quinta-feira, 7 de agosto de 2014

OS SONHOS DA REPÚBLICA E OS PESADELOS DO IMPÉRIO (2)



Rui Peralta, Luanda (ler texto anterior)

VI - Os USA encontram-se numa encruzilhada. Este é um momento de deslocação do centro financeiro mundial. Os USA mantêm a sua posição dominante, mas perdem terreno para as restantes economias autocentradas (umas tentando ganhar espaço para a sua modernização e desenvolvimento, outras tentando adquirir uma posição hegemónica na economia-mundo). Na tentativa de manter a sua posição, os USA reestruturaram, com os seus aliados europeus, as áreas periféricas, redefinindo fronteiras e politicas locais. O Pacifico adquire preponderância e torna-se um espaço fundamental na nova geoeconomia. Os fluxos financeiros, comerciais e logísticos são profundamente alterados em função deste factor. Mas estas alterações  geoeconómicas implicam  alterações geopolíticas e geoestratégicas e não são matéria exclusiva das dinâmicas externas, reflectindo-se com grande impacto nas dinâmicas internas norte-americanas.

O mundo de hoje é diferente do mundo de finais do século XIX, ou do inicio do século XX, quando os USA, "pela graça de Deus" invadiram as Filipinas, anexando-a. O presidente McKinley alegou, na época, que o Senhor lhe disse que era um dever "educar, civilizar e cristianizar" os Filipinos. A "voz do Senhor" não passava do desejo de construir o Império, de dar seguimento á "vontade de Deus". Esta ideia está expressa em diversos discursos da época, como este do senador Beveridge: "Temos de seguir a lei do nosso sangue e adquirir novos mercados e se necessário novos territórios (...)nos planos superiores do Todo-Poderoso (...)".

O mundo de hoje não é o mesmo desses tempos (nem dos anos 50, da guerra da Coreia, ou das décadas de 60 e 70, da guerra do Vietname, dos bombardeamentos da Indochina, ou dos golpes militares na América Latina) mas as intervenções militares norte-americanas sucedem-se, sempre em nome dos mercados, da liberdade a da democracia e sempre com a "bênção de Deus".  A actual "guerra contra o terrorismo" conta com a habitual bênção divina mas também com a bênção da industria de segurança (altamente lucrativa, mesmo nestes austeros períodos de crise). E permite algo que arrepiaria os antigos colonos dissidentes e os fundadores da nação: o Estado omnipotente e omnipresente (duas qualidades que os norte-americanos apenas admitiam em Deus e no Capital). Novos mercados, novos territórios, mais recursos naturais, parece ser a nova trindade da mitologia fundamentalista norte-americana (o que implica menos liberdade, menos democracia e menos imigrantes).

VII - John Brennan, o actual director da CIA, admitiu que a Agência espiou o Senado norte-americano, em particular a comissão que investiga casos de tortura efectuados pela CIA no Afeganistão, Paquistão e Iraque. A alegação foi feita em Março por membros do Comité do Senado para controlo das agencias de Inteligência, que acusaram a CIA de ter monitorizado os computadores da comissão. O relatório do Senado ainda não foi publicado, mas têm chegado documentos da comissão e declarações de senadores e congressistas a público que dão conta da violação de computadores e escutas telefónicas.

É evidente o mal-estar do poder legislativo para com a CIA, a NSA e a miríade de serviços de inteligência e contra-inteligência que pululam pelos subterrâneos do Estado federal, a começar pelo Departamento de Estado e a acabar nas células clandestinas de grande autonomia de meios e de decisão criadas pela actual administração no quadro da luta antiterrorista e que actuam indiscriminadamente no exterior e no interior. Brennan negou as acusações, mas acabou por ser confrontado com um recente relatório interno da CIA  que comprova as suspeitas do Senado e do Congresso e onde são mencionadas diversas e sucessivas violações levadas a cabo por uma dezena de funcionários da agência. Brenan pediu desculpas aos legisladores, durante um encontro ocorrido na passada semana. Aparentemente continua a contar com o apoio da Casa Branca e com a confiança de Obama ("great confidence in your leadership", são as palavras de Obama), mas dois senadores democratas (Mark Udall, do Colorado e Martin Heinrich, do Novo México, ambos muito próximos a Obama), apelaram á resignação de Brennan.

Esta recente ocorrência é uma entre muitas que  caracterizam  o actual cenário dos direitos cívicos e liberdades individuais nos USA e a outro nível as guerrilhas institucionais instaladas durante a administração Obama. Os poderes reforçados dos serviços de inteligência (processo iniciado na anterior administração Bush, após o 11 de Setembro) correspondem a uma degradação das relações institucionais entre os três Poderes (legislativo, judicial e executivo), acompanhada da consequente degradação das liberdades, direitos e garantias sociais e individuais (logo, monopolizando interesses), situação agravada por uma crise financeira instalada e de longa duração, que paralisa diversas esferas do Estado, que aparenta estar á beira da falência.

A industria norte-americana tem em Detroit a imagem do seu futuro e os trabalhadores da industria (norte-americanos ou imigrantes) vêem nos desempregados de Detroit - outrora uma próspera área industrial - a realidade do seu futuro, despido das fantasias dos discursos eleitoralistas. Por outro lado a vergonhosa e fascizante politica anti-imigração é uma atraente fonte de negócios que cativa os musculados sectores da industria de segurança que vêem na militarização da fronteira um vasto campo de comercialização para os seus freudianos produtos (que constituem uma reprodução das reprimidas fantasias homossexuais e da incontornável sensação de controlo e domínio que esses produtos oferecem ás mentes debilitadas dos funcionários e burocratas da repressão e dos primatas territoriais) e para os bandos de traficantes de mão-de-obra barata, os bandos de tráfico sexual, de tráfico de menores, redes pedófilas e carteis da droga (aliás, todos parceiros na industria de segurança que, conjuntamente com os bandos terroristas, desempenham funções complementares fundamentais para a expansão do negócio). 

Desde meados dos anos 70, a burguesia norte-americana executa uma ofensiva que tem como objectivo aliviar ao máximo os custos de mão-de-obra especializada, visando reduzir os quadros das empresas e modernizarem as suas empresas, para melhor competirem no mercado internacional. A ameaça de desemprego forçou os trabalhadores a aceitarem salários mais baixos e horários de trabalho mais prolongados, para além de reduções de direitos e  nos benefícios contratuais. A administração Reagan foi o braço armado desta ofensiva. Em finais de 80, a GM e outros gigantes  norte-americanos desviam a produção para países onde o custo da mão-de-obra não especializada era irrisória e o dos assalariados (convertidos em contratados) era substancialmente inferior ao dos norte-americanos. 

