quinta-feira, 10 de maio de 2012

Guiné-Bissau: Regresso imediato de PR e do PM está fora de questão, diz CEDEAO



TSF

Um delegação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) está hoje em Bissau reunida com políticos e militares, aos quais disse que está fora de questão o regresso de Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior.

Raimundo Pereira, presidente interino da Guiné-Bissau, e Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro e candidato vencedor na primeira volta das eleições presidenciais de março, foram afastados no golpe militar de 12 de abril e presos. Foram depois libertados e estão atualmente na Costa do Marfim.

A delegação da CEDEAO, que integra os ministros dos Negócios Estrangeiros da Costa do Marfim e da Nigéria e os respetivos chefes das Forças Armadas, iniciou durante a tarde uma ronda de encontros que ainda não terminou, sendo de prever que continue na sexta-feira.

Os encontros começaram com os militares, seguindo-se o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, no poder até dia 12), o Fórum dos partidos da oposição e a Frenagolpe (uma associação de partidos e organizações contra o golpe).

Depois, a delegação da CEDEAO promoveu uma reunião com todos (incluindo os jornalistas), na qual foi reafirmado o que a organização já tinha dito em Dacar, numa cimeira na semana passada: encontrar uma solução para a crise no país através do parlamento da Guiné-Bissau.

A delegação disse também que as decisões da cimeira de Dacar teriam sido mal entendidas em Bissau e acrescentou que «está fora de questão» o regresso de Raimundo Pereira e de Carlos Gomes Júnior aos cargos que ocupavam antes do golpe, durante o período de transição, que a CEDEAO quer que seja de um ano.

Depois do encontro conjunto, a delegação da CEDEAO iniciou uma nova ronda de reuniões grupo a grupo.

Além dos partidos, estão presentes os cinco candidatos que contestaram os resultados das eleições presidenciais de 18 de março. António Indjai, chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, também está presente.

Timor-Leste: PAÍSES DO PACÍFICO SUL TROCAM PETRÓLEO POR COCO, VENTO E SOL




NAÇÕES UNIDAS, 10 Mai 2012 (AFP) -Os pequenos países do Pacífico, mais vulneráveis à elevação do nível dos mares, prometeram deixar de lado o diesel e outros combustíveis sujos apontados como responsáveis pelo aquecimento global e substituí-los por fontes limpas.

Com o uso de biocombustível de coco e painéis solares, Toquelau - território autônomo que consiste em três pequenas ilhas, a meio caminho entre a Nova Zelândia e o Havaí - planeja se tornar auto-suficiente em energia este ano.

Líderes de outros pequenos Estados insulares ao redor do mundo assumiram compromissos durante um encontro esta semana, organizado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas e pelo governo de Barbados.

As Ilhas Cook e Tuvalu, no Pacífico, visam a obter toda a sua eletricidade de fontes renováveis a partir de 2020, enquanto São Vicente e Granadinas, no Caribe, pretendem chegar a extrair 60% de sua energia de fontes renováveis também em 2020.

O governo do Timor Leste se comprometeu a fazer com que nenhuma família em sua capital, Díli, use fogueiras pra cozinhar até 2015 e afirmou que metade da eletricidade do país será retirada de fontes renováveis até o fim da década.

"Sei que estabelecemos metas ambiciosas, mas é realmente animador", disse à AFP o premier das ilhas Cook, Henry Puna.

"Não consideramos estes objetivos difíceis de alcançar. São muito inspiradores e nos motivam a avançar", acrescentou.

Puna afirmou que quase 15% do orçamento da Nova Zelândia estão comprometidos com a importação de óleo diesel, o que ele chamou de "dependência incapacitante", e disse que essas dezenas de milhões de dólares deveriam ser gastas em serviços sociais, de saúde e educação para os aproximadamente 20 mil habitantes das 15 ilhas espalhadas por 2,2 milhões de quilômetros quadrados no Pacífico.

O governo planeja começar a usar painéis solares e turbinas eólicas. Quase todas as casas já esquentam a água graças à energia solar.

Os trabalhos começarão no ano que vem em Rakahanga, no setor norte do arquipélago, com ajuda do Japão. A Nova Zelândia deverá financiar a revolução energética nas ilhas do sul.

