quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

CIA FOI DECISIVA PARA A PRISÃO DE MANDELA EM 1962

 

Esquerda net – Carta Maior
 
Agente infiltrado no Congresso Nacional Africano (CNA) deu todas as informações à polícia sul-africana, segundo o The New York Times.
 
O The New York Times revelou em 1990 que a CIA desempenhou um importante papel na prisão de Mandela em 1962. A agência, usando um agente infiltrado no Congresso Nacional Africano (CNA), deu à polícia sul-africana informações precisas sobre as atividades de Mandela. Segundo o diário norte-americano, um agente da CIA relatou: “Entregamos Mandela à segurança da África do Sul. Demos-lhes todos os detalhes, a roupa que ele estaria a usar, o horário, o exato local onde ele estaria”.

Thatcher e a terra do faz de conta

Em 1987, quando o então primeiro-ministro Cavaco Silva alinhou Portugal à Grã-Bretanha e aos Estados Unidos num voto contra o fim do apartheid e a libertação de Nelson Mandela, a então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher dizia: "O CNA - Congresso Nacional Africano, partido de Mandela - é uma típica organização terrorista... Qualquer um que pense que ele vá governar a África do Sul está a viver na terra do faz de conta".

Reagan dizia que apartheid era essencial para o mundo livre

Nos Estados Unidos, a opinião sobre Mandela não era diferente: o presidente Ronald Reagan inscreveu o CNA na lista de organizações terroristas. Em 1981, Reagan disse que o regime sul-africano – o regime do apartheid – era "essencial para o mundo livre". Reagan explicou à rede de TV CBS que o seu apoio ao governo sul-africano se devia a que “é um país que nos apoiou em todas as guerras em que entrámos, um país que, estrategicamente, é essencial ao mundo livre na sua produção de minerais.”

Mandela precisava de autorização especial para entrar nos EUA

Só em 2008, Mandela e o CNA deixaram a lista americana de organizações e terroristas em observação. Até então, Mandela precisava de uma permissão especial para viajar para os EUA.

Outro país que se manteve ligado ao regime segregacionista sul-africano foi Israel. Durante muitos anos, o governo israelita manteve laços económicos e relações estratégicas com o regime do apartheid. Nesta sexta-feira, o governo israelita lamentou a morte de Mandela afirmando que o "mundo perdeu um grande líder que mudou o curso da história" e que ele foi um "apaixonado defensor da democracia".

“Eu também era um terrorista ontem”

Em entrevista ao jornalista Larry King em 2000, o próprio Mandela falou sobre esta mudança de tratamento. "É verdade. Ontem, chamavam-me terrorista, mas quando saí da cadeia, muitas pessoas me abraçaram, incluindo os meus inimigos, e é isso que digo habitualmente às outras pessoas que dizem que os que lutam pela libertação dos seus países são terroristas. Digo-lhes que eu também era um terrorista ontem, mas, hoje, sou admirado pelas mesmas pessoas que me chamavam terrorista”.

Créditos da foto: Arquivo
 

O ENTERRO DE OBAMA

 


Urariano Mota*, Recife – Direto da Redação
 
Recife (PE) - Vocês desculpem o título acima. Ele me saiu do inconsciente. Eu pensava em escrever sobre o enterro de Mandela, mas de tanto ver fatos diversos da seriedade em torno do funeral de Mandela, fui obrigado a aceitar esta ordem da subconsciência: falarei mesmo sobre o enterro de Obama. Tentarei explicar.
 
Notem que no enterro de Mandela a notícia que mais corre o mundo é a presença do presidente Obama. Desde o discurso, ele, o presidente norte-americano se fez a maior estrela. Quem foi ver Mandela, viu Obama. Notem que beleza o ghost-writer de Barack Obama escreveu para a multidão:
 
“Para o povo da África do Sul, para aqueles que ele inspirou em todo o mundo – a morte de Madiba é justamente um momento de luto e um tempo para celebrar a sua vida heroica. Mas eu acredito que também devemos ter em cada um de nós um momento de autorreflexão. Com honestidade, independentemente de nosso estado ou circunstância, devemos perguntar: ‘Como eu apliquei suas lições em minha própria vida?’”.
 
E aqui, para a desgraça dos improvisos escritos com antecedência, a essa peça de retórica a realidade respondeu com uma loura fogosa, mais conhecida pelo nome de Helle Thorning-Shmidt, primeira-ministra da Dinamarca. As pessoas veem hoje entre indignadas e surpresas, e com uma ponta de vouyeurismo picante, a sequência de fotos em que Obama troca tapinhas, rápidos toques de pernas e gargalhadas com a represente do reino da Dinamarca, entre explicações em que ele parece falar “eu posso até ser negro, baby, mas também sou presidente dos Estados Unidos. Portanto, vamo simbora”.
 
A partir daí, o enterro de Mandela se tornou o enterro de Obama. Não tanto porque desejemos vê-lo enterrado, ainda que a troca de pessoa de Mandela pela de Obama no caixão seria honrosa para a humanidade. Mas não por isso. A realidade se impõe, e faleceu quem o mundo precisa que estivesse vivo, lúcido e alto para responder à injustiça. Então encaremos com paciência, e com uma ponta de bom humor o que Obama foi mesmo fazer naquele funeral.
 
É claro, bem antes desse grande final, ou seria um grande inicial?, toda a imprensa do mundo já se posicionara a favor de um enterro festivo. Não bastasse a presença do idiota George Bush, já existia e continua a existir no ar uma diluição da luta do líder africano. Em lugar do homem radical que pregou a revolta pelas armas, do líder comunista que possuía o maior respeito a Fidel Castro, se pôs o homem da conciliação, ou da reconciliação. É claro, isso não é novo. Até hoje não vimos um só homem de valor, de grande talento e gênio, que a sociedade não trate de descaracterizar após a morte. Isso aconteceu e acontece com Graciliano Ramos, com Niemeyer, com Lima Barreto, com Tolstói, com Mark Twain.
 
Já antes do enterro de Obama, Desmond Tutu, em artigo para o Guardian escrevera que o período de prisão de Mandela havia sido importante para ele perder a raiva. “Mantenho que seu período na prisão foi necessário porque, quando foi preso, estava cheio de raiva. Mandela era relativamente jovem e tinha sido vítima de um erro da Justiça; ele não era um estadista, disposto a perdoar --era o comandante em chefe da ala armada do partido, que estava inteiramente disposta a recorrer à violência”, escreveu Desmond Tutu. No Brasil, esse cristianismo de cura pelo sofrimento sempre teve o nome mais simples de pedagogia do cacete.
 
