à má gestão crônica de Joseph Kabila. "De certo modo, Kabila continuou a governar como seu pai, Laurent, e o antecessor deste, Mobutu Sese Seko", observa. "Ele empregou verbas do Estado e outras fontes para comprar e integrar no governo seus adversários em potencial. Ele nada vez em nome de uma governança responsável e democrática."

Segurança relativa

Joseph Kabila assumiu o poder em 2001, após o assassinato de seu pai, Laurent-Désiré Kabila, aos 30 anos de idade e sem qualquer experiência política. Antes de se tornar presidente, fora comandante das tropas de infantaria congolesas, e desempenhou um papel ativo na rebelião de 1996 contra o então chefe de Estado Mobutu.

No entanto, o acordo de paz firmado em 2002 permitiu as primeiras eleições no país desde sua independência. A comunidade internacional contribuiu para sua realização com cerca de 450 milhões de dólares, o governo nacional arcou com apenas 10%. Esse apoio vinha subordinado à esperança de que finalmente houvesse paz na gigantesca nação no coração da África.

Denis Tull reconhece que a situação de segurança melhorou desde então. Porém ele também acentua que, justamente na parte oriental do país, nas províncias de Kivu do Norte e do Sul, as circunstâncias permanecem extremamente inseguras. Não há propriamente uma guerra, porém a ameaça de grupos e milícias fragmentados, assim como do exército congolês.

"Nesse sentido, a situação cotidiana para as pessoas lá continua muito, muito precária", afirma o expert do SWP para o Congo. "Elas estão continuamente expostas a ataques. De seu ponto de vista, portanto, não se pode falar em paz. E isso também explica por que o presidente Kabila hoje não é mais tão popular no Congo Oriental."

Cartas marcadas

Dez candidatos enfrentam o atual presidente no pleito de 28 de novembro. Porém as chances são reduzidas, mesmo para o candidato mais destacado, o experiente político de oposição Etienne Tshisekedi. Kabila montou esta situação no início do ano, com uma alteração da Constituição: bastam agora a maioria simples e um único turno para se tornar – ou permanecer – presidente da República Democrática do Congo.

E, se mesmo isso não bastar para uma vitória, pode haver uma ajuda extra, crê Thomas Wilson. "Posso imaginar um cenário em que Kabila e o seu partido, o PPRD, percam o poder. Eles questionarão imediatamente os resultados no Supremo Tribunal, ou no Tribunal Constitucional, vão exigir nova apuração dos votos, e anunciar que tudo foi um erro, que na realidade o PPRD venceu e Kabila permanece no poder. Aí haverá violência, e isso colocará tudo novamente em perigo", teme o especialista do Control Risks.

Desde já o clima no país é tenso. Em meados de novembro, o procurador-chefe da Corte Penal Internacional, Luis Moreno Ocampo, advertiu os eventuais agitadores que não irá tolerar violência às vésperas das eleições no país africano, que abrirá inquérito contra os responsáveis e os levará a juízo.

Autora: Dirke Köpp (av) - Revisão: Roselaine Wandscheer

MOÇAMBIQUE PRECISA DE PROFISSIONAIS E OFERECE OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS - Guebuza



IM – CRS - LUSA

Lisboa, 27 nov (Lusa) -- O presidente de Moçambique, Armando Guebuza, disse hoje em Lisboa que o país precisa de profissionais para trabalharem nas explorações de carvão e gás natural e que oferece oportunidades de negócio em várias áreas.

O presidente Guebuza está em Lisboa para participar na primeira Cimeira Luso-Moçambicana, prevista para segunda e terça-feira, durante a qual será reforçada a relação entre os dois países.

Num evento hoje com a comunidade Moçambicana, o chefe de Estado destacou a calorosa saudação com que foi recebido pelas cerca de 500 pessoas (de uma comunidade total de 3600 a viver em Portugal) presentes num hotel em Lisboa para o ouvirem.

"Parece que estou de novo em Moçambique", referiu o presidente, num evento animado por música e dança tradicional e em que foi entoado o hino do país

O discurso centrou-se depois na economia do país africano com 22 milhões de pessoas e sobretudo nas "descobertas recentes de recursos naturais", com destaque para o gás natural e o carvão.