Segundo Puna, a mudança de matriz foi proposta durante a campanha pela reeleição em 2010. "Não percebemos, mas atingimos a consciência ambiental do nosso povo. A reação tem sido fantástica", acrescentou.

"Em algum lugar na nossa formação, somos um povo com consciência ambiental porque aprendemos a viver longe do continente e no meio do mar. Esse é o nosso legado, é a nossa tradição. Nós só estamos batendo nessa tecla novamente", acrescentou.

Na América do Norte e em muitos países europeus tem havido resistência a turbinas eólicas espalhadas pela terra e pelo mar.

"Pode haver alguma nas ilhas Cook", disse Puna. "Mas penso que quando as pessoas perceberem e virem os benefícios destes instrumentos, não haverá muitos outros problemas", acrescentou.

Estudos das Nações Unidas demonstram que as importações de petróleo respondem por até 30% do Produto Interno Bruto (PIB) em alguns países do Pacífico, com os preços influenciados pelas enormes distâncias que o combustível precisa percorrer.

Ministros reunidos no encontro desta semana se queixaram de que, apesar de suas "ações significativas" para ajudar a mitigar as mudanças climáticas, as ações internacionais têm sido "lentas e totalmente inadequadas", em vista da ameaça crescente que a elevação dos mares representa para os países insulares.

Sua declaração, adotada às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, pede que novas fontes de energia se tornem "acessíveis, disponíveis e adaptáveis", de forma a que todos os países insulares sob ameaça possam tomar medidas para se adaptar.

tw/adm/mvv/dm

Aviso aos leitores de Página Global

BOICOTE A NOTÍCIAS DE CAVACO NA VISITA A TIMOR-LESTE E "ARREDORES" – Página Global dá conhecimento aos leitores que em protesto contra a inexistência de uma publicação diária online em língua portuguesa sobre a realidade timorense vai boicotar a publicação de notícias referentes a Timor-Leste que envolvam a visita do PR de Portugal, Cavaco Silva, para as comemorações dos 10 anos da independência do país, assim como todas as outras notícias relativas a Cavaco nesta sua deslocação a países daquela parte do mundo. Consideramos inadmissível que 10 anos após a independência não exista um único órgão informativo em português sobre a atualidade timorense, apesar de a língua portuguesa ser considerada constitucionalmente língua oficial daquele país. (Redação PG)


TIMOR-LESTE, 21 FOTOGRAFIAS




Desacordo – Foto de Luís Ramos Pinto

Luís Ramos Pinto, historiador de arte e fotógrafo é o autor da exposição fotográfica “21 Momentos em Timor-Leste”, disponível no Museu do Oriente, de 11 de Maio a 30 de Setembro.

A história por detrás desta mostra prende-se com a procura da captação de rotinas no quotidiano dos habitantes de Timor-Leste, realizado ao longo dos dois anos que Ramos Pinto viajou pelo país do Sudeste Asiático, considerado um dos mais jovens do mundo.

Palco de anos de opressão e violência, e local onde a língua portuguesa é uma das línguas oficiais, o historiador descobriu e realçou que o orgulho e o positivismo estão sempre presentes nos dias e actividades da maioria deste povo.

Esta não é a primeira vez que Luís Ramos Pinto expõe os seus trabalhos fotográficos. Em 2009, levou ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, o projecto The Faces of Timor-Leste, cujas fotografias marcam igualmente presença nesta exposição.

Se ficaste curioso podes visitar o seu site pessoal, disponível em português e inglês.

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Angola: Investimento direto em Portugal deixou de ser prioritário -- Manuel Vicente



EL – Lusa, com foto

Luanda, 10 mai (Lusa) - O investimento direto angolano em Portugal deixou de ser prioritário, disse hoje em Luanda o ministro de Estado e da Coordenação Económica, Manuel Vicente.

"O Estado hoje tem outras prioridades. Estamos a olhar mais para os problemas internos que para os problemas externos", acentuou Manuel Vicente, que falava numa conferência de imprensa para apresentação do balanço das atividades do executivo de Luanda no primeiro trimestre de 2012.

