domingo, 17 de março de 2013

Vaticano: QUEM GANHA E QUEM PERDE




Wálter Maierovitch – Carta Capital

A capela sistina sempre foi palco de litígios e puxadas de tapete. Nela existe a “câmara das lágrimas”, onde o vencedor troca os panos cor púrpura de cardeal pelos brancos de papa, antes de, na solidão, debulhar-se em lágrimas por causa da grande emoção. Na Sistina, o então jovem Rafael, insuflado pelo seu mestre Bramante, tentou tomar o lugar de Michelangelo. Rafael não se contentava em afrescar os quartos dos papas. Aproveitava-se do atraso de Michelangelo para espalhar que o concorrente nunca afrescara paredes e não dominava as técnicas de aplicar tinta em reboco molhado. Michelangelo venceu o embate.

Depois de 25 horas de votações, venceram os reformistas da Cúria. A disputa estava polarizada entre esses e os antirreformistas liderados pelo camerlengo Tarcisio Bertone, ex-secretário de Estado (chefe da Cúria e uma espécie de primeiro-ministro). O candidato de Bertone era o brasileiro Odilo Pedro Scherer, integrante da comissão de fiscalização do apelidado Banco do Vaticano, eufemisticamente denominado Instituto para as Obras Religiosas (IOR).

Nos últimos conclaves, o grande embate ocorria entre os reformadores da doutrina, incluindo o saudoso Carlo Maria Martini, e os conservadores. Venceram os últimos, cujos principais símbolos foram Karol Wojtyla e o seu delfim Joseph Ratzinger. Por evidente, perdia a Igreja com o conservadorismo, destacando a redução de fiéis na Europa. A propósito, e como demonstrou o vaticanista Marco Politi, Ratzinger foi o grande teólogo do obscurantismo. É contra a camisinha em tempos de Aids, manteve a proibição de Paulo VI ao uso de pílulas anticoncepcionais, opõe-se à ordenação de mulheres para o posto de sacerdotisas, condena o homossexualismo e a lei alemã de “despenalização” do aborto, é contrário ao casamento de padres e à oferta da eucaristia, nas celebrações, aos divorciados, entre outras.

A escolha de Jorge Mario Bergoglio, que na eleição de Ratzinger ficou em segundo lugar ao entrar nos escrutínios depois da baixa votação e da desistência do cardeal Martini, foi costurada pelos norte-americanos, à frente Timothy Dolan, de Nova York. Os primeiros candidatos apresentados eram Angelo Scola e Odilo Scherer. O reformista entrou na Sistina com cerca de 50 votos e o antirreformista Scherer com quase 25. Como não passavam desse número e jamais atingiriam os dois terços previstos na Constituição apostólica, acabaram substituídos. Então, pelo resultado da urna, percebeu-se que não emplacariam os cardeais canadense, húngaro, australiano, mexicano e o outsider e cultíssimo Gianfranco Ravasi. Para os vaticanistas, Scola pediu a transferência dos seus votos para Bergoglio, de 76 anos. O outro argentino, Leonardo Sandri, estava fechado com os antirreformistas.

As articulações de Dolan, o apoio de diversos cardeais sul-americanos engasgados com a Cúria (Scherer nunca foi unanimidade entre os brasileiros votantes) e a migração de votos do italiano Scola deram a vitória a Bergoglio, que entrou sem nenhuma aspiração e zero de apetite. Como as questões terrenas, nada teológicas, prevaleceram no conclave, os reformistas curiais Scola e Dolan devem indicar o novo secretário de Estado. Aquele que cuidará da limpeza e das defenestrações. A respeito fala-se de um cardeal com prestígio entre políticos italianos, capaz de manter a contribuição do governo da Itália ao Vaticano, equivalente a 9 bilhões de euros por ano.

Scherer saiu chamuscado ao defender o escandaloso Banco do Vaticano. Segundo Paolo Rodari, vaticanista do jornal La Repubblica, “o ataque duríssimo na congregação-geral feito por muitos cardeais e contra a ‘corrupção’ romana, numa Cúria que apontava no candidato Odilo Scherer, cardeal brasileiro e integrante da Comissão Cardinalícia do IOR, ecoou de maneira dramática durante o conclave… Um conclave que assistiu, gradualmente, aos sul-americanos e norte-americanos escolherem uma figura independente”.

Com Bergoglio, jesuíta, esperam-se ações de moralização na Cúria, com o vigor de Inácio de Loyola. Perderam os fiéis brasileiros: o maior país católico do mundo não teve um candidato, entre os reformistas da Cúria, capaz de empolgar. E fica a impressão, por exigência dos cardeais norte-americanos, de estar com os dias contados a lavanderia do IOR, que não atende a todas as regras internacionais de prevenção à lavagem de dinheiro criminoso ou sem causa.

Portugal: UMA COLOSSAL CRISE POLÍTICA




Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião

Restasse um pingo de bom senso, sobrasse uma réstia de vergonha, tivesse ainda o mínimo de respeito pelos cidadãos e Vítor Gaspar não hesitaria um segundo: após a conferência de imprensa de sexta-feira, dirigia-se a São Bento e entregaria a sua carta de demissão ao primeiro-ministro.

Por esta altura, não há português que desconheça a dimensão da incompetência do ministro das Finanças. E não era preciso mais aquela conferência de imprensa: a lista dos erros, das fantasias, dos mais patéticos disparates não cabe neste jornal. Ninguém desconhece a evidente incapacidade do ministro.

No ano passado, foram três orçamentos rectificativos e previsões completamente ao lado. Este ano, em três meses, já se corrigiram todas as previsões duas vezes, quando não havia uma alma que soubesse somar que já não soubesse que os números orçamentados eram absolutamente irreais.

Mas os truques de fraco artista de Gaspar chegam a ofender: há um mês, dizia-nos que a recessão ia passar de 1% para 2%, mais um ponto, perceberam? Pois, o dobro (claro está que anteontem disse que vai ser 2,3% e, como é claro, daqui a umas semanas este número vai piorar) . Sexta-feira, não contente com o cenário que estava a descrever, resolveu voltar a querer aldrabar. Afinal não há um número para o défice para 2012, há três. Quem quiser que escolha o seu. Temos 4,9%, 6% e 6,6%. Pronto, é mesmo 6,6% (alguém se recorda dos insultos aos "profetas da desgraça" que diziam que o número seria aproximadamente deste valor?), mas se mexermos na folha de cálculo e dermos uma pancadinha no computador podemos até ter outros números.

Pensávamos nós que no mundo dos superempreendedores, da gente pouco piegas, dos autênticos novos homens deste extraordinário novo mundo houvesse um bocadinho de exigência, um bocadinho de responsabilidade. Ou seja, não houvesse lugar para incompetentes, não houvesse lugar para quem falha de forma tão clamorosa. O facto é que Gaspar como director financeiro duma PME não durava dois meses.

Mas, convenhamos, é Gaspar o maior culpado? Obviamente que face aos resultados das suas acções não poderia ficar nem mais um segundo no Governo, mas foi ele quem disse que mesmo que não estivéssemos sujeitos a este memorando de entendimento o iríamos aplicar? Foi ele que disse que se devia ir para além da troika? É ele o maior responsável por uma política que o melhor horizonte que tem para nos apresentar é um desemprego de 18% para 2016?

Foi ele quem definiu uma meta que consiste em destruir uma inteira geração através duma austeridade sem perspectivas? Foi ele quem definiu uma política, que agora não há ninguém que não saiba, provocou que todos os sacrifícios, todos os cortes, todas as desgraças provocadas tivessem sido em vão? Foi Gaspar que condenou os nossos filhos, sobrinhos e amigos a emigrar definitivamente pois o País nada lhes terá para oferecer nas próximas décadas?