No domingo, o repórter do Fantástico, anunciara que o funeral seria uma semana de comemorações, no sentido mais vulgar mesmo da palavra, o significado de festa. E diante das imagens do povo a cantar e dançar, ele concluía que o povo da África do Sul lamentava e celebrava ao mesmo tempo. Então o clima já estava pronto e formado para a maior animação. Obama, o novo conquistador de corações, somente pôde chegar lépido e feliz, charmoso e sedutor para a saudação ao morto. E do defunto tirou o melhor proveito. Assim como Mandela, que sempre rejeitou um retrato sem vida, pois sempre fez questão de afirmar que não era santo, que não passava de um pecador a continuar tentando, Obama não resistiu a qualquer santidade diante da tentação. Conforme se vê nas fotos que correm o mundo, depois do discurso vazio, mandou ver.
 
Dizem as notícias que após o “selfie” - que vem se tornando uma febre entre celebridades e anônimos -, Obama e a ministra mostraram total entrosamento, conversando animadamente durante o funeral. Deveriam apenas acrescentar que para o defunto Mandela o enterro foi de Obama.
 
*É pernambucano, jornalista e autor dos livros "Soledad no Recife" e “O filho renegado de Deus”. O primeiro, recria os últimos dias de Soledad Barrett. O segundo, seu mais novo romance, é uma longa oração de amor para as mulheres vítimas da opressão de classes no Brasil.
 

Ucrânia: KLITSCHKO, UM PUGILISTA TREINADO POR MERKEL

 


Der Spiegel, Hamburgo – Presseurop – imagem Hagen
 
Desde o início das manifestações pró-União Europeia e contra o Governo ucraniano, o ex-pugilista Vitali Klitschko tem surgido como um dos principais instigadores contra o Presidente Viktor Yanukovych. Talhado pelos democratas-cristãos da chanceler alemã, poderá, em breve, ser apoiado por mais dirigentes europeus. Excertos.
 
 
Na quinta-feira de há duas semanas, ficou perfeitamente claro que qualquer vislumbre de amizade entre a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, tinha acabado. Estiveram juntos num jantar de gala com os dirigentes da União Europeia e dos países do Leste europeu, no antigo palácio do Grão-duque da Lituânia, com a cidade de Vílnius toda decorada para o Natal.
 
Ainda a sobremesa trufada não tinha sido servida, quando o Presidente ucraniano encetou um monólogo fastidioso sobre a difícil relação do seu país com a Europa, por um lado, e com a Rússia, por outro. A certa altura, Merkel interrompeu bruscamente Yanukovych e informou-o de que era melhor deixar-se de conversa. “Dê por onde der, não vai assinar”, disse ela, sem rodeios. O Presidente arménio, que estava sentado ao lado de Merkel, ergueu os olhos com a surpresa.
 
“A porta continua aberta para a Ucrânia”, insistiu Merkel repetidamente após a hecatombe, salientando que os europeus continuam dispostos a dialogar. E antes do início da próxima ronda, a chanceler planeia pôr um novo jogador em campo: Vitali Klitschko. O volumoso campeão de pesos pesados no boxe deverá ser lançado como adversário pró-europeu do Presidente pró-russo, Yanukovych, na esperança de que ele assinará um tratado pró-UE, que ainda há quem acredite que se vai materializar.
 
Movimentações nos bastidores
 
Apesar de “mudança de regime” ser um termo demasiado forte para o que a Alemanha anda à procura, não é inteiramente descabido. A União Democrata-Cristã (CDU) alemã, de centro-direita, e o Partido Popular Europeu (PPE), associação de partidos conservadores europeus, escolheram Klitschko como seu representante de facto, na Ucrânia. A sua função é unir e orientar a oposição – na rua, no parlamento e, por fim, na eleição presidencial de 2015. “Klitschko é o nosso homem”, dizem os políticos veteranos do PPE. “Tem uma ideologia europeia clara.” E Merkel ainda tem contas para acertar com Putin.
 
Grande parte das movimentações acontece nos bastidores. O partido de Klitschko, a Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma, formada em 2010, tornou-se recentemente membro observador do PPE. Nas sedes do PPE em Bruxelas e Budapeste, estão a ser formadas pessoas da Aliança ucraniana para o trabalho parlamentar e recebem apoio para o desenvolvimento de uma estrutura partidária a nível nacional. A Fundação Konrad Adenauer, estreitamente ligada à CDU, também desempenha um papel importante. Klitschko pediu expressamente aos assessores de Merkel para fornecerem ajuda por intermédio da fundação.
 
Mas o ponto fulcral da iniciativa é o próprio Klitschko. Tem-se reunido com Ronald Pofalla, chefe de equipa de Merkel, que há anos vem estabelecendo laços com membros da oposição na Europa do Leste, especialmente ao regime autoritário da Bielorrússia. Pofalla deu a Klitschko uma série de pistas, e o pugilista e novato político aconselha-se com ele. Por exemplo, Klitschko quer saber como responder a rumores sobre os seus supostos “casos com mulheres”, que o Governo ucraniano tem andado a espalhar, para destruir as suas possibilidades de se tornar um dirigente político viável no país.
 
Foto de família em Bruxelas
 
Klitschko pode também depender da ajuda discreta de Pofalla e do Governo alemão para a eleição presidencial de 2015. Para já, a sua candidatura está bloqueada por uma lei, presumivelmente escrita a pensar nele em particular, que determina que um cidadão com autorização de residência noutros países não é considerado residente na Ucrânia. Isso impede Klitschko de provar que tem vivido na Ucrânia nos dez anos anteriores à eleição, o que é requisito para qualquer candidatura, segundo a Constituição do país. Mas conta com Merkel para apelar ao Presidente Yanukovych no sentido de garantir que essa lei não vai atrapalhar a candidatura de Klitschko. Para tal, o pugilista profissional terá de ser preparado para se tornar um político sério, tanto na Ucrânia como no exterior, o que é precisamente o que está a acontecer.
 
Klitschko participou numa reunião preliminar de líderes europeus conservadores em Vílnius, há cerca de duas semanas, tendo passado longas horas à conversa com os principais membros do Parlamento Europeu. Mas não se encontrou diretamente com Merkel. No entanto, a chanceler vai participar da reunião preliminar do PPE, que antecede a próxima cimeira da UE, em meados de dezembro, e o plano é voltar a convidar Klitschko. Desta vez, está prevista fotografia oficial com os dirigentes europeus, bem como uma reunião com a chanceler. Isso pode aumentar significativamente as credenciais políticas de Klitschko e representa um importante compromisso de Merkel.
 
Mas será Klitschko capaz de unir uma oposição notoriamente dividida, formada sobretudo pelo seu partido, mais o Partido da Pátria, da ex-primeira-ministra presa, Iulia Tymochenko, e o Partido da Liberdade, nacionalista de direita? Os partidários de Klitschko no PPE esperam que, na eleição presidencial de 2015, a oposição seja capaz de alinhar por um candidato conjunto, para enfrentar Yanukovych – e vencer. Então Merkel terá alcançado o seu objetivo de uma liderança pró-europeia na Ucrânia, podendo arrancar o segundo grande desafio: o esforço para reestruturar as relações da UE com a Europa de Leste – um jogo que coloca a União Europeia contra Putin.
 
