sábado, 31 de dezembro de 2011

“NOVAS OPORTUNIDADES” PARA EMIGRAR




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*

O deputado socialista Fernando Medina considerou hoje de "enorme gravidade" as recentes decisões do Governo relativamente ao programa 'Novas Oportunidades', realçando que a "qualificação" é o investimento mais importante para que Portugal volte a crescer economicamente.

O PS continua a não perceber, mesmo depois das lições de tango entre José Sócrates e Passos Coelho, qual é a dança deste governo. E é pena.

É que Passos Coelho, na sua qualidade de adjunto de Miguel Relvas, aposta mesmo na “qualificação” dos portugueses. É claro que não é para os manter no país (que nem ele sabe se ainda existe) mas – isso sim – para os despachar para outros destinos, se possível só com bilhete de ida.

Fernando Medina salientou que há estudos que indicam que se Portugal tivesse o nível de qualificação dos países mais avançados o Produto Interno Bruto potencial seria cerca de dois pontos superior ao actual e a economia portuguesa teria crescido "muito mais e de uma forma mais robusta".

É verdade mas, tal como Passos Coelho, também José Sócrates substituiu as qualificações profissionais, a competência e até alguma genialidade pela subserviência e pela filiação partidária. E sendo fuba do mesmo saco, o melhor era estarem calados.

"É por isso que o prosseguimento com êxito da iniciativa Novas Oportunidades é tão importante para todos nós", sublinhou o deputado socialista. Em sua opinião, trata-se de recuperar décadas de atraso nesse domínio, pelo que Portugal necessita de fazer um esforço muito grande e "intenso" na qualificação e formação profissional.

Ainda não há muito tempo (foi no dia 29 de Janeiro), o então primeiro-ministro socialista de Portugal, José Sócrates, disse, em Braga, que "o grande projecto" para Portugal era a aposta na educação, "porque é o investimento mais importante na afirmação de um país".

Como muitas outras coisas, o que José Sócrates dizia não era para levar a sério. Desde logo porque o que ele dizia às segundas, quartas e sextas era desmentido por ele próprio às terças, quintas e sábados. Aos domingos certamente ia à missa.

Passos Coelho está, aliás, a sair-se ainda melhor do que José Sócrates, sobretudo quando manda os escravos deixarem a zona de conforto e zarparem para paragens civilizadas.

E isso sabem bem os 800 mil portugueses que estão desempregados mas que são (bem) educados, os 20 por cento que estão de forma muito (bem) educada na miséria, bem como pelos outros 20 por cento que já olham, mas sempre de forma muito (bem) educada, para os pratos vazios.

Eu sei que para Miguel Relvas (Passos Coelho, pronto!) ter um diploma não significa ser educado, estar bem preparado, ter qualificações profissionais e ter direito a fazer parte dessa nobre casta que governo o reino.

A taxa de desemprego entre as pessoas com habilitações superiores mais do que duplicou desde 2002 e hoje são bem mais do que 60 mil os que não conseguem um lugar no mercado... de trabalho, por muito bem educados que sejam.

Não admira por isso que, fartos de esperar por um emprego de acordo com as suas habilitações, os jovens façam o mesmo que Mário Soares fez em tempos com o socialismo. Ou seja, metam o diploma numa gaveta e procurem sobreviver como motoristas de táxi, como embrulhadores de compras numa loja de um qualquer centro comercial ou como autómatos nos call-centers.

Muitos têm tentado uma outra alternativa, esta bem mais promissora: a filiação no PSD e a militância activa. Alguns estão a dar-se bem, embora temam que a médio prazo tenham de mudar de camisola…

Mas, convenhamos, se for esse o caso não há nada a temer. O que custa é vender a alma a primeira vez. Depois disso, é só caminhar sempre junto ao poder e, como mandam os mandamentos da política “made in Portugal”, deixar a coluna vertebral em casa.

"Aqui está o grande projecto nacional. Esta época vai ficar marcada pela aposta na educação", afirmou no dia 10 de Março José Sócrates a propósito do projecto de modernização das escolas secundárias que previa a requalificação 313 estabelecimentos, num investimento global de 2,9 mil milhões de euros.

Até parecia que a solução estava na requalificação física das escolas e não na requalificação do país e, é claro, na dos que têm responsabilidade políticas na gestão da coisa pública. Sim, é verdade. Esses responsáveis já não têm cura, e muitos deles nem precisam de deixar a coluna vertebral em casa porque, pura e simplesmente, já nasceram sem ela.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: União Africana vai analisar queixas dos cabindas contra o regime colonial angolano

2012: VOTOS DE MUITA DISENTERIA PARA A SACANAGEM!



ANTÓNIO VERÍSSIMO

Ao longo de mais de seis décadas de vida, com os respetivos altos e baixos que tocam a todos, a uns mais que a outros, não tenho memória de em adulto estar a experimentar tantas dificuldades para equilibrar e gerir o orçamento doméstico – que me recorde só experimentei algumas dificuldades sérias em criança devido a perseguições da PIDE, do regime salazarista a meu pai, que decerto foram um enorme quebra-cabeças para os meus pais e se refletiu em toda a família. Tive consciência disso e não é por acaso que não pactuo com ditaduras de qualquer espécie, nem com esta democracia da treta em que atualmente mal sobrevivemos. Urge escoicear para bem longe estes malfadados Cavacos, Passos, Portas e quejandos. Há portugueses a passar fome, a perderem as suas casas depois de perderem os empregos. Há miséria envergonhada que só é visivel para os que estão realmente atentos ao que os rodeia... Este país virou uma merda. Retomou o justo epíteto de Pátria Madrasta devido a tanto roubo por parte de tão poucos ladrões.

As dificuldades que atualmente experimentamos são de causas profundas e de total responsabilidade da promiscuidade existente entre políticos e os donos do tétrico mercado. Estes políticos venderam-se à ditadura imposta, sempre à espera de recompensas. E elas são visíveis quando nos apercebemos de que depois de ministros, presidentes disto e daquilo, etc, etc., obtêm remunerações douradas e reformas douradas. Os escroques safam-se e tramam-nos, tramando a democracia sem contemplações. Porque sem justiça não existe democracia.

Termina dentro de horas 2011. Um ano aziago em que metade dele foi tramado por José Sócrates e a outra metade por Pedro Passos Coelho com seus pares Portas e Cavaco Silva, entre outros. “Atrás de mim virá quem pior fará”. Verdade, muito pior que Sócrates na imposição de “sacrifícios” – esclavagismo e fome – temos agora Passos Coelho. Pelo dito, ainda agora a procissão vai no adro. Adágio popular que indica que vem por aí mais desemprego, mais fome, mais miséria. Os governos neoliberais ao serviço dos interesses do mercado já avisaram que 2012 vai ser pior que 2011. Porque eles estão de mãos dadas com a súcia de ladrões e oportunistas que nos espoliam tudo, até a vida se necessário.

Atendendo ao panorama perspetivado sabemos que não vamos ter um ano de 2012 minimamente bom, nem paz social peculiar em democracia e numa sociedade minimamente justa. Os responsáveis acoitam-se no atual governo com sede em São Bento, nos oportunistas deputados que puxam para eles vantagens imensuráveis e imorais à custa de todos nós, em Belém, onde coabita com a confusão e oportunismo da hora, do momento, um PR que diz uma coisa mas que faz o que vai contra os interesses dos portugueses, favorecendo as injustiças decretadas pelo governo daquele Bando de Mentirosos… Enfim, uns protagonistas e um cenário muito danoso, penoso e triste.

