quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Inglaterra: Descobrir o poder da história do povo – e porque hoje ela é temida

 

John Pilger
 
A Inglaterra é dois países. Um é dominado por Londres, o outro permanece na sua sombra. Quando cheguei da Austrália pela primeira vez, parecia que ninguém ia ao Norte de Watford e aqueles que haviam emigrado do Norte esforçavam-se arduamente por mudar suas pronúncias, encobrir suas origens e aprender os maneirismos e códigos das satisfeitas classes sulistas. Alguns zombavam da vida que haviam deixado para trás. Estavam a mudar de classe, ou assim pensavam.

Quando o Daily Mirror enviou-me em reportagem ao Norte, na década de 1960, meus colegas em Londres divertiram-se com o meu desterro para os antípodas, o seu equivalente da Sibéria. Na verdade, foi o pior Inverno em 200 anos e eu nunca usara um cachecol ou possuira um casaco. Tente imaginar o que é aquilo como a mais sombria Leeds e Hull, advertiram.

Era um tempo em que, segundo se dizia, os trabalhadores na Inglaterra "falavam alto", até mesmo "tomavam o comando". Filmes realistas estavam a ser rodados e pronúncias que antes não eram bem vindas nos media e em secções do negócio do entretenimento agora aparentemente eram procuradas, embora muitas vezes como caricaturas.

Durante aquela primeira viagem ao Norte, quando parei para abastecer de gasolina, não consegui entender o que disse o homem; dentro de semanas, o que as pessoas diziam parecia-me perfeitamente claro. Eles eram uma outra nação com uma história diferente, diferentes lealdades, humor diferente, mesmo valores diferentes. No cerne disto estava a política de classe. Transpondo os Pennines
[1] , o Império vinha abaixo. As paixões imperiais do Sul mal se manifestavam. Em Merseyside e Tyneside, excepto entre os notáveis habituais, ninguém se importava com a realeza. Havia o um-por-todos-e-todos-por-um de uma sociedade da classe trabalhadora – a menos, como se tornou penosamente claro em anos posteriores – que acontecesse você ser negro ou mulato. Aquela solidariedade era, para mim, a notícia, como se fosse o capítulo em falta no património político da Inglaterra, uma história do povo dos tempos modernos, omitida por Thatcher e Blair e ainda temida pelas suas repercussões.

Eu já havia vislumbrado o poder desta solidariedade no lugar onde cresceram meus pais e conhecia-a enquanto rapaz: a região mineira do Hunter Valley, no Novo País de Gales
[2] . Aqui, todos os mineiros do carvão haviam sido despedidos de Yorkshire, Tyneside e Durham. "Observe-os, eles são comunistas", ouvi alguém dizer. Eles eram combatentes pela decência da classe trabalhadora: pagamento adequado, segurança e solidariedade. Os galeses eram iguais. Traziam consigo os sofrimentos físicos e mentais e a raiva daqueles que haviam industrializado o mundo e ganhavam pouco excepto a perdurável solidariedade de uns com os outros.

O Mirror publicou minhas reportagens de vidas de trabalhadores: mineiros a trabalharem em poços de menos de um metro, trabalhadores do aço no calor inimaginável. Eu encontrava uma rua, virtualmente qualquer rua, e batia às portas. O que me intrigava então era que tal calor humano e auto-domínio pudessem sobreviver no trabalho monótono das cidades nortistas. Além disso, a grande tradição radical de resistência no Norte – desde os trabalhadores do algodão do século XIX até a Grande Greve dos Mineiros de 1984-85 – sempre ameaçou o jogo que em Londres é conhecido como "o consenso".

Isto foi o arranjo feito às escondidas entre os governos Trabalhista e Conservador e os cinco por cento que possuíam metade da riqueza de todo o Reino Unidos. O deputado trabalhista que se tornou homem dos media, Brian Walden, descreveu como isto funcionou. "Os das poltronas da frente [no Parlamento] gostavam uns dos outros e não gostavam dos seus pares nas poltronas de trás", escreveu ele. "Nós éramos filhos do famoso consenso... ir da oposição para o governo fazia pouca diferença, pois acreditávamos nas mesmas coisas".

Meu segundo filme para a televisão, feito para a Granada TV em Manchester, chamou-se "Conversações com um trabalhador". Era a história de Jack Walker, trabalhador do tingimento de Keighley, no Yorkshire, cujo trabalho era monótono, sujo e maléfico para a sua saúde, mas ele daí retirava um orgulho em "fazer isto bem". Jack acreditava apaixonadamente que o povo trabalhador deveria permanecer unido. Que a um sindicalista eloquente era permitido exprimir seus pontos de vista sem a intromissão daqueles que muitas vezes afirmam falar por ele, e preocupar-se em alta voz acerca da democracia costurada em Westminster
[3] ia além dos limites. A expressão "classe trabalhadora", diziam-me, tinha "implicações políticas" e não seria aceitável para a Independent Television Authority. Teria de ser mudada para "património dos trabalhadores" ("working heritage"). A seguir havia o problema da palavra "o povo". Isto era uma "expressão marxista" e também tinha de ser afastada. E o que era este "consenso"? Certamente, a Grã-Bretanha tinha um vibrante sistema de dois partidos.

Ao ler recentemente que 600 mil residentes na Grande Manchester estavam a "experimentar os efeitos da pobreza extrema" e que 1,6 milhão estavam a cair na penúria, recordei-me de como o consenso político ficou imutável. Dirigido agora pela classe sulista dos proprietários de terra (squirearchy) de David Cameron, George Osborne e os seus colegas etonianos
[4] , a única mudança é a ascensão da classe administradora de corporações, exemplificada pelo apoio de Ed Miliband à "austeridade" – o novo jargão para a pobreza imposta.

Na Clara Street, em Newcastle-upon-Tyne, no escuro invernal da madrugada, andei colina abaixo com pessoas que trabalhavam mais de 60 horas por semana por uma ninharia. Eles descreveram seus "ganhos" como o Serviço de Saúde. Tinham visto apenas um político na rua, um liberal que veio, afixou cartazes e disse algo inaudível do seu Land Rover e apressou-se a ir embora. A cantilena de Westminster era então "pagar nossas despesas como nação" e "produtividade". Hoje, seus lugares de trabalho e sua protecção sindical, sempre ténue, foram-se. "O que está errado", disse-me um homem na Clara Street, "é do que os políticos não querem mais falar. Os governos não se importam de como vivemos, porque não somos parte do seu país".
 
NT
[1] Pennines: cadeia de montanhas na Inglaterra.
[2] New South Wales: distrito no Sudeste da Austrália.
[3] Westminster: bairro onde está o Parlamento e o palácio da rainha.
[4] Etonians: os que frequentaram o Eton College, da elite britânica.


O original encontra-se em New Statesman e em johnpilger.com/...

Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/ .
 

Brasil: UMA JUSTIÇA SEM VENDA, SEM BALANÇA E SÓ COM A ESPADA?

