quarta-feira, 25 de julho de 2012

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta

A cidade do gelo

Na Gronelândia antes da chegada dos missionários cristãos a pesca e a caça eram a base da sociedade. A colonização abriu as portas a um sistema económico alienígena e introduziu o assalariado. Quando em 1953 a Gronelândia foi convertida numa colonia dinamarquesa, a grande parte das exportações e da vida económica centraram-se na Dinamarca.

Em Novembro de 2008, 75,5% dos seus habitantes votaram num referendo pela via politica que abre o caminho á independência. Desde essa data o governo local assume o controlo das matérias-primas (ouro, diamantes, uranio, gás e petróleo) e o povo inuit busca formas de viabilidade económica e politica que permitam um desenvolvimento sustentável, inserido no espaço social europeu e actuante na economia global. Neste sentido o primeiro passo consiste na diversidade da economia (dominada pela industria pesqueira e pelas exportações para a Dinamarca). A exploração dos recursos minerais, a conservação do meio ambiente, o desenvolvimento da industria têxtil, o retomar do sector das peles (de extrema importância pela tradição da caça), criação de um sistema publico nacional de saúde (aproveitando a experiencia e as infraestruturas dinamarquesas) ampliação e adequação às realidades culturais e necessidades nacionais do sistema publico de educação, desenvolvimento do turismo, aumento das potencialidades exportadoras, uso do gelo e da água, são alguns dos eixos que ocupam a futura centralidade.

Neste cenário futuro os trabalhadores têm um papel fundamental na construção do novo estado. Foram eles que impulsionaram a possibilidade da independência e obrigaram á solução referendária, numa campanha dirigida pela Confederação Nacional de Sindicatos da Gronelândia (SIK) que mobilizou todos os trabalhadores da ilha. Desta forma o SIK conseguiu resolver um duplo problema: a independência do povo inuit e a defesa do meio ambiente, pois com a decisão referendária todos os projectos de sobre- exploração mineira ficaram suspensos até á constituição oficial do novo estado independente.

O SIK, conjuntamente com o Partido Progressista Inuit, os Comités de Libertação do Povo Inuit, o Partido Ecologista Esquerda Verde da Gronelândia e a Plataforma Gronelândia Independente formam a maioria do Gabinete de Transição que prepara o processo de independência. No âmbito sindical o SIK contou com a solidariedade activa dos sindicatos dinamarqueses, suecos e noruegueses, para além de outras organizações sindicais, forças de esquerda e partidos ecologistas da UE e da América Latina.

Ausência

No teu regaço dormia, como escombro, o meu cansaço. No teu ombro (divinal encosto), junto ao teu ouvido, o meu rosto sussurrava um gemido.

Palestina

A USAID está a construir estradas alternativas que se converterão na rede principal de transportes para os palestinianos. O primeiro-ministro Salam Fayyad apresentou as novas estradas, que iriam servir 80% da Cisjordânia, como parte do plano da Autoridade Palestiniana para estabelecer um estado palestiniano e promoveu-as como projectos de desenvolvimento da Palestina. Algumas vozes críticas, como Ingrid Jaradat Gassner, directora do Centro de Recursos para os Refugiados Palestinianos, em Belém, alertaram para o facto de o projecto criar a guetizaçäo dos Palestinianos da Cisjordânia, mas a Autoridade Palestiniana não lhes deu ouvidos e continuou a promover a obra.

O projecto das estradas constitui a ultima de uma série de iniciativas destinadas a desalojar os palestinianos do seu espaço geográfico e histórico, separando-os dos colonatos da Cisjordânia. As novas estradas, que a Autoridade Palestiniana tanto promove, não passam de uma forma segregada de transporte, ajustadas a um vasto projecto colonial de controlo absoluto das movimentações dos cidadãos palestinianos. As estradas passam nos pontos previamente definidos pela ocupação sionista e não por decisão palestiniano. É mais fácil a um Palestiniano de Ramallah visitar uma capital europeia do que ir a Hebron, a uns meros 50 km de distância, mas esse não é o objectivo da obra em curso.

Esta rede de estradas construídas pela USAID são um velho plano de George W. Bush, designado “Rota para a Paz no Próximo Oriente”. É uma rede de estradas alternativas, só para palestinianos (lembram-se do apartheid na África do Sul?), compostas por mais de 48 tuneis e 34 postos de controlo, para além de km de muros. Neste projecto está espelhado a visão dos USA sobre a Palestina: um território fragmentado, para o qual os USA generosamente contribuem para juntar os estilhaços. Israel e a sua segurança acima de tudo. E assim venderam a ideia de uma rede de estradas, “só para Palestinianos”, onde estes são controlados km sim km não pelas autoridades sionistas.

No fundo, a forma arrebatadora como o primeiro-ministro e a Autoridade Palestiniana, falam deste projecto e dos amigos norte-americanos e outros “amigos financiadores” transforma-os em meros sipaios das autoridades coloniais sionistas. A soberania palestiniana não pode ser limitada em nome da segurança das cidades israelitas. Fala-se como se não houvesse ocupação. Mas basta comparar as estradas israelitas, rectas, largas, com serviços aos automobilistas com as estradas alternativas do consórcio USAID / AP, estreitas, serpenteando através dos vales da Cisjordânia, junto às ladeiras das colinas, nada confortáveis para os automobilistas particulares e impraticáveis para o trafego comercial em veículos pesados, para além das interrupções constantes dos postos militares e das inúmeras autorizações de passagem.

Passam estes trajectos por locais históricos da resistência palestiniana, não para avivar a memória dos transeuntes, mas para a soterrar. Nem uma referência aos pontos por onde a estrada passa onde se desenrolaram levantamentos contra a ocupação ou revoltas contra o imperialismo britânico. Apenas a sinalização, o aviso de aproximação a postos de controlo e os cartazes da USAID anunciando: “Oferta do povo dos Estados Unidos da América”.

Ausência

De mim gostavas... Era assim que falavas.

Colômbia

Na Colômbia existem mais de 9 mil e 500 prisioneiros políticos e de guerra. Milhares de homens e mulheres aprisionados por pretenderem construir uma Colômbia de paz e justiça social. Representam cerca de 10% da população prisional. Invisibilizados pelo governo da oligarquia, que nega a sua existência e diz não existirem presos políticos na Colômbia.

O regime oligárquico colombiano caracteriza-se pela forma como utiliza a violência sistemática para manter os interesse oligárquicos vigentes e os estabelecimentos prisionais são uma das expressões da violência estatal. Representam um instrumento de repressão utilizado pela narco-oligarquia contra o povo trabalhador e contra todos aqueles que desejam uma Colômbia diferente. As superlotadas prisões colombianas são lugares monstruosos onde tentam anular e destruir o opositor político. Os serviços de saúde mínimos são negados, como forma de tortura, a incomunicabilidade é regra e a correspondência é revista e na maior parte dos casos não chega aos presos. Os livros são negados, assim como qualquer material que sirva para o prisioneiro escrever ou estudar. Em muitos casos aplica-se a tortura directa e a pressão sobre as famílias dos prisioneiros. Os presos políticos apesar das sevícias e de serem constantemente mudados de estabelecimento prisional criaram uma organização a que denominaram ´´Presos Políticos e de Guerra`` (PPG) para promover a organização dos prisioneiros políticos no interior das prisões e estabelecer pontos de contacto com o exterior dos estabelecimentos prisionais, para alem de assegurar uma rede de protecção aos familiares directos dos prisioneiros.

