quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Portugal: AS DOCES VINHAS DA IRA

 


As sondagens que têm vindo a público recentemente revelam uma das facetas mais insidiosas da tragédia que se abateu sobre a sociedade portuguesa.
 
Boaventura Sousa Santos – Carta Maior
 
As sondagens que têm vindo a público recentemente revelam uma das facetas mais insidiosas da tragédia que se abateu sobre a sociedade portuguesa: o aceitar-se a tragédia como uma fatalidade e o que ela comporta, como a nova normalidade que, aliás, com o tempo deixará de ser nova para ser apenas normalidade. É normal que a esmagadora maioria dos portugueses esteja a empobrecer, mesmo que simultaneamente um punhado de super-ricos nunca tenha enriquecido tanto. É normal que emigre toda uma geração altamente qualificada com o esforço de todos nós, mesmo que com isso se esfume a possibilidade de deixarmos de ser uma economia subdesenvolvida ao sabor das trocas desiguais com as mais desenvolvidas.

É normal que os pensionistas pobres e remediados tenham de ser extraordinariamente solidários para com todos os portugueses, ainda que o mesmo não possa ser exigido aos mais altos rendimentos, boa parte deles protegidos em offshores, e muito menos aos bancos que, pelo contrário, exigem a nossa solidariedade para continuarem a ter lucros fabulosos. É normal que os casais mais jovens não possam dar-se ao luxo de ter um filho, ou mais de um filho, e que nem lhes passe pela cabeça ter um aumento de salário (no caso improvável de os dois estarem empregados). É normal que tudo isto aconteça normalmente, que o pessimismo seja igual ao otimismo, que tanto a satisfação como a insatisfação sejam médias, que não haja eleições antecipadas, que, quando formos a votos, ganhe o PS apenas com maioria relativa e que, nesse caso, seja tão provável quanto improvável que o PS faça uma coligação com o partido que tem presidido à administração da tragédia.

O limite das sondagens é que não se podem sondar a si mesmas, ou seja, nada nos podem dizer sobre o que está a montante ou a jusante delas. Saber isso é crucial e, apesar de insondável, é quase óbvio. Senão vejamos. A montante das sondagens está a destruição da alternativa ao atual estado de coisas. Trata-se de uma ideologia que foi meticulosamente construída ao longo dos últimos trinta anos pelo pensamento neoliberal que avassalou as universidades, sobretudo os departamentos de economia, e o comentário político dos grandes meios de comunicação social. Não apenas cá mas em toda a Europa e América do Norte.

Como qualquer ideologia, é um conjunto de ideias em que são levados a acreditar os sectores da população mais prejudicados e punidos por elas. Por exemplo, a crítica do Estado social passa a ser convincente, mesmo para aqueles sectores da população que mais dependem dele, os trabalhadores e as classes médias. A ideia de que os portugueses têm vivido acima das suas posses passa a ser verosímil, mesmo para os portugueses em risco iminente de pobreza. Passa despercebido que este argumento preside a toda a gestão do atual governo e muito para além do que se diz. Dois exemplos. Tivemos um bom sistema de educação pública e isso prova-se com os resultados dos nossos jovens no ranking dos estudos da OCDE sobre excelência escolar.

Pois bem, tais resultados mostram que temos um nível de educação acima das nossas posses e, por isso, objetivamente, a política do atual Ministério da Educação visa baixar o nosso ranking, e é isso que muito provavelmente vai acontecer. Por sua vez, o Sistema Nacional de Saúde permitiu-nos atingir níveis de saúde coletiva, de esperança de vida e de prevenção de doenças evitáveis internacionalmente invejáveis. Isto significa que temos níveis de saúde acima das nossas posses.

Objetivamente, a atual política do Ministério da Saúde visa baixar esses níveis, e é isso que muito provavelmente vai acontecer. A névoa da ideologia não permite ao cidadão comum fazer estas ligações e, se as fizer, não permite que as conceba como um crime cometido contra ele e ela e seus filhos.

A jusante das sondagens está a alternativa da destruição. A normalidade, por mais anormal ou dolorosa, é o que é, uma fatalidade. Quem a recusa é irracional e auto-destroi-se. Pode revoltar-se, mas corre o risco de ir para prisão, o que implica um custo para o Estado enquanto as prisões não forem privatizadas. Pode pedir ajuda médica, mas tende a ficar dependente de anti-depressivos e a sua irracionalidade obriga o Estado a responder racionalmente, deixando de comparticipar o custo dos remédios. Pode suicidar-se, mas com isso perde a vida, um dano irreparável que, quando muito, trará uma poupança mínima ao Estado.