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Itália: “GARFOS, O PROTESTO É ASSUSTADOR”

 

La Stampa – Presseurop
 
Pelo terceiro dia consecutivo, o movimento “Forconi” (garfos) saiu à rua em muitas cidades italianas, bloqueando estradas e interrompendo serviços para protestar contra o Governo, a austeridade e o euro, noticia La Stampa.
 
Nascido em 2011, o movimento junta vários grupos particularmente atingidos pela crise, como vendedores, motoristas de camiões e pequenos empresários, mas também extremistas de direita e hooligans do futebol. Alguns dos organizadores ameaçaram “marchar sobre Roma” se o Governo sobreviver a um voto de confiança marcado para hoje, enquanto os líderes da oposição Silvio Berlusconi e Beppe Grillo deram o seu apoio aos manifestantes.
 
Segundo o editorial do diário estas manifestações são especialmente preocupantes porque são as primeiras a realizar-se em Itália, desde há muito tempo, com o estômago vazio ou, mais precisamente, com o medo de que o estômago fique vazio em breve. [...] Não nos esqueçamos que, na Grécia, vimos pensionistas insuspeitos imolarem-se pelo fogo, no meio da rua. O desespero pode transformar qualquer pessoa.
 

Angola: DO PETRÓLEO AO BOTOX

 

A VISÃO DO REGIME
 
Folha 8, 7 dezembro 2013
 
Angola pode chegar a produzir três milhões de barris de petróleo por dia se a exploração do nível pré-sal, ainda em fase inicial, for viável, afirmou à Lusa David Thomson, da consultora britânica Wood Mackenzie. Quando tal acontecer, estaremos entre os dez maiores produtores, “ranking” liderado pela Rússia e pela Arábia Saudita, que produzem cerca de 10 milhões de barris diários. Talvez nessa altura se comece a cumprir o vaticínio do vice-Presidente da República, Manuel Domingos Vicente, para quem a meta imediata do Governo é reduzir abaixo dos 35% os níveis de pobreza, hoje superior a 60%. Talvez.
 
O nível de incerteza, não em relação à pobreza mas ao petróleo, é ainda bastante elevado, na medida em que é preciso confirmar a tese de que há, realmente, petróleo no pré-sal, um nível geológico situado por baixo do fundo do mar, explica o consultor, salientando que “até 2015 teremos uma imagem mais clara sobre a escala dos recursos naturais possíveis de explorar”. Para já, as previsões continuam a ser optimistas, dado que, com a “quase estagnação da produção na Nigéria”, o maior produtor africano de petróleo, com mais de 2 milhões de barris por dia, “Angola pode tornar-se o número um africano, mas não nos próximos anos”, salienta David Thomson. Para este consultor especializado na indústria do petróleo, Angola deverá ultrapassar a barreira dos 2 milhões de barris diários a partir de 2015 ou 2016, e beneficia não só da estagnação da produção nigeriana, mas também da percepção dos investidores, que encaram o país desfavoravelmente, e dos roubos que frequentemente são reportados pelas principais companhias petrolíferas a operar no país.
 
Questionado sobre o significado prático de ser o maior produtor africano de petróleo, David Thomson reconheceu que não é apenas uma questão de estatuto: “É claramente uma questão de ‘status’, mas há potencialmente um aspecto mais importante, que é o efeito tangível de atrair mais investimento, porque a percepção dos investidores passa automaticamente a ser de que Angola é um bom destino para colocar o dinheiro, porque todos querem ser associados com o melhor, com o maior, com o primeiro, e é assim que as coisas funcionam”.
 
Independentemente do previsível aumento da produção petrolífera, são já muitos os poucos angolanos que têm muitos milhões, que lotam as viagens entre Luanda e o Rio de Janeiro. Há uns anos os aviões transportavam cidadãos que fugiam da guerra, hoje – revela o jornal brasileiro “O Globo” – procuram a lipoaspiração, terapia capilar, laser contra estrias e, é claro, botox.
 
“Como a infraestrutura de serviços ainda é precária no país, pacificado desde 2002, o avião virou a melhor saída para a emergente classe média angolana que quer ter acesso a aparelhos e cosméticos que não existem do lado de lá do Atlântico. Um cálculo informal do consulado de Angola estima que, dos 25 mil visitantes anuais, pelo menos 30% vêm procurar algum tratamento estético. Nesse vai e vem, outro nicho cresce a olhos vistos: o da reprodução assistida”, diz o jornal.
 

Mandela - UMA REFERÊNCIA DA HUMANIDADE

 


Benjamin Formigo – Jornal de Angola, opinião
 
Mais do que a morte de um homem de Estado, escassos nos dias que correm, com a morte de Nelson Mandela desapareceu uma das últimas referências morais não só de África como da Humanidade em geral.
 
A sua luta contra o apartheid foi uma luta de resistência, de vontades, de inabaláveis convicções. No dia do seu desaparecimento físico eram muitos os que viam Nelson Mandela como um homem de armas, um Presidente anos ao leme da África do Sul. Na verdade cumpriu, por sua decisão, apenas um mandato na Presidência.

Preso pelo regime do apartheid e enviado para a prisão da Ilha das Focas em 1964 permanecendo encarcerado até 1990. No cárcere enviou mensagens e escreveu livros que clandestinamente foram passados para o exterior e divulgados sobretudo fora da África do Sul. Mandela, como ele escreveu, tornou-se o preso mais conhecido sem nunca ser visto em público. Da sua mensagem ficou clara a intenção de construir uma Nação onde todos tivessem lugar. Profundo conhecedor da História do seu país fez um enquadramento político do futuro sem esquecer o passado e sabendo relativizar as situações.

Em Agosto de 1990 o Presidente José Eduardo dos Santos usou a sua influência na SADC e junto dos Países da Linha da Frente para que o último Presidente branco da África do Sul tivesse uma oportunidade de mudar pacificamente o regime. “A África do Sul é um país em mudança. O Presidente De Klerk tem manifestado boas intenções e até tem dado alguns passos que fazem crer que está em condições de as realizar.

A nossa posição nesta altura é a de apoiar todos os esforços dos governantes da África do Sul orientados para a abolição do ‘apartheid’, a democratização do Estado e da sociedade sul-africana e, naturalmente, apoiar todas as forças patrióticas do ANC que durante todos estes anos lutaram para que chegasse este momento de contactos, conversações e discussões políticas com os representantes do governo, para o estabelecimento de uma nova ordem na África do Sul.”, afirmou-me numa longa entrevista em que abordou várias questões de política internacional.