Contrasta enormemente a situação dos prisioneiros mal alimentados e sujeitos a um tratamento desumano nas celas do regime, com os prisioneiros do regime que estão nas mãos das Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia – Exército Popular. Estes não são sujeitos a torturas nem a um tratamento desumano durante o tempo que estão aprisionados. As FARC-EP sempre deram mostras suficientes e inequívocas do tratamento humano dado aos prisioneiros de guerra. É uma forma de expressar a sua vontade de paz, tal como as sucessivas libertações unilaterais de prisioneiros, encetadas pelas FARC-EP. Nos últimos anos foram libertados congressistas, conselheiros, políticos, deputados, governadores, ex-senadores, militares e polícias. Em Abril de 1998, durante o governo de Samper, as FARC-EP libertaram unilateralmente 70 militares e durante as conversações de Caguan, foram entregues ao governo de Andrés Pastrana 302 polícias e militares, sem qualquer gesto reciproco por parte do governo colombiano. São muito os exemplos como o do polícia Estiven Giraldo, ferido e capturado em combate, que foi devidamente tratado pelas FARC-EP, com todas as atenções médicas possíveis á guerrilha e posteriormente entregue às autoridades governamentais em Tambo Cauca, para internamento, em Janeiro deste ano.

Mas a oligarquia sempre responde com ódio e mentira ás propostas de paz apresentadas pelas forças populares. Recusou a proposta de instaurar uma Comissão de Verificação dos Direitos Humanos nas Prisões colombianas, entregue pela PPG e acusou os proponentes de serem um bando de terroristas, que pretende instaurar o caos no sistema prisional colombiano.

Ao povo colombiano só resta o caminho da luta diária, nas cidades e nos campos, nas escolas, nas fábricas e nas quintas e fazendas dos grandes senhores, por uma sociedade digna, definitivamente liberta da narco-oligarquia.

India

Na India as sementes são agora propriedade das empresas privadas, que as comercializam, o que tem afectado a diversidade de sementes, pois por questões relacionadas com os processos de comercialização e interesses comerciais, nem todas as diversidades de sementes são comercializadas e algumas atingem preços demasiado elevados. A cientista, filósofa e activista Vandana Shiva iniciou uma campanha mundial para informação dos cidadãos globais da actual precariedade provocada pelo comércio de sementes e as formas como isso afecta a segurança alimentar mundial.

Vandana Shiva e outros activistas indianos fundaram em 1987 a Navdanya, um centro para protecção da diversidade das sementes, assim como dos direitos dos camponeses a conservar, cultivar e intercambiar a livremente as sementes, dentro do contexto das novas ameaças inseridas no Tratado dos Direitos de Propriedade Intelectual Referente ao Comercio (TRIPS), criado pela Organização Mundial do Comercio (OMC) e que abria as portas á comercialização de Organismos Modificados Geneticamente, ás patentes de sementes e consequentes direitos de propriedade. Aceites estes acordos, sob a égide da OMC, as corporações encontraram um problema: a existência dos conservadores de sementes, ou seja de camponeses que conservavam e armazenavam, nas suas comunidades, as sementes. Reclamaram os seus direitos de propriedade e a solução adoptada ilegalizou a conservação e o armazenamento das sementes por parte dos camponeses. Ou seja os camponeses indianos foram transformados em fora-da-lei. Desta forma as sementes deixaram de ser um bem comum e passaram a ser uma matéria-prima das empresas privadas.

Nos últimos 20 anos assiste-se a uma rápida erosão na diversidade das sementes e as grandes companhias controlam todas as sementes. Foi incrementado o cultivo de Organismos Modificados Geneticamente, como a soja, o milho e o algodão. As comunidades rurais indianas e os pequenos agricultores ficaram dependentes das grandes companhias e só podem usar as sementes comercializadas. Na India perderam-se as sementes de algodão devido á contaminação causada pelo algodão transgénico. Por outro lado os camponeses e os pequenos agricultores endividam-se o que os leva ao suicídio, pois ficam privados das suas terras e do sustento das suas famílias. Nas zonas rurais indianas o número de suicídios por dívidas contraídas na obtenção de sementes subiu vertiginosamente e registaram-se este ano cerca de 12 mil suicídios. Os estados da União Indiana são pressionados pelas corporações (principalmente pela Monsanto) a assinarem acordos e memoranduns de entendimento, devido aos direitos de propriedade intelectual das corporações.

A campanha chama também a atenção para o facto do governo dos USA apoiarem as multinacionais biotecnológicas e á expansão dos seus mercados exercendo pressão para a utilização de organismos modificados geneticamente, em Africa e no Paquistão, através dos acordos de cooperação e desenvolvimento. Na sua campanha global Vandana Shiva e o centro Navdanya salientam que as sementes são o primeiro enlace da cadeia alimentar e as depositárias da evolução da vida no futuro. Protegê-las para as passar ás gerações futuras é um dever de todos. A multiplicação de sementes e o livre intercâmbio entre os camponeses é a base da biodiversidade e da segurança alimentar. Na India e no mundo.

Fontes
Abbad Yehya; USAID Palestine: Building roads cut people; http://english.al-akhbar.com/

A "PACIÊNCIA" TERÁ LIMITES?




Manuel António Pina – Jornal de Notícias, opinião

Em poucos dias, já são dois os bispos a sair da sacristia, onde era suposto deverem estar confinados a tratar em dedicação exclusiva de assuntos divinos, para apontar o dedo acusador a César, responsabilizando-o pela tragédia social que se abateu sobre o país, cuja verdadeira dimensão a Igreja, através da sua obra assistencial, conhece provavelmente melhor do que ninguém.

E se D. Januário Torgal Ferreira falou, referindo-se a alguns membros do actual Governo, de "tipos que lutam pelos seus interesses, têm o seu gangue, têm o seu clube e pressionam a comunicação social", o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, fala de políticos para quem "muitas vezes e quase sempre, vale apenas o [seu] bem-estar pessoal ou, quando muito, do seu grupo ou partido".

Tudo indica que o primeiro-ministro se terá precipitado quando agradeceu ao bom povo português a "paciência" com que vem suportando as medidas de austeridade impostas ao país pelo seu Governo, a pretexto de uma crise de que são responsáveis e principais beneficiários os "interesses", "gangues", "grupos" e "partidos" de que falam os bispos.

Talvez tenha sido justamente esse agradecimento que, por soar excessivamente a hipocrisia, terá feito saltar finalmente a tampa, já não digo do bom (e, a crer no primeiro-ministro, "piegas") povo português, mas do povo de Deus ou, pelo menos, dos seus representantes.

Governo não exige “de mais” ao país, diz Passos após vaia em Cantanhede



Maria Lopes – Público, com Lusa

Não é o Governo que está a “exigir de mais” ao país – é antes o tempo que “é muito exigente”. A justificação foi deixada pelo primeiro-ministro no discurso que fez na sessão solene do dia do município de Cantanhede, depois de ter sido vaiado à porta da câmara por cerca de uma centena de manifestantes.