Não, não foi ele. Foi o primeiro-ministro. E existisse sentido de Estado, conhecesse Passos Coelho o verdadeiro estado do País, entendesse a enormidade das suas opções e o primeiro-ministro pediria uma audiência ao Presidente da República e faria também o evidente: apresentaria a sua imediata demissão.

A dimensão da tragédia que nos foi apresentada é demasiado brutal para que tudo fique na mesma. Nós já a conhecíamos, mas pela primeira vez o Governo deu a entender que finalmente tinha percebido. Convenhamos, era, aliás, impossível, desta vez, não perceber: os números, sobretudo os do desemprego, são demasiado estridentes.

Falhou, falhou tudo. O fracasso é completo e total. Um Governo que precisa de aqui chegar para perceber que errou não pode permanecer em funções. Um Governo que foi o primeiro agente de destruição duma geração, dum tecido económico, de ter criado uma situação social insustentável, um nível de desemprego que destrói uma comunidade, não pode agora vir dizer que vai mudar (nem essa intenção tem, claro está). Um Governo que espalhou e aplaudiu todo o napalm económico e social que vinha da Europa não tem a mais pequena capacidade de negociar uma outra política.

Pois, ai meu Deus, uma crise política. Mas há maior crise política do que manter em funções um Governo que pelas suas próprias decisões políticas nos trouxe até aqui? Há maior crise política do que manter um Governo que ainda pensa que este caminho é o certo? Manter tudo como está, essa, sim, será uma colossal crise política.

"Estamos todos a evitar o anúncio ao mundo da bancarrota"- Daniel Bessa à RR




Luís Manuel Cabral – Diário de Notícias

Daniel Bessa, antigo ministro da Economia, defende uma solução governativa que envolva o PS como forma de evitar o incumprimento.

Em entrevista à Radio Renascença, Daniel Bessa afirma que "nós estamos todos aqui a tentar evitar o anúncio ao mundo da bancarrota e do incumprimento. Não digo que estamos próximos desse momento mas, infelizmente, estamos hoje mais perto do que estávamos há dois meses e há dois anos. E, portanto, é isso que estamos todos a tentar evitar", afirmou o ex-ministro da Economia este domingo ao programa "Conversas Cruzadas", onde avançou com um cenário governativo envolvendo o PSD, o CDS e o PS.

Para o ex-ministro, "o que estou a propor (o envolvimento do PS no Governo) parece-me ser um contributo para evitar o anúncio de bancarrota no nosso país, porque há uma coisa que os portugueses têm de saber, é que se esse momento chegar será muito pior do que aquilo que vivemos hoje", alerta, adiantando que "quem vende o incumprimento da dívida como uma salvação está a vender uma ilusão, porque ninguém julgue que Portugal sairá incólume e sem uma penalização muito maior daquela que tem hoje em relação ao compromisso que assumiu", disse.

Daniel Bessa afirma ainda que "Portugal caminha rapidamente para a necessidade de uma solução política diferente e de um Governo de suporte muito mais alargado do que o que tem hoje", para o ex-ministro, "é verdade que este Governo é maioritário e por isso pode prescindir do Partido Socialista mas acho que se caminha a passos largos para um governo de suporte acrescido. Isto não é nenhuma varinha mágica, não resolve por si os problemas, os problemas resolvem-se com medidas, mas pelo menos tira da rua e do protesto gratuito uma boa parte de Portugal e acho que isso é indispensável", diz.

Portugal: NÃO TINHA DE SER ASSIM, POIS NÃO?




Diário de Notícias, editorial

O ministro das Finanças consegui retirar o País de uma encruzilhada e empurrá-lo para um beco sem saída. A austeridade, não é como prometeu Vítor Gaspar, o matemático passe de mágica que nos levaria ao crescimento. Falhou. Todas as previsões falharam.

E por mais néscio que possa parecer até Pedro Passos Coelho já diz, como se nada fosse, que "previsões são apenas previsões".

Não são! O desemprego que afoga o País não é uma previsão, a recessão que nos arrasta para a pobreza não é uma previsão, o défice que ultrapassa todas as barreiras não é uma previsão, a dívida que cresce descontroladamente não é uma previsão, os direitos perdidos e ameaçados não são uma previsão.

A realidade, senhor primeiro-ministro é que a política do "custe o que custar" e o designio do "ir mais além da troika" apenas teve um resultado: estamos pior, muito pior. Por mais que isso incomode um CDS que não soube, até hoje, sair das trevas e assumir de forma clara, em nome do futuro do País, as suas opções políticas no Governo.

E alternativas? O líder socialista sabe que está mais próximo de ter que assumir as suas responsabilidades. Porém, resta uma profunda e sustentada dúvida. Qual é mesmo o caminho de futuro que é proposto por Seguro?

Mais um ano para cumprir défice é “dar mais corda ao enforcado” - Jerónimo de Sousa




SYM – SO - Lusa

O secretário-geral do PCP considerou hoje que a decisão da ‘troika’ de dar mais um ano a Portugal para cumprir o défice, a juntar ao corte de quatro mil milhões de euros, representa “dar mais corda ao enforcado”.

“A decisão do adiamento para mais um ano quer do cumprimento da meta do défice, quer do programa de austeridade suplementar de quatro mil milhões de euros, visa dar mais corda ao enforcado. Não sufocar a vítima de uma vez, aliviar um bocadinho para poderem continuar a explorar o nosso país”, afirmou.

O líder comunista discursava no final de um almoço que assinalou o 92.º aniversário do PCP e que juntou, segundo a organização, cerca de 1.200 pessoas no Pavilhão Multiusos de Arraiolos, no distrito de Évora.

Num discurso de mais de 30 minutos, centrado na sétima avaliação da ‘troika’, Jerónimo de Sousa acusou o Governo e a ‘troika’ de fazerem o “mais descarado exercício da hipocrisia”, alegando que “caracterizar como positiva a avaliação” do programa e da situação do país “é um insulto à inteligência dos portugueses”.

“Então os portugueses não conhecem a realidade da vida e não sabem qual é a situação do país? Como é que uma coisa pode andar bem, quando o país está a andar mal e os portugueses estão a passar mal nas suas vidas, no seu emprego e nos seus direitos?”, questionou.

O secretário-geral do PCP alertou ainda que “o país caminha para o completo descalabro”, dizendo que os resultados da sétima avaliação “confirmam o pior dos receios e as mais graves perspetivas sobre o futuro do país e para as condições de vida dos portugueses”.

“Eles diziam que a recuperação começaria em 2013, depois [passou] para 2014, agora para 2015 e em 2016 logo se vê”, referiu o líder comunista, para chamar o Governo e a ‘troika’ de “pantomineiros”, porque “julgam que podem brincar com os anseios do povo e com o seu futuro”.

“Brincam e enganam, mas até um dia. Até ao dia que o povo quiser, que os derrote e os derrube para procurar uma outra solução para o nosso país”, acrescentou.

Para Jerónimo de Sousa, “tornou-se ainda mais imperiosa e urgente a rutura, não apenas com esta política, mas também com o pacto de agressão”.

Defendeu ainda que a demissão do Governo e a marcação de eleições antecipadas “é a primeira e mais urgente medida para assegurar o futuro do país e dos portugueses”.

“Quem não o faz é, objetivamente, cúmplice do projeto de afundamento do país”, assinalou.

Seguro diz que “chegou a hora da mudança” e apela à mobilização em redor do PS




LFO – SO - Lusa

O secretário-geral do Partido Socialista, António José Seguro, defendeu hoje que "chegou a hora da mudança" para Portugal e apelou à mobilização dos portugueses em torno do projeto do PS.

