segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Europa: OUTONO QUENTE PARA RECONSTRUIR A DEMOCRACIA

 


Ignacio Ramonet saúda novas mobilizações sociais e sustenta, em diálogo com Zygmun Bauman: “são caminho para novo sistema político”
 
Ignacio Ramonet - Tradução: Antonio Martins – Outras Palavras
 
Como se as férias de verão fossem um manto de esquecimento, que dissipasse a brutalidade da crise, os meios de comunicação tentaram distrair os europeus com doses maciças de embrutecimento coletivo: Copa Europa de futebol, Jogos Olímpicos, aventuras das “celebridades” na praia etc. Tentaram fazer esquecer a onda de cortes de direitos que se aproxima – de forma particularmente dolorosa, na Espanha. Mas não conseguiram. Entre outras razões, porque as audazes ações de Juan Manuel Sánchez Gordillo e do Sindicato Andaluz de Trabalhadores (SAT) romperam a amnésia e mantiveram o alerta social. O outono será quente.
 
Numa conversa pública que mantive em agosto passado (1) com o filósofo Zygmunt Bauman, coincidíamos na necessidade de romper com o pessimismo que prevalece em nossa sociedade, desiludida com o modo tradicional de fazer política. Devemos deixar de ser sujeitos individuais e isolados, e nos converter em agentes da mudança, em ativistas sociais interligados. “Temos o dever de assumir o controle das nossas próprias vidas – afirmou Bauman. Vivemos um momento de grave incerteza, onde o cidadão não sabe realmente quem está no comando. Isso nos leva a perder a confiança nos políticos e nas instituições tradicionais.
 
Os políticos condicionam os cidadãos a que tenham sempre medo, para assim poder controlá-los, reduzir seus direitos e limitar as liberdades individuais. Estamos num momento muito perigoso, porque as consequências de tudo isto afetam nossa vida diária. Repetem-nos que devemos ter segurança no trabalho e conservá-lo, apesar das duras condições de emprego e de precariedade, porque assim obteremos dinheiro para poder gastar… O medo é uma forma de controle social muito poderosa”.
 
Se o cidadão já não sabe quem está no comando, é porque produziu-se uma bifurcação entre poder e política. Até há pouco, eles confundiam-se. Numa democracia, o candidato (ou a candidata) que, pela via política, conquistava eleitoralmente o poder Executivo, era o(a) único(a) que podia exercê-lo (ou delegá-lo) com toda a legitimidade. Hoje, na Europa neoliberal, já não é assim. O sucesso eleitoral de um presidente não lhe garante o exercício do poder real. Porque, acima do eleito político, encontram-se (além de Berlim e Angela Merkel) dois supremos poderes não-eleitos, que o governante não controla e que ditam sua conduta: a tecnocracia europeia e os mercados financeiros.
 
Estas duas instâncias impõem a sua agenda. Os eurocratas exigem obediência cega aos tratados e mecanismos europeus, que são geneticamente neoliberais. Pela sua parte, os mercados punem qualquer indisciplina que expresse desvio da ortodoxia neoliberal. De tal modo que, prisioneiro destas duas margens rígidas, o rio da política avança obrigatoriamente em direção única, sem nenhum espaço real de manobra. Ou seja: sem poder.
 
“As instituições políticas tradicionais são cada vez menos criveis – disse Zygmunt Bauman – porque não ajudam a solucionar os problemas com que os cidadãos se viram envolvidos de repente. Produziu-se um abismo entre as democracias (o que as pessoas votaram), e os diktats impostos pelos mercados – que engolem os direitos sociais das pessoas, os seus direitos fundamentais”.
 
Estamos assistindo à grande batalha do Mercado contra o Estado. Chegamos a um ponto em que o Mercado, na sua ambição totalitária, quer controlar tudo: a economia, a política, a cultura, a sociedade, os indivíduos… E agora, associado aos meios de comunicação de massas que funcionam como o seu aparelho ideológico, o Mercado deseja também desmantelar o edifício dos avanços sociais, aquilo a que chamamos: “Estado de bem-estar”.
 
Está em jogo algo fundamental: a igualdade de oportunidades. Por exemplo, privatiza-se de forma silenciosa (ou seja: transfere-se para o mercado), a educação. Com os cortes, vai-se criar uma educação pública de baixo nível, na qual as condições serão estruturalmente difíceis, tanto para os professores como para os alunos. O ensino público terá cada vez mais dificuldades para estimular a emergência de jovens de origem humilde. Em troca, para as famílias ricas, a educação privada vai seguramente crescer. Vão-se criar de novo categorias sociais privilegiadas, que acederão aos postos de comando. E outras, que só terão acesso aos postos de obediência. É intolerável.
 
Nesse sentido, a crise provavelmente atua como o choque, de que fala a socióloga Naomi Klein no seu livro A Doutrina do Choque (2): utiliza-se o desastre econômico para permitir que a agenda do neoliberalismo se realize. Criaram-se mecanismos para vigiar e manter sob controle as democracias nacionais. Aplicam-se (como está acontecendo na Espanha e ocorreu antes na Irlanda, Portugal ou na Grécia), ferozes “programas de ajuste”, supervisionados por uma nova autoridade: atroika, composta pelo Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu: instituições não democráticas, cujos membros não são eleitos pelo povo. Instituições que não representam os cidadãos.
 
Estas instituições – com o apoio dos meios de comunicação de massas, que obedecem aos interesses de grupos de pressão econômicos, financeiros e industriais – são encarregadas de criar as ferramentas de controle que reduzem a democracia a um teatro de sombras e de aparências. Com a cumplicidade dos grandes partidos de governo. Que diferença há entre a política de cortes praticada, na Espanha, por Rodríguez Zapatero e Mariano Rajoy? Muito pouca. Ambos curvaram-se servilmente aos especuladores financeiros e obedeceram cegamente às consignas eurocráticas. Ambos liquidaram a soberania nacional. Nenhum dos dois tomou qualquer decisão política para pôr um freio à irracionalidade dos mercados. Ambos consideraram que, face aosdiktatsde Berlim e ao ataque dos especuladores, a única solução consiste – à semelhança de um rito antigo e cruel – em sacrificar à população, como se o tormento infligido às sociedades pudesse acalmar a ganância dos mercados.
 
Em semelhante contexto, os cidadãos têm a possibilidade de reconstruir a política e de regenerar a democracia? Sem dúvida. O protesto social não para crescer. E os movimentos sociais reivindicativos vão-se multiplicar. Por agora, a sociedade ainda crê que esta crise é um acidente e as coisas voltarão rapidamente a ser como eram. É uma miragem. Quando tomar consciência de que isso não ocorrerá e de que os ajustes não são “de crise”, mas estruturais – então o protesto social alcançará um nível importante.
 