Claro está que hoje (apesar da taxa de desemprego não ser das mais altas) o rendimento familiar médio é muito baixo, a precariedade das condições de trabalho é norma e a desigualdade social no país regrediu aos níveis anteriores da II Guerra Mundial. O American Dream, a grande utopia capitalista degenerou no pesadelo do Great American Disaster, já fora das utopias e assente no calculismo da realpolitik. Se querem uma imagem dessa nova realidade procurem um postal de Detroit. Não encontram? Pois...passou para segredo de Estado.

VIII - Os povos autóctones da América do Norte foram conduzidos a uma situação de quase extermínio, em tudo similar ás comunidades e nações indígenas do Centro  e do Sul do continente americano, mas por métodos muito diferentes. Enquanto a colonização espanhola fez da violência e do extermínio a regra fundamental do seu domínio, os colonos dissidentes e os seus herdeiros independentistas usaram a violência aberta a titulo excepcional, preferindo assentar o seu domínio na negociação, na trapaça e num misto de "boa vontade" e de "força de dissuasão" (embora existissem massacres, torturas e violações). A subtileza, a manipulação e a mentira fazem parte, desde o inicio, da epopeia do "predestinado" povo da "nação eleita" e da sua "abençoada" democracia, quando se tratou  de excluir da sociedade norte-americana os povos e comunidades indígenas.

Estas técnicas de manipulação do Poder  tornaram-se essenciais para as elites dominantes norte-americanas numa sociedade que assumiu a liberdade de expressão e o direito de reivindicar e de resistir como valores fundamentais. Estes métodos são utilizados num vasto espectro de assuntos internos e externos e são constantemente aperfeiçoados, de forma a contornarem os mecanismos democráticos. O resultado final é uma sociedade alienada, onde a realidade não é percepcionada.

Repare-se na forma como os  "excedentários" são colocados em guetos, (camuflados de bairros miseráveis) nas grandes metrópoles norte-americanas. Quando os guetos revelam-se insuficientes, restam as prisões, privatizadas ou em regime de parceria publico/privada (mais um lucrativo negócio). Nos anos 80, por exemplo, durante a administração Reagan, a população prisional dos USA triplicou e os números mantêm-se elevados até hoje. Uma das razões que levaram a esta situação foi a "drug war", um óptimo exemplo de cruzamento das dinâmicas internas com as externas.

A guerra da droga, internamente, serviu para aliviar a densidade populacional nos guetos, enchendo as prisões (e os bolsos dos investidores no negócio prisional). No plano externo é um dos principais instrumentos de ingerência dos USA na América Latina, Ásia e África. O "negócio das prisões privadas" é alimentado por grandes campanhas como a "drug war" ou pela introdução de leis mais duras e alterações que aumentem a gravidade de algumas penas. Nomes sonantes das finanças, como a Goldman Sachs, do sector da construção, ou dos grandes consórcios de advogados, multinacionais da industria de armamento e da industria da segurança entre outros, competem entre si para financiarem a construção de edifícios prisionais e pela aquisição de títulos bolsistas do sector.

Democracia, mercados e Direitos Humanos são abalroados pelas elites económicas e financeiras dos USA. O mercado livre, uma das bíblias sagradas dos "predestinados", é uma mistificação criada pelas ultra proteccionistas  elites do centro financeiro mundial (os USA). Mercado livre implica resolução dar assimetrias entre os mercados, apresentando-se todos os mercados (e as forças que os compõem) em condições de igualdade de oportunidades, de molde a permitir que as potencialidades inerentes a cada mercado possam surgir nas relações de troca e não secundarizadas e artificialmente desvalorizadas. Ora isso implicaria uma subversão do actual esquema (hegemonizado pelos USA) centro/periferias, pilar do  domínio das relações capitalistas no mercado mundial (a começar pelos mercados locais, nacionais - não é o Estado Nação a grande incubadora do capitalismo? - e regionais).   Desde muito cedo os USA transformaram-se numa enorme manjedoura proteccionista, sob a aparência do mercado livre e do comércio livre (e sob os escombros destas instituições, impedidas de funcionar pelo colonialismo britânico e mortas à nascença pela burguesia norte-americana, que via nelas um perigoso instrumento de nivelarão social, que conduziria á democratização económica, o que ficava muito além do permitido pela burguesia oligopólios norte-americana, que apenas previra a democracia politica).Após a independência os norte-americanos iniciaram politicas de desenvolvimento, alicerçadas na protecção e na subsidiarização, nos têxteis. Mais tarde essas politicas foram alargadas ao aço, siderurgia, industrias transformadoras e caminhos-de-ferro. O âmbito proteccionista alargou-se ao sector extractivo e energético e desde a II Guerra Mundial foram canalizados subsídios públicos para todos os sectores avançados da industria (aeronáutica, metalurgia, farmacêutica, electrónica, foram os sectores que mais subsídios receberam e que gozaram de maior protecção.

A administração Reagan (que fez do free market e do free trade baluartes de campanha) aumentou, em 1983, a participação do Estado no PIB em mais de 35%  (um aumento superior a 1/3 em relação á década anterior) através de despesas militares. Um dos seus inúmeros projectos foi a "Guerra das Estrelas", vendida á opinião pública  como programa de defesa, mas publicitado nos meios empresariais como um subsidio público ás empresas que apostarem na tecnologia de ponta. A utilização de dinheiros para subsidiar o sector privado impediu o fim da industria automóvel norte-americana e do aço (que desde então arrastam-se á custa das contribuições públicas), completamente ultrapassados (em qualidade, preço e inovação) pela industria japonesa da década de 80. De forma hipócrita, James Baker, o Secretário do Tesouro na administração Reagan, afirmava, numa reunião com homens de negócios que o governo de Reagan "aliviou a pressão das importações sobre a industria norte-americana, mais do que qualquer das administrações  antecessoras".

De facto as restrições ás importações duplicaram. A administração Reagan especializou-se em técnicas de "comércio manobrado", que restringe o comércio e estreita a porta dos mercados. Estas insidiosas formas de proteccionismo fazem subir os preços, reduzem a concorrência e reforçam a cartelização. Os cidadãos norte-americanos, devido ao proteccionismo, são obrigados a subsidiar o sector privado nacional e consomem a preços mais elevados (e produtos de pior qualidade). O mercado livre e o comércio livre, bases fundamentais dos USA e bíblia sagrada do capitalismo, são, efectivamente, factores mitológicos, adorados na teoria e vendidos como ícones, mas, na prática, considerados demoníacos pelas elites, que em seu lugar praticam a proteccionista lei do funil que reza a máxima: o largo para mim, o estreito para os outros.