Angola foi um dos países que mais sentiu os efeitos da luta do apartheid para sobreviver. Desde a independência, em 1975, o regime de Pretória efectuava raids em território angolano através da fronteira com a Namíbia ocupada ilegalmente, invocando o direito de perseguir os guerrilheiros do ANC apoiados por Angola, mais tarde o envolvimento do regime do apartheid com a UNITA sustentou a guerra no país durante décadas.

Com a independência da Namíbia F.W. De Klerk, Presidente da África do Sul, conseguiu ganhar o benefício da dúvida que permitiu a libertação de Nelson Mandela. De Klerk não estava seguro do apoio do seu próprio partido, o Partido Nacional, às reformas que iniciara. Mas necessitava de um interlocutor representativo e respeitado pela maioria negra, como necessitava de uma abertura internacional que viria através de Luanda e sem a qual a transição teria sido extremamente difícil.

Nelson Mandela mostrou rapidamente o seu valor moral e político para que o seu país conhecesse uma transição tranquila, ou relativamente tranquila.Dois anos depois da sua libertação e da legalização do ANC e outros partidos Mandela viu De Klerk cumprir a primeira etapa do desmantelamento do apartheid: a 17 de Março de 1992 o referendo entre a minoria branca onde o fim do regime segregacionista foi aprovado por 68,73 por cento contra 31,27 por cento, uma percentagem que só foi possível por uma parte considerável dos afrikaners (boers) ter votado contra o apartheid.

Mais uma vez a moderação, o bom senso e o conhecimento histórico do país de Nelson Mandela foi imprescindível para que uma considerável percentagem de boers tivesse votado para pôr termo ao regime do apartheid.

A transição não era, nem foi fácil e só a paciente calma de Mandela e a confiança por ele conquistada conseguiu travar os mais apressados. Dois anos depois em Abril de 1994 realizou-se o sonho de Nelson Mandela, um homem um voto, as primeiras eleições livres e democráticas sul-africanas que levaram o ANC ao Governo e o próprio Mandela à Presidência, um cargo que desde logo anunciou iria ocupar por um só mandato. Quatro anos depois passou a Presidência a Thabo Mbeki. Retirou-se oficialmente para se dedicar a obras sociais, contudo Nelson Mandela estava por detrás dos acontecimentos sempre que uma crise se adivinhava ou quando era necessário intervir internacionalmente.

Durante a sua Presidência teve início o trabalho da Comissão da Verdade e Reconciliação. Nelson Mandela contornou os desejos de vingança de alguns através desta comissão independente que ouviu e convocou a depor os responsáveis dos excessos cometidos pelo regime separatista. Todavia essa comissão não visava acusar e condenar. Visava apenas apurar a verdade, obrigar cada um a assumir as suas responsabilidades e viver publicamente com elas. Por utópico que pudesse parecer resultou.

Nelson Mandela, talvez contra a sua vontade, tornou-se o símbolo da consciência da Nação e a sua reserva moral mas também uma boa consciência da África. Muitos são os que já disputam a sua herança moral, poucos os que a merecem.

Foto AFP
 

MANDELA E O DIA DOS DIREITOS HUMANOS - Jornal de Angola, cartoon

 

Imagem Escolhida

Casimiro Pedro - Jornal de Angola

ONU: Angola submeteu relatório para extensão da sua plataforma marítima

 


Angola submeteu às Nações Unidas o seu relatório para o processo de extensão da sua jurisdição marítima além das 200 milhas náuticas, divulgou hoje em Luanda fonte oficial.
 
Uma nota de imprensa do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos enviada à agência Lusa refere que o documento foi entregue no passado dia 06, em Nova Iorque, pelos ministros da Defesa de Angola, Cândido Van-Dúnem, e da Justiça e dos Direitos Humanos, Rui Mangueira.
 
O processo de submissão do relatório, com todas as argumentações técnicas e jurídicas, decorreu no âmbito do trabalho efetuado pela Comissão Interministerial para a Delimitação e Demarcação dos Espaços Marítimos de Angola (CIDDEMA), coordenada por Cândido Van-Dúnem.
 
"A produção do relatório de submissão ao processo de extensão da jurisdição marítima exigiu um intenso trabalho de investigação e levantamento científico, que culminaram num conhecimento profundo da morfologia e configuração geofísica da costa angolana", refere o comunicado.
 
Angola prevê estender o seu território até 350 milhas náuticas, conforme o artigo 76º da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que permite a extensão das suas plataformas.
 
Em maio deste ano, Cândido Van-Dúnem reiterou a necessidade "premente" de Angola estender a sua plataforma marítima com vista a assegurar "com responsabilidade redobrada a soberania do mar".
 
O CIDDEMA, que recebe apoio técnico do Brasil, é integrado pelos ministérios da Defesa, Interior, Justiça e Direitos Humanos, Pescas, Ambiente, Transportes, Geologia e Minas e o Estado Maior General das Forças Armadas e Marinha de Guerra.
 
Lusa
 

Portugal transmitiu a Bissau "gravidade" do caso de voo com passaportes falsos

 


Governo apoia decisão da TAP de suspender a rota para a Guiné-Bissa devido a uma "grave quebra de segurança".
 
O Governo português transmitiu ao encarregado de negócios da Guiné-Bissau em Lisboa "a gravidade" do embarque de sírios com documentos falsos no aeroporto de Bissau, anunciou esta quarta-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE).
 
O gabinete do ministro Rui Machete explica, em comunicado, que em causa está o embarque, na madrugada de terça-feira, de 74 sírios "com documentos comprovadamente falsos no voo TP202 de Bissau para Lisboa", apesar "dos alertas das competentes autoridades portuguesas e da companhia aérea", naquilo que, para o MNE, configura "mais uma grave quebra de segurança no aeroporto de Bissau".


Na sequência deste episódio, a TAP "viu-se obrigada a suspender a rota Lisboa/Bissau/Lisboa até uma completa reavaliação das condições de segurança oferecidas pelas autoridades guineenses no aeroporto em Bissau", uma decisão que o Governo português "compreende e apoia", acrescenta a tutela.

No mesmo comunicado, o Palácio das Necessidades afirma que o Executivo "continua em contacto com a TAP para que se encontrem rotas alternativas para os passageiros afectados enquanto aquela ligação estiver suspensa".

O Governo recorda que "as condições de segurança na Guiné-Bissau se deterioraram fortemente após o golpe de Estado de Abril de 2012", motivo pelo qual estão desaconselhadas "quaisquer viagens não essenciais àquele país".

Um grupo de 74 sírios, passageiros num voo proveniente da Guiné-Bissau foi, na terça-feira, retido no aeroporto de Lisboa por uso de passaportes falsificados da Turquia.

Segundo o Instituto da Segurança Social (ISS), o grupo de refugiados é constituído por 51 adultos e 23 menores.


