domingo, 31 de março de 2013

PINOCHET E A CIA SÃO RAPTORES E ASSASSINOS. MPLA-EDUARDO DOS SANTOS O QUE É?



António Veríssimo

CHEGA DE TOLERÂNCIA!

Há momentos em que a esperança e/ou a sensatez nos aconselha a ser tolerantes e que só reajamos enérgicamente perante crimes intoleráveis. Creio que é este o caso que aqui vem e vai dar corpo a este texto e à opinião de quem constata que por mais que queira acreditar na sabedoria e vontade da elite política angola que anuncia conduzir Angola à justiça, liberdade e democracia, mais não tem feito que exatamente o contrário. Apesar de terem ocorrido eleições (ditas fraudulentas) o regime angolano mostra-se sanguinário e assassino, antidemocrático e corrupto, desprezível como qualquer regime do género, de Hitler a Staline, de Pinochet dos anos 70 à CIA de antes e da atualidade. Os factos, as evidências, comprovam-no. Chega de tolerância!

É chegada a hora de a esperança e a sensatez dos que assistem ao que acontece em Angola não dispensarem mais um minuto que seja de credibilidade ao regime do MPLA de José Eduardo dos Santos. Haverá dentro do MPLA outro MPLA que anseie por justiça e democracia? Oxalá que sim. Este, o que domina e amordaça Angola, está putrefacto. Tanto ou mais como estava o de Pinochet. Tão corrupto ou mais quanto  estava a camarilha de ladrões, corruptos e assassinos que recheava a elite da ex-União Soviética ou da RDA. São os maiores traidores dos trabalhadores porque dizendo-se pelo povo, pelo operariado e pelos campesinos, mais não fazem que enganar e enriquecer através dos roubos, fazendo-se perdurar reprimindo e assassinando aqueles que neles acreditaram, que lhes deram a oportunidade de tomarem o poder que só muito dificilmente largam. Quase sempre através da revolta. Revolta que alastra de dia para dia - no caso de Angola. Algumas vezes essa revolta trás ainda mais desgraça, até que o pó assente. Trás guerras fratricidas  trás mais fome, mais miséria para os povos... Porém, depois disso, também pode trazer a tal justiça e democracia dos anseios das maiorias exploradas e oprimidas. Cedo ou tarde acontece.

Não será um cenário desses o desejável para o povo angolano - o de mais lutas fratricidas, mais fome, mais miséria. Mas a ganância da elite angolana parece a isso querer conduzir se não lhes permitirem ser detentora do regime que mascara com eleições (dúbias), algumas obras (onde também rouba) e outras negociatas ditas "boas para Angola" mas cujos lucros correm céleres para bancos no estrangeiro ou para investimentos no estrangeiro deste ou daquele general, deste ou daquele "compadre" do regime, deste ou daquele ladrão ou corrupto que adula os cifrões mais que as pessoas, muito mais que os seus compatriotas.

LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO, RAPTOS, DESAPARECIMENTOS... ASSASSÍNIOS

Foi ontem que em Luanda o regime mascarado de democrata pôs em prática a proibição de liberdade de manifestação. De facto um grupo de jovens contestatários do regime MPLA-Eduardo dos Santos que se queria manifestar com a exigência de o governo dar resposta ao paradeiro de dois jovens "desaparecidos" há quase um ano, se viu na impossibilidade de se manifestar. Até de se juntarem no local autorizado anteriormente. Das narrações do sucedido corre muita tinta pela imprensa, na blogosfera, e nas alternativas sociais da internet (Facebook e Twitter). Nem merece aqui recapitular, no Página Global também é possível ver. Importa, isso sim. Fazer notar que em Maio do ano passado dois jovens pacíficos ativistas contestários do tenebroso regime angolano desapareceram sem deixar rasto. O que em Angola pode ter por significado terem sido raptados por mastins do regime que lhes acabaram com a vida e lhes deram sumiço. Os piores cenários devem ser admitidos. 

Se nos recordarmos que é corrente em Angola contestatários do regime desaparecerem e mais tarde aparecerem feitos cadáveres, ficando tudo e todos impunes, também no caso dos referidos dois jovens - Isaías Cassule e António Alves Kamulingue - devemos admitir o pior cenário. E até que nem sequer apareçam os seus restos mortais porque os regimes e os assassinos que trazem a soldo vão ficando cada vez mais refinados na tentativa do crime perfeito. Quem foi? Foi o regime do MPLA-Eduardo dos Santos? Não?

O regime fascista de Pinochet, tendo por cúmplice os EUA, também dizia que não. A CIA também dizia que não... Outros regimes criminosos, totalitários ou mascarados de democratas, também disseram que não... Mais tarde vem sempre a comprovar-se sim, que são sanguinários e incontidos assassinos dos povos.

Entre outros, Pinochet e a CIA são considerados raptores e assassinos. O regime MPLA-Eduardo dos Santos o que é?

Polícia deteve 18 pessoas na concentração antigovernamental em Luanda




Lusa - ontem

Luanda, 30 mar (Lusa) - A polícia angolana deteve hoje 18 pessoas em Luanda, durante uma tentativa de concentração para uma manifestação antigovernamental, disse à agência Lusa Mbanza Hamza, da organização.

A ação foi convocada pelo autodenominado Movimento Revolucionário (MR) para protestar contra o desaparecimento de dois jovens angolanos, a 27 de maio do ano passado, quando tentavam organizar uma ação reivindicativa de ex-militares.

Os dois jovens, Isaías Cassule e António Alves Kamulingue, nunca mais foram vistos e o MR e as famílias exigem que sejam dadas explicações.


Nota Página Global

A polícia angolana fez posteriormente um "acerto" a seu modo sobre os cidadãos que deteve e declarou que somavam 12. Pouco importa o que a polícia angolana possa declarar porque a confiança nela depositada pelos angolanos e pelos cidadãos do mundo que acompanham a sua evolução criminosa já não lhe dispensam crédito, nem à polícia nem ao regime criminoso do MPLA e de José Eduardo dos Santos. JES e o MPLA estão a ultrapassar em muito e há muito tempo o crédito e a tolerância possível de dispensar por Estados e pessoas de bem. Entretanto no final da tarde de ontem os detidos foram libertados. Parece que todos, mas a informação carece de confirmação por organismo independente. (Redação PG-AV)

Angola: POLÍCIA PRENDE TESTEMUNHA DE RAPTO DE ATIVISTA




Coque Mukuta – Voz da América, 27.03.13

Jovem preso estava na companhia de Isaías Cassule quando este foi raptado e desapareceu.