“Sabemos que temos de passar por este processo, não estamos a acelerá-lo de uma forma artificial, não estamos a exigir de mais, mas o tempo é muito exigente”, afirmou Passos já no interior dos paços do concelho. Lembrando a promessa de “romper com o passado” feita quando tomou posse, Passos disse não poder governar como quem conduziu o país para o processo de ajuda externa. Citou José Régio para afirmar: “Por aí não podemos ir” e reforçou – “esse não pode voltar a ser o nosso caminho.”

Aproveitou para criticar “aqueles que, na opinião pública, no mesmo passo criticam e responsabilizam o Governo por “excesso de austeridade e de políticas voluntaristas”, alegando que “são os mesmos que dizem que, se calhar, não vamos conseguir e não está a dar resultado”. Lamentou que esteja “a ser difícil” para logo a seguir deixar um “vamos vencer, vamos passar estas dificuldades.”

À chegada da comitiva de Passos, a fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Cantanhede tocava mas não conseguia abafar os assobios e gritos de “mentiroso!” dos manifestantes.

Passos Coelho chegara com 15 minutos de atraso, rodeado de algum aparato de segurança, para a sessão oficial do dia do município e para a inauguração da Expofacic. No largo fronteiro à câmara já o dispositivo da GNR fora reforçado com 30 militares do quartel de infantaria da GNR de Coimbra. Os manifestantes empunhavam bandeiras negras e cartazes com frases contra o Governo, e representavam diversos sindicatos ligados à União de Sindicatos de Coimbra (afecta à CGTP-IN) e o Sindicato dos Professores da Região Centro.

Desta vez Passos não se dirigiu aos manifestantes – embora tenha parado, breves minutos, de frente para eles a ouvir a fanfarra –, mas foi cumprimentado por alguns populares e falou com duas crianças do rancho folclórico da cidade. “Obrigado, é com prazer que venho cá. Hoje é também um dia de festa”, respondeu a uma delas.

Portugal: PASSOS COELHO VAIADO POR MANIFESTANTES EM CANTANHEDE




Manifestação recebeu primeiro-ministro junto à Câmara de Cantanhede


Cerca de uma centena de manifestantes concentrou-se junto à Câmara Municipal de Cantanhede e recebeu o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, com assobios e palavras de ordem contra as políticas do governo.

Os manifestantes, que têm bandeiras negras e cartazes com frases contra o Governo e o primeiro-ministro, representam, entre outros, diversos sindicatos ligados à União de Sindicatos de Coimbra (afeta à CGTP-IN) e o Sindicato dos Professores da Região Centro.

António Moreira, coordenador da União de Sindicatos de Coimbra, disse à agência Lusa que, "quando houver governantes em visita ao distrito de Coimbra, contarão sempre com a presença da CGTP".

Segundo o dirigente sindical, "essa presença existirá até o Governo cair ou existir uma mudança de políticas".

Pedro Passos Coelho era esperado às 15.00 horas na Câmara de Cantanhede (chegou cerca de 10 minutos depois) para a sessão solene de inauguração da Expofacic, que visitará ao final da tarde.

No programa da sua deslocação a Cantanhede está prevista, também, uma visita ao Biocant, parque de biotecnologia.

Leia também

*Título PG

Timor-Leste: Chefe de Estado reúne-se com partidos do próximo Governo



PSP (JCS) - Lusa

Díli, 25 jul (Lusa) -- O Presidente da República timorense, Taur Matan Ruak, reuniu-se hoje com os líderes dos três partidos do que vão formar o V Governo Constitucional, informou a Presidência de Timor-Leste.

"O Presidente convocou os partidos que concordaram formar a coligação governamental para o esclarecer sobre a situação. Eu informei o presidente sobre a reunião em que decidimos estabelecer uma coligação com o Partido Democrático e a Frente Mudança para a formação do próximo governo", disse Xanana Gusmão, atual primeiro-ministro e líder do CNRT, citado na página na Internet da Presidência timorense.

O Partido Democrático (PD), de Fernando Lassama, e a Frente mudança, aceitaram no dia 16 de julho a coligação com o CNRT para formar Governo em Timor-Leste na sequência das eleições legislativas de 7 de julho, ganhas pela formação de Xanana Gusmão.

Nas legislativas, o Conselho Nacional da Reconstrução de Timor-Leste, de Xanana Gusmão, conseguiu 36,68 por cento dos votos, garantindo 30 lugares no Parlamento, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) 29,89 por cento dos votos e 25 lugares, o Partido Democrático (PD) 10,30 por cento e oito lugares e a Frente Reconstrução Nacional de Timor-Leste (Frente Mudança) 3,11 por cento dos votos e dois lugares.

Depois de o partido de Xanana Gusmão ter convidado os dois partidos que elegeram menos deputados para formar Governo, rejeitando uma coligação com a Fretilin, o segundo partido mais votado pelos timorenses, registaram-se distúrbios no país que provocaram um morto.

Bissau: Novo representante da UA discute saída da crise com Presidente de transição



MB - Lusa

Bissau, 25 jul (Lusa) - O novo representante da União Africana (UA) na Guiné-Bissau, o são-tomense Ovídio Pequeno, reuniu-se hoje com o Presidente de transição guineense, Serifo Nhamadjo, para concertarem posições sobre o processo de estabilização do país.

Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-embaixador de São Tomé e Príncipe em vários países, Ovídio Pequeno disse aos jornalistas ter abordado com Serifo Nhamadjo "os aspetos concretos" sobre as quais a União Africana poderá ajudar a Guiné-Bissau "a criar um clima de paz e de estabilidade".

Ovídio Pequeno recusou-se a dizer aos jornalistas o que ouviu do Presidente de transição, mas realçou que está em Bissau para cumprir com o mandato da União Africana em relação ao processo político do país.

"Venho com o mandato da União Africana que se resume à harmonização da posição da comunidade internacional quanto àquilo que se passa na Guiné-Bissau, de forma a que todos falemos a mesma linguagem, particularmente a CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], a CEDEAO [Comunidade Económica de Estados da África Ocidental], a União Africana, União Europeia e as Nações Unidas", disse o responsável africano.

Ovídio Pequeno sublinhou também a necessidade de aproximar os guineenses, nomeadamente a sociedade civil, os atores políticos, a diáspora e a comunidade religiosa.

O combate a impunidade e o combate ao narcotráfico são outras das tarefas do novo representante da UA na Guiné-Bissau.

Ovídio Pequeno afirmou também ser sua intenção reunir as representantes da CPLP e CEDEAO para debaterem, na mesma mesa, os problemas da Guiné-Bissau.

"Deveríamos ter tido uma reunião com a CPLP e CEDEAO no mês de junho mas tal não foi possível por questões de agenda da CPLP. A reunião deveria ter lugar em Abidjan, mas estou em crer que muito brevemente vou contactar o meu colega da CEDEAO para vermos em que medida vamos retomar esse diálogo", declarou Pequeno.