O líder da oposição falava em Castelo Branco, durante um almoço com simpatizantes e militantes do partido, com senhas de entrada a cinco euros e que juntou cerca de mil pessoas, segundo números da organização socialista.

"Chegou a hora da mudança", destacou Seguro, num discurso em que acabou ovacionado de pé pelos presentes.

"E este país só muda se mudarmos de política. Só muda se os políticos se juntarem todos em torno de uma alternativa" e "esse caminho só poderá ser liderado em Portugal pelo PS", sublinhou.

Para Seguro, de cada vez que há mais "sofrimento e contestação", "aumentam as responsabilidades do PS, não só para dar voz à contestação, mas para dar voz à esperança e mostrar aos portugueses que o país tem futuro se colocarmos as pessoas em primeiro lugar".

O líder do PS fechou o discurso com um apelo "a todos os portugueses para que se mobilizem" em torno do projeto do PS, "colocando sempre em primeiro lugar as pessoas, que são a razão de estar na vida pública".

A jogar em casa, na cidade onde estudou e no distrito onde nasceu (no concelho de Penamacor), António José Seguro recordou dois ex-primeiros-ministros com raízes no distrito, António Guterres e José Sócrates, para referir que foram quem deixou mais obra feita na região.

Perante os presentes, deixou uma promessa: "Tudo farei para não vos desiludir, tudo farei para vos dar o orgulho de terem de novo um beirão à frente do Governo de Portugal para defender os que mais necessitam".

O primeiro-ministro Passos Coelho foi o alvo de todas as críticas, com Seguro a acusá-lo de "inconsciência social" e de estar "divorciado" dos portugueses: "ao contrário do primeiro-ministro, não fico fechado nos gabinetes, eu escuto as pessoas".

O secretário-geral do PS iniciou no sábado, em Castelo Branco, a iniciativa "As Pessoas Estão Primeiro", com a qual pretende fazer o levantamento "dos graves problemas que afetam a vida dos cidadãos", em vários contactos pelo país, anunciou o partido.

O almoço de Castelo Branco serviu ainda para o secretário-geral do PS enaltecer o trabalho do presidente da câmara local, o socialista Joaquim Morão, que já não se recandidatará nas próximas autárquicas devido à lei de limitação de mandatos.

Seguro referiu que a região e o país vão continuar a precisar de Morão, mesmo depois do mandato de autarca, porque a população lhe reconhece "capacidade para defender os que mais precisam".

O FIM DE PASSOS COELHO JÁ COMEÇOU A SER ESCRITO ONTEM!

 


João Lemos Esteves – Expresso, opinião - ontem
 
1. Dia de pesadelo para o Governo. Futuro negro para Portugal. Troika aponta o dedo ao Governo pelo falhanço total das políticas. Eis algumas das frases que enchem as páginas dos jornais deste fim de semana. Não é, pois, necessário ser especialmente perspicaz para concluir (ou intuir) que hoje é o primeiro dia do fim de Passos Coelho: o actual Primeiro-ministro (e, consequentemente, o Governo que lidera) chegou ao fim da linha. É o seu fim: não há qualquer margem de retorno. O Governo caiu de tal forma no fundo que já não vai conseguir regressar à tona. Note-se que esta minha análise nada tem que ver com um fanatismo anti-Passos-Coelho ou o meu desejo ávido (que, alguns, aqueles que não percebem o significado de liberdade de pensamento e liberdade de expressão, repetem que tenho) de tirar Passos Coelho do Governo de Portugal -está apenas relacionada com a minha análise objectiva da realidade política portuguesa.
 
Pergunta-se, então, quais as razões que sustentam a minha tese da inviabilidade da manutenção do actual executivo em funções? Passo a enumera-las e a explica-las devidamente.
 
1.1. Em primeiro, Passos Coelho optou por um rumo - que já, na altura, era discutível - e esse rumo traduziu-se em defender acerrimamente o memorando de entendimento da troika. Passos Coelho chegou mesmo a afirmar que desejava ir "além da troika". Pois bem, todos os esforços do Governo forma, no sentido, de aplicar as ordens da troika - ora, nem isso o Governo foi capaz. O Ministro Vítor Gaspar falhou todas as previsões económicas. Todas! Ou seja, a única meta que o Governo traçou, o único desígnio nacional que Passos Coelho apresentou aos portugueses, não foi atingido. Por conseguinte, a governação Passos Coelho vai ficar na História como um insucesso estrondoso! Um exemplo de incompetência do nosso Governo! Ora, quando um Governo reduz a sua acção a um só objectivo e falha redondamente esse objectivo, poderá tal Governo continuar em funções? Com que credibilidade? Pior: o Governo falhou - e não admite que falhou....Continua Vítor Gaspar a insistir que o Governo não muda de rumo, não quer mais dinheiro, nem mais tempo (não obstante, o FMI ter dado mais tempo e com a imprensa internacional - por exemplo, Financial Times - fala de mais tempo e mudança de rumo do Governo...), contra as evidências! Isto já não é um erro político - já é pura loucura política! O Governo Passos Coelho entrou numa fase lunática: já não vive em Portugal, vive na lua! Noutro planeta que não é definitivamente o planeta dos portugueses!
 
1.2. Em segundo lugar, a base de apoio social do Governo reduz-se actualmente a Ulrich, um ou outro banqueiro e mais meia dúzia de amigalhaços! Já nem Ângelo Correia, o "padrinho" de Passos Coelho, está com o Governo! Até já a própria troika - a maior aliada de Vítor Gaspar e Passos Coelho - se arroga no direito de bater no Governo, culpando-o do insucesso das suas políticas! Os portugueses andaram a ser esmagados fiscalmente, vamos atingir um número socialmente insustentável de desempregos, as famílias sofrem para pagar as suas contas, é já impossível ser feliz em Portugal! Passos Coelho quer fazer de nós, portugueses, pobres e miseráveis - é este o momento de bater o pé! Porque a solução que ele afirmava que iria trazer-nos a esperança e a confiança no futuro tem produzido como único efeito o agravamento dos nossos problemas económicos e sociais! Basta, caro Passos Coelho, basta! Os portugueses já não aguentam: as manifestações, as greves, as formas de luta social vão passar a ser ainda mais constantes, desgastando o Governo a um ritmo (quase) diário! Sinceramente, acha que o Governo aguenta assim até 2015? Claro que não. E Portugal - o interesse superior do nosso país! - não se compadece com Governo híper-fragilizado, que está a prazo.
 
1.3. Em terceiro lugar - mas não menos importante - convém apelar ao elemento humano. Passos Coelho é humano, é uma pessoa com as suas angústias, hesitações, sofrimentos pessoais. Ora, Passos Coelho deve assumir a sua dimensão humana e admitir que já não tem forças nem motivação para liderar Portugal. E percebe-se: um homem que andou a lutar por um único objectivo, coloca o seu futuro político dependente desse objectivo, e depois vem a concluir-se que nem isso conseguiu...É difícil encarar os portugueses nestas circunstâncias. Passos Coelho deve passar à História política portuguesa nos próximos dias. E para um dos seus capítulos mais negros.
 

Coimbra: A UNIVERSIDADE COM MAIS ESTUDANTES BRASILEIROS FORA DO BRASIL

 


Micael Pereira – Expresso, ontem – foto Ana Baião
 
São quase 10% dos alunos universitários. Os 1957 brasileiros a frequentar cursos superiores em Coimbra já conseguiram mudar a cidade.

Em poucos anos, Coimbra tornou-se a universidade com mais peso para o Brasil fora do Brasil. Neste momento, a instituição tem 1957 brasileiros a frequentar licenciaturas, mestrados e doutoramentos. Segundo Joaquim Ramos de Carvalho, vice-reitor responsável pela internacionalização, há 700 alunos que estão neste momento em Coimbra ao abrigo de programas de apoio do governo de Dilma Rouseff que não existiam há três anos.
 
