domingo, 3 de agosto de 2014

BES PASSA A CHAMAR-SE NOVO BANCO - resgatado através do Fundo de Resolução



TSF

A partir de segunda-feira, o Banco Espírito Santo passa a chamar-se Novo Banco, «devidamente capitalizado e expurgado de ativos problemáticos», anunciou hoje Carlos Costa, governador do Banco de Portugal.

O Banco de Portugal (BdP) garante que fica «completamente e inequivocamente afastada qualquer hipótese de haver perda» para os depositantes do Banco Espírito Santo (BES).

Carlos Costa explicou que o plano de capitalização do BES implica uma injeção de 4.900 milhões de euros e a separação dos ativos tóxicos ('bad bank') dos restantes que ficam numa nova instituição, o Novo Banco. Uma injeção de dinheiro que não penaliza as finanças públicas nem os depositantes do banco, garante o BdP.

O regulador garantiu que «a medida de resolução agora decidida pelo Banco de Portugal, e em contraste com outras soluções que foram adotadas no passado, não terá qualquer custo para o erário público e nem para os contribuintes».

O governador do BdP garantiu também que o Novo Banco vai continuar a «assegurar a atividade até aqui desenvolvida pelo BES e pelas suas filiais, em Portugal e no estrangeiro, protegendo assim os seus clientes e depositantes».


OS SONHOS DA REPÚBLICA E OS PESADELOS DO IMPÉRIO



Rui Peralta, Luanda

I - Em 1939, o realizador cinematográfico norte-americano John Ford realizou "Young Mister Lincoln" ("A Grande Esperança", foi o titulo em Português). O filme era sobre a juventude de Lincoln (representado pelo jovem - na época - Henry Fonda) e no inicio a câmara conduz-nos o olhar através de troncos, carroça, grupos dispersos de pessoas, árvores, uma casa, até chegar a um politico local, que discursa, terminando com a apresentação do jovem Lincoln. Este plano de dupla função - narrativa e ideológica - prepara a apresentação de Lincoln, introduzindo-o suavemente na narrativa, num ambiente tranquilo, bucólico, banhado por uma luz idílica. Lincoln aparece aos nossos olhos como um "eleito predestinado", um "escolhido". Esta imagem é reforçada nas cenas seguintes, quando Lincoln descobre um livro que será fundamental para o seu "destino": os "Comentários", de Blackstone.

O livro, que o acaso colocou-lhe no caminho, é a chave fundamental para a "revelação" desse "eleito natural", tendo as imagens, que mostram-nos um jovem Lincoln em leitura meditativa e apaixonada de uma "obra fundadora", a função de reforçar o papel "predestinado" de um homem ligado á terra, que embrenha-se - através da leitura do livro - nas origens da América e do seu povo. Terra, passado, natureza (todas estas imagens ocorrem no campo, na planície, junto a um rio...), chaves narrativas para descrever um destino em gestação. Esta predestinação não é, no entanto, isenta de obstáculos, de barreiras, que surgem por todo o filme. O destino de Lincoln joga-se por entre estes obstáculos, tendo a intrépida paisagem do Norte do Novo Mundo como pano de fundo. Mesmo no final, quando o jovem Lincoln já provou as suas qualidades, as barreiras estão presentes e a tempestade que se aproxima faz pressentir que novos perigos o espreitam. A ultima cena mostra-nos um Lincoln, eleito, segurando o seu chapéu e desafiando o vento que sopra. Lincoln parece planar sobre a planície, abrindo o caminho da História.

II - A mensagem do filme é clara. Lincoln, o eleito que dirige um povo eleito, livre, uma nação predestinada a ser um guardião da herança dos valores ocidentais. Ali é o novo Ocidente, um Novo Mundo de esperança, que cuida da herança europeia, renovando-a. Os valores foram transmitidos primeiro nas vagas de colonizadores, depois nas vagas de imigrantes. Os valores transportados pelos primeiros colonos (dissidentes religiosos) afirmaram-se e ganharam raízes nas terras selvagens, entrando em contradição aberta com a Velha Inglaterra (contradição que os primeiros colonos puritanos levaram para o Novo Mundo). Mas os colonos, para conquistar a terra, não defrontaram somente o Velho Império. Tiveram, também, que negociar e defrontar "demónios" pagãos que já por ali habitavam quando os "construtores da Nova Jerusalém" aqui chegaram para erguer o seu sonho.

O sistema de valores dos puritanos assentavam em duas bases: liberdade e igualdade. Ao contrário do que acontecia no continente europeu (onde estes valores entraram em contradição com os interesses religiosos) estes dois princípios eram transportados e foram implantados no Novo Mundo por homens e mulheres portadores de uma fé religiosa. Esta convergência entre religião e liberdade (entendida na perspectiva clássica) foi um principio fundador da sociedade norte-americana. Enquanto na Europa, religião e democracia, andavam desligados e eram quase sempre antagónicos, os fundadores da Nova Inglaterra eram, simultaneamente, ardentes sectários e criativos inovadores. A sua fé religiosa via na liberdade civil um exercício das faculdades humanas.

A religião estabeleceu o seu domínio como companheira da liberdade e esta viu na religião a salvaguarda dos costumes, assumidos como garantia das leis. A fé religiosa foi um molde de disciplina moral inscrita na consciência dos indivíduos, que não foi imposta pelo medo ou pelo castigo (embora existissem e as fogueiras não fossem um exclusivo europeu), mas funcionou como garante de coesão numa sociedade  auto-governada, que gere os seus interesses comuns em função dos interesses de cada um. Este fenómeno é de grande visibilidade na guerra de libertação nacional que conduziu á formação dos USA. Nenhuma guerra de libertação nacional foi tão isenta de factores ideológicos e tão assente na proclamação dos interesses, como a que levou á independência do Norte da América. Ganharam raízes profundas os valores transportados pelos primeiros colonos. De tal forma que os seus descendentes tornaram-se guardiões dos míticos princípios europeus -  originados nas assembleias atenienses -da liberdade dos "povos livres do ocidente". Com base no seu interesse...