Foi detido na manhã desta Quarta-feira o jovem Alberto António dos Santos, que assistiu ao rapto do activista Cívico Isaías Cassule no dia 29 de Maio do ano passado quando tentava organizar uma manifestação em apoio aos ex-militares.

Foi detido na manhã desta Quarta-feira o jovem Alberto António dos Santos, que assistiu ao rapto do activista Cívico Isaías Cassule no dia 29 de Maio do ano passado quando tentava organizar uma manifestação em apoio aos ex-militares.

Cassule desapareceu juntamente com outro activista, Alves Camulingue.

A polícia diz  estar a investigar o caso , mas Alberto Santos afirmou recentemente à Voz da América que nem a polícia nacional nem qualquer outro membro do executivo angolano o tinha contactado para prestar qualquer declaração sobre o alegado rapto de Isaías Cassule.

Alberto dos Santos foi hoje detido pelos elementos da Direcção de Investigação Criminal, disseram familiares.

“Os homens se apresentaram como se fossem da DNIC, algemaram e levaram-no num carro azul escuro de marca Nissan”  disse José Rodrigues Baião, parente do jovem Alberto António dos Santos que testemunhou ao alegado rapto de Isaías Cassule.

A Voz da América soube do Comandante Geral da polícia Nacional Ambrósio Lemos que o Alberto António dos Santos encontra-se detido da Direcção Nacional de Investigação Criminal.

Questionado se já alguma vez o jovem Alberto António dos Santos teria recebido alguma notificação para responder a chamada das autoridades José Rodrigues Baião disse que isso nunca tinha acontecido.


Luaty: Em Angola 'mudança é irreversível e não depende de eleições ou regimes fraudulentos'




Diário Liberdade - 29 Março 2013

Angola - Diário Liberdade - O jornalista Greg Scruggs entrevistou Luaty Beirão para o Diário Liberdade. Músico angolano crítico com o regime do seu país, em inúmeras ocasiões tem denunciado sofrer repressão pelo seu ativismo político. Luaty, de nome artístico 'Ikonoklasta', responde sobre as passadas eleições em Angola.

A 31 de agosto de 2012, angolanas e angolanos foram às urnas, teoricamente para escolher presidente. O atual presidente José Eduardo dos Santos (MPLA) foi vencedor.

O jornalista Greg Scruggs entrevistou Luaty Beirão para o Diário Liberdade. Músico angolano crítico com o regime do seu país, em inúmeras ocasiões tem denunciado sofrer repressão pelo seu ativismo político. Luaty, de nome artístico 'Ikonoklasta', responde sobre as passadas eleições em Angola.

Greg Scruggs - A União Africana declarou que as eleições foram "livres e justas."  Você concorda?

Luaty Beirão - Não. De maneira nenhuma.

GS - Por que o presidente ganhou com tantos votos -bem acima do partido de oposição?

LB - No meu entender, o MPLA ganhou estas eleições da única maneira que sabe ganhar: recorrendo à fraude! O MPLA está no poder desde 1975 e tem controle sobre todas as estruturas de Estado e mesmo daquelas que devem por definição ser independentes. A CNE, uma dessas estruturas e por sinal a responsável pela organização e realização do processo eleitoral, esteve desde o início a revelar o seu posicionamento parcial, favorecendo o partido no poder. Para citar apenas um caso flagrante, a Presidente dessa Comissão, uma conhecida responsável do braço feminino do MPLA, foi nomeada ao arrepio da lei. Depois de manifestações exigindo a sua demissão,  nomeada para ocupar aquele ca. De acordo com a Constituição imposta pela maioria absoluta do MPLA, o presidente é eleito de forma indireta, andando à reboque do partido. A explicação para os resultados é única: Fraude!

GS - Como foram manipuladas as eleições, na sua opinião?

LB - Desde o início do processo que o MPLA, usando a CNE como capa, se desviou do espírito da Lei Geral Sobre as Eleições, aprovada em Dezembro de 2011, sem que fosse chamado à responsabilidade, de forma totalmente impune. Quando os partidos da oposição denunciassem esses desvios, a CNE não só não os avaliava de forma isenta, como acusava esses partidos de má-fé e anti-patriotismo. Houve uma recolha anarquica de cartões eleitorais por todo o país meses antes das eleições, não se obedeceram os prazos para publicação dos cadernos eleitorais que permitiria aos eleitores reclamarem, não foram credenciados nem os delegados de lista dos partidos da oposição nem os próprios formandos da CNE até horas antes da eleições, os tempos de antena na televisão e rádio nacional (estatais) eram atribuídos por excesso e de forma abusiva ao MPLA, entre dezenas de outras arbitrariedades que se acumularam para facilitar a fraude. O resultado? Uma taxa de abstenção que triplicou em relação as eleições de 2008 que para ser explicada terá de se entender a influência do MPLA em todos os bairros, vilas, aldeias do país. A recolha de cartões foi feita em zonas identificadas como sendo de influência da UNITA, principal partido da oposição. Milhares de pessoas reclamaram furiosas por terem sido colocadas para votar em zonas distantes das suas residências, até em províncias diferentes, distando acima de 1500 Km das zonas de onde vivem. Isso não foi casualidade. Eu pessoalmente trabalhei com um coletivo de pessoas numa plataforma de monitoração eleitoral e recebemos centenas de telefonemas de eleitores denunciando um sem número de irregularidades. Elas podem ser acompanhadas na íntegra no site eleicoesangola2012.com

GS - Qual foi o espírito geral do povo em relação às eleições? Acredita que uma democracia de verdade está chegando ou que tem outros motivos para ter uma eleição assim agora?

LB - Eu não posso falar em nome de todo o povo angolano, mas tendo em conta aqueles que gravitam na nossa esfera, que acorreram à nossa plataforma para reclamar no dia das eleições, que têm ligado para nós no programa que temos na rádio, fica-me a impressão que os cidadãos estão profundamente magoados e insatisfeitos com as trafulhices mal dissimuladas e sentem-se defraudados, pela terceira vez. Democracia não será implementada por um governo que continua a ter maioria absoluta no parlamento e com uma oposição de brincadeira como a que nós temos, que não conseguem sequer ter ações consequentes e coerentes com os seus discursos.

GS - Qual vai ser o efeito da eleição sobre liberdade de expressão e de partidos políticos da oposição na Angola?  Como foram tratadas as pessoas críticas com o governo depois dos resultados?