A tendência é para que o número aumente no futuro. No próximo ano lectivo a Faculdade de Direito vai começar a oferecer, a estudantes portugueses e brasileiros, uma dupla titulação. Os passarão dois anos em Coimbra e dois anos na Universidade Federal de Salvador da Baía e serão licenciados simultaneamente nos dois países. E é apenas um de vários protocolos que estão a ser negociados entre os dois lados do Atlântico. Em 2014/2015, outras novidades deverão surgir, com um reforço de estudantes na área das ciências sociais.
 
Leia mais na edição de 16 de março do Expresso.
 

AFINAL, O CORPO DE CHÁVEZ NÃO SERÁ EMBALSAMADO

 


Raquel Pinto – Expresso, ontem – foto Tomás Bravo-Reuters
 
Governo da Venezuela desiste do procedimento anunciado pelo atual Presidente interino Nicolás Maduro, dois dias depois da morte do "El Comandante".

O Governo da Venezuela desistiu da intenção de embalsamar o corpo de Hugo Chávez. A informação foi divulgada hoje pelo ministro da Informação e Comunicação, Ernest Villegas, através da sua conta no Twitter.
 
"Foi descartada a opção de embalsamar o corpo de Hugo Chávez após uma comissão russa ter informado que, para realizar o procedimento, o corpo deveria ser trasladado para a Rússia, por um período de sete a oito meses", escreveu o governante na rede social.
 
A decisão é conhecida um dia depois do corpo do líder ter sido seguido em procissão, acompanhada por milhares de apoiantes, desde a Academia Militar para o museu do Quartel da Montanha, o local de onde o "El Comandante" dirigiu o fracassado golpe de Estado 4 de fevereiro de 1992 para derrubar o então Presidente Carlos Andrés Pérez.
 
Numa declaração à nação na quarta-feira, Nicolás Maduro, o atual Presidente interino, já tinha admitido que o "embalsamento seria bastante difícil", pois os preparativos deveriam ter sido feitos mais cedo segundo as indicações de cientistas de renome internacional. Recorde-se que o ex-líder dos venezuelanos faleceu no passado dia 5.
 
Entretanto, o Parlamento adiou para a próxima terça-feira a votação a uma emenda na Constituição a fim de permitir que Hugo Chávez possa descansar no Panteão Nacional - junto do seu ídolo e herói revolucionário Símon Bolívar -, sem que seja necessário esperar 25 anos após a sua morte para tal acontecer.
 

O JORNAL QUE INCOMODA FARDAS E BATINAS

 


Saul Leblon – Carta Maior, em Blog das Frases
 
Na manhã seguinte ao anúncio de um Papa argentino, o jornal ‘Página 12’ sacudiu Buenos Aires com a manchete: ‘!Dio, Mio!’

Na 6ª feira, dois dias depois, como relata o correspondente de Carta Maior, Eduardo Febbro, direto do Vaticano, o porta-voz da Santa Sé reclamou do que classificaria como ‘acusações caluniosas e difamatórias’ envolvendo o passado do Sumo Pontífice.

Em seguida atribui-as a ‘elementos da esquerda anticlerical’.

Alvo: o ‘Página 12’ .

Com ele, seu diretor, o jornalista, Horácio Verbitsky, que tem um livro sobre o as suspeitas que ensombrecem a trajetória do cardeal Jorge Mário Bergoglio, durante a ditadura argentina.

A cúpula da Igreja acerta ao qualificar o ‘Página 12’ como ‘de esquerda’ – algo que ostenta e do qual se orgulha praticando um jornalismo analítico, crítico, ancorado em fatos.

Mas erra esfericamente ao espetá-lo como ‘anticlerical’.

O destaque que o jornal dispensa ao tema dos direitos humanos não se restringe ao caso Bergoglio.

Fundado ao final da ditadura, em maio de 1987, o ‘Página 12’ é reconhecido como o grande ponto de encontro da luta pelo direito à memória na Argentina.

Não foi algo premeditado.

No crepúsculo da ditadura militar, um grupo de jornalistas de esquerda vislumbrou a oportunidade de criar um veículo enxuto, no máximo 12 páginas (daí o nome), mas dotado de densa capacidade analítica.

E, sobretudo, radicalmente comprometido com a redemocratização e com os seus desafios.

A receita das 12 páginas baseava-se num cálculo curioso.

Era o máximo que se conseguiria produzir com qualidade naquele momento; e o suficiente para a sociedade reaprender a refletir sobre ela mesma.

A fidelidade a essa diretriz (hoje o total de páginas cresceu e a edição digital tem mais de 500 mil acessos/dia) levou-o, naturalmente, a investigar os crimes da ditadura.

Seu jornalismo tornou-se um acelerador da transição que os interesses favorecidos pelo regime militar gostariam de maquiar.

Não apenas interesses econômicos.

Lá, como cá, existe um núcleo de poderosas empresas de comunicação, alvo agora da ‘Ley de Medios’, no caso da Argentina, que, por interesse financeiro, identidade ideológica ou simples covardia integrou-se ao aparato repressivo.

Usufruiu e desfruta vantagens dessa intimidade. Até hoje. O quase monopólio das comunicações é uma delas – combatida agora pelo governo de lá.

Naturalmente, a pauta dos direitos humanos dispunha de um espaço acanhado e ambíguo nessa engrenagem.

Não por falta de familiaridade com o assunto.

Mais de uma centena de jornalistas foram presos e muitos desapareceram na ditadura argentina.

A principal fábrica de papel de imprensa do país foi praticamente expropriada de seus donos.

Eles estavam presos, foram torturados. E então a transferência de propriedade se deu.

A sociedade compradora tinha como participantes o próprio governo militar e os principais jornais apoiadores do regime. Entre eles o ‘El Clarín’, de oposição frontal ao governo Cristina, atualmente.

O ‘Página 12’ não se deteve diante das conveniências. E vasculhou esses impérios sombrios.

Fez o equivalente em relação aos direitos humanos em outros países. Não raro, com a mesma mordacidade que incomoda agora o Vaticano.

Quando Pinochet morreu em 2006, a manchete indagava: ‘Que terá feito o inferno para merecer isso?’

A condenação do ditador Videla à prisão perpétua, em 2010, mereceu letras garrafais: ‘Deus existe!’

Foi com essa ironia cortante, às vezes, mas sempre intransigente em defesa dos direitos humano, que o ‘Página 12’ tornou-se um espaço apropriado pelos familiares dos desaparecidos políticos.

Por solicitação de Estela Carlotto, atual dirigente das Abuelas de Plaza de Mayo, passou a publicar, desde 1988, pequenas atualizações da trajetória familiar de vítimas da ditadura.

Os anúncios sugerem uma espécie de prosseguimento da vida dos que foram precoce e violentamente apartados dela.

Filhos que perderam os pais ainda crianças, mencionam os netos que esses avós jamais viram; avós falam dos bisnetos.

O efeito é tocante. Ao se deparar com a foto de um jovem desaparecido, sabe-se que hoje ele poderia estar brincando com os netinhos, filhos dos filho que agora tem a idade com a qual ele morreu.

Em 2007, o ‘Página 12’ recebeu na Espanha o prêmio da Liberdade de Imprensa, instituído pela Casa da América, junto com a Chancelaria espanhola e o governo da Catalunha.

Motivo: a seriedade na defesa dos direitos humanos e o compromisso com o rigor da informação, requisito da liberdade de expressão.

No momento em que pairam sombras sobre o Vaticano, o que deve fazer essa cepa de jornalismo?