Aos causadores desta verdadeira catástrofe, nacional e internacional, seria hipócrita da minha parte, louco até, se lhes desejasse um Bom Ano, nada disso. Desejo-lhes exatamente o contrário: muitos azares, a começar por uma disenteria que os incapacite de exercer os cargos que ocupam para nos tramarem. Disenteria incontida até por fraldas especiais, se possível. Borrem-se e desapareçam depois de devolverem todos os valores que nos roubaram ao longo destes imensos anos de mordomias imorais. Esta sacanagem é o que merece.

Depois disso acontecer decerto que todos nós respiraremos de alívio e tudo melhorará se soubermos defender a justiça, a democracia, os direitos constitucionais que agora estão a ser pisoteados e rasgados, destruídos.

*Também publicado em Página Lusófona, blogue do autor.

Portugal: A EMIGRAÇÃO DE PROFESSORES E O INSUCESSO EDUCATIVO





O mais recente relatório do Conselho Nacional de Educação divulga alguns dados: um aluno que entre aos seis anos para o primeiro ano do primeiro ciclo (a antiga Primeira Classe), aos quinze deveria estar no nono ano, devendo iniciar a frequência do Secundário com dezasseis. Do universo de jovens com mais de quinze anos a frequentar a escola, no ano lectivo de 2009-2010, 43% ainda não estavam no Ensino Secundário. O estudo realça, ainda, o facto de que, em 2010, “14% dos alunos do sexo masculino que frequentavam o 12.º ano tinham 20 ou mais anos.”

Estes dados são, evidentemente, preocupantes e merecem uma análise aprofundada. O CNE conclui que “o sistema continua a não estar preparado para responder às necessidades da população que acolhe, utilizando muitas vezes a repetência como meio de superação de dificuldades.” Depois de se apontar como solução uma “mudança profunda na atitude dos professores e das escolas face ao insucesso dos seus alunos”, explica-se que isso se faz diagnosticando as dificuldades, para que haja uma intervenção precoce, tentando evitar a acumulação de retenções.

Nada de novo, vindo de uma entidade tutelada por Ana Maria Bettencourt. Nas escolas, os problemas são, na maioria dos casos, detectados e diagnosticados, mas muitos problemas de aprendizagem só podem ser resolvidos com trabalho individualizado e não no interior da turma, para não falar do peso que o ambiente socioeconómico tem no desenvolvimento intelectual dos alunos ou da pouca importância dada pela sociedade à Educação. Como, graças à mentalidade contabilistóide dos responsáveis políticos, as escolas têm vindo a ser privadas, cada vez mais, de recursos humanos, esse trabalho é impossível e, por muito boa vontade que exista, os problemas não são resolvidos, sendo certo que a reprovação acaba por ser o único recurso, mesmo sabendo da sua pouca eficácia. Ainda assim, se o CNE quisesse, mesmo, aprofundar esta investigação, ainda poderia chegar à conclusão de que há, provavelmente, demasiada benevolência por parte dos professores, sem o que a taxa de reprovação seria, ainda, mais alta.

Como de costume, em Portugal, as pessoas com poder de decisão ou de aconselhamento limitam-se a proferir leviandades: face ao insucesso educativo, que começa por um problema social, culpa-se os professores; diante do insucesso educativo, aconselha-se os professores a emigrar.

Moçambique: PR apela à confiança para "superar os desafios que despontam no horizonte"



RTP – com foto em Lusa

O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, apelou hoje à população para ter maior "confiança individual, certeza da sua capacidade, inteligência e saber" para "superar os desafios que despontam no horizonte", resultantes da conjuntura económica e financeira internacional difícil.

Na mensagem de Ano Novo, Armando Guebuza apelou à população a se inspirar nas vitórias alcançadas em 2011 para enfrentar as futuras adversidades "numa conjuntura económica e financeira internacional em que ainda não há sinais claros sobre a dissipação da crise da dívida soberana e sobre o seu impacto em economias como a de Moçambique".

"Inspirando-nos nas vitórias que já alcançamos, entremos para o ano de 2012 com maior confiança em nós próprios e com a certeza nas nossas capacidades, inteligência e saber para superar os desafios que despontam no horizonte", disse.

O chefe de Estado moçambicano assegurou que o país vai continuar "a pautar pela aplicação de medidas de austeridade, aumento da produtividade e combate aos obstáculos ao desenvolvimento" em 2012, para enfrentar os obstáculos provocados pela crise.

Contudo, Armando Guebuza assinalou que, apesar das adversidades, este ano, o país conseguiu aprofundar o Estado de Direito e a convivência multipartidária, reforçar a unidade nacional, a autoestima e o patriotismo, e consolidar a paz e o sentido de solidariedade entre os moçambicanos.

"Ainda ao longo deste ano, cristalizámos o ponto de confluência entre os nossos direitos e os nossos deveres e sobre a forma como estes se complementam na estruturação da consciência de cidadania e na construção de Moçambique", disse.

Armando Guebuza assinalou que mesmo "no contexto da luta contra a pobreza material", Moçambique conseguiu erguer novas infraestruturas sociais e económicas que contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos moçambicanos.

O Presidente moçambicano reclamou ganhos para o país proveniente do investimento público e privado, que resultou na criação de novas oportunidades de emprego para mais moçambicanos, no campo e nos centros urbanos.

"Graças a estes investimentos, muitos mais jovens, em particular, têm novas oportunidades para aplicar os seus conhecimentos, saberes e experiências, gerando renda e participando de forma mais ativa na luta contra a pobreza na nossa Pátria Amada".

O responsável afirmou ainda que "para a consolidação destas conquistas continuamos a realizar reformas e a descentralizar recursos humanos, materiais e financeiros para os distritos".

Ano de 2012 será decisivo para o futuro do euro e da União Europeia




DEUTSCHE WELLE

A salvação da união monetária diante da ameaça da crise da dívida continuará a ser o maior desafio da UE no próximo ano. Mas outros conflitos também estão programados.

O novo ano começa na Europa da mesma forma que o atual está terminando, ou seja, com uma cúpula sobre a crise. Em 30 de janeiro os líderes europeus terão o primeiro encontro de cúpula do ano em Bruxelas, e a partir de agora e até que a crise da dívida seja resolvida eles serão realizados mensalmente.

Sob a liderança da chanceler federal alemã, Angela Merkel, e do presidente francês, Nicolas Sarkozy, deverá ser discutido o texto do tratado sobre a chamada nova união fiscal de 26 países da União Europeia (UE), ou seja, todos menos o Reino Unido. O acordo, que prevê controle orçamental e sanções mais severas, deve entrar em vigor no decorrer de 2012, se tudo der certo.

Já a decisão sobre o corte da dívida grega deveria ter sido tomada já no final de 2011, mas o prazo foi prorrogado para o próximo ano. As negociações com os bancos sobre uma renúncia "voluntária" de metade da dívida andam devagar porque não há consenso sobre os juros para novos títulos do governo.