Rádio Renascença
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DOIS DETIDOS APÓS HOMICÍDIO DE PORTUGUÊS EM MAPUTO

 


O homem, comerciante, foi assassinado esta noite na sua residência, nos arredores de Maputo, na sequência de golpes de instrumentos contundentes, de acordo com o canal privado STV.
 
O Governo português vai apoiar o repatriamento do corpo do cidadão assassinado na noite de terça-feira em Maputo, Moçambique, disse à Lusa o secretário de Estado das Comunidades, que adiantou que a polícia já deteve duas pessoas.

Em declarações à Lusa, José Cesário afirmou que o ministério dos Negócios Estrangeiros já está em contacto com a família do homem, natural da zona centro de Portugal.

O homem, comerciante, foi assassinado esta noite na sua residência, nos arredores de Maputo, na sequência de golpes de instrumentos contundentes, de acordo com o canal privado STV.

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas referiu que a polícia moçambicana está a “investigar as circunstâncias em que o assassínio decorreu” e adiantou que já foram detidas duas pessoas “que estariam, em princípio, na casa aquando do delito: o guarda da casa e uma senhora”.

Cesário disse que “aparentemente” terá ocorrido um assalto à casa do português, mas afirmou desconhecer se “o móbil foi exclusivamente o assalto ou outro qualquer”, algo que “a polícia terá de apurar”.

O governante afirmou que vão agora ser realizadas as diligências para se repatriar o corpo para Portugal, em articulação com a família da vítima.

“Daremos o apoio possível e necessário”, garantiu José Cesário.

Rádio Renascença
 

Portugal: QUANDO SOARES DOS SANTOS SE PÕE A PENSAR

 

Daniel Oliveira – Expresso, opinião

Não há banqueiro e retalhista que não bote faladura sobre o futuro do país, que não dê conselhos a governantes e que não faça profundas análises socioeconómicas, sempre num tom categórico de quem se dirige a um bando de incapazes. Os jornalistas e os políticos, que têm uma profunda admiração pelos seus extratos bancários e pelas oportunidades de carreira que eles podem oferecer, ou que são apenas deslumbrados, bebem as suas palavras. E muito portugueses, que confundem sucesso com sabedoria, também.
 
Um dos empresários mais ouvido é Alexandre Soares dos Santos. E é aquele que, sem qualquer dúvida, se atira mais facilmente para fora de pé. É que saber vender iogurtes de pedaços, bacalhau demolhado da Noruega e champôs anticaspa não nos dá obrigatoriamente habilitações culturais e políticas fora do comum. Mesmo quando destinamos parte do dinheiro conseguido com a venda de Oreos e rolos Renova ao financiamento de fundações para propaganda ideológica.
 
Ultimamente, Soares dos Santos deu mais algumas entrevistas. Uma delas foi ao "Jornal de Negócios". E a sensação do leitor que tenha a escolaridade obrigatória roçará a vergonha alheia. Minto se disser que não aprendi nada. Fiquei a saber que a dieta portuguesa, ao contrário da polaca, é péssima para o negócio, porque "é peixe grelhado, é peixe grelhado, não variamos nada". Lendo o resto da entrevista, percebemos que era sobre isto, e apenas sobre isto, que Soares dos Santos deveria falar. Mas não. O merceeiro, com o mesmíssimo direito que assiste a qualquer cidadão, mas com uma reverência de todos que claramente não lhe é merecida, pelo menos quando fala dos assuntos da governação, vai muito mais longe. Fala da história de Portugal e do seu futuro, da economia, da política, da sociedade. Vou concentrar-me apenas em poucos temas, porque a entrevista de cinco páginas é exaustiva e duma densidade que merece uma análise mais cuidada.
 
Como sabemos, Portugal está sem rumo. Há mesmo quem considere que se perdeu. Apesar de reconhecer que está quase tudo melhor do que antes do 25 de novembro (o 25 de abril foi apenas "uma revolução comunista"), Soares dos Santos consegue encontrar a origem de todos os nossos problemas: termos descolonizado Angola. "Devíamos ter descolonizado Cabo Verde, São Tomé, Guiné, Moçambique, talvez, e nunca Angola. Os laços de carinho, de afeto, entre Angola e Portugal eram reais. (...) Devíamos ter feito uma associação qualquer. Uma confederação. Porque não? O que não se estudou foi nada." E Soares dos Santos, do alto do estudo que desenvolveu sobre os assuntos ultramarinos, considera que esta foi "a principal escolha do passado que determinou o presente atual", o que obrigou Portugal a entrar para a União Europeia. Portugal poderia, portanto, continuar orgulhosamente só, com uma colónia em África. Angolanos, vizinhos africanos, europeus, URSS, EUA, ninguém nos maçaria, porque quem não se consegue livrar da troika livra-se, com toda a facilidade, do mundo inteiro. A nossa salvação seria conseguirmos ser hoje o único país do planeta com uma colónia de grande dimensão. Pena que ninguém tenha estudado o suficiente para o perceber.
 
Da mesma forma que a soberania de Angola nada lhe diz, também dispensaria a nossa. Aliás, acha que "andamos a perder tempo a falar de soberania". "Não me importo de perder a minha soberania se, em troca, me derem alguma coisa melhor", diz o empresário que acha que a soberania é dele e que se troca como um vale de descontos. O seu pensamento sobre a democracia não é muito diferente. "Não vamos a parte nenhuma com eleições. Porque o nosso problema é dinheiro. Somos tesos e estamos falidos. Temos de unir a Nação [a tal que não precisa de soberania para nada] toda dentro do mesmo programa." Explica que o que nos falta é "método, disciplina e uma democracia musculada." É verdade que, um pouco antes, Soares dos Santos queixa-se que Portugal "detesta o debate e não quer discutir nada", mas agora afirma: "Não podemos discutir muito. É assim, é assim, toca para a frente". Venha portanto uma democracia musculada, porque as eleições não nos levam a lado nenhum, que toque para a frente um programa único, discutido mas pouco, para uma Nação que não quer ser soberana mas que ainda devia ter Angola. Perante tanto tema para reflexão, fica apenas um humilde apelo, no que suponho serei acompanhado por muitos portugueses insensíveis aos dramas comerciais de Soares dos Santos: que o programa único não inclua a ilegalização do peixe grelhado.
 
Uma das poucas utilidades destas entrevistas indigentes é retirar a patine de respeitabilidade democrática e intelectual a uma determinada elite económica. Percebemos como é anacrónica, provinciana e incrivelmente inculta. O drama é que é ela, e não aqueles que criaram empresas inovadoras e baseadas no conhecimento e na investigação, que apostaram na mão de obra qualificada e em acrescentar valor ao que produzem, que mais influência tem junto do poder político e mediático. É esta pequena elite de vendedores a retalho e bancários de luxo que se confunde com o poder político, o influencia e vive a sonhar com um passado perdido. E é este, e não a perda de Angola e o excesso de peixe grelhado, o drama histórico de Portugal: temos uma elite dominante que sempre foi pior do que o resto do país.
 