O ‘Página 12’ faz o que, em geral, desagrada aos poderes terrenos e celestiais: investiga, pergunta, rememora.

Ao contrário do que sugere o porta-voz da Santa Sé, não se trata de um cacoete anticlerical.

O assunto extravasa o campo religioso e envolve uma questão de interesse político de toda a sociedade.

O tema de interesse ecumênico universal, do qual o ‘Página 12’ não abre mão: o dever que todos, sobretudo as autoridades, tem de respeitar e fazer respeitar os direitos humanos e democráticos dos cidadãos.

Sob quaisquer circunstancias; mas principalmente quando são ameaçados. Como na ditadura dos anos 70/80.

Há dúvidas se o passado do cardeal Mario Jorge Bergoglio nesse campo honra o manto santo que agora envolve Francisco, o desenvolto sucessor do atormentado Bento XVI.

As dúvidas estão marmorizadas em um lusco-fusco de pejo, silêncios e versões contrastantes.

É preciso esclarecer.

Há nomes, testemunhos, relatos, datas e um cenário dantesco: os anos de chumbo vividos pela sociedade argentina, entre 1976 e 1983.

O país do então líder dos jesuítas, Mario Jorge Bergoglio, vivia o inferno na terra, sob a ação genocida de uma ditadura cujos atos confirmam a indiferença aterrorizante dos aparatos clandestinos em relação à vida e à dor.

O que se ouve ainda arrepia.

A mesma sensação inspira o rosto endurecido e gasto dos líderes militares, julgados e condenados. Um a um; em grande parte, graças a pressão inquebrantável das denúncias e investigações ecoadas nas edições do 'Página 12'

Em sete anos, o aparato militar montou e azeitou uma máquina de torturar, matar e eclipsar corpos que operou de forma infatigável.

Nessa moenda 30 mil pessoas foram liquidadas ou desapareceram.

Mais de 4 mil e duzentos corpos por ano.

Filhos de militantes de esquerda foram sequestrados, entregues a famílias simpáticas ao regime.

Muitos permanecem nesse limbo.

No dia em que a ‘fumata bianca’ do Vaticano anunciou o ‘habemus papam’ e em seguida emergiu a figura do cardeal argentino, no balcão do Vaticano, Graciela Yorio esmurrou as paredes de seu apartamento a 11.200 quilômetros de distancia, em Buenos Aires.

O relato está nos jornais argentinos e também na Folha de São Paulo.

A revolta deve-se a uma certeza guardada há 36 anos na memória dessa sexagenária.

Em maio de 1976, seu irmão, já falecido, padre Orlando Yorio, foi delatado à ditadura sedenta e recém-instalada.

Juntamente com o sacerdote Francisco Jalics, este vivo, na Alemanha— Yorio ficou cinco meses nas mãos dos militares.

Incomunicáveis, na temível Escola Mecânica da Marinha, adaptada para ser a a máquina de moer ossos do regime.

O delator dos dois religiosos teria sido o cardeal Bergoglio -- o Papa, então com cerca de 40 anos, líder conservador dos jesuítas.

Essa é a convicção de Graciela, baseada no que ouviu do irmão, falecido em 2000, militante, como Jalics, da Teologia da Libertação.

Jalics não se pronunciou, alegando viagem. Mas emitiu uma nota na Alemanha em que se diz em paz e reconciliado com Bergoglio.

A nota compassiva não nega a dor que leva Graciela ainda a esmurrar paredes.

A estupefação tampouco é apenas dela.

Ainda que setores progressistas argentinos optem por uma certa moderação em público, muitas vozes não se calam.

Estela Carlotto, a dirigente das Abuelas de Mayo, em entrevista ao ‘Página 12’ deste sábado, procura manter a objetividade num relato que adiciona mais nuvens às sombras.

Carlotto afirma que o Cardeal Bergoglio nunca fez um gesto de solidariedade para ajudar a luta mundialmente reconhecida das mães e avós de desaparecidos políticos argentinos.

Poderia, mas não facilitou a reunião do grupo com o Papa. Ao contrário.

O primeiro encontro se deu em 1980, no Brasil, graças à mediação de religiosos brasileiros.

As abuelas só seriam recebidas em Roma três anos mais tarde, graças à contatos alheios ao cardeal Bergoglio.

Prossegue Estela Carlotto.

O cardeal teria sido conivente com o sequestro de pelo menos uma criança nascida na prisão.

Procurado por familiares da desaparecida política, Elena de la Quadra, teria aconselhado: ‘Não busquem mais por essa criança que está em boas mãos’.

E desfechou sentença equivalente em relação às demais.

O ‘Jornal Página 12’ tem sido o principal eco desses relatos e dessa revolta, que muitos relativizam e gostariam de esquecer.

O que o jornal faz ao investigar as dúvidas que pairam sobre Francisco é coerente com o 'manual de redação' sedimentado na prática da democracia argentina nesses 25 anos de existência: não sacrificar a memória ao conforto das conveniências.

Pode soar anticlerical a setores da Igreja que gostariam de esquecer o que já se cometeu neste mundo, em nome de Deus.

Mas é um reducionismo improcedente, que se dissolve na trajetória reconhecidamente qualificada do 'Página 12'.

Na Argentina, graças à persistência de vozes, como a de seus jornalistas, a memória deixou de ser o espaço da formalidade.

Hoje ela é vista como um pedaço do futuro. Um mirante poderoso para se entender o presente e superar o passado.

Carta Maior orgulha-se de ser parceira do jornalismo criterioso e corajoso de ‘Página 12’ no Brasil.
 

Cabo Verde: ENTRE PRIMAVERA SOVIÉTICA E VERÃO CRIOULO – QUE DIFERENÇAS?

 

 
Carlos Sá Nogueira – Cabo Verde Direto, opinião
 
O jornal asemanaonline publicou em 13 de Março uma notícia intitulada “Mais um caso de roubo de armas nas FA”. Fala-se, agora, em mais de 300 “armas ligeiras de alto calibre” que estarão nas mãos de “um grande traficante de drogas”
 
Moscovo amanheceu debaixo de uma Primavera quente e a ex-URSS celebrava o dia de Guarda de Fronteiras. Após percorrer 850 quilómetros e atravessar a impenetrável defesa antiaérea soviética, o aviador Mathias Rust aterrissou na Praça Vermelha, em Moscou, no dia 28 de maio de 1987. Destaque em diversos veículos de informação ocidentais, a notícia correu o mundo e causou grande choque na liderança na União Soviética.
 
A guerra fria encontrava-se no seu auge e a derrocada do Bloco de Leste estava preste a acontecer. Títulos como "Um alemão atravessou a Cortina de Ferro", anunciavam as manchetes da imprensa ocidental, causando, naturalmente, grande choque na liderança soviética, de então. Isso só aconteceu porque, segundo especialistas em questões militares, o sistema da defesa antiaérea soviético possuía brechas e podia ser atravessado por pequenos aviões que, se necessário, seriam capazes de levar a bordo munição nuclear ou bombas com substâncias tóxicas, com consequências imprevisíveis para o império soviético.
 
Demissão maciça
 
Na sequência desse escândalo, uma reunião extraordinária do Conselho Político do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética foi convocada, de emergência. Da decisão saída dava conta que três marechais e cerca de 300 generais e coronéis responsáveis pela defesa antiaérea foram demitidos, dentre eles o então ministro da Defesa, Serguêi Sokolov, e o comandante da Defesa Antiaérea, Aleksandr Koldunov.
 