Também dentro do governo de emergência grego a situação é de crise. Novas eleições foram adiadas para o final de abril, para manter um mínimo de poder de negociação do país, à beira da falência. Atenas precisa negociar um segundo pacote de ajuda, totalizando 108 bilhões de euros, com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional.

Contaminação da crise

Os países em crise da zona do euro precisam, nos primeiros meses de 2012, refinanciar cerca de 300 bilhões de euros em dívidas. A questão é saber se eles vão conseguir fazer isso a juros ao menos razoáveis. O fundo de resgate do euro, com um volume máximo de 500 bilhões de euros, pode ser pequeno demais para evitar uma contaminação da crise da dívida para, por exemplo, a França.

Tentativas de se construir um novo fundo em que os bancos centrais europeus emprestariam ao Fundo Monetário Internacional para que reemprestasse aos países endividados da União Europeia ainda não tiveram sucesso, sobretudo devido à resistência do presidente do Banco Central alemão, Jens Weidmann.

Sobre todas as tentativas para dominar a crise da zona do euro paira, como uma espada de Dâmocles, a ameaça das agências de classificação de risco de reduzir as notas de Estados europeus. Caso isso ocorra, as taxas de juros dos títulos desses países, incluindo a Alemanha, podem subir. No entanto, não há automatismos. Os juros dos títulos do governo norte-americano mantiveram-se estáveis
​​, apesar de um rebaixamento ocorrido em meados de 2011.

Na França, 2012 é ano de eleição presidencial, e Sarkozy tem, de certa forma, seu destino político diretamente ligado ao triplo A que a França ainda tem. Se o país perde essa classificação e for levado pela ressaca da crise, a política financeira e europeia de Sarkozy terá falhado. A eleição presidencial está agendada para abril e Sarkozy está em plena campanha pela reeleição.

BCE terá papel decisivo

O Banco Central Europeu (BCE) terá um papel fundamental em 2012. Ele é a única instituição supraestatal da região do euro que pode responder rapidamente e de forma flexível às evoluções dos mercados financeiros.

Atualmente o BCE está tentando estabilizar o sistema bancário europeu. Os bancos em dificuldades puderam pegar dinheiro emprestado por um prazo de três anos, de forma ilimitada e a taxas de juros extremamente baixas. Foram emprestados dessa forma 489 bilhões de euros.

Os bancos, entretanto, até agora não encaminharam o dinheiro para empréstimos a empresas ou países. Eles o embolsaram e voltaram a depositá-lo no BCE. Assim, continua existindo a ameaça de uma crise de crédito, que pode atingir a economia real de forma sensível.

Até 30 de junho de 2012 os bancos terão que aumentar seu capital próprio vigorosamente, para se precaverem de possíveis calotes de países europeus. Os bancos considerados relevantes para o sistema precisam de cerca de 100 bilhões de euros, que terão que obter de seus acionistas ou no mercado de capitais.

A simples impressão de dinheiro continua sendo rejeitada com veemência pelo BCE porque o risco de inflação seria muito grande e alguns governos suspenderiam imediatamente suas medidas de contenção de gastos. O BCE, conforme assegurou seu presidente, Mario Draghi, não vai atuar como um "emprestador de última instância" (lender of last resort) para países ultraendividados.

Segundo declarações de Draghi diante do Parlamento Europeu, o BCE está trabalhando em planos de emergência caso as nações da zona do euro sejam rebaixadas pelas agências classificação de risco e assim também o fundo de resgate FEEF perca sua classificação máxima. Muitos governos da UE pressionam o BCE a, pelo menos de uma forma indireta, fornecer dinheiro aos países do sul do continente. A Alemanha é contra. O ano de 2012 dirá quanto tempo Draghi conseguirá manter sua posição.

Diante da iminência de uma recessão na Europa, o primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, pediu mais uma vez aos Estados que consolidem os seus orçamentos. O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, afirmou que se pode até "comprar mais tempo" para os países endividados através dos pacotes de resgate, "mas não há como contornar o fato de que a crise terá de ser resolvida nos países onde ela existe". Além disso, argumentou, não se trata de uma crise da moeda, mas de uma crise dos países endividados.

Orçamento será problema

Um grande desafio para a União Europeia serão as negociações sobre o orçamento comunitário para os anos 2014 até 2020. As negociações devem ser concluídas até o final de 2012. Os oito países que são contribuintes líquidos, ou seja, colocam mais dinheiro no pote da UE do que retiram dele, rejeitaram um primeiro rascunho de orçamento.

A Comissão Europeia havia proposto despesas no valor de 972 bilhões de euros. Os contribuintes, incluindo a Alemanha, querem cortá-las em 120 bilhões de euros. Diplomatas da UE preveem negociações difíceis, especialmente porque a espinhosa questão do "desconto britânico" deverá estar na agenda. Depois que o Reino Unido decidiu não participar da nova união fiscal, alguns países da UE passaram a exigir que seja cortado o desconto que os britânicos tiveram durante décadas em suas contribuições para a UE. Este desconto será defendido com unhas e dentes pelo primeiro-ministro David Cameron. Também controversa é a nova redistribuição dos subsídios agrícolas, que até agora beneficiaram principalmente a França.

Dinamarca e Chipre no comando

Durante a presidência dinamarquesa da UE, no primeiro semestre do ano, deverão ser decididos novos passos para o alargamento do bloco. O pequeno país de Montenegro, nos Balcãs, quer iniciar em junho negociações para uma adesão. A Sérvia quer atingir em março o status de candidato, um primeiro passo para o início das negociações de adesão. A presidência dinamarquesa tem que verificar, até lá, se a Sérvia coopera suficientemente com o Kosovo, que não é reconhecido como Estado pela Sérvia e por alguns membros da UE.

Na segunda metade do ano, a ilha de Chipre vai assumir a presidência rotativa da União Europeia pela primeira vez desde sua adesão, em 2004. Assumir um papel de liderança deverá ser uma tarefa duplamente difícil para o governo de Chipre. Primeiro porque o país enfrenta uma grave crise financeira e, segundo, a ilha é ainda dividida em uma parte sul e um norte ocupado pela Turquia. Uma vez que a Turquia não reconhece Chipre como membro da UE, Ancara quer congelar suas relações com a UE durante o segundo semestre de 2012. Isso seria uma afronta diplomática, já que, oficialmente, a Turquia quer aderir à UE e há anos vem negociando uma adesão com Bruxelas, ainda que a passos lentos.

Autor: Bernd Riegert (md) - Revisão: Alexandre Schossler

IRÃ ANUNCIA TESTES DE MÍSSEIS NO GOLFO PÉRSICO





Irã quer dar provas de força. Depois de ameaçar bloquear o transporte de petróleo no Estreito de Ormuz, país anunciou testes com mísseis de médio alcance no Golfo Pérsico. Analistas estão céticos quanto a ameaças.

Na manhã deste sábado (31/12), Teerã irá "testar alguns mísseis de médio alcance no Golfo Pérsico", segundo informou o vice-comandante da Marinha, marechal Mahmud Mussavi, à agência de notícias Fars, ligada ao governo. Os mísseis iranianos do tipo Shabad 3 podem, teoricamente, atingir alvos em Israel ou bases norte-americanas na região do Golfo e no Afeganistão.