Mas a entrevista não acaba aqui. Outro dos problemas detetado por Soares dos Santos é a falta de lideranças e de quadros. Isso nota-se nas empresas e na política. E ele sabe porquê. Por causa do enorme fluxo migratório do passado. O dos anos 60? Não, que disparate. O de 1974 e 1975. "A nossa crise também vem de que em 1974-75 houve uma geração de portugueses que se foi embora. E essa geração de portugueses levou crianças e essas crianças não voltaram. Voltaram os pais, na maioria dos casos, mas as crianças cresceram e ficaram lá fora. Isso dá com que haja um "gap" de uma geração. E, parecendo que não, o "gap" dessa geração encontra-se nas empresas, na política - porque na política é notório, não é? (...) Que estão a ser substituídos atualmente por jovens com muito pouca experiência. E isso vem a afetar em muito."
 
Por acaso os números dizem que a emigração caiu brutalmente do início dos anos 70 (sobretudo depois de 72/73) até ao início dos anos 80 (continuando ainda em queda até ao início dos anos 90). Por razões internas - a qualidade de vida melhorou muito - e por razões externas - começou uma crise petrolífera. Temos, desde os anos 30, o primeiro saldo migratório positivo (largamente positivo) durante a década de 70. Se há problema que não tivemos nesse período, em contraste com a década anterior, foi o da emigração. É por isso difícil acompanhar o raciocínio de Alexandre Soares dos Santos. Mas compreendemos se entrarmos na sua cabeça. E percebemos que o seu olhar sobre Portugal é marcado pelo que observa no seu minúsculo e hermético mundo, onde, de facto, muita gente saiu do país logo depois da "revolução comunista". E percebemos qual é o problema de procurar respostas para a nossa situação junto de pessoas com uma cultura política e uma experiência social tão limitadas. É que nascendo o seu conhecimento político exclusivamente da sua experiência (e não de leituras ou de atividade cívica) e sendo a sua experiência socialmente tão restrita, ele fala dum país onde habitam uns poucos milhares de pessoas. É essa ignorância sobre o país onde vive, que o fez pensar que Portugal tinha ficado deserto em 1974, que o faz hoje acreditar que não há fome, porque as famílias tratam disso. "O problema é grave, mas não é tão grave". Só achamos que sim porque "hoje, em Portugal, tudo é político, tudo vai para a televisão, tudo aparece como uma desgraça completa".
 
Imagino que Alexandre Soares dos Santos será um génio do retalho. Mas, não há como dizer isto duma forma simpática depois de ler esta entrevista, é um analfabeto político. Não tem mal. Cada um cultiva-se nos assuntos que lhe interessa. O que é preocupante é serem analfabetos políticos a determinarem, em grande parte, a promoção de futuros governantes, de estrelas da academia e de fazedores de opinião. A decidirem, através da pressão que vão exercendo, o futuro do país. Se, como democrata, me oponho à ideia de ver o poder económico a mandar no poder político, isso ainda me assusta mais quando me apercebo do calibre intelectual e cultural de quem detém, em Portugal, esse poder económico. Serei, nesta matéria, um snob. Tentarei corrigir esse defeito. Só que ler as entrevistas de Soares dos Santos não me ajuda nada a encontrar o caminho da virtude.
 

Portugal: Trabalhadores transferem para as empresas dois mil milhões por ano

 


Grupo de investigação da Universidade de Coimbra coordenado por Carvalho da Silva revela impacto do novo Código do Trabalho.
 
Micael Pereira - Expresso
 
No seu primeiro relatório anual, com quase 300 páginas e que é apresentado esta quarta-feira, o Observatório sobre Crises e Alternativas fez uma análise quantitativa inédita que chegou a um número: os trabalhadores passaram a transferir todo os anos para as empresas 2,1 a 2,5 mil milhões de euros do rendimento que tinham.
 
A equipa de investigadores do observatório, que faz parte do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, tem estado a estudar a crise desde a primavera do ano passado com o objectivo de apresentar soluções alternativas. Foi nesse contexto que calculou a perda de rendimentos dos trabalhadores e a poupança conseguida pelas empresas com as alterações introduzidas em 2012, com o novo Código do Trabalho.
 
"O conjunto das alterações, cujo impacto foi estimado, parece ter uma dimensão inesperadamente semelhante ou superior ao efeito pretendido com a alteração da TSU (Taxa Social Única), que visava reduzir os custos salariais das empresas", lê-se no relatório.
 
"Na altura, a redução de 23,75 para 18% dos encargos patronais, por contrapartida da subida dos encargos dos trabalhadores de 11 para 18%, pretendia obter um acréscimo de rendimentos das empresas de 2300 milhões de euros. Ou seja, um valor da mesma ordem de grandeza do impacto das alterações introduzidas com as alterações ao Código do Trabalho em 2012."
 
No capítulo dedicado às reformas laborais e à desvalorização do trabalho, o terceiro do relatório, o grupo de investigadores coordenado por Manuel Carvalho da Silva, antigo secretário-geral da CGTP, admite que a estimativa até foi "calculada por defeito", uma vez que não tem em consideração "o impacto da criação de bancos de horas nas empresas na redução do trabalho suplementar remunerado, bem como de um conjunto diverso de requisitos legais associados aos custos de pessoal".
 
Menos 20,8% de descanso
 
De acordo com as contas dos investigadores, um dos aspectos com maior impacto nessa transferência de rendimentos do trabalho para o capital tem a ver com "o corte no tempo de lazer do trabalhador e na sua transformação em tempo de trabalho". A eliminação de quatro feriados, três dias de férias e do descanso compensatório pelo trabalho suplementar "provocaram em termos médios um corte de 20,8% do tempo de descanso dos trabalhadores, sem qualquer compensação adicional".
 
O relatório conclui que ao fim de um ano os trabalhadores passaram a dar às empresas mais 7,9 dias úteis de trabalho sem qualquer tipo de compensação.
 
José Reis, professor catedrático de Economia, escreve na nota introdutória do documento que o estudo da Universidade de Coimbra assume "a austeridade como uma forma de economia política, que conheceu alternativas nas fases iniciais de gestão da crise, mas que a seguir passou a ser sistematicamente formulada tendo em vista agir sobre o modelo social e político, revolucionando-o estruturalmente através do modo como considera o trabalho e o Estado". Para os investigadores, a austeridade não é nem uma "necessidade técnica e transitória" nem uma "condição funcional para uma fase seguinte".
 