"Tem que ser um diálogo inclusivo para que, de facto, saiamos desta situação em que nos encontramos", observou ainda o representante da UA. Pequeno frisou também que a Guiné-Bissau continua suspensa da organização.

"A suspensão da Guiné-Bissau mantém-se. Temos que encontrar os mecanismos que permitam depois que a Guiné-Bissau possa regressar à União Africana", disse.

A Guiné-Bissau foi suspensa da UA na sequência de golpe de Estado perpetrado por militares no dia 12 de abril passado, do qual foram destituídos o Presidente interino e o primeiro-ministro, estando agora no poder um Presidente e um Governo de transição, reconhecidos pela CEDEAO mas não pela maior parte da comunidade internacional.

Cabo Verde: Ministro da Defesa garante que arquipélago nunca será um narcoestado



JSD - Lusa

Cidade da Praia, 25 jul (Lusa) - O processo de desenvolvimento de Cabo Verde jamais será posto em causa pela criminalidade organizada transfronteiriça e o arquipélago nunca será um narcoestado, garantiu hoje o ministro da Defesa cabo-verdiano, Jorge Tolentino.

"Essa é uma razão para mantermos de pé todo um sistema de defesa e segurança. Em momento algum poderá pôr em causa o processo de desenvolvimento de Cabo Verde", afirmou Jorge Tolentino, no final de uma reunião com o comandante norte-americano do Africom, Carter Ham.

"Diferentemente do que acontece noutras paragens, Cabo Verde jamais poderá ser um narcoestado ou um Estado que possa sucumbir às pressões ou à atuação da criminalidade transnacional. Os meios são poucos, os recursos são escassos, mas a vontade política é constante e inabalável", acrescentou.

Jorge Tolentino salientou que a vontade política "tem de chegar", razão pela qual as autoridades cabo-verdianas estão em contacto "permanente" com parceiros como os Estados Unidos, Brasil, Espanha e Portugal, entre outros.

Sobre o encontro com Carter Ham, comandante para as Atividades Civis e Militares do Comando Africano dos Estados Unidos (Africom), Jorge Tolentino disse ter manifestado "todo o interesse" de Cabo Verde em reforçar a cooperação no combate ao tráfico de droga e outros ilícitos na África Ocidental e, em particular, no arquipélago.

"São questões que têm a ver com a paz e estabilidade na África Ocidental e no corredor atlântico. Temos preocupações convergentes e há muito que trabalhamos em parceria com os Estados Unidos e outros países. Fizemos um balanço e convergimos no aprofundamento de um aspeto essencial, o da segurança marítima", indicou.

Segundo o ministro cabo-verdiano, Cabo Verde está disposto a "continuar a luta sem tréguas" contra todos os tipos de tráfico, para que os resultados concretos continuem a surgir, disse, aludindo à cerca de tonelada e meia de cocaína apreendida pelas autoridades policiais cabo-verdianas em outubro de 2011.

Rejeitando a ideia de que nada mais foi feito desde então, Jorge Tolentino defendeu que tal poderá ser, "eventualmente, um bom sinal", lembrando que qualquer operação dessa natureza leva "imenso tempo" a montar.

"Envolvem atividades de coordenação de diferentes agências, é um trabalho de toupeira ao longo de vários meses e teremos em breve resultados concretos na luta contra o narcotráfico e outro tipo de tráficos", disse, sublinhando que o Governo está a negociar com o Brasil e com a China a aquisição de meios navais e aéreos.

"Nunca teremos condições para adquirir todos os meios que necessitamos, em aviões e navios. O que é fundamental é continuar na lógica da segurança cooperativa com outros estados e podermos manter no arquipélago uma força regular ao longo de todo o ano para fiscalizar as águas cabo-verdianas", acrescentou.

Jorge Tolentino sublinhou a importância de, além das operações pontuais de fiscalização marítima, ter proposto aos parceiros um calendário que permita, ao longo de todo o ano, haver pelo menos um meio - um avião ou um navio - a patrulhar as águas cabo-verdianas.

Banco Alimentar apoia criação de instituição similar cabo-verdiana



JSD - Lusa

Cidade da Praia, 25 jul (Lusa) - O Banco Alimentar contra a Fome de Portugal está a apoiar a criação de uma instituição similar em Cabo Verde, disse hoje à agência Lusa a presidente da associação portuguesa.

Isabel Jonet, que se encontra na Cidade da Praia para lançar o projeto, fruto de uma parceria com a Fundação Donana, liderada por Ana Hopffer Almada, e ligada à proteção de crianças em Cabo Verde, indicou que a ideia é criar um novo modelo que possa ser replicado noutros países africanos.

"Venho dar apoio, ensinar como se monta algo que até é mais ambicioso do que um Banco Alimentar. Vamos tentar lançar aqui um modelo que se possa depois replicar noutros países de África, em que se ponham em comum e em rede as várias instituições, associações e ONG de solidariedade social cabo-verdianas", explicou.

"As várias instituições cabo-verdianas têm objetivos de solidariedade social mas muitas vezes trabalham em paralelo, não potenciando recursos que já de si são escassos", acrescentou Isabel Jonet, realçando o trabalho já feito até aqui pelas instituições cabo-verdianas.

Segundo a presidente do Banco Alimentar contra a Fome de Portugal, a ideia é criar "muito mais do que um banco alimentar", que é uma "pequena parte" do que a instituição portuguesa está a fazer em parceria com a Fundação Donana.

"Trata-se do Banco de Equipamentos, para distribuir computadores, mobiliário, roupa e que permitirá também apoiar na criação de competências junto das instituições para garantir maior eficácia", sustentou.

Ana Hopffer Almada, por seu lado, salientando a importância de, nesta fase, se recolherem subsídios para a criação do projeto, realçou que, em Cabo Verde, não há fome, mas adiantou que os bens serão destinados às famílias mais carenciadas e às populações mais vulneráveis, sobretudo aos idosos.

A presidente da Fundação Donana, instituição sem fins lucrativos e que promove a solidariedade social através de ações de natureza cultural, educativa e filantrópica, indicou que, se tudo correr normalmente, Cabo Verde terá o primeiro Banco Alimentar contra a Fome até ao final deste ano.

Isabel Jonet disse que o projeto vai ter uma vertente integrada no âmbito da plataforma informática "Bolsa do Voluntariado", em que as associações lançam projetos que podem ser apoiados por voluntários e participados pelas instituições que aderirem.

"Temos a ambição, a este nível, de trazer para Cabo Verde um grupo de voluntários dentistas que possam ajudar a dar hábitos de higiene de saúde oral, mas também alimentar uma rede de dentistas voluntários que queiram vir à Cidade da Praia ajudar a desenvolver o projeto «Mundo a Sorrir»", disse.

Isabel Jonet, que está desde terça-feira na Cidade da Praia, proferiu uma palestra nesse mesmo dia sobre "O Papel do Banco Alimentar na Luta contra a Fome" e participa hoje num seminário subordinado ao tema "Estrutura e Funcionamento de Um Banco Alimentar", regressando quinta-feira à noite a Lisboa.