É que o "free market" e o "free trade" só podem ser praticados por Homens livres e iguais, em sociedades livres e igualitárias, num mundo solidário e assimétrico. No fundo são valores que o capitalismo abomina, ao ponto de os mistificar. Para inimigos basta Satanás no inferno e o fantasma do comunismo na terra...Mesmo nas suas versões pós-modernas, em que Deus morreu (logo também o seu inverso) e o fantasma do comunismo foi consumido na tragicomédia do "socialismo real" (a grande manipulação que eternizou as algemas e os açaimes colocados ao proletariado) em que a alienação tomou conta da realidade e onde o Homem é, simultaneamente, recurso e mercadoria (mas não humano), o "free market é o grande coveiro do capitalismo.

Por isso Estado e Capital colocaram-no fechado no grande cemitério em que transformaram a economia-mundo.

(Continua)

LUSOFONIA AINDA LONGE DE UMA DEMOCRACIA PLENA



Patrícia Neves - Plataforma

O multipartidarismo é hoje comum a todos os países de língua portuguesa, por opção ou pressão, mas a maioria ainda tem um longo e sinuoso caminho a percorrer até à consolidação dos seus sistemas como verdadeiramente democráticos. Os grandes entraves a este processo estão concentrados especialmente em África, onde analistas apontam existir mesmo situações de “contrafação da democracia” e de recrudescência do autoritarismo.

Moçambique e Guiné-Bissau apresentam atualmente o quadro mais frágil e a entrada da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) gerou maior incerteza sobre a capacidade de o bloco avançar no sentido de uma democracia plena. 

Macau, onde o português também é língua oficial, dá passos, ainda que curtos, no sentido de um sistema mais democrático, mas está ainda longe de se afirmar como tal. A população não revela, porém, grande insatisfação com a situação política atual e rejeita mesmo a possibilidade de qualquer perturbação da ordem social em nome da democracia, ao contrário dos sinais que recebe de Hong Kong. Os residentes, constatam observadores, querem antes garantir a manutenção ou melhoria do seu nível de vida, até porque sabem que se o “irmão mais velho” conseguir o sufrágio universal, ele também chegará eventualmente a Macau.

O alargamento de uma classe média, o desenvolvimento da educação, uma melhor distribuição da riqueza e uma maior organização das oposições são os meios, segundo analistas, para se conseguir que o espaço de língua portuguesa seja mais aberto, livre e voltado para a defesa dos interesses dos seus povos.

Moçambique e Guiné-Bissau são os elos mais fracos

Os países de expressão portuguesa em África foram afetados de forma positiva pela vaga de democratização do pós-queda do Muro de Berlim, tendo todos registado transições de sistemas de partido único para sistemas multipartidários. Atualmente estas nações estão em diferentes fases de desenvolvimento político, registando-se, porém, alguns recuos, nomeadamente em Moçambique e na Guiné-Bissau.

“Angola e Moçambique foram os únicos dos cinco países africanos de expressão portuguesa que tiveram guerras civis no pós-independência e, por isso, começam um processo de multipartidarismo muito mais complexo, porque têm como principais partidos os que foram beligerantes durante a guerra. Estão todos em fases diferentes de processos de democratização, mas em todos estes países os partidos políticos são permitidos, existem eleições, mas níveis diferentes de liberdade de imprensa e de educação superior”, constatou em declarações ao Plataforma Macau Elisabete Azevedo-Harman,  investigadora para o programa de África da organização não-governamental Chatham House, sediada em Londres.

Moçambique, lamenta, “deu nos últimos dois anos passos contrários ao processo de democratização, com o país a voltar a ter conflito armado, que, apesar de não ser o reinício de uma guerra civil, é um passo de gigante contra esse processo, ao violar todos os princípios teóricos do que é a democratização que passam por todas as partes aceitarem que a única contestação possível é através dos votos e não das armas”. Neste país, a investigadora portuguesa, que tem integrado missões de observação eleitoral em África, considera ter havido “um recuo bastante significativo”, mas não lhe parece que este “revés possa cair para um regime autoritário”.

Já o cientista político Nelson Pestana, da Universidade Católica de Angola, considera existirem em Moçambique “laivos de autoritarismo, embora os princípios da transição democrática ainda não estejam feridos de morte”. “Em Moçambique, tudo leva a crer que vai haver uma restauração do autoritarismo contra a transição democrática”, prevê.

A Guiné-Bissau, aponta, “tem uma situação anómala com os sucessivos casos de golpes de Estado”. Para Elisabete Azevedo, este país “é capaz de ser atualmente o país mais frágil”, apesar de realçar que ali “as eleições são sempre muito mais livres e justas do que em qualquer outro país de expressão portuguesa em África”. Esta situação é justificada com um “equilíbrio político muito grande entre as várias forças partidárias, que leva os partidos a se fiscalizarem muito melhor do que em países onde há um domínio partidário, como é o caso de Moçambique e Angola”.

Em Angola, Nelson Pestana considera que o sistema “é, de facto autoritário, mas diz-se formalmente democrático, porque isto revelou-se muito mais eficaz do que declarar-se abertamente uma ditadura de partido único, já que é assim menos contestado e pode ter apoios internacionais sem problemas de alma”. O resultado das eleições, aponta, dependem do “bom ou mau funcionamento da máquina da fraude, cujo monopólio é até agora detido pelo Presidente da República”, por isso este cientista político salienta que no país “não se pode ainda falar de soberania popular do escrutínio”.

“O que vivemos na realidade é uma contrafação da democracia. Parece, mas não é”, lamenta ao observar que “a democracia nunca existiu completamente” nos países lusófonos africanos, considerando mesmo que aí se assiste a uma “recrudescência do pensamento autoritário” e que “algumas guerras são promovidas para que esse autoritarismo possa sobreviver”.

Segundo Elisabete Azevedo, Angola está, porém, “numa ascensão em termos de liberdades”, não parecendo estar numa situação “de poder voltar para um regime monopartidário e autoritário”.

Pressão sobre a Guiné Equatorial

A recente adesão da Guiné Equatorial como membro de pleno direito da CPLP foi, para Elisabete Azevedo, um processo mal sucedido, pois deveria ter sido exigido ao país uma maior democratização, mas uma vez que o facto está consumado, a investigadora alerta que é altura de se reagir, atuando-se “de forma construtiva e pró-ativa”.

“Estar num palco internacional tem custos, é ter as luzes apontadas para quem lá está e, neste momento, o Presidente Obiang está no palco com os outros chefes de Estado da CPLP, por isso, as várias entidades pró-democracia nestes países, a sua sociedade civil, partidos e media deverão usar esse facto para exigir chegar à Guiné Equatorial”, defende.

A investigadora considera que a entrada do país na organização “desafia a constituição da CPLP”, salientando que aquela “tem estado a fugir a um debate sobre a sua génese e missão”.

“Possivelmente durante estes oitos anos de negociações, o que se pediu à Guiné Equatorial foi a suspensão da pena de morte e a adoção da língua portuguesa e eles fizeram isso. A instituição se calhar devia ter pedido mais”, acrescentou, apontando a necessidade de a CPLP se tornar, com este alargamento, “mais rigorosa em termos de expulsão e suspensão”.