O círculo infernal da destruição da alternativa e da alternativa da destruição tem uma saída? Tem, mas essa não se pergunta aos indivíduos em sondagens porque não reside em respostas individuais.
 

Brasil: A BARBÁRIE E O SEU VENTRE

 


Quando se evoca as agências de risco para intimar o Estado a cortar programas sociais e garantir o dos rentistas, que futuro estamos projetando para o Brasil?
 
Saul Leblon – Carta Maior
 
Coube ao editor de Carta Maior, Marco Aurélio Weissheimer, esticar o olhar para além do muro da conveniência que acomoda a questão prisional brasileira num círculo de ferro feito de superlotação, precariedade, guerra de facções e barbárie.

As cinco palavras selam a vida de 500 mil pessoas que subsistem do lado de dentro, mas não esclarecem o conjunto que interliga o seu destino ao dos demais 189,5 milhões que completam a sociedade do lado de fora.

São destinos entrelaçados, adverte Weissheimer na análise ‘O Presídio Central e a nossa vida do lado de fora’ (leia nesta pág).

Sua reflexão joga água fria no foco conservador que prefere circunscrever o debate ao bordão da flacidez administrativa. Sobretudo quando essa dimensão real do problema – insuficiente para entendê-lo, porém, e sobretudo para equacioná-lo— interliga a barbárie a administrações associadas ao governo petista.

A série de 14 decapitações ocorridas na Penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão, de onde facções comandam atentados que resultaram na morte de uma criança, no último fim de semana, enquadra-se nesse gênero.

Atribuir à exclusiva incompetência tucana o poder do PCC em São Paulo pertence ao mesmo reducionismo, no caso de extração petista.

Não se avalize o diagnóstico protelatório segundo o qual, por ser um espelho da sociedade, as prisões somente serão dignas para redimir quem delinquiu, quando dignas forem todas as relações ordenadoras da sociedade.

É tudo verdade.

Mas o que distingui uma biblioteca de um projeto político é justamente a construção das linhas de passagem que fazem do presente o fiador premonitório de um futuro melhor que a mera reprodução do passado.

É nesse ponto que cabe arguir a honestidade da aflição conservadora com a sorte dos encarcerados brasileiros.

O que ela prescreve para a sociedade que está do lado de fora guarda coerência com o sentimento de urgência em relação aos que estão confinados?

Mais de 95% do contingente carcerário brasileiro vem das camadas pobres e excluídas da população; não há levantamentos oficiais –e isso já diz muito sobre o sistema-- mas se calcula que 90% dos detentos voltem a delinquir, ao recuperarem a liberdade.

Mais de 40% da população carcerária está estocada em prisões provisórias, onde a lotação passa de cinco presos por vaga.

Convenhamos, quando se intima o Estado brasileiro a cortar a gastança (leia-se, programas sociais) para assegurar o juro dos rentistas; ou se sabota o reajuste do IPTU, sonegando-se R$ 800 milhões à educação, saúde e mobilidade urbana, como fez a coalisão tucano-plutocrática em SP, que futuro carcerário estamos projetando para o Brasil do século XXI?

Um futuro de prisões em massa dos excluídos, talvez?

Há precedentes.

Negros representam 12,5% da população total norte-americana; mas somam 40% da maior população carcerária da face da terra (2,5 milhões de presos).

Estamos falando de um milhão de negros trancafiados -- contingente superior ao da população escrava dos EUA no século XIX.

O desemprego é um vínculo esférico a unir a condição de negro a de detento nos EUA.

A proporção de negros desempregado (12,6%) é quase o dobro da de brancos (6,6%) ; há 50 anos a diferença era de quatro pontos.

A pobreza é outro elo: cerca de 10 milhões dos 41 milhões de negros norte-americanos vivem na pobreza.

Quando a mídia conservadora e os menestréis do tripé convocam agencias de risco a endossarem o veredito de um Brasil aos cacos, que pontes estamos erguendo para impedir a cristalização de igual destino?

Recapitulemos.