LB - A mudança é irreversível e não depende nem das eleições, nem dos regimes fraudulentos que deles emanam. A juventude despertou e não mais estará disposta a calar-se, por mais que nos batam, que nos fraturem cabeças, que nos metam cocaína na bagagem, que nos raptem, que nos assassinem. A democracia está a ser imposta por nós, sociedade civil, e os governos irão ter de se vergar às vozes dissonantes porque só com outro 27 de Maio (o genocídio perpretado pelo MPLA em 1977 que aniquilou duas gerações de intelectuais angolanos) poderão ter um reinado tranquilo.

Foto: Lusohiphop - Luaty Beirão

Aventura: DE PORTUGAL AO BRASIL, SOZINHO NUM BARCO A REMOS





José Tavares não treinou o sufi­ciente.  Não é pos­sível praticar o sufi­ciente para a prova que vai ini­ciar. É ver­dade que já via­jou de caiaque, soz­inho, de Lis­boa ao Algarve, em sete dias. Foi um bom treino, mas sem qual­quer semel­hança com o que o espera agora. Deu a volta à ilha da Madeira em caiaque, remou 114 quilómet­ros no Tejo, mas não é a mesma coisa. Atrav­es­sou os Andes a pé, de caiaque e de bici­cleta. Cru­zou a Flo­resta Negra e o Alto Atlas, escalou o Kil­i­man­jaro e os picos mais altos dos Pir­inéus, Andes, Cáu­caso e Alaska. Subiu a vul­cões, deu a volta ao mundo num navio. Nos Himala­ias, chegou a estar fechado numa tenda, soz­inho, durante vários dias, par­al­isado pelo frio. Tam­bém isso foi um treino útil. “Há cer­tas semel­hanças entre a mon­tanha e o que vou fazer agora”, explica ele. “A comida é a mesma”.

E tam­bém lá, nas alti­tudes geladas, não é pos­sível pre­ver as situ­ações de emergên­cia, nem treinar para elas. “Ninguém treina a queda de uma mon­tanha”. No mar, ninguém treina a exper­iên­cia de uma tem­pes­tade. “Só se me metesse numa máquina de lavar roupa”.

José Tavares tem prat­i­cado reg­u­lar­mente o remo, no Clube Naval de Lis­boa, que apoia o seu pro­jecto. Mas o treino mais impor­tante é men­tal. “Imagino-me durante a viagem. Tento viver as situ­ações men­tal­mente. Até em sonhos”.

É por esse método que José Tavares tem ante­ci­pado alguns dos prob­le­mas, e as for­mas de os resolver, ou supor­tar. Condicionou-se ao ponto de son­har com a viagem, para lhe poder sen­tir o pulso, pre­ver os con­tratem­pos inte­ri­ores, que são os mais perigosos. Os efeitos da solidão: a depressão ou a eufo­ria, perder forças e a von­tade de con­tin­uar, ou come­ter lou­curas, provo­cadas pelo deslum­bra­mento ou excesso de confiança.

Na preparação da viagem, José Tavares reuniu uma equipa de apoio que inclui téc­ni­cos de remo, um nutri­cionista, etc. Ten­tou incluir tam­bém um psicól­ogo ou um psiquia­tra. Mas não con­seguiu nen­hum. Os espe­cial­is­tas da mente confessaram-se imprepara­dos para a situ­ação. Não há ciên­cia sufi­ciente para isto, explicaram alguns. Out­ros sim­ples­mente não respon­deram aos emails nem aten­deram o telefone.

Para dar espaço e tempo ao impon­derável, tudo o que pode ser preparado foi-o ao por­menor. O barco de remo oceânico, azul e branco, arredondado, tubu­lar e extrav­a­gante como uma nave de Julio Verne, pesa cerca de 500 quilo­gra­mas. José comprou-o por 23 mil euros a um amer­i­cano que fez com ele a trav­es­sia das Caraíbas. Foi con­struído em 2009, chama-se Paraguaçu e tem duas cab­ines, cober­tas, uma, à proa, para dormir e des­cansar, e outra para guardar os man­ti­men­tos e a água. Um dos com­par­ti­men­tos é estanque, per­mitindo o refú­gio de trip­u­lante, man­ti­men­tos e equipa­mento no caso de o mar invadir toda a embar­cação. Até mesmo se ela virar.

A viagem, que terá cerca de 5 mil quilómet­ros, dev­erá durar 112 dias. Incluirá uma par­agem em Cabo Verde e talvez outra no arquipélago de Fer­nando Noronha. Uma primeira escala ocor­rerá em Mar­ro­cos, de onde se fará a ver­dadeira par­tida, junto ao Cabo Bojador, como Gil Eanes. A rota foi traçada, e alter­ada várias vezes, por ami­gos matemáti­cos, com base na exper­iên­cia de anti­gos nave­g­adores. Prin­ci­pal­mente o outro aven­tureiro que fez um per­curso idên­tico, Alex Bellini. Em 2005, o ital­iano via­jou de Génova a For­t­aleza em 226 dias, num barco a remos. Cru­zou o Mediter­râ­neo e depois o Atlân­tico, numa viagem de 10 mil quilómet­ros que fez dele uma estrela no mundo dos aventureiros.

José foi falar com ele. Dis­cu­ti­ram cor­rentes e ven­tos, obstácu­los e tem­pes­tades. A ideia ini­cial era copiar o mais pos­sível a tra­jec­tória de gago Coutinho e Sacadura Cabral, que há 90 anos atrav­es­saram o Atlân­tico de avião. Mas Bellini sug­eriu algu­mas alter­ações. As cor­rentes puxam da linha do Equador para Norte, na direcção do Golfo do Méx­ico, disse ele. Será mel­hor, por­tanto, seguir mais junto ao Equador.

O estudo das cor­rentes é fun­da­men­tal, porque serão elas, em grande medida, que levarão o barco pela rota dese­jada. Mas tam­bém o podem desviar, ou trazer para trás. Por vezes será pre­ciso recuar, para retomar o rumo aprovei­tando outra cor­rente, mais favorável. Os ven­tos tam­bém podem arras­tar a embar­cação no sen­tido errado. Nesse caso, José usará a “âncora” para ficar imóvel, até que a bor­rasca acalme. Não uma âncora con­ven­cional, porque o mar é, naque­las zonas, demasi­ado pro­fundo, mas um sis­tema baseado numa espé­cie de pára-quedas. Prin­ci­pal­mente na zona do Equador, há ven­tos e cor­rentes de sen­tido con­trário, que obri­garão o Paraguaçu a nave­gar para trás.