 

 
Tradicionalmente, a Justiça é representada por uma estátua que tem os olhos vendados para simbolizar a imparcialidade e a objetividade; a balança, a ponderação e a equidade; e a espada, a força e a coerção para impor o veredito.
 
Ao analisarmos o longo processo da Ação Penal 470, que julgou os envolvidos na dita compra de votos para os projetos do governo do PT, dentro de uma montada espetacularização mediática, notáveis juristas, de várias tendências, criticaram a falta de isenção e o caráter político do julgamento.
 
Não vamos entrar no mérito da Ação Penal 470, que acusou 40 pessoas. Admitamos que houve crimes, sujeitos às penas da lei. Mas, todo processo judicial deve respeitar as duas regras básicas do direito: a presunção da inocência e, em caso de dúvida, esta deve favorecer o réu.
 
Em outras palavras, ninguém pode ser condenado senão mediante provas materiais consistentes; não pode ser por indícios e ilações. Se persistir a dúvida, o réu é beneficiado para evitar condenações injustas. A Justiça como instituição, desde tempos imemoriais, foi estatuída exatamente para evitar que o justiciamento fosse feito pelas próprias mãos e inocentes fossem injustamente condenados; mas, sempre no respeito a estes dois princípios fundantes.
 
Parece não ter prevalecido, em alguns Ministros de nossa Corte Suprema, esta norma básica do Direito Universal. Não sou eu quem o diz; mas, notáveis juristas de várias procedências. Valho-me de dois de notório saber e pela alta respeitabilidade que granjearam entre seus pares. Deixo de citar as críticas do notável jurista Tarso Genro por ser do PT e Governador do Rio Grande do Sul.
 
O primeiro é Ives Gandra Martins, 88 anos, jurista, autor de dezenas de livros, Professor da Mackenzie, do Estado Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra. Politicamente, se situa no polo oposto ao PT, sem sacrificar em nada seu espírito de isenção. No dia 22 de setembro de 2012, na FSP, numa entrevista à Mônica Bérgamo, ele disse claramente, com referência à condenação de José Dirceu por formação de quadrilha: todo o processo lido por mim não contem nenhuma prova. A condenação se fez por indícios e deduções, com a utilização de uma categoria jurídica questionável, utilizada no tempo do nazismo, a "teoria do domínio do fato”. José Dirceu, pela função que exercia "deveria saber”. Dispensando as provas materiais e negando o princípio da presunção de inocência e do "in dubio pro reo”, foi enquadrado na tal teoria.
 
Claus Roxin, jurista alemão que se aprofundou nesta teoria, em entrevista à FSP, de 11/11/2012, alertou para o erro de o STF: tê-la aplicado sem amparo em provas. De forma displicente, a Ministra Rosa Weber disse em seu voto: "Não tenho prova cabal contra Dirceu – mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”. Qual literatura jurídica? A dos nazistas ou do notável jurista do nazismo Carl Schmitt? Pode uma juíza do Supremo Tribunal Federal se permitir tal leviandade ético-jurídica?
 
Gandra é contundente: "Se eu tiver a prova material do crime, não preciso da teoria do domínio do fato para condenar”. Essa prova foi desprezada. Os juízes ficaram nos indícios e nas deduções. Adverte para a "monumental insegurança jurídica” que pode, a partir de agora, vigorar. Se algum subalterno de um diretor cometer um crime qualquer e acusar o diretor, a este se aplica a "teoria do domínio do fato”, porque "deveria saber”. Basta esta acusação para condená-lo.
 
Outro notável é o jurista, Antônio Bandeira de Mello, 77, professor da PUC-SP, na mesma FSP do dia 22/11/2013, assevera: "Esse julgamento foi viciado do começo ao fim. As condenações foram políticas. Foram feitas porque a mídia determinou. Na verdade, o Supremo funcionou como a longa manus da mídia. Foi um ponto fora da curva”.
 
Escandalosa e autocrática, sem consultar seus pares, foi a determinação do Ministro Joaquim Barbosa. Em princípio, os condenados deveriam cumprir a pena o mais próximo possível de suas residências. "Se eu fosse do PT” –diz Bandeira de Mello– "ou da família, pediria que o presidente do Supremo fosse processado. Ele parece mais partidário do que um homem isento”. Escolheu o dia 15 de novembro, feriado nacional, para transportar para Brasília, de forma aparatosa num avião militar, os presos, acorrentados e proibidos de se comunicar. José Genuino, doente e desaconselhado de voar, podia correr risco de vida. Colocou todos em prisão fechada mesmo aqueles que estariam em prisão semiaberta. Ilegalmente, prendeu-os antes de concluir o processo com a análise dos "embargos infringentes”.
 
O animus condemnandi (a vontade de condenar) e de atingir letalmente o PT é inegável nas atitudes açodadas e irritadiças do Ministro Barbosa. E nós tivemos ainda que defendê-lo contra tantos preconceitos que, de muitas partes, ouvimos pelo fato de sua ascendência afrobrasileira. Contra isso, afirmo sempre: "somos todos africanos”, porque foi lá que irrompemos como espécie humana. Mas, não endossamos as arbitrariedades deste Ministro culto; mas, raivoso. Com o Ministro Barbosa, a Justiça ficou sem as vendas porque não foi imparcial; aboliu a balança porque ele não foi equilibrado. Só usou a espada para punir mesmo contra os princípios do direito. Não honra seu cargo e apequena a mais alta instância jurídica da Nação.
 
Ele, como diz São Paulo aos Romanos: "aprisionou a verdade na injustiça” (1,18). A frase completa do Apóstolo, considero-a dura demais para ser aplicada ao Ministro.
 
[Leonardo Boff foi professor de Ética na UERJ e escreveu Ética e Moral: em busca dos fundamentos, Vozes 2003].
 

OS MÉDICOS CUBANOS NA VISÃO DE UM INGLÊS QUE VIVE NO BRASIL

 


Correspondente da Agência Reuters no Brasil dá “um banho” em muitos repórteres brasileiros que cobrem a atuação dos médicos cubanos no país
 
Em Pragmatismo Político
 
O inglês Anthony Boadle é correspondente da Agência Reuters no Brasil desde o ano passado. E deu “um banho” em muitos dos repórteres brasileiros que cobrem a atuação dos médicos cubanos no país, dentro do programa Mais Médicos.
 
Boadle, simplesmente, ouve o que as pessoas têm a dizer, em lugar de procurar dirigir o que dizem.
 
Ouve as pessoas simples e consegue transmitir o que elas sentem. Não confunde ser imparcial com ser ranzinza ou advogado do diabo. Está ali para ver e descrever situações, não para arranjar defeitos ou fazer propaganda.
 
Ouve quem é contra, ouve quem se beneficia.
 
Fala, é claro, dos efeitos políticos que o programa traz para Dilma, mas isso é mostrado como uma consequência, não um objetivo sórdido.
 