III - Tocqueville enumerou três causas fundamentais para o "sucesso" dos USA: a situação e localização; as leis; os hábitos e costumes. Sobre o segundo e terceiro factores já discorremos no ponto anterior (devo, no entanto salientar que estes dois factores, geralmente apontados como causas primeiras da "boa governação" dos USA, sejam também primordiais para a ocorrência de aberrações como, por exemplo, a caça às bruxas, o criacionismo nos currículos escolares - escamoteando e reprimindo o evolucionismo - as escutas telefónicas, a paranóia com a Segurança, etc., etc., etc.). Vejamos, então, o primeiro factor.

O espaço geográfico onde os primeiros colonos se estabeleceram - e mais tarde a expansão territorial provocada pelas sucessivas vagas de imigrantes - foi decisivo. A ausência de Estados vizinhos poderosos foi essencial, permitindo um mínimo de obrigações diplomáticas e de riscos militares. Por sua vez o espaço desmedido era uma situação sem equivalente na Europa, o que representou um factor importante para que não se germinasse uma aristocracia, que muito dificilmente se desenvolve em áreas com excedente de terras aráveis, preferindo incubar-se em áreas com escassez de terra arável. Mas a causa mais profunda para o "sucesso" norte-americano foi a imigração.

Vagas de imigrantes renovaram e perpetuaram hábitos e costumes. Se os USA devem á Europa o governo das leis, o Norte do Novo Mundo deve ao mundo inteiro (imigrantes europeus, asiáticos, africanos - destes a maioria não foram imigrantes, mas sim, escravos - sul e centro-americanos, caribenhos, etc.) o seu crescimento económico, social e cultural. Foi a diversificação, provocada pela imigração, a causa principal do "sucesso" norte-americano.

IV - A Constituição norte-americana provocou a divisão do poder legislativo em duas câmaras, estabeleceu um Presidente da Republica e é uma garantia das liberdades (logo dos interesses). E esta questão das liberdades (dos interesses) na Constituição dos USA é uma característica que a distingue das constituições europeias. Nestas os interesses são subordinados a um subjectivo interesse comum (ao Estado, á nação, á comunidade), através do Direito e dos direitos. Esta diferença é a fronteira que separa o Velho Ocidente do Novo Ocidente. Neste os interesses são assumidos e absorvidos pelos aparelhos institucionais.

Outra diferença reside no comportamento das cidadanias. Os cidadãos norte-americanos estão bem informados e são participativos, mas ao nível da cidade, da comunidade, do local, ignorando o mundo que rodeia os seus assuntos. Já o cidadão europeu tem outra perspectiva, conhecendo melhor o mundo do outro e raciocinando de forma mais generalizada. São diferentes níveis de instrução cívica, que têm na descentralização administrativa o pano de fundo. A democracia europeia transporta, na sua caminhada pelo pensamento ocidental os princípios da democracia dos antigos, igualitária ("isonómica") e virtuosa, que via no comércio actividade imprópria (a "ágora", o mercado, era uma esfera onde o eu e o outro se cruzavam, não tendo o comércio - como actividade autónoma - um lugar de destaque no âmbito da cidadania). Mas na democracia europeia moderna o comércio ganha autonomia e o mercado é um espaço de troca, já afastado do conceito dos antigos. Com a predominância industrial, surge no mercado uma dinâmica frenética que o leva a transbordar o seu espaço social. Os interesses económicos assumem fortes raízes individualistas que irromperam no campo da ética, alterando comportamentos, preconceitos e conceitos.

Na Europa continental (a ilha britânica assume uma posição de vanguarda da nova ética desde a Republica de Cromwell) os valores da democracia ateniense estão enraizados na superstrutura ideológica e constituem um bloqueio institucional mais eficaz, mesmo que minimizado na Europa protestante, mas suficiente para permanecer e ressurgir com a forma socialista ou como praxis democrática do movimento operário (e mais tarde no Estado do Bem-Estar, no Keynesianismo e no projecto europeu da Europa Social).

Nos USA a democracia moderna foi levada ao extremo, ou seja a sua importante componente liberal (germe da modernização da ideia democrática) foi profundamente autonomizada e a liberdade individual não se subordinava á figura do "interesse geral" a não ser por "interesse" ou seja por um motivo que gerasse um ganho determinado, uma vantagem na longa e embrenhada competição em que se tornaram as relações sociais. O máximo a que se chegava por negociação era a interesses comuns e só mesmo a necessidade gerada por ameaça a todos os interesses, poderia ser um motivo temporário para se assumir um pretenso interesse geral.

É certo que em ambos os casos (no Velho Ocidente e no Novo Ocidente) a cidadania é controlada, auto-regulada, pela disciplina moral e a influencia do Estado assenta nos hábitos e costumes, usos e crenças, estandardizando as condutas dos indivíduos, mas nos USA, o interesse é um pilar não camuflado da sociedade o que fez (e faz) enrubescer hipocritamente os europeus.

V - A mobilidade social nas democracias é um mecanismo complementar (mas não secundário) ao mecanismo de renovação das elites. Os indivíduos têm a perspectiva (e alimentam a esperança) de ascender na hierarquia social e uma sociedade na qual a ascensão é realizável permite conceber uma ascensão para a humanidade, no seu todo. A sociedade democrática concretiza, desta forma, a ideia de progresso.

A democracia funciona assente numa base contraditória, num conjunto de diferentes níveis de conflitos (consequência dos diferentes e variáveis interesses) e é visceralmente dialéctica. As sociedades democráticas são profundamente individualistas, são sociedades onde cada um, sozinho, em família, clã ou outro tipo estrutura colectiva, busca a prossecução dos seus objectivos, associando-se livremente e por sua iniciativa, quebrando o isolamento inerente ao individualismo através do exercício da cidadania.