Está pre­visto que as cor­rentes e os ven­tos con­tribuam com um terço da força motriz necessária. O resto terá de fazer-se com os remos. José ten­ciona remar dez horas por dia, em média, o que rep­re­sen­tará um esforço supe­rior ao que alguma vez terá feito na vida. Em ter­mos mera­mente físi­cos, tudo isso está cal­cu­lado: impli­cará o con­sumo de mais calo­rias do que as 4 mil que con­seguirá ingerir por dia. Por isso está pre­visto um ema­grec­i­mento de 10 a 15 qui­los, ape­sar da enorme quan­ti­dade de comida liofil­isada que via­jará no Paraguaçu, jun­ta­mente com bar­ras energéti­cas, fru­tos secos, choco­lates, leite con­den­sado, tostas, coca-cola. Ao todo, mais de 200 qui­los de man­ti­men­tos. E 150 litros de água potável, como recurso de emergên­cia, para o caso de avaria do dessalin­izador de água do mar por osmose.

O Paraguaçu tem dois pares de remos e está equipado com dois painéis solares e duas bate­rias, que fornecerão ener­gia eléc­trica para o GPS, instru­men­tos de nave­g­ação e de comu­ni­cações, incluindo o com­puta­dor e tele­fone de satélite com que José enviará as suas cróni­cas para o Público.

Há tam­bém um leitor de MP3, um fogão eléc­trico e uma chapa para grel­har, caso o via­jante tenha tempo e sorte para pescar à linha algum peixe no alto mar. Não está a con­tar com isso. Se suceder, será um momento de festa. Tal como quando avis­tar golfin­hos, se cruzar com algum veleiro de aven­tureiros, ou quando atrav­es­sar a linha do Equador. Aí, José vai abrir uma cerveja para comem­o­rar. Leva algu­mas, para essas ocasiões espe­ci­ais, em que fará uma festa no barco.

Os man­ti­men­tos estão cal­cu­la­dos para garan­ti­rem a sobre­vivên­cia durante 140 dias, sen­sivel­mente mais um mês do que o tempo pre­visto para a viagem. Uma margem de segu­rança demasi­ado pequena para abar­car todo o tipo de emergên­cias que podem ocorrer.

Antes de mais, as tem­pes­tades. A época não dev­erá ser propí­cia às grandes tem­pes­tades trop­i­cais, mas há out­ras, de tipo difer­ente, que podem revelar-se igual­mente perigosas — cur­tas intem­péries de meia hora, que não atingem terra e não chegam a ser noti­ci­adas nas tele­visões, mas são mais do que sufi­cientes para engolirem um barco a remos. As ondas podem fazer virar o barco,  afundá-lo, ou sim­ples­mente enche-lo de água.

Além disso, há o perigo de choque com um navio de grande porte. Ape­sar dos sis­temas elec­tróni­cos de nave­g­ação, a dimen­são reduzida do Paraguaçu pode torná-lo invisível aos radares.

As baleias tam­bém não cos­tu­mam dar boa sorte. Não que sejam agres­si­vas, mas porque podem afun­dar o barco com um golpe de bar­batana, ou ao emer­girem. “Não con­vém pas­sar por cima delas”, explica José.

Os tubarões, prin­ci­pal­mente o tubarão-tigre, podem causar danos no barco, ao roçarem o leme, o patil­hão ou o casco. Na sua prox­im­i­dade, é tam­bém acon­sel­hável não tomar ban­hos de mar, emb­ora isso não pre­ocupe José: “Se hou­ver peixes em redor do barco, sig­nifica que não há tubarões”.

Um perigo muito maior são os con­tentores à deriva. Os navios de carga per­dem muitos con­tentores nas suas via­gens. Os enormes caixotes de aço ficam espal­ha­dos pelo oceano, flu­tuando, com a maior parte da super­fí­cie sub­m­ersa, como ice­bergs. É muito difí­cil distingui-los, prin­ci­pal­mente à noite, e o choque com um destes mon­stros pode sig­nificar a destru­ição do barco, ou um rombo no casco que o faria afundar.

Há no Paraguaçu uma boa caixa de fer­ra­men­tas, para efec­tuar qual­quer tipo de reparações, e José instalou dois cin­tos de segu­rança, para não ser cus­pido com a vio­lên­cia das ondas.

Leva a bordo equipa­mento de rádio que lhe per­mi­tirá pedir ajuda em caso de emergên­cia. O sis­tema EPIRB (Emer­gency Position-indicating Radio Bea­cons) fun­ciona com satélites e activa oper­ações de sal­va­mento e res­gate, que podem no entanto demorar horas ou dias a chegar, e ser demasi­ado tarde. O mel­hor por­tanto é não con­tar com isso, e estar alerta. Sem­pre alerta. Dormir é um risco. José Espera con­seguir fazê-lo umas 5 ou 6 horas por dia, não seguidas. Algu­mas durante a noite e out­ras à tarde, em forma de sesta. Mas será sem­pre um sono leve, não vá ser inter­rompido por algum contentor-iceberg, uma baleia ou uma tempestade.

Ao fim de alguns meses, esta rotina poderá gerar um imenso cansaço, físico e psi­cológico. Poderá perder-se a capaci­dade de remar, ou pior, a von­tade de o fazer. O esgo­ta­mento pode levar a uma letar­gia, um estado em que se perde a moti­vação para fazer tudo. Haverá então de pôr em prática cer­tas téc­ni­cas moti­va­cionais. Será pre­ciso reca­pit­u­lar as razões que o levaram a par­tir. Na cab­ine de des­canso estão escritas algu­mas frases que se espera sur­tam o dev­ido efeito, no momento certo. “A dor é tem­porária, desi­s­tir dura para sem­pre” é uma dessas frases.

José sabe que a desistên­cia seria um trauma para toda a vida, e não ten­ciona esquecer-se disso. Porque num empreendi­mento destes não há segun­das ten­ta­ti­vas. “Se fal­har, nunca mais volto a ten­tar fazer isto. Ou se con­segue ou não. Não haverá mais opor­tu­nidades. Com out­ras aven­turas foi difer­ente. O Monte Branco, por exem­plo, fiz três vezes. Mas isto não. É agora ou nunca. Por isso desi­s­tir seria uma der­rota, para mim próprio. Uma der­rota com que teria de viver a vida toda”.

Além de remar, de dormir e de comer (muitas vezes ao dia), José tem uma lista de tare­fas para cumprir em cada dia: ver­i­ficar os instru­men­tos, gravar notas para as cróni­cas e para o livro que está a escr­ever, e que será um ensaio sobre a solidão. Além disso, leva música para ouvir — rock dos anos 80, clás­sica e fado. E livros -  um vol­ume sobre os vul­cões da Europa e um exem­plar da Ilíada, de Homero.