Sinal de força

Os testes com os mísseis fazem parte de grandes manobras das forças de segurança iranianas no mar, que começaram no último fim de semana. Os exercícios deverão prosseguir até a próxima segunda-feira e, nas palavras de Mussavi, entram agora em sua fase mais importante. O propósito é preparar a Marinha iraniana para uma situação de guerra.

O medo de uma nova crise na região foi despertado pela mais recente ameaça do governo iraniano de bloquear o Estreito de Ormuz, passagem de grande importância estratégica, caso, como anunciado, o Ocidente imponha embargo às exportações de petróleo do país, em represália ao programa nuclear mantido por Teerã.

Pela passagem marítima de mais de 200 quilômetros de extensão, cuja distância entre as duas margens chega a ser de apenas cerca de 54 quilômetros, no ponto mais estreito, escoa grande parte das exportações de petróleo do Oriente Médio. O estreito liga o Golfo Pérsico ao Mar Arábico e ao Oceano Índico.

Divergências entre lideranças iranianas

Um bloqueio na passagem causaria sérios dados ao abastecimento de energia em todo o mundo. Os trajetos de transporte de petróleo seriam mais longos e os custos aumentariam assustadoramente. "Os norte-americanos não iriam tolerar que o Estreito fosse fechado", afirma o jornalista e escritor iraniano Bahman Nirumand. Um bloqueio, significaria guerra, e o governo iraniano tem consciência disso, diz.

Nirumand não crê que Teerã queira se arriscar tanto. Embora haja facções radicais na máquina do poder que desejam um conflito militar na região. "Eles acreditam que isso levaria a um ganho de poder", assinala.

"No Irã, existe uma briga de poder enorme entre as facções. Isso é perceptível na forma de articulação do ministro do Exterior, que é, por sua vez, muito diferente daquela dos militares. A questão é saber qual facção vai impor sua vontade e qual será a decisão das lideranças", completa o jornalista iraniano.

Jochen Hippler, cientista político da Universidade de Duisburg-Essen, não acredita que um bloqueio do Estreito de Ormuz se concretize, de fato, como retaliação ao acirramento das sanções contra o Irã. "As lideranças não são coesas no que diz respeito a este assunto", avalia Hippler. No mais, o Irã não conseguiria manter militarmente um bloqueio por mais de dois ou três dias, frente à superpotência militar dos EUA.

Se as circunstâncias fossem outras

No entanto, a situação seria muito diferente no caso de um ataque de Israel ou dos EUA às usinas nucleares iranianas. Aí, diz Volker Perthes, diretor do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), é possível que o Irã partisse para o uso dessa última forma de retaliação. A Marinha iraniana poderia encher o estreito de bombas, usando pequenos barcos. Um método muito mais difícil de ser combatido do que um simples bloqueio com navios de guerra.

Do ponto de vista militar, o conflito com o Irã não tem solução: quanto a isso, os três especialistas – Nirumand, Hippler e Perthes – estão de pleno acordo. Todos eles defendem uma desescalada da situação e um retorno aos meios diplomáticos. "As sanções mais rigorosas não irão forçar o Irã a abandonar seu programa nuclear", salienta Jochen Hippler, para quem já chegou a hora de desenvolver um conceito de longo prazo para a região.

"O regime iraniano sente-se ameaçado", diz Bahman Nirumand. O país está cercado por bases militares norte-americanas. Vizinhos como o Paquistão, Índia, Rússia e Israel possuem bombas atômicas. "Quem quiser encontrar uma solução, deverá, primeiro, garantir a segurança nas fronteiras iranianas", diz o especialista.

Nirumand defende um plano de paz mais amplo para a região, bem como a criação de uma zona isenta de armas nucleares. Segundo ele, não há outra saída. "É possível bombardear as usinas nucleares. Isso iria, caso o Irã de fato esteja construindo a bomba, retardar o processo em um ou dois anos, mas aí tudo começaria outra vez. O problema tem que ser solucionado na raiz", conclui.

Autor: Nils Naumann (sv) - Revisão: Augusto Valente

BANCOS APOSSAM-SE DA EUROPA




Adriano Benayon [*]

1. A oligarquia financeira está empurrando, goela abaixo da União Européia (UE), um "acordo" que estabelece regras rígidas para que a Europa seja governada (ou desgovernada), de forma absoluta, por bancos, liderados pelo Goldman Sachs, de Nova York.

2. Embora as modificações desse acordo aos Tratados da UE dependam de aprovação legal em cada país membro – processo que poderia durar anos – os manipuladores financeiros assumiram o poder à força e irão em frente, a menos que o impeça a resistência dos povos, ainda sem organização.

3. Com a experiência da pequena Islândia, em duas consultas ao povo, a última em abril de 2011, os predadores perceberam que qualquer outra, em qualquer país, implica a derrota de suas proposições. Bastou o ex-primeiro-ministro da Grécia falar em referendo para ser demitido.

4. Mesmo antes de 09/12/2011 – quando foi encenada "reunião de cúpula", e Sarkozy (França) e Angela Merkel (Alemanha) anunciaram o tal "acordo" – o Goldman Sachs (GS) já havia posto três de seus prepostos em posições-chave: Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu; Mario Monti, primeiro-ministro da Itália; Lucas Papademos, primeiro-ministro da Grécia, envolvido em operações do Goldman Sachs com a dívida grega resultantes em sua elevação.

5. Os países da Zona Euro (os 17 membros da UE cuja moeda é o euro) serão obrigados a aceitar o "acordo". Sarkozy e Merkel dizem que os dirigentes dos outros 15 países foram consultados, mera formalidade. Nove outros Estados participam da União Europeia, mas não adotam o euro: Reino Unido e Dinamarca (isentos), e mais sete que poderiam ainda aderir à Zona.

6. Aqueles portavozes apresentaram o pacote envolto neste rótulo: "salvar o euro"; "reforçar e harmonizar" a integração fiscal e orçamentária da Europa. Na realidade, trata-se de destruir a Europa econômica e politicamente, sem garantir a sobrevida do euro, além de aprofundar a depressão, com o arrasamento das políticas de bem-estar social, instituindo uma espécie de "lei de responsabilidade fiscal", como a que manieta o Brasil.

7. O "acordo" impõe duras sanções aos países que não o cumpram, ademais de ser fiscalizados pelo Tribunal Europeu de Justiça. Os Chefes de Estado e de governo passam a reunir-se mensalmente durante a crise. Com isso, reduz-se o poder dos burocratas da Comissão Europeia, mas essa mudança nada altera, dado que estes também executam fielmente os desejos da oligarquia anglo-americana.

8. Sarkozy é cópia piorada de Mussolini, pois este pôs os bancos sob o controle do Estado – e não o contrário, como se faz agora com a Europa, EUA etc. Submisso às diretivas da oligarquia financeira, o presidente da França declara que os benefícios sociais não são sustentáveis, na hora em que eles são mais necessários que nunca, dado o desemprego grassante.

9. O pacote quer obrigar, punindo os que não o cumpram, que os países da Zona Euro reduzam seus déficits orçamentários para 0,5% do PIB, ou seja, seis vezes menos que o limite de 3%, prescrito no Tratado de Maastricht.