Com o título "A Anatomia da crise: Identificar os problemas para construir as alternativas", o relatório é apresentado esta quarta-feira à tarde durante uma sessão na Fundação Calouste Gulbenkian. Além dos investigadores e de uma palestra de Boaventura Sousa Santos, diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, a sessão inclui uma mesa redonda com Isabel Guerra, João Ferreira do Amaral, Vieira da Silva e Silva Peneda.
 
Criado em abril de 2012, o Observatório sobre Crises e Alternativas tem cerca de 20 investigadores envolvidos e parte do seu financiamento depende de um grupo de doadores, que inclui empresas e fundações. Carvalho da Silva, o seu coordenador, é responsável pelo polo do CES em Lisboa desde 2011. Doutorou-se em 2007 e desde 2009 que é investigador da Universidade de Coimbra. Em 2012 deixou de ser secretário-geral da CGTP, cargo que ocupava desde 1986.
 
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AMERICANO GOLDMAN SACHS MAIOR ACIONISTA DOS CTT

 


O banco de investimento norte-americano Goldman Sachs, onde trabalhou o secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro, Carlos Moedas, tem 5% dos CTT.

O banco de investimento norte-americano Goldman Sachs é para já o maior acionista dos CTT, com 4,99%. A compra foi feita no dia 5 de dezembro, já depois da privatização. O Deustche Bank anunciou que detém 2,04%.

A tomada de participação por parte do Goldman Sachs foi comunicada há minutos através do sítio da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). O banco de investimento diz apenas que tem os direitos de voto, pelo que esta participação pode pertence a outros investidores.

Expresso

NEGOCIATA? ESTALEIROS DE VIANA SÃO O CALCANHAR DE AQUILES DE AGUIAR-BRANCO?

 


Ana Gomes diz que Aguiar-Branco não contactou Comissão Europeia
 
A eurodeputada socialista Ana Gomes afirmou hoje que o ministro da Defesa nunca contactou a Comissão Europeia para discutir as alegadas ajudas públicas aos Estaleiros de Viana do Castelo, nem para comunicar a operação de subconcessão.
 
As posições da eurodeputada do PS foram assumidas em declarações à agência Lusa em Estrasburgo, depois de se ter reunido com o comissário europeu da Concorrência, Joaquin Almunía, para discutir a questão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).
 
Ana Gomes, que disse ter pedido a reunião na semana passada para esclarecer a "barragem de informação criada pelo Ministério da Defesa", referiu que Almunía "não conhece" Aguiar-Branco e ainda aguarda uma resposta do executivo português em relação às questões levantadas em abril sobre as transferências do Estado para aquela empresa do norte de Portugal.
 
"O Governo até hoje não deu resposta formal às questões colocadas pela Comissão Europeia na comunicação de abril, há contactos informais, ao nível dos serviços, mas o senhor ministro nunca se dignou sequer a agarrar no telefone e a falar com o comissário Almunía", afirmou Ana Gomes.
 
A socialista rejeitou a ideia de que "a Comissão Europeia impôs esta solução [para os ENVC] ao Governo português" e disse que a reunião com Joaquin Almunía confirmou a sua "perceção" de que a subconcessão à Martifer é "um negócio crapuloso".
 
"É inadmissível (...) o senhor ministro já podia ter falado com o comissário Almunía, já podia ter esclarecido isto, é inadmissível que nunca o tenha feito, só isto mostra o seu desinteresse ou então a sua má-fé para facilitar um negócio que é ruinoso para o Estado", reforçou.
 
Ana Gomes referiu que o comissário da Concorrência está desde abril "a aguardar que o Governo responda": "Nessa altura ainda estava em curso o processo de privatização que entretanto o Governo já encerrou e até já abriu e concluiu a subconcessão, do qual a Comissão não tem nota, nem explicação formal".
 
"O que apurei também é que a própria Comissão Europeia, nas comunicações de janeiro e abril, abre várias avenidas para o Governo justificar as alegadas ajudas de Estado e nenhuma dessas avenidas foi seguida pelo Governo, o Governo podia alegar que se trata de um empresa viável mas em dificuldades, e portanto procurar uma autorização mesmo 'a posteriori' das transferências que o Estado fez e, aliás, boa parte delas foram feitas já por este Governo", sustentou.
 
Segundo a eurodeputada do PS, "um argumento importantíssimo" era o de os ENVC produzirem navios para o próprio Estado, já que foi isso que "levou ao salvamento dos Estaleiros de Navantia, na Galiza, e é o argumento que está ser considerado em relação aos Hellenic Shipyards, na Grécia, para isolar a questão das ajudas de Estado".
 
Por outro lado, Gomes advertiu que os ENVC eram "os principais beneficiários das contrapartidas [da compra] dos submarinos" e "nunca viram nada" e que o Banco Espírito Santo, envolvido na componente financeira das contrapartidas militares, "é o principal responsável pela engenharia do processo de subconcessão" à Martifer.
 
Lusa
 
Ministro da Defesa diz que Ana Gomes "ultrapassou o limite"
 
O ministro da Defesa Nacional afirmou hoje que apresentou queixa judicial contra a eurodeputada Ana Gomes por considerar que atingiu a "honorabilidade" e o "bom nome" em declarações sobre os Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
 
"Pode-se dizer que a decisão é boa ou má. Pode-se e deve-se emitir opinião sobre um assunto tão relevante para o erário público. Mas o limite é o bom nome e a honorabilidade de cada um", afirmou Aguiar-Branco, numa "nota pessoal" em conferência de imprensa, no Ministério da Defesa Nacional.
 
Em declarações na TVI24, a eurodeputada Ana Gomes criticou o processo de subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) e defendeu que "é preciso verificar" eventuais "negócios" entre o escritório de advogados do ministro e o grupo Martifer, que venceu o concurso público internacional para a subconcessão.
 
"O que é intolerável é que haja quem aproveite para situações desta natureza para ter agendas pessoais e fazer juízos de suspeição absolutamente infundados, genéricos e abstratos que fazem o jogo mediático, mas não é sério", afirmou José Pedro Aguiar-Branco, esclarecendo que o processo judicial foi instaurado "pessoalmente" contra a eurodeputada Ana Gomes.
 
Aguiar-Branco sublinhou que a subconcessão foi "transparente", adiantando que ainda hoje foi enviada para o Tribunal de Contas a documentação relativa ao processo.
 
"Houve oito candidatos a levantar caderno de encargos. Duas empresas apresentaram propostas, avaliadas por um júri presidido por um magistrado do Ministério Público", declarou.
 
"E foi o Conselho de Administração dos ENVC que, por unanimidade, deliberou a adjudicação da subconcessão", sublinhou, referindo que "não se tratou de um negócio direto".
 
Questionado sobre a possibilidade de ser criada uma comissão de inquérito para apurar responsabilidades políticas no processo, Aguiar-Branco reiterou que não tem "nenhum problema em que haja qualquer inquérito".
 