"Um dos grandes desafios que estas descobertas nos colocam tem a ver com a disponibilidade de técnicos moçambicanos para trabalhar nestes empreendimentos. As nossas instituições de ensino superior e mesmo no estrangeiro estão a fazer essa formação mas os números não correspondem à procura. Precisamos de muitos mais técnicos", afirmou o chefe de Estado.

Já esta semana, o presidente da Câmara de Comércio Portugal-Moçambique defendeu, em declarações à Lusa, que Maputo deveria alterar a legislação laboral para facilitar a entrada de trabalhadores portugueses qualificados no mercado de trabalho moçambicano porque o país "tem uma enorme carência de quadros".

Ainda no seu discurso, o presidente Guebuza apelou aos empresários Moçambicanos para olharem para este "nicho de oportunidade" porque há ainda "falta de fornecimento bens e serviços para essas empresas".

O presidente moçambicano disse ainda que a comunidade a viver em Portugal deve fazer "diplomacia informal", ao dar uma "boa imagem" do país e do povo e ao "divulgar as oportunidades de negócio que [Moçambique] oferece em diferentes domínios"

No âmbito da visita a Portugal, Guebuza reúne-se na segunda-feira, ao fim da tarde, no Palácio de Belém, com o seu homólogo português, Aníbal Cavaco Silva, que lhe oferece um jantar.

Para o mesmo dia estão previstas reuniões setoriais entre os ministros moçambicanos e os homólogos portugueses nos respetivos ministérios -- Finanças, Negócios Estrangeiros e Economia.

Durante a permanência da delegação moçambicana em Lisboa, será oficializada a entrada da REN no capital da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, adquirindo metade dos 15 por cento que Portugal ainda detém, segundo disse à Lusa uma fonte ligada ao processo.

A aquisição significa o fim da presença do Estado português numa das maiores barragens de África, construída em 1969.

Na terça-feira, o Presidente moçambicano e comitiva restrita têm pelas 10:30 um encontro, no Palácio das Necessidades, com o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, a que se seguirá a reunião plenária, assinatura de acordos e uma conferência de imprensa conjunta.

Depois de um almoço oferecido por Passos Coelho, Armando Guebuza e comitiva deixam Lisboa pelas 18:30, com destino a Paris.

O chefe de Estado moçambicano será acompanhado na sua deslocação a Portugal pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi, dos Transportes e Comunicações, Paulo Zucula, da Energia, Salvador Namburete, e das Obras Públicas, Cadmiel Muthemba.

*Foto em Lusa

LIGA ÁRABE IMPÕE SANÇÕES ECONÓMICAS SEVERAS À SÍRIA


Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe, participa da reunião (AFP, mahmud hams)
Mourad MOURAD - AFP

CAIRO, Egito — A Liga Árabe impôs neste domingo severas sanções econômicas contra a Síria para obrigar o regime de Bashar al Assad a deter a sangrenta repressão da revolta popular, que desde março deixou mais de 3.500 mortos, segundo a ONU.

Trata-se das primeiras sanções econômicas de tal magnitude que a Liga Árabe adota contra um de seus membros.

As sanções, propostas no sábado pelos ministros da Economia desta organização, foram adotadas em uma reunião de chanceleres árabes no Cairo.

Estas congelam as transações comerciais com a Síria e as contas bancárias do governo nos países árabes, suspendem voos entre estes países e a Síria e proíbem as autoridades sírias de viajar aos países árabes.

As medidas sobre as transações comerciais e contas bancárias entrarão em vigor "imediatamente", afirmou o primeiro-ministro do Qatar, Hamad ben Jasem al Tani, cujo país preside um comitê ministerial árabe sobre a Síria.

A entrada em vigor das demais sanções será fixada na semana que vem.

Dos 21 membros da Liga - sem contar a Síria, suspensa em meados de novembro - 19 votaram a favor das sanções, enquanto Iraque e Líbano optaram por se "dissociar" da votação, afirmou o xeque Hamad.

Segundo o xeque Hamad, o ministro de Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, que participou da abertura da reunião, afirmou que a Turquia também aplicaria as mesmas sanções contra a Síria.

A economia síria já está afetada por sanções europeias e americanas, e medidas similares da Liga Árabe podem asfixiar o país, que realiza metade de suas exportações e um quarto das importações com os países árabes.

No entanto, Damasco ignorou os ultimatos da Liga, limitando-se a acusar os árabes de querer "internacionalizar" a crise na Síria. O chanceler sírio, Walid Mualem, acusou os árabes de favorecer uma "intervenção estrangeira" na Síria, após sua decisão de recorrer à ONU para ajudá-los a encontrar uma solução para a crise.