Para alguma imprensa ocidental, essa foi a maior campanha de expurgação no alto comando militar da ex-União Soviética sob a batuta de Mikhail Gorbatchov, desde a repressão estalinista de 1937,

Estarão, com certeza, os caros leitores a perguntarem-se: mas para quê, que esta história é lembrada, agora, depois de mais de 25 anos do seu acontecimento e do desmoronamento do Bloco de Leste? Pois, sim senhores! Esta efeméride que ficará, decerto, na História Universal da Aviação Civil convoca-nos, desde logo, a refletir sobre a pseudorrealidade inquebrantável do sistema de segurança no mundo, liderado pelos países como: Rússia, EUA, China, India, Correia do Norte e do Sul, etc. Mas o texto deixa-nos também, grandes pistas para reflexões sobre como agir ética e moralmente, quando os sujeitos com responsabilidade política e governativa, cometem erros crassos como aqueles que o ministro da defesa da URSS, Serguêi Sokolov, os três marechais e os seus cerca de 300 generais cometeram, aquando da aterragem da avioneta monomotor Cessna 172, na noite da primavera, na Praça Vermelha, em pleno centro de Moscovo. Este facto pôs a nu também o mito do indefesso sistema de segurança da ex-URSS.

Ética de Responsabilidade

Outrossim, convida-nos, a olhar para a nossa realidade no capítulo da Segurança Nacional e da tão propalada Ética de Responsabilidade, reiteradamente, evocada pelo Governo de PAICV, por sinal, um partido de inspiração e matriz comunista, à semelhança do PCUS – Partido Comunista da União Soviética, de então, liderado por Mikhail Gorbatchov.

Se a aterragem na Praça Vermelha de uma avioneta, quebrando o sistema de segurança da ex-URSS, conhecida pela “cortina de ferro”, numa altura em que o mundo vivia a guerra fria, um período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os EUA e a URSS levou a demissão maciça do ministro da Defesa e dos principais responsáveis militares, em Cabo Verde, o País de Rendimento Médio (PRM) e em pleno Estado de Direito Democrático, continuamos, ainda, a assistir casos sui generis.

Senão vejamos: o jornal asemanaonline publicou em 13 de Março uma notícia intitulada “Mais um caso de roubo de armas nas FA”. Fala-se, agora, em mais de 300 “armas ligeiras de alto calibre” que estarão nas mãos de “um grande traficante de drogas”. Este episódio originou, para já, um grande aparato militar, que se encontra no terreno para tentar recuperar essas armas. Sabe-se, entretanto, que este é o segundo caso de roubo de armas nos armazéns da 3ª Região Militar. O último remonta a Julho de 2011.

“Até que ponto estarão relacionados os dois casos”, pergunta que aquele jornal faz cuja resposta os cabo-verdianos gostariam de ouvir, o mais rapidamente possível dos responsáveis que conduzem as investigações. Contudo, uma coisa é certa. É que fontes das FA citadas por esse órgão de informação, “não estranham mais esse desvio de armas do paiol de Fontes de Almeida, dado o ‘controlo ainda precário’ existente nos serviços de logística das nossas FA.

Armas na posse de traficante de droga

Um militar de alta patente, citado por asemanaonline confirma, ainda, que ‘houve extravio de armas, cuja quantidade não posso precisar neste momento. Estamos em franca recuperação destas armas, e tudo indica que boa parte delas está na posse de um traficante de droga que já foi militar e contou, no passado, com a conivência de um familiar de alta patente que ocupou funções de alta responsabilidade nas FA, inclusive ligadas à logística. Portanto, é uma rede antiga que precisa ser desmantelada, sob pena de os nossos quartéis passarem a armar traficantes com recursos do Estado. E com todas as implicações que tal situação pode ter na Segurança Interna de Cabo Verde. São repetidos casos graves a que as FA vão ter que pôr cobro’.

A similitude entre a Primavera Soviética e o caso de roubo de armas nos armazéns militares em Cabo Verde, gravita em torno da questão da segurança interna dos dois países. O caso de aterragem do avião monomotor Cessna 172, na Praça Vermelha, em Moscovo, em Maio de 1987, evidenciou o potencial perigo de ataques ao Império Soviético, numa altura em que a guerra-fria estava no seu auge. Embora nessa época a Rússia não enfrentasse, ainda, as ameaças terroristas. Ainda, assim, esta efeméride levou a demissão do ministro de defesa russo, do comandante da defesa e dos principais responsáveis militares. Tudo, porque o que esteve em causa era, justamente, a ameaça à soberania e à segurança interna da então URSS. Nestes casos, manda o imperativo ético que os responsáveis da governação ajam em consequência.

Curiosamente, essa decisão partiu do Conselho Político do Comitê Central do PCUS, o partido-estado da ex-URSS, país onde se formou vários quadros do PAICV e dos seus satélites (JAAC-CV e OPAD-CV).

Diferenças substanciais

Afinal que diferenças substanciais existem entre a Primavera Soviética e o Verão Crioulo? A diferença está, justamente, no facto de a ex-URSS tinha à frente da liderança do PCUS e do país, um senhor chamado Mikhail Gorbatchov que aproveitou o voo de Rust para se livrar dos altos oficiais que opunham às suas reformas voltadas para a democratização e abertura informativa da sociedade soviética.

Cabo Verde que tem à frente um Governo de esquerda, de matriz comunista, liderado por José Maria Neves que, nas eleições legislativas de 2011, teve como divisa da sua campanha eleitoral: “Mais Cabo Verde” ignora, pura e simplesmente a questão da segurança interna, mantendo em funções o ministro da defesa, o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, o Comandante da 3ª região Militar e os principais responsáveis pela logística militar do País.

Só em Cabo Verde, é que os arsenais de guerra são assaltados e roubados e o ministro de defesa, o CEMFA, o comandante da 3ª Região Militar e os principais responsáveis dos armazéns são mantidos em funções. Sobretudo quando, altas patentes das FA admitem um ‘controlo precário’ que põe, naturalmente, em causa a segurança interna do País. Quando já se sabe, outrossim, que as mais de 300 armas ligeiras de alto calibre estarão na posse de um traficante de droga. É ou não, um falhanço na execução de políticas de segurança interna do Governo do PAICV e de JMN? Não acha, o senhor primeiro-ministro, que esta é a estação onde o ministro de defesa e os seus comparsas devem descer? E a oposição o que é que diz sobre esta matéria? Vai ou não, agendar uma interpelação ao Governo sobre este assunto? Não anda o MpD, um pouco distraído, sobre os grandes acontecimentos do País? Terá ou não, o Senhor Presidente da República, enquanto Comandante Supremo das FA, uma palavra a dizer sobre este caso?

Tenho dito!
 

ÍNDICE DE CRIMINALIDADE EM CABO VERDE AUMENTOU 10,3% EM 2012 - polícia

 

JSD – VM - Lusa
 
Cidade da Praia, 15 mar (Lusa) - O índice de criminalidade em Cabo Verde aumentou 10,3 por cento em 2012, tendo sido reportados 24.444 casos, mais 2.292 do que em 2011, revelam dados da polícia cabo-verdiana, citados hoje pelo semanário A Nação.
 
Segundo os dados, o Tarrafal de São Nicolau foi o concelho que registou o aumento mais significativo, com uma subida de 64,6 por cento de casos, contrastando com o município vizinho da Ribeira Brava, na mesma ilha, que registou uma das subidas mais baixas da taxa de criminalidade, 1,8 por cento.
 
No mesmo período, os concelhos de Santa Cruz (ilha de Santiago, 54,3%), Ribeira Grande de Santiago (42%), Mosteiros (Fogo, 36%) e Porto Novo (Santo Antão, 33%) foram os municípios que registaram maiores subidas no índice de criminalidade.
 
Três concelhos, porém, registaram uma diminuição, com o da Brava, com uma queda 22,5%, São Filipe (Fogo), de 13,8%, e Maio, de 8,3%.
 