José Giraldes Tavares, de 45 anos, licenciou-se em Orga­ni­za­ção e Gestão de Empre­sas, noISCTE, em 1992. Nessa altura, gostava de inve­stir na bolsa, e pen­sava que pode­ria fazer disso um modo de vida. Con­cluiu depois uma pós-graduação em Mar­ket­ing Inter­na­cional em Pforzheim, na Ale­manha, e tra­bal­hou como gestor de pro­duto e con­sul­tor de desen­volvi­mento orga­ni­za­cional em empre­sas multi­na­cionais. Fartou-se. Desilu­dido com a com­petição profis­sional, entre empre­sas e cole­gas de tra­balho, a falta de escrúpu­los e val­ores humanos, as teo­rias do lib­er­al­ismo económico, começou a fazer via­gens pelas mon­tan­has. Primeiro as por­tugue­sas, de carro, depois noutros países e con­ti­nentes. Sem­pre teve von­tade de via­jar. De colec­cionar via­gens e lugares. Gan­hou o hábito de, no final de cada ano, fazer uma lista dos países e locais vis­i­ta­dos. E desen­har os per­cur­sos nos mapas que usava. Sem­pre gos­tou de mapas, mesmo antes de saber exac­ta­mente porquê.

Aos poucos, foi-se embren­hando na aven­tura. Foi deixando o tra­balho de econ­o­mista e gestor, para se dedicar cada vez mais à orga­ni­za­ção de even­tos desportivos, de pas­seios e expe­dições. Fun­dou o Clube Expe­dição, dirigiu a empresa Active Out­doors. Foi mon­i­tor de canoagem e guia de mon­tanha. Tornou-se pro­fes­sor de esqui, activi­dade que man­tém, em Espanha, durante todo o Inverno. Acabou por aban­donar o último emprego com econ­o­mista, na Bosh. “Faltava-me a ener­gia para con­tin­uar”, diz ele. E foi escalar montanhas.

Cada vez mais altas, cada vez mais difí­ceis. “Os ricos querem sem­pre gan­har cada vez mais din­heiro. Com as mon­tan­has é a mesma coisa. Quer­e­mos sem­pre mais”. E depois as próprias mon­tan­has já não eram sufi­cientes. Não as escalou todas. É certo que falta o Ever­est, mas não ten­tou, nem planeia fazê-lo, sim­ples­mente “porque é muito caro”.

Imag­i­nou então out­ras façan­has. “A neces­si­dade de aven­tura está den­tro de nós. E pode sur­gir à super­fí­cie em qual­quer altura, em qual­quer idade, em qual­quer fase da vida”. José deixou de encarar as aven­turas como coisas estra­nhas. Pas­sou a ser a sua forma nat­ural de viver. “O con­trário, não viver em aven­tura, é que é estranho”.

Deixou de con­seguir conter-se. Quando imag­i­nava uma viagem, uma expe­dição, sabia que teria de tentá-la, mais tarde ou mais cedo. “A mel­hor maneira de tirar uma coisa da cabeça é fazê-la”.

E foi assim que decidiu atrav­es­sar o Atlân­tico a remos. “Se não fizesse isto ficaria irre­qui­eto o resto da vida”, explica ele. “Faço isto para me acal­mar — o que duvido que aconteça”.

Nos últi­mos anos, José tornou-se um estu­dioso das grandes aven­turas e aven­tureiros. Escreveu vários livros, sobre expe­dições, como o Aven­tura ao Máx­imo (Europa-América, 2008) sobre os grandes explo­radores por­tugue­ses, e Os Novos Explo­radores e a Aven­tura dos Sen­ti­dos. Começou depois a redi­gir um grande ensaio sobre a solidão, que ten­ciona con­cluir após a sua viagem transatlântica.

A trav­es­sia Portugal-Brasil a remos tem para ele, além da sig­nifi­cação pes­soal, um sen­tido político. Quer trans­mi­tir uma men­sagem ecológ­ica, através do seu próprio exem­plo. Fazer a apolo­gia da ener­gia solar e dos remos, a eco-eficiência. Quer aler­tar para os peri­gos das alter­ações climáti­cas, a destru­ição dos glacia­res e das flo­restas, apelar para a racional­iza­ção dos recur­sos energéti­cos, sem recurso a fontes de ener­gia fósseis.

Nos últi­mos anos, José Tavares tem desen­volvido uma con­cepção própria das via­gens de aven­tura e suas funções: podem ser vis­tas como “desporto de inter­venção”, servindo para lutar por diver­sas causas, onde as for­mas con­ven­cionais de acção se têm rev­e­lado inefi­cazes. É uma nova per­spec­tiva, que pode voltar a dar sen­tido às grandes via­gens. E tam­bém aju­dar a financiá-las, tornando-as possíveis.

Até mea­dos do século XX, as grandes expe­dições e via­gens destinavam-se acima de tudo a desco­brir e dar a con­hecer lugares até então descon­heci­dos, ou a onde nunca ninguém tinha ido. Muitas das via­gens tin­ham mesmo como objec­tivo aju­dar a desen­har os mapas, onde vas­tas áreas do plan­eta per­mane­ciam em branco.

Mas a meio do século XX já não havia zonas por explo­rar, e as aven­turas mudaram o seu propósito: eram agora explo­rações, sim, mas no inte­rior dos indi­ví­duos. Pas­saram a ser testes de resistên­cia indi­vid­ual, ou opor­tu­nidades para a reflexão e a exibição de qual­i­dades pes­soais, de heroísmo, capaci­dade para enfrentar e com­preen­der o descon­hecido, etc.

As via­gens solitárias começam nessa altura. Per­dem o carác­ter pio­neiro, tornam-se “aven­turas” no sen­tido sub­jec­tivo do termo. Para as realizar, era geral­mente necessário ter for­tuna pes­soal, ou uma filosofia de vida eremítica.

Recen­te­mente, surgiu um novo tipo de viagem, asso­ci­ada a causas para as quais se pre­tende chamar a atenção. A aven­tura em si serve como pre­texto para que os media abor­dem as questões de ordem política ou social que o aven­tureiro decidiu colo­car sob os holo­fotes. O objec­tivo é aler­tar a con­sciên­cia colec­tiva, através do esforço e abne­gação de um indi­ví­duo, que servirá de porta-voz per­ante os jornalistas.

Um exem­plo deste tipo de acções é o pro­tag­on­i­zado pelo sul-africano Mike Horn, que tenta levar às novas ger­ações a men­sagem de “sal­var o plan­eta”. Em 2000, fez uma viagem à volta do Equador sem usar qual­quer meio de trans­porte motor­izado, e depois criou o pro­jecto Pan­gaea, em que leva, num veleiro, jovens de todos os con­ti­nentes numa volta ao mundo. Depois de obser­varem a beleza do plan­eta, os jovens regres­sarão aos seus países como embaix­adores de uma filosofia ambi­en­tal­ista, de preser­vação da Natureza.