Que exigirão os que vão protestar? Nosso amigo Zygmunt Bauman é claro: “Devemos construir um novo sistema político que permita um novo modelo de vida e uma nova e verdadeira democracia do povo”. Que estamos esperando?

*
Ignacio Ramonet é jornalista, editor do Le Monde Diplomatique, edição espanhola, e presidente da rede Memória das Lutas – Medelu.
 
Para ler todos os seus artigos em Outras Palavras, clique aqui
 
(1) No quadro do Fórum Social organizado durante o Festival Rototom Sunsplash, em Benicàssim (Castellón) de 16 a 23 de agosto de 2012.
(2) Naomi Klein, A doutrina do choque: ascensão do capitalismo de desastre. Nova Fronteira, Rio de Janeiro
 

Brasil: A GUERRA DA VEJA CONTRA O RETORNO DE LULA

 


Do ponto de vista político, a pauta da Veja, já devidamente abraçada pela oposição ao governo federal, parece ter um objetivo claramente definido. No momento em que Lula começa a voltar aos palanques, nas campanhas das eleições municipais, e em que o STF começará a julgar os réus do chamado “núcleo político do mensalão”, a tentativa é de colar uma coisa na outra. Colunistas políticos repercutiram amplamente supostas declarações de Marcos Valério. "Nada impede que uma denúncia seja feita contra Lula mais adiante", sugeriu Merval Pereira, de O Globo.
 
Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior
 
A revista Veja publicou neste final de semana mais uma de suas bombásticas “denúncias” contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Marcos Valério envolve Lula no mensalão”, diz a publicação. Quase que imediatamente, os colunistas políticos de sempre passaram a reproduzir a “informação” da revista. Cristiana Lôbo tuitou sábado à tarde: “Está instalada a polêmica sobre entrevista de Marcos Valério à Veja. Diz que Lula sabia e que PT deu garantias de punição branda por silêncio”. Detalhe: não havia nenhuma “entrevista de Marcos Valério” na revista. E a própria Veja dizia isso: a reportagem foi “feita com base em revelações de parentes, amigos e associados”.

O jornalista
Ricardo Noblat foi outro que passou a tarde de sábado repercutindo a “denúncia” da revista. Ainda no sábado veio o desmentido do advogado de Valério: “O Marcos Valério não dá entrevistas desde 2005 e confirmou para mim hoje que não deu entrevista para a Veja e também não confirma o conteúdo da matéria”, disse Marcelo Leonardo. Noblat não seu deu por vencido e, pelo twitter, reclamou dos termos do desmentido: “O advogado de Valério diz que seu cliente não confirma as informações publicadas pela Veja. Por que não disse que Valério as desmente?”. Entusiasmado, o imortal Merval Pereira (O Globo) afirmou em um artigo intitulado “Valério acusa Lula”: “os estragos políticos são devastadores, e nada impede que uma denúncia seja feita contra Lula mais adiante”. Merval não mencionou o desmentido oficial do advogado de Valério.

A tese do “domínio final do fato”

A Folha de S.Paulo correu para dar voz a José Serra que classificou as “denúncias” como graves e defendeu a abertura de investigações. Merval Pereira, fazendo às vezes de jurista, manifestou esperança na tese do “domínio final do fato”, que levou o Procurador- geral Roberto Gurgel a acusar José Dirceu como “o chefe da quadrilha do mensalão”. O jornalista de O Globo escreveu: “Alguns ministros do Supremo deixaram escapar, no início do julgamento, que pela tese do domínio final do fato, se a cadeia de comando não terminasse no ex-ministro José Dirceu, teria forçosamente que subir um patamar e atingir o ex-presidente Lula”.

Já o colunista político
Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo preferiu explorar as possíveis consequências políticas da matéria nas eleições municipais deste ano. Ele escreveu sábado em seu blog: “Do ponto de vista jurídico, o efeito pode ser nulo. O processo do mensalão está em fase de julgamento e não serão mais acrescentadas provas. Do ponto de vista político, a reportagem da revista Veja desta semana pode ter grande impacto na reta final das eleições municipais, sobretudo nas grandes cidades nas quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem interesse direto, junto com o PT, em garantir vitórias para alavancar a sigla em 2014”.

Merval: “nada impede uma nova denúncia”

Mais uma vez, o circuito da “informação” funcionou e o assunto ganhou ampla repercussão pelos “formadores de opinião” de plantão. O funcionamento desse circuito é um tanto peculiar. Denúncias com base factual muito forte, como aquelas relacionadas às ligações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com a revista Veja, são solenemente ignoradas. Qualquer denúncia publicada pela revista Carta Capital recebe o mesmo tratamento silencioso. Mas qualquer denúncia da Veja é rapidamente repercutida. Os jornalistas citados acima sequer se dão ao trabalho de dar alguma justificativa para esse comportamento seletivo. Ele parece estar inserido, para usar a tese cara a Merval Pereira no “domínio final dos fatos”. Mas essas observações, é claro, são carregadas de uma certa ingenuidade. Não há razões para supresas nem espantos quanto ao funcionamento desse mecanismo de repercussões.

O artigo de Merval Pereira não deixa nenhuma dúvida sobre o que seria esse “domínio final dos fatos”, ou melhor, quem seria: Luiz Inácio Lula da Silva. O site Brasil 247 afirmou, na tarde de domingo, em texto intitulado “Globo antecipa próxima etapa do golpe contra Lula”: “No seu artigo deste domingo, Merval Pereira toma como verdade a “entrevista” de Veja com Marcos Valério, já negada pelo publicitário, e avisa: ‘Nada impede que uma nova denúncia seja feita mais adiante’. Ou seja: com alguns companheiros condenados e outros presos, Lula terá uma espada no pescoço”. Em outra matéria (“Civita deflagra operação para colocar Lula na cadeia”), o
Brasil 247 sustentou que o objetivo da Veja é transformar Lula em réu no STF e impedir que ele volte à concorrer à Presidência da República.

Cristiana Lôbo pede explicações a Noblat

No início da noite de domingo, Cristiana Lôbo pediu a Ricardo Noblat, mais uma vez pelo twitter, para que ele explicasse em que pé estava o assunto: “Passei o fim de semana em Goiânia e não entendo mais a polêmica sobre a não entrevista de M. Valério. Você pode me explicar @BlogdoNoblat ?” E Noblat explicou do seguinte modo (em três tuitadas sucessivas), introduzindo uma novidade, a existência de uma suposta gravação com Marcos Valério: “Veja entrevistou Valério. O advogado dele foi contra. Combinou-se de apresentar a entrevista como conversas de Valério com outras pessoas. E assim saiu a matéria. Ocorre que o advogado de Valério desmentiu que ele tivesse dito o que a Veja publicou. Aí ficou parecendo que a Veja teria inventado coisas e atribuído a Valério. Por isso a direção da revista decide se divulga a fita”.