"Tudo o que fazemos é evitar uma solução que venha do exterior", respondeu o primeiro-ministro do Qatar. Mas "se a comunidade internacional vir que não tratamos o assunto de forma séria, não posso garantir que não haja intervenção estrangeira".

"O importante é que o governo sírio se dê conta de que há uma posição árabe, que quer resolver urgentemente o problema", completou, instando o "cessar das matanças, a libertação de presos e a retirada dos tanques" das cidades sírias.

Essas sanções são uma "medida sem precedentes", afirmou a televisão pública síria, ao anunciar as medidas dos países árabes. Várias centenas de pessoas se reuniram na grande praça de Damasco para protestar contra essas sanções.

Em terra, as forças de segurança mataram 15 civis neste domingo, principalmente na província de Homs e em Damasco, segundo o Observatório sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Já o Exército sírio livre (ASL), que reivindica cerca de 20 mil desertores e cujo chefe, Riad el-Assad, está na Turquia, multiplicou os ataques contra os soldados e as forças de segurança encarregadas da repressão, deixando cerca de 50 mortos desde quinta-feira, de acordo com o OSDH.

MILHARES DE LÍBIOS ESTÃO A SER DETIDOS EM VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS



Redação PG

De acordo com o jornal britânico The Independente a Grã-Bretanha voltou a apelar ao novo governo líbio para terminar com os abusos aos direitos humanos após a revelação de que milhares de pessoas estão sendo detidas ilegalmente.

As informações chegadas ao governo britânico apontam para 7 mil detenções ilegais daquilo a que o novo governo líbio chama de “inimigos do estado”. O Foreign Office disse: "Nós condenamos todas as violações dos direitos humanos." O ministro das Relações Exteriores inglês, William Hague, levantou recentemente a questão dos detidos com o primeiro-ministro líbio al-Kib, que garantiu ir proceder a investigações sobre as acusações de abusos cometidos.

O Reino Unido está a financiar um projecto para fornecer aptidões para os advogados e oficiais de justiça na Líbia, a fim de melhorar a compreensão e adesão a padrões internacionais de direitos humanos. De acordo com um relatório da ONU a maioria dos tribunais na Líbia "não estão plenamente operacionais", devido à falta de segurança e absentismo por parte dos juízes e administradores.

O relatório de Ban Ki-moon, secretário geral da ONU, vai ser discutido pela ONU no Conselho de Segurança na segunda-feira, menciona The Independent.

Diário de uma revolução: PRAÇA TAHRIR SE TRANSFORMOU NO CORAÇÃO DO EGITO




Sandro Fernandes - Enviado especial ao Cairo – Opera Mundi – Foto EFE

Aeroporto Internacional Ataturk, Istambul. Sábado, quatro da tarde, porta de embarque 212. Destino: Cairo. O Egito das pirâmides e das hordas de turistas tirando fotos com camelos no deserto se transformou no Egito do levantamento popular. Um voo sem turistas, algo inimaginável há menos de um ano.

No avião, meu assento parece ter sido estrategicamente escolhido, entre um egípcio que mora nos Estados Unidos e um norte-americano que mora no Egito. Saco meu bloco de notas, alguns jornais e começo a rabiscar algumas palavras. "Você esta indo ao Egito por causa das eleições?", pergunta o norte-americano. "Sim, sim", respondo, acreditando que ele havia notado minha profissão. "E em quem você vai votar?", continua o curioso yankee. Minhas feições levaram-no a pensar que eu era egípcio. "Ótimo", pensei. "Serei somente mais um no meio da multidão.

Sem mais rodeios, o assunto cai diretamente na revolução, pós-revolucao, segunda revolução, como quiserem chamar. No fim-de-semana que antecede as primeiras eleições parlamentares do Egito, marcadas para esta segunda-feira (28/11), o assunto é o mesmo em todas as conversas. Um casal fala sobre a Irmandade Muçulmana, alguns jovens criticam as Forças Armadas, um senhor comenta a influência dos Estados Unidos na política interna do país. Não há como ficar indiferente. Todas as falas são carregas de emoção e gestos.