Quando a tempestade neoliberal despencou, em 2007/2008, o Brasil resistiu ao naufrágio com boias que exigiram gastos fiscais da ordem de R$ 400 bilhões.

O país criou mais de 12 milhões de empregos desde 2007. A título de comparação: Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal, coagidos a adotar o arrocho ortodoxo, viram desaparecer 15% de suas vagas desde 2012.

Encurralar a sucessão de 2014 em um ambiente contaminado pela represália iminente das agências de risco e dos investidores à ‘derrocada fiscal’ é o palanque daqueles que prometem fazer mais e melhor dobrando a aposta nos mandamentos do Consenso de Washington.

‘Não é que não deu certo; não foi bem aplicado’, já se afirma nas entrelinhas da emissão dominante.

Os que incitavam o governo a jogar o país ao mar em 2008, agora retrucam que o custo de não tê-lo afogado na hora certa acarretou custos insustentáveis.

Colunistas isentos e economistas tucanos --de sabedoria comprovada pelos resultados obtidos em outras crises, endossam o clamor pela eutanásia.

Recomenda-se vivamente beber a cota do dilúvio desdenhada irresponsavelmente de um gole só.

A indignação seletiva diante da barbárie nas prisões soa assim como uma nota fora do lugar no grande baile da restauração.

Ardilosa, talvez seja um predicado mais justo para a harmonia da orquestra que não desafina nunca.

O país precisa de investimento público e privado para adequar sua indústria e infraestrutura ao mercado de massa nascido nos últimos anos.

Nada que se harmonize do dia para a noite.

O crucial é erguer as linhas de passagem, pactuar custos, definir prioridades, assumir ônus e acordar prazos.

A se restituir a receita rentista, como exige o jogral incansável, sobra uma pinguela estreita e oscilante para o futuro.

Um ano de juro da dívida pública equivale a 71 anos de merenda escolar diária para 47 milhões de crianças e adolescentes da rede pública brasileira.

É só uma ilustração.

Mas também é a síntese das proporções em jogo na arquitetura que será preciso escolher.

Na deles não cabe o Brasil.

Nem o que está fora das grandes -- quanto mais o que sangra dentro delas.
 

Timor-Leste lança na quinta-feira campanha da ONU "Desafio Fome Zero"

 


Díli, 08 jan (Lusa) - O Governo timorense e as Nações Unidas lançam na quinta-feira em Díli a campanha "Desafio Fome Zero" com o objetivo de eliminar a fome em Timor-Leste.
 
O lançamento da campanha vai decorrer no parlamento timorense, antes do início do debate do Orçamento do Estado para 2014, e vai contar com a participação da princesa da Tailândia Maha Chakri Sirindhorn, do primeiro-ministro, Xanana Gusmão, do presidente do parlamento, Vicente Guterres, e da conselheira especial do secretário-geral da ONU para Timor-Leste, Noellen Heyzer.
 
"O objetivo é defender o direito a alimentos adequados para todos os homens, mulheres e crianças, bem como assegurar que os sistemas alimentares são sustentáveis e sólidos", afirmou Xanana Gusmão, na quarta-feira, num jantar oferecido à princesa da Tailândia, que iniciou na terça-feira uma visita oficial a Timor-Leste.
 
Segundo o primeiro-ministro timorense, a campanha vai reforçar os "planos de Timor-Leste para a erradicação da fome".
 
A campanha conta com o apoio da Tailândia, da Comissão Económica e Social para a Ásia-Pacífico das Nações Unidas e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
 
Segundo os indicadores dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, em 2009 em Timor-Leste cerca de 45 por cento das crianças com menos de cinco anos de idade tinham prevalência de baixo peso.
 
Em 2012, um relatório sobre fome e má nutrição divulgado pela organização Save The Children, referia que mais de 50 por cento das crianças timorenses sofre de má nutrição e Timor-Leste é o terceiro país do mundo com maior número de crianças subnutridas.
 
MSE // VM - Lusa
 

Timor-Leste: EDTL VAI DESLIGAR A ELETRICIDADE QUE SE USA ILEGALMENTE

 

08 de Janeiro de 2014, 15:53
 
O Secretário de Estado da Eletricidade, Januário Pereira informou que os seus funcionários vão desligar todos os cabos de eletricidade que estão a ser utilizados ilegalmente.