Vale a pena ler. Quem quiser, tem aqui o texto em inglês.
 
É bom trabalho profissional, é bom conhecer a realidade.
 
Confira a íntegra da reportagem abaixo.
 
Médicos cubanos atendem aos pobres do Brasil e dão impulso a Dilma
 
Anthony Boadle
 
JIQUITAIA, Bahia, 2 Dez (Reuters) – Eles foram vaiados e chamados de escravos de um Estado comunista assim que desembarcaram no Brasil, mas nos cantos mais pobres do país a chegada de 5.400 médicos cubanos está sendo saudada como uma benção.
 
O programa para preencher lacunas no sistema nacional de saúde com médicos estrangeiros, principalmente de Cuba, pode se tornar um grande catalisador de votos para a presidente Dilma Rousseff agora que ela se prepara para disputar um segundo mandato na eleição do ano que vem, apesar da feroz oposição da classe médica nacional.
 
A decisão de usar o programa cubano de exportação de médicos, iniciado pelo ex-líder Fidel Castro, se tornou uma prioridade depois que protestos de massa contra a corrupção e a má qualidade dos serviços públicos de transporte, educação e saúde tomaram as ruas de várias cidades do país em junho.
 
Poucas semanas depois, Dilma lançou o “Mais Médicos”, programa de contratação de médicos brasileiros e estrangeiros para regiões remotas do país e periferias de áreas metropolitanas.
 
O governo federal assinou um contrato de três anos para trazer milhares de médicos cubanos para trabalhar nessas áreas onde os profissionais brasileiros preferem não atuar.
 
Com base em um acordo que renderá cerca de 225 milhões de dólares por ano a Cuba, onde o governo precisa de dinheiro, médicos cubanos estão sendo enviados a postos de saúde em comunidades de várias cidades brasileiras e em vilarejos do Nordeste castigados pelas secas, áreas que carecem de médicos residentes.
 
O Estado da Bahia está reabrindo centros de saúde em áreas rurais, fechados por falta de funcionários.
 
Moradores de Jiquitaia, um povoado do interior cercado por cactos, bodes e gado esfomeado, não precisam mais viajar 46 quilômetros em estrada de chão para consultar um médico.
 
“Foi uma benção de Deus”, disse o agricultor Deusdete Bispo Pereira, depois de ser examinado por dores no peito pela médica Dania Alvero, de Santa Clara, Cuba. “Mudou 100 por cento. Todo mundo está gostando. A gente tem medo que vão embora”, disse ele.
 
Idosos e mulheres grávidas lotavam o centro de saúde da família esperando ser examinados por Dania, que é especializada em medicina preventiva, como a maioria dos médicos cubanos.
 
“Há doenças aqui das quais eu só lia em livros, como a lepra (hanseníase), que já não existe mais em Cuba”, disse ela, mesclando palavras em espanhol e português.
 
MÉDICOS DE ALUGUEL
 
Há décadas, Cuba começou a enviar médicos ao exterior para ajudar países em desenvolvimento por motivos ideológicos, como disciplinados soldados revolucionários mandados por Fidel ao tabuleiro de xadrez da Guerra Fria, da Argélia e Etiópia a Angola e Nicarágua.
 
Com o país mergulhado em uma crise econômica depois do colapso da União Soviética, Fidel concebeu um esquema de médicos-por-petróleo com o falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, em 2000.
 
Mesmo com a maior parte da renda indo para o governo de Cuba, os médicos cubanos adoram ir para fora porque podem ganhar muito mais do que recebem em casa, onde o salário máximo de um médico equivale a 50 dólares por mês.
 
“Nós não ganhamos muito, mas não estamos aqui pelo dinheiro. Estamos aqui para ajudar nosso país, que é pobre”, disse Lisset Brown, que trabalha em um posto de saúde da localidade de Ceilândia, o maior bairro na periferia de Brasília.
 
A chegada de 12 médicos cubanos aliviou o trabalho do sobrecarregado hospital de Ceilândia e melhorou a credibilidade do sistema público de saúde, disse a enfermeira brasileira Tânia Ribeiro Mendonça. “A população vê com bons olhos que o governo está tentando uma melhoria na atenção médica.”
 
INSATISFAÇÃO DOS MÉDICOS
 
Inicialmente, os médicos brasileiros tentaram impedir a chegada dos colegas estrangeiros, vistos como uma tentativa de minar seus interesses profissionais e padrões médicos.
 
Quando um primeiro contingente de cubanos desembarcou no aeroporto de Fortaleza, em agosto, médicos brasileiros revoltados gritaram “Escravos!” para eles.
 
Mas eles tiveram de abaixar o tom de suas críticas porque as pesquisas de opinião mostram que a vasta maioria dos brasileiros é a favor da contratação de estrangeiros quando não houver médicos locais disponíveis, mesmo que permaneçam dúvidas sobre as qualificações dos cubanos.
 
“Nós não somos contra a vinda de médicos de fora para trabalhar aqui. Podem vir da Rússia, Inglaterra, Cuba ou Bolívia. O que nós defendemos é que médicos formados fora devem ser avaliados para trabalhar no Brasil. O governo não está fazendo isso”, disse o presidente da Associação Médica Brasileira, Florentino Cardoso.
 
Cirurgião oncológico, Cardoso se queixa de que Dilma “procurou demonizar” os médicos brasileiros ao associá-los com as muitas deficiências do sistema nacional de saúde. Levar mais médicos para áreas periféricas, disse ele, não vai acabar com as filas nos serviços médicos deficitários nas cidades.
 
ELEIÇÕES DE 2014
 
Com pouco mais de quatro meses de lançamento, o Mais Médicos está ganhando oportunos elogios políticos para Dilma, que pode apontar o programa como um exemplo de sua rápida resposta aos protestos populares de junho.
 
Mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas na época expressar sua ira contra serviços públicos inadequados que consomem dinheiro dos contribuintes e são criticados pelas longas filas e demorada espera por atendimento nas unidades de saúde no país.
 
“Este é um grande plus para a reeleição dela. As pesquisas mostram que há uma elevada taxa de aprovação ao programa”, disse o professor de Política David Fleischer, da Universidade de Brasília.
 
No Nordeste, médicos cubanos estão de fato ganhando os corações e votos para Dilma.
 
“Eles têm carisma e humildade e olham nos olhos da gente na consulta, o médico brasileiro não”, disse Angelo Ricardo, que levava o pai idoso a um centro de saúde na cidade baiana de Remanso. “A população carente no Brasil está precisando disto, preocupação na vida do paciente. Eu voto nela, sem dúvida.”
 
Fernando Brito, Tijolaço – Na foto: Médica cubana Dania Rosa Alvero Pez posa para uma foto na rua, perto do centro de saúde onde trabalha, na cidade de Jiquitaia, Bahia (Reuters / Ueslei Marcelino)
 

EDUARDO DOS SANTOS REGRESSOU A ANGOLA APÓS UM MÊS DE AUSÊNCIA

 


O presidente angolano, José Eduardo dos Santos, regressou, esta quarta-feira, a Luanda, depois de quase um mês ausente do país em visita privada a Barcelona, Espanha.
 