Duas horas de voo e desembarcamos no Cairo. Encontro meu amigo egípcio, Sheriff, que quer me acompanhar à famosa Praça Tahrir. Ele trabalha em um banco, é copta (minoria cristã) e acaba de pedir o visto de imigração no Consulado do Canadá. "Não quero ficar no Egito. Antes tínhamos estabilidade com o regime autoritário. Agora, ninguém sabe o que pode acontecer amanhã, especialmente para os que não concordam com um regime islâmico no país", confessa.

Entramos em um ônibus local rumo a Tahrir. Enquanto conversávamos, dois passageiros começam a discutir, aos gritos, com dedo em riste e em tom de ameaça. Uma mulher intervém e a discussão fica ainda mais calorosa. "Não se preocupe. Eles estão falando sobre as eleições", explica Sheriff.

A viagem de 45 minutos pelas esburacadas e mal-iluminadas ruas do Cairo de tornou um circo político, em um debate que, se fosse televisionado, deixaria atônito qualquer telespectador desavisado. Cada pessoa que entra fala sua opinião, ou se queixa sobre a atual situação do país.

No trajeto até Tahrir, percebo que tudo permanece igual: os mercados de rua estão abertos por todos os lados e o trânsito segue caótico. Ligo para outro amigo, muçulmano, médico e professor da Universidade do Cairo: "Já estou no Cairo. Onde voce está?. "No bar de sempre, fumando meu narguille e tomando chá", responde Saleh.

“A vida não mudou para os não-revolucionários – a maioria. O que mudou foi a apreensão do que acontece no entorno. A maioria da população não foi a Tahrir por medo ou preguiça, mas todos estão discutindo o presente e o futuro do país. Já não nos interessa mais falar sobre futebol. Todos somos um pouco analistas políticos e temos uma opinião. E tudo isso é novo para a gente", explica Sheriff. "Até janeiro, todos achávamos que [Hosni] Mubarak ficaria no poder para sempre. De repente, temos a possibilidade de mudar a história".

Chegando a Tahrir

Dez da noite. Chegamos ao centro da cidade. Conforme nos aproximamos da Praça Tahrir, a concentração de pessoas lembra a saída de um jogo de futebol. Câmeras de televisão por todos os lados e pessoas chegando para se concentrar na mítica praça. Tahrir se transformou no coração do Egito e fervilha de histórias e ideias.

Agora, há um cordão de isolamento num raio de um quilômetro da praça e um controle de segurança, que checa a identidade das pessoas. Postos de primeiros-socorros abrigam os feridos durante os embates. E são muitos os feridos. Centenas de pessoas continuam acampadas, esperando o dia das eleições. Alguns cozinham em fornos improvisados. Quando descobrem que sou brasileiro, me convidam para comer peixe e tomar chá. "Ao Egito!", sorri um dos jovens, levantando seu copo.

O Museu Nacional do Egito, ao fundo, com seus tesouros e divindades, continua protegendo os manifestantes. Ao lado dele, jaze a sede do Partido Democrático Nacional de Mubarak, queimada pelos manifestantes no inicio do ano e ainda testemunha da Primavera Árabe.

Na praça, jovens entoam por todos os lados músicas de protesto. Diferentes ideologias políticas estão juntas, todas contra a ação violenta das Forças Armadas nas ruas do país. "Tantawi (líder das Forças Armadas) é um animal e está a serviço dos Estados Unidos. O poder no Egito vem da praça (Tahrir)", canta e repete incansavelmente um grupo de jovens.

Uma da manhã. Resolvo voltar ao hotel, que fica perto da praça. Ligo a TV e descubro que um canal independente CBC2 emite 24h por dia imagens do Parlamento e de Tahrir. Mudo de canal e analistas discutem as eleições. "Se cancelarem as eleições de segunda-feira, os manifestantes vão queimar o país", decreta um dos comentaristas. O Cairo dorme mais uma noite de revolução.

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Vídeos:

Israel ameaça cortar água e luz de Gaza caso facções palestinas formem governo




MARINA TERRA – OPERA MUNDI

Fatah e Hamas anunciaram essa semana uma nova "parceria"

O governo de Israel ameaçou neste sábado (26/11) cortar o fornecimento de água e eletricidade para a Faixa de Gaza caso Fatah e Hamas formem um governo de unidade nacional. Os líderes Mahmoud Abbas, do Fatah e Khaled Meshal, do Hamas, anunciaram nesta quinta-feira (24/11) uma nova "parceria" entre as principais facções palestinas após negociações de reconciliação no Cairo.