Em termos absolutos, o município da Cidade da Praia mantém a liderança do crescimento da criminalidade, registando cerca de um terço do total dos casos reportados -- passou de 7.404 em 2011 para 8.108 em 2012.
 
Em relação aos homicídios, a capital cabo-verdiana mantém-se também no "topo", ao registar 29 casos, menos quatro, porém, do que em 2011. São Vicente, o segundo maior concelho do arquipélago, subiu, no mesmo período, de três para sete homicídios.
 
Os dados sobre a evolução da criminalidade de 1996 a 2012 apontam para um aumento na ordem dos 86%, o que permite estabelecer uma média anual de 5,4%.
 

Angolana Unitel ganha concurso para segunda operadora de telecomunicações em São Tomé

 

MYB – VM - Lusa
 
São Tomé, 15 mar (Lusa) -- A angolana Unitel venceu o concurso para se tornar a segunda operadora de telecomunicações em São Tomé e Príncipe e a representante do Banco Mundial (BM) para o setor considerou hoje esta candidatura como "tecnicamente competente".
 
"É uma proposta tecnicamente competente e está-se neste momento à espera de finalizar as formalidades, nomeadamente a entrega de uma garantia bancária por parte da Unitel", disse Isabel Neto, no final de uma audiência com o presidente da Assembleia Nacional, Alcino Pinto.
 
No encontro, as duas partes discutiram a necessidade de se assegurar "uma concorrência efetiva" e vários outros aspetos ligados ao direito do consumidor.
 
"Discutimos aspetos de funcionamento geral do setor e aquilo que passa a ser agora o ainda mais importante com a entrada deste segundo operador, nomeadamente assegurar uma concorrência efetiva e todos os aspetos de partilha de infraestruturas, da defesa dos direitos do consumidor", explicou a representante do BM para as telecomunicações.
 
O Governo são-tomense, através da Agência Geral de Regulação (Ager) e a Unitel estão a discutir também os investimentos complementares, que incluem o acesso das telecomunicações a toda a população, particularmente a ligação à ilha do Príncipe e às zonas rurais.
 
O diretor da Ager, Orlando Fernandes, garantiu, em declarações a jornalistas, que a companhia angolana foi o único concorrente que cumpriu os requisitos técnicos e financeiros constantes do caderno de encargos para a obtenção de uma licença de telecomunicações fixas e móveis em São Tomé e Príncipe.
 
Fonte da Agência Geral de Regulação disse que pelo menos sete concorrentes receberam os cadernos de encargos, tendo apenas um manifestado o seu interesse nesta área.
 
As propostas foram avaliadas por técnicos da Autoridade Geral de Regulação, dos Ministérios das Finanças e das Infraestruturas e Obras Públicas, auxiliados por especialistas do Banco Mundial.
 
A atribuição da licença à proposta apresentada pelo grupo da empresária angolana Isabel dos Santos porá fim ao monopólio da Companhia Santomense de Telecomunicações (CST), participada da Portugal Telecom, que opera no arquipélago há já vários anos.
 
O caderno de encargos do concurso público deixou de fora a televisão por cabo, que deve aguardar pela entrada em vigor de uma nova lei que alarga a área de jurisdição da autoridade reguladora.
 

Crocodilo matou mulher em rio do leste de Angola, terceiro ataque mortal este mês

 

EL – GC - Lusa
 
Cazombo, Angola, 17 mar (Lusa) - Uma mulher morreu hoje nas margens do rio Zambeze, na província do Moxico, leste de Angola, em consequência do ataque de um crocodilo, noticiou a agência Angop.
 
A vítima, de 45 anos, foi atacada pelo réptil quando tomava banho no rio, depois de ter trabalhado num terreno agrícola, na periferia da sede municipal do Alto-Zambeze.
 
Populares dos bairros situados junto à margem do rio, citados pela Angop, salientaram que os crocodilos estão a aproximar-se de zonas frequentadas por pessoas devido à subida do caudal do rio Zambeze, resultante das chuvas intensas que têm caído sobre a região nos últimos dias.
 
Este foi o terceiro caso de ataque mortal perpetrado este mês por crocodilos no município do Alto-Zambeze.
 
As chuvas intensas que se têm abatido sobre a região provocaram já seis mortos, milhares de desalojados e avultados estragos materiais, com a destruição de casas e edifícios públicos, como escolas e postos de saúde.
 
A formação de grandes caudais de água intensificou ainda a formação de ravinas, resultado da erosão do terreno e obrigaram à suspensão da ligação ferroviária entre o Luena e Cuíto, capitais provinciais do Moxico e Bié, respetivamente.
 

POLÍCIA TIMORENSE DESMOBILIZOU GRUPO DE EX-VETERANOS QUE OCUPAVAM TERRENO

 

MSE – JCS - Lusa
 
Díli, 17 mar (Lusa) - A polícia timorense (PNTL) realizou hoje uma operação para desmobilizar o grupo de ex-veteranos do Conselho Popular de Defesa da República de Timor-Leste (CPD-RDTL), que estava a ocupar terras em Welahulu, no distrito de Manufahi.
 
"Esta manhã iniciamos a operação, o terreno está vazio. Houve um elemento que resistiu, todos os outros colaboraram", afirmou à agência Lusa, contactado por telefone, o comandante-geral da PNTL, comissário Longuinhos Monteiro.
 
Segundo o comissário Longuinhos Monteiros, no terreno estavam 158 elementos, que estão a ser organizados em grupos para regressarem aos seus distritos.
 
"A operação foi um sucesso e durou 45 minutos", disse o comandante-geral da PNTL, salientando que a PNTL cumpriu o mandado emitido pelo governo no início do mês de março.
 
O CDP-RDTL é um grupo de ex-veteranos timorenses que realizou, após a restauração da independência, várias manifestações em Díli a exigir o reconhecimento da independência proclamada em 1975, bem como a saída das organizações internacionais.
 
No final de 2012, o grupo deslocou-se para o distrito de Manufahi, a cerca de 80 quilómetros a sul de Díli, onde começou a ocupar terras sob pretexto de as cultivar para ajudar o governo e a economia do país.
 
No passado dia 05, o governo timorense acusou o grupo de ex-veteranos de violar a lei e desrespeitar os direitos humanos e instruiu a PNTL para adotar medidas adequadas para o restabelecimento da paz social.
 
Segundo o governo, a medida teve como objetivo proteger a população local, os seus bens e meios de sobrevivência e "prevenir um eventual agravamento da situação de segurança provocada pela ocupação ilegal de terrenos".
 
Na sequência da decisão do governo, o vice-primeiro-ministro, Fernando La Sama de Araújo, anunciou na quarta-feira a criação de uma comissão, depois de um encontro com uma delegação do grupo de ex-veteranos, para tentar arranjar uma solução e pôr fim à ocupação de terrenos.
 
"Ontem (sábado) estive no terreno e procuramos uma solução para evitar outras formas de atuação. As condições do governo não foram aceites", acrescentou o comissário Longuinhos Monteiro.
 
Em declarações à Lusa, o líder do grupo de ex-veteranos, António Matak, disse que a polícia atuou e levou as pessoas, mas que ainda "não tinham chegado a uma solução" no âmbito das negociações com a comissão, criada pelo governo.
 
* Ler mais sobre Timor-Leste em TIMOR LOROSAE NAÇÃO
 

Moçambique: CRIANÇAS CONCLUEM A 7ª CLASSE SEM SABER LER OU ESCREVER

 


Faizal Ibramugy – Voz da América
 
As crianças são obrigadas a trabalhar para sustentar a família
 
NAMPULA — A assiduidade escolar é um problema que está a originar um debate sem precedentes nos últimos tempos na sociedade moçambicana.