O Chefe de Estado angolano chegou à Base Aérea de Luanda às 17 (16 horas de Lisboa) e foi recebido à chegada pelo vice-presidente Manuel Vicente, bem como por membros do executivo angolano e dirigentes do gabinete da presidência.
 
José Eduardo dos Santos partiu no passado dia 9 de manhã para uma visita privada, cuja duração não foi então anunciada.
 
No passado dia 29 de novembro, a Casa Civil da Presidência distribuiu um comunicado em que classificava como "leviana e irresponsável" uma notícia da RTP sobre o internamento de José Eduardo dos Santos em Barcelona.
 
"O Governo da República de Angola lamenta a forma leviana e irresponsável como a RTP, empresa pública da Rádio e Televisão de Portugal está a divulgar mentiras sobre o estado de saúde do Presidente da República de Angola", lia-se no comunicado.
 
A Presidência angolana salientava ainda que José Eduardo dos Santos se encontra efetivamente em Espanha, mas que não esteve nem está internado em nenhum hospital.
 
"Está de boa saúde e regressa dentro de dias", finalizava o comunicado.
 
A notícia do internamento de José Eduardo dos Santos, numa clínica oncológica em Barcelona, Espanha, foi adiantada no Telejornal da RTP do dia 28, sem citar qualquer fonte.
 
José Eduardo dos Santos já este ano se deslocou a Barcelona, tendo regressado a Angola ao fim de mês e meio de ausência.
 
O presidente angolano, que completou 71 anos em agosto, está em funções desde 1979, só sendo ultrapassado em longevidade no cargo pelo seu homólogo da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang.
 
Jornal de Notícias – foto em cache Lusa
 

PORTUGUÊS MORTO EM LUANDA EM TENTATIVA DE ASSALTO

 


Era engenheiro civil e tinha 33 anos. Autores do crime estão ainda a monte.
 
Um cidadão português foi morto terça-feira à noite em Luanda durante uma tentativa de assalto. Segundo disse à Lusa o subcomissário da Polícia Nacional, Aristófanes dos Santos, o crime ocorreu à saída de um restaurante, perto do cemitério de Viana, nos arredores de Luanda.

Os assaltantes exigiram ao cidadão português a entrega dos valores que transportava consigo, mas como ele recusou e ofereceu resistência, os assaltantes desferiram golpes com uma arma branca.

O cidadão português ainda foi conduzido a uma clínica nas proximidades do local, a Clínica Dádiva, mas já não foi possível salvá-lo.

A vítima foi identificada como sendo Paulo Sérgio Marques Ferreira, solteiro de 33 anos, e era engenheiro civil. Trabalhava na empresa angolana OPP - Obras Públicas Particulares, com sede em Viana e onde laboram 1700 trabalhadores, 300 dos quais são cidadãos portugueses.
 
A família já foi informada da morte. Os autores do crime estão ainda a monte.
 
Rádio Renascença – foto em cache Lusa
 

CRÔNICAS DO CONSUMISMO, À ENTRADA DE DEZEMBRO

 


Publicidade ensina crianças a acariciar… o plástico. Jornais anunciam skates de mogno. E se “Admirável Mundo Novo” já não for ficção?
 
George Monbiot - Tradução: Inês Castilho, em Outras Palavras
 
A culpa cumpre um papel. É o que distingue o resto da população dos psicopatas. Trata-se do sentimento que você tem quando é capaz de sentir empatia. Mas a culpa inibe o consumo. Para sufocá-la, surgiu uma indústria global que usa celebridades, personagens de desenhos animados e música de elevador. Ela procura nos convencer a não ver e a não sentir. Parece funcionar.
 
Os resultados da pesquisa Greendex 2012 (“Consumers Choice and the Environment”, ou “As Opções dos Consumidores e o Meio Ambiente”) mostram que nos países mais pobres as pessoas sentem-se, em geral, mais culpadas com relação aos impactos causados na natureza do que as populações dos países ricos. Os países onde as pessoas sentem menos culpa são Alemanha, Estados Unidos, Austrália e Grã-Bretanha, nessa ordem – enquanto Índia, China, México e Brasil são os países onde as pessoas estão mais preocupadas. Nossa culpa, revela o estudo, acontece na proporção inversa ao tamanho dos danos causados pelo consumo. Isso é o contrário do que nos dizem milhares de editoriais da imprensa corporativa: que as pessoas não podem dar-se ao luxo de cuidar da natureza até que se tornem ricas. As evidências sugerem que deixamos de cuidar justamente quando nos tornamos ricos.
 
“Consumidores em países como México, Brasil, China e Índia”, diz o estudo, “tendem a ser mais preocupados com as questões das mudanças climáticas, poluição do ar e da água, desaparecimento de espécies e escassez de água doce … Por outro lado, a economia e os custos de energia e combustível suscitam a maior preocupação entre os consumidores norte-americanos, franceses e britânicos.” Quanto mais dinheiro se tem, mais importante ele se torna. Meu palpite é que nos países mais pobres a empatia não foi tão entorpecida por décadas de consumo irracional.
 
Assista ao mais recente anúncio da Toys R Us nos EUA. Um homem vestido como guarda florestal arrebanha crianças em um ônibus verde em que se lê “Encontre a Fundação Árvores”. “Hoje nós estamos levando as crianças à viagem de campo que mais poderiam desejar”, diz o guarda dirigindo-se a nós. “E eles nem sabem disso.”
 
No ônibus ele começa a ensiná-las, mal, sobre as folhas. As crianças bocejam e se mexem nos bancos. De repente, ele anuncia: “Mas nós não estamos indo à floresta hoje …” Ele tira a camisa de guarda florestal. “Estamos indo para a Toys R Us, pessoal!” As crianças ficam alucinadas. “Vamos brincar com todos os brinquedos, e vocês podem escolher o brinquedo que quiserem!” As crianças correm, em câmera lenta, pelos corredores da loja, e quase desmaiam enquanto acariciam os brinquedos.
 
A natureza é um tédio, já o plástico é emocionante. Crianças que vivem no centro da cidade e que levei a um bosque, semanas atrás, contariam uma história diferente; mas a mensagem, martelada com suficiente frequência, acaba por tornar-se verdadeira.
 
O Natal permite que a indústria global de besteiras recrute os valores com os quais muitos de nós gostaríamos que a data estivesse associada – o amor, a vivacidade, uma comunidade espiritual –, com o objetivo único de vender coisas de que ninguém necessita ou sequer deseja. Infelizmente, como todos os jornais, The Guardian participa dessa orgia. A revista de sábado trazia o que parecia ser uma lista de compras para os últimos dias do Império Romano. Há um relógio cuco inteligente para os que têm familiares suficientemente estúpidos, uma chaleira operada por controle remoto, um distribuidor de sabão líquido por 55 libras [R$ 210]; um skate de mogno (vergonhosamente, a origem da madeira não é mencionada nem pelo Guardian, nem pelo varejista), um “pino pappardelle de rolamento”, seja lá que diabo for isso, bugigangas de chocolate a 25 libras [R$ 96], uma caixa de… barbante de jardim (!) por 16 libras [R$ 61].
 