Nessa livre associação que é um pilar da liberdade e participação do individuo, desenrola-se um primeiro conflito de interesses que impede a omnipotência e a omnipresença do Estado (concentração de poder) ou da concentração de riqueza (consequência dos desníveis causados no mercado pela sua extravasão, que conduz á formação de elites de mercado, não administrativas que pretendem o domínio das relações sociais, de forma a ampliar o factor económico para além das suas linhas de demarcação. Eis o capitalismo, como realidade dominante, que evolui na produção e na troca e se reproduz na mercadoria e na acumulação de capital.

Nos USA o capitalismo lançou raízes, ao ponto de, a partir de certo momento da sua História - quando se assumiu como centro financeiro da economia mundo - absorver o capitalismo, tornando-o sua identidade (american way of life) e confundindo-o com a democracia. Construiu-se então um sonho (o american dream) que destruiu todos os sonhos que estiveram na génese dos USA, mas não só...foram também destruídos os sonhos da humanidade, porque o capital transformou a Republica em Império. 

(Continua)

Imagem: Ziraldo

“OS ELEITORES OBRIGAM-NOS A MENTIR”



Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião

O episódio que opôs o eurodeputado do PCP João Ferreira ao candidato e agora presidente da Comissão Europeia merece alguma reflexão. No decorrer da intervenção do deputado português, Juncker atende o telefone. Ferreira suspende a sua intervenção, que lhe era dirigida. Após desligar a chamada, Juncker insta-o a prosseguir mas não põe os auscultadores da tradução simultânea. Na língua de Camões, Ferreira pergunta-lhe se percebe português. O presidente da Comissão Europeia atrapalha-se pois não percebe a pergunta e, já com os auscultadores, diz que sabe português porque tinha muitos vizinhos portugueses, acrescentando em jeito de ironia que o deputado até pode abreviar a sua intervenção pois conhecia bem os problemas do país.

Neste breve episódio, Juncker – o polémico político que escreveu que as pessoas são tão importantes como as mercadorias e o capital, que esteve 18 anos como primeiro-ministro de um paraíso fiscal e que foi presidente do Eurogrupo no momento de construção de todas as políticas europeias dos últimos anos –,  não desrespeitou apenas o deputado português, mas também, de uma assentada, ridicularizou a representatividade de todos os eurodeputados eleitos, sobretudo os portugueses.

Juncker foi eleito com 56% de votos favoráveis no Parlamento Europeu e, vergonhosamente, com 76% dos eleitos em Portugal (PSD, PS, CDS e Marinho Pinto). Ora, se PSD e CDS cumpriram a promessa eleitoral de votar em Juncker, PS e Marinho Pinto tinham-se comprometido a apoiar outro candidato à presidência da Comissão Europeia. Estes nove eleitos não conseguiram aguentar umas semanas sem quebrar uma promessa eleitoral. Marinho Pinto, um antigo arauto da defesa da ética e da decência na política, chegou a declarar estar “incondicionalmente” ao lado de Schulz. 

A partir das confortáveis mordomias de Bruxelas, todos tolerarão a frase corporativa que um dia o então deputado do CDS-PP e agora secretário de Estado João Almeida deixou escapar: “...os eleitores obrigam-nos a mentir.”

Escreve ao sábado  

“NO 25 DE NOVEMBRO SALGUEIRO MAIA ESTAVA DO NOSSO LADO” – Diniz de Almeida



João Céu e Silva – Diário de Notícias

As comemorações dos 40 anos do 25 de Abril têm ignorado o militar que fez parte da preparação e execução da Revolução de Abril. Diniz de Ameida aceitou falar ao DN e revela que Salgueiro Maia estava do lado dos paraquedistas revoltosos e era figura muito presente no Ralis: "Silenciámos ter estado connosco no 25 de Novembro e com as tropas ao dispor."

O ex-militar recusa ter servido o PCP: "Não me mandava fazer nada porque eu não lhe obedecia." Acusa Mário Soares: "É uma figura criada e estava vendido ao (embaixador dos EUA) Carluci." Quanto ao desaire do PREC com o 25 de Novembro de 1975: " Quem é que travou tudo? Foi Otelo. Então não foi quem tinha as tropas todas e as trai ao fugir, quebrando os princípios elementares da concentração de meios e da surpresa? Um chefe que dá cabo de tudo e se vai por debaixo das saias do Costa Gomes depois do Presidente ter percebido que a esquerda estava toda paralisada à espera das ordens do Otelo. Na Escola Prática de Artilharia fui eu próprio quem disse: não venham para cá porque o Otelo desapareceu e isto vai borregar. Nos Fuzileiros, foi o Rosa Coutinho que mandou recolher."


Portugal: O PIOR DOS PESADELOS



Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião

Já ninguém está preocupado com a família Espírito Santo e poucos são os que se preocupam com o Governo, os partidos que o apoiam e o regulador. A todos podemos substituir, mas a pancada que volta a sobrar para os portugueses vai doer muito mais do que é possível imaginar.

Esses portugueses são pequenos accionistas, trabalhadores de empresas que acabarão por falir, que dependem de um sistema bancário que passa de bestial a besta e de uma economia que dava sinais de recuperação e que ameaça entrar novamente em depressão. Por muito que a elite pense que sim, a necessidade de o Estado intervir para salvar um banco que julgávamos salvo não é o problema maior.

Este país não tem solução enquanto todos os poderes pactuarem com um sistema que favorece o enriquecimento ilícito, que julga na praça pública por ser incapaz de fazer justiça nos tribunais, que despreza a competência e aplaude o amiguísmo, que se mostra totalmente incapaz de promover a igualdade de oportunidades. Um sistema que recicla os donos disto tudo mas apenas para substituir uns pelos outros.

