sábado, 8 de outubro de 2011

URGE PÔR ESTES POLÍTICOS A PÃO E ÁGUA




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

Como bom “africanista de Massamá”, Passos Coelho reedita a política colonial imortalizada no poema Monangambé de António Jacinto: fuba podre, peixe podre, panos ruins, cinquenta angolares e porrada se refilares.

E, pelo sim e pelo não, avisa que o Governo não permitirá a direito à indignação aos “que pensam que podem incendiar as ruas" e trazer "o tumulto".

Por deficiência congénita e ancestral, os portugueses são de uma forma geral um povo de brandos costumes que, quase sempre, defendem a tese de que “quanto mais me bates mais gosto de ti”.

Mas, quem sabe?, talvez um dia acordem com a barriga de tal modo vazia a ponto de mostrem que estão fartos de quem em vez de os servir… só se serve deles.

"Estão criadas as condições para que as contestações se alastrem", porque a "base da pirâmide demográfica é dominada por jovens, entre os 16 e os 25 anos, logo a propensão para haverem problemas é muito grande", explicou em tempos à agência Lusa o investigador na área da segurança e professor universitário, José Vegar.

É certo que em Portugal aumenta o número dos que pensam que a crise (da maioria, de quase sempre os mesmo) só se revolve a tiro. Parece-me uma boa opção, sobretudo porque apesar da fraqueza física haverá força para puxar o gatilho.

Mesmo que assim seja, se calhar os responsáveis pela tragédia (como é o caso, entre outros, entre muitos outros) de Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho e Paulo Portas) vão continuar a ter pelo menos três boas refeições por dia.

De uma coisa os portugueses não podem, contudo, esquecer-se.  Como dizia Platão: "O castigo por não participares na política é acabares por ser governado por quem te é inferior." E se, mesmo participando, deu no que deu… o melhor é cortar o mal pela raiz.

E, convenhamos, se o valor dos portugueses se medisse pelo nível dos seus actuais, anteriores e anteriores aos anteriores  políticos, estariam certamente abaixo do último do lugar do “ranking” mundial.

Segundo um estudo da Aon Risk Solutions, Portugal apresenta, pela primeira vez em dez anos, um risco político com ameaças de greves, de motins e de comoção civil.

"Embora tenha mantido o mesmo 'rating' - aquele que indicia o mais baixo patamar de risco - pela primeira vez foram especificados dois riscos específicos, nomeadamente, o de incumprimento da dívida soberana e o de ocorrência de fenómenos de violência pública", disse já há algum tempo à Lusa o director geral da Aon, Pedro Penalva.

De acordo com o responsável pelo estudo da Aon Risk Solutions, a empresa global de gestão de risco da Aon Corporation, "Portugal é um dos países que surge pela primeira vez na história do 18º Mapa de Risco Político, dada a conjuntura actual em comparação com outros anos".

O legado da recessão mundial, a recente crise da dívida soberana, os desenvolvimentos ocorridos na Grécia neste domínio e o consequente risco de contágio são factores que contribuíram para atirar Portugal para a lista dos países em risco, num universo composto por mais de 211 a nível mundial.

As conclusões do estudo referem-se ao ano de 2010, e resulta de uma avaliação da AON em conjunto com diversas entidades, como universidades, agências de 'rating', seguradoras e bancos de investimento. E se em 2010 era assim…

A Aon mediu o risco político de 211 países e territórios, baseado em inúmeros indicadores, designadamente impossibilidade de conversão de moeda e transferência de dinheiro, greves, motins e comoção civil, guerra, guerra civil, não pagamento da dívida soberana, interferência política, quebra na cadeia de abastecimentos e riscos legais e regulatórios.

Para já e por enquanto, na primeira linha dos que podem e devem sair à rua para dizer “basta” estão os 800 mil desempregados, os 20% que vivem na miséria e outros tantos que começam a ter saudades de uma... refeição. Número que, convenhamos, já tem algum significado. De facto, é muita gente a pensar com a barriga… vazia.

Em certas áreas urbanas das grandes cidades, nomeadamente "as periferias das cidades de Lisboa, Setúbal, Porto as probabilidades de protestos são grandes", e não é só por uma "questão de austeridade, dificuldade do mercado de trabalho e do emprego", porque "já não é possível o estado social cobrir todas as funções que antes cobria", diz por sua vez José Vegar.

O investigador lembrou que uma das "principais reivindicações é que querem emprego, querem protecção, [mas] isso acabou e já não há", tendo as "pessoas de se qualificar, para terem mais acesso”.

E quanto mais qualificados são, digo eu, menos acesso têm. Isto porque, cada vez mais, os empregos não são para os que sabem mais, para os mais qualificados, mas para os que demonstram ter coluna vertebral e tomates amovíveis.

"Por muitas qualificações que as pessoas tenham hoje em dia, o acesso ao emprego não é automático, só os melhores vão ter acesso", diz José Vegar, certamente por nunca ter necessitado de enviar candidaturas a empregos.

Seja como for, começa mesmo a ser altura de os portugueses porem os seus políticos a pão e água ou, talvez, a farelo. 

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

São Tomé e Príncipe: Enviado do Governo australiano discute cooperação bilateral




MYB - LUSA

São Tomé 08 out (Lusa) - Os governos são-tomense e australiano iniciaram conversações para implementação de cooperação bilateral nos domínios do turismo agricultura, pesca, serviços e diplomacia, informou o enviado de Camberra a São Tomé.

O enviado especial do governo de Camberra para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Neil Mules, encontra-se na capital são-tomense desde sexta-feira e já teve encontros de trabalho com o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades, Manuel Salvador dos Ramos.

"Estamos a estudar as áreas em que queremos negociar, há áreas diversas como a agricultura, pesca, serviços, turismo e diplomacia, temos muitas áreas em que podemos fazer alguma coisa", disse o enviado especial do Governo da Austrália, Neil Mules.

O chefe do executivo são-tomense, Patrice Trovoada, durante o encontro com o representante do Governo australiano, sugeriu que os dois países encontrassem áreas de investimentos mais concretos para desenvolver a cooperação bilateral.

"Estou de acordo com o primeiro-ministro de que precisamos encontrar uma ou duas áreas para conseguir resultados concretos para os dois países", explicou o enviado especial do Governo australiano que se faz acompanhar nesta deslocação a São Tomé e Príncipe do embaixador australiano para São Tomé e Príncipe e Portugal, acreditado em março deste ano.

Uma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros contactada pela Lusa considera a cooperação com a Austrália como "uma nova porta que se abre no quadro da cooperação bilateral" para o arquipélago.

Segundo Neil Mules, ainda este ano, os dois países "vão dar passos concretos" para o arranque da cooperação bilateral entre os dois países.

MIA COUTO VENCEDOR DO PRÉMIO EDUARDO LOURENÇO 2011





O escritor moçambicano Mia Couto é o vencedor da sétima edição do Prémio Eduardo Lourenço, no valor de 10 mil euros, atribuído pelo Centro de Estudos Ibéricos (CEI).

A decisão foi comunicada por João Gabriel Silva, reitor da Universidade de Coimbra, no final de uma reunião do júri, a que presidiu, realizada hoje nas instalações do CEI, naquela cidade.

Instituído em 2004, o prémio anual, que tem o nome do ensaísta Eduardo Lourenço, mentor e presidente honorífico do CEI, destina-se a galardoar personalidades ou instituições, portuguesas ou espanholas, «com intervenção relevante no âmbito da cooperação e da cultura ibérica».

Desta vez, segundo o presidente do júri, foi atribuído a Mia Couto, escritor que «alargou os horizontes da língua portuguesa e da cultura ibérica».

João Gabriel Silva disse à agência Lusa que a distinção foi entregue ao escritor Moçambicano «por unanimidade e aclamação», num conjunto de 15 concorrentes, pela importância que a sua obra representa «para o espaço ibérico».

O presidente do júri referiu que, pela primeira vez, o Prémio Eduardo Lourenço «sai da Ibéria, indo até ao Índico», dado que Mia Couto nasceu e vive em Moçambique.

A sessão solene de entrega do galardão terá lugar a 26 de Novembro, na Guarda, por ocasião das comemorações do 11.º aniversário do CEI.

*Foto em Lusa

Ensino do Português "é a questão bilateral mais preocupante com França" -- embaixador




PRM - LUSA

Paris, 08 out (Lusa) - O ensino da Língua Portuguesa "é a questão bilateral mais preocupante de Portugal em França", afirmou hoje o embaixador Francisco Seixas da Costa no encontro anual de associações portuguesas no país.

O diplomata referia-se a uma das maiores preocupações abordadas no Encontro Anual das Associações Portuguesas de França, que se realizou hoje no edifício da "mairie" (município) de Paris.

Francisco Seixas da Costa referiu, a título de exemplo, que uma pergunta ao Governo francês, sobre o ensino do Português, por deputados da Assembleia Nacional, "ficou até agora sem resposta".

Em 2012, como referiram diferentes dirigentes associativos, "fará cinco anos sem recrutamento de novos professores de Português pelo Ministério da Educação francês".

O encontro anual das associações portuguesas de França ficou também marcado pela insistência na importância da participação cívica e política da comunidade.

"Há um défice de participação política dos portuguesas da emigração, tanto em França como no mundo", constatou o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário.

"Temos que triplicar o número de recenseados nos cadernos eleitorais nos próximos anos", defendeu José Cesário, frisando que isso "é um objetivo, não é uma promessa política".

A nível institucional, José Cesário anunciou "para breve" o início de um projeto-piloto de permanências consulares em diversos locais com associações portuguesas, usando novos recursos tecnológicos para providenciar os mesmos serviços acessíveis, por exemplo, no Consulado Geral de Portugal em Paris.

Os dois deputados eleitos pelo círculo da Europa, Carlos Gonçalves (PSD) e Paulo Pisco (PS), apontaram um outro problema, que o social democrata resumiu como sendo um "défice de imagem" não apenas em França como em Portugal.

"Portugal tem dificuldade em conviver com a sua emigração", sublinhou Carlos Gonçalves, uma ideia reforçada por Paulo Pisco, que defendeu "um trabalho de transformação da perceção da emigração".

O deputado socialista apontou até "o preconceito e a distância" das instituições portuguesas em relação às realidades da emigração, um termo que, de resto, Paulo Pisco não gosta "porque soa mal pela carga negativa que adquiriu".

"Existe uma distância muito pronunciada entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros e as comunidades", acusou mesmo o deputado socialista, ressalvando que os diplomatas portugueses em Paris são a exceção que confirma a regra.

Francisco Seixas da Costa sublinhou, por seu lado, que a existência de quase meio século de forte emigração para a Europa "é a prova de que Portugal não conseguiu oferecer, em vários momentos, de forma cíclica, as condições para que parte da sua população se realizasse na sua terra de origem".

O encontro anual foi organizado pela Coordenação das Coletividades Portuguesas de França (CCPF), cujo secretário-geral, Daniel Rodrigues, alertou para "a fragilidade, mas também as potencialidades, de uma rede associativa que necessita de apoio neste momento".

O encontro das associações portuguesas termina hoje à noite com a comemoração na "mairie" de Paris do 5 de Outubro português, com uma gala na sede do município.

*Foto em Lusa

"Basta de crime", dizem residentes chocados pelo triplo assassínio de família portuguesa





Centenas de residentes do bairro de Walkerville, a sul de Joanesburgo, marcharam hoje contra a criminalidade violenta e prestaram homenagem aos três membros de uma família portuguesa assassinada no local há uma semana.

"Basta de Crime" e "Walkerville está farta de homicídios e crimes sem sentido" foram algumas das mensagens transmitidas pelos residentes em faixas empunhadas por homens, mulheres e crianças de todas as raças que marcharam pelas ruas principais deste subúrbio, com paragens em locais onde foram recentemente assassinados residentes no bairro.

À entrada da propriedade com o número 61 da rua Kliprivier, onde a 01 de outubro foram brutalmente assassinados António Viana, de 50 anos, a mulher Geraldine, de 46, e o filho Amaro, de 13, os manifestantes depositaram ramos de flores, muitos com mensagens.

"Porquê toda esta violência, porque é que não se limitam a roubar o que querem e a fugir sem matar nem torturar ninguém? É esta brutalidade que não se entende. A prisão ou a pena de morte [que não existe na África do Sul] não são punição bastante", desabafou uma residente de origem portuguesa que se identificou como Maria, quando depositava flores no portão da família assassinada.

Dois dos suspeitos dos homicídios dos três membros da família Viana foram detidos e já constituídos arguidos, na sexta-feira, no Tribunal de Vereeniging, a comarca que abarca Walkerville e De Deur.

Após esta paragem, os manifestantes deslocaram-se para outro local do bairro de Walkerville onde em março foi assassinada durante um assalto uma mulher que geria, com o marido, uma empresa de viveiros de peixes ornamentais.

"Ainda hoje me debato com a angústia de aceitar a morte da minha mulher. Não tínhamos cá dinheiro nenhum, eles não levaram nada, não lucraram absolutamente nada com o assalto, e balearam-na a sangue-frio sem haver necessidade", disse à agência Lusa Mário Wilkin, marido da vítima. Os autores dos disparos que vitimaram a mulher nunca foram capturados.

A marcha, que foi pacífica e contou com a presença de agentes da polícia e membros da força de polícia comunitária da área de Walkerville, prolongou-se por cerca de duas horas e cobriu mais de cinco quilómetros.

Numa altura em que, a nível nacional, as estatísticas da criminalidade violenta apresentam melhorias significativas, os moradores de Walkerville mostram-se disponíveis para lutar contra a insegurança.

"Vamos travá-la com a polícia, com o governo, mas acima de tudo contando com todos, como se comprova pelo crescente número de voluntários que aderem às patrulhas da polícia comunitária", disse à Lusa um dos participantes na marcha.

*Foto em Lusa

CUBA FECHARÁ 2011 COM 22 MIL MÉDICOS ESTRANGEIROS





Havana, 8 out (Prensa Latina) Cuba fechará neste ano com quase 22 mil médicos de 66 países formados com similares programas de estudo aos aplicados na nação caribenha que privilegiam a prevenção sanitária, indicou hoje a imprensa.

  A cifra se completará em dezembro com a primeira graduação de médicos em Venezuela com professores e métodos cubanos, adiantou o diário Granma depois de dar conta da graduação até agora de uns 13 mil 600 médicos de outros países.

O maior número de egressos, quase 10 mil, cursou estudos na Escola Latino-americana de Medicina (ELAM) de Havana, aberta em 1999 para inicialmente formar jovens de Centro América, afetada no ano anterior pelo furacão Mitch.

Logo a iniciativa do líder da Revolução cubana, Fidel Castro, ampliou-se ao resto da América Latina, Ásia, África e inclusive a comunidades pobres dos Estados Unidos.

De acordo com a fonte, Cuba tem matriculados em universidades médicas uns 21 mil bolseiros de 113 nações, mais de mil 700 deles freqüentam em seus próprios países nos últimos anos da carreira.

Aos dados somam-se outros 34 mil jovens preparados por professores cubanos na Guiné Bissau, Timor Leste, Gâmbia , Tanzânia , Eritréia , Guiné Equatorial, Angola, Bolívia, Nicarágua, além de Sudáfrica, Guiana e aVenezuela.

Também realizam estudos de pós-graduação aqui quase mil 600 médicos de 52 países em Medicina Geral Integral e em uma segunda especialidade.

mmd/lac/ro

JIMMY CARTER PEDIRÁ LIBERTAÇÃO DE CUBANOS A OBAMA




CORREIO DO BRASIL, com agências internacionais - de Caracas

O ex-presidente norte-americano Jimmy Carter afirmou, nesta quinta-feira que advogará ante o presidente, Barack Obama, e os políticos de seu país para conseguir um indulto em favor dos cinco heróis antiterroristas cubanos que permanecem em prisão nos Estados Unidos há mais de 13 anos. E reiterou que, no julgamento dos cubanos, normas foram violadas e o veredito, duvidoso.

– Não sou apenas o ex-presidente dos Estados Unidos, mas também um Prêmio Nobel da Paz (…) nas minhas conversações privadas com o ex-presidente Bush (George W.) e com o presidente Obama venho pedindo a libertação dessas pessoas, reconheço as limitações dentro do sistema judicial dos Estados Unidos e espero que o presidente possa levar em conta o indulto. Porém essa é uma decisão que só o presidente pode tomar, ou seja, não me corresponde dizer ao presidente o que deve fazer. Porém, em minha opinião, tanto antes como agora, é que o julgamento dos Cinco foi muito duvidoso e normas foram violadas – disse Carter em entrevista à rede sul-americana de TV TeleSUR.

Ele considerou que, sejam culpados ou não, os cinco já passaram suficiente tempo na prisão.

– Tenho dúvidas sobre estas extensas condenações a que foram submetidas essas pessoas, porém quando regressar penso em conversar com o presidente Obama e com vários líderes políticos estadunidenses e, sejam culpados ou não, eles já passaram um bom tempo presos, mais de 12 anos, ou seja, já foram castigados – afirmou.

Carter fez um balanço de sua visita a Cuba, onde se reuniu com as autoridades, com o presidente, Raúl Castro e o líder da Revolução, Fidel Castro, com opositores, representantes da comunidade judaica, assim como com a Igreja Católica e com o réu estadunidense Alan Gross, condenado por atentar contra a independência e integridade territorial do Estado cubano.

De todos esses encontros ressaltou a cordialidade e disposição do povo cubano e firmou suas esperanças no levantamento do bloqueio contra Cuba e na normalização das relações bilaterais entre os Estados Unidos e a Ilha.

– A maioria dos cubanos quer que existam relações normais e a maioria dos norte-americanos, também. No entanto, existem líderes radicais em posições destacadas no Congresso do meu país, muitos deles cubano-americanos, que insistem em manter este distanciamento entre as relações de ambos os países, pois pertencem a uma geração cujo objetivo fundamental era derrocar o governo de Fidel Castro – indicou o ex-mandatário.

Diante deste panorama, destacou que nos últimos anos se formaram círculos de opinião pública em Miami e entre os mais jovens “que desejam que se levante o bloqueio econômico e que se possa viajar normalmente entre ambas as nações”, o que qualificou de um sinal de mudança que “vai avançar” e à qual se ofereceu em prestar sua “pequena voz, junto à opinião de muitos norte-americanos que podem fazer com que isto se concretize”.

O político estadunidense ressaltou com particular afeto seu encontro com o líder, Fidel Castro, a quem considera um amigo e com quem tem muitos pontos de vista em comum quanto ao perigo da proliferação de armas nucleares e a conservação do meio ambiente.

– Considero que os Estados Unidos não têm sido o bastante firme, como deveria ser, na abordagem do aquecimento global – sentenciou.

PRESIDENTE DO BANCO MUNDIAL CRITICA GESTÃO ALEMÃ DA CRISE NA EUROPA





Robert Zoellick afirma que Angela Merkel não tem visão para superar a crise da dívida nem para desenvolver a moeda comum europeia. Oposição em Berlim acredita que crise do euro poderá levar ao fim da coalizão de governo.

Não foi em tom exatamente amigável que o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, criticou a condução que a Alemanha vem dando à crise do euro. Em entrevista à revista alemã Wirtschaftswoche, especializada em economia, Zoellick afirmou que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, não tem visão sobre como superar a crise nem como desenvolver a moeda comum europeia.

"Muita coisa na política acontece de maneira meio atrapalhada, mas a economia e o mercado precisam de orientação e de clareza", afirmou Zoellick. "Quando há 20 anos o Leste Europeu entrou em colapso, o então chanceler federal Helmut Kohl teve uma visão sobre como as coisas deveriam se desenvolver. Isso agora falta por completo, e quanto mais a crise se estender, mais dinheiro vai custar e menos opções de negociações vão existir", avaliou durante a entrevista.

Para Zoellick, o pacote de ajuda financeira que será oferecido à Grécia servirá apenas para ganhar tempo. "Eu não quero criticar tal medida, mas isso não resolve o problema". Em tom de cobrança, ele afirmou que a Europa não encontrou uma saída nem para a alta dívida pública de alguns países do bloco, nem para a crise financeira. Também estariam faltando respostas para a falta de competitividade da Grécia.

Falta liderança

Zoellick quer que a Alemanha, maior economia do bloco, assuma mais responsabilidade para a superação da crise na Europa. Ele avalia que outros países de peso para o continente, como a França e a Itália, já estão "suficientemente ocupados" com seus problemas internos. "O presidente francês, Nicolas Sarkozy, está às vésperas das eleições, a Itália enfrenta turbulências, o Reino Unido não faz parte da zona do euro". Os contribuintes alemães estariam sentindo falta, sobretudo, "de uma liderança política que diga para qual direção a Europa deve se desenvolver".

A pergunta determinante agora é se as pessoas e os governos da Europa querem construir uma união política e financeira para favorecer a unificação da moeda, afirma.

Em setembro passado, Zoellick já havia criticado duramente a condução da crise por parte dos 17 países da zona do euro. Ele também alfinetou os Estados Unidos, por não conseguirem tomar as rédeas do seu crescente déficit. "A economia mundial está entrando em uma zona de perigo", alertou o chefe do Banco Mundial há três semanas.

Racha na coalizão

A falta de uma solução para a crise na Europa também vem aumentando as especulações sobre um possível racha na base do governo de Merkel. Em entrevista ao Spiegel Online, o presidente da bancada parlamentar do Partido Social Democrata (SPD), Frank-Walter Steinmeier, disse acreditar que a coalizão que compõe o atual governo alemão não será forte o suficiente para superar o clima de conflito que existe hoje entre Merkel e seus apoiadores. Entre as querelas internas estão os debates sobre o pacote de ajuda à Grécia e o futuro Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (MEEF).

Mais austeridade

Por sua vez, as federações econômicas mais importantes da Alemanha, da França e da Itália defendem um novo Tratado da União Europeia e novos programas de austeridade para tentar salvar o euro. Elas também exigem que os bancos recebam capital suficiente para conseguir superar a crise.

"Se a Europa quiser manter-se como agente de formação da política global, isso só poderá acontecer pelo caminho de um avanço contínuo rumo à formação de uma união política", afirmaram as federações neste sábado (08/10) por meio de um comunicado.

Elas insistem ainda que o futuro Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (MEEF), que entrará em vigor em 2013, deverá se desenvolver de maneira politicamente independente.

MS/afp/dpa/rtr/dapd - Revisão: Carlos Albuquerque

“INDIGNADOS” SEM AUTORIZAÇÃO PARA ACAMPAR EM BRUXELAS




TSF

O movimento conhecido como os "Indignados" mantém a intenção de acampar, a partir desta tarde, nos arredores da capital europeia, apesar de não ter conseguido a autorização das autoridades.

Com a crise e o agravamento das condições de vida como pano de fundo, o movimento dos "Indignados" quer concertar ideias a nível europeu. Mas o protesto agendado para Bruxelas não está autorizado.

O dirigente da Comissão Internacional do Movimento, Olivier Garcia, esteve reunido com as autoridades nacionais, mas teme que não seja encontrada uma solução.

«O problema é que nesta reunião não se apresentou nem o autarca local, nem o representante da polícia do bairro. A sua ausência pode ser interpretada como um desacordo», disse.

Por isso, o movimento "Indignados" mantém a agenda do protesto.

«Vamos manter o que estava marcado desde há um mês, que era um ponto de encontro de todas as marchas no Parque Elizabeth. Tendo em conta que estão a chegar representações da marcha holandesa, da marcha britânica, da marcha alemã, era impossível mudar a localização agora», justificou.

Mas esta intenção do movimento pode não ser pacífica. «Esta manhã havia sete pessoas a preparar o parque e estas sete pessoas foram interpeladas pela polícia do bairro. Pediram-lhes a identificação e tiraram-nos do parque ao meio dia em ponto», revelou.

O dirigente da Comissão Internacional do Movimento espera conseguir desatar o nó entre os "Indignados" e as autoridades de Bruxelas.

«À noite não nos autorizam a acampar. É melhor não dizermos ainda o que vamos fazer. Mas, vamos tentar encontrar um ponto de negociação. Estamos em negociações com o município. Continuaremos a conversar», afirmou Oliver Garcia.


Naomi Klein: OCUPA WALL STREET É O MOVIMENTO MAIS IMPORTANTE DO MUNDO HOJE




Naomi Klein – Commondreams – Carta Maior

“Por que eles estão protestando?”, perguntam-se os confusos comentaristas da TV. Enquanto isso, o mundo pergunta: “por que vocês demoraram tanto? A gente estava querendo saber quando vocês iam aparecer.” E, acima de tudo, o mundo diz: “bem-vindos”. Dez anos depois, parece que já não há países ricos. Só há um bando de gente rica. Gente que ficou rica saqueando a riqueza pública e esgotando os recursos naturais ao redor do mundo. Leia o pronunciamento de Naomi Klein em Nova York.

Foi uma honra, para mim, ter sido convidada a falar em Occupy Wall Street na 5ª-feira à noite. Dado que os amplificadores estão (infelizmente) proibidos, e o que eu disser terá de ser repetido por centenas de pessoas, para que outros possam ouvir (o chamado “microfone humano”), o que vou dizer na Praça Liberty Plaza terá de ser bem curto. Sabendo disso, distribuo aqui a versão completa, mais longa, sem cortes, da minha fala.

Occupy Wall Street é a coisa mais importante do mundo hoje[1]

Eu amo vocês.

E eu não digo isso só para que centenas de pessoas gritem de volta “eu também te amo”, apesar de que isso é, obviamente, um bônus do microfone humano. Diga aos outros o que você gostaria que eles dissessem a você, só que bem mais alto.

Ontem, um dos oradores na manifestação dos trabalhadores disse: “Nós nos encontramos uns aos outros”. Esse sentimento captura a beleza do que está sendo criado aqui. Um espaço aberto (e uma ideia tão grande que não pode ser contida por espaço nenhum) para que todas as pessoas que querem um mundo melhor se encontrem umas às outras. Sentimos muita gratidão.

Se há uma coisa que sei, é que o 1% adora uma crise. Quando as pessoas estão desesperadas e em pânico, e ninguém parece saber o que fazer: eis aí o momento ideal para nos empurrar goela abaixo a lista de políticas pró-corporações: privatizar a educação e a seguridade social, cortar os serviços públicos, livrar-se dos últimos controles sobre o poder corporativo. Com a crise econômica, isso está acontecendo no mundo todo.

Só existe uma coisa que pode bloquear essa tática e, felizmente, é algo bastante grande: os 99%. Esses 99% estão tomando as ruas, de Madison a Madri, para dizer: “Não. Nós não vamos pagar pela sua crise”.

Esse slogan começou na Itália em 2008. Ricocheteou para Grécia, França, Irlanda e finalmente chegou a esta milha quadrada onde a crise começou.

“Por que eles estão protestando?”, perguntam-se os confusos comentaristas da TV. Enquanto isso, o mundo pergunta: “por que vocês demoraram tanto? A gente estava querendo saber quando vocês iam aparecer.” E, acima de tudo, o mundo diz: “bem-vindos”.

Muitos já estabeleceram paralelos entre o Ocupar Wall Street e os assim chamados protestos anti-globalização que conquistaram a atenção do mundo em Seattle, em 1999. Foi a última vez que um movimento descentralizado, global e juvenil fez mira direta no poder das corporações. Tenho orgulho de ter sido parte do que chamamos “o movimento dos movimentos”.

Mas também há diferenças importantes. Por exemplo, nós escolhemos as cúpulas como alvos: a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, o G-8. As cúpulas são transitórias por natureza, só duram uma semana. Isso fazia com que nós fôssemos transitórios também. Aparecíamos, éramos manchete no mundo todo, depois desaparecíamos. E na histeria hiper-patriótica e nacionalista que se seguiu aos ataques de 11 de setembro, foi fácil nos varrer completamente, pelo menos na América do Norte.

O Ocupa Wall Street, por outro lado, escolheu um alvo fixo. E vocês não estabeleceram nenhuma data final para sua presença aqui. Isso é sábio. Só quando permanecemos podemos assentar raízes. Isso é fundamental. É um fato da era da informação que muitos movimentos surgem como lindas flores e morrem rapidamente. E isso ocorre porque eles não têm raízes. Não têm planos de longo prazo para se sustentar. Quando vem a tempestade, eles são alagados.

Ser horizontal e democrático é maravilhoso. Mas esses princípios são compatíveis com o trabalho duro de construir e instituições que sejam sólidas o suficiente para aguentar as tempestades que virão. Tenho muita fé que isso acontecerá.

Há outra coisa que este movimento está fazendo certo. Vocês se comprometeram com a não-violência. Vocês se recusaram a entregar à mídia as imagens de vitrines quebradas e brigas de rua que ela, mídia, tão desesperadamente deseja. E essa tremenda disciplina significou, uma e outra vez, que a história foi a brutalidade desgraçada e gratuita da polícia, da qual vimos mais exemplos na noite passada. Enquanto isso, o apoio a este movimento só cresce. Mais sabedoria.

Mas a grande diferença que uma década faz é que, em 1999, encarávamos o capitalismo no cume de um boom econômico alucinado. O desemprego era baixo, as ações subiam. A mídia estava bêbada com o dinheiro fácil. Naquela época, tudo era empreendimento, não fechamento.

Nós apontávamos que a desregulamentação por trás da loucura cobraria um preço. Que ela danificava os padrões laborais. Que ela danificava os padrões ambientais. Que as corporações eram mais fortes que os governos e que isso danificava nossas democracias. Mas, para ser honesta com vocês, enquanto os bons tempos estavam rolando, a luta contra um sistema econômico baseado na ganância era algo difícil de se vender, pelo menos nos países ricos.

Dez anos depois, parece que já não há países ricos. Só há um bando de gente rica. Gente que ficou rica saqueando a riqueza pública e esgotando os recursos naturais ao redor do mundo.

A questão é que hoje todos são capazes de ver que o sistema é profundamente injusto e está cada vez mais fora de controle. A cobiça sem limites detona a economia global. E está detonando o mundo natural também. Estamos sobrepescando nos nossos oceanos, poluindo nossas águas com fraturas hidráulicas e perfuração profunda, adotando as formas mais sujas de energia do planeta, como as areias betuminosas de Alberta. A atmosfera não dá conta de absorver a quantidade de carbono que lançamos nela, o que cria um aquecimento perigoso. A nova normalidade são os desastres em série: econômicos e ecológicos.

Estes são os fatos da realidade. Eles são tão nítidos, tão óbvios, que é muito mais fácil conectar-se com o público agora do que era em 1999, e daí construir o movimento rapidamente.

Sabemos, ou pelo menos pressentimos, que o mundo está de cabeça para baixo: nós nos comportamos como se o finito – os combustíveis fósseis e o espaço atmosférico que absorve suas emissões – não tivesse fim. E nos comportamos como se existissem limites inamovíveis e estritos para o que é, na realidade, abundante – os recursos financeiros para construir o tipo de sociedade de que precisamos.

A tarefa de nosso tempo é dar a volta nesse parafuso: apresentar o desafio à falsa tese da escassez. Insistir que temos como construir uma sociedade decente, inclusiva – e ao mesmo tempo respeitar os limites do que a Terra consegue aguentar.

A mudança climática significa que temos um prazo para fazer isso. Desta vez nosso movimento não pode se distrair, se dividir, se queimar ou ser levado pelos acontecimentos. Desta vez temos que dar certo. E não estou falando de regular os bancos e taxar os ricos, embora isso seja importante.

Estou falando de mudar os valores que governam nossa sociedade. Essa mudança é difícil de encaixar numa única reivindicação digerível para a mídia, e é difícil descobrir como realizá-la. Mas ela não é menos urgente por ser difícil.

É isso o que vejo acontecendo nesta praça. Na forma em que vocês se alimentam uns aos outros, se aquecem uns aos outros, compartilham informação livremente e fornecem assistência médica, aulas de meditação e treinamento na militância. O meu cartaz favorito aqui é o que diz “eu me importo com você”. Numa cultura que treina as pessoas para que evitem o olhar das outras, para dizer “deixe que morram”, esse cartaz é uma afirmação profundamente radical.

Algumas ideias finais. Nesta grande luta, eis aqui algumas coisas que não importam:

Nossas roupas.

Se apertamos as mãos ou fazemos sinais de paz.

Se podemos encaixar nossos sonhos de um mundo melhor numa manchete da mídia.

E eis aqui algumas coisas que, sim, importam:

Nossa coragem.

Nossa bússola moral.

Como tratamos uns aos outros.

Estamos encarando uma luta contra as forças econômicas e políticas mais poderosas do planeta. Isso é assustador. E na medida em que este movimento crescer, de força em força, ficará mais assustador. Estejam sempre conscientes de que haverá a tentação de adotar alvos menores – como, digamos, a pessoa sentada ao seu lado nesta reunião. Afinal de contas, essa será uma batalha mais fácil de ser vencida.

Não cedam a essa tentação. Não estou dizendo que vocês não devam apontar quando o outro fizer algo errado. Mas, desta vez, vamos nos tratar uns aos outros como pessoas que planejam trabalhar lado a lado durante muitos anos. Porque a tarefa que se apresenta para nós exige nada menos que isso.

Tratemos este momento lindo como a coisa mais importante do mundo. Porque ela é. De verdade, ela é. Mesmo.

[1] Discurso originalmente publicado no The Nation, em http://www.thenation.com/article/163844/occupy-wall-street-most-important-thing-world-now.

Tradução para o português do Brasil, de Idelber Alvelar, da Revista Fórum, em http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.php?codNoticia=9518/a-coisa-mais-importante-do-mundo-.
        
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NÚMEROS MOSTRAM DESUMANIDADE DA INVASÃO DO AFEGANISTÃO




Eduardo Febbro - Correspondente da Carta Maior em Paris

Nada mudou para a população afegã em dez anos de invasão: pobreza, violência, corrupção, insegurança. As cifras revelam o panorama da desumanidade deixado pela guerra: 71% da população maior de 15 anos é analfabeta, 35% não têm trabalho, 36% vivem abaixo da linha de pobreza, 90% dos recursos governamentais provém de ajuda estrangeira, 149 crianças de cada 1000 morrem antes de completar um ano, 83% da heroína que se produz no mundo vem do Afeganistão. Mais de 10 mil civis e 2.500 soldados da coalizão morreram nos últimos cinco anos.

Nada parece ter se movido desde então, salvo as novas tumbas com milhares de vítimas inocentes. As palavras pronunciadas por Hassad na madrugada do dia 7 de outubro de 2001 em um bar da cidade fronteiriça paquistanesa de Peshawar ressoam como uma verdade que se prolonga no tempo. Passaram-se dez anos desde o início da ofensiva anglo-americana no Afeganistão, a famosa operação “Liberdade Duradoura”, lançada pelo então presidente norte-americano George W. Bush como represália aos atentados de 11 de setembro em Nova York, Washington e Pensilvânia.

Peshawar havia despertado tranquila. Essa cidade paradoxal, ponto de encontro de todos os tráficos, refúgio dos talibãs, muro protetor dos guerreiros afegãos que lutaram contra as tropas invasoras da desaparecida União Soviética e cenário das mais truculentas operações da CIA, não havia se inteirado que, do outro lado da fronteira, a verdadeira guerra tinha começado. Em um dos poucos bares frequentados por pessoas que trabalhavam à noite, um grupo de homens tinha os olhos fixos na televisão. Um ancião de barba vermelha dizia: “tenho vergonha, é como se a mesma imagem se repetisse sempre: uma tela verde e um monte de luzes que sobem riscando o céu. Lembra-me o primeiro bombardeio contra Bagdá e os seguintes, os bombardeios contra Sarajevo. Cada vez que vejo uma tela verde com essas luzes digo para mim mesmo: estão castigando de novo um país muçulmano”.

Hassad mal conseguia conter a emoção. Esse doutor afegão refugiado no Paquistão há vários anos olhava a tela da televisão como se estivesse diante de um abismo. “Me dói na alma – dizia tocando o coração -, me dá muita tristeza por todas essas pessoas inocentes que vão sofrer. Me dói pensar que aqueles que antes defenderam os afegãos agora são os que os castigam. Eu sou afegão, lutei contra os russos, para expulsar o invasor de minha terra e agora vejo daqui as bombas cair sobre o meu país. Creio que não era preciso chegar a esse ponto. Não era preciso sacrificar um povo e as já poucas estruturas existentes no país. O Afeganistão precisava de ajuda e não de bombas”. Mas Goerge W. Busch enviou bombas para decapitar seu antigo aliado, Osama Bin Laden, e a rede que o próprio governo norte-americano contribuiu para montar durante uns quinze anos.

Amigos/Inimigos, aliados no processo de ruptura que matam inocentes para se vingar de suas mútuas traições. Dois anos mais tarde, George W. Bush incorreria em outro ato semelhante: invadiu o Iraque para desalojar do poder a esse grande amigo do Ocidente que foi Saddam Hussein. Dez anos depois da invasão do Afeganistão, o Ocidente deixou um país de joelhos sem ter chegado a enfraquecer aqueles que se propôs combater: os já célebres estudantes de Teologia, os talibãs, que haviam tomado o poder, também respaldados por Washington, ao cabo da guerra civil que se seguiu à expulsão dos soviéticos. Os talibãs estão mais perto do que nunca de voltar ao poder. Há algumas semanas, assassinaram o ex-presidente Burhanddin Rabbani, que estava encarregado pelo Alto Conselho pela Paz e Reconciliação e levava adiante as negociações de paz com os talibãs.

Quando algumas semanas depois do 7 de outubro de 2001 caiu o regime talibã, os Estados Unidos puseram no poder a pior versão que se pode encontrar: recorreu aos senhores da guerra que tinham devastado o país durante décadas, aos ex-mujahedins que tinham se convertido ao tráfico de drogas e para quem a corrupção e a morte são duas colheres de açúcar em cada refeição. O elegante Hamid Karzai encarna esse processo viciado rumo à transição democrática importada com bombas. Os ocidentais tampouco estão a salvo: as empresas contratadas do Ocidente e os serviços privados de segurança nadam na mesma corrupção que o governo local. Karzai se mantem na bandeja sustentada pelos 140 mil soldados da coalizão internacional a mando da OTAN, dos quais 98 mil são norte-americanos. Em 2009, Karzai usurpou escandalosamente o resultado das eleições presidenciais sem que nenhuma democracia ocidental tivesse retirado seu apoio a ele.

Nada mudou para a população afegã em dez anos de invasão: pobreza, violência, corrupção, insegurança. Cruas e cortantes, as cifras revelam o panorama da desumanidade deixado pela guerra: 71% da população maior de 15 anos é analfabeta, 35% não têm trabalho, 36% vivem abaixo da linha de pobreza, 90% dos recursos governamentais provém de ajuda estrangeira, 149 crianças de cada 1000 morrem antes de completar um ano, 83% da heroína que se produz no mundo vem do Afeganistão.

Segundo a ONU, mais de 10 mil civis morreram nos últimos cinco anos, 2.500 soldados da coalizão deixaram a vida no Afeganistão. Atualmente, 2,6 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar. A teoria defendida pelos gênios do Pentágono, segundo a qual a melhor estratégia que se podia aplicar no Afeganistão era a “contra-insurreição” (COIN) virou papel queimado. Os insurgentes, ou seja, os talibãs, operam onde querem. Em seu último informe, o Conselho de Segurança da ONU contabilizou 7 mil ações armadas levadas a cabo no Afeganistão pela insurgência nos últimos três meses. Em Kabul, os talibãs atacaram a embaixada norte-americana e a sede da OTAN. Tornaram-se como antes, amos e senhores.

Foi mais fácil matar Bin Laden em seu esconderijo no Paquistão do que derrotar os talibãs, cujas ações se propagaram com extrema violência para o outro aliado da fronteira, o Paquistão, um país com tantas máscaras como fronteiras delicadas (Afeganistão, Irã, Índia). Há exatamente 10 anos, em sua casa em Islamabad, Ijaz Ul Haq já tinha um olhar muito lúcido. Analista e homem político respeitado, Ijaz Ul Haq é filho do general Zia Ul Haq, o homem que nos anos 80 transformou o Paquistão, que desenvolveu a bomba atômica paquistanesa e abriu dezenas de escolas do Corão para receber, a pedido de Washington, os talibãs. Logo no início da invasão, Ijaz Ul Haq disse a esse jornalista: “Não é destruindo um país que se consegue a paz. Não é porque nos atingiram o coração e porque se clama por vingança que vai se resolver os problemas. A solução é um trabalho de longo prazo e não uma questão de vingança”. A solução nunca se configurou. Só perdura a vingança.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

O AFEGANISTÃO E AS LIÇÕES DE UMA INTERVENÇÃO QUE JÁ DURA DEZ ANOS





Em 7 de outubro de 2001 as primeiras bombas americanas atingiram alvos no Afeganistão. O que era para ser uma intervenção rápida virou uma guerra que já dura dez anos e cujos contornos são cada vez mais difusos.

Nem um mês havia se passado desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Os Estados Unidos exigiam do regime Talibã no Afeganistão que cortasse todas as relações com a rede terrorista Al Qaeda e entregasse Osama Bin Laden. Mas nada acontecia, e os responsáveis em Washington perderam a paciência.

No dia 7 de outubro de 2001, o então presidente dos Estados Unidos George W. Bush se dirigiu à imprensa, na Casa Branca, para declarar que os Estados Unidos haviam começado a atacar bases de treinamento da Al Qaeda e unidades militares do regime Talibã no Afeganistão.

Bush ressaltou que somente alvos cuidadosamente escolhidos seriam atacados. "Os Estados Unidos são um amigo do povo afegão. Somos amigos dos quase 1 bilhão de muçulmanos em todo o mundo." Mas os Estados Unidos eram também "inimigos de todos aqueles que apoiassem terroristas e fizessem um mau uso dessa grande religião para cometer crimes bárbaros".

Rápida e temporária

A intervenção militar no Afeganistão começou sem um conceito político que tivesse sido pensado ou elaborado. Tanto os Estados Unidos, movidos pelo desejo de vingança, quanto os seus aliados acreditavam numa vitória rápida.

As tropas internacionais da Isaf (Força Internacional de Assistência para Segurança) tinham, no começo, somente 5 mil soldados e estavam limitadas a Cabul. Fora da capital, comandos especiais da Operação Enduring Freedom (liberdade duradoura) buscavam militantes da Al Qaeda e talibãs.

Dez anos depois, a Isaf e a Operação Enduring Freedom viraram uma coisa só e a missão internacional no Afeganistão soma mais de 130 mil soldados de 48 países.

A intervenção trouxe uma nova Constituição para o Afeganistão. Milhões de refugiados da guerra civil retornaram para o seu país. Bilhões de dólares foram investidos em estradas, escolas, universidades e hospitais. Principalmente Cabul vivenciou, desde a queda do regime talibã, um boom no setor da construção civil.

O Ocidente financia o Estado afegão, seu governo e suas forças de segurança. Mas o país continua muito longe de alcançar segurança, paz, estabilidade e reconciliação.

Thomas Ruttig, um dos diretores do think thank  Afghanistan Analyst Network, é um dos poucos especialistas ocidentais que domina os dois idiomas existentes no Afeganistão: o dari e o paschtu. Hoje ele observa a intervenção de longe, como cientista, mas no início a vivenciou de perto como colaborador das missões da ONU e da União Europeia.

"Dá para explicar e entender por que os americanos intervieram e também conhecemos as razões políticas que fizeram os aliados se juntar aos Estados Unidos", comenta Ruttig.

Mas, para ele, ainda mais importante é que também o povo afegão apoiou a intervenção externa contra o brutal regime dos radicais islâmicos do Talibã. "Foi a primeira vez, na história do Afeganistão, que houve apoio a uma intervenção militar e civil do exterior, especialmente também para a parte militar. Isso é extremamente notável, assim como também é notável o quanto a situação se inverteu hoje."

Guerra e mais guerra

O desenvolvimento da operação no Afeganistão seguiu a lógica da guerra: quanto mais rebeldes, mais soldados; e quanto mais soldados, mais rebeldes. Em grande parte do Afeganistão existe hoje uma guerra assimétrica, com linhas de combate não claras, na qual cada vez mais civis morrem por causa da violência e do terrorismo.

Nos últimos dez anos não foi registrado nenhum desarmamento ou processo de reconciliação entre os diversos grupos étnicos e clãs, que são instrumentalizados e lançados uns contra os outros. 

E isso que os afegãos já vinham de 20 anos de guerra quando os militares do Ocidente chegaram: primeiro contra as tropas da extinta União Soviética, depois entre si. Essa guerra civil não foi resolvida até hoje.

O ex-embaixador alemão no Paquistão Gunter Mulack conhece o Afeganistão das inúmeras viagens que fez ao território do país. "A principal lição é que não vamos alcançar a vitória com o uso de meios militares. Para conquistar corações e mentes, precisamos apostar muito mais na cooperação em política de desenvolvimento e educação. Trata-se da formação de futuros líderes. Deveria-se ter investido muito mais nesse campo, no Afeganistão."

Mulack diz ainda que deveria ter sido dado maior poder de decisão aos afegãos, "para que eles possam dizer o que é melhor para o futuro do país, aos olhos deles". Em vez disso, um grupo de vozes ocidentais decidiu o que deveria acontecer no Afeganistão, como se estivessem criando um Estado novo a partir do zero.

Aliados corruptos

Embora os Estados europeus da Otan gostem de mostrar o lado civil da intervenção, o Afeganistão é cada vez mais um país militarizado, destaca Ruttig. "Principalmente nos últimos cinco ou seis anos, o Exército norte-americano assumiu o controle sobre diversas áreas no Afeganistão. Isso transformou todas as outras áreas em redutos dos insurgentes, o que não deveria acontecer."

Além do presidente afegão, Hamid Karsai, e de seu clã, também os poderosos comandantes da Aliança do Norte ganham com a presença estrangeiras no país. Quando a intervenção militar do Ocidente começou, em 2001, os talibãs estavam prestes a vencer essa frágil aliança. Hoje é a Aliança do Norte que se vê como vitoriosa: seus líderes são aliados do Ocidente e usam todos os meios para assegurar o poder que têm.

Muitos deles estão envolvidos com a corrupção e o tráfico de drogas. Depois que as tropas soviéticas deixaram o Afeganistão, em 1989, eles disputaram o poder entre si, sem nenhum respeito aos direitos humanos. Naquela época, depois da vitória sobre a potência comunista, o Afeganistão afundou numa feroz guerra civil, que acabou conduzindo os talibãs ao poder.

"A população afegã não tem nenhuma confiança no sistema político do país", diz a especialista para assuntos sul-asiáticos Citha Maass, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança. Segundo ela, a comunidade internacional instituiu, em parceria com Karsai, uma lei eleitoral que não dá nenhuma função aos partidos políticos. "Por isso a grande maioria do povo afegão não pode se articular politicamente."

"O resultado é que os comandantes locais, os antigos senhores de guerra, podem continuar a exercer o seu poder. Eu diria que a intervenção fracassou", afirma a especialista. 

Transição irresponsável de poder?

Para Maass, o único interesse da aliança internacional hoje é devolver aos afegãos a responsabilidade sobre seu país, e isso o mais rápido possível. "É um processo de transição no qual a comunidade internacional, sobretudo os americanos, se transformaram em reféns políticos de Karsai e dos coronéis regionais cooptados por ele."

Segundo ela, a comunidade internacional não tem mais nenhum poder de pressão sobre o governo afegão, por exemplo na luta contra a corrupção ou o tráfico de drogas. "É a esse regime afegão, com suas estruturas corruptas, que nós queremos repassar o poder político e a responsabilidade de zelar pela segurança do país", afirma.

Osama bin Laden está morto. Paquistão, Iêmen e Somália estão agora no foco da luta antiterrorismo. Do ponto de vista global, o Afeganistão perdeu importância. Os Estados Unidos e seus aliados estão altamente endividados e querem retirar as tropas do país asiático até 2014. Além disso, tanto nos Estados Unidos quanto na França e na Alemanha haverá eleições em breve – e a guerra no Afeganistão não é popular e não garante votos nem nos Estados Unidos nem na Europa.

A perspectiva muçulmana

Segundo Maass, o Afeganistão é um exemplo de país que sofreu uma intervenção cujos motivos residem nos países intervencionistas. "As causas estruturais e sociais do país que sofreu a intervenção não foram levadas em consideração", comenta.

Ruttig chega a uma conclusão semelhante. "Aprendemos no Afeganistão que não dispomos de meios apropriados para acabar com grandes conflitos regionais. A ONU não funcionou, a Otan também não funcionou, e não temos nenhuma outra organização que consiga."

No Ocidente, cansado da guerra, a palavra do dia é negociar com os talibãs. O movimento radical islâmico se recriou na fronteira com o Paquistão e ganhou força. Na visão ocidental, os talibãs seguidores do mulá Omar buscam objetivos locais e não globais.

Porém, de acordo com o especialista em assuntos islâmicos Peter Heine, de Berlim, a guerra no Afeganistão mobilizou os muçulmanos em todo o mundo. "A consciência de ser muçulmano e estar contra o Ocidente certamente ficou mais forte." Para os muçulmanos, fortaleceu-se a ideia de que "o Ocidente é agressivo e quer sempre impor seus interesses políticos, econômicos e estratégicos, independentemente de estar certo ou não".

Um fim rápido para a guerra, por meio de negociações, não vai acontecer no Afeganistão. O Talibã, assim como o grupo de Karsai e a Aliança do Norte, está longe de ser um grupo homogêneo. Há fracções e objetivos diversos – com diversos apoios do exterior. São fortes os sinais de que o país continuará à mercê da violência, dividido entre disputas internas de poder e interesses estrangeiros.

Do ponto de vista estratégico e econômico, por exemplo, a probabilidade de que os Estados Unidos venham a retirar por completo as suas tropas do Afeganistão é pequena. O país poderia desempenhar um importante papel no transporte de petróleo e gás vindos do centro da Ásia.

Autora: Sandra Petersmann (br) - Revisão: Alexandre Schossler

GOVERNOS DA AMÉRICA LATINA QUEREM MAIS CENTRAIS NUCLEARES… E PORTUGAL?




ALEMANHA: ADEUS À ENERGIA NUCLEAR

DEUTSCHE WELLE

Enquanto a Alemanha decide abdicar de suas centrais atômicas até 2022, na América Latina, com seus recursos renováveis, a tecnologia nuclear é considerada questão estratégica e de prestígio. (DW)


PORTUGAL “NA CALHA” PARA ADQUIRIR CENTRAIS NUCLEARES

ROMANO PRATES*

Portugal não está isento de seguir os passos de países da América Latina e adquirir centrais nucleares (ao menos uma). Para isso os eleitores portugueses tiveram a “habilidade” de colocarem no poder presidencial Cavaco Silva, um sério admirador da energia nuclear por uma questão de ser barata – é sabido que para Cavaco o que conta são os números e não a saúde da natureza ou humana.

Mais recentemente os eleitores portugueses mantiveram a “habilidade” e elegeram outro nuclearista energético: Passos Coelho. É público, mas escamoteado quanto baste, pelo menos sem que a comunicação social dê o devido destaque, que um e outro são confessáveis adeptos das centrais nucleares para Portugal, e que se danem as péssimas consequências para os portugueses porque o que conta é o economicismo imediato que de um dia para o outro porporciona fortunas a uns quantos - que depois se permitem oferecer benesses a políticos como recompensa.

Como sempre, quando das campanhas eleitorais e nos seus programas partidários ou individuais – no caso de Cavaco a PR – eles omitem por sistema e descaradamente a verdade que contêm nos seus planos para o país. Anunciam aquilo que consideram que é agradável aos eleitores e não o que deviam de fazer: serem honestos, transparentes.

Compete aos portugueses estarem devidamente atentos nos próximos anos e não caírem na esparrela costumeira das loas de Cavaco Silva com as suas perspetivas económicas se Portugal optar pela instalação de centrais nucleares. O que é dito de Cavaco, presidente de uma minoria de portugueses, serve para Passos Coelho, primeiro-ministro de um governo que disse discordar dos PECs do PS-José Sócrates mas que na atualidade está a pô-los em prática com muito maior incidência e de modo muito mais selvagem.

Aliás, Cavaco Silva, quando do seu discurso que deu origem à demissão de José Sócrates, manifestou o seu desagrado pelas ações do governo em prejuízo da população e agora tem estado de pedra e cal a apoiar medidas muito mais injustas e apelativas ao sacrifício dos portugueses só porque é um PR laranja (PSD) bajulante do grande capital nacional e internacional. Categoricamente presidente de uns quantos, principalmente daqueles que foram e são obreiros da “crise nacional”. Ele próprio também há-de ter a sua quota-parte de responsabilidade pela famigerada “divida” quando foi por dez anos primeiro-ministro do país.

A previsão é a de que Portugal está na calha para instalar centrais nucleares neste pequeno retangulo logo que Cavaco, Coelho e os seus nuclearistas considerem oportuno "trabalhar" a ideia… Talvez sob a forma de um referendo com uma campanha viciada. Os portugueses que se cuidem.

*Romano Prates é do coletivo de Página Global e reside no Canadá.

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