Quantidade de
jovens empregados cresceu no Brasil nos últimos anos, ao contrário do que
ocorreu em boa parte do mundo. Mercado de trabalho aquecido atrai também
pessoas de países abalados pela crise.
Enquanto muitos
jovens nos países desenvolvidos abalados pela crise econômica mundial enfrentam
dificuldades no mercado de trabalho, as perspectivas dos jovens brasileiros
melhoraram nos últimos anos. Especialistas apontam as boas condições econômicas
do país como um dos motivos.
De acordo com os
últimos dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgados em
maio do ano passado, a quantidade de jovens empregados cresceu no Brasil nos
últimos cinco anos, ao contrário do que ocorreu em boa parte do mundo. A taxa
brasileira de desemprego juvenil caiu de 21,8% para 15,2% entre 2007 e 2011. Na
América Latina e no Caribe, o índice está em torno de 14,3% e, na União
Europeia (UE), deve chegar a 18% neste ano, estima a OIT.
Para a economista
Priscilla Flori, da Universidade de São Paulo (USP), o fenômeno pode ser
explicado pelo aquecimento da economia, que, por sua vez, determinou um
aquecimento do mercado de trabalho brasileiro.
"A renda do
trabalhador aumentou, o que permitiu que a família brasileira passasse a
consumir mais. Isso influenciou sobretudo o comércio, que depende de mão de
obra abundante. E esse setor é muito favorável aos jovens, uma vez que não
demanda tanta experiência", considera.
Quando Flori
defendeu a tese Desemprego entre jovens: um estudo sobre a dinâmica do mercado
de trabalho juvenil brasileiro, em 2003, aproximadamente 24% dos jovens
brasileiros estavam desempregados, ou seja, cerca de 10% a mais do que quase
uma década mais tarde.
Alguns
especialistas apontam a queda do desemprego juvenil como um fenômeno
essencialmente demográfico, pois a população de 18 a 24 anos está encolhendo no
Brasil, passando de 23,9 milhões em 2005 para 22,7 milhões em 2009. Flori,
porém, aponta tal fenômeno como apenas um dos fatores que explicam a diminuição
do índice. O crescimento econômico seria a principal causa.
"O Brasil é um
dos únicos países que ainda impulsiona o crescimento global e, por isso, a
situação do mercado de trabalho é melhor", concorda o economista Dennis
Görlich, do Instituto de Economia Mundial de Kiel, na Alemanha.
Maior índice
Em setembro do ano
passado, o IBGE divulgou dados sobre o desemprego entre os jovens. Segundo a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, o número de jovens
de 18 a 24 anos desempregados no Brasil é de 13,8% – o dobro da taxa de
desemprego geral no país, de 6,7%.
Um dos fatores que
explicam o índice mais elevado entre os jovens é alta rotatividade no mercado
de trabalho, ou seja, a troca de empregos com frequência. Quando sai do
emprego, o jovem é contabilizado nas estatísticas como desempregado.
"É muito
difícil que alguém encontre o emprego 'perfeito' logo na primeira
tentativa", considera Flori. "Os custos de oportunidade para
trabalhadores jovens são menores. Quando percebem que não gostam do trabalho,
trocam de emprego, numa espécie de mecanismo de busca", completa Görlich.
Outro ponto citado
por ambos os especialistas é o custo de demissão. O empregador geralmente
prefere demitir um jovem, já que sai mais barato devido ao salário, ao tempo de
serviço e à experiência específica para a empresa inferiores. Além disso, os
jovens frequentemente trabalham sob contratos temporários – "geralmente os
que são cortados em primeiro lugar", acrescenta Görlich.
Falta de
qualificação
Segundo o Relatório
de Monitoramento Global de Educação para Todos, publicado pela Unesco na última
terça-feira (16/10), "a profunda falta de qualificação da juventude é mais
nociva do que nunca", sendo uma das causas do desemprego dessa faixa
etária em nível mundial.
Flori concorda.
Para a pesquisadora, faltam profissionais qualificados, não somente com nível
superior, mas também com nível técnico. "Não basta ter um engenheiro para
projetar um edifício, se não há mão de obra especializada para tirar o projeto
do papel (profissionais da construção civil)", exemplifica. A economista
considera que faculdades e cursos técnicos deveriam ter o mesmo peso na
sociedade.
E talvez seja essa
uma das chaves para explicar a baixa taxa de desemprego juvenil na Alemanha, em
torno de 8%, segundo o Departamento de Estatísticas da União Europeia
(Eurostat). Para Görlich, a Alemanha praticamente não tem problema com o
desemprego juvenil, quando comparada a países europeus em crise, como Espanha e
Grécia – onde os índices chegaram a 52,7% e 55,4% em agosto passado,
respectivamente.
"Isso tem a
ver principalmente com o sistema de educação dual alemão, extremamente efetivo
na diminuição do desemprego juvenil e considerado modelo", afirma o
economista. O sistema combina a formação prática, em uma empresa, à teórica em
um instituição de ensino.
No Brasil, a Unesco
aponta que a situação é particularmente na zona rural, onde 45% dos jovens não
completam o ensino fundamental. "Na zona urbana, o jovem é mais
qualificado, mas também é mais demandado, há mais concorrência", pondera
Flori. Na percepção da economista, a maior parte do emprego na zona rural não
demanda tanta qualificação, uma vez que é frequente o trabalho na propriedade
da própria família.
Movimentos
migratórios
Na Europa, jovens
de países fortemente abalados pela crise – como Espanha, Grécia e Portugal –
têm migrado para a Alemanha em busca de melhores oportunidades. Um movimento
semelhante ocorre em direção ao Brasil. Se por um lado, as instituições de
ensino brasileiras não preparam adequadamente o jovem para o mercado, criando a
necessidade de importar mão de obra estrangeira, por outro, os estrangeiros
deixam seus países para escapar da crise financeira.
"A crise não
chegou aqui com tanta intensidade", ressalta Flori. A economista destaca
que o Brasil se desenvolverá ainda mais nos próximos anos, com a Copa do Mundo
de 2014 e as Olimpíadas de 2016 contribuindo fortemente para a geração de
empregos na construção civil, turismo, serviços, transportes, e outros setores.
Paralelamente ao
desenvolvimento econômico, as perspectivas do jovem brasileiro mudaram muito
nas últimas décadas. "Antes o país focava-se em poucos setores de
atividade, sendo necessários apenas alguns profissionais especializados e muita
mão de obra não qualificada. Não havia perspectiva para a maior parte da
população jovem", diz. Hoje, com a diminuição da pobreza e o crescimento
da classe média, a tendência é o aumento do acesso à qualificação e ao emprego.
Autor: Luisa Frey -
Revisão: Mariana Santos