"O ministro das Relações Exteriores está examinando a possibilidade. Ele analisa cortar a infraestrutura de Gaza", disse o vice-ministro israelense das Relações Exteriores, Danny Ayalon ao site do Yediot Aharonot. Segundo ele, um acordo "transformaria a ANP (Autoridade Nacional Palestina) em uma entidade terrorista e colocaria um fim à esperança de um acordo de paz".

Em represália à aproximação entre Fatah e Hamas, ministros israelenses decidiram na sexta-feira (25/11) manter congelada uma transferência de milhões de dólares em impostos de palestinos à ANP. No dia 21, a ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou que Israel deveria voltar a transferir os impostos, que representam dois terços da renda da ANP e cuja transferência tinha sido interrompida em 1 de novembro devido ao pedido da Palestina para ingressar nas Nações Unidas.

Em janeiro, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já havia ameaçado cortar o fornecimento de água e eletricidades para Gaza, governada pelo Hamas desde 2008. Israel, que unilateralmente saiu de Gaza e desmantelou assentamento no território palestino, permanece controlando a água e 70% da rede elétrica -- o resto é controlado pelo Egito e por plantas locais.

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PUTIN ACUSA OCIDENTE DE TENTAR INTERFERIR NAS ELEIÇÕES RUSSAS


As declarações de Putin foram feitas após ele ter sido designado oficialmente candidato à presidência (AFP, Yekaterina Shtukina)

Olga Rotenberg - AFP

MOSCOU — O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, acusou países estrangeiros neste domingo, afirmando que eles "têm tentado interferir" nas eleições russas, num discurso feito a uma semana das legislativas.

Segundo Putin, países estrangeiros pagam organizações não-governamentais na Rússia "para que estas influenciem a campanha eleitoral do país", o que considerou como sendo um "trabalho inútil, dinheiro atirado pela janela".

"Seria preferível que utilizassem esse dinheiro para pagar o déficit de seu país e deixassem de gastar dinheiro com políticas estrangeiras custosas e ineficazes", disse ele em uma aparente referência aos países europeus e aos Estados Unidos.

"Todos nossos interlocutores estrangeiros devem compreender que a Rússia é um país democrático, um interlocutor de confiança, um associado previsível com o qual se pode chegar a um acordo", disse.

Em outubro, a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) disse ter sido formalmente convidada para acompanhar as eleições legislativas na Rússia em dezembro.

As declarações de Putin foram feitas após ele ter sido designado oficialmente candidato à presidência nas eleições de março de 2012, designação aceita por ele neste domingo diante de 11 mil delegados de seu partido, Rússia Unida.

"Sou grato ao (presidente) Dimitri Anatolevich Medvedev, ao congresso da Rússia Unida, por ter me nomeado e pedido que fosse candidato ao posto de presidente da Rússia. E é claro, aceito esta proposta com gratidão. Obrigado", declarou Putin sob aplausos da multidão que gritava "Rússia! Rússia!" e "Putin! Putin!".

O Congresso da Rússia Unida ainda deve ser votado oficialmente para confirmar Putin, de 59 anos, como candidato às presidenciais, como se anunciou no final de setembro.

Medvedev discursou pouco antes de Putin e aproveitou para pedir o voto para o dirigente "mais experiente e mais popular" do país.

"Nosso país confia e deposita sua esperança no futuro em (Putin)", disse Medvedev.

Antes, partidários do primeiro-ministro se revezaram na tribuna para falar dos feitos de Putin desde sua chegada ao poder em 2000, enaltecendo principalmente a "estabilidade" estabelecida por ele após o caos gerado nos anos 1990 como consequência do desmembramento da União Soviética em 1991.

PUTIN ACEITA CONCORRER NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DA RÚSSIA


Primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, e presidente Dmitri Medvedev participam de congresso do partido Rússia Unida em Moscou – Foto Reuters

ÚLTIMO SEGUNDO, São Paulo

Anúncio, já dado como certo desde setembro, tem como objetivo dar fôlego ao partido Rússia Unida nas eleições do próximo domingo

O primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, aceitou neste domingo a indicação de seu partido para concorrer à presidência na eleição marcada para 4 de março. O anúncio, já dado como certo desde setembro deste ano, tem como objetivo dar fôlego ao seu partido Rússia Unida, que sofre com queda na popularidade, na votação parlamentar marcada para o próximo domingo.