Estaremos tão entediados, tão carentes de afeto, que precisamos ganhar essas porcarias para acender uma última centelha de satisfação hedonista? Terão as pessoas se tornado tão imunes ao sentimento de irmandade a ponto de se prontificarem a gastar 46 libras [R$ 177] num pacote de petiscos para cães ou 6,50 libras [R$ 20] em incríveis biscoitos personalizados, em vez de dar o dinheiro a uma causa melhor? Ou isso é o potlatch do mundo ocidental, no qual gastam-se quantias ridículas em presentes ostensivamente inúteis, para melhorar nosso status social? Se assim for, devemos ter esquecido que aqueles que se deixam impressionar por dinheiro não merecem ser impressionados.
 
Para atender a essa forma peculiar de doença mental, devemos retalhar a Terra, abrir grandes buracos na superfície do planeta, ocupar-se fugazmente com os produtos da destruição e então despejar os materiais em outros buracos. Relatório da Fundação Gaia revela um crescimento explosivo no ritmo da mineração: a produção de cobalto aumentou 165% em 10 anos, a doo minério de ferro em 180% e, entre 2010 e 2011, houve um aumento de 50% na exploração de metais não-ferrosos.
 
Os produtos dessa destruição estão em tudo: eletroeletrônicos, plásticos, cerâmicas, tintas, corantes, a embalagem em que nossas besteiras vão chegar. À medida que os depósitos mais ricos se esgotam, cada vez mais terra deve ser rasgada para manter a produção. Mesmo os materiais mais preciosos e destrutivos são sucateados quando um novo nível de dopamina torna-se necessário: o governo do Reino Unido informa que uma tonelada de ouro, embutido em equipamentos eletrônicos, é depositada nos aterros a cada ano, neste país.
 
Em agosto, uma briga das mais instrutivas inflamou o Partido Conservador. O ministro do Meio Ambiente, Lord de Mauley, pediu às pessoas para consertar suas engenhocas em vez de atirá-las no lixo. Isso era necessário, argumentou, para reduzir a quantidade de aterros, seguindo as diretrizes da política europeia de resíduos. Para o The Telegraph, “as propostas poderiam alarmar as empresas que lutam para aumentar a demanda por seus produtos.” O parlamentar do Partido Conservador Douglas Carswell bradou: “desde quando precisamos do governo para nos dizer o que fazer com torradeiras quebradas?”…
 
Para ele, o programa de recuperação econômica do governo depende de consumo incessante: se as pessoas começarem a consertar as coisas, o esquema entra em colapso; skates de mogno e chaleiras wifi são respostas necessárias a um mercado saturado; o deus de ferro do crescimento, ao qual nos devemos curvar, demanda que gastemos o mundo dos vivos até o fim dos tempos.
 
“‘Mas roupas velhas são estupidez’, continuou o sussurro incansável. ‘Nós sempre jogamos fora as roupas velhas. Descartar é melhor que consertar, descartar é melhor que consertar.’” O Admirável Mundo Novo parece menos fantástico, a cada ano.
 

O neoliberalismo e o capital financeiro no estranho caminho chinês ao socialismo

 


O Partido Comunista Chinês está prestes a ver o capital financeiro converter-se em um dragão que nem a própria China é capaz de controlar.
 
Alejandro Nadal, do Sin Permiso – Carta Maior
 
O décimo oitavo congresso do Partido Comunista Chinês será lembrado sempre pela nova onda de reformas econômicas que aprovou. Essa nova série de reformas é comparável às introduzidas em 1979 sob autoridade do então primeiro-secretário Deng Xiaoping. Aquelas transformações abriram as portas do espaço econômico chinês ao investimento estrangeiro orientado para o mercado internacional. As reformas desta plenária tiveram objetivos distintos, porém.

As reformas de 1979 estabeleceram uma mescla de regulação através de planos quinquenais e do mercado que buscava chegar a algo que pudesse ser descrito como "socialismo de mercado". As reformas se concentraram em transformações nas empresas do Estado, mudanças na operação das finanças, dos impostos, na determinação dos preços e no comércio exterior. Para as empresas públicas foram introduzidas mudanças na matéria de retenção de utilidades, bônus de desempenho econômico e excedentes acima das taxas fixadas pelos planos quinquenais. A partir de 1984-86, a transferência de utilidades foi substituída por impostos sobre os ganhos e muitas empresas públicas puderam começar a vender seus excedentes (acima das cotas dos planos quinquenais) no mercado livre. Entre 1987-92 foi introduzido um novo sistema de contratos de responsabilidade, e em 1993 foi outorgado às empresas públicas maior autonomia. A cultura de desempenho econômico foi interiorizada nas hierarquias de todas as empresas públicas e o emprego de pressupostos internos foi generalizado.

Outro grupo de reformas permitiu o Investimento Estrangeiro Direto (IED) em múltiplos ramos da indústria. No entanto, o IED era orientado primordialmente para o mercado externo e apenas uma fração da produção foi dirigida ao mercado doméstico. As zonas econômicas se converteram em locais de intercâmbio de tecnologia por mão de obra barata. Neste gigantesco esquema de divisão internacional do trabalho, a China logrou ter adquirido uma enorme base exportadora em muito pouco tempo, enquanto as corporações ocidentais (em especial, americanas) dispuseram de uma enorme dotação de mão de obra barata, e assim puderam escapar das restrições que vinham experimentando em suas próprias economias. A desindustrialização em boa parte dos Estados Unidos e da Europa é consequência desse processo.

Hoje as transformações que surgem no horizonte são muito mais profundas. Trata-se de abrir o mercado doméstico ao investimento estrangeiro. Isso implica uma transformação radical na economia. China e União Europeia estão em negociações sobre um possível acordo bilateral de investimentos. As reformas também seriam uma resposta de Pequim ao acordo transpacífico promovido pelos Estados Unidos.

Em Pequim, todos sabem que essa primeira rodada de reformas está relacionada com mudanças de fácil implementação e para as quais não havia demasiada oposição. Mas as reformas dirigidas ao mercado doméstico serão mais difíceis de levar a cabo. As empresas públicas que operam na economia chinesa teriam que enfrentar a competência de empreas estrangeiras e suas subsidiárias. É aí que as coisas se complicam: haverá ajustes e ramos inteiros desaparecerão. Também é provável que o comitê de reformas do PCC promova privatizações de várias indústrias e até de obras de infraestrutura.