A viagem de José Tavares insere-se neste novo movi­mento. Sim­boli­ca­mente, no final, em Junho, José vis­i­tará a por­tuguesa Mar­garida Botelho, que está no Brasil a desen­volver um pro­jecto com tri­bos da Amazó­nia. Esse encon­tro rep­re­sen­tará o ter­mi­nus da viagem e o seu êxito, com a veic­u­lação da men­sagem que lhe está associada.

Tudo isto José ten­tou explicar a várias enti­dades e empre­sas, a quem pediu apoios e patrocínios. Ninguém se sen­si­bi­li­zou. Responderam-lhe que, com a crise, já ninguém está muito pre­ocu­pado com essas causas.

José recon­hece que isso é ver­dade, o que lhe dá mais um motivo para não desi­s­tir. “Os por­tugue­ses eram pobres. Depois pas­saram a comodis­tas”. A sua cruzada é tam­bém con­tra isso. “A viagem, a aven­tura, é uma metá­fora da vida. Vamos ter muita dor, muito sac­ri­fí­cio, muito descon­forto, para depois saborear dois ou três dias de feli­ci­dade. A vida tam­bém é assim”.

Para José Tavares, a viagem que ini­cia hoje é a “aven­tura da sua vida”. Vai usar a solidão para reflec­tir, para se por à prova, para provar a si próprio e a todos que não desiste. E para escr­ever sobre isso, con­tando que a sua exper­iên­cia e exem­plo ven­ham a ser úteis para os out­ros. Após a viagem, ten­ciona pub­licar o livro, dar con­fer­ên­cias, fazer comu­ni­cações em esco­las e min­is­trar cur­sos de moti­vação, em empresas.

A autori­dade para tudo isto vir-lhe-á do êxito da própria viagem, se ele se ver­i­ficar. Terá então provado que os seus val­ores eram cor­rec­tos e autên­ti­cos. “Para con­seguir levar até ao fim uma aven­tura destas é necessário uma grande maturi­dade e um grande con­hec­i­mento de nós próprios”. Não é um empreendi­mento para novatos. Os aven­tureiros que se lançaram em jor­nadas semel­hantes são todos homens maduros, acima dos 40 anos, e geral­mente com uma vida social e famil­iar estável, conta José. Ele próprio é hoje divor­ci­ado, mas diz que, na sua maio­ria, os seus “cole­gas” têm mul­her e fil­hos, que lhes dão todo o apoio. “Isto são coisas para gente madura. É certo que, com a idade, a força e resistên­cia físi­cas dimin­uem, mas ganha-se outro tipo de capacidades”.

É necessário tem­per­ança, humil­dade, medo, con­tenção e algum cep­ti­cismo. Não deixar que o deses­pero nos vença, mas tam­bém não nos deixar­mos dom­i­nar pela ale­gria. O excesso de con­fi­ança, ou até de feli­ci­dade, pode ser fatal.

Um dos maiores dese­jos de José é encon­trar golfin­hos. Já leu relatos de episó­dios incríveis. Golfin­hos que acom­pan­ham os bar­cos, saltam e brin­cam, como se com­preen­dessem os pen­sa­men­tos mais ínti­mos dos nave­g­adores solitários. José anseia tanto por um momento desses, son­hou tan­tas vezes com ele, que tem medo do que possa acon­te­cer. “Sei que não vou resi­s­tir a ir nadar com os golfin­hos, e posso esquecer-me do tempo e de tudo o resto, e perder-me do barco”.

É uma pre­ocu­pação real, tal como as tem­pes­tades ou os con­tentores flu­tu­antes. Os golfin­hos são tam­bém um perigo. Com seu poder de sedução, podem levar o nave­g­ador a perder-se no mar. Con­vém tam­bém estar atento a sereias e mostren­gos. Nada é impos­sível, em qua­tro meses de solidão abso­luta. José não o ignora. Tudo o que son­hou já é imenso. O que vai viver será ainda maior.

Brasil: JOGANDO DINHEIRO FORA!





Alerta para as próximas catástrofes agendadas para a Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos de 2016: montanha de dinheiro que seria humana e proficuamente bem empregado se destinado à Educação e à Saúde (desculpas ora pedidas ao frustrado nobre ideal do então Ministro Jatene) fadada ao desperdício. Então, foquemos, à guisa de insinuante paradigma, os ainda recentes Jogos Pan-Americanos (2007) para efeito de um pré-balanço dos investimentos para 2014 e 2016 tendentes ao lixo.

Daquela feita, as obras civis foram uma piada. O velódromo já foi demolido. O Parque Aquático Júlio Delamare, desativado, também está fadado à demolição. As raias do Pan, na Lagoa, uma vez danificadas, abrigam-se num contêiner.

Agora chegou a vez de o monumental Estádio João Havelange (o Engenhão – foto) ir para a berlinda, porque só custou a bagatela de 380 milhões de reais em que se inseriram as tradicionais propinas a agentes político-administrativos. Construtora Delta que o diga.

Há ou não há diferença de higidez das obras civis, se comparadas com a Torre Eiffel em Paris, com o Empire State em Nova Iorque, o com a Tower Clock (Big Ben) em Londres? Mesmo a famosa e multicentenária Torre de Pisa – ano de 1350 – na Toscana (Itália), que ainda dá de dez a zero em nossos pseudo-monumentos?

Não somos mesmo um País sério: Compare-se o socorro do ufanista programa “ minha casa, minha vida ” em pretenso favor dos flagelados das intempéries fluminenses do ano passado: casebres de alvenaria foram, com foguetório, entregues àquelas vítimas que agora choram sob a ameaça do novo flagelo anunciado pelas extensas e largas rachaduras de suas casas apadrinhadas pelo Governo através da Caixa Econômica!

Para quem tem padrinho assim, é melhor morrer pagão.

Texto publicado no Jornal Grito Cidadão.

*Moacyr Rosado é advogado e mora em Vitória/ES. rosadoadv@hotmail.com

TENÓRIO, OPERAÇÃO CONDOR E ROSA MARIA




À Carta Maior, a advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha (foto), designada para a Comissão da Verdade pela presidenta Dilma, relata investigação a respeito do sequestro e desaparecimento do pianista Francisco Tenório Cerqueira Jr., que acompanhava Vinícius de Moraes em sua turnê argentina em 1976. Episódio aponta cumplicidade entre marinha argentina e antigos membros do Itamaraty dentro da Operação Condor, que tem outros 10 casos de vítimas brasileiras invetigados pela comissão.