“Muitas das vezes os consumidores exigem os seus direitos, mas não cumprem os seus deveres. Por isso a minha instituição vai aplicar uma sanção aos consumidores pré-pagos, que ainda continuam a fazer a ligação à eletricidade ilegalmente, principalmente os residentes na cidades de Díli. E em breve a EDTL vai comprar contadores para conseguir detetar os que fazem ligação ilegal à eletricidade”, informou Januário Pereira no Parlamento Nacional.

Na mesma ocasião um dos membros da comissão E no Parlamento Nacional que está responsável pelas infras-estruturas, Paulino Monteiro Soares Babo disse que fazer a ligação à eletricidade ilegalmente é contra a lei aplicada no país. Por isso solicita à parte competente que crie um mecanismo através do sistema pré-pago para que possa ajudar o Governo a não depender do dinheiro do petróleo.

SAPO TL com STL
 

Representante especial da CPLP para a Guiné-Bissau defende "desarmamento de espíritos"

 


Lisboa, 08 jan (Lusa) - O representante especial da CPLP para a Guiné-Bissau afirmou hoje que o primeiro passo desta missão é o "desarmamento dos espíritos" para compreender a necessidade de concertação política no país.
 
Carlos Alves Moura falava no final da reunião extraordinária do Comité de Concertação Permanente (CCP) dos Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
 
Esta é "uma missão de diálogo, em função de uma participação política da Guiné-Bissau, Estado-membro da CPLP, que procura encontrar os caminhos da democracia e do progresso", sublinhou o responsável brasileiro.
 
"É com este espírito que acabo de assumir este cargo, de diálogo e concertação com a sociedade guineense, seguindo as orientações dos Estados-membros da CPLP", afirmou Carlos Moura, que parte para Bissau no sábado.
 
"O CCP deu um claro apoio" a esta missão temporária, mas sem um prazo definido, sendo que este trabalho deverá ser desenvolvido "em concertação com todas as organizações internacionais [ONU, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e União Africana (UA)] e com as representações diplomáticas acreditadas na Guiné-Bissau", acrescentou.
 
Carlos Alves Moura declarou ainda acreditar "na realização das eleições gerais na data prevista" de 16 de março, apesar de as autoridades guineenses terem alargado o prazo para o recenseamento eleitoral.
 
O escrutínio esteve inicialmente previsto para 24 de novembro passado, mas foi adiado devido a atrasos no financiamento e também no recenseamento.
 
O XVIII Conselho de Ministros da organização lusófona, realizado em julho de 2013, em Maputo, decidiu designar um representante especial da CPLP para a Guiné-Bissau para acompanhar, no terreno, a evolução da situação até à conclusão do processo eleitoral.
 
A resolução determinava que o representante especial devia "acompanhar no terreno a evolução da situação na Guiné-Bissau até a conclusão do processo eleitoral" e submeter, para avaliação dos Estados-membros, um relatório sobre a possibilidade de criar uma representação permanente na Guiné-Bissau.
 
Carlos Moura chefiou a Representação Temporária da CPLP em Bissau, entre 2004 e 2006, tendo sido o seu trabalho reconhecido pela Declaração de Apreço adotada pelo XI Conselho de Ministros da CPLP, realizado em 2006, em Bissau.
 
Em representação da CPLP, Carlos Alves Moura chefiou também a missão de observação eleitoral às legislativas de 2012 em Timor-Leste.
 
A Guiné-Bissau vive desde abril de 2012 um período de transição após o golpe de Estado e está prevista a realização de eleições gerais a 16 de março deste ano.
 
A CPLP integra oito Estados-membros Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
 
A República da Guiné Equatorial e as Ilhas Maurícias têm Estatuto de Observador Associado desde julho de 2006. O Senegal foi admitido com o mesmo Estatuto em julho de 2008.
 
EJ // VM - Lusa
 

Angola: NA HUÍLA EXIGE-SE MELHORES CONDIÇÕES PARA RECLUSOS

 


As condições em que vivem os reclusos na província da Huíla, em Angola, são consideradas deploráveis. Além de sobrelotação, há falta de camas e casos de má nutrição. Mas autoridades alegam alguns progressos.
 
Na Unidade Penitenciária da Comarca da Huíla encontram-se atualmente detidos mais de 900 reclusos. No entanto, a capacidade real da prisão é de apenas 120 presos.
 