A resposta de Manuel Vicente foi feita à pergunta se Angola iria participar no programa de privatizações previsto em Portugal nos setores da comunicação e transportes, ou se a iniciativa ficaria do lado de empresários privados, como sucedeu nos últimos dias com a empresária Isabel dos Santos, ao comprar significativas posições na banca e telecomunicações em Portugal.

"Os empresários privados são livres. Onde eles encontrarem oportunidades e virem que há, de facto, a criatividade e escala para investir, só nos resta, como governo apoiarmos essas iniciativas", acrescentou.

Todavia, Manuel Vicente justificou o porquê da escolha de Portugal para os primeiros investimentos diretos do Estado angolano.

"Recordo-me quando dos tempos de presidente da (petrolífera angolana) Sonangol, nós não fomos investir no (BCP) Millennium para ir buscar dividendos no fim do ano. O grande objetivo era encontrar uma plataforma financeira que pudesse suportar o grande crescimento da Sonangol e da economia angolana no mundo inteiro", salientou.

Manuel Vicente adiantou que agora, face à globalização da economia, importa não investir num único mercado.

"O mundo hoje é uma aldeia global e, como se costuma dizer na gíria, não podemos colocar os ovos todos no mesmo cesto. As economias melhoram ou pioram em função dos locais, e temos que ter investimentos em várias paragens e, no fim, termos uma média que seja positiva e que possa garantir a sustentabilidade", vincou.

Os investimentos em Portugal representaram para Angola a necessidade de ter uma "plataforma para acesso a dinheiro mais barato".

"A ideia era termos uma plataforma na Europa para termos acesso a dinheiro mais barato e de forma mais eficiente. Por isso é que sempre dissemos que o nosso investimento não era de curto prazo. Era um investimento de muito longo prazo", explicou.

Outra questão a ter em conta por Angola são os ciclos financeiros, porque, como sublinhou Manuel Vicente, "há anos bons e anos maus e temos que estar preparados para esta alternância de ciclo, mas diria que o objetivo é investir em Portugal, mas numa perspetiva de alavancar o investimento de Angola".

"Não podia ser de forma diferente", concluiu.

Moçambique: Caçadores furtivos acusados de envenenarem rio para conseguirem...



... troféus de elefantes e leões

MMT - Lusa

Maputo, 10 mai (Lusa) - Caçadores furtivos zimbabueanos, zambianos, chineses e moçambicanos são acusados de lançar um produto químico no rio Mphanhame, para envenenar elefantes e leões visando extrair os troféus, denunciou à Lusa Paulo Evants, responsável pela reserva Safaris de Moçambique.

A reserva, localizada na chamada "garganta" do rio Zambeze, na província de Tete, na fronteira com o Zimbabué e Zâmbia, é rica em espécies florestais e animais, mas é também considerada um dos locais que produz os melhores troféus de caça do continente africano.

Falando à Lusa, Paulo Evants disse que cerca de 200 carcaças de animais, incluindo elefantes sem os respetivos dentes de marfim, foram encontrados mortos ao longo do rio Mphanhame, na província de Tete, no centro de Moçambique.

O operador da Safaris de Moçambique, que funciona na localidade de Chitete, posto administrativo de Chinthopo, no distrito de Mágoè, em Tete, denunciou a presença de homens armados nas imediações das margens daquele curso de água, à procura de pontas de marfim, dentes, unhas e pele de leão.

"A nossa atividade está muito afetada" devido à matança de animais por caçadores furtivos, disse à Lusa o chefe da área técnica e de segurança da reserva Safaris de Moçambique.

Na edição de hoje, o jornal Notícias de Maputo cita uma fonte do empreendimento que afirma estar preocupada com a situação, pois os caçadores furtivos usam um produto químico conhecido por Synad para o envenenamento de animais tais como elefantes e leões para posterior extração dos respetivos troféus.

"O problema está a ganhar grandes contornos, pois, além de matarem os animais, que são a principal causa da nossa presença aqui em Chitete, está já a afetar a saúde pública", disse a fonte, admitindo a hipótese de "algumas mortes de pessoas nas comunidades estarem aliadas ao consumo de água envenenada, uma vez que na zona não existem fontes suficientes de abastecimento de água potável".

Recentemente, Paulo Evants denunciou à Lusa que centenas de animais selvagens, nomeadamente elefantes da reserva Safaris de Moçambique, em Tete, centro, estavam a deslocar-se para o Zimbabué, devido à ameaça de caçadores furtivos, que colocam "a fauna em Tete em grande risco".