TER RAZÃO SEM TER FORÇA NÃO ADIANTA




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O arcebispo do Huambo, D. José de Queirós Alves, apelou à população da comuna de Chilata, município do Longonjo, para transformar o período eleitoral num ambiente de liberdade e de alegria.

O prelado, que fez o apelo durante a celebração de uma missa, referiu que o povo angolano tem muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade onde cada um vai escolher quem entender.

“Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.

D. José de Queirós Alves pediu aos crentes e à população em geral para pacificarem os espíritos, amor ao próximo e o perdão para a construção de famílias e sociedades fortes e firmes.

D. José de Queirós Alves, agora merecedor de ver as suas palavras transcritas no órgão oficial do regime, tem dito muitas outras coisas que, contudo, passaram e passarão ao lado dos donos do país e dos seus sipaios.

”Em Angola, a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, D. José de Queirós Alves, em conversa com o Procurador-Geral da República de Angola, João Maria Moreira de Sousa.

D. José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça.

O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”.

Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão, que numa entrevista ao jornal “O Diabo”, em 21 de Março de 2006 (seis anos depois tudo continua na mesma), D. José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.

Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.

D. Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: QUE SE LIXEM OS PORTUGUESES!

Angola: Associação cívica pede "debate público" sistemático sobre corrupção



NME - Lusa

Luanda, 25 jul (Lusa) - A Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD) defendeu hoje em Luanda que a luta contra a corrupção e a falta de transparência em Angola "só terá frutos se for feito de forma sistemática, profunda, conjunta e através do debate público".

Estes princípios foram defendidos por Lúcia da Silveira, gestora do programa de Direitos Humanos da AJPD, durante o discurso de abertura da II Conferência sobre "Transparência, Corrupção, Boa Governação em Angola".

Segundo Lúcia da Silveira, ao longo dos 12 anos de existência, a AJPD tem procurado contribuir para a promoção da justiça, respeito pelos direitos humanos e boa governação, "com espírito de verdade, solidariedade e amor à pátria".

A ativista cívica referiu ainda que a associação tem consciência que os resultados na luta contra a corrupção "não serão alcançáveis num toque de mágica", mas "é preciso começar a trabalhar agora de forma séria e desapaixonada".

"E o debate público é um dos instrumentos que a democracia nos oferece para atingir este fim", frisou.

A conferência, que termina quinta-feira, está a ser desenvolvida com base na apresentação de vários temas, o primeiro deles denominado "Corrupção, herança do passado (colonial) ou estratégia de sobrevivência".

Este tema foi apresentado por João Lukombo, elemento que integrou na década de 1990 uma equipa criada pelo Presidente José Eduardo dos Santos para efetuar um inquérito sobre a corrupção.

João Lukombo recordou que uma das recomendações desse inquérito era a criação de uma alta autoridade contra a corrupção, que nunca chegou a ser criada.

"Essa resolução foi tomada no estudo que nós realizámos, do qual fiz parte, mas é curioso constatar que uma posição (alta autoridade) tão alta, que em princípio daria a quem a ocupasse alguma consideração, as pessoas não a querem ocupar ", ironizou João Lukombo em declarações à imprensa.

Por sua vez, o docente universitário Raul Tati, apresentando o tema "O impacto da corrupção na estruturação da sociedade angolana e os desafios da reconciliação e reconstrução nacional", disse que em Angola "há uma grande cortina de ferro entre as palavras e as ações".

"Isto significa que estamos diante de uma distorção da verdade: todos, inclusive o mais alto mandatário da Nação angolana, admitem a existência da corrupção, mas não há corruptos", realçou.

O embaixador norte-americano em Angola, Cristopher MacMullen, que assistiu à conferência, saudou a iniciativa da AJPD, salientando que a embaixada tem trabalhado com organizações da sociedade civil para promover a transparência e a boa governação, bem como seminários e conferências para jornalistas.

O programa previa para a sessão de abertura um discurso da Provedora de Justiça Adjunta, Maria da Conceição Sango, mas esta não esteve presente no evento.

Espanha: A CATALUNHA ASSOCIA-SE AO NAUFRÁGIO




Presseurop - El País, El Mundo, El Periódico de Catalunya, La Vanguardia – imagem AFP

O pedido de auxílio financeiro feito ao Estado pelo governo catalão agrava a crise da dívida de todo o país. E demonstra igualmente os excessos orçamentais das regiões autónomas, considera a imprensa de Madrid e Barcelona.

"A Catalunha pede auxílio", anuncia o diário El País, no dia seguinte ao anúncio feito por Artur Mas de que a Catalunha, região a que preside, vai pedir auxílio financeiro ao governo central. A Catalunha é uma das regiões mais ricas de Espanha, mas também a mais endividada – na ordem dos 42 mil milhões de euros, dos quais 5700 milhões a vencer em 2012. É a terceira região autónoma, depois de Valência e Múrcia, obrigada a procurar assistência do Fundo de Liquidez Regional (FLA), cuja dotação é de 18 mil milhões de euros.

É uma "crise das regiões", lemos no título do editorial do diário madrileno. A notícia surge em plena tempestade financeira em Espanha e na Zona Euro. O prémio de risco, ou seja, a diferença entre as taxas alemãs e espanholas, atingiu níveis recorde, de 6,5%, tal como a taxa de juros das obrigações do Estado a 10 anos (7,6%). Isto mostra que:

as comunidades autónomas entraram numa fase aguda de crise financeira, cuja primeira consequência, e a mais grave, será nova deterioração da confiança dos investidores na solvência da dívida espanhola.

A responsabilidade recai sobre as regiões, considera o diário, mas também sobre o Governo de Mariano Rajoy:

EL PAÍS – “Durante muitos anos, as regiões não conseguiram sistematicamente executar os seus programas económicofinanceiros, aumentando as suas dívidas, com a complacência dos sucessivos governos, que, por motivos políticos ou simples negligência, se esqueceram de fazer cumprir rigorosamente os compromissos em matéria de défice. […] O que transmite uma péssima sensação à opinião pública e aos investidores, cuja confiança se tenta recuperar, é o relacionamento caótico do governo central com os governos autónomos. [...] O Executivo não soube responder à pergunta sobre a situação real das contas regionais; e essa falta de resposta está a levar-nos, entre outras coisas, a uma situação sem saída.”

"A Catalunha admite o colapso", lê-se no diário El Mundo. O diário de Madrid critica os dirigentes autonómicos e considera que é necessário "podar o supérfluo":

EL MUNDO – “Ninguém entenderia que os esforços impostos por esses auxílios financeiros continuem a recair sobre a população, quando os dirigentes das regiões mantêm intactas as suas estruturas de poder. Ainda não se viu estas regiões reagirem à sua dramática situação. Está o Executivo mais comprometido com as exigências de Bruxelas do que muitos dirigentes regionais [...] Sabida a resistência das regiões autónomas a desmantelar as suas estruturas supérfluas [televisão regional, "embaixadas" e outras instituições copiadas do governo central], o Governo deve aplicar-se em reduzi-las. [...] Se Rajoy não conseguir controlar as comunidades autónomas que agora estão falidas, vai ter de carregar com esse erro para sempre.”