Outro grande setor que sofrerá impacto é o financeiro. O saneamento dos bancos é uma tarefa urgente para enfrentar a mudança estrutural que será feita. Ademais, a liberalização da conta de capital é indispensável se Pequim quer proteger a moeda chinesa, o renminbi, como moeda de reserva na escala global. Nos últimos anos, a capital do país multiplicou seus acordos de câmbio de divisas com numerosos países, sinal inequívoco de que a hierarquia está consciente da transformação que se está operando na economia global. Tudo isso requer uma reforma financeira mais profunda como parte da desregulação do sistema financeiro, que agora se anuncia com maior força. Mas o capital financeiro pode converter-se em um dragão que nem sequer a China consiga controlar.

Se a primeira onda de reformas ofereceu às companhias transnacionais mão de obra barata em oferta quase ilimitada, a segunda promete entregar um mercado gigantesco. Deng Xiaoping, um dos principais arquitetos das reformas econômicas na China, afirmou em uma ocasião que a pobreza não é o socialismo. A hierarquia do Partido Comunista deverá vigiar para que o capitalismo neoliberal não termine por devorar as remanescências do caminho chinês ao socialismo.
 
Créditos da foto: Publico.pt
 

Mais de 86% das famílias japonesas continuam em casas temporárias após sismo de 2011

 


Mais de 86% das famílias realojadas em casas temporárias, depois de terem perdido, em março de 2011, os seus bens na sequência do tsunami que atingiu o nordeste do Japão, ainda vivem no mesmo local, foi hoje revelado.

Além dos cerca de 18 mil mortos e desaparecidos, o sismo, seguido de tsunami, provocou o maior desastre nuclear depois de Chernobil (Ucrânia) ao danificar a central nuclear de Fukushima, que as autoridades japonesas querem desmantelar, num processo que se vai prolongar por mais de uma dezena de anos.

Mil dias depois do desastre natural, a maioria das casas temporárias continua ocupada, principalmente nas três províncias mais afetadas: Iwate, Miyagi e Fukushima.

Lusa
 

GOVERNO DE TIMOR-LESTE PAGA MÊS DE SALÁRIO EXTRA AO SETOR PÚBLICO

 


Díli, 04 dez (Lusa) - O governo de Timor-Leste decidiu, em Conselho de Ministros extraordinário realizado sábado, pagar um mês de salário extra ao setor público, refere em comunicado o executivo timorense.
 
"Este diploma aprova o pagamento extraordinário, com carácter único, de um mês de salário base aos funcionários e agentes, ainda que temporários mas contratados há pelo menos um ano, aos dirigentes da Função Pública, aos elencados no artigo 2.º deste Decreto-Lei e aos membros dos órgãos de soberania do Estado", pode ler-se no comunicado divulgado, na terça-feira, à imprensa.
 
Segundo o documento, a decisão foi "tomada de acordo com a política de preservação, valorização e reconhecimento dos recursos humanos ligados à Administração Pública que o Governo mantém".
 
Os funcionários públicos em Timor-Leste não recebem subsídios de férias, nem 13.º mês e têm 20 dias de férias.
 
Desde 2010, que o governo timorense aprova o pagamento de um mês de salário extraordinário em dezembro ao setor público.
 
MSE // DM - Lusa
 

PM australiano justifica buscas a escritório do advogado do Governo timorense

 

 
O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, justificou hoje as buscas ao escritório do advogado que representa Timor-Leste numa ação internacional por alegada espionagem durante as negociações sobre um acordo de gás entre ambos os países em 2006.

"Nós não interferimos nos casos, mas realizamos sempre ações que assegurem que a nossa segurança nacional está resguardada adequadamente", disse Abbott à imprensa ao explicar a operação realizada na terça-feira no escritório do advogado Bernanrd Collaery, em Camberra.

"Uma das coisas importantes que o Governo faz é proteger a segurança nacional", insistiu o primeiro-ministro australiano.

O advogado que representa Timor-Leste na arbitragem internacional relativa ao caso das acusações de espionagem contra a Austrália denunciou na terça-feira que elementos da secreta australiana revistaram o seu escritório alegando razões de segurança nacional.

Em declarações à imprensa australiana, o advogado Bernard Collaery disse que vários agentes realizaram uma busca na terça-feira à tarde ao seu escritório em Camberra e que levaram consigo vários ficheiros eletrónicos e documentos em papel.

Timor-Leste acusou formalmente a Austrália, em final de 2012 junto do Tribunal Internacional de Haia, de espionagem quando estava a ser negociado o Tratado sobre Certos Ajuste Marítimos no Mar de Timor, em 2004.

Na sequência da queixa apresentada pelos timorenses, foi criada uma arbitragem internacional, que vai reunir pela primeira vez esta semana.

Timor-Leste insiste que devido à espionagem os australianos tiveram acesso a informação confidencial sobre o petróleo e o gás no Mar de Timor, relevante para os negociadores timorenses, e que prejudicaram o país durante as negociações do Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor (CMATS), assinado em 2006.

Com a arbitragem internacional, Timor-Leste pretende ver o tratado anulado, podendo assim negociar a limitação das fronteiras marítimas e, assim, tirar todos os proveitos da exploração do Greater Sunrise.

Aquele campo de gás está situado a cerca de 100 quilómetros da costa sul marítima timorense e, segundo peritos internacionais, se forem delimitadas as fronteiras marítimas de acordo com a lei internacional o Greater Sunrise ficará situado na zona exclusiva económica de Timor-Leste.

O CMATS determina que os resultados da exploração do Greater Sunrise, que vale biliões de dólares, são repartidos igualmente entre os dois países e impede a definição das fronteiras marítimas entre Timor-Leste e a Austrália durante um período de 50 anos.

Lusa

Xanana apela a homólogo australiano para explicar rusga a escritório de advogado

 


O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, lamentou hoje as rusgas realizadas ao escritório do advogado que defende Timor-Leste nas acusações de espionagem contra a Austrália e apelou ao seu homólogo australiano para as explicar.
 
"Apelo ao primeiro-ministro da Austrália, Sua Excelência Tony Abbott, para explicar as ações do seu governo contra os nossos representantes legais e garantir a segurança da nossa testemunha para uma rápida, justa e imparcial resolução deste importante assunto", refere Xanana Gusmão em comunicado hoje divulgado à imprensa.
 
Xanana Gusmão encontra-se no Sudão do Sul, onde chegou na terça-feira para uma reunião da organização G7+.
 
No comunicado, Xanana Gusmão diz que "Timor-Leste lamenta profundamente a ação tomada pelo Governo australiano e dos seus serviços de inteligência com respeito à decorrente arbitragem internacional sobre espionagem que está prestes a começar em Haia".
 
"As ações tomadas pelo Governo australiano são contraproducentes e não cooperativas", afirma Xanana Gusmão, sublinhando que invadir as instalações de um representante legal de Timor-Leste e tomar medidas tão agressivas contra uma testemunha-chave é uma conduta "inconcebível e inaceitável".
 