Por isso, muitos são obrigados a dormir nos corredores, nas casas de banho e noutros locais do recinto. São também numerosos os casos de falta alimentação ou de uma alimentação muito deficiente.

Esta realidade é transmitida pelos próprios detidos aos familiares e amigos que os visitam às terças e quintas-feiras de cada semana.
 
Para o interior do estabelecimento prisional não é permitida a entrada de telefones, câmaras fotográficas e outros objetos. E todos os alimentos levados pelos visitantes também são inspecionados pelos funcionários dos serviços prisionais.

À entrada, a cada visitante são cobrados cerca de cinquenta kwanzas (o equivalente a trinta e nove cêntimos do dólar). O motivo pelo qual esta taxa é cobrada ainda não é do conhecimento público.
 
Situação degradante

Antonio Gabriel, de 45 anos, deslocou-se à cadeia da Comarca da Huíla para visitar dois amigos que conheceu quando ali esteve detido durante quatro anos.
 
Emocionado, fala de casos de má nutrição e pediu às autoridades que melhorem as condições de vida dos detidos: “Eu vi um homem com cauda, aquele osso do recto anal aparece. Porque? Soube que é por má nutrição. Pelo facto faço um pedido urgente: Tem que se encontrar uma solução para a crítica situação vivida pelos reclusos nas instituições prisionais porque as pessoas passam mal ali. Tem que se fazer uma visita de surpresa, visitar tudo, caserna por caserna, as celas, o posto médico, ver tudo.”

Leal Wanadumbo também foi visitar um parente que se encontra detido há já duas semanas, sem ter sido julgado pelo Tribunal Provincial da Huíla.
 
Agastado com a Justiça, o visitante diz que o Estado angolano tem de tratar os detidos com mais dignidade pois estes são seres humanos: “Com a democracia que se diz ter no nosso país, então devemos incluir estas pessoas nesse processo”.
 
Governo reconhece precariedade

O sub-procurador titular da Huíla, Justo Bartolomeu, reconhece que há uma superlotação na comarca da província: “A situação carcerária é um quebra-cabeça. Há superlotação de detidos. A nossa unidade prisional tem capacidade para albergar cento e vinte reclusos e neste momento temos cerca de novecentos e quarenta e cinco detidos. Alguns deles até dormem nos corredores.”

A falta de condições dignas tem estado na base de algumas brigas entre reclusos que acabam em mortes e ferimentos graves em algumas prisões do país, mais concretamente em Viana, Luanda.
 
Entretanto, os deputados do grupo parlamentar da União Nacional Para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição, dizem que foram impedidos de se inteirar dos factos pela direção daquela unidade prisional, que alegou falta de autorização do ministério do Interior para prestar quaisquer informações sobre o assunto.
 
O porta-voz do partido da oposição, Liberty Chiyaka destacou contudo que: “Queremos deixar bem claro que nós estando conscientes do papel de fiscalização e representação que os angolanos depositaram nos deputados, não vamos fugir a esta responsabilidade.”

Por seu turno, Dom Manuel Imbamba, porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tome e Príncipe, defende que para que se registem mudanças neste quadro: “É bom que se mantenha o clima de diálogo. Não aconselhamos a violência, nem a intolerância e nem quaisquer situações que levem as pessoas a se distanciarem umas das outras".
 
Para Dom Manuel Imbamba "temos de criar motivações para que as pessoas se unam, dialoguem mais e encontrem as vias que levem à uma realização plena de todos.”
 
Deutsche Welle – Autoria: Anselmo Vieira (Huíla) – Edição: Nádia Issufo / António Rocha
 

Cooperação entre Portugal e Angola tem sido intensa - ministra da Justiça

 


A cooperação entre Portugal e Angola “tem decorrido de forma muito intensa”, assegurou hoje a ministra da Justiça portuguesa, apelando a que se olhe “para o futuro, fazendo e não falando”.
 
Paula Teixeira da Cruz falou aos jornalistas à margem da sessão de abertura do congresso “Angola século XXI - desenvolvimento, cidadania e cultura”, organizado pela Casa da Cultura Angolana, que decorre hoje e na quinta-feira, na Universidade Lusófona, em Lisboa.
 
Recusando pronunciar-se sobre “casos particulares”, a governante, nascida em Angola, defendeu que é preciso “realçar aquilo que de positivo há e que em conjunto se consegue fazer”.
 