O capitalismo sem ética, a que aludiu o Papa Francisco como uma das principais chagas do mundo moderno, é que nos tem arrastado de desgraça em desgraça. Agora, que começávamos a pôr a cabeça fora de água, aproximando as nossas despesas das nossas receitas, podemos ter de começar todo o calvário de novo. O pior é que muita gente, muita gente mesmo, não tem como aguentar nova tragédia que obrigue o Governo a cobrar mais impostos, a banca a reter capital e as empresas a despedir.

Tudo isto é mau, muito mau mesmo, mas ainda não é o pior dos pesadelos. Imaginem que Ricardo Salgado, tocado pelas santas palavras do Bispo de Roma, resolve redimir-se do seu capital pecado e confessar o carácter diabólico que presidiu às suas relações nas últimas décadas. É que não há banco do regime sem regime, nem regime sem titulares do poder, nem corruptores sem corruptos. Nós sabemos como, entre as migalhas e os grandes banquetes, muita gente comeu à mesa do último banqueiro.

Se ele se confessa, o colapso que se abateu sobre a família Espírito Santo será de repercussões bem maiores, envolvendo outros banqueiros, empresários que foram apenas testas-de-ferro, milionários de toda a espécie, dezenas ou centenas de políticos, alguns jornalistas e magistrados... Não faço ideia se ficaria pedra sobre pedra e até imagino que esta catarse deixaria mais feridas do que curas, mas, pelo menos, viveríamos na verdade.

Deve ser porque vejo muita gente com medo que Ricardo Salgado conte tudo o que sabe que este pesadelo parece real. Ele, afinal, ainda tem muito poder. A destruição criativa continua nas mãos deste homem.

BES TEM TUDO PARA SER UM BPN “CINCO VEZES MAIOR”




A líder do Bloco de Esquerda (BE) disse no sábado à noite que o BES tem tudo para ser um BPN "cinco vezes maior" e classificou a supervisão do Banco de Portugal como a mais "pitosga" de que há memória.

"O BES é um escândalo gigantesco, é um buraco financeiro gigantesco e tem tudo, se deixarmos, para ser um BPN cinco vezes maior", afirmou Catarina Martins, sublinhando que vamos continuar a ter a supervisão "mais pitosga de que há memória, que não vê nada".

A líder do BE falava no sábado à noite, na zona ribeirinha de Olhão, no primeiro de quatro comícios que o partido vai promover no Algarve, no qual falaram também a deputada Cecília Honório e Ivo Madeira.

"O Banco de Portugal, diga-se de passagem, continua tão perspicaz como no tempo do BPN. Ainda há meses dizia que estava tudo bem", ironizou, frisando que o banco que supervisiona o sistema bancário "não vê BCP, não vê BPP, não viu BPN e não viu BES".

Para a líder do Bloco, enquanto a lei não mudar e as "offshores" e a "promiscuidade" entre o poder financeiro e o poder político continuarem a existir, vai tudo continuar na mesma.

"E temos agora o governo a dizer que vai fazer novamente o que foi feito no BPN, o que este Governo jurou que não faria", afirmou, defendendo que a solução não deve ser a de por o "dinheiro de todos no buraco que alguns criaram".

Para Catarina Martins, não podem ser os contribuintes a "pagar as perdas da fraude de uma família" e não podem continuar a ser os que trabalham a pagar os "desmandos da banca".

No domingo, o Bloco de Esquerda promove um comício em Lagos e, no próximo fim de semana, em Portimão e em Monte Gordo.

Lusa, em Diário de Notícias

Portugal: SOLUÇÃO PARA O BES REVELADA HOJE ÀS 22H30 POR CARLOS COSTA




A solução para o Banco Espírito Santo será apresentada este domingo pelo governador do Banco de Portugal quando forem cerca das 22h30, avança o Expresso.

Segundo a edição online do semanário Expresso, o governador do Banco de Portugal vai anunciar esta noite, pelas 22h30, qual a solução a aplicar à crise no BES.

O conselheiro de Estado Luís Marques Mendes confirmou ontem à noite, no seu comentário na SIC, o que o Expresso já tinha adiantado na sua edição impressa.

As duas fontes garantem que a estratégia para salvar o BES passa pela divisão do banco em dois: o bom e o mau. O bom será capitalizado através do Fundo de Reestruturação que foi criado há cerca de um ano e meio e que é financiado por todos os bancos portugueses, contando ainda com o dinheiro emprestado pela troika para o efeito.

Por outro lado, para o banco mau vão os ativos tóxicos, incluindo a exposição ao Grupo Espírito Santo.

Notícias ao Minuto

Timor-Leste: Xanana dá sinal de aceitar transição política e remodelação governamental




Díli, 03 ago (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, deu hoje sinais de aceitar um período de transição política para a nova geração e uma remodelação do Governo proposto pelo Conselho Nacional da Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), partido que preside.

"Não decidi resignação, mas aceito remodelação", afirmou Xanana Gusmão, durante uma intervenção de quase duas horas na conferência extraordinária do CNRT, iniciada no sábado, para debater e decidir sobre a possível resignação do primeiro-ministro timorense.

Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral do partido, Dionísio Babo, afirmou que o primeiro-ministro deu sinais de aceitar o período de transição e de uma remodelação governamental, mas, acrescentou, será "ele (Xanana Gusmão) que vai determinar" como.

"O CNRT vai apresentar estas resoluções, mas ele já deu sinal, ainda não deu uma decisão final", salientou.

O CNRT encontra-se agora reunido à porta fechada para debater e aprovar as duas resoluções.

Desde final de 2012, que Xanana Gusmão tem reafirmado a intenção de abandonar o cargo de primeiro-ministro.

Em julho, em entrevista à agência Lusa, o primeiro-ministro de Timor-Leste disse que vai sair do Governo para contribuir melhor para a construção do Estado, mas evitou avançar uma data precisa para a sua demissão.

O CNRT defende que seja criado um período de transição do poder para a nova geração e uma remodelação do Governo de coligação, composto por mais de 50 elementos.