Por seu lado, os jornais catalães sublinham que o auxílio surge no momento em que o parlamento regional debate o "pacto fiscal", que visa renegociar com Madrid a participação da Catalunha no sistema fiscal nacional. O objetivo é reduzir a sua contribuição para o fundo de financiamento das outras regiões e manter mais recursos económicos na região, seguindo o modelo do País Basco, uma exceção ao sistema tributário espanhol.

Mas a Catalunha não é "nem rica nem completa", como traz El Periódico em título, referindo-se a esse pedido de renegociação do pacto fiscal. Devia, pois, "esquecer o pacto fiscal", considera o diretor do jornal, Enrique Hernandez:

EL PERIÓDICO - “Tal como o náufrago não reivindica contrapartidas a quem lhe atira um colete salva-vidas, submeter-se aos ditames do Tesouro e exigir a chave do cofre não parece uma boa estratégia. A saída mais digna para a Catalunha seria manter viva a exigência do pacto fiscal, mas pôr de lado a negociação com o Estado até que as circunstâncias mudem e tenha possibilidade de prosperar.”

Já o barcelonês La Vanguardia considera que “a Generalitat [governo regional] deu um passo da maior importância: receber ajuda do Estado a troco de menos autonomia”; e ironiza, estabelecendo um paralelo com a reação de Mariano Rajoy face ao auxílio aos bancos espanhóis, cedido pela União Europeia:

LA VANGUARDIA – “O Executivo catalão jura e volta a jurar que não há nem auxílio nem intervenção, tudo se resume a uma linha de crédito; e as condições referem-se apenas ao dinheiro emprestado, como acontece sempre que uma entidade empresta dinheiro a outra. Foi o que disse Rajoy aquando do auxílio aos bancos, e depois soube-se as condições. O êxito dessa teoria é sobejamente conhecido.”

SAÍDA DA GRÉCIA PODE ACARRETAR ALTOS RISCOS PARA A ZONA DO EURO




Até há pouco tempo, era tabu a ideia de que um país falido fosse excluído da zona do euro. Hoje, esse "último caso" se revela cada vez mais provável. Porém, os riscos para o grupo da moeda comum podem ser intoleráveis.

Planos de emergência foram articulados a portas fechadas, cenários hipotéticos ensaiados, e cochichou-se muito, mas até agora ninguém queria falar em voz alta. Após as eleições antecipadas na Grécia, em junho, pensava-se ter afastado a possibilidade de o país ser forçado a se retirar a zona do euro.

No entanto, essa eventualidade não está excluída. Pelo contrário: a paciência dos credores está por um fio, e este ameaça se romper. Pois os gregos simplesmente não fazem nenhum avanço na privatização e na reforma do gigantesco aparato estatal.

À medida que uma retirada da Grécia se torna mais provável, os políticos passam a se manifestar mais abertamente a respeito. Mas quase nunca se referem às consequências econômicas de tal passo.

Não existe uma regulamentação jurídica para a saída de um país da União Econômica e Monetária Europeia. Seus fundadores pretendiam criar um clube monetário que competisse como região econômica líder, ao lado da Ásia e da América do Norte. No Tratado der Lisboa, não havia lugar para parágrafos dedicados ao tratamento de mancos e aleijados.

Um segundo de nada...

Porém juristas são criativos. Eles sugerem que Atenas possa sair por um segundo fictício da União Europeia e retirar-se da Eurozona, para então reingressar imediatamente na UE. A partir desse segundo, tudo estaria zerado, ficando todos os credores a ver navios.

Segundo estimativas, a Alemanha se depararia com um rombo de 80 bilhões de euros em dívidas gregas. A quantia inclui tanto a participação alemã nos pacotes de resgate financeiro quanto as perdas decorrentes dos assim chamados "saldos Target" do eurossistema – formado Banco Central Europeu (BCE) e os bancos centrais nacionais da zona do euro.

O Target 2 é um sistema de pagamento de transferências bancárias do Banco Central Europeu, segundo o qual o capital flui entre os bancos centrais participantes, o que cria compromissos e prerrogativas em relação ao BCE.

Os compromissos financeiros da Grécia dentro do Target 2 são atualmente calculados em 100 bilhões de euros, os quais o Banco Central Alemão (Bundesbank) e o BCE perderiam. Também ficariam totalmente desvalorizados os títulos da dívida pública grega comprados pelo BCE, no montante de 55 bilhões de euros.

Somas "razoáveis"

Porém, no geral, o prejuízo não é tão grande assim, afirmam alguns observadores do setor. "O total das dívidas gregas, tanto estatais como privadas, se limitam a entre 4% e 5% do Produto Interno Bruto da zona do euro", declarou à DW Christian Schulz, do Berenberg Bank.

Isso significaria que, no pior dos casos, as dívidas da eurozona se elevariam dos atuais 88% até pouco mais de 90%. "Isso não teria um efeito tão grande assim sobre os custos de refinanciamento dos europeus", tranquiliza Schulz.

Friedrich Heinemann, do Centro Europeu de Pesquisa Econômica (ZEW, na sigla em alemão) compartilha literalmente essa opinião. E acrescenta que também para a Alemanha os riscos de contingência são toleráveis, no caso de uma saída da Grécia da União Monetária.

"Tratam-se de somas que, de forma alguma, abalarão os alemães", assegura, porém ressalvando: "Seria muito mais grave se fosse dada a partida a uma reação em cadeia". Ou seja: enquanto os custos diretos do abandono do euro pela Grécia são calculáveis, é mais difícil estimar o perigo do contágio de outros países do euro, fato que gera insegurança e medo.

Questão de apresentação

A estratégia de divulgação parece ser um fator decisivo na saída dos gregos da eurozona. "Depende se é possível comunicar a retirada da Grécia como um fato isolado" ou se ela será interpretada como o início da dissolução da zona do euro, explica Heinemann. Essa última alternativa constitui um jogo mental perigoso, já que especulações financeiras contra outros países do grupo poderiam fazer oscilar o sistema.

"Não é improvável que se tenha que proteger os espanhóis e possivelmente os italianos de um pânico dos mercados, reservando para esses países pacotes de resgate consideravelmente mais vultosos do que os concedidos à Grécia", observa Schulz, do Berenberg Bank.

"Isso poderia significar que o resgate da Grécia teve fim, mas que, em compensação, o da Espanha está apenas começando de verdade." E ele envolveria um volume de verbas bem superior ao até agora planejado.

Portanto, os riscos de contingência do débito grego não são o verdadeiro problema: o que faz os governos da UE prender o fôlego são os possíveis efeitos sobre os outros países mais frágeis.

Gregos: os maiores perdedores

Quem está menos preparado para uma saída da União Monetária são os próprios gregos. A rigor, eles não querem abandonar o clube do euro, e sim apenas mais tempo para as reformas e a possibilidade de renegociar algumas exigências.

Pois as consequências para o país seriam incomparavelmente mais devastadoras do que para a eurozona. "Ocorrerá um colapso econômico dramático, sobretudo quando os euros deixarem o país, a economia ficar paralisada e for introduzida uma moeda substituta, sem qualquer credibilidade, levando a uma inflação brutal", prediz Schulz.