De acordo com estimativas dos proprietários do empreendimento, existem na reserva cerca de 100 mil impalas, 15 mil búfalos, oito mil elefantes, além de zebras, leões e leopardos, que têm sido alvo de caçadores furtivos.

Cabo Verde: PM apela a parceiros para aumentarem investimento direto estrangeiro



JSD - Lusa

Cidade da Praia, 10 mai (Lusa) - O primeiro-ministro cabo-verdiano apelou hoje aos parceiros de Cabo Verde para aumentarem o investimento direto estrangeiro (IDE), salientando que os efeitos da crise económica mundial reduziram-no "drasticamente" no último ano.

José Maria Neves falava à imprensa à margem do quinto encontro do Governo cabo-verdiano com os chefes das missões diplomáticas e dos organismos internacionais acreditados em Cabo Verde, que começou hoje e se prolonga até sexta-feira.

No encontro, o primeiro-ministro de Cabo Verde reafirmou que a crise económica está a afetar "duramente" o país, tendo realçado a "drástica redução" do IDE como um dos exemplos mais marcantes e sublinhado as oportunidades que podem surgir.

"Queremos que Cabo Verde aproveite a crise e transformá-la em oportunidades para o crescimento e o desenvolvimento global. Pretendemos uma diplomacia para desenvolvimento mais agressiva, para aproveitá-las e construir parcerias", defendeu.

José Maria Neves garantiu que o Governo continua empenhado na melhoria do ambiente de negócios e a construir fatores de competitividade do país, com o propósito de transformar Cabo Verde num centro internacional de prestação de serviços.

"O sucesso da transição de Cabo Verde como país graduado (país de desenvolvimento médio) só será possível se houver parcerias com empresas de outros países. Queremos construir fatores de competitividade, parcerias com o setor privado, desenvolver a economia através de alianças entre empresas cabo-verdianas e dos outros países e ultrapassando os limites de cooperação entre os Governos", salientou.

O chefe do Governo defendeu a criação de dinâmicas de cooperação económica e empresarial, levando empresas e grupos económicos para Cabo Verde e transformar o arquipélago numa plataforma de negócios para toda a região da África Ocidental.

Ao apresentar o tema "Situação Política Nacional e Agenda de Transformação de Cabo Verde", José Maria Neves "radiografou" o país, expondo as razões do apelo ao investimento no arquipélago.

Venizelos relata progresso em negociações para formar novo governo grego



Deutsche Welle

Líder socialista Evangelos Venizelos se disse otimista para uma possível coligação, após uma primeira reunião com o partido Esquerda Democrática. Pesquisa diz que radicais de esquerda vencem em caso de uma nova eleição.

Pela primeira vez desde as eleições de domingo passado, há esperanças para a viabilização de um novo governo na Grécia. O chefe do socialista Pasok, Evangelos Venizelos, disse nesta quinta-feira (10/05) que há "bons presságios" para uma possível coligação, após uma primeira reunião de sondagem com o partido Esquerda Democrática.

Venizelos é o terceiro líder partidário a receber o mandato para a formação de governo, após os líderes da primeira e da segunda maiores bancadas parlamentares terem fracassado na tentativa de formar uma aliança governamental.

O líder do Partido de Esquerda, que deverá se unir ao Pasok e ainda aos conservadores do partido Nova Democracia para formar uma maioria parlamentar, se mostrou aberto a uma colaboração, mas insistiu ser contra o programa de austeridade implementado no país. Antonis Samaras, líder do Nova Democracia, bancada mais forte no parlamento após a eleição de domingo, declarou que seu partido se dispõe a apoiar um governo pró-europeu.

Permanência na zona do euro

Venizelos e Samaras insistem na permanência da Grécia na zona do euro, mesmo com as duras medidas de austeridade ditadas pela União Europeia. Pasok e Nova Democracia necessitam de mais dois mandatos para terem maioria no parlamento.