Do ponto de vista político, a pauta da Veja, já devidamente abraçada pela oposição ao governo Dilma, parece ter um objetivo muito claramente definido. No momento em que Lula começa a voltar aos palanques, nas campanhas das eleições municipais, e em que o STF começará a julgar os réus do chamado “núcleo político do mensalão”, a tentativa é de colar uma coisa na outra. No final da noite de domingo, o Brasil 247 publicou a seguinte síntese sobre o caso, deixando um conselho para o ex-presidente Lula: “No momento em que retorna aos palanques, Lula é alvo de uma tentativa de golpe preventivo. O recado que os opositores transmitem é: “se voltar levará chumbo”. Diante do ataque organizado, o ex-presidente só tem uma alternativa, que é lutar para não ser devorado pelos adversários”.

Fotos: Instituto Lula

"É impossível pensar sistema capitalista internacional sem o dinheiro do narcotráfico"

 


"É impossível pensar o sistema capitalista internacional sem pensar no dinheiro do narcotráfico", denunciou o jornalista José Arbex Jr. em Simpósio sobre Esquerda na América Latina. O tráfico de drogas movimenta cerca de 500 bilhões de dólares por ano, segundo dados indiretos. Algumas cifras chegam a 1 trilhão. "O dinheiro não está nas favelas nem nos morros, faz parte do sistema financeiro e sustenta grandes bancos", disse Arbex.
 
Isabel Harari – Carta Maior
 
São Paulo - "É impossível pensar o sistema capitalista internacional sem pensar no dinheiro do narcotráfico", denunciou o jornalista José Arbex Jr. em Simpósio sobre Esquerda na América Latina, realizado na USP. A mesa também contou com a presença do historiador Henrique Carneiro, a especialista em História da Cultura Rosana Schwartz e Julio Delmanto, mestrando em História Social e membro do coletivo DAR (Desentorpecendo a Razão). O fio condutor do debate foi a relação de simbiose entre o proibicionismo e o sistema financeiro capitalista.

O tráfico de drogas movimenta cerca de U$500 bilhões de dólares por ano, segundo dados indiretos, algumas cifras chegam a quantia de U$ 1 trilhão. "O dinheiro não está nas favelas nem nos morros, faz parte do sistema financeiro e sustenta os grandes bancos", continuou Arbex. Para ele, o discurso da guerra ao narcotráfico é vazio, pois os países que se colocam como combatentes às drogas fazem parte da corrente altamente rentável do tráfico, logo, resistem tanto à legalização.

O jornalista explicitou a relação do tráfico de drogas com o de armas. Jogou luz ao fato de que as cifras acerca do comércio de armas no Brasil são desconhecidas, e mantidas em segredo "por questões de segurança", segundo a Taurus, uma das maiores fabricantes de armas no Brasil."Ninguém controla o dinheiro que movimenta o narcotráfico, assim como ninguém controla o dinheiro que cintrola o tráfico de armas. Isso serve aos interesses do capitalismo", continuou.

Carneiro explicou que o critério utilizado para determinar se uma determinada droga é ilícita ou não, é ligada a constituição da Ordem Internacional. Ou seja, um grupo de países determina, por unanimidade, quais drogas devem ou não serem aniquiladas. "Não existe fundamento científico", disse. Segundo ele, "a esquerda é cúmplice e agente da Ordem, cenário que aparentemenrente está de modificando", completou.

Julio Delmanto trouxe à tona as consequências da política proibicionista implantada na denominada "guerra as drogas". A proibição não só não resolve a questão, como promove o desenvolvimento das indústrias farmacêuticas e das clínicas particulares, a criminalização da pobreza, o encarceiramento em massa e as internações compulsórias. Para ele, a "delinquência útil", forma taxativa pela qual os usuários são denominados, é um instrumento para gerar a ilegalidade, altamente lucrativa e instrumento de controle da população.

O mote da fala de Rosana Schwartz foi a presença das mulheres frente ao tráfico de drogas, "não se fala tanto, não existem trabalhos sobre o assunto", disse. Segundo ela, há uma visão de que a mulher "é um ser que deveria ficar dentro de casa, mais propenso a ser degenerado". Sua pesquisa consiste, entre outras vertentes, em ouvir as mulheres que se envolveram no tráfico e entender suas posições como sujeitos sociais em uma realidade proibicionista e higienista. "O amor e o medo de perder o marido, na maioria das vezes, é apresentado como o principal motivo da entrada para o tráfico, e a função subalterna na mulher no meio disso tudo é evidenciado", completou.

O Brasil é um dos maiores exportadores de tabaco, de álcool e com uma indústria farmacêutica altamente lucrativa (alimentada pela indútria dos agrotóxicos e trangênicos), também é um dos países com a política de drogas mais ferrenha. "As razões do proibicionismo embasam-se no puritanismo e no controle social da força produtiva. O mercado clandestino é essencial para a sobrevivência do capitalismo, a proibição agrega valor à droga e é um prêmio para os traficantes", explicou Carneiro.
 

O ÚLTIMO 11 DE SETEMBRO – II

 

Martinho Júnior, Luanda
 
5 – Para “salvar os reis” os Estados Unidos estão reféns dum “desencontro”: foram eles que estimularam as ondas de tensão e provocação contra os governos instalados (seus ex-aliados na Tunísia, na Líbia e no Egipto), dando sequência às “revoluções coloridas” e têm eles mesmo propiciado a fundamentalistas radicais originalmente financiados a partir da Arábia Saudita e Qatar, alguns deles tendo feito parte da Al Qaeda, todo o tipo de apoio, instigando-os até a ter um papel fundamental nas “primaveras árabes”, em particular na Líbia e agora também na Síria.
 
A “ambiguidade” dos Estados Unidos em relação à Al Qaeda só o é para aqueles que não valorizam os relacionamentos históricos dos norte americanos com as monarquias arábicas, em função das quais está a Al Qaeda associada.
 
Essa ligação, apoio e manipulação foi impulsionada em primeira mão pela Administração Republicana de Ronald Reagan que estimulou os “freedom fighters” simultaneamente na Nicarágua, em Angola (UNITA sob as ordens de Savimbi) e no Afeganistão.
 
A CIA encarregar-se-ia das ligações, das orientações e do apoio, pelo que no Afeganistão Bin Laden e a Al Qaeda tiveram um papel importante contra o regime implantado em Cabul com o apoio dos soviéticos, no seu derrube e na retirada militar soviética.
 