Para Nelson Pestana, com a Guiné Equatorial no bloco lusófono “há mais incerteza na possibilidade de uma evolução para a democracia”.

O facto de existir uma liderança pessoal predominante na Guiné Equatorial, como em Angola, leva este cientista político a acreditar que, pelo menos, nestes dois países “a situação não parece que irá mudar nos próximos tempos”.

Apesar de constatar que o “desenvolvimento económico como é feito neste momento tem contribuído para o reforço dos poderes autoritários”, Nelson Pestana considera que ele também “pode trazer a criação de novas elites e sobretudo de uma classe média alargada que poderá contribuir para a abertura do sistema”. Para Elisabete Azevedo, também São Tomé e Príncipe “ainda é uma democracia frágil”, o que se denota com a “hesitação e incerteza sobre a data das eleições”. “A situação económica também não ajudou”, aponta, realçando que, “depois da euforia de que talvez o país fosse rico, a perceção de que se calhar não era bem assim criou maior instabilidade política”.

Cabo Verde, Portugal e Brasil são exceções

Na África subsariana, Cabo Verde é o país com a democracia “mais consolidada”. “O sistema semi-presidencial com um pendor parlamentar muito forte é talvez o segredo de Cabo Verde”, diz a investigadora da Chatham House. Nelson Pestana considera que aqui a “democracia deverá continuar a funcionar, embora haja sinais de degradação moral em relação aos seus princípios pela má influência dos países autoritários e do muito capital que aí têm”.

Já Portugal, por estar inserido na União Europeia, “está defendido da apetência autoritária deste ou daquele líder”, salienta o cientista político angolano. Elisabete Azevedo considera que o país é “uma democracia consolidada, mas ainda com muitas fragilidades, sobretudo ao nível da independência do poder judicial”.

Quanto ao Brasil, que é também uma democracia recente em processo de consolidação, tal como a portuguesa, a investigadora destaca o facto de esta economia emergente “fazer uma grande campanha para a democratização do poder internacional, portanto, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e das Nações Unidas, mas não em relação à democratização de outros países”. “Muitas vezes pensamos que as democracias recentes são as mais apologistas de que outros países sejam também democratas, mas não é de todo o caso do Brasil”, sublinha.

Macau à espera de Hong Kong

Na Região Administrativa Especial chinesa, que foi administrada por Portugal por mais de quatro séculos e que tem ainda hoje o português como língua oficial, “o poder executivo tem mais poder do que o legislativo”, observa o analista político local Larry So ao salientar que no território “a democracia fica para trás sob este ângulo”. “Ainda temos na Assembleia Legislativa deputados nomeados pelo chefe do Executivo e outros eleitos indiretamente, não podemos, portanto, dizer que este sistema é genuinamente democrático”.

O próprio chefe do Executivo é eleito por um colégio eleitoral de 400 membros, não estando implementado o sufrágio universal. “Macau tem uma democracia adaptada ao contexto local”, conclui Larry So, indicando, porém, que foram registadas “melhorias” desde a transferência do exercício de soberania para a China. “Temos mais deputados eleitos pela população e as pessoas estão um pouco mais interessadas na política, mas foram dados passos ainda muito curtos”, constata.

Segundo este analista, a população local “é a favor de um desenvolvimento político gradual sem perturbação da ordem social e não se preocupa com quem está no Governo, mas com a sua qualidade de vida”. “Muita gente em Macau acha que Hong Kong está a ir um pouco longe demais com a sua reivindicação de democracia e não gostariam de ver tal perturbação na sociedade local”, repara.

O Governo, acrescenta, leva a cabo uma “política de válvula de segurança”, segundo a qual vai cedendo a algumas reivindicações para conseguir garantir a manutenção do estado das coisas. “Sufrágio universal vamos ter, mas depende de Hong Kong, que é o nosso irmão mais velho. Se ele o conseguir em 2017, nós conseguiremos em 2020 ou 2022”, prevê.

Em Timor-Leste, o outro território de língua portuguesa na Ásia, Elisabete Azevedo constata não haver ainda uma democracia em pleno. “Depois da euforia dos primeiros momentos eleitorais, a democracia timorense ainda tem muitos desafios, estando num processo de consolidação, até porque ainda tem carências muito significativas, nomeadamente ao nível da educação, tendo a seu favor uma economia fortíssima”.

Para Nelson Pestana, “o desenvolvimento da educação e uma melhor distribuição da riqueza poderão proporcionar uma apetência maior para sistemas abertos e de liberdade” nos países de língua portuguesa, até porque, realça, “têm muito maior capacidade de mobilização de sinergias nacionais para o desenvolvimento”.

Para já, sublinha, “não têm surgido lideranças locais” com capacidade para levar avante essas reivindicações, mas as novas gerações “poderão tornar-se numa força decisiva de mudança”.

Segundo Elisabete Azevedo, uma maior organização e colaboração das forças da oposição nestes países também era “fundamental para a sua democratização”. “Não se podem só culpar os partidos no poder nem desculpabilizar permanentemente as oposições”, concluiu.

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PM TIMORENSE NA TAILÂNDIA E COREIA DO SUL




Díli, 07 ago (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, participa hoje em Banguecoque, Tailândia, na sessão de abertura da 70ª sessão Comissão Económica e Social da ONU para a Ásia e Pacífico (UNESCAP), presidida por Timor-Leste.

Segundo uma nota à imprensa enviada pelo governo timorense, Xanana Gusmão viajou hoje para a Tailândia, onde vai permanecer até sexta-feira.

Timor-Leste assumiu a presidência da UNESCAP no ano passado.

A UNESCAP é composta por 62 Estados-membros com uma população de 4,1 mil milhões de habitantes e tem como objetivo ajudar os países a criar agendas de desenvolvimento equilibradas e inclusivas.

De Banguecoque, o primeiro-ministro timorense viaja para a Coreia do Sul, a convite da Federação da Paz, para intervir na sessão de abertura da Cimeira Mundial sobre "Paz, Segurança e Desenvolvimento Humano".

A cimeira vai decorrer entre sábado e quarta-feira.

MSE // PMC - Lusa

GUEBUZA



Gustavo Mavie, da AIM, em Washington

Washington, 07 (AIM) – O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, considera que a Cimeira EUA/África, na qual ele foi um dos participantes, foi um sucesso porque melhorou consideravelmente o entendimento entre as partes. 

Este entendimento traduz-se numa melhor compreensão sobre as potencialidades em que as partes assentarão a sua cooperação público-privado em todos os domínios da vida socioeconómica.

A Cimeira, o primeiro evento do género, teve como patrono o seu anfitrião o estadista norte-americano, Barack Obama.