Dario Pignotti – Carta Maior

Brasília – O sequestro e desaparecimento do pianista que acompanhava Vinícius de Moraes durante sua turnê argentina nos últimos dias do verão de 1976 reforça a tese de que a Operação Condor falava em português e possivelmente mais do que se suspeita. 

É o que afirmou para Carta Maior a advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha, designada para a Comissão da Verdade pela presidenta Dilma Rousseff. Ela investigou o capítulo verde-amarelo do terrorismo sul-americano e interrogou longamente o argentino Claudio Vallejos, ex-agente da Marinha argentina que na quinta-feira (28) foi deportado à Argentina custodiado por efetivos da Interpol.

A lei de (auto) anistia vigente, promulgada pelo ditador João Baptista Figueiredo, não permite que o Brasil processe seus próprios "condores" nem Vallejos pela desaparição do pianista Francisco Tenório Cerqueira Júnior, mas nada impede que o faça a Justiça de Buenos Aires que agora poderá interrogar o repressor argentino.

E talvez comece a reconstruir a desaparição do pianista, um caso repleto de indícios sobre a cumplicidade entre a marinha argentina e antigos membros do Palácio Itamaraty.

"Vallejos depôs durante horas e horas diante da Comissão da Verdade, o escutamos em Brasília e viajamos a Florianópolis, onde estava preso. Queríamos acompanha-lo porque é um personagem que esteve envolvido, isto é o que ele diz, no sequestro do pianista Francisco Tenório Cerqueira Júnior, no dia 18 de março de 1976. O sequestro é um dos 11 casos de brasileiros vítimas da Operação Condor na Argentina que nós estamos investigado com muito interesse na Comissão”.

“E falou bastante da conexão repressiva entre o Brasil e a Argentina durante os anos da Operação Condor”, conta Cardoso da Cunha à Carta Maior.

O "Gordo" Vallejos fugiu para o Brasil presumivelmente no começo dos anos 80, em 1986 fez uma longa confissão de seu passado marinheiro à revista Senhor, publicada em duas edições, na qual formulou várias afirmações que repetiu no final de 2012 diante da comissão criada pela presidenta e ex-presa política Dilma Rousseff. 

Enganador e estelionatário, Vallejos deu vários golpes em estados do sul do Brasil até que, no começo de 2012, caiu preso acusado de estafa.

Quando a Embaixada argentina tomou conhecimento do caso enviou um diplomata até a prisão de Xanxerê, um modesto presídio para presos comuns de pouca periculosidade, para constatar que se tratava do repressor Vallejos.

Pouco depois de confirmar a identidade do detido, apresentou ao governo brasileiro o pedido de extradição, aprovado pelo Supremo Tribunal Federal e executado na quinta-feira.

– Vallejos participou no assassinato do pianista?

– Ele nos disse que não torturou o prisioneiro e disse claramente que nem sequer assistiu a sua execução, que foi com um tiro depois de ser submetido a várias sessões de tortura.

Claudio Vallejos fez um relato bastante detalhado, embora muitas vezes voltasse atrás e se desdissesse, da noite do dia 18 de março, quando (o pianista) Tenório, depois de uma apresentação com Vinícius, sai do hotel portenho para comprar algo em uma farmácia, a polícia o vê com aspecto estranho, meio de "subversivo", disse Vallejos, por sua barba e aspecto desalinhado e pela pressa.

Vallejos nos contou que neste dia ele estava participando em uma operação da ESMA (Escola de Mecânica da Armada, um centro de reclusão clandestino onde foram assassinados ou desaparecidos cerca de 5.000 militantes contrários à ditadura).

Narrou que se encontrava no centro de Buenos Aires quando recebeu a ordem de recolher um suspeito preso em uma delegacia, não sei se disse a delegacia 39 ou 40, ou outro número. Uma vez na sede da polícia, Vallejos se apresenta como alguém dos serviços secretos e a polícia lhe entrega Tenório, que é trasladado por ele para a ESMA onde chega com vida e sem ser machucado, segundo diz Vallejos.

– O chefe da Marina, comandante Emilio Massera, foi informado?

– Vallejos disse que Massera foi informado de tudo o que ia acontecendo com o pianista Tenório passo a passo até sua morte, que teria acontecido no dia 25 de março de 1976.

– A embaixada brasileira em Buenos Aires soube?

– Segundo o que nos disse Vallejos foi informada mais de uma vez e, continuo me baseando no que disse o argentino, pessoas da embaixada estiveram na ESMA.

– Isto foi quando o pianista Tenório ainda estava com vida?

– Ele disse que sim e que, inclusive, chegaram a entregar aos torturadores uma minuta com perguntas sobre o movimento de músicos contestadores que havia no Rio de Janeiro naquela época, onde estava Chico Buarque e mais gente contrária à ditadura. 

– Acha que houve participação ou omissão de alguns diplomatas?

– Não sei com certeza, para nós será de muita utilidade o que investigue a Justiça argentina para poder chegar à verdade dos fatos. E se a justiça nos pede podemos enviar uma cópia do que Vallejos falou conosco.

– A Comissão da Verdade está informada do CIEX (Centro de Informações no Exterior da Chancelaria)?

– Tivemos conhecimento do CIEX.

A resposta de Rosa Maria Cardoso da Cunha é telegráfica, talvez para evitar tecer comentários precipitados sobre o Centro de Informações no Exterior, uma rede de espionagem internacional a serviço da ditadura, surgida no final dos anos 60 e que se poderia caracterizar como o braço diplomático da Operação Condor brasileira.

Embora os depoimentos do "Gordo" Vallejos devam ser tomados como vindo de quem vem, não é aconselhável subestimá-los totalmente porque podem conter alguma informação verdadeira, e isto é o que parece ter entendido a Comissão da Verdade brasileira ao interrogá-lo duas vezes.

Parte de seu testemunho relativo a cumplicidade ou omissão da Embaixada do Brasil encaixa com informações obtidas por jornalistas sérios e especializados na Operação Condor, como Stella Calloni.

Ela escreveu há 13 anos no diário La Jornada do México que documentos encontrados nos arquivos da polícia política brasileira, o DOPS (Direção de Ordem Política e Social) se referem a uma mensagem dirigida pela ESMA à embaixada brasileira informando sobre o falecimento do pianista Tenório, sequestrado e torturado desde 18 de março.

Há uma semana, a Comissão da Verdade recebeu um pedido para que se esclareçam as verdadeiras causas da morte do ex-presidente João Goulart, no dia 6 de dezembro de 1976, durante seu exílio na Argentina.

A ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes, admitiu pela primeira vez que o ex-mandatário derrubado pelo golpe de 1964 pode ter sido assassinado e que o tema merece uma investigação.

Há dois anos seu filho, João Vicente Goulart, em uma entrevista com este repórter fez uma declaração que se torna interessante agora, quando recobra atualidade a trama da Operação Condor e a morte do pianista Tenório durante sua turnê com Vinícius e Toquinho.

"Nós, a família Goulart, temos certeza que nosso pai foi vítima de uma conspiração da Operação Condor tramada pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Estados Unidos" afirmou João Vicente Goulart.

E arrematou: "Eu acumulei muita informação, documentos, e sempre suspeitei dos movimentos na Embaixada de Buenos Aires e seu nexo com a Operação Condor. Conto-lhe uma: nos meses prévios à morte de meu pai havia um número inaudito de adidos militares na Embaixada, e a maioria se deslocava utilizando armas. Alguém terá que explicar algum dia essa história e averiguar a que se dedicavam tantos adidos militares nesses anos da Operação Condor".

Tradução Liborio Júnior

Brasil: LUIS FERNANDO VERISSIMO PEDE PUNIÇÃO AOS CONIVENTES COM A TORTURA





Veríssimo menciona depoimento do ex-marido de Dilma à Comissão da Verdade, que “lembrou a participação de empresários na repressão” praticada durante a ditadura militar; “pode-se punir militares torturadores, mas o papel conivente da Oban e da Fiesp permanecerá esquecido no passado”

O escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo pede, em artigo publicado no jornal O Globo nesta quinta-feira, punição a quem foi conivente com a tortura praticada durante a ditadura militar. E não apenas nesse episódio, mas também no esquema montado por PC Farias para canalizar todos os negócios com o governo através de sua firma, o que acabou derrubando o ex-presidente Fernando Collor. Nos dois casos, o mesmo silêncio do empresariado. A analogia, diz Veríssimo, só é falha porque não se compara empresários que gozam vendo tortura e que querem apenas fazer bons negócios, se submetendo ao esquema de corrupção vigente.

Os coniventes

Por Luis Fernando Verissimo

O ex-deputado estadual e ex-marido da Dilma, Carlos Araújo, não é um ex-ativista político, pois recentemente voltou à militância partidária no PDT, apesar de limitado pela saúde. Quando militava na resistência à ditadura foi preso, junto com a Dilma, e os dois foram torturados.

Depondo diante da Comissão Nacional da Verdade, esta semana, sobre sua experiência, Araújo lembrou a participação de empresários na repressão, muitas vezes assistindo à ou incentivando a tortura.

Que eu saiba, foi a primeira vez que um depoente tocou no assunto nebuloso da cumplicidade do empresariado, através da famigerada Operação Bandeirantes, em São Paulo, ou da iniciativa individual, no terrorismo de estado.

O assunto é nebuloso porque desapareceu no mesmo silêncio conveniente que se seguiu à queda do Collor e à revelação do esquema montado pelo P. C. Farias para canalizar todos os negócios com o governo através da sua firma, à qual alguns dos maiores empresários do país recorreram sem fazer muitas perguntas.

A analogia só é falha porque não há comparação entre o empresário que goza vendo tortura ou julga estar salvando a pátria com sua cumplicidade na repressão selvagem e o empresário que quer apenas fazer bons negócios e se submete ao esquema de corrupção vigente. Mas a impunidade é comparável: o Collor foi derrubado, o P. C. Farias foi assassinado, mas nunca se ficou sabendo o nome dos empresários que participaram do esquema.

Nunca se fez a CPI não dos corruptos, mas dos corruptores, como cansou, literalmente, de pedir o senador Pedro Simon. No caso da repressão, talvez se chegue à punição, ou no mínimo à identificação, de militares torturadores, mas o papel da Oban e da Fiesp e de outros civis coniventes permanecerá esquecido nas brumas do passado, a não ser que a tal Comissão da Verdade siga a sugestão do Araújo e jogue um pouco de luz nessa direção também.

A comparação nossa com a Argentina é quase uma fatalidade geográfica, somos os dois maiores países da America do Sul com pretensões e vaidades parecidas. Lá o terrorismo de estado foi mais terrível do que aqui e sua expiação — com a condenação dos generais da repressão — está sendo mais rápida. Mas a rede de cumplicidade com a ditadura foi maior, incluindo a da Igreja, e dificilmente será julgada. Olha aí, pelo menos nessa podemos ganhar deles.


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GLOBO CALA JORNALISTA




Eliakim Araújo – Direto da Redação

Vou usar este espaço hoje, para solidarizar-me com Luiz Carlos Azenha, um correto e honesto jornalista,  que edita um dos mais respeitados blogs da mídia alternativa brasileira, o Viomundo.   

Azenha, que deixou a Globo em 2006, “enojado” com a parcialidade da cobertura da emissora na campanha eleitoral, vinha incomodando os poderosos da antiga emissora, porque sabia demais.

Foi testemunha ocular e auditiva de um sem número de manobras praticadas no submundo do jornalismo global, cujo feitor era (e continua sendo) Ali Kamel, o homem encarregado pela família Marinho de reescrever a história recente do Brasil a partir da ótica do Jardim Botânico, numa operação destinada a limpar o passado comprometido da emissora com a ditadura militar.

Azenha - que não recebe um tostão dos anunciantes que fazem a fortuna da grande mídia -  foi penalizado pela Justiça que o condenou a pagar R$ 30 mil ao subserviente Ali Kamel.  Na última sexta-feira, Azenha anunciou o fechamento de seu blog, por falta de condições financeiras de brigar contra o poder da Globo.

Azenha jogou a toalha, mas seu exemplo de determinação vai fortalecer a luta pela democratização dos meios de comunicação no Brasil.  Leia aqui a nota em que Azenha explica as razões que o levam a desistir do Viomundo.

Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa

por Luiz Carlos Azenha

Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.

Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.

Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.

Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.

Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.

Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.

Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Vejapara escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.

Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.

Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.

Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.

No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.

Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.

Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.

Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.

Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.

Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.

Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.

O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.

Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.

Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?

O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.

Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.

Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.

Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão— entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.

Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.

E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, oViomundo.

Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.

Eu os vejo por aí.

PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.

PS do Viomundo 2: *Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira. 

*Ancorou o primeiro canal de notícias em língua portuguesa, a CBS Brasil. Foi âncora dos jornais da Globo, Manchete e do SBT e na Rádio JB foi Coordenador e titular de "O Jornal do Brasil Informa". Mora Fort Lauderdale, Flórida. Em parceria com Leila Cordeiro, possui uma produtora de vídeos jornalísticos e institucionais.

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