A Al Qaeda só teve fluidez histórica em função de sua instrumentalização pela CIA, não sendo de admirar os interesses comuns, por exemplo, entre as famílias Bush e Bin Laden no Carlyle Group, facto a que por diversas vezes me tenho reportado. (“O Carlyle Group, integrado pelas famílias Bush e Bin Laden, foi premiado com um contrato de mil milhões de dólares para reconstruir o Iraque” – http://resistir.info/eua/carlyle_group.html).
 
6 – Muito embora o derramamento de sangue fosse limitado na Tunísia como no Egipto, na Líbia e na Síria o empenho de grupos que alguma vez estiveram integrados na Al Qaeda está no eixo das acções armadas, acções catapultadas pelos Estados Unidos e pela NATO!
 
O plano operacional “rebelde” na Síria é uma grosseira adaptação aliás do plano levado a cabo na Líbia, com um senão: na Síria, por oposição da Rússia e da China no Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos e seus aliados não conseguiram a intervenção directa da NATO. (“A guerra dos EUA NATO contra a Síria: forças navais do ocidente frente às da Rússia ao largo da Síria” – http://resistir.info/chossudovsky/siria_26jul12.html).
 
Por esse motivo estão a utilizar a Turquia, membro da NATO, como retaguarda próxima dos rebeldes (fronteira norte da Síria), o que se tornou cada vez mais evidente, à medida que a confrontação se incrementava em Alepo. (“A sangrenta estrada para Damasco: a guerra da tripla aliança contra um estado soberano” – http://www.voltairenet.org/A-sangrenta-estrada-para-Damasco-A).
 
Dessa análise da autoria de James Petras, saliento:
 
“Segundo o Departamento de Estado, a estrada para Teerão passa através de Damasco: o objectivo estratégico da NATO é destruir o principal aliado do Irão no Médio Oriente; para as monarquias absolutistas do Golfo o objectivo é substituir uma republica laica por uma ditadura vassalo teocrática; para o governo turco o objectivo é promover um regime cordato aos ditames da versão de Ancara do capitalismo islâmico; para a Al Qaeda e os seus aliados fundamentalistas Salafi e Wahabi, um regime teocrático sunita, limpo de sírios laicos, alevis e cristãos servirá como trampolim para projectar poder no mundo islâmico; e para Israel uma Síria divida ensopada em sangue assegurará a sua hegemonia regional.
 
Não foi sem uma antevisão profética que o senador estado-unidense Joseph Lieberman, um uber-sionista, dias após o ataque da Al Qaeda de 11 de Setembro de 2001, pediu: Primeiro devemos atacar o Irão, Iraque e Síria antes mesmo de considerar os autores reais do feito.
 
As forças anti-sírias armadas reflectem uma variedade de perspectivas políticas conflitantes unidas apenas pelo seu ódio comum ao regime nacionalista independente e leito que tem governado a complexa e multi-étnica sociedade síria desde há décadas.
 
A guerra contra a Síria é a plataforma de lançamento de uma nova ressurgência do militarismo ocidental a estender-se desde a África do Norte até o Golfo Pérsico, sustentado por uma campanha de propaganda sistemática que proclama a missão democrática, humanitária e civilizadora da NATO em prol do povo sírio”…
 
7 – Como estão a ser “transferidos” os grupos ligados à Al Qaeda para a Síria?
 
Em “EEUU pacta con Al Qaeda” (http://www.voltairenet.org/EEUU-pacta-con-Al-Qaeda-5-000), há uma síntese que responde à pergunta:
 
“Se informa que Tariq al-Fadhli, un entrenado militante yihadista que luchó junto a Osama Bin Laden, ya acordó con funcionarios de EE.UU. y Arabia Saudita a través de Turquía el envío desde las ciudades sureñas yemeníes Zinjibar y Jaar de 5.000 militantes al territorio sirio para ayudar a los rebeldes a luchar en la guerra para acabar con el régimen de Al Assad. El hecho, subrayan los medios, explica el repentino retiro de los hombres armados de la región yemení de Abyan.
 
Se informa que los militantes, que se refieren a sí mismos como defensores de la Sharia, se unirán con otros grupos de combatientes de Al Qaeda que se han ido infiltrando en Siria desde Libia, Irak y Turquía, con la ayuda de la OTAN y los estados del Golfo.
 
Al-Fadhli es descrito por la agencia AlAlam como uno de los ancianos de la tribu de Abyan y ex líder de Al Qaeda. Yemen, por su parte, denunció a Al-Fadhli como uno de los terroristas más peligrosos del país, según el diario estadounidense The New York Times”.
 
8 – A Líbia é outro dos países que responde aos “rebeldes” na Síria com os seus próprios “rebeldes”, alguns deles terroristas que estiveram (ou estão) ligados ao Al Qaeda (“Libyan terrorists are inveding Syria” – http://landdestroyer.blogspot.pt/2012/08/libyan-terrorists-are-invading-syria.html):
 
“Reuters reported, that Mahdi al-Harati, a powerful militia chief from Libya's western mountains, who is actually a militant of the US, British, and UN listed terrorist organization Libyan Islamic Fighting Group (LIFG), now leads a unit in Syria, made up mainly of Syrians but also including some foreign fighters, including 20 senior members of his own Libyan rebel unit.
 
Reuters would go on to explain, the Libyans aiding the Syrian rebels include specialists in communications, logistics, humanitarian issues and heavy weapons, and that they operate training bases, teaching fitness and battlefield tactics.

Reuters concedes that the ongoing battle has nothing to do with democracy, but instead is purely a sectarian campaign aimed at pushing out Syria's minorities, perceived to be oppressing Sunni Muslims”…

9 – O comportamento histórico dos Estados Unidos para com a Fraternidade Muçulmana é outro ponto de interesse para a presente abordagem.
 
Em “Washington e a Fraternidade Muçulmana” (http://pagina--um.blogspot.com/2011/02/washington-e-fraternidade-muculmana.html) o autor interroga-se sobre a ambiguidade:
 
… “Tudo isso aponta para a principal diferença entre antes e agora. Há meio século, o ocidente optou por servir-se da Fraternidade com vistas a algum ganho tático de curto prazo, e mais tarde apoiou muitos dos governos autoritários que tentavam varrer o grupo para sempre. Agora, com esses governos por um fio, o ocidente ficou praticamente sem escolha; depois de décadas de opressão, é a Fraternidade Muçulmana, com sua estranha combinação de fundamentalismo antiquado e métodos modernos de fazer política social que aí está, sobrevivente, no centro da disputa”.
 
A ascensão da Fraternidade Muçulmana no Egipto à medida que se esfumava o regime de Mubarak, foi realizada com um crescendo de intensidade, com um apelo intensivo à emoção e à provocação, espelhadas em múltiplas manifestações como as que foram ocorrendo na Praça Tahir, num processo que não chegou à confrontação militar como na Líbia e agora na Síria, mas seguiu etapas semelhantes na fase de eclosão da rebelião.
 