10. Isso significa que Grécia, Itália, Espanha, Portugal e outros terão de cortar ainda mais despesas, depois de já as terem cortado, fazendo, assim, a depressão aprofundar-se. A depressão já causou queda nas receitas fiscais. Combinada a queda das receitas fiscais com o crescimento do serviço da dívida pública, decorrente da alta das taxas de juros, temos, juntos, dois fatores de elevação do déficit orçamentário.

11. Que fazer? Cortar toda despesa que não as da dívida, desmantelando as políticas sociais e deixando de investir na infra-estrutura econômica e na social. Isso trará, entre outros danos irreparáveis, o aumento da disparidade entre membros mais e menos desenvolvidos, inviabilizando a permanência destes na Zona Euro, o que implica sua desintegração.

12. A periferia europeia está, pois, ingressando no Terceiro Mundo, caminho aberto também ao restante da Europa, já que acaba de lhe ser prescrita a receita usual do FMI, a qual ajudou a manter o Brasil e outros no subdesenvolvimento.

13. A dupla franco-alemã infla seus egos brincando de diretório europeu, mas Merkel, obedecendo aos bancos alemães, rejeitou a possibilidade de o Banco Central Europeu (BCE) emitir títulos para substituir os dos países devedores. Os bancos querem continuar emprestando aos governos, para receber os juros.

14. Essa rejeição deve levar ao fim do euro, se este já não está perto do fim mesmo sem ela. Traz consequências danosas para a própria Alemanha e para a França, pois obriga os devedores mais problemáticos a continuar pagando taxas de juros demasiado elevadas nos seus títulos.

15. Isso promove crise ainda maior de suas dívidas, com o que credores – bancos alemães, franceses e norte-americanos – chegarão mais rápido ao colapso. Mostra-se, portanto, quimérica outra pretensão do "acordo": a de enquadrar os países no limite de 60% do PIB para suas dívidas.

16. Não é para a União Europeia que os países europeus estão perdendo a soberania. É em favor da oligarquia financeira que renunciam formalmente, através de atos irresponsáveis de seus chefes de governo.

17. A perda de soberania não se restringe às regras draconianas citadas, por si sós conducentes à ruína financeira e econômica. Inclui também que os países devedores liquidem – a preço de salvados do incêndio – inalienáveis patrimônios do Estado, como já foi determinado à Grécia e a outros. É a privatização, objeto das mais colossais corrupções vistas na história do Brasil.

18. Os analistas ligados ao sistema de poder atribuem a crise dos países europeus mais pobres a terem estes gastado acima de suas possibilidades, e mesmo economistas mais sérios oferecem explicações para a derrocada europeia que omitem sua causa principal.
19. Essa causa é a depressão econômica mundial, resultante do colapso financeiro armado pela finança oligárquica centrada em Nova York e Londres. Ele eclodiu em 2007, iniciando a depressão que se desenha como a mais profunda e longa da História, se não for interrompida pela terceira guerra mundial, planejada pelo complexo financeiro-militar dos EUA.

20. Martin Feldstein, professor de Harvard, aponta diferenças institucionais e nas políticas monetária e fiscal entre os EUA e a UE. Ele e muitos, como Delfim Neto, atribuem grande importância à taxa de câmbio. Argumentam que os europeus em crise não têm como desvalorizar a moeda para se tornarem mais competitivos, uma vez que adotaram o euro.

21. Robert Solow, prêmio Nobel, salienta que a UE transfere recursos de pequena monta aos membros menos avançados, pois o orçamento unificado da UE equivale a só 1% de seu PIB. Já nos EUA o governo federal fez vultosas transferências de recursos aos Estados e para regiões críticas.

22. Ainda assim, Itália, Espanha, Grécia, Portugal suportaram a situação até surgir a depressão mundial. Tendo exportações de menor conteúdo tecnológico que Alemanha, Holanda, França, e dependendo do turismo, foram duramente atingidos até pela queda da produção e do emprego nos países ditos ricos, inclusive extra-continentais, como EUA e Japão.

23. A depressão, por sua vez, adveio das bandalheiras financeiras geradas a partir de Wall Street e bases off-shore, sem regulamentação, atuantes no esquema da City de Londres, desembocando no colapso financeiro que eclodiu em 2007 e se direciona para novo estágio, mais destrutivo.

24. Os europeus envolveram-se na onda dos derivativos, quando bancos suíços e alemães adquiriram alguns bancos de investimento de Wall Street. Mesmo assim, os bancos dos EUA estão tão ou mais encalacrados que os europeus nos títulos podres resultantes da abusiva criação dos derivativos.

25. Ademais, Grécia, Espanha, Itália e outros foram enrolados pela engenharia financeira de Wall Street, Goldman Sachs à frente, que lesou investidores, camuflando os riscos, além de proporcionar créditos àqueles países, ao mesmo tempo em que fazia hedge, jogando contra seus devedores, com o resultado de elevar os juros das dívidas.

26. O assaltante está tendo por prêmio ficar com a casa do assaltado. Mas, antes da ocupação dos governos pelos bancos, agora ostensiva, as pretensas democracias ocidentais já não tinham autonomia, mesmo com parlamentos eleitos escolhendo o primeiro-ministro.

27. Como os principais partidos políticos são controlados pela oligarquia financeira – na Europa, nos EUA etc – e se diferenciam apenas por ideologias pró-forma, acomodáveis a qualquer prática, pode-se dizer que a escolha eleitoral se limita à marca do azeite com o qual os eleitores serão fritados.

28. O "acordo" agora imposto à Europa surge como culminação de uma guerra financeira que completa o trabalho realizado nas duas primeiras Guerras Mundiais. Estas destruíram a Alemanha e a França como grandes potências. O império anglo-americano só não conseguira retirar esse "status" da Rússia, mas o logrou, ao final da Guerra Fria (1989), conquanto a Rússia busque agora recuperá-lo.

29. Para que a Europa não afunde, terá de tomar rumo radicalmente diferente daquele em que foi colocada e no qual segue em aceleração impulsionada pelo "acordo" a ser celebrado, a pretexto de salvar a moeda única.

30. O General De Gaulle, nos anos 60, insurgiu-se contra o privilégio dos EUA, de cobrir seus enormes déficits externos, simplesmente emitindo dólares, e exigiu a conversão para o ouro das reservas da França. Profeticamente advertiu que a entrada da Inglaterra na UE seria uma operação "cavalo de Troia".

31. Hoje o dólar continua sendo sustentado pela condição de divisa internacional, instituída em 1944 (acordos de Bretton Woods), e mais ainda pelo poder militar. Os EUA forçam, por exemplo, que seja liquidado em dólares o petróleo comerciado entre terceiros países.

32. Percebe-se o móvel de desviar para a Europa o foco da crise econômica e financeira, que deveria estar nos EUA e do Reino Unido. Ele foi posto na Eurolândia, através de jogadas dos bancos de Wall Street com suas subsidiárias baseadas no grande paraíso fiscal que é a City de Londres.

33. Os mercados financeiros parecem teatro do absurdo. Se não, como explicar que os títulos de longo prazo norte-americanos paguem juros de menos de 2% a.a., enquanto os da Itália, de dois anos de prazo, subiram para 8% a.a.? E como explicar que a cotação do risco de crédito da Alemanha e da França esteja sendo rebaixada, enquanto isso não se dá com os títulos norte-americanos?