Putin aceitou a indicação antes mesmo de o congresso do partido realizar uma votação final, na qual sua candidatura foi aprovada por unanimidade. "Foram entregues 614 cédulas. Resultado da votação: 614 votos a favor, nenhum contra", anunciou Boris Grizlov, presidente do Conselho Supremo da Rússia Unida. O ato partidário teve participação do atual presidente da Rússia, Dmitri Medvedev.

Os 10 mil presentes no congresso, realizado no estádio Luzhniki de Moscou, celebraram o resultado cantando de pé o nome de Putin. "Para todos nós é evidente: hoje começa uma nova etapa no desenvolvimento da Rússia", afirmou Putin em discurso de forte teor populista.

Em seu pronuniamento, Putin prometeu "trabalhar diariamente para elevar a qualidade de vida no país" e "sempre dizer a verdade ao povo, por mais difícil que seja". O atual premiê russo, que já foi presidente do país por oito anos, destacou que "é preciso carregar com mais impostos o luxo e o consumo excessivo", enquanto "para o cidadão simples os impostos não devem ser pesados".

Putin assinalou como tarefas prioritárias "o cumprimento dos compromissos sociais, a defesa dos interesses da maioria, a luta contra qualquer injustiça, a defesa dos direitos e da dignidade do homem".

O candidato também ressaltou a necessidade de "criar um Exército e uma Armada, um complexo militar-industrial que sejam capazes de garantir à Rússia uma paz segura sem prejudicar nossa economia e, pelo contrário, estimulá-la".

Medvedev, já anunciado como futuro primeiro-ministro após uma eventual vitória de Putin, afirmou que o partido "Rússia Unida erra às vezes, mas a oposição que o critica com frequência simplesmente mente".

Pesquisas indicam que Putin, que foi presidente entre 2000 e 2008, vencerá a eleição apesar da recente queda em índices de aprovação. Esses mesmos levantamentos também mostram que o Rússia Unida poderá perder a maioria de dois terços das cadeiras na Câmara.

Em 24 de setembro, Medvedev e Putin anunciaram os planos de trocarem de postos durante um encontro partidário. A declaração foi recebida de diferentes maneiras pelos russos. Alguns levantaram questões sobre o futuro político do país e sobre a estagnação econômica.

*Com Reuters e EFE


Holodomor: MUITAS PROVAS E NENHUM DESMENTIDO



Olexander Paliy, historiador

Entre 1926 e 1939 o número dos ucranianos baixou de 31.195 milhões para 28.111, ou seja diminuiu em 11%. No mesmo período, o número de russos aumentou de 77.791 para 99,591 milhões, ou seja, cresceu em 28%. A população da URSS aumentou no mesmo período em 16%, passando de 147.028 para 170.557 milhões. Todos os dados pertencem ao censo populacional soviético de 1939...

Se as tendências na Ucrânia acompanhassem as tendências soviéticas gerais, os ucranianos deveriam em 1939 perfazer cerca de 36.186 milhões, ou seja 8.075 milhões a mais do que foram registados no mesmo censo. Isso tendo em conta do que no início do século XX, Ucrânia era comparada com China em questão do crescimento populacional.

O carácter genocidário do Holodomor é provado pelo facto do que o número dos ucranianos que morreram durante a II G.M., é menor do que o número dos ucranianos mortos durante Holodomor. E na II G.M., Ucrânia perdeu cerca de 6,5 milhões de cidadãos.

Em 1932-33, as cidades, as províncias e as fronteiras administrativas da Ucrânia Soviética eram guarnecidas pelo exército e pelos pelotões de NKVD, com a tarefa de não deixar a população de escapar da fome. Vários ucranianos que tentaram sair da Ucrânia foram assassinados por essas mesmas forças militares.

O único lugar em toda a URSS, além da Ucrânia, onde o poder soviético usava as forças militares para barrar o caminho dos refugiados, após a requisição forçada dos alimentos às populações, era Kuban, o território fora da Ucrânia onde predominava a população etnicamente ucraniana.

Em todo o território da Ucrânia, desde Zhytomyr à Luhansk, as aldeias ucranianas morriam de fome, mas à distância de apenas alguns quilómetros, as populações da Rússia e da Belarus não recordam as vítimas do Holodomor.

Apenas contra a população da Ucrânia foi estabelecida a resolução que previa a requisição de não apenas trigo em grãos, mas de todo o stock alimentar.