10 – Para salvar o(s) rei(s), com todos os sentidos postos no petróleo arábico (e agora também no líbio), os Estados Unidos não estão apenas a defender regimes retrógrados a coberto de monarquias “pétreas”: estão a promover a contra revolução dando espaço a fundamentalismos tão radicais que se podem a espaços voltar inclusive contra si.
 
O último episódio neste 11 de Setembro de 2012 inscreve-se nesse contencioso tenebroso cujas consequências podem resvalar até para um holocausto nuclear!
 
Essa promoção não está apenas a ser dirigida para o interior do continente euro-asiático, afectando inclusive a Ásia Central, a Rússia e a China.
 
Ela está também a ser dirigida para dentro do continente africano, por exemplo por via da expansão do AQMI que, ao proliferar pelo Magreb e imensa região da CEDEAO, faz aumentar os factores de risco em direcção a outras regiões de África, África Austral incluída.
 
Na América Latina, a tipologia dos golpes levados a cabo nas Honduras e no Paraguai responde ao carácter fascista do próprio império, manifesto em todas as regiões do globo por via da hegemonia unipolar sem escrúpulos, sem ética e usando as oligarquias afins.
 
No caso de Angola adianto uma pergunta: até que ponto migrações sobretudo provenientes de países CEDEAO não poderão integrar nexos de desestabilização que contrariem as políticas de paz que o país tão legitimamente está a cultivar?
 
Sendo Angola um “escândalo geológico”, não me admiraria que tal como se estão a repescar os “freedom fighters” que deram em Al Qaeda, se repescassem ainda os “freedom fighters” locais para a “primavera” do costume!
 
Foto: Alguns grupos “rebeldes” da Líbia, ligados ao Al Qaeda, estão a prestar “bons ofícios” aos “rebeldes” sírios.
 
Relacionado
 
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MARINHA NORTE-AMERICANA USA DRONES SUBMARINOS NO GOLFO PÉRSICO

 

Rede Voltaire
 
A 5a Esquadra da Marinha Americana começou a usar intensivamente drones submarinos e equipamento sub-aquático para monitorizar a situação no Golfo Pérsico, primeiro e acima de tudo para destruir minas, informou o porta-voz da Marinha para a imprensa.
 
Esta semana, o submarino Kingfish equipado com sonares de ambos os lados, começou a ser utilizado na busca e detecção de objectos. Em Julho, equipamento usado para destruir barreiras de minas foi trazido para o Golfo Pérsico. Isto prevenirá o Irão de bloquear o estratégico Estreito de Ormuz.
 
Mais de 40% da produção mundial de petróleo é transportada através do estreito.
 

TURBULÊNCIA SOCIAL ÚNICA

 
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IMAGEM ESCOLHIDA
 
Imagem Escolhida seleciona o cartoon de Rodrigo no jornal Expresso. Uma imagem vale por mil palavras, como é costume dizer-se, e bem. Na realidade o cartoon escolhido deixa perceber o descontentamento do povo português relativamente ao modo como o governo de Passos Coelho-Portas se comporta, sem a mínima sensibilidade pelas enormíssimas dificuldades que vem causando aos portugueses mais fragilizados e que agora estão na miséria ou muito próximo dela.
 
Em contrapartida nada é feito quanto à corrupção, nada é feito quanto ao corte nas avultadas despesas de uma Presidência da República e nas mordomias do próprio governo. Também nada é feito (de significativo) quanto aos vencimentos dos deputados, que não são demais mas que têm vencimentos e mordomias incomportáveis num país em que a maioria dos portugueses está pobre ou já miserável, com fome, sem capacidades financeiras para enfrentar o dia-a-dia mesmo com parcos gastos por ter ordenados de miséria ou estar desempregado e sem direito a subsídios. Nada é feito quanto às reformas principescas, mordomias principescas...
 
A paciência e a tolerância dos portugueses tem limites, os parasitas políticos e outros da mesma igualha têm de se convencer que lhes pode acontecer o constante no cartoon de Rodrigo: serem trucidados. Também poucos acreditavam na possibilidade de acontecer o 25 de Abril de 1974 e depois é foram elas quando aconteceu. Depois andaram todos os que abusavam do povo, como agora, a ganir. Esses voltaram, estão, provavelmente, a vingar os seus pais, as suas fascistas e abastadas famílias e amigos. Talvez... ou assim parece. Mas a paciência tem limites... (PG)
 

Portugal: AUSTERIDADE É O ÚNICO CAMINHO, DIZ MERKEL

 

Expresso - Lusa
 
Chancelar alemã defendeu hoje a austeridade em Portugal, mesmo que haja recessão
 
A chanceler alemã, Angela Merkel, voltou hoje a defender a redução das dívidas públicas e reformas estruturais como solução para a crise em Espanha e em Portugal, mesmo que para isso tenham de passar por uma fase de recessão.
 
Se os países mais vulneráveis contraírem menos dívidas, naturalmente que terão uma fase recessiva, mas simultaneamente é preciso fazer uma política de novo orientada para o crescimento, e como há pouca margem de manobra, têm de se fazer reformas estruturais, que não custam dinheiro", acrescentou Merkel.
 
"Por causa do elevado endividamento, os mercados financeiros internacionais hesitam em investir na Europa, por isso, temos de mostrar de forma convincente que aprendemos com os erros do passado, e respeitar o Pacto de Estabilidade, foi para isso que aprovámos o Tratado Orçamental", disse a chefe do Governo alemão em conferência de imprensa, em Berlim.
 
Medidas adicionais precisam-se
 
Entretanto, no seu relatório semanal, a agência de notação Moody´s considerou hoje que a revisão das metas do défice orçamental acordada com a troika é positiva para o 'rating' de Portugal, mas mesmo com estas metas revistas serão necessárias medidas adicionais para atingir os objetivos do próximo ano.
 
"As revisões são positivas para a notação de crédito porque conseguem manter o apoio financeiro, enquanto reduzem as amarras sobre o crescimento económico da consolidação orçamental numa já frágil economia", pode ler-se no documento.
 
No seguimento da conclusão da quinta revisão do programa, o Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia (CE) e Banco Central Europeu (BCE), que compõem a troika, anunciaram o acordo para alargar as metas do défice orçamental para este ano, que passa de 4,5 para 5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), e de 3 para 4,5 por cento no próximo ano, tendo o défice de baixar a fasquia dos 3 por cento do PIB apenas em 2014.
 