O chefe da Esquerda Democrática, Fotis Kouvelis, afirmou que a formação de uma coalizão poderá manter o país na zona do euro, embora ele tenha voltado a rejeitar as determinações de austeridade dos credores internacionais. "Proponho a formação de um governo ecumênico que respeite o mandato do povo”, declarou. Na eleição parlamentar de domingo, os eleitores gregos puniram os defensores de programas de austeridade, votando em partidos radicais que pregam a suspensão das medidas econômicas acordadas com a União Europeia e o FMI.

Se o Pasok não conseguir reunir uma maioria parlamentar que lhe permita formar um governo de coligação, o presidente do país, Carolos Papoulias, deverá reunir os líderes dos sete partidos representados no parlamento e apelar à constituição de um executivo de unidade nacional. Caso esta iniciativa também não tenha sucesso, a Grécia deverá ter novas eleições, provavelmente entre 10 e 17 de junho.

Esquerda radical cresce na preferência dos eleitores

Segundo as últimas sondagens, a esquerda radical, contrária à manutenção do programa de austeridade econômica, poderá ser a vencedora se houver novas eleições. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Marc e divulgada nesta quinta-feira, o partido Coalizão da Esquerda Radical obteria 23,8% dos votos, se firmando como bancada mais forte no Parlamento. Na eleição no último domingo, o partido surpreendeu, se tornando a segunda maior força política. A pesquisa, primeira realizada após a eleição de domingo, feita por encomenda do canal de TV Alpha, aponta que o conservador Nova Democracia cairia para segundo lugar, com 17,4%.

Enquanto isso, credores ameaçaram abertamente parar com a ajuda financeira. "O país não pode esperar nenhuma ajuda adicional se não adiantar as reformas", alertou Ewald Nowotny, membro do conselho do Banco Central Europeu. Já o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, disse em Berlim que a comunidade internacional está disposta a fazer tudo o que for necessário para ajudar a Grécia, contanto que os gregos se disponham a continuar trilhando o caminho das reformas e de contenção de gastos.

MD/dpa/rtr - Revisão: Roselaine Wandscheer

Merkel defenderá medidas de austeridade na Europa em encontro do G8



Deutsche Welle

Em discurso no Bundestag, chanceler federal alemã afirma que medidas devem se manter atreladas à política de redução das dívidas. Merkel quer ainda redução de barreiras comerciais entre países industrializados.

A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, defendeu em discurso na câmara baixa do Parlamento alemão (Bundestag) nesta quinta-feira (10/05) que a política de redução das dívidas, do reforço do crescimento e do emprego deve se manter atrelada às duras medidas de austeridade adotadas na Europa – apesar das dificuldades enfrentadas, como na Grécia e na Espanha.

Merkel reforçou que estes devem ser os pilares da estratégia para superar a crise na Europa. As declarações antecipam o discurso do governo alemão para a cúpula dos oito principais países industrializados do mundo (G8), e da Otan na próxima semana nos Estados Unidos. O G8 é formado por Estados Unidos, Alemanha, Rússia, Japão, Canadá, França, Itália e Reino Unido.

Durante o encontro, Merkel defenderá também uma maior redução das barreiras comerciais entre os países. Aos parlamentares, ela afirmou que um comércio mais livre e um mercado global mais aberto são importantes fatores para um crescimento sustentável.

A chefe da maior economia da Europa deverá destacar nos Estados Unidos que a maior liberdade comercial também será um importante aliado na luta pela redução da dívida e no incentivo à competitividade, não apenas no continente europeu, mas em praticamente todos os países industrializados do mundo.

Sem "crescimento a crédito"

Merkel rejeitou a necessidade de novas dívidas para estimular as economias e descartou um "crescimento a crédito", pois, segundo ela, este poderia levar a Europa exatamente ao ponto em que estava no início da crise. "Por isso não vamos fazer isso", disse, advertindo que a crise da dívida não será solucionada "do dia para a noite".

Merkel também voltou a recusar a emissão de títulos conjuntos da dívida pública na zona euro, os chamados eurobonds, como parte da solução da crise.

O discurso reforça a posição da Alemanha diante das reivindicações do presidente eleito francês, François Hollande, de reabrir as discussões na União Europeia sobre os duros pacotes de austeridade exigidos pelo bloco. A posição de Hollande encontra resistência na UE. Na próxima terça, ele deve se encontrar com Merkel para discutir o assunto. O futuro presidente da França também participará dos encontros nos EUA.