Em 2012, Xanana Gusmão formou um Governo de coligação com o Partido Democrático, liderado por Fernando La Sama de Araújo, atual vice-primeiro-ministro, e a Frente Mudança, chefiado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, José Luís Guterres.

Xanana Gusmão, de 68 anos, foi um dos líderes da luta contra a ocupação indonésia de Timor-Leste, entre 1975 e 1999, que culminou com a realização de um referendo a 30 de agosto de 1999, que determinou a independência do território.

A 20 de maio de 2002, dia da restauração da independência do país, tomou posse como Presidente do país. Em 2007, tomou posse como primeiro-ministro e em 2012 foi reconduzido no cargo.

MSE // MSF - Lusa

Jovem chinesa viaja para Portugal para tentar chegar a professora de português




Macau, China, 03 ago (Lusa) - Aos 22 anos, Lu Ming Shung, ou Inês Lu, prepara-se para viajar para Portugal, para a Universidade do Minho, onde vai continuar os estudos em português com um mestrado em língua e cultura para um dia ser professora.

Natural da província chinesa de Ninxia, junto à Mongólia Interior, Inês Lu concluiu este ano a licenciatura em estudos portugueses na Universidade de Estudos Internacionais de Xian e aposta agora "no mestrado em Portugal" sem saber muito bem o que vai fazer no futuro.

"Se encontrasse um bom emprego em Portugal gostava de ficar lá porque teria mais oportunidade de desenvolver o português", disse não escondendo, contudo, a vontade de "fazer o doutoramento na Universidade de Macau".

Nas perspetivas de futuro, Inês Lu, que está em Macau pela segunda vez a participar no curso de verão de português organizado pela Universidade de Macau, está a "aproximação entre os povos da China e de Portugal".

"Também posso ficar em Portugal a ensinar chinês", disse ao manifestar o desejo de fixar residência na Europa, um espaço que, contou, o pai lhe disse "ser muito agradável para viver".

A escolha do português como curso surgiu depois do exame nacional a que os finalistas do secundário na China estão sujeitos: "A prova não é fácil e o meu resultado indicou-me o curso de língua e cultura portuguesas e não estou arrependida".

A vontade de ensinar a língua de Camões levou Inês Lu a abrir, no Taobo, o mais popular sítio na Internet para compras na China, uma página para ensinar português e, garantiu, "já teve cinco alunos".

"Cada aula de uma hora no 'Yu wu jiang jie'", o sítio que criou e que na tradução quer dizer ?a língua não tem fronteiras', custa 80 yuan (cerca de 10 euros), disse ao explicar que à sua ideia juntaram-se outros colegas para ensinar francês, espanhol e italiano.

Apesar da vontade de ficar em Portugal, Inês Lu está "inquieta" com o que vai encontrar em Braga e assume por momentos o papel de entrevistadora: "Haverá ar-condicionado?", questiona; "Como acha que me vou ambientar em Portugal. Não será difícil?", acrescenta.

Sem grandes respostas às questões colocadas, a jovem estudante só não teme uma coisa: "o frio do norte de Portugal não será problema, porque na minha terra também faz muito frio e cai neve".

Enquanto não faz as malas e segue para Lisboa também curiosa para perceber a razão de existir uma grande comunidade chinesa no país, Inês Lu vai "aperfeiçoando o português" em Macau onde, garantiu, "existem bons professores que ajudam os alunos a melhorar o nível de língua".

"A Universidade de Macau tem excelentes professores e estes cursos de verão permitem um grande desenvolvimento do conhecimento da língua porque muitas vezes, e falo de mim, não temos nos nossos países grandes oportunidades de desenvolver os conhecimentos da língua e da cultura", concluiu ao salientar ainda que além da língua, em Macau, os participantes do curso verão ainda se dedicam a outras atividades como a música e a dança.

"Aprendemos a cultura portuguesa e é através deste conhecimento que vamos conhecendo cada vez melhor os portugueses. Espero contribuir para que portugueses e chineses se conheçam ainda melhor", afirmou.

Cerca de 370 jovens estudantes de português na Ásia estão na Universidade de Macau a desenvolver as suas competências linguísticas com a maioria dos estudantes - cerca de 220 - oriundos de universidades da China continental, mas também com jovens vindos da Tailândia, Vietname, Coreia do Sul, Hong Kong e Filipinas, além dos estudantes de Macau, o curso está dividido em quatro níveis: iniciação, básico, intermédio e avançado.

JCS // PJA - Lusa

CHINA CONFIRMA 96 MORTOS EM ATAQUE NA SEMANA PASSADA EM XINJIANG




Pequim, 03 ago (Lusa) -- A imprensa chinesa informou hoje que 96 pessoas morreram, incluindo 59 alegados terroristas, e 13 ficaram feridas, no ataque perpetrado na segunda-feira em Xinjiang, região onde está concentrada a minoria muçulmana uigur.

Na terça-feira passada, um dia depois do ataque realizado com recurso a facas, as autoridades chinesas reportaram "dezenas de mortos e feridos", sem precisarem o número de vítimas.

Entretanto, no sábado, as autoridades confirmaram à agência Xinhua que durante o ataque a polícia matou a tiro 59 alegados terroristas e deteve outros 215, enquanto 13 civis morreram e outros 13 ficaram feridos.

Entre os civis mortos, 35 eram de etnia han (maioritária na China) e dois de etnia uigur, que professa a religião muçulmana.

Pequim não deu mais detalhes sobre a identidade dos alegados terroristas, apesar de outras fontes os identificarem como uigures.

Por sua vez, representantes do Congresso Mundial Uigur disseram à EFE que o número de uigures mortos pode ultrapassar a centena e que os dados das autoridades chinesas não correspondem à realidade.

Um grupo de homens "armados com facas" atacou na segunda-feira de manhã uma esquadra da polícia e prédios públicos na região de Shache, referiu a agência oficial chinesa, citando a polícia local.