Como que para revelar o seu acordo à afirmação feita pelo Obama na noite do dia anterior, em que o estadista norte-americano anunciou que a relação que agora pretende estabelecer com África estaria para além da simples “extracção de minerais do subsolo (africano) para o nosso crescimento económico”, Guebuza disse durante o briefing que concedeu aos jornalistas moçambicanos que cobriram esta cimeira, ter sido um momento único na longa história do relacionamento entre as duas partes, porque “nunca antes nos reunimos assim em Cimeira só entre nós e logo aqui em Washington”.

“Foi uma Cimeira atípica, porque desde que os EUA nasceram até hoje, nunca antes nos reunimos em cimeira como esta, como já nos reunimos com outros países num formato como este que acabamos de realizar aqui na nossa qualidade de membros da União Africana”, disse, adiantando que teve características inéditas, porque foi concebida para que os líderes africanos pudessem ter discussões também com os empresários daquele país país que estão a investir ou que querem investir no continente africano.

“Ficamos surpreendidos porque aqui encontramos grandes homens de negócio, mas também das finanças e, por isso, foi uma grande oportunidade de nos conhecermos melhor e juntos perspectivarmos o que podemos fazer em prol do progresso dos nossos países”, explicou Guebuza.

Revelou que durante a Cimeira propriamente dita, que teve lugar na quarta-feira, o seu homólogo norte-americano deixou claro que deseja que a cooperação entre o seu país e África seja mais abrangente e não se limitar apenas simples trocas comerciais. 

Na noite anterior, Obama disse aos estadistas africanos durante um encontro mantido na Casa Branca que deveria ser feito um maior esforço para o incremento das trocas comerciais. 

Para melhorar ilustrar, Obama disse que “o nosso intercâmbio comercial com África é ainda igual ao nosso comércio com o Brasil”, vincando que “quero ver africanos a comprarem mais produtos americanos; e quero ver americanos comprando mais produtos africanos”.

Durante o encontro, Obama anunciou que decidiu aumentar de sete para 12 biliões de dólares o valor concedido pelo seu Governo aos países africanos para co-financiar o projecto Power África, que visa a construção de mais centrais ou fontes energéticas no continente africano, cujo custo total é de 300 biliões de dólares a ser implementado nos próximos 10 anos.

Obama promoveu também uma iniciativa que resultou na disponibilização de mais 14 biliões de dólares das empresas norte-americanas que querem fazer novos investimentos em África, incluindo cinco biliões de dólares da Coca-Cola, uma das multinacionais americanas que possui avultados investimentos em Moçambique.

OBAMA DEU APENAS UM PASSO MAS TERÁ QUE CORRER MAIS PARA ACERTÁ-LO

Obama, que deve estar a inspirar-se na tese russa que diz que antes vale tarde que nunca, convocou esta Cimeira depois de várias outras organizadas entre África e outros gigantes, incluindo China, Japão, Índia e mesmo com a América Latina.

O certo é que não só é tarde que os EUA estão fazendo-a, como é muito pouco o que prometeu, principalmente quando se arroga o título de única Superpotência no Mundo.

Isto porque os 12 biliões de dólares que Obama colocou para co-financiar o tal Power África, está muito aquém dos 30 biliões de dólares que o Japão disponibilizou para África na última cimeira, melhor, Conferência Internacional sobre o Desenvolvimento da África realizada em 2013, o ano passado em Tóquio.

Mesmo a China, disponibilizou durante a última cimeira China-África, em Beijing, 20 biliões de dólares um crédito bonificado para os países africanos, valor que viria a ser incrementado em mais 14 biliões de dólares, quando o primeiro-ministro chinês, fez uma digressão por quase todos os países africanos, o que totaliza já 34 biliões de dólares, ou seja, mais do que o dobro do que os EUA doaram agora.

Olhando para outras áreas em que os EUA e África têm cooperado, acaba-se dando razão aos analistas que dizem que Washington está a correr atrás de prejuízos, e que tudo indica que se não o fizer será para sempre. 

Apontam o baixo volume das trocas comerciais como sendo a prova de que Washington terá de acelerar e eliminar muitos dos condicionalismos para o acesso aos seus fundos, se quiser ter uma cooperação dinâmica e mutuamente benéfica.

Um dos aspectos apontados como prova de que Washington está a dar passos de camaleão, é o facto de ter apenas pouco menos de 15 adidos comerciais nas suas embaixadas em todo o continente africano, contra 155 da China mantém em todo o mundo, estando a maioria no chamado continente mãe da espécie humana. 

A China está apostada em fazer trocas comerciais com África e os factos são evidentes pois só nos últimos 10 anos, aquele gigante asiático investiu no continente 75 biliões de dólares contra os 500 milhões em igual período contado até 2003. 

Beijing fez trocas comerciais com as 47 nações africanas que passaram de 60 biliões de dólares em 2012, para 210 biliões em 2013, segundo um estudo da “United World Lda”, publicado num suplemento inserido nas edições de terça e quarta-feira da USA TODAY, um dos maiores jornais diários americanos.

(AIM) GM/SG

MINISTRO ANGOLANO CHIKOTI CONSIDERA POSITIVA CIMEIRA EUA-ÁFRICA




A cimeira de Chefes de Estado e de Governo dos Estados Unidos da América e de África, realizada na quarta-feira, em Washington, sob o lema "Investir no futuro de África", foi "extremamente positiva", considerou o ministro angolano das Relações Exteriores, Georges Chikoti. 

Georges Chikoti procedia ao balanço da cimeira, em que o Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, foi representado por uma delegação chefiada pelo Vice-presidente da República, Manuel Domingos Vicente.

O governante afirmou que houve um engajamento "muito firme" em várias áreas, tendo enaltecido as discussões sobre a promoção do comércio com os Estados Unidos da América, que culminaram com o acordo com o Banco de Exportação e Importação dos EUA.

O referido acordo permitirá financiar projectos nos domínios dos transportes e da energia em Angola.

Quanto ao continente, disse que a cimeira "correu bem" porque os EUA aprovaram um financiamento de 26 biliões de dólares para apoiar as questões de paz e segurança  em África e prometeram financiar, com 110 milhões de dólares, os países africanos envolvidos em  processos de paz.

Referiu-se ainda ao engajamento americano na cooperação no domínio  da inteligência para combater o terrorismo, bem como a intenção de financiar iniciativas de jovens e mulheres.

O ministro afirmou que na cimeira, em suma, conseguiu-se abordar questões essenciais no interesse  do continente africano.

Sapo

Guiné-Bissau: Presidente da ANP reconhece que a assembleia «padece de males»




Bissau – O Presidente da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau (ANP) reconheceu esta quinta-feira, 31 de Julho, que a instituição que dirige «padece de males» e que só a força unida de todos os seus deputados será capaz de ultrapassar tais males.