Quase tudo o que o país ganharia com a desvalorização monetária seria devorado pela inflação violenta. "Para a Grécia, essa trajetória poderia levar para cada vez mais longe do núcleo europeu, em vez de trazer o país de volta a ele", adverte o perito do Berenberg Bank.

Outros analistas são mais otimistas e veem na retirada uma oportunidade para os gregos. "É certo que ficará difícil importar produtos do exterior, mas, em compensação, os produtos gregos poderiam retornar aos supermercados, no lugar de iogurte alemão e de tomates holandeses. Dessa forma, a demanda interna poderia se fortalecer", antecipa o expert financeiro de autor Dirk Müller, em entrevista à DW. "Creio que dentro de um a dois anos a Grécia terá boas perspectivas para o desenvolvimento econômico", concluiu.

Friedrich Heinemann do ZEW também é da opinião que os gregos terão tempos turbulentos pela frente, mas que após seis a 12 meses a situação se acalmará.

Eurozona versão 2.0?

Para vários analistas, a retirada da Grécia da eurozona é mera questão de tempo, e eles não veem qualquer perigo de um colapso do bloco monetário. "Os custos seriam tão elevados que a Alemanha jamais permitiria [o colapso], e antes reforçaria seus esforços de ajuda", afirma Heinemann.

O problema é que, no caso de países como a Espanha, as exigências – não só do Estado, mas também de empresas particulares, bancos ou seguradoras – são extremamente elevadas: "É um cenário tão terrível que não se permitirá que aconteça".

Por sua vez, Dirk Müller acredita na manutenção da União Monetária, contudo não na forma corrente. "Cada Estado precisa da moeda condizente com seu potencial de desempenho. E na Europa temos capacidades extremamente distintas."

Assim, uma perspectiva futura mais realista seria um modelo de uma "eurozona nuclear", ou seja, a coalizão dos países da UE de força econômica uniforme e passíveis de facilmente adaptar os seus sistemas.

Em agosto, Atenas deverá voltar a receber auxílio econômico, a fim de devolver ao BCE um crédito estatal no valor de 3,6 bilhões de euros. Depois disso, não se sabe quanto dinheiro fluirá – ou se sequer fluirá – para o país. A troica da Comissão Europeia, BCE e Fundo Monetário Internacional voltou a se reunir esta semana em Atenas e seu relatório é esperado no terceiro trimestre. Mas desde já está claro: os gregos não vão receber as melhores notas.

Autoria: Rayna Breuer (av) - Revisão: Roselaine Wandscheer

UMA GUERRA PARA LIQUIDAR A SÍRIA




Robert Fisk alerta: no xadrez do Oriente Médio, talvez haja potências interessadas em levar alguns países árabes ao colapso

Entrevista a Tony Jones, do Znet - Tradução: Hugo Albuquerque – em Outras Palavras

Tudo cheira mal, na cobertura dos jornais brasileiros sobre o conflito interno sírio. Denunciam-se, de um lado, crimes reais: as tiranias do governo e os massacres cometidos pelo exército. Fala-se no avanço ora de “rebeldes”, ora de “oposicionistas”. Sabe-se, por fatos e imagens, que estão militarizados. Aparecem sempre armados de metralhadoras. Promovem atentados e assassinatos seletivos.

Mas quem são? É como se não importasse, bastando sabermos que enfrentam um regime próximo ao do Irã e, portanto, contrário aos Estados Unidos. Combatem, portanto, um “mal”, sugere a mídia; logo, são “bons”… E estão mergulhados, segundo o mesmo raciocínio, no universo estranho e atrasado de uma religião declarada inimiga. Portanto, serão sempre bons, ainda que matem e pratiquem outros atos condenáveis…

Corrrespondente do Oriente Médio há três décadas (do “Independent” de Londres e do alternativo “ZNet”, de Boston, entre outras publicações), o jornalista veterano Robert Fisk acostumou-se a desconfiar deste raciocínio binário. Ele cobriu, no início dos anos 1990, a guerra civil argelina. As duas partes conflagradas — governo tecnocrático e oposição fundamentalista islâmica — cometiam atrocidades equivalentes. Porém, algumas eram omitidas e, portanto, perdoadas: as de um governo que havia anulado eleições democráticas, mas… defendia os interesses das potências e empresas ocidentais.

Na Síria, Fisk evita fazer previsões. Destaca fatos incômodos. Lembra que, embora interessados no fim da ditadura chefiada por Bashar Assad, os EUA evitam apoiar explicitamente a oposição. Sabem que é um aglomerado caótico, integrado inclusive, tudo indica, pela Al-Qaeda.

Fisk acredita que o regime despótico cairá. Mas teme: não surgirá em seu lugar um governo libertário, ao contrário do que gostariam muitos dos que torcem pelo fim da ditadura. Nas atuais condições, o país está arriscado a mergulhar numa sequência de conflitos entre etnias e seitas, podendo entrar em colapso como nação.

Haverá, no Oriente Médio, poderes interessados em que este tipo de desfecho se torne comum? É uma dúvida legítima, que vale expressar e que pode guiar a leitura dos próximos acontecimentos. Talvez a entrevista que Robert Fisk concedeu a Znet, no início de julho, ajude a precisá-la. O diálogo vem a seguir (A.M.)

Depois do massacre em Houla, você afirmou que estamos diante de um ponto de inflexão no horror da Síria. Qual é a sua conclusão sobre o que aconteceu?

Robert Fisk: Eu acho a palavra “ponto de inflexão” de forma um pouco cínica, porque jornalistas e acadêmicos gostam de usá-la. Eu não estou certo — devido à quantidade e ao alcance dos tentáculos que o Partido Baath, do presidente Bashar Al Assad, têm em solo sírio — que vejamos seu regime cair tão rápido quanto Obama, Hillary Clinton e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, desejariam. Penso que esse processo ainda vai continuar por um bom tempo. Há uma grande quantidade de apoiadores do regime do Partido Baath, não apenas entre os membros da comunidade xiita alauíta, os cristãos ou os druzos, mas também, e particularmente, entre a burguesia síria e as classes médias. Creio que será uma guerra terrível e muito sangrenta. Subitamente Hillary Clinton disse que o confronto é terrível e Obama falou em algo horrendo. Isso sugere que não estamos caminhando para o fim da guerra, infelizmente.

Você escreveu que há precedentes históricos sombrios, no Oriente Médio, de regimes repressivos que tentam manter-se às custas da morte de centenas de milhares de pessoas. É isso que pode acontecer na Síria?

Robert Fist: Sim. Como você sabe, cobri a guerra da Argélia de 1991 a 1998, quando foram realizadas eleições livres por lá. Os fundamentalistas islâmicos iriam, claramente, vencer o segundo turno das eleições. Elas foram, então, interrompidas pelo “governo”, com o apoio do Ocidente. E começou uma guerra civil terrível, com vilarejos destruídos, crianças e mulheres tendo suas gargantas cortadas, homens fuzilados, tropas do “governo” sitiando cidades, numa intensidade muito maior do que está acontecendo na Síria hoje. E tudo isso com o Ocidente plenamente satisfeito com o fato de o “governo” ter impedido os islamistas de tomar o poder. Hoje, nem mesmo pensamos mais sobre aquilo.