A China tem experimentado, nos últimos meses, uma série de ataques sangrentos em sítios públicos, em Xinjiang e outros locais, atribuídos pelas autoridades aos uigures islâmicos.

Um atentado suicida, cometido em maio, no mercado de Urumqi, capital de Xinjiang, fez 43 mortos - incluindo quatro agressores - e uma centena de feridos.

Em reação, Pequim anunciou uma vasta campanha de luta antiterrorista, que se traduz em dezenas de prisões, condenações massivas, exibições públicas dos "terroristas" e execuções após julgamentos sumários.

Xinjiang tem nove milhões de uigures - muçulmanos de língua turca -, sendo uma parte de radicais que, segundo as autoridades chinesas, vem realizando ataques mortais nos últimos meses.

Os grupos de direitos humanos acreditam que a política repressiva da China contra a cultura e religião dos uigures alimenta as tensões e violência na região.

Muitos uigures, hostis ao domínio chinês da região, dizem-se vítimas de discriminação e de exclusão de investimentos em Xinjiang.

FV (CSR) // FV - Lusa

RÚSSIA ACUSA UE DE USAR “DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS” NA CRISE DA UCRÂNIA




Ministério russo do Exterior divulga nota pedindo que europeus voltem a proibir exportação de tecnologia e equipamentos militares a Kiev. Manifestantes em Moscou querem mais ação do Kremlin em território ucraniano.

A Rússia acusou neste sábado (02/08) a União Europeia de adotar "dois pesos e duas medidas" com relação ao conflito na Ucrânia, ao suspender, "silenciosamente", a proibição de abastecimento de tecnologia e equipamentos militares à Ucrânia, enquanto, por outro lado, impõe sanções contra Moscou. Segundo a Rússia, a UE é, por isso, corresponsável pelo derramamento de sangue no leste da Ucrânia.

"Durante um recente encontro do Conselho Europeu em Bruxelas, líderes dos Estados-membros concordaram, silenciosamente, em remover as restrições de exportação para Kiev de equipamentos que poderiam ser usados para repressão interna", declarou o Ministério russo do Exterior por meio de uma nota publicada em sua página na internet.

O ministério pediu ainda que os líderes europeus não sejam "influenciados" pelos Estados Unidos com relação aos acontecimentos no leste da Ucrânia. E pediu que a suspensão das exportações volte a valer, "senão a responsabilidade da EU sobre o banho de sangue no leste da Ucrânia vai só aumentar".

Em fevereiro passado, a UE concordou em reavaliar as licenças de exportação para repasse de tecnologia e equipamento militar para Kiev e em suspender as licenças de exportação de equipamentos de repressão a distúrbios, a fim de que à época não fossem usados pelo então presidente Victor Yanukovytch. O acordo foi revogado no mês passado.

As relações entre Moscou e Bruxelas vêm se deteriorando desde que o bloco europeu concordou em impor sanções à Rússia, devido ao suporte dado pelo Kremlin aos rebeldes ucranianos – muitos deles de origem russa.

Na semana passada, o bloco europeu anunciou sanções mais abrangentes contra a Rússia, que afetam principalmente os setores russos de energia, finanças e defesa.

Russos querem ação de Moscou

Também neste sábado, centenas de militantes foram às ruas de Moscou pedir ao presidente russo para que "tome uma ação" na Ucrânia, por meio do envio de "tropas de paz russas", para colocar fim aos conflitos sangrentos no país vizinho. Participaram do protesto vários separatistas, vindos da autoproclamada "República de Donetsk", que faz fronteira com a Rússia, além de ortodoxos e ultranacionalistas.

Alguns manifestantes reunidos nas proximidades do estádio olímpico diziam "não entender" por que militares americanos "podem fornecer armas ao Exército ucraniano e a Rússia não pode fazer a mesma coisa aos separatistas pró-russos". Eles ainda apelaram pelo aumento da ajuda humanitária aos habitantes de Donetsk e entoaram cânticos patrióticos russos.

Há vários dias, organizações humanitárias russas vêm pedindo ajuda financeira da população russa aos moradores da República de Donetsk. Em vários pontos de Moscou há urnas para que as pessoas possam depositar dinheiro.

O conflito entre o Exército ucraniano e os separatistas pró-russos no leste da Ucrânia já causou, em apenas três meses, mais de 1,1 mil mortos, segundo as Nações Unidas.

Bombardeios expulsam especialistas

Bombardeios neste sábado forçaram especialistas internacionais a abandonar parte do local onde caiu o avião da Malaysia Airlines, abatido há duas semanas no leste da Ucrânia. Era o segundo dia em que 70 investigadores holandeses e australianos trabalhavam no local com cães farejadores. Entre os escombros, eles conseguiram identificar mais restos mortais de vítimas.

"Ouvimos a uma distância de aproximadamente dois quilômetros uma artilharia chegando de onde nós estávamos, e estava muito perto para continuarmos os trabalhos", explicou Alexander Hug, subchefe da missão da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Deutsche Welle – Edição: Marcio Damasceno - MSB/rtr/lusa/afp

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Tropas ucranianas e separatistas enfrentam-se logo após término de cessar-fogo pedido pela ONU para permitir acesso de investigadores internacionais ao local do acidente. Peritos devem continuar busca por restos mortais. (01.08.2014) 
Casas em ruínas, crateras de bombas nas ruas, valas comuns. Conflito na fronteira tortura a população ucraniana, em meio a discussões sobre o real nível de envolvimento da Rússia nas atrocidades. (31.07.2014)
Investidores estão retirando dinheiro do país em ritmo acelerado. Se bancos não tiverem acesso ao mercado financeiro, empresas russas poderão enfrentar sérios problemas. (30.07.2014)

MARCHA PELA REPARAÇÃO EM LONDRES


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Alberto Castro*

Centenas de africanos e afrocaribenhos marcharam anteontem, 1 de agosto, de Brixton, a culturalmente vibrante zona de forte influência afrocaribenha no sul de Londres, para entregarem em Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro britânico, uma petição exigindo reparação por danos causados pela escravatura dos seus antepassados.