Tropas no Afeganistão

Segundo Merkel, os problemas cruciais a serem resolvidos pela comunidade internacional são o combate às alterações climáticas, a eficiência energética e a luta contra a fome no mundo.

Com relação à cúpula da Otan, uma das principais questões será uma eventual retirada antecipada das tropas aliadas do Afeganistão. Também neste ponto, a chanceler federal alemã e Hollande divergem.

Merkel defende a manutenção da estratégia já acertada, que prevê a permanência dos soldados em solo afegão até o fim de 2014 – "entramos juntos, sairemos juntos", disse.

Durante a campanha presidencial, porém, o socialista francês prometeu a retirada até o fim deste ano. A França tem o quinto maior contingente militar no país. Existe o temor de que o desvio da França dos planos estabelecidos pela Otan possa estimular outros países a também antecipar a saída de suas tropas.

Parceria Otan e Rússia

Ainda em seu discurso no Parlamento, Merkel reforçou a expectativa sobre uma possível cooperação com a Rússia para a implantação de escudo antimíssil na Europa. A chanceler federal lembrou que a Otan já havia feito a proposta de um trabalho em conjunto aos russos durante um encontro em 2010, o que poderia escrever um novo capítulo nas relações entre a aliança militar ocidental e Moscou. Esta seria a primeira vez que a Rússia e a Otan tomariam em conjunto medidas de defesa militar.

O presidente russo, Vladmir Putin, porém, já recusou há algumas semanas o convite para participar do encontro da Otan. Ele também informou ao presidente norte-americano, Barack Obama, que não estará presente na reunião do G8 – onde será representado pelo primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev.

Com o escudo antimíssil, a Otan pretende proteger a Europa de eventuais ataques de mísseis de curto e médio alcance. Durante o encontro em Chicago, os líderes querem dar sinal verde aos primeiros passos para implantar o sistema, que deve ficará pronto até 2020.

MSB/dpa/rtr/afp/dapd/lusa - Revisão: Roselaine Wandscheer

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta

O trânsito, as mulheres e a habitação

Sai, rectificando o nível de água no tanque mais o gasóleo para o gerador e fiz-me á estrada. Esperava-me uma temporalmente longa viajem de poucos quilómetros. Em Luanda a teoria da relatividade é uma prática efectiva. A relação espaço-tempo, embora não compreendida, é sentida por todos. Faz parte do dominante caos devidamente ordenado.

Um polícia mandou-me parar. Encostei e abri o vidro da viatura. “Documentos”ordenou o agente regulador de trânsito. “Boa tarde senhor agente”, respondi enquanto procurava os documentos, uma serie de talões várias vezes carimbados, exceptuando a carta de condução, único documento acabado. O agente verificou toda a documentação, mas parou num dos papéis: “Este documento está caducado, vais ter de me acompanhar á unidade” replicou o polícia, com um ar grave. “Awê! Caducado senhor agente? Nada! Me explica só”, continuei, com o meu ar inocente. O agente mostrou-me o documento e corrigi: “Me’mo do outro lado, está lá o último carimbo, olha só!” o agente virou o talão e confirmou, contrariado. “Siga”, ordenou o polícia, mandando parar outra viatura. Retomei a marcha e segui, ordenadamente na imensa fila de viaturas, que, ora num lento movimento, ora em momentos parados, expressavam esta concentracionária ordem caótica. Finalmente cheguei ao destino e acendi um cigarro, enquanto tentava estacionar. Alcançado o estacionamento, respirei fundo, e sai. Uma brisa quente, mas consoladora, premiou-me. Um miúdo veio perguntar se podia lavar o carro. Disse-lhe que não, mas que poderia ficar a olhar pela viatura, que eu não iria demorar. “Ya! Tá controlado cota!” respondeu o cadengue com o balde na mão. Aquele miúdo não era mais do que um certo momento presente de um futuro incerto. Possivelmente morreria antes de atingir a fase adulta, mas no fundo daquele olhar existia algo mais do que a sobrevivência. Talvez, ainda, um resto de esperança incompreendida.