"É um comportamento que não é digno de um amigo e vizinho próximo e de uma grande nação como a Austrália", diz.
 
No comunicado, o primeiro-ministro timorense afirma também que Timor-Leste "valoriza" a sua relação com a Austrália, que apoiou sempre o país nos momentos difíceis da sua história.
 
"Consideramos estas ações dececionantes e contrárias a uma relação de vizinhança de confiança, honesta e transparente", acrescenta.
 
O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, afirmou hoje que a Austrália não interfere no caso mas realiza sempre ações que assegurem que a segurança nacional do país está resguardada.
 
"Uma das coisas importantes que o Governo faz é proteger a segurança nacional", insistiu o primeiro-ministro australiano, citado na imprensa australiana.
 
O advogado que representa Timor-Leste na arbitragem internacional relativa ao caso das acusações de espionagem contra a Austrália denunciou, na terça-feira, que elementos da secreta australiana revistaram o seu escritório alegando razões de segurança nacional.
 
A secreta australiana deteve também um antigo espião australiano que era uma das testemunhas-chave do processo de Timor-Leste contra a Austrália.
 
Segundo a imprensa australiana, os serviços secretos terão confiscado o passaporte ao antigo espião, impedido a sua presença em Haia.
 
Timor-Leste acusou formalmente a Austrália, no final de 2012 junto do Tribunal Internacional de Haia, de espionagem quando estava a ser negociado o Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor, em 2004.
 
Na sequência da queixa apresentada pelos timorenses, foi criada uma arbitragem internacional, que vai reunir pela primeira vez na quinta-feira.
 
Timor-Leste insiste que devido à espionagem os australianos tiveram acesso a informação confidencial sobre o petróleo e o gás no Mar de Timor, relevante para os negociadores timorenses, e que prejudicaram o país durante as negociações do Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor (CMATS), assinado em 2006.
 
Com a arbitragem internacional, Timor-Leste pretende ver o tratado anulado, podendo assim negociar a limitação das fronteiras marítimas e, assim, tirar todos os proveitos da exploração do Greater Sunrise.
 
Aquele campo de gás está situado a cerca de 100 quilómetros da costa sul marítima timorense e, segundo peritos internacionais, se forem delimitadas as fronteiras marítimas de acordo com a lei internacional o Greater Sunrise ficará situado na zona exclusiva económica de Timor-Leste.
 
O CMATS determina que os resultados da exploração do Greater Sunrise, que vale biliões de dólares, são repartidos igualmente entre os dois países e impede a definição das fronteiras marítimas entre Timor-Leste e a Austrália durante um período de 50 anos.
 
RTP – Lusa
 

"Portugal, Cabo Verde e Timor-Leste são plataformas privilegiadas pela sua…

 

… competitividade fiscal"

André Cabrita Mendes – Dinheiro Vivo
 
Portugal, Cabo Verde e Timor-Leste são os países lusófonos com uma maior competitividade fiscal, mas o seu posicionamento geográfico também joga a seu favor na captação de investimento.
 
A ideia foi defendida durante a apresentação do relatório "Paying Taxes 2014" esta terça-feira em Lisboa - elaborado pelo Banco Mundial e pela PwC - por Jaime Esteves, sócio desta consultora.
 
"As três melhores posições da CPLP são ocupadas por Cabo Verde, Timor-Leste e Portugal e curiosamente são exatamente três das regiões com o posicionamento geo estratégico mais interessante em termos de funcionamento como plataforma quer de investimento, quer de serviços, quer de transação de bens" afirmou.
 
O fiscalista considera que o futuro alargamento do Canal do Panamá vai ter um papel importante na captação de investimento nestes três países. "Portugal pela sua confluência à entrada da Europa, pela forte ligação ao Atlântico Sul, mas também ao Pacífico com o futuro alargamento do Canal do Panamá", disse.
 
"Pelas mesmas razões, Timor Leste pela sua inclusão no Pacífico também na rota de circulação dos grandes navios, também com o futuro alargamento do canal e Cabo Verde exatamente pelo seu posicionamento junto do Golfo da Guiné e a sua cobertura da Costa Leste de África", acrescentou.
 
"Temos aqui três países que apresentam uma posição competitiva, favorável do ponto de vista fiscal, ainda que com necessidades de progressão, e com um posicionamento geo estratégico particularmente interessante", defende.
 

Imigração: DAVID CAMERON E OS “BÁRBAROS ÚTEIS” DA UE

 

Standart, Sófia – Presseurop – imagem Steve Bell
 
No próximo dia 1 de janeiro, o mercado de trabalho será aberto a búlgaros e romenos em toda a UE. Mas Londres, Paris e Berlim pretendem erguer novas barreiras em detrimento dos valores europeus, lamenta um colunista búlgaro.
 
 
“Caiu a penumbra da noite, mas os bárbaros não chegaram. Os emissários voltaram da fronteira: ‘Os bárbaros já não existem!’, disseram. Que faremos agora sem eles? Eram-nos tão úteis para resolvermos os nossos problemas…” Assim termina o poema À Espera dos Bárbaros do poeta grego do século XX Constantin Cavafy (1863-1933).
 
Nos últimos dias, os países ricos da Europa Ocidental redescobriram a milenar ameaça dos bárbaros, desta vez disfarçados sob a forma de parentes pobres do Leste do continente. Na semana passada, o primeiro-ministro britânico tirou da manga uma série de medidas que têm como objetivo limitar o acesso de nacionais romenos e búlgaros ao mercado de trabalho e às prestações sociais britânicas. A partir de 1 de janeiro de 2014, no entanto, vão desaparecer as últimas restrições nesta matéria.
 
Esta quarentena decretada por Londres provocou um tímido protesto de Bruxelas e uma reação um pouco mais enérgica do que o habitual à diplomacia búlgara. Nos dias seguintes, a Alemanha e a França juntaram-se ao Reino Unido decretando, por sua vez, restrições suplementares para os búlgaros e os romenos. A grande coligação de Angela Merkel, que junta direita e esquerda, comprometeu-se a pôr fim às “pretensões não justificadas de acesso aos apoios sociais”. O Governo socialista de François Hollande, em França, declarou igualmente ter tomado medidas nesse sentido.
 
Uma vez que os três países mais poderosos da UE decidiram simultaneamente levantar barreiras, alguma coisa se passa. Na primeira metade de 2012, a Alemanha diz ter acolhido 550 mil imigrantes, ou seja, um aumento de 11% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Dois terços desses imigrantes são cidadãos de países da UE, a maioria dos quais da Europa de Leste. Mas Berlim também assistiu a um aumento da imigração vinda do Sul da Europa: mais 39% de espanhóis, mais 41% de italianos e mais 26% de portugueses.
 