34. Deveria ser o contrário, pois: 1) as emissões de dólares em moeda e em títulos públicos são muito maiores que as de euros; 2) a dívida pública dos EUA atinge 120% do PIB (muito mais que os países da Zona Euro), e seria muitíssimo maior sem as enormes compras de títulos do Tesouro dos EUA pelo FED e as emissões desbragadas do FED; 3) o déficit orçamentário dos EUA supera 10% do PIB, enquanto a média europeia é 4%. 4) o déficit nas transações com o exterior dos EUA, em 2010, correspondeu a 3,9% do PIB, enquanto a Alemanha teve superávit de 5,7% do PIB, e os déficits da França e da Itália foram 2% e 3% do PIB.

35. Não bastasse, os grandes bancos americanos têm vultosas carteiras de títulos podres (sobretudo derivativos), mesmo depois de grande parte deles ter sido comprada pelo FED e por agências do governo dos EUA, em operações caracterizadas por grau incrível de corrupção.

36. Como aponta o Prof. Michael Hudson, um quarto dos imóveis nos EUA vale menos que suas hipotecas. Cidades e Estados estão em insolvência, grandes companhias falindo, fundos de pensão com pagamentos atrasados.

37. A economia britânica também cambaleia, mas os títulos governamentais pagam juros de só 2% a.a., enquanto os membros da Zona Euro enfrentam juros acima de 7% a.a, porque não têm a opção "pública" de criar dinheiro.

38. O artigo 123 do Tratado de Lisboa proíbe o BCE fazer o que os bancos centrais devem fazer: criar dinheiro para financiar déficits do orçamento público e rolar as dívidas do governo. Tampouco o pode o banco central alemão, por força da Constituição da Alemanha (país ocupado).

39. Conclui Hudson: "se o euro quebrar será porque os governos da UE pagam juros aos banqueiros, em vez de se financiarem através de seus próprios bancos centrais". Dois poderes caracterizam o Estado-Nação: criar dinheiro e governar a política fiscal. O primeiro já não existia para os europeus, e o segundo está sendo cassado com o presente "acordo".

13/Dezembro/2011

[*] Doutorado em Economia, autor de "Globalização versus Desenvolvimento", abenayon.df@gmail.com

Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/ .

2012: DEMOCRACIA OU OLIGARQUIA?




JOSÉ MANUEL PUREZA – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião

O que do ano que agora finda ficará para a memória da humanidade serão dois factos. O primeiro é a irrupção das lutas das massas árabes pela democracia. O segundo é a crise do euro e a implosão do modelo social europeu. O declínio americano, a turbulência russa e a afirmação de poder chinês não são factos, são tendências de fundo que 2011 apenas confirmou.

A simultaneidade das revoltas árabes e da crise do euro pôs no centro do debate público a democracia. E, ao mostrar-nos a democracia como um processo social mais do que um cerimonial político, fez de 2011 um ano muito rico. A marca das lições aprendidas dos dois lados do Mediterrâneo em 2011 sobre a democracia foi a da simetria.

O que as gentes árabes nos ensinam é que um orçamento cheio não chega para os anseios mais fundos das pessoas. É a sua distribuição que conta, mais que a sua dimensão. Os de baixo, aqueles que os rendimentos do petróleo, dos fosfatos ou da conveniência geopolítica nunca bafejaram, esses foram os que em 2011 vieram para as ruas clamar que nada tinham a perder a não ser a sua vida nua e denunciar que as oligarquias acabam sempre por jogar à defesa contra a grande maioria condenada a subviver. Na força bruta, as oligarquias mostram afinal a sua confrangedora fragilidade. A grande lição dos insubmissos de Tahrir, de Tunis ou de Damasco é a de que a liberdade é o avesso da oligarquia. E que, por ser assim, ela ou vai de mão dada com a redistribuição da riqueza ou pura e simplesmente sufoca às mãos de velhas e novas elites. Ficámos em 2011 a dever às massas árabes esse contributo essencial para a aprendizagem das condições da democracia.

Na sua simetria face às ruas e praças árabes, o 2011 europeu reforçou paradoxalmente esse contributo para a centralidade da democracia no ano que termina. Que a edição de ontem de aniversário do DN tenha escolhido uma belíssima gravura de Nadir Afonso sobre o rapto de Europa para seu rosto foi um sinal de grande clarividência sobre o legado que este lado do mundo deixa em 2011. E que este sinal nos seja dado escassos dias depois da entrada em força do desabrido capitalismo chinês no núcleo estratégico da economia portuguesa é mais do que uma curiosa coincidência - é uma chave de leitura do nosso tempo. A Europa raptada em 2011 é a da construção de uma democracia que para ser política tem de ser social e económica. Essa Europa, que lucidamente deu corpo à noção de que os direitos sociais e os serviços públicos não são um luxo de ricos mas sim uma condição de liberdade de todos, foi raptada pelos mentores de outras visões do mundo para os quais o contrato social que tem prevalecido na Eu-ropa constitui uma ameaça aos seus desígnios. Como todos os raptores, os que sequestraram a Europa em 2011 movem-se pelo apetite do resgate. Já o anunciaram: apropriação de monopólios naturais e de unidades prestadoras de serviços básicos, alimentação do negócio bolsista com os fundos de segurança social e, mais que tudo, transferência de rendimentos devidos ao trabalho para a propriedade e para o capital. Como sempre em histórias de raptos, foi decisiva a cumplicidade de guarda-costas que, entre juras mecânicas de fidelidade à Europa, adoptaram o programa dos raptores.

Pelas mãos da obsessão da austeridade, a Europa está a perder a democracia e a substituí-la por novas oligarquias. A asiatização do capitalismo europeu é um processo em aceleração rápida. E desenganem-se os que acham que isso se confinará à propriedade de empresas (EDP, BCP, ...): muito mais que isso, será (está a ser) uma mudança profunda de modos de vida.

Vem aí um ano aliciante, feito de escolhas fundas. Saibamos fazê-las com coragem.

A UE E A OPÇÃO NEOLIBERAL




Maria Luísa Vasconcelos, Professora da Universidade Fernando Pessoa – Expresso, opinião, em Blogues

Dizem-nos que a crise da dívida soberana é um problema dos países periféricos impreparados para o euro. Que é um problema das finanças públicas, incumpridoras. Que é uma crise que tem como primeira saída viável as políticas de austeridade, essas sim, capazes de garantir a consolidação, condição prévia para um crescimento económico sustentável. Esconde-se assim o problema maior do endividamento privado, múltiplo do endividamento público, e dizem-nos: Incumpriram, têm que pagar. É o mercado.

Mas poderia em alternativa dizer-se que estas são políticas de austeridade que garantem prioritariamente o pagamento do serviço de dívida a credores, que atiram para a frente os incumprimentos, que não resolvem o problema do crescimento da dívida ou do serviço da dívida; que são insuficientes e exercem efeitos recessivos nas economias; enfim, que são políticas que sugam o devedor antes de o largar, possivelmente retirando-o do euro, atirando-o para a desvalorização, para uma competitividade breve e mentirosa, para a inflação e para instabilidade.