Fiz a reunião e fui para casa. O trânsito de Luanda é um tratado de desespero para os poucos que trabalham. Esta é uma cidade para passeio. Os funcionários passeiam-se de carro o dia inteiro, as mulheres passeiam-se nos carros oferecidos pelos amantes, os motoristas passeiam os chineses, libaneses, portugueses e outros estrangeiros em visitas de negócios, os taxistas, vulgo candongueiros, demonstram as suas habilidades rodoviárias, de uma forma frenética, na busca incansável por dinheiro, os chamados transportes colectivos e os seus autocarros inadequados, aparecem nas ruas mais estreitas e inconcebíveis para a sua circulação, os camiões do lixo não têm horários de recolha, os contentores circulam a toda a hora, os carros do executivo transportam ruidosamente os respectivos ministros, assim como as viaturas atribuídas aos deputados. Quando a Presidência sai á rua, este tratado do desespero circulante transforma-se num desespero maior, estacionário. Para combater o desespero, os cidadãos rodoviários metamorfoseiam-se em zombies idiotas, abanando as cabecitas ao som da música que sai pelos altifalantes das suas viaturas ou colocando um ar carrancudo, mas de um carrancudo vazio, que não tem nada para exprimir, a não ser o seu rosto carrancudo. Os 20 minutos transformam-se em duas horas e o tempo fica mole, como nos quadros do Salvador Dali.

O tempo, na estrutura mental banto, é bidimensional. Existe o passado, um imenso macro tempo e o presente, um efémero micro tempo, mas o futuro, a terceira dimensão temporal, é inexistente. É vivido o dia-a-dia, o presente, a pequena esfera do micro tempo, mas essa vivência não é projectada numa outra esfera temporal, o futuro, mas sim absorvida, ao fim de gerações, pelo macro tempo, através do mecanismo ideológico deste, a tradição. Quando finalmente cheguei a casa ainda tinha de subir seis andares (o elevador já tinha desaparecido nas brumas da memória). Como não havia luz nem água, uma vez que as respectivas companhias estavam constantemente a braços, numa luta continuamente infrutífera, com problemas técnicos, havia que ligar o gerador. Relaxei e preparei-me para subir, suadamente, até ao sexto andar.

         Lá subi e lá cheguei, transpirado. O ar condicionado estava ligado e a casa sentia-se fresca. Sentei-me no sofá e li durante uma hora, completamente absorvido, até que o cansaço sobrepôs-se ao interesse. Marquei a página do manuscrito, espreguicei-me, acendi um cigarro e saboreei-o até ao fim. Um bom banho de sais era o que estava a necessitar. Comecei os preparativos e Teo, o gato, afastou-se rapidamente deste ritual de banho. Entrei na banheira e deitei-me, ficando apenas a cabeça de fora, observando o tecto. A infiltração, proveniente do andar de cima, provocava uma mancha que ia dilatando. Já tivera esse problema na sala e resolvi a maka á minha custa. A vizinhança de cima fazia orelhas moucas e tive que puxar os cordões á bolsa perante o olhar idiota, cinicamente idiota, dos meus vizinhos. Respirei fundo. A ira atenuava-se sob o efeito do banho. Amanhã mesmo iria resolver a maka da infiltração mas de certeza que desta vez o tipo de cima não vai ficar a rir. Pensemos em coisas agradáveis…

         As mulheres… O instinto maternal leva-as a uma relação de posse. Possuem e são possuídas. Eu sou a mulher dele e ele é o meu homem! É assim que a coisa é vista pelo lado delas. Por sua vez os homens, devido a terem uma educação assente nos valores patriarcais, desenvolvem uma subcultura nas relações com as mulheres que é o vulgarmente designado machismo. O machismo tem vários níveis, desde o mais vago ao mais acentuado e faz com que os homens conceptualizam as mulheres como objecto de posse, mesmo que não aceitem esse conceito. Mas, na generalidade dos casos, são eles os objectos de posse das mulheres. Elas são seres sagazes e tecem, como as aranhas, longas teias.

A título de exemplo vejam o louva-a-deus. Muito mais pequeno que a fêmea, o macho perde, literalmente, a cabeça. Tudo começa com um ritual que cria a ilusão de que o macho louva-a-deus controla a situação e seduz a fêmea. Mas é apenas uma ilusão. Para a fêmea louva-a-deus tudo isto faz parte de um jogo com perdedor predestinado. Após a consumação do acto a fêmea arranca a cabeça do macho e os restos deste servirão para alimentar a sua prole. Felizmente poucas são as mulheres com o comportamento das fêmeas do louva-a-deus. A grande maioria prefere a estratégia da aranha, ou seja, o enredo da teia.