A iniciativa partiu do Movimento Rastafari e da NAPP, sigla em  inglês para o denominado Parlamento Nacional dos Povos Africanos, uma organização cujo propósito, segundo a mesma, é promover, preservar e proteger os interesses dos africanos domiciliados no Reino Unido. A marcha enquadrou-se nos atos de lembrança do Dia da Emancipação (1 de agosto de 1834) que este mês se assinala na maioria das antigas colónias britânicas das Caraíbas e no âmbito do centenário do estabelecimento, em 1 de agosto de 1914, da UNIA-ACL, sigla em inglês para a Associação Universal de Melhoramento do Negro - Liga das Comunidades Africanas, organização pan-africana fundada pelo jamaicano Marcus Mosiah Garvey, um dos mais importantes lutadores pelos direitos da África, dos africanos e afrodescendentes.

A petição (link abaixo), uma proposta para que algum tipo de compensação seja feita aos descendentes de escravos africanos, foi entregue ao Estado britânico incluindo a Monarquia, o Parlamento e o Governo no sentido de que seja estabelecida por todos os partidos uma Comissão de Inquérito pela Verdade, Justiça e Reparação.

''Não queremos ser sujeitos sem direito ou cidadãos sem consideração. Educação sem justiça continua sendo escravatura'', dizia um cartaz.  Outro citava Marcus Garvey: ''Seja tão orgulhoso da tua raça hoje como os nossos pais o foram outora. Temos uma história bonita e no futuro criaremos outra que vai espantar o mundo''. Um outro pedia ''Reparação já. Jamais esqueceremos a escravidão e a colonização do nosso povo''. 

Há quase dois séculos que a escravatura foi oficialmente abolida em todo o antigo Império Britânico. Em África e nas Caraíbas em particular, as enormes e mais variadas consequências de uma das mais opressivas e intoleráveis instituições na história da humanidade ao serviço dos antigos poderes colonias continuam a marcar, fortemente pela negativa, a vida da grande maioria dos países epopulações que tiveram milhões de seus seus antepassados capturados e escravizados.

Colunista e jornalista freelance*, Londres

Link para a petição: http://www.change.org/en-GB/petitions/the-british-state-including-the-monarchy-parliament-and-the-government-to-establish-an-all-party-parliamentary-commission-of-inquiry-for-truth-justice-and-reparations

8 NOTÍCIAS QUE A GRANDE MÍDIA NÃO TEM CORAGEM DE DIVULGAR




Confira oito notícias importantes que a grande mídia tem a responsabilidade de divulgar, mas falta coragem (ou interesse?)

Os destaques a seguir dizem respeito a assuntos relevantes e baseados em fatos. São as “notícias importantes” que a mídia tem a responsabilidade de divulgar. No entanto, a imprensa corporativista geralmente as evita.

1. A riqueza nos Estados Unidos cresceu em US$34 trilhões desde a recessão. Mais de 90% da população não recebeu quase nada dessa quantia.

Isto daria, em média, US$100 mil para cada americano. Mas as pessoas que já possuem a maior parte das ações de empresas responsáveis pelo crescimento dessa riqueza receberam quase todo o dinheiro. Para eles, o ganho médio foi de cerca de um milhão de dólares – livre de impostos, desde que não contabilizado (detalhes aqui).

2. Oito americanos ricos ganharam mais do que 3,6 milhões de trabalhadores que recebem salários mínimos.

Um relatório recente afirmou que nenhum trabalhador que receba um salário mínimo nos EUA pode pagar pelo aluguel de uma residência de um ou dois dormitórios de acordo com os preços do mercado atual.Há 3,6 milhões de trabalhadores nestas condições, e seus salários somados ao longo de todo o ano de 2013 é inferior aos ganhos no mercado de ações de apenas oito investidores americanos durante o mesmo ano; todos eles são empresários que mais tiram do que contribuem para a sociedade: os quatro Waltons (donos da cadeia de supermercados Wal-Mart), dois Kochs (donos da Koch Industries), Bill Gates e Warren Buffett.

3. O noticiário fala apenas a 5% da população

Seria um alívio ler um editorial honesto: “Nós valorizamos com carinho os 5% a 7% de nossos leitores que ganham muito dinheiro e acreditam que seus patrimônios, cada vez maiores, estão ajudando todo mundo”.

Em vez disso, a mídia corporativa parece incapaz de diferenciar entre os 5% no topo e o restante da sociedade. O “Wall Street Journal” exclamou: “Americanos de classe média têm mais poder de compra do que nunca”, e, na sequência, : “Que recessão? A economia já saiu da recessão, o desemprego diminuiu…”

O “Chicago Tribune” pode estar ainda mais distante de seus leitores menos privilegiados, perguntando a eles: “O que é tão terrível no investimento de tanto dinheiro na campanha presidencial?”

4. As notícias televisivas ficaram mais burras para o espectador americano

Uma pesquisa de 2009 do European Journal of Communication comparou os Estados Unidos à Dinamarca, Finlândia e Reino Unido no que diz respeito à transmissão de noticiário doméstico e internacional, bem como de notícias importantes (política, administração pública, economia, ciência e tecnologia) e notícias secundárias (celebridades, interesses humanos, esportes e entretenimento). Os resultados:

- os americanos são especialmente desinformados quanto a assuntos públicos internacionais;

- os entrevistados americanos também não tiveram um bom desempenho no que diz respeito ao noticiário importante relacionado a questões domésticas;

- a televisão americana transmite muito menos noticiário internacional do que as TVs finlandesa, dinamarquesa e britânica;

- os programas de notícias da TV americana também relatam muito menos notícias importantes do que as TVs finlandesa ou dinamarquesa.

Surpreendentemente, o relatório informa que “nossa amostragem de jornais americanos estava mais orientada no sentido das notícias importantes do que as contrapartes europeias”. É uma pena que os americanos estejam lendo menos jornais.