A Moody's lembra que esta revisão das metas se deve "principalmente devido aos efeitos do abrandamento económico na Europa", referindo que as reformas já realizadas devem resultar em maior crescimento económico e que estas já estão a ter um efeito positivo no défice comercial e externo.
 
No entanto, a Moody's aponta várias fragilidades no imediato à economia portuguesa.
 
Missão (quase) impossível
 
"As circunstâncias económicas imediatas de Portugal são frágeis, as receitas dos impostos indiretos até esta altura do ano não cresceram como projetado no programa devido ao elevado desemprego e às condições ainda mais fracas em Espanha, o maior parceiro comercial de Portugal", escreve a agência.
 
No documento, os analistas dizem então que o ajustamento económico e orçamental "continua a ser extremamente difícil e carregado de riscos" e que apesar das revisões serem benéficas, mesmo com esse aligeirar das metas o Governo precisa de tomar mais medidas se quer atingir as metas acordadas.
 
"Apesar da revisão às metas do programa implicar reduções menores do défice, especialmente no próximo ano, mesmo para atingir as metas revistas será necessário medidas adicionais de consolidação", diz a Moody's.
 
Intensas negociações políticas
 
A agência de notação financeira Moody's espera "intensas negociações" entre os partidos políticos nas próximas semanas e que estes consigam alcançar um acordo alargado sobre o Orçamento do Estado e assim "evitar mais uma crise política".
 
"Uma vez que o consenso entre o Governo e os socialistas tem sido um importante elemento para a estabilidade desde a queda do Governo e consequentes eleições antecipadas no ano passado, nós esperamos que tenham lugar intensas negociações nas próximas semanas e que estas alcancem um acordo alargado sobre o orçamento e evitem mais uma crise política", diz a agência no seu relatório semanal.
 

Portugal: “SIMPÁTICO” DA PIDE FASCISTA É AGORA PRESIDENTE DA REPÚBLICA

 


Veja a ficha que Cavaco Silva preencheu na PIDE
 
Tinha 28 anos, não tinha actividade política e estava afastado da segunda mulher do sogro
 
tvi24 - Rita Ferreira  14.12.2010 - 20:19
 
A ficha da PIDE que está nos arquivos da Torre do Tombo revela um Cavaco Silva integrado no regime, sem actividade política e afastado da segunda mulher do sogro. Tudo aconteceu em 1967, tinha o Presidente da República 28 anos.

A ficha divulgada pela revista «Sábado» e preenchida pela mão do actual presidente da república, serve para confirmar a idoneidade de Cavaco Silva. Quando instado a declarar a sua posição e actividades políticas, o jovem Aníbal escreve que está integrado no actual regime político e que não exerce qualquer actividade política.

Mais à frente Cavaco Silva dá o nome de três e não apenas das duas pessoas que eram requisitadas para o abonarem moral e politicamente. O presidente da junta de Santo Condestável, o capitão António Ferreira da Costa e um fiscal da Carris.

Cavaco Silva assina a ficha da PIDE e no capítulo das observações escreve sobre a situação marital do sogro. Diz o jovem Cavaco que o sogro é casado em segundas núpcias com Maria Mendes Vieira, com quem reside e com quem o declarante, o próprio cavaco silva, não priva.

Este documento está actualmente na torre do tombo e faz parte dos arquivos da polícia internacional e de defesa do estado.
 
VEJA A FICHA DE CAVACO SILVA NA PIDE – pesquisa do Google
 
*Título PG
 

PORTUGAL - FÓRUM TSF: E DEPOIS DAS MANIFESTAÇÕES

 


PRIMEIRO FÓRUM DE NOVA TEMPORADA NO AR AINDA POR CERCA DE UMA HORA
 
TSF - Publicado hoje às 09:06
 
Centenas de milhares de portugueses encheram as ruas para protestar contra as novas medidas de austeridade anunciadas pelo Governo. No Fórum TSF queremos ouvir a sua opinião: Passos Coelho deve manter o rumo ou deve ouvir os protestos e recuar? A posição do CDS-PP retira legitimidade ao Governo para avançar com as mexidas na Taxa Social Única? Comente aqui.
 
Pode comentar a partir daqui ou na página da TSF no Facebook. A TSF lembra que devido ao elevado número de participantes no Fórum, nem todas as opiniões aqui deixadas poderão ser lidas em antena. O Fórum TSF Online tem uma politica de gestão de comentários mais restrita que nos restantes espaços de comentário disponíveis no site da TSF.
 
Como tal, e em linha com as regras adoptadas para a sua emissão na antena, lembramos que:
 
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Portugal: UM PAÍS QUE VEIO À RUA

 

jorge fliscorno - Aventar
 
Quando cheguei, já a manif ia adiantada. Estava eu nas Praça de Espanha, em Lisboa, e procurei fazer como em 2008, nas manif dos profs: andar em contra corrente e fotografar os rostos da revolta. Não consegui. Fiz a Av. de Berna, voltei à Praça de Espanha, subi até ao Corte Inglês, desci até ao Marquês e não encontrei os extremos. Do que ouvi na rádio sobre as outras cidades e do que aqui vi, o país saiu à rua.
 
Entre fotografias apressadas dei por mim a pensar que ainda não olhara para as pessoas. Parei um pouco e comecei a observar. Famílias inteiras, muitos jovens, idosos e crianças aos ombros desfilavam à minha frente. Em alguns olhos a zanga, noutros ansiedade e noutros ainda a alegria-tristeza de quem vê um povo a reagir e a ter que reagir. Vi também originalidade e a simplicidade de um “Não”, a única palavra num cartaz. E “Os bancos que salvaste querem a tua casa”. Quanta verdade!
 
Ao voltar a casa ouvi o CAA no seu papel de deputado (ou seria de blogger?) apresentar a sua leitura da manifestação. Segundo ele, as pessoas estavam ali porque não tinham percebido as medidas. Que era preciso explicar-lhes. Essencialmente, conclui-se, as pessoas estavam ali porque são burras; porque têm défice de compreensão. Acontece que estas pessoas perceberam muito bem que lhes querem ir ao bolso para transferir o seu salário directamente para o patronato. É triste ver ao ponto que um deputado (ou será um blogger?) consegue descer, chegando ao ponto de usar a mesmíssima linha argumentativa daqueles que tanto criticou enquanto blasfemo.

Ligo a televisão para ver o que se passou no resto do país e está a RTP a em directo a partir do Parlamento. Uma multidão, muito jovem, está lá. São nove e quarenta da noite e uma chuva de pedras da calçada cai neste momento sobre a polícia. Alguns querem sangue, é a única explicação. Esses estão ali apenas para agredir e, neste momento, já perderam a razão. Atirar pedras não é direito a manifestação. Já desde 2008 que ouço os suspiros de por cá não haver tumultos. Que péssimo serviço que fazem à manif. Em troca da satisfação do seu ego, roubam o protagonismo ao milhão de pessoas que saiu à rua. Espero que a polícia consiga fugir ao confronto.
 