A xenofobia de vento em popa
 
É verdade que este movimento migratório não representa nenhum perigo para um país de 82 milhões de habitantes mas é revelador de uma tendência inquietante. Em primeiro lugar, a crise da dívida que afetou especialmente o Sul do continente provocou um fluxo de imigrantes vindos desses países que se juntaram aos outros europeus vindos do Leste. E, em segundo lugar, o espaço cada vez mais importante que os partidos nacionalistas, isolacionistas e antieuropeus ocupam na cena política do Norte e do Ocidente da Europa. No Reino Unido, o Partido para a Independência (UKIP), de Nigel Farage, tem cada vez mais peso nos debates e se não tem deputados é simplesmente por causa das especificidades do modo de escrutínio maioritário.
 
Segundo as sondagens, as opiniões dos britânicos sobre este assunto estão cada vez mais radicais e são muitos os eleitores que se reconhecem num partido ainda mais extremista, o Partido Nacional Britânico (BNP). Em França, é o partido dinástico de Jean-Marie Le Pen, a Frente Nacional (FN), que vai de vento em poupa obrigando, por vezes, alguns ministros, como aconteceu com Manuel Valls, a darem o tom a campanhas especialmente virulentas contra os ciganos. Na Alemanha, as veleidades extremistas continuam sob controlo graças a uma legislação particularmente rigorosa sobre esta matéria.
 
Em resumo, a Europa de 2013 é muito diferente daquela outra a que Sófia e Bucareste aderiram festivamente em 2007. Não se ouve uma palavra sobre a unidade por fim restaurada do Velho Continente nem sobre as virtudes civilizacionais da democracia e da economia de mercado. Não, pelo contrário, os imigrantes miseráveis (sobretudo os ciganos) provenientes da Bulgária e da Roménia tornaram-se uma presa fácil para os jornais sensacionalistas e para os tabloides. Um pouco como acontece, neste momento, com os refugiados sírios na Bulgária…
 

PARA PREFEITO DE LONDRES, DESIGUALDADE É PROBLEMA DE QI

 


O prefeito de Londres, o conservador Boris Johnson, acendeu o pavio ao dizer que as diferenças socioeconômicas se deviam ao quociente intelectual.
 
Marcelo Justo – Carta Maior
 
Londres - O prefeito de Londres, o conservador Boris Johnson, acendeu o pavio ao dizer que as diferenças socioeconômicas se deviam ao quociente intelectual. “Se falamos de desigualdade temos que considerar que 16% de nossa espécie tem um QI menor que 85, enquanto 2% estão acima de 130. A igualdade econômica não é possível. A inveja e a cobiça são indispensáveis para o crescimento”, disse Johnson.

O comentário colocou na defensiva a coalizão governamental conservadora-liberal democrata. Na segunda-feira, o primeiro ministro David Cameron e seu ministro de Finanças vieram a público dizer que o governo quer promover a “igualdade de oportunidades”. O vice-primeiro-ministro liberal democrata Nick Clegg acusou o prefeito de “elitismo repelente”. Uma colunista, Suzanne Mooe, o chamou de “Borisconi”, unindo o nome do prefeito ao de Silvio Berlusconi.

A condenação foi tal que, nesta terça-feira, o próprio Boris Johnson recuou dizendo que seus comentários foram distorcidos e que ele, na verdade, estava preocupado com a “enorme desigualdade” existente. Para além da retratação, o eixo de sua mensagem é similar ao que foi transmitido pela coalizão em seus três anos de governo: a pobreza ou a riqueza não dependem do privilégio social, mas sim do indivíduo.

O governo trabalhou com uma mensagem que responsabiliza as qualidades pessoais ou familiares do indivíduo por sua situação social. Em janeiro, o ministro do Trabalho, Ian Duncan Smith, ex-líder do Partido Conservador, disse que o principal indicador da pobreza infantil “não é a renda, mas sim se o pai é viciado em álcool ou drogas”. Por sua vez, o ministro das Finanças, George Osborne, dividiu os britânicos em “strivers” (lutadores) e “skivers” (vagabundos) para explicar o desemprego. O ministro da Educação, Michael Gove, assinalou que o aumento do número de pessoas que recorrem aos bancos de alimentos (armazéns de organizações de caridade) se devia ao fato de que as pessoas “tomavam decisões incorretas do ponto de vista financeiro”.

Esta mensagem repetida à exaustão ficou refletida no uso oficial de palavras da gíria inglesa como “shirker” (frouxo) e “scrounger” (parasita social). Um estudo acadêmico do uso desse último adjetivo apontou que “scrounger” foi usado cerca de 3.500 vezes nos textos jornalísticos em 2012, quase dez vezes mais do que foi registrado antes do estouro financeiro de 2008. Segundo Owen Jones, autor de “Chavs, the demonization of the working class”, essa tática conservadora faz parte do coração ideológico do thatcherismo. “O objetivo é demonstrar que a pobreza é culpa do indivíduo e não da estrutura socioeconômica. Ao mesmo tempo, se justifica a riqueza como um fruto da virtude e da capacidade pessoal”, disse Jones à Carta Maior.

A iniciativa foi bem sucedida. Em janeiro, uma pesquisa da Central de Trabalhadores mostrou que maioria pensava que 41% do orçamento era gasto em seguro desemprego (quando a cifra oficial é 3%) e que o nível de fraude no uso deste seguro era de 27% (a cifra oficial é de 0,7%). Mas essa percepção distorcida das coisas, alimentada por uma imprensa predominantemente conservadora, se choca com outras representações pós-estouro financeiro de 2008: a maioria não gosta dos banqueiros, se queixa amargamente do custo de vida e apoia a nacionalização de alguns serviços como o gás, a eletricidade e os trens.

Em sua melhor intervenção nos três anos que atua como líder da oposição, o trabalhista Ed Miliband disse, no final de setembro, que se ganhar as eleições de 2015 congelará os preços do gás e da eletricidade. O governo tentou desmoralizar a iniciativa qualificando-a de stalinista, mas teve que recuar nas últimas semanas ante a realidade: a maioria estava de acordo com Miliband. “Miliband defendeu a intervenção do estado no mercado. Não é um questionamento a fundo da lógica neoliberal, mas bastou para criar uma tormenta”, disse à Carta Maior Paolo Gerbaudo, pesquisador do Kings College.

O próprio governo começou a recuar em sua política de deixar tudo para a “mão invisível do mercado”. Em outubro se opôs à imposição de limites aos credores que chegam a cobrar um juro anual de 6.000%; na semana passada indicou que interviria no mercado. Um dia depois prometeu que interviria no mercado energético para cortar as tarifas em cerca de 50 libras anuais (80 dólares).

Segundo Chris Huhne, desiludido ex-ministro de Energia da coalizão, esta será a estratégia daqui até as eleições de maio de 2015. “Trata-se de roubar qualquer política popular. Não importa que Miliband tenha pensado nestas iniciativas antes. Como governo, eles têm o poder de concretizá-las. É o grande problema do trabalhismo e a grande oportunidade da coalizão”, escreveu Huhne no The Guardian.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
 
Créditos da foto: The Guardian
 

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