5. Executivos e empreendedores com destaque nos noticiários devem trilhões à sociedade

Toda a propaganda em torno do “self-made man”, o empreendedor aventureiro, é uma fantasia. No início dos anos 70, nós, homens brancos privilegiados, fomos conduzidos de nossas faculdade para postos no mercado de trabalho que nos aguardavam nos setores de gestão e finanças; a tecnologia inventava novas maneiras de fazermos dinheiro, os impostos eram baixíssimos e a perspectiva de recebermos bônus e ganhos capitais ocupava nossas mentes.

Enquanto estávamos na faculdade, o Departamento de Defesa preparava a Internet para a Microsoft e a Apple, a Fundação Nacional da Ciência financiava a Digital Library Initiative, que seria adotada como modelo pela Google, e o Instituto Nacional de Saúde realizava os primeiros testes de laboratório que seriam utilizados por empresas como Merck e Pfizer. Os laboratórios de pesquisa do governo e as universidades públicas treinaram milhares de químicos, físicos, designers de chips, programadores, engenheiros, operários de linha de produção, analistas de mercado, testadores, solucionadores de problemas etc.

Tudo o que criamos por conta própria foi uma atitude desdenhosa, como a de Steve Jobs: “Nunca tivemos vergonha de roubar grandes ideias”.

6. Recursos para escolas e pensões desabam à medida que as empresas deixam de pagar impostos

Três estudos independentes entre si mostraram que as empresas pagam menos da metade do que deveriam pagar em impostos, recurso que serve como principal fonte para o fundo educacional K-12 e como parte significativa do fundo para pensões. Mais recentemente, o relatório “A Base Tributária Corporativa está Desaparecendo” mostrou que a porcentagem dos lucros corporativos paga como imposto de renda ao Estado diminuiu de 7% em 1980 para 3%, atualmente.

7. Empresas sediadas nos EUA pagam a maior parte de seus impostos no exterior

O Citigroup recebeu 42% de seus lucros entre 2011 e 2013 na América do Norte (quase tudo nos EUA), tendo gerado US$32 bilhões de lucro, mas recebeu benefícios no imposto de renda ao longo de todos esses três anos.

A Pfizer teve 40% dos seus lucros entre 2011 e 2013 e quase metade de seus ativos físicos nos EUA, mas declarou quase US$10 milhões de prejuízo nos EUA, e, ao mesmo tempo, US$50 bilhões em lucros no exterior.

Em 2013, a Exxon tinha cerca de 43% de sua gestão, 36% das vendas, 40% de seus ativos de longa duração e entre 70 e 90% de seus poços produtivos de petróleo e gás nos EUA; no entanto, a empresa pagou apenas 2% de seu lucro total em impostos ao Estado americano, com a maior parte da quantia sendo paga sob a forma do que se chama de valor tributável “teórico”.

8. Funcionários de restaurantes não recebem aumento há mais de 30 anos

Uma avaliação feita por Michelle Chen mostrou que o salário mínimo para funcionários que recebem gorjeta é de US$2,00 a hora desde 1980. Ela também observa que 40% destes trabalhadores são pessoas negras, e cerca de dois terços são mulheres.

Texto originalmente publicado em Common Dreams, site independente de notícias que prioriza informações para o bem comum, criado em 1997, nos Estados Unidos. 

Tradução: Samuel Edição: Pragmatismo Político

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“UM OLHAR SOBRE CUBA” FALA DA REVOLUÇÃO CUBANA EM TOM PESSOAL




Em cartaz no MIS até 10 de agosto, "Um Olhar sobre Cuba" reúne fotos, cartazes e outros documentos de jornalista que trabalhou no aniversário da Revolução

Contra a polarização que ronda a ilha de Cuba, há um caminho a ser tomado: procurar toda a informação que não circula pelas vias tradicionais, escutar os cubanos e suas histórias, visitar o país. É essa, sem dúvida, a maneira mais eficiente de se aproximar de uma realidade cheia de matizes frequentemente ignorados pelos extremos políticos e pela imprensa.

Para quem não tem planos imediatos de viajar pra lá, uma dica é visitar a exposição “Um olhar sobre Cuba”, que desde o início de julho está em cartaz no Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo – e lá permanece até 10 de agosto, com entrada gratuita. Trata-se de uma pequena mostra curada por Rose Carvalho, uma brasileira que residiu em Cuba por dois anos na década de 80 e que atuou como assessora de imprensa na divulgação do evento comemorativo de 30 anos da Revolução Cubana.

O leitor mais desconfiado concluirá que já conhece essa história. Mas, não se trata de escolher lados – e, sim, de conhecer um deles.

O trunfo do material exposto, além de ser inédito, é que ronda a memória particular: são coisas que Carvalho foi ganhando, reunindo, guardando e que fazem um retrato pessoal de sua experiência. Fala-se de Cuba através de 37 fotos, 21 cartazes, quatro livros e dois vídeos inéditos que revelam aspectos da vida política e cultural cubana com certa admiração e afeto, mas também com a nostalgia de um tempo que já passou – o que torna tudo mais interessante. O MIS topou abrigar essa história e, em meio à agitada programação da casa, ela está conquistando boa visitação.

Rose Carvalho, paulistana, foi jornalista, relações públicas, agitadora cultural e assessora de imprensa ligada ao cinema – pioneira na área no Brasil e que, por essa tarefa, foi parar na ilha, envolvida com o Festival Internacional de Cinema de Havana. Sobre o evento, ela conta: “A Revolução Cubana, pra mim, foi o maior acontecimento político-social da América Latina no século XX. A revolução está fazendo 55 anos e foi uma forma de mostrá-la. A exposição é multimídia, com materiais da revolução e pós-revolução”.

Na foto: Che Guevara e a esposa, Aleida March (Foto: Rose Carvalho)

Camila Moraes, Opera Mundi, em Pragmatismo Político

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