Paula Teixeira da Cruz recusou a terminologia “incidentes” para descrever o recente momento das relações luso-angolanas. “Temos que olhar para o futuro, fazendo e não falando. Por vezes, fala-se de mais e faz-se de menos”, apreciou.
 
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, afirmou hoje que a cimeira entre Portugal e Angola não se vai realizar, mas apenas reuniões bilaterais, insistindo que as relações entre os dois países se processam “normalmente”.
 
Lisboa e Luanda tinham acordado a realização da primeira cimeira bilateral para o próximo mês, mas, em outubro passado, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, descartou uma possível parcerIa estratégica, na sequência de notícias vindas a público sobre investigações do Ministério Público português a conhecidas figuras angolanas.
 
Na área da justiça, a cooperação luso-angolana tem decorrido “normalmente” e é “transversal”, garantiu Paula Teixeira da Cruz.
 
“As fugas de informação são uma preocupação” para as autoridades portuguesas, até porque “têm sido um problema recorrente”, admitiu a ministra, sublinhando que os responsáveis “têm procurado soluções”, mas “é impossível, muitas vezes, evitar fugas de informação”.
 
Sobre um futuro encontro com o seu homólogo angolano, Paula Teixeira da Cruz recordou que tiveram um "não há muito tempo”, mas estimou que, “seguramente”, se repetirá “essa oportunidade em 2014”.
 
Durante a sessão de abertura do congresso, integrado nas comemorações do Dia da Cultura Angolana, a ministra destacou o "percurso extraordinário” de Angola, graças à “resiliência” e á “capacidade de adaptação” dos angolanos.
 
“Olhando para as circunstâncias, de guerra colonial e guerra civil, quantos países tiveram a capacidade de se erguerem, sobretudo do ponto de vista cultural?”, questionou, realçando a “cultura riquíssima, que se distingue hoje a nível internacional” e “extravasa o espaço lusófono”.
 
Cidadã portuguesa, Paula Teixeira da Cruz falou das “raízes” e “referências” que guarda de Angola. “Não deixei lá só o meu umbigo, mas uma boa parte da minha alma”, partilhou.
 
SBR (JH) // APN – Lusa, foto Mário Cruz
 

OITO MORTOS EM CONFRONTOS ARMADOS NO SUL DE MOÇAMBIQUE - media

 


Seis militares e dois civis morreram, na terça-feira, em consequência de confrontos entre as forças de segurança de Moçambique e alegados homens armados da Renamo, na região de Homoíne, no sul do país, noticiou o diário mediaFax.
 
Segundo a edição de hoje do jornal digital moçambicano, os seis militares mortos integravam a Força de Intervenção Rápida (FIR), que, na madrugada de terça-feira, realizou uma ação militar nas localidades de Catine e Nhamungue, em Pembe, no distrito de Homoíne, província de Inhambane, contra alegados homens armados da Renamo.
 
Numa outra versão, o canal independente STV confirmou a morte dos seis agentes da FIR, mas avançou que dois homens armados da Renamo terão morrido, ao contrário do jornal, que refere baixas civis.
 
O mediaFax escreve ainda que oito agentes da FIR terão ficado feridos durante a "intensa" troca de tiros, que provocou a fuga da população local para a sede distrital de Homoíne, a cerca de 40 quilómetros da zona de confrontos e a cerca de 450 quilómetros a norte de Maputo, capital do país.
 
Até ao início desta semana, os confrontos entre homens da Renamo e as forças de defesa e segurança de Moçambique estavam circunscritos à província central de Sofala, à exceção de incidentes de pequena escala registados na província nortenha de Nampula.
 
De acordo com o Ministério da Defesa Nacional de Moçambique, os alegados homens armados procuram, em Homoíne, reativar a antiga base provincial da Renamo, que o movimento rebelde ali detinha durante a guerra civil moçambicana, ocorrida entre 1976 e 1992.
 
A província de Inhambane é uma das regiões mais desenvolvidas em termos turísticos em Moçambique, contando mais de meio milhar de unidades hoteleiras.
 
EMYP // HB - Lusa, foto António Silva
 

PASSAGEIRA RELATA QUE VOOS BISSAU-LISBOA ESTÃO A DEMORAR 14 HORAS

 


Uma passageira guineense afirmou hoje que a TAP está a garantir a ligação Bissau-Lisboa pela cidade marroquina de Casablanca e não por Dakar (Senegal), afirmando ter feito uma viagem de 14 horas, em vez das quatro previstas.
 