Hoje o país veio à rua mas não acredito que loucos que nos governam tenham ouvido. Há que continuar até que a mensagem chegue aos moucos.
 

O ESCORPIÃO

 


 
Primeiro foi Monteiro, Manuel Monteiro. Confiou no homem e foi trucidado politicamente até aos dias de hoje (uma das grandes injustiças da política nacional e castigo enorme pelo erro da criação do PND). Manuel Monteiro criou o Partido Popular nas cinzas de um CDS moribundo, ouvia Portas e este, quando se viu alçado ao poder, como verdadeiro número dois de Monteiro, foi aniquilando políticamente o seu amigo. Quem soprava para as redacções que era ele que escrevia os discursos de Monteiro? Que Monteiro só defendia e transmitia aquilo que ele lhe dizia? Quem lhe tirou o tapete independente da inabilidade política de parte substancial da equipa de Monteiro?
 
Mais tarde, foi Marcelo Rebelo de Sousa. Contra boa parte do seu partido, em especial o baronato, decide avançar com uma coligação com Portas. Pouco tempo depois, foi politicamente esfaqueado por Portas. Mais uma traição para o seu currículo e o fim da AD. Marcelo nunca mais foi líder do PSD e é hoje comentador televisivo.
 
Agora, Passos. Pedro Passos Coelho é a nova vítima. Em nome de um patriotismo bacoco, Portas manteve um silêncio ensurdecedor ao longo da semana mais negra deste governo para, hoje, uma vez mais travestido de virgem ofendida, espetar uma faca nas costas do Primeiro-ministro. Uma vez mais. O mesmo actor principal. São coincidências a mais. E só não vê quem não quer.
 
Contudo, posso estar enganado, mas desta vez, como na parábola do sapo e do escorpião, Portas mediu mal as consequências e vai terminar politicamente afogado. Como o escorpião.
 

UE – Estónia: A AUSTERIDADE COMO FORMA DE VIDA

 


Eesti Ekspress, Tallinn - Presseurop - imagem Turcios
 
Tendo sido os últimos a entrar na zona euro, os estónios assumem o rigor com o qual gerem as finanças do país e o seu estilo de vida pessoal. Ao ponto de o transformarem muitas vezes numa questão de orgulho nacional.
 
 
A palavra-chave “austeridade” começa a entrar no vocabulário estónio. É uma palavra que dizem e ouvem cada vez mais. O dicionário Merriam-Webster declarou-a palavra do ano. Na Estónia, a palavra “austeridade” tem um tom cinzento e um odor de pobreza. No nosso subconsciente, associámo-la ao romance Purge de Sofi Oksanen (finlandesa, filha de mãe estónia). Mas se virmos as coisas de forma positiva, a austeridade poderá tornar-se a Nokia da Estónia. Faz parte da nossa forma cultural e religiosa de ver o mundo, mas também do nosso dia-a-dia.
 
Na literatura estónia, a personagem Tuuli Botik – “trabalhadora, austera e dócil” – do romance As fontes da vida, do escritor Mihjel Mutt, é conhecida pela sua austeridade. Mas viver com austeridade poderá ser mais irritante do que falar dela.
 
Como lidam os estónios com a austeridade? As raparigas vão para Londres trabalhar como empregadas de mesa. Ganham muito dinheiro, mas preferem viver como ratinhos ao partilhar um pequeno quarto com três pessoas. Os homens vão para a Finlândia trabalhar na construção civil, levando com eles um saco de mantimentos para uma semana – chouriço, queijo, pacotes de sopa e latas de cerveja – deixando para trás apenas lixo e um mau odor. Uma orquestra sinfónica vai dar um concerto no estrangeiro e os músicos levam sacos com sanduíches! O dinheiro que têm no bolso é gasto em livros. A austeridade é severa.
 
A austeridade levou o nosso Presidente até aos media globais
 
A austeridade pode também ser benéfica. Através do Mecanismo de Estabilidade Europeu, a Estónia comprometeu-se a ajudar os Estados-membros europeus com dificuldades (ler: gastadores) pagando 1300 milhões de euros com o dinheiro dos nossos contribuintes. “Este montante tem em consideração a nossa pobreza e será novamente avaliado em 2023”, foi escrito no sítio Internet da ERR [a radiotelevisão estónia]. O que significa que se não poupássemos tanto, ainda teria sido pior.
 
O Presidente Toomas Endrick Ilves criticou o editorialista americano Paul Krugman, acusando-o de não ter lisonjeado suficientemente a recuperação da economia da Estónia. Para poupar, transmitiu a mensagem através da sua conta no Twitter. Depois disso, Ilves foi entrevistado relativamente à austeridade por Fareed Zakaria, um jornalista de renome da CNN. Desta forma, a austeridade fez com que o nosso presidente fosse tema de conversa no mundo inteiro. A maioria das pessoas que fala de austeridade é quem ganha mais na Europa ou no seu país.
 
Podemos dizer que a austeridade é um estado de saúde física e mental conhecido pelos estónios. Habituámo-nos a viver com ela desde sempre. Tendo em conta que o projeto lançado em 2005 pelo Partido da reforma para colocar em 15 anos a Estónia ao nível dos países mais ricos na Europa fracassou devido à crise económica, o partido parece ter escolhido outro objetivo – para começar, fazer parte do grupo de países mais austeros da Europa e, por fim, tentar ganhar o título do país mais austero do mundo. Um objetivo muito mais interessante para a elite política do que governar a Estónia.
 

O ÚLTIMO 11 DE SETEMBRO – I

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – O Consulado dos Estados Unidos em Benghazi, a cidade que esteve na origem das acções armadas contra o regime de Kadafi, na sequência duma série de demonstrações que têm percorrido alguns países árabes por causa dum filme considerado insultuoso pelos muçulmanos, foi alvo dum ataque pelas 22 horas do dia 11 de Setembro, no preciso momento em que se encontrava nas instalações o Embaixador dos Estados Unidos na Líbia, J. Christopher Stevens.
 
Do ataque morreu o Embaixador, o Cônsul em Benghazi e mais dois outros funcionários.
 
As notícias não são coincidentes sobre a causa da morte: algumas referem que o Embaixador foi morto por um míssil, mas outras não põem de lado a possibilidade de ter havido linchamento. (“El Embaxador de EEUU en Líbia asesinado com un mísil” – http://www.voltairenet.org/El-embajador-de-EEUU-en-Libia).
 