"Eu não tenho desconforto nenhum, nem o Governo tem desconforto nenhum na medida em que este processo é transparente, fiscalizado e escrutinado", disse, ressalvando que caberá ao parlamento decidir se "tem ou não motivos" para avançar para um inquérito parlamentar.
 
O grupo Martifer anunciou que vai assumir em janeiro a subconcessão dos terrenos, infraestruturas e equipamentos dos ENVC, pagando ao Estado uma renda anual de 415 mil euros, até 2031, conforme concurso público internacional que venceu.
 
A nova empresa West Sea deverá recrutar 400 dos atuais 609 trabalhadores, que estão a ser convidados a aderir a um plano de rescisões amigáveis que vai custar 30,1 milhões de euros, suportado com recursos públicos.
 
Esta foi a solução definida pelo Governo português para evitar a devolução de 181 milhões de euros de ajudas públicas não declaradas à Comissão Europeia, no âmbito de uma investigação lançada por Bruxelas.
 
Ao longo de 69 anos de atividade, os ENVC já construíram mais de 220 navios, mas apresentam hoje um passivo superior a 300 milhões de euros.
 
Lusa
 
*Título PG
 

Portugal – PÁTRIA: LUGAR DE DESVENTURA

 


Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião
 
Acabou a recessão!", exclamaram, cheios de alegria e tolejo, jornais, rádios e televisões. Ninguém explicou nada a ninguém, e o bulício de regozijo pegou-se. Nos corredores dos ministérios, nas farmácias, nos quartéis, no edifício majestoso onde funciona a Galp, no bloco operatório de Os Lusíadas, o murmúrio adquiriu formas de clamor: "Acabou a recessão!" E Paulo Portas, que gosta de dizer coisas, falou e disse, entre enlevado e libidinoso: "Vai começar um novo ciclo!", sorriu e caminhou, lépido, para o gabinete onde congemina.
 
Para quem acabou a recessão?, e quais os benefícios que traz ao milhão de desempregados; aos milhares de famílias que recorrem ao Banco Alimentar e à Cáritas para comer; aos reformados e pensionistas, esbulhados dos magríssimos proventos; aos 25 mil casais sem emprego; aos milhares de miúdos que vão para a escola com o estômago vazio; aos cem mil jovens portugueses que abandonaram a pátria porque a pátria é lugar de infortúnio; aos velhos que morrem sozinhos sem ninguém dar por isso, ou espantados de medo nos caixotes de vivos para aonde são enviados por quem os não quer - para quem e para quê?
 
A recessão acabou, e então? E acabou mesmo? Ou não será outra das "incongruências problemáticas" de um Governo mentiroso, servo dos mais poderosos e notoriamente incapaz de resolver os nossos problemas mais ínfimos? Ninguém esclarece nada a ninguém. E o directo concorrente ao poder, pela interposta pessoa do triste e melancólico António José Seguro, perde-se nas banalidades do costume, com o bordão já famoso de o PS ser "um partido responsável", afirmação que os factos procedentes da sua direcção desmentem e enxovalham.
 
Poderia ser uma ópera-bufa se o assunto fosse para rir. Mas não é. Trata-se da nossa própria existência como nação, e o desassossego chegou a tal ponto que muitos elementos do próprio PSD já chegam a exigir a substituição de Seguro! Que venha outra coisa porque "isto" não é coisa nenhuma. Dizem.
 
Aliás, as sondagens são inquietantes. É modestíssima a vantagem do PS sobre o PSD, e a agitação naquele partido, cuja tradição de conspiração interna é conhecida, avoluma-se cada dia que passa. O espectáculo mediático protagonizado pelo secretário-geral dos socialistas, chega a ser pungente pela tibieza do seu conjunto e pela inexistência de fibra. Toda a gente já percebeu que o homem não serve, que não sabe, e que simplifica sempre, por inépcia, as respostas que se lhe exigem.
 
Esta historieta do fim da recessão vem auxiliar, ainda mais, o jogo de indefinições com o qual o chefe do PSD gosta de se enredar para melhor servir os seus objectivos, que não são inocentes: marcados fortemente pela ideologia que defende e executa como paladino e crente. Porque, na verdade, Pedro Passos Coelho tem, ama e serve uma ideologia. Quanto a António José Seguro?
 
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo acordo ortográfico
 

Portugal: MILHARES GASTOS EM DRONES PELA PSP NO ÂMBITO DE CONTRATO SECRETO

 


A PSP adquiriu, em segredo, dois drones, ou seja veículos aéreos não tripulados, quando não existe ainda enquadramento legal para a sua utilização, avança a edição desta quarta-feira do jornal Público. A par destes aparelhos, foram também comprados um barco e duas motas de água, sendo que o equipamento adquirido perfaz um custo global de 300 mil euros.
 
O antigo director nacional da Polícia de Segurança Pública, que se demitiu, recorde-se, após a manifestação das forças policiais que invadiram as escadarias da Assembleia da República, autorizou, em Julho passado, a compra de dois drones no âmbito de um contrato classificado como secreto, adianta a edição de hoje do Público. Ora, a utilização destes meios aéreos não tripulados ainda não tem enquadramento legal no País.
 
Já em Novembro, foi autorizada a compra de três motas de água e de uma embarcação semi-rígida, quando a actuação de meios aquáticos é apanágio da Polícia Marítima e não da PSP.
 
A aquisição dos meios aéreos perfez um total de 200 mil euros, conta o Público, quantia à qual se somam, sensivelmente, outros 100 mil euros empregues na compra dos veículos aquáticos.
 
“É inadmissível que num momento em que Estado deve milhares de euros a mais de três mil polícias, quando a PSP não tem viaturas indispensáveis, ou material de protecção do pessoal, esteja a investir desta forma em equipamentos que não são imprescindíveis”, insurge-se o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, Paulo Rodrigues, em declarações ao mesmo jornal.
 
E prossegue o responsável, “comprar drones é como comprar um Ferrari e não ter onde dormir”. Ao mesmo tempo, assinala Paulo Rodrigues, “está-se a duplicar investimentos e a pisar as competências de outras polícias”, reportando-se em concreto à Polícia Marítima.
 
Por seu turno, a porta-voz da Comissão Nacional de Protecção de Dados, Clara Ferreira, salienta que só poderá ser feito uso dos drones “depois de haver legislação que o permita”.
 
Já o presidente da Tekever, empresa que vendeu os drones à PSP, garante ao Público que dispõe de uma “autorização do ministro da Defesa, publicada em Diário da República, para desenhar, produzir e comercializar” estes equipamentos, que, por sinal, “são classificados como armas”.
 
O Público indica ainda que tentou obter esclarecimentos por parte da PSP e do Ministério da Administração Interna, mas que até à hora do fecho da edição não tinha obtido qualquer resposta.
 
Notícias ao Minuto
 

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