Falando a PNN durante a abertura de sessão extraordinária, Cipriano Cassamá apelou à união dos deputados nesta nona legislatura para vencer os desafios que herdaram.

Cassamá anunciou que em Novembro, no início da sessão ordinária da IX Legislatura, serão debatidos, entre outros assuntos, a tão controversa «Lei de amnistia» para a qual pediu uma atenção, meditação e ponderação por parte dos deputados da nação. “Cada um deve reflectir se é a amnistia que vai consolidar a paz e a estabilidade, meditem e assumamos a nossa responsabilidade” disse Cipriano Cassamá garantido que os parlamentares farão desta legislatura uma legislatura de sucesso.

O Presidente da ANP garantiu também que os deputados vão lutar para uma estabilidade política e social onde reine um clima entendimento e de bom senso, acrescentando que a mulher e homem guineense precisam de sossego para debelar os sofrimentos em que vivem neste momento em todo o país.

O governo de transição já tinha apresentado no mês de Setembro de 2013 uma proposta referente à Lei de Amnistia a qual foi reprovada com 40 votos a favor, 25 contra e 7 abstenções. Esta lei impunha que fosse aprovada com um mínimo de 51 votos a favor, o que não foi o caso, no universo de 72 deputados presentes o hemiciclo na altura.

Na sessão desta quinta-feira foi escolhido o deputado Amizade Farã Mendes como presidente do Conselho de Administração da Assembleia Nacional Popular.

Tiago Seide - Bissau Digital - (c) PNN Portuguese News Network

MINISTRA PEDE CONTROLO E PREVENÇÃO DO ÉBOLA EM CABO VERDE




Ébola: Cristina Fontes anuncia triagem nos aeroportos e pede aos cabo-verdianos para evitarem viagens aos países afectados pela epidemia

A Ministra adjunta do primeiro-ministro, Cristina Fontes, pediu esta quarta-feira a colaboração de todos no controlo e prevenção do Ebola no país. "Não é para entrarmos em pânico, mas o perigo é real".

Cristina Fontes pediu a todos os cidadãos de Serra Leoa, Libéria, Guiné Conacri e Nigéria que vivem em Cabo verde "e que tiverem necessidade de visitar seus familiares" que antes de viajarem contactem as delegacias de saúde do país para controlo e orientação. O apelo serve também para aqueles que chegam a Cabo Verde destes destinos. "Quem não tiver urgência para viajar, o melhor é evitar. Essa doença não tem cura, nem vacina. Nós estamos pedindo, interpelando a colaboração de todos para prevenirmos".

A governante ainda alertou: "a pessoa infectada demora 21 dias para ter sintomas (período de incubação do vírus). E é nesta fase que a doença está apta a ser transmitida por meio de fluídos como vômito, sangue e lágrimas". A doença não é transmitida pelo ar ou por tosse, por exemplo", lembrou Cristina Fontes.

Cristina Fontes explicou ainda que todas as pessoas que chegam ao país por via aérea ou marítima com sintomas de febre, oriundos dos países onde há epidemia do Ebola, estão sendo encaminhados para centros de despistagem para monitoramento.

Segundo a Ministra da Saúde, "a Polícia Nacional está verificando nos aeroportos internacionais do país a proveniência dos passageiros que chegam ao país. "Se vem da Libéria, Serra Leoa e Conacri é imediatamente despistado. Se a pessoa não tiver nenhum sintoma é liberada. Se tiver sintomas, são verificados os seus sinais vitais e o doente será monitorado durante 21 dias pelo sistema de saúde que está montado", explicou Cristina Fontes.

A ministra lembrou ainda que o país dispõe de todo o aparato para agir em caso de confirmação ou suspeita da doença. "Temos equipamentos e kits de laboratório para fazer testes. O que nós queremos é reforçar a prevenção, para que não haja brecha", completou, fazendo menção ao ocorrido recentemente na Nigéria, com a confirmação do primeiro caso da doença no país. "Um alto funcionário da Libéria escondeu das autoridades sanitárias nigerianas que tinha estado num enterro de um familiar. Afirmou que não tinha entrado em contacto com ninguém. E vejam o que aconteceu".

O homem em questão é Patrick Sawyer, um consultor do Ministério das Finanças da Libéria, que morreu de Ebola na Nigéria, no dia último dia 25 de Julho, depois entrar em colapso ainda no aeroporto de Lagos e passar cinco dias em tratamento. Desde então, cinco casos de suspeita da doença foram notificados na Nigéria e anunciada a morte da enfermeira que participou dos cuidados de Sawyer.

"Portanto, se conseguirmos identificar os sintomas do vírus, isolamos o doente, o tratamos e impedimos (o espraiamento)", reforçou a ministra da Saúde. "Há algo que se chama Regulamento Sanitário Internacional, que é acionado nestes casos. As autoridades sanitárias nacionais já informaram as autoridades marítimas portuárias, e as hipóteses mais possíveis (de entrada da doença) são o aeroporto da Praia e do Mindelo. E nessas duas unidades estão a agir. Tudo o que pode ser feito do ponto de saúde está sendo feito. Teremos, inclusive, simulações para ver se as coisas estão a funcionar", garantiu a Ministra Adjunta e da Saúde de Cabo Verde.

A Semana (cv)

*Título PG

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BES. Portugueses acham que BdP e Procuradoria agiram tarde - sondagem



Carlos Diogo Santos – jornal i

Segundo a sondagem i/Pitagórica, as declarações do governo e do Banco de Portugal sobre o BES não inspiraram confiança

A grande maioria dos portugueses está convencida de que o Banco de Portugal (BdP) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) deveriam ter actuado mais cedo nos problemas do Banco Espírito Santo. De acordo com uma sondagem i/Pitagórica, realizada poucos dias antes de ser anunciado o fim do BES e a sua divisão em duas partes, metade dos inquiridos disseram também não ter confiado nas mensagens de tranquilidade que governo e BdP foram transmitindo desde a saída de Ricardo Salgado do banco.

Nos últimos meses, o Banco de Portugal levou a cabo várias diligências para tentar minimizar as consequências dos problemas económicos do Grupo Espírito Santo no BES e no sistema financeiro português. Mas para grande parte dos portugueses a pressão feita para a saída de Salgado, em Junho, ou mesmo a imposição de uma reunião do conselho de administração do BES - no mês passado - para cooptação de Vítor Bento foram medidas que tardaram a chegar.

Cerca de 70% consideram que o Banco de Portugal deveria ter agido mais cedo. De acordo com os resultados desta sondagem apenas 14,9% acham que as diligências levadas a cabo pelo supervisor bancário nos últimos meses aconteceram no tempo certo. Por outro lado, 2,2% defenderam que Carlos Costa deveria ter aguardado mais tempo antes de tomar qualquer medida. Da amostra, apenas 13,7% disseram não saber ou não querer responder.

