ANTÓNIO VERÍSSIMO
A castanha estalou na boca dos catedráticos da Universidade de Coimbra que se decidiram por conceder a Xanana Gusmão a distinção de Honoris Causa porque só agora o fazem. Se tivessem efetivado essa mesma distinção na visita anterior do PM timorense a Portugal, conforme fora sugerido através de tráfico de influências e respetivas pressões, nada de mais pareceria acontecer, nem a indignação teria lugar, como acontece neste momento em que ainda há cerca de dois meses ou talvez nem isso Xanana decidiu eliminar o ensino do português no ciclo básico das escolas timorenses.
O contra-censo da decisão é porque a “Causa de Honra” que fará de Gusmão Dr. HC é precisamente a afirmação da lusofonia. Ora sabemos que isso não é verdade. Neste momento e desde há cerca de dois meses é publico que não é verdade. Gusmão passou-se para o lóbi anglófono sem medir as graves consequências que isso acarretará para o país. Logo, podemos afirmar com toda a propriedade que a Universidade de Coimbra decidiu tarde o que nem sequer devia ter decidido. Não fora as pressões e o tráfico de influências e Xanana passaria por Portugal desta vez como em todas as outras, com o desprezo dos portugueses, como acontece com o ditador Eduardo dos Santos e com tantos. Gusmão deixou de ser para os portugueses uma figura querida e carismática. A escolha das opções foram suas, assim como é dele a responsabilidade das enormes injustiças que vigoram em Timor-Leste, o desemprego e a fome, a Justiça sob a sua arreata, a corrupção que vai negando mas que consome milhões do erário público e permite enriquecimentos ilícitos descaradamente exibidos perante timorenses desesperados e carentes dos mais básicos direitos que lhes são negados.
O facto de sabermos que Gusmão não merece o título que a Universidade de Coimbra decidiu conceder-lhe indigna e abre um precedente inadmissível. Mas pior que tudo isso é haver os que dentro da instituição discordaram inicialmente e depois aquiesceram perante as pressões que ao longo do tempo vieram sendo feitas. Exatamente por essa razão é que Xanana Gusmão não foi galardoado antes. O que se pergunta é se a Universidade de Coimbra considera curial e dentro dos parâmetros que anteriormente sempre seguiu, este processo de tráfico de influências, anómalo porque alguém tece uma teia para que à viva força o PM timorense seja distinguido? Pior ainda porque o sujeito nada tem em comum com a honra que sugerem. É sim digno de receber tal título numa universidade inglesa ou australiana, de preferência.
Uma coisa é certa, apesar da castanha já ter estalado na boca dos catedráticos conimbricenses e estar por ali a fermentar, nada nem ninguém vai ter a coragem de voltar atrás e dar a decisão por não decidida anulando justamente a honraria imerecida. É a credibilidade da Universidade e do seu corpo catedrático que lamentavelmente sofre pela leviandade. Passa a ser um pouco como aquelas entidades que ofereciam cartas de condução a quem nem sequer tinha visto um automóvel. As chamadas e populares cartas que “saíam na Farinha Amparo”. Vamos passar a olhar para o “Honoris Causa” da Universidade de Coimbra do mesmo modo. Triste.
Resta-nos encarar a situação e o espetáculo proporcionado pela Universidade de Coimbra como mais um Banana Show, à imagem e semelhança dos que o PM timorense patrocina, produz e representa com garbo em Timor-Leste. A falta de vergonha será contagiosa?