É um precedente muito terrível e creio que Bashar al Assad vai levá-lo em consideração, porque seu pai, Hafez, destruiu mais de 20 mil vidas, quando liquidou Hama em 1982. E depois daquela batalha, quando os argelinos ainda tentavam descobrir como vencer sua própria guerra contra seus fundamentalistas, enviaram uma delegação militar a Damasco, com intuito de descobrir como os sirios o fizeram. Aplicaram as lições que aprenderam contra seus próprios inimigos, na Argélia. Enfim, há toda uma série de causas-consequências e precedentes por conta dos quais creio que a guerra na Síria não vai terminar agora; que al Assad não vai cair tão logo.

No precedente argelino, ambos os lados, militares e fundamentalistas, massacraram um número monstruoso de civis, de maneiras terríveis. Você teme que o mesmo tipo de coisa ocorra na Síria, onde nós sabemos muito pouco sobre as milícias e forças rebeldes que estão emergindo?

Robert Fisk: Bem, é o que já está acontecendo na Síria. Estive num subúrbio de Argel chamado Bentalha, onde houve um ataque de fundamentalistas contra moradores que eram, eles mesmos, muçulmanos. Centenas de pessoas foram mortas, inclusive bebês que tiveram suas gargantas cortadas. Vi os corpos desses bebês e de seus pais. E do telhado de suas casas, eu conseguia enxergar tremulando a bandeira argelina, em barracas do exército próximas. É o tipo da situação que estamos assistindo na Síria, em lugares como Houla, Hama e suponho, com pesar, também em Aleppo.

O que sabemos sobre o “Exército Livre da Síria”, cujo comandante, o coronel Riad al Assad, está tentando retomar os ataques?

Robert Fisk: Eu não levaria a sério qualquer coisa que ele diz. porque todas as vezes fui à fronteira e tentei ver seu exército, ouvi três ou quatro versões diferentes a respeito. O fato de relevo é que a oposição síria, a oposição armada a Bashar al Assad, é tão dividida que não pode ser considerada uma única única facção. O precisamos compreender — e aqui está uma das razões pelas quais Obama e Hillary, além de todos os outros fanfarrões e mentirosos, estão dizendo o que dizem — é que não sabemos quem é essa oposição.

E como não sabemos, o único que podemos — e por “nós”, leia-se o Ocidente — é expressar ultraje contra Bashar al Assad e seu regime. Não podemos dar apoio a essa oposição, porque ela pode incluir até mesmo membros da Al Qaeda em suas fileiras e ter envolvimento no massacre de Houla. Não sabemos ainda. Não estou dizendo, com isso, que Assad seja um mocinho. Ele não é.

Mas os Estados sunitas do Golfo Pérsico têm armado os rebeldes anti-governo e presumivelmente vão continuar a fazê-lo.

Robert Fisk: Claro que sim!

O que seria necessário para eles realmente derrubarem o regime?

Robert Fisk: Seria preciso que, nas forças blindadas sírias — ou seja, as divisões de tanques e as unidades anti-aéreas — houvesse um número suficiente de oficiais dispostos a enfrentar o regime. Mas isso ainda não aconteceu, nem creio que veremos em um futuro próximo. A hierarquia militar síria tem permanecido leal à Presidência. E enquanto isso perdurar em uma cidade estratégica como Damasco, e em outra mais ou menos estratégica como Aleppo, Assad não cairá, por mais que Obama, Hillary Clinton ou David Cameron queiram o contrário.

Há alguma possibilidade de aplicação, na Síria, de uma doutrina como a da “responsabilidade de proteger”, usada na Líbia?

Robert Fisk: Bem, estou certo que muitos líbios pediriam: “Por favor, Deus, não use isso contra nós ou contra neles”. Como você deve saber, a “responsabilidade para proteção” é um clichê midiático que matou um número assustador de pessoas inocentes. Acho que o número de pessoas assassinadas na Síria, particularmente pelo regime, já é suficiente. A ajuda da OTAN pode ser dispensada.

O que precisaríamos ver é uma nova Síria emergindo daquilo tudo que compõem seu povo — isto é, sunitas, xiitas, alauítas hoje no comando, cristãos, druzos e assim por diante. Mas, infelizmente, é mais fácil dizê-lo na TV australiana do que fazê-lo.

Você vê alguma possibilidade de isso acontecer? Porque muitas das pessoas-chave da Primavera Árabe sentem-se traídas. Suas revoluções pacíficas foram traídas pelo armamento das forças de oposição, e quando você os vê sendo mortos pelo regime, dá vontade de lhes encher de armas.

Robert Fisk: Bem, eu vivo no Líbano e em Beirute, de onde falo agora, este argumento é muito repetido. Meu entendimento — e fui à Síria dezenas e dezenas de vezes — é que lá há armas demais. As famílias, tribos e organizações têm um monte de armas. Se eles realmente precisassem ter o que você e eu chamamos de guerra civil, ela teria começado — e haverá quem nos diga que ela já começou.

Mas a única coisa que eu poderia dizer, pois muitos sírios vivem no Líbano, é que os poderes ocidentais decidiram lá atrás, há quase cem anos, que sírios e líbaneses eram povos diferentes. São o mesmo povo. Meus amigos daqui, a quem aconteceu de nascerem sírios, poderiam ser libaneses. Eles têm um país e querem ser leais a ele, mas não desejam viver sob uma ditadura. No final das contas, acho que haverá uma revolução na Síria. A questão é: será do tipo que você, eu e todos nós, pessoas legais do Ocidente, gostariam que fosse? Uma revolução de caráter, ideias e pensamentos libertários? Ou será uma revolução corrompida e, suponho, terrivelmente pintada com as cores do sectarismo e das diferenças religiosas?

Não posso deixar de notar tristeza em sua voz. Há sinais preocupantes de que a guerra na Sìria poderia se espalhar pela fronteira com o Líbano, onde você armou sua tenda. Eu quero dizer, você está realmente preocupado com isso, não?

Robert Fisk: Sim, estou preocupado com isso. Durante a guerra civil no Líbano, entre 1975 e 1995, na qual morreram entre 150 mil e 200 mil pessoas, no mínimo, muitos libaneses enviaram suas crianças para a Europa, Canadá, Austrália, América, para serem educados. Eles voltaram e não quiseram viver sob um estado marcado pelo sectarismo. E uma das razões pelas quais a “guerra civil” não se espalhou da Síria para o Líbano é porque os jovens do Líbano não querem viver numa sociedade sectária e dizem isso a seus pais isto. Sejamos justos, eles estão certos. Eu creio que esta é uma sociedade mais bem-formada e diplomática — digo isso no sentido mais interessante e não-ocidental da palavra. Ela ensina que você não nem deve dirigir seu país de acordo com as maiorias, seja a maior religião, a maioria xiita, muçulmana, alauíta, druza, o que quer seja. Creio que essa é a razão pela qual o Líbano ainda não se tornou parte da guerra síria. Mas a guerra síria, como todo conflito entre seitas é algo que pode ser projetado além-fronteiras. Temo que o governo de Damasco, infeliz e vergonhosamente, poderá fazer uso disso.

Mais lidas da semana