Em declarações à agência Lusa, Cadija Monteiro relatou, à chegada a Lisboa, que a viagem de Bissau até à capital portuguesa demorou 14 horas quando devia prolongar-se por apenas quatro horas, tendo em conta “o valor total pago”.
 
A Lusa tentou contactar a TAP sobre esta questão, mas ainda não obteve resposta.
 
“Estão a brincar connosco. As malas não vêm, tenho um colega que foi para lá [Bissau] há três semanas e a sua mala não foi. Agora acham que nos podem pôr a passear por África: fomos até Banjul (Gâmbia) e depois para Marrocos”, criticou a passageira.
 
Cadija Monteiro referiu que na cidade marroquina de Casablanca esteve 12 horas à espera para seguir viagem para Lisboa.
 
A passageira garantiu que não lhe foi dada alternativa de escala em Dakar, a capital do Senegal, de onde a TAP anunciou que faria ligações depois de se recusar a voar para Bissau devido ao embarque forçado, em dezembro, de 74 refugidos com destino a Lisboa.
 
“O email que recebi da TAP de Lisboa é que posso ir de Dakar, mas no balcão em Bissau disseram que não é verdade. Impuseram como única alternativa para sair de Bissau com a TAP era via Bissau-Marrocos-Lisboa e ainda nos dão uma desagradável surpresa que foi termos de ir até à Gâmbia”, afirmou à Lusa.
 
Segundo a mesma fonte, a viagem foi feita num aparelho da TAP entre Casablanca e Lisboa, porque a saída de Bissau foi feita “numa candonga”.
 
No aeroporto de Lisboa, a passageira contactou com uma responsável da TAP, que a encaminhou para um número de telefone que não é atendido.
 
“Se a TAP tem um problema com a Guiné-Bissau e com o Governo da Guiné-Bissau que o resolva e se não quer transportar passageiros guineenses que lhes devolva o dinheiro”, defendeu.
 
Uma comissão de inquérito sobre os incidentes com o avião da TAP, ocorridos no dia 10 de dezembro passado, concluiu que foi o ministro do Interior do Governo de transição, António Suca Ntchama quem pressionou a tripulação da companhia aérea portuguesa a transportar os 74 sírios para Lisboa, onde acabaram por pedir asilo político a Portugal.
 
O primeiro-ministro do Governo de transição do país, Rui de Barros, afirmou hoje que o Ministério Público vai apurar todas as responsabilidades criminais do caso.
 
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, disse hoje que não está garantida a segurança para serem retomadas as ligações aéreas entre Portugal e a Guiné-Bissau, reiterando esperar que seja eleito naquele país um “Governo legitimado” em março.
 
PL (MB) // ARA - Lusa
 

Portugal: DE APARENTE SUCESSO EM APARENTE SUCESSO

 

Triunfo da Razão
 
De aparente sucesso em aparente sucesso, o Governo lá vai fazendo o seu caminho, sem contar, pelo menos nos últimos tempos, com obstáculos de maior.

Esse aparente sucesso que se traduz numa hipotética saída da troika sem outro programa de assistência, num hipotético regresso aos mercados (sempre com a beneplácito do BCE, mas esse é um pormenor sem importância) e num crescimento anódino da economia (crescimento para quem? outro detalhe sem importância) serão essenciais para a continuação do actual Executivo).

Note-se que ainda há muito a fazer, sobretudo no que diz respeito à transferência de serviços prestados pelo Estado para o sector privado. Paralelamente e com mais um bocadinho de esforço ainda se conseguirá nova desvalorização do factor trabalho e consequente precarização do trabalho. Pelo caminho, as pensões continuarão a ser um alvo a abatar, ao mesmo tempo que as negociatas entre poder político e poder económico não conhecerão qualquer abrandamento.

Para que este trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo Governo possa ter continuidade são necessários sucessos, por muito anódinos ou artificiais que sejam.

Por outro lado, há quem não descure as suas ambições políticas. Há muito em jogo, para além dos egos, sobretudo num país conhecido por ter nos partidos políticos verdadeiros centros de emprego. De aparente sucesso em aparente sucesso, o Governo lá vai fazendo o seu caminho.

Ana Alexandra Gonçalves
 
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