Os portugueses, contudo, não apontam culpas apenas à supervisão e consideram que o Ministério Público também agiu demasiado tarde neste caso. Dois em cada três inquiridos defendem que a Procuradoria-Geral da República demorou muito tempo a tomar decisões.

Esta sondagem i/Pitagórica que aconteceu já depois de a PGR ter confirmado - a 18 de Julho - a existência de investigações criminais em curso sobre o caso BES concluiu, ainda assim, que para 18,5% dos inquiridos a intervenção aconteceu na altura certa. Apenas 2,6% defenderam que o órgão que governa o Ministério Público deveria ter esperado mais algum tempo antes de agir e 15,4% não sabem ou não quiseram responder.

Até ser anunciada a solução encontrada para contornar os problemas do Banco Espírito Santo, o BdP e vários membros do governo afirmaram que o banco não oferecia problemas de liquidez e que estava blindado às dificuldades financeiras do Grupo Espírito Santo (GES). Mas as várias mensagens transmitidas através dos meios de comunicação social não convenceram os portugueses: só 8,8% disseram ter "total" ou "muita confiança" nas garantias dadas pelo executivo de Pedro Passos Coelho e pelo BdP. Mais de metade dos inquiridos disseram que não ficaram convencidos com essas declarações públicas. Dos entrevistados, 26,2% disseram não ter "nenhuma confiança" e 28,4% adiantaram ter "pouca confiança". Ainda assim, 28,4% asseguram ter tido "alguma confiança" nessas afirmações que davam conta de que o país não seria afectado.

A 30 de Julho - durante a realização desta sondagem -, um comunicado do Banco de Portugal reconhecia que afinal o banco não era impermeável aos problemas do GES e antecipava já a necessidade de recurso à linha de recapitalização pública financiada com fundos da troika.

FUTURO DO BANCO 

No último domingo, o governador do BdP, Carlos Costa, anunciou que o velho BES seria dividido em duas partes: uma capitalizada com 4,9 mil milhões de euros e expurgada de activos tóxicos que passaria a denominar-se Novo Banco; e outra que, perdendo a licença bancária, ficaria com todos os problemas do BES. O também chamado "banco mau" mantém-se nas mãos dos actuais accionistas do BES e vai para liquidação. Já o Novo Banco irá manter a actividade bancária, com os clientes, funcionários e agências do antigo Banco Espírito Santo e a intenção das autoridades é que seja vendido até final do ano a investidores privados.

sondagens_bes_1.pdf no jornal i

CLONES DE PORTUGUESES EXCELENTÍSSIMOS MENTEM E ROUBAM IMPUNEMENTE


Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

Confesso a minha ignorância acerca de muita coisa que acontece por este mundo, ainda mais em economia e finanças (exceto na doméstica), e muito mais em ciências. E noutras matérias. Em suma: assumo-me um grande ignorante que mal sabe ler, escrever e contar. Reconheço que isso é da competência dos doutores. Principalmente os engravatados e de colarinho branco, que todos os dias vimos nas televisões a partilhar as suas sapiências.

Dito isto avanço. Tenho para mim que estamos a ser invadidos por clones, sequestradores das elites portuguesas (quiçá mundiais) que substituem abusiva e criminosamente o governo bom para exercer um mau governo (exceto para as suas conveniências). O mesmo se passa na Presidência da República. Agora, flagrantemente, até acontece com banqueiros de honestidade inquestionável, como é o caso de Ricardo Salgado, do caso BES. E se recuarmos no tempo podemos lembrar Oliveira e Costa do BPN, e outros, e outros. Tudo membros de uma elite imaculada que de repente descambam para mentirosos, vigaristas e ladrões. Tenho para mim, repito, que esses tais vagabundos não são os originais, os de facto paridos pelas mãezinhas, mas sim os clones malvados que nos enfernizam a vida e depauperam sem escrúpulos nem contemplações o país inteiro.

Pode lá ser, no caso de Salgado, o original banqueiro ter feito tanta trapaça. Assim como não devemos acreditar que o Oliveira e Costa do BPN seja o original. Nem Cavaco Silva, que recebeu favores do Oliveira e Costa clone, tendo ganho com isso uns largos milhares quase sem ter tempo de espirrar. E a filha daquele Cavaco clone também. Se calhar nem foi ele que trocou a sua casa do coração no Algarve, a Vivenda Mariana, por uma aparatosa mansão em condomínio fechado na Aldeia da Coelha. Nem foi ele que tentou ludibriar o Fisco naquela “história” da Sisa. Impossível. Nanja tais atos reprováveis, até imorais num país de tanta pobreza, de um homem honesto e escrupuloso, impoluto, como Cavaco original. Só pode ser um clone. Muito provavelmente até naquela Aldeia da Coelha de uns quantos o condomínio é só de clones. Isto porque Oliveira e Costa é vizinho de Cavaco ali. E outros das elites portuguesas cujos originais são realmente insuspeitos. Quanto aos clones… Ponho as minhas sérias dúvidas. Até certezas, por causa dos filingues.

Repare-se, por exemplo, neste malvado clone de Pedro Passos Coelho. O original, na campanha eleitoral disse verdades e prometeu responsavelmente o que sabia que podia prometer. Saiu o resultado das eleições. Soube-se que Passos Coelho ia ser primeiro-ministro. Tomou posse. Suspeito que logo ali avançou o clone. Que passou a governar ao contrário daquilo que o Passos original governaria com a sua característica transparência, sensibilidade, independência, patriotismo, autenticidade, verdade. Este Passos que vimos nos telejornais só pode ser um clone do original e tão honesto individuo que conhecemos desde jovem. Um jovem talentoso de capacidades superiores e bem talhado para a missão de governar. Infelizmente alguém, alguma organização estuporada e criminosa o substituiu por um clone. O descalabro, o resultado, está à vista. Para mal de todos nós.

A invasão de clones até passou a ser notória entre os imensos comentadores políticos da escrita e das televisões. Nas televisões é flagrante. Marques Mendes, que no original é um cidadão impecável e coerente, fazia críticas severas ao comportamento do clone Passos Coelho, ao já ido Vítor Gaspar, ministro das Finanças, a todo o governo de modo geral pelas políticas empreendidas. De um momento para o outro surge um Marques Mendes diferente, o contrário do original, claro. Ali só podemos ver um clone do piorio que apoia os seus comparsas clones sem vergonha. E isso nem é difícil de detetar em todos os clones. Eles são desprovidos de vergonha e de qualidades e sentimentos humanos como os conhecemos e consideramos imprescindíveis aos eleitos e das elites que devem governar bem e não governarem-se selvagem e despudoradamente. Marques Mendes é só um exemplo. Mas quantos clones não haverá assim em Portugal? Olhem que às vezes até o professor Marcelo… Às vezes desconfio de que aquele que aparece no ecrã seja um clone.