No meio do genocídio, em 22 de Janeiro de 1933, Kremlin emite a directiva especial que ordena a não permissão aos camponeses da Ucrânia e de Kuban de sair fora das suas zonas de residência. Aqueles que “conseguissem sair” deveriam ser imediatamente detidos, detectados entre eles “os elementos contra-revolucionários” e deportados às suas residências anteriores.

No meio do genocídio, em 17 de Março de 1933, foi emitida a directiva que autorizava os camponeses a sair do kolkhoze apenas com a permissão da sua administração, na base do recrutamento colectivo da mão-de-obra.
Os novos colonos e os membros do exército vermelho que eram assentados nos lugares dos camponeses ucranianos mortos recebiam os alimentos fornecidos pelo estado soviético, mas os camponeses ucranianos locais – não.

Holodomor decorria em paralelo com o reinício das repressões em massa contra a elite cultural da Ucrânia e com o fim compulsivo da política de ucrainização na Ucrânia e em Kuban.

Na URSS sempre foi permitido escrever livremente sobre a fome nas regiões de Volga em 1921-22, mas qualquer menção do Holodomor ucraniano de 1932-33 poderia ser punida com a pena de prisão até os anos 1980. No meio do Holodomor, a URSS classificava as informações sobre o genocídio de “calúnias infames” e continuava faze-lo durante décadas.

Durante os anos do Holodomor de 1932-33, a URSS exportou milhões de toneladas de trigo e uma quantidade considerável dos outros alimentos para o estrangeiro, o que pode ser comprovado pelas estatísticas públicas das bolsas de valores ocidentais.

A morte dos milhões de ucranianos prejudicou sobremaneira a economia da URSS. As crianças foram primeiras vítimas da fome, eles iriam se tornar a população economicamente activa. A URSS optou pelo extermínio dos camponeses ucranianos que eram educados na tradição e em língua ucranianas. Salva-las da morte pela fome custaria infinitamente menos do que eles iriam produzir para a economia soviética. Mas a liderança da URSS não os salvou.

Será que no país onde as pessoas muitas das vezes tinham medo de sussurrar debaixo dos cobertores, milhões de pessoas poderiam morrer durante quase dois anos sem que isso seja conhecido e aprovado pelo Moscovo?

Os diplomatas estrangeiros informavam sobre as declarações privadas dos líderes soviéticos do que na Ucrânia em resultado da fome “será mudado o material etnográfico”.

As testemunhas da conversa entre Stalin, Postyshev e Kosior afirmam que Stalin os elogiou por causa dos seus relatórios sobre o número dos mortos da fome na Ucrânia e disse ao Postyshev: “Tu, Pavel, foste designado para lá por nós na qualidade do ‘comandante da fome’, e com essa arma farás mais que Budionni com os exércitos da cavalaria. Stanislav (Kosior) perdeu-se um pouco, mas você tem a mão e a vontade de ferro”.

O secretário-geral do PCUS, Nikita Khrushev, disse no Congresso do partido em 1956 que Stalin só não deportou todos os ucranianos da Ucrânia, por serem demasiadamente numerosos e não haveria nem o lugar para onde os deportar, nem URSS acharia a quantidade suficiente dos vagões de gado para faze-lo. Existe a informação sobre a ordem do Comissário popular do interior da URSS, Beria e do Vice – comissário popular da defesa da URSS, marechal Zhukov datado de 22 Junho de 1944 sobre a deportação de todos os ucranianos para a Sibéria. O Secretário do estado norte-americano, Edward Stettinius afirmou nas suas memórias do que na Conferência da paz em 1945 em Yalta, Stalin se queixava sobre a situação “incerta” na Ucrânia e se arrependia por não aprovar a ideia da deportação dos ucranianos para Sibéria.

Hoje temos que entender que a sociedade ucraniana não está dividida entre Leste e Ocidente, mas entre aqueles que se solidarizam com as vítimas do genocídio de 1932-33 e os que alinham com os seus organizadores e executores. Eles são a minoria, mas estão bem posicionados.

Está mais que claro que o carácter pós – genocidário da Ucrânia enfraquece o país, permite fazer aquilo que o poder actual está a fazê-lo hoje. Talvez exactamente por isso o poder não quer pensar e dizer a verdade sobre Holodomor...

*Publicado em Ucrânia em África

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