O facto preocupa sobre maneira, toda a sociedade civil, e as autoridades governamentais.

Os críticos aos sistema governativo advertem que a falta de assiduidade por parte dos alunos é algo que pode comprometer a concretização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio no sector de educação.
Um exemplo do impacto da falta de assiduidade escolar é que crianças que conseguem concluir a 7ª classe, não sabem ler ou escrever.

Os peritos apontam vários factores como a perda de valores tradicionais, a miséria, incluindo falta de alimentação, falta de transporte, gravidez precoce bem como o trabalho infantil, onde as crianças são obrigadas a trabalhar para sustentar a família.

Varias organizações não governamentais, como a Visão Mundial decidiram fazer alguma coisa para responder aos desafios.

A nível da província de Nampula estas organizações procuraram apoios junto do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos de América para financiar um programa de alimentação escolar na província de Nampula.

O objectivo do programa que foi lançado no mês passado em todas escolas primárias de Muecate e Nacarôa é o de melhorar a dieta alimentar dos alunos ali matriculados com o intuído de ver melhorado a assiduidade e consequentemente qualidade de ensino e o aproveitamento escolar.

O governo de Nampula acredita que o programa de alimentação escolar, vai contribuir para o aumento do número de crianças que vão a escola onde tem a possibilidade de além de estudar, comerem, e melhorar assim a assiduidade e a concentração dos alunos.

Mas, docentes ouvidos pela VOA em Nampula, dizem que esse programa alimentar pode não mudar muito a situação de má apresentação e disposição dos alunos bem como as constantes desistências e atrasos.

Fernando Lavieque e Carlos Constantino disseram que a assiduidade escolar não está estreitamente ligada as miséria material, mas sim moral e espiritual, resultante da perda de valores básicos na educação.

Como exemplo, o professor Carlos Constantino, disse que hoje as escolas deixaram de reprovar os alunos por falta, encontrado alunos a transitar mesmo sem terem participado nem si quer uma aula.

Para Fernando Lavieque “a educação é um fenómeno social e não deve ser dissociada do próprio dia a dia”. Este docente entende que “ nas escolas se o aluno é assíduo, o professor já não é”, e explica a seguir porque isso acontece.

Enquanto o professor Carlos Constantino considera que a ausência da assiduidade nas escolas moçambicanas é algo que foi provocado pelas constantes mudanças no currículo escolar e recomenda uma reflexão profunda, o professor Fernando Lavieque diz que há necessidade de as escolas fazerem cumprir os regulamentos existentes e que simplesmente se encontram arquivados na maior parte das escolas.

A VOA falou também com alguns alunos em Nampula. Eles dizem que os alunos apresentam-se mal vestidos, com aspecto descuidado e, chegam atrasados e não se dão tempo para perceber algo na sala de aulas, devido as novas tecnologias de informação e comunicação, associadas a globalização.

Estes referiram que durante as aulas, alunos há que simplesmente tratam de trocar mensagem com os seus namorados e amigos e quando há trabalhos de casa, estes não são feitos, porque os alunos preocupam-se em assistir novelas e filmes.

Estes problemas, segundo os alunos também se associam a falta de regulamentos que ditam ordens nas demais escolas do país.

Já o recém-nomeado director Provincial de Educação e Cultura de Nampula, Raul Namunwe diz que para resolver os problemas da educação é necessário que haja um envolvimento de todos os intervenientes do processo de ensino e aprendizagem, nomeadamente os directores escolares, os professores, os alunos e os encarregados de educação.
 
 

Em Angola e Moçambique, demolições e custo alto refletem problemas habitacionais

 

Deutsche Welle
 
O Governo angolano irá prosseguir com as demolições em bairros degradados nas periferias das grandes cidades, como Luanda, para dar sequência ao plano de realojamento que visa à redução da pobreza.
 
Demolição e realojamento são algumas das respostas aos graves problemas da habitação que enfrentam cidadãos de fraca capacidade financeira em Angola.
 
O ordenamento do território e a requalificação dos espaços é um dos desafios para os arquitetos tanto em Angola como em Moçambique, onde é cada vez mais difícil viver nas grandes cidades devido ao elevado custo dos apartamentos.
 
Sem dinheiro para morar
 
Luanda, a capital de Angola, com cerca de sete milhões de habitantes, está entre as cidades mais caras do mundo.
 
O elevado preço das habitações não corresponde à capacidade financeira de muitos angolanos, obrigados a viver em bairros pobres e desordenados nos arredores da cidade.
 
No que se refere ao problema da estruturação da sociedade, ainda não houve resposta, afirma Adriano da Silva, Diretor Nacional da Habitação de Angola, que reconhece ser elevado o nível de pobreza nos principais centros urbanos.
 
"Houve crescimento mas há um lado social para o qual não se deu atenção. Com a falta de emprego, aumenta a pobreza". Segundo da Silva, o cenário de Luanda nada mais é do que uma organização encontrada pelas próprias pessoas devido a falta de reações das instituições do Estado.
 
Além disso, conta-se com o fenómeno da imigração que também contribui para pressionar as cidades, levando ao surgimento de espaços com construções ilegais, sem o mínimo de qualidade de vida.
 
Desalojamentos parte do plano?
 
Angola atravessa um período de crescimento económico, mas com muito ainda por fazer em todos os setores. Face à realidade, o Governo considerou urgente definir um plano de recuperação e requalificação do património habitacional, que também inclui a construção de novos centros urbanos para responder as necessidades.
 
A estratégia faz parte do Programa Nacional de Urbanismo e Habitação, que prevê novas centralidades e o combate à pobreza. Apesar das contestações por parte das populações, os desalojamentos em bairros de Luanda, como Cacuaco, correspondem a um plano governamental que prevê erguer nos referidos espaços projetos estruturantes, refere o diretor nacional da Habitação de Angola.
 
"É necessário desalojar mas na perspectiva de realojamento. Sair de um espaço ilegal para ir morar num ordenado", explica Adriano da Silva.
 
Para isso, o executivo tem como política a construção de casas sociais para cidadãos de baixos rendimentos, com a participação do Estado em cerca de 40%.
 
António Gameiro, bastonário da Ordem dos Arquitetos de Angola, disse à DW África que os desafios com vista à melhoria da qualidade de vida são enormes.
 
"Cada vez mais há necessidade de melhorar a qualidade das pessoas que migram. Até porque, as migrações vão continuar. É preciso começar a pensar não só a nível das cidades mas também a nível do desenvolvimento rural. Muitas vezes, a solução das cidades está fora delas."
 
Maputo está mais cara
 
Em Maputo, capital moçambicana, a subida dos preços dos apartamentos causada pelo aumento da procura vem levando as pessoas a sair em busca de alternativa nos subúrbios, hoje já bastante congestionados.
 
Anselmo Cani, da comissão instaladora da futura Ordem dos Arquitetos de Moçambique, esclarece que a possibilidade de se ter uma capital mais cara existe, devido à falta de habitação e problemas no setor da construção civil.
 
Na opinião dele, Moçambique tem, entre outros, o desafio da sustentabilidade das cidades, que passa pelo combate à pobreza.
 
"É preciso dar mais capacidade às pessoas para poderem enfrentar as condições de vida que a própria cidade oferece. E isso se faz providenciando emprego e soluções para que as pessoas possam sobreviver e suprir as carências", explica.
 
Angola e Moçambique participam até sexta-feira (15.03) do 2º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono, em Lisboa, que debate o desenvolvimento do território, da cidade e da promoção habitacional.
 
Autor: João Carlos (Lisboa) / Bettina Riffel - Edição: Renate Krieger
 

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