Clones e mais clones. Sendo assim o mesmo se deve passar com imensos políticos e banqueiros. Com gestores e outros doutores. Urge saber quem arrecadou os originais e fez avançar para cargos tão importantes os clones que nos mentem e nos roubam impunemente.

A pergunta que se põe: onde estão os originais? Será este um caso de polícia? Cá para mim é. Investiguem e encontrem os autênticos, os bons, os honestos. Cá para mim, fazerem-se passar pelos portugueses excelentíssimos da elite nacional é crime. Levem todos estes clones para a choça e que por lá fiquem a ver o sol aos quadradinhos. 

Não fosse a minha enorme ignorância e podem acreditar que eu descobria os originais. Assim traria absoluta inquestionabilidade aos meus palpites. Mais que palpites.

Silva Pereira levanta suspeitas sobre tempo de aprovação da resolução sobre BES




Este ex-ministro da Presidência lembrou que existem documentos que provam que a intenção de encerrar o BES já estava a ser preparada antes de sexta-feira e perguntou se o Governo terá cumprido o dever de informação relevante ao mercado.

O socialista Pedro Silva Pereira levantou, na quarta-feira, suspeitas sobre o tempo de aprovação da resolução sobre o BES e a influência do Governo no processo.

Na SIC Notícias, o antigo ministro da Presidência recordou que o processo não começou na sexta-feira e lembrou que existem agora documentos que provam que a intenção de encerrar o BES já estava a ser preparada antes deste dia.

Segundo Pedro Silva Pereira, esta solução foi construída e viabilizada jurídicamente na quinta-feira de manhã, o que faz pensar que a ideia já estava ser pensada antes, já que «ninguém consegue aprovar um diploma com vários artigos na quinta-feira».

«Foi naqueles dias em que se esperava a divulgação dos prejuízos do BES que aconteceu na quarta-feira que certamente Governo e Banco de Portugal foram preparando a operação de resolução do BES», explicou.

Pedro Silva Pereira adiantou que esta operação foi feita com uma particularidade, uma vez que os «atos preparatórios aconteceram permanecendo o BES cotado em bolsa» na quinta-feira e sexta-feira, quando o banco perdeu 62 por cento do seu valor.

O agora deputado do PS questionou-se ainda se o Governo terá cumprido o dever de informação relevante ao mercado quando chegaram à conclusão que o BES já não tinha salvação.

«A partir desse momento, eles têm informação relevante para o mercado e, portanto, a destruição de valor que acontece naqueles momentos, o risco de fuga de informação quanto a essa intervenção é imenso», concluiu.

TSF

A PALAVRA É GENOCÍDIO



José Goulão – Jornal de Angola, opinião

Esqueçam as comparações entre o que se passa hoje em Gaza e as características de outras operações terroristas realizadas nas últimas décadas, até mesmo da autoria dos governos e tropas de Israel. 

Podemos detectar pontos de contacto muito nítidos na invasão do Líbano em 1982, especialmente durante as semanas do sangrento cerco a Beirute Oeste, mas o horror do cenário actual supera isso tudo. Não é apenas o caso da “desproporção” de forças, com que alguns dirigentes ocidentais julgam aliviar consciências (caso ainda as haja) ou, mais provavelmente, tentam sacudir o sangue que lhes espirra para as farpelas devido às óbvias cumplicidades com os criminosos.

(Em alguns casos, abra-se aqui um parêntesis, mais valia que ficassem calados como é o caso de os Estados Unidos terem condenado o bombardeamento de uma escola ao mesmo tempo que aprovavam o fornecimento de mais munições ao exército israelita para que a chacina continue. Depois disso, já mais duas escolas foram arrasadas e, com elas, mais 30 vidas humanas).

O que está a acontecer em Gaza remete-nos directamente para o modo como nasceu o Estado de Israel e as limpezas étnicas onde lançou as suas raízes. Gaza é uma nova fase da implantação de Israel em todo o território da antiga Palestina, é a liquidação da solução de “dois Estados”, que nunca existiu na cabeça dos sectores racistas e siofascistas cada vez mais dominantes no Estado sionista, mas apenas nas palavras de conveniência.

Os dirigentes israelitas insistem na tese de quem ataca – a resistência palestiniana, e quem defende – o exército israelita. O estratagema não passa de um acto de propaganda primária que o governo de Telavive tem a certeza de ser espalhado aos ventos pelos megafones que lhe são atentos, veneradores e obrigados.

Gaza é, há muito, por obra de Israel e, em grande parte, do Egipto, uma prisão a céu aberto onde dói viver. 

Os foguetes do Hamas serão, como escreve o jornalista israelita Gideon Levy, “a única maneira que o território tem tido de se fazer ouvir”. Tragicamente é verdade, porque o bloqueio mata e a recusa em negociar da parte israelita também. Os foguetes do Hamas também, por vezes, mas a opressão – e o bloqueio é uma opressão – sempre gerou resistência, mesmo “desproporcionada”.

A tese israelita de quem defende e quem ataca é uma densa cortina de poeira para esconder a realidade. Israel prepara condições para liquidar a resistência, ocupar e anexar a Faixa de Gaza, se possível com uma colonização israelita e um mínimo de população árabe. Como? 

Basta abrir uma porta de saída a uma população que não tem agora por onde fugir do inferno e estabelecer um prazo durante o qual se mantém tão generoso acto “humanitário”. O deserto do Sinai é amplo (e agora a cumplicidade egípcia tudo indica que também o seja). Nada de original: foi assim em 1948 em centenas de povoações palestinianas, mesmo ali nos arredores. 

Localidades israelitas que se chamam Siderot, Yad Natan, Zohar, Eshkolot, Erez, Helets e que há 50 anos, como nos séculos anteriores, se chamavam Dimra, Beit Daras, al-Betani-al-Gharbi, Yassur, Karativa, Buryair, habitadas por populações que, com respectivos descendentes, são agora os degredados de Gaza.

O que está a acontecer em Gaza não é uma guerra, não se iludam, muito menos uma auto-defesa. É a criação premeditada, perversa, fria e desumana de uma situação de pânico, terror e desespero numa população de milhão e meio de pessoas à mercê dos algozes, enquanto o mundo não mexe uma palha, apenas debita palavres piedosas, para travar este novo Holocausto que tem em Nakba a sua palavra correspondente em árabe. 

O objectivo sionista é o de sempre: substituir uma população por outra.

Uma guerra, que dizem ser “fábrica de heróis”, faz-se entre exércitos. Quando se chacina uma população e devastam lugares onde se acolhem os indefesos da sociedade, sobretudo as crianças, não é correcto falar-se de guerra. A palavra a­justada é genocídio.

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