         Prefiro as mulheres ditas independentes, casadas ou com uma relação de compromisso com outro, para que não possam compor devidamente a teia, pois tornam-se cúmplices de uma relação clandestina o que, de alguma maneira, gera nelas sentimentos de culpa, vergonha e outras patetices que têm a ver com a traição. Relações superficiais? Ocasionais? Medo de assumir uma relação? Nunca posicionei-me nesses termos e não tenciono responder a essas questões, ou discutir o assunto, num divã psicanalítico. Basta-me o encontro, aquele momento animal, selvagem, de choque, em que os corpos suam e tremem de paixão frenética e irracional. È nesse momento que me identifico com Deus, no meio dos fortes amplexos gerados pelo prazer carnal. Depois, após o clímax, sobrevém o ateísmo da amizade e da política.

         Mulheres… O género mais inteligente da espécie! Um dos processos mais interessantes da Revolução em Angola foi o papel da mulher. As mulheres assumiram um protagonismo tal que tornaram-se mais independentes nas suas escolhas do que o resto da Pátria. Aprenderam rapidamente a esperteza da sobrevivência e souberam adequar-se aos tempos. Quando a Revolução descambou numa coisa amorfa elas lideraram o processo. Nas calmas! Cornearam os esposos, souberam ser mães, passearam com os amigos, extorquiram os amantes, responsabilizaram-se pela sobrevivência quando estavam na pobreza, pelo enriquecimento quando provinham de meios mais favorecidos ou tinham casado, ou amantizado, com homens desse meio. Não deixaram de frequentar a militância, nem as igrejas, mas empinaram bem alto o nariz e são, sem sombra de dúvida, o símbolo mais elucidativo da Nação. Uma vez, num avião que vinha de Lisboa, uma hospedeira, ao entregar aqueles papéis para os estrangeiros preencherem, perguntou a uma senhora: “É Angolana?” A resposta da senhora foi rápida e de bom som: “Sou altamente angolana!” Essa expressão ficou gravada para sempre na minha memória. Altamente Angolana! Nunca ouvi um homem dizer: Sou altamente Angolano! Não! Quanto muito os homens ficam-se pelos clichés patrióticos do nacionalismo presidencialista obscuramente difuso que reina neste mundo e no outro ou pela bajulação própria dos pedintes. Mas elas não! Elas assumem de forma elevada, altiva, a sua identidade. Altamente Angolana! Nesta simples afirmação consta todo o conteúdo das mulheres de Angola.

Saí do banho, já completamente descontraído. Sequei-me e coloquei a toalha á cintura, dirigindo-me para a sala, onde me sentei, preguiçosamente, no sofá a ver televisão e a comer batatas fritas. Servi-me um whisky com gelo e fui mudando, aleatoriamente, os canais televisivos enquanto pensava na minha nova casa. Necessitava de mudar de casa. Sou um sortudo privilegiado por dar-me a estes luxos pois a grande maioria não pode pensar nestes termos.

Uma casa nova em Talatona … Era capaz de ser uma boa solução. Iria apenas duas vezes por semana ao escritório e trabalharia mais em casa. Teria de equacionar uma serie de factores, fazer uma pesquisa… Ou - porque não? - comprar um terreno e construir!? Não! Isso é uma chatice pegada! Rouba muito tempo! O melhor mesmo é uma coisa já feita! É mais caro mas ganha-se no tempo e é menos stressante! Telefonei de imediato ao meu tio que é sócio de um banco bué que me disse que sim. “Está á vontade que assino o bilhete e vais lá buscar a bufunfa. Contigo não há makas!”

         Ainda era cedo e decidi sair. Dei uma volta pela Ilha e entrei num dos muitos bares, restaurantes esplanadas, junto á praia. Era fim de tarde, apetecia-me beber e conversar com gente. Alguém me perguntou se já tinha encontrado o terreno. “Ainda”, respondi, apreciando a frescura da cerveja. “Mas queres terreno ou já casa feita