Uma coisa parece certa: o ataque foi planificado por profissionais que sabiam o exacto momento em que o Embaixador se encontraria dentro do Consulado e o artifício da justificação toca as raias do cinismo, o mesmo cinismo com que os norte americanos justificam muitas das suas operações ditas “humanitárias”. (“Ataque contra o consulado dos EUA foi planeado” – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/africa/2012/8/37/Ataque-contra-consulado-dos-EUA-foi-planeado,a456d546-a0ea-4a33-83b4-1b6393868aaf.html).
 
A escola parece ser sem dúvida a mesma e as regras não o serão? (“Ataque a consulado dos EUA na Líbia vinga a morte do nº 2 da Al Qaeda – SITE – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/internacional/2012/8/37/Ataque-consulado-dos-EUA-Libia-vinga-morte-Qaeda-SITE,6beebce4-807d-4327-bc2e-2973fc4cfcac.html).
 
2 – As condenações ao assassinato têm sido unânimes por parte dos mais diferenciados estados e entidades e uma parte delas reflectem estupefacção e incredibilidade pelo inesperadamente bárbaro acontecimento.
 
Nenhum estado que alinhe a sua conduta por uma lógica alternativa pode deixar de condenar o acto, por maioria de razão aqueles estados que estão apostados na lógica com sentido de vida como Cuba.
 
Cuba foi dos primeiros a condenar o pérfido ataque. (“Cuba condena ataques à Embaixada dos EUA na Líbia” – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/09/14/cuba-condena-ataques-a-embaixada-dos-eua-na-libia/).
 
Da minha parte o acto pérfido não é tão surpreendente assim: por várias vezes e em lugares distintos, interesses norte americanos foram fustigados por fundamentalistas islâmicos, além do ataque às torres gémeas a 11 de Setembro de 2001, um ataque em relação ao qual alguns põem em causa a versão oficial norte americana.
 
O Global Research tem sido um dos grupos independentes que têm divulgado outras versões sobre o 11 de Setembro de 2011 (“Revealing the Lies, Commemorating the 9/11 Tragedy” – http://www.globalresearch.ca/the-911-reader-the-september-11-2001-terror-attacks/).
 
3 – Os Estados Unidos, de acordo com o meu ponto de vista, está num ponto de não retorno em relação às questões que abarcam o mundo islâmico!
 
A sua posição é geo estratégica e alicerçada sobre os interesses históricos norte americanos em relação ao petróleo.
 
Nesse âmbito, o compromisso assumido com as monarquias arábicas, em especial a Arábia Saudita, é fundamental.
 
Em Março de 2011 publiquei “Salvar o(s) rei(s)” (http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/salvar-os-reis.html) e entre outras coisas referi:
 
“No momento em que o petróleo dos países árabes (Médio Oriente e Norte de África), segundo o que numerosos analistas vão sustentando, inicia a curva descendente após o pico de Hubert, interligando-se ao encadeado da crise global provocada pelo neo liberalismo, a todo o transe a hegemonia procura salvar o(s) rei(s)!

Em primeiro lugar o rei e a monarquia da Arábia Saudita, depois os reis e as monarquias da Jordânia e de Marrocos, por fim os senhores e as monarquias periféricas dos Emiratos Árabes Unidos, de Bahrein, de Mascate e Oman…

… Por fim e ali onde houve monarquias mal paradas que passaram à história, começam por ressuscitar a bandeira, conforme à expressão histórica colonial da Líbia…

É evidente que sobre aqueles que nada têm a ver com monarquias, emiratos, sultanatos e outros derivados, os riscos são maiores: enquanto nos regimes feudais e manifestamente anti democráticos (ainda que tisnados com os benefícios das sociedades de consumo modernas) as elites estão consolidadas de geração em geração com as sucessões naturais mobilizando as tribos à boa maneira de Lawrence da Arábia (o Cecil John Rhodes do petróleo), nas repúblicas bananeiras da região a cosmética de democracia não chegou para as encomendas”…

Esse enredo interessa também a Israel, que estimula as tensões regionais tendo em conta a necessidade de desviar a atenção sobre a Palestina: enquanto se salvam os reis atacando a Líbia, a Síria e preparando o ataque ao Irão, esquece-se esse contencioso histórico!
 
4 – Já antes havia publicado o “Iraque, Iraque, 75 anos depois” (http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/iraque-iraque-75-anos-depois.html), onde entre outras coisas apontava:
 
“Se há país no Mundo que historicamente se tornou expoente da crise civilizacional compulsada pela lógica capitalista que alimenta o modelo neo liberal, esse país é o Iraque.

Praticamente desde que foi descoberto petróleo que essa crise se foi metamorfoseando, ancorada aos interesses em disputa e às estratégias que, para além da fazer alimentar a máquina global gerada com a Revolução Industrial, pretendeu sempre gerar lucros, cada vez mais lucros para cada vez menos mãos, provocando a grande cisão da humanidade e os danos ao planeta, que o colocam sob o risco duma anunciada, quiçá irreversível catástrofe climática-ambiental.

O poder de decisão das elites globais instituiu para o Iraque do petróleo todos os estágios de intriga, de manipulação, de divisionismo e de colonialismo até desembocar de choque em choque num ambiente de ampla toxidade, venenoso até para a procriação da espécie conforme Fallujah.

Desde que na década de 30 do século XX foi descoberto petróleo em grandes quantidades no Médio Oriente, que a região nunca parou de ser alvo de disputas, sendo as monarquias das Arábias consolidadas a bordo do cruzador pesado USS Quincy (CA-71), quando o Presidente Roosevelt se encontrou a 14 de Fevereiro de 1945 com o rei Ibn Saud no final da IIª Guerra Mundial.

As monarquias da península Arábica jamais foram envolvidas nos enredos típicos das democracias, ou das democratizações, pois quanto menos elas fossem descaracterizadas, menos riscos correriam os interesses das elites sobre o petróleo.

Desde então e desse modo, de há 75 anos a esta parte que se foi consolidando a hegemonia anglo-saxónica em toda a região, com implicações operativas e militares todavia nas periferias também ricas em petróleo, ou com utilidade estratégica, como o Iraque, o Irão e o Iémen, onde as monarquias haviam sido combatidas, enfraquecidas ou mesmo banidas.

A defesa das monarquias arábicas em prejuízo da democracia, sugere que a bordo do Quincy, em pleno Suez, se terá elaborado um Tratado entre os Estados Unidos e essas mesmas monarquias: garantia de protecção e segurança a troco de petróleo e, todos aqueles vizinhos que foram ficando fora dessa esquadria acabariam, dum modo justificável ou dum modo perverso, por sofrer as consequências”…
 
Foto: O assassinato em Benghazi, a 11 de Setembto de 2012, do Embaixador norte americano na Líbia J. Christopher Stevens.
 

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