Poderiam também dizer-nos que a Europa e o BCE têm alternativas, que a preocupação com a inflação poderia ser secundarizada no curto prazo, que um financiamento de larga escala dos sistemas bancários poderia ser realizado, que a escalada dos juros poderia ser regulamentada, que os Eurobonds poderiam ser exequíveis (cada vez menos), que uma reestruturação ordenada das dívidas (em maturidade e em juros) poderia ser solidariamente pensada. Mas sobretudo, poderiam dizer-nos que a saída de algumas economias da zona euro é indesejada, porque beneficiará apenas o core da zona euro, enquanto abandona uma imensidão de cidadãos europeus à degradação económica e social.

O pensamento único que nos vêm anunciando é o da depressão económica. Resulta de uma concepção do mercado como a ordem natural das coisas, em que os resultados não são justos nem injustos, mas apenas resultados. Desenganem-se.

O neoliberalismo não é uma mera questão técnica-económica. É uma opção política e, como qualquer outra, está sujeita a alteração. Quando? Dependerá do interesse económico do centro. Como veremos, quanto mais próxima estiver a crise da Alemanha, com contracção de crescimento já esperada para o quarto trimestre e uma crescente possibilidade da sua dívida passar apresentar yields em alta, maior flexibilidade passará a haver para uma actuação do banco central europeu como lender of last resort, opção, até à data, absolutamente rejeitada. Vale a pena pensar porquê.

CP: EFEITOS DA GREVE COMEÇAM A SENTIR-SE A PARTIR DAS 16H00 HORAS




Efeitos da nova greve dos maquinistas da CP vão começar a sentir-se a partir das 16h00. Paralisações já provocaram prejuízos de oito milhões de euros

O novo período de paralisação dos maquinistas da CP vai começar a sentir-se hoje a partir das 16h00, numa greve que deverá ter um impacto semelhante à do Natal, disse a porta-voz da empresa.

"Relativamente ao dia 31 poderá já começar a haver algumas supressões a partir do final da tarde/noite, nos vários serviços e no dia 2 as primeiras horas da manhã deverão ter ainda algumas complicações decorrentes do período de greve de dia 1", explicou à Lusa a porta-voz da CP, Ana Portela.

Por seu lado, para o primeiro dia do ano, a empresa espera uma situação "muito semelhante à do passado dia 25 de dezembro", com serviços mínimos decretados para a realização de 112 comboios a nível nacional, num dia em que, sob circunstâncias normais, estariam a circular 773 composições.

Do lado do Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro Portugueses, entidade que convocou a greve, o presidente António Medeiros esclareceu que "a greve entre as 16 horas [de dia 31] e as 10 horas do dia 02 terá uma perturbação significativa na circulação", confirmando que no feriado de domingo só haverá serviços mínimos.

Maquinistas esperam acordo

"Na prática só os maquinistas que estão a realizar os serviços mínimos e os que estão de descanso é que não realizam greve. De resto, entre todos que estão em greve há uma adesão forte no combate a uma injustiça", afirmou António Medeiros.

A decisão do sindicato é para contestar os processos disciplinares alegadamente interpostos pela empresa de forma ilegal, sem que isso implique uma perda do poder disciplinar da CP, como acrescentou António Medeiros.

Ainda assim, Ana Portela lembrou que os contactos entre as duas partes têm continuado no sentido de desconvocar a greve, apesar de não terem tido sucesso até agora.

Da mesma maneira, o presidente do sindicato recordou que os maquinistas estão "sempre disponíveis, hoje, amanhã, daqui a meia hora para, havendo um acordo, suspender imediatamente a greve".

Prejuízos de €8 milhões

As greves realizadas este ano pelos trabalhadores da CP tiveram como consequência para a empresa uma perda de receita "na ordem dos oito milhões de euros", avançou à Lusa a porta-voz da empresa.

"A estimativa de perda de receita total de todas as greves desde o início de 2011 é da ordem dos oito milhões de euros", disse Ana Portela.

A responsável explicou que esta estimativa "é feita com base na perda de venda de bilhetes, não contemplando a perda de venda de passes mensais, por ser difícil de comprovar".

Contra a ditadura salazarista: Passam hoje 50 anos do assalto ao quartel de Beja




1961 – COM O DERRUBE DE SALAZAR HUMBERTO DELGADO TERIA TOMADO LEGITIMAMENTE O PODER

TEIXEIRA CORREIA - RÁDIO VOZ DA PLANÍCIE

Foi há 50 anos, na noite de 31 de Dezembro de 1961 para 1 de Janeiro de 1962, que se deu o assalto ao Quartel de Beja. A “intentona do RI 3”, foi mais uma tentativa de deposição do Governo de Oliveira Salazar.

Na noite da passagem do ano de 1961/ 1962, foi assaltado o quartel de Beja, faz 50 anos que o caso aconteceu.

Segundo os dados retirados do site do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas/ Universidade Técnica de Lisboa, a revolta foi comandada pelo capitão Varela Gomes. Morto, durante os acontecimentos o tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca, então sub-secretário de Estado do exército. Outro dos organizadores foi o civil Manuel Serra, participando o major Francisco Vasconcelos Pestana, filho do antigo ministro da I República, Pestana Júnior, o capitão Pedroso Marques e o tenente Brissos de Carvalho, bem como o civil Fernando Piteira Santos. Depois de um tiroteio com o major Calapez, comandante do quartel que consegue evadir-se e avisar as autoridades, Varela Gomes é gravemente ferido. Entretanto, Humberto Delgado entra clandestinamente em Portugal, chega a dormir em Lisboa numa pensão, e vai para Beja na companhia de Adolfo Ayala, verifica o fracasso e volta ao exílio, onde denuncia a ineficácia da polícia política face aos disfarces que apresentou.

No seu site, o médico Francisco George, em Abril do corrente ano, escreveu sobre o caso e as memórias que guardava do mesmo, em virtude do seu pai ser médico dos Hospitais Civis de Lisboa.

O actual Director-Geral de Saúde escreveu:

A madrugada de 1 de Janeiro de 1962 é inesquecível para mim. O telefone que se encontrava no escritório da nossa casa de Campo de Ourique, na divisão contígua ao meu quarto, tocou pelas 3 horas. Era o telefone do Estado que o Ministério da Saúde mandara instalar. Fenómeno raro, uma vez que quase nunca recebia chamadas nem era utilizado. Todos dormiam a essa hora.

Levantei-me e atendi: - “daqui fala Henrique Martins de Carvalho, pretendo falar com o Dr. Carlos George. É um assunto muito urgente”. Habituado a receber chamadas telefónicas dos doentes de meu Pai a qualquer hora da noite, se bem que no 660628, de início nada de anormal notei. Logo depois, ao entrar no quarto de meus pais para transmitir o recado e ao chama-lo para ir à sala, compreendi pelos seus comentários que era o ministro da saúde e assistência. Percebi que era um problema sério. Uma revolta contra Oliveira Salazar. Não mais se deitou e com o apoio de minha Mãe começou a fazer telefonemas para o Banco de São José e para os seus amigos de maior confiança.

Ao telefone, lembro-me, começava por dizer que tinha recebido instruções do Ministro para organizar equipas de assistência médica de emergência para imediatamente seguirem para Beja em ambulâncias rápidas. Sabia-se, apenas, que tinha havido uma revolta no quartel, com intenso tiroteio e que havia mortos e feridos para socorrer. Ignorava-se a sua verdadeira magnitude. Sabia-se, igualmente, que o antigo Hospital da Misericórdia de Beja não tinha meios para responder à situação.

A Revolta de Beja tinha sido planeada por Humberto Delgado. Pretendia a partir daqui conseguir a sublevação de outros regimentos e unidades das Forças Armadas e fazer cair Salazar. O assalto não correu bem. O insucesso, muito provavelmente, terá tido como explicação principal a falta de comunicações, apesar de Delgado ter acompanhado o assalto a partir de Vila de Frades, aldeia a 25 quilómetros de Beja, em casa de José Luís Conceição Silva, destacado activista da Oposição e residente na Quinta do Almargem em Vila de Frades, terá organizado o acolhimento ao General que ficou alojado no centro da aldeia na casa dos Raminhos.

Francisco George, afirma que só percebeu a sequência integral do que se passou naquele Primeiro de Janeiro de 1962 depois da chegada da Equipa de Emergência de São José ao Hospital da Misericórdia de Beja, muitos anos depois, quando aí exerceu funções de delegado de saúde, em 1976.

Segundo relato de Francisco George, o assalto ao Regimento de Infantaria 3 em Beja na viragem de 1961 para 1962 tem que ser lido no contexto dos acontecimentos históricos que marcam esses anos: a fuga de Cunhal de Peniche no ano anterior, o “Santa Maria” de Henrique Galvão, a tentativa de golpe palaciano de Botelho Moniz, o desvio do avião da TAP por Palma Inácio, a Crise Académica, o Fim de Portugal em Goa e, principalmente, o início da guerra colonial “para Angola rapidamente e em força”.

*Alteração de título e subtítulo de PG

DOZE OU DOSE?




Cartoon de antero  em aventar – sem texto adicional

2012 VAI SER DOSE SUPER

O trocadilho armado em dúvida é causa bastante para esta ser a Imagem Escolhida de agora, uma vez mais retirada de Aventar em traço de Antero – se estivermos a abusar avisem-nos.

2012 é o ano que começa dentro de horas? Pois não é não. Para os portugueses, para a Europa e outros países ditos em crise – quando em crise quem está é a maioria produtiva devido aos roubos que políticos e parceiros da alta finança lhes estão a fazer – vem aí o ano de Dois Mil e Dose maior de sacrifícios só para plebeus, porque quer políticos quer os seus donos e ditadores do “mercado” a vida corre-lhes às mil maravilhas, enchem-se à fartazana. Roubar e explorar, reimplantar o esclavagismo, é o lema em dose superior à do ano que finda. Não tenhamos ilusões.

Dois Mil e Dose será o ano de subida em flecha das estatísticas de suicídios, de desemprego, de fome, de miséria, para que alguns passem a possuir mais, muito mais – tudo o que roubam com o conluio de políticos sem escrúpulos que ao seu serviço cumprem a função para mais tarde serem pagos com “migalhas” de fortunas colossais. Não é senhor Passos Coelho e restante Bando de Mentirosos? Não é senhor Cavaco Silva? Não é?

2012 vai ser dose super!

Portugal: NORTE AO NORTE E AO PAÍS




CARVALHO DA SILVA – JORNAL DE NOTÍCIAS, opinião

É preciso analisar os graves problemas económicos e sociais com que se depara a Região Norte. Entretanto, há que construir, com os cidadãos que residem nessa região e com as suas organizações e instituições, respostas concretas à crescente fragilização da sua estrutura económica e às carências sociais.

Essa análise e desafio devem ser feitos no quadro do debate sobre o modelo de desenvolvimento do país no seu todo.

Dar norte ao Norte significa, pois, dar futuro a Portugal.

Quando se analisa a situação do Porto e do Norte do país, como de resto as condições de outras regiões, surge uma certa focalização das causas dos seus problemas na "macrocefalia de Lisboa". Reconheço alguma verdade naquela constatação, mas não em todos os tempos, nem em todas as áreas da intervenção.

A macrocefalia de Lisboa tem sido, muitas vezes, construída em favor de estratégias e interesses de alguns portugueses que tanto se instalam em Lisboa, no Norte ou no Sul.

Em certas fases, um forte poder económico tem estado situado na Região Norte e, historicamente, também não se pode falar do Norte como um espaço geográfico e uma população com absoluta coesão territorial ou cultural (há microculturas). O Porto, naturalmente, foi e é, em certos contextos, pólo de centralidade em relação ao todo da região. E os fenómenos de desertificação, ou de concentração de actividades e populações em centro maiores, também existem, em escalas diferentes, dentro da região.

O problema mais profundo situa-se no modelo de desenvolvimento do país. Precisamos de estrutura e actividade económica sustentadas e modernas, de equilíbrio entre as dimensões sociais, económicas, culturais e políticas para uma sociedade de progresso e de desenvolvimento humano, onde a coesão da sociedade seja seriamente trabalhada.

No Norte estavam instaladas indústrias que entraram em declínio. Algumas por efeito de mudanças de contextos de concorrência no plano europeu e mundial, outras porque os seus proprietários se encostaram à sombra de apoios do Estado, ou não utilizaram os lucros para reinvestimento.

A política nacional de desindustrialização, de desvalorização de profissões e actividades essenciais - em nome de um modernismo bacoco -, de incremento exagerado do consumo, de promoção do individualismo, ajudaram a empurrar essa região - industrial e laboriosa - para comportamentos de desatenção e falta de responsabilização pelo seu desenvolvimento. Mas há ainda muito a defender e valorizar.

Uns anos atrás, participei num debate, em Moreira de Cónegos, a convite de uma Associação Empresarial, sobre os problemas do desenvolvimento da região, as dificuldades das empresas, a quebra do investimento público, as contradições das políticas de emprego e a já elevada taxa de desemprego em vários concelhos.

Uma das pessoas presentes, filho de um empresário da região, apresentou uma situação típica da actuação da Banca. Ele havia tentado obter um empréstimo para criar uma pequena empresa, tinha o aval o pai, foi várias vezes ao banco e este não lhe concedia o empréstimo. Mas para comprar um carro de gama média/alta o banco já lhe concedia empréstimo de valor igual àquele.

Há que inverter políticas e comportamentos e tratar a sério dos problemas sociais mais gritantes.

O Norte precisa de reforço de investimento público e privado, mas que este seja voltado para actividades que respondam às necessidades dos portugueses e ao aumento da produtividade média da região que era, em 2009, apenas 84% da nacional. Urge a criação de emprego! A região tem 42% do desemprego do país e uma taxa superior à média nacional.

A distribuição da riqueza tem de ser melhor e isso implica uma melhoria dos salários, no contexto da promoção de actividades mais produtivas. Aumentar a cobertura de protecção no desemprego e o combate à elevada taxa de pobreza são outros objectivos imediatos a assumir.

A valorização e responsabilização das pessoas a partir do trabalho digno e a defesa do Estado Social - objectivos interligados - são, no Norte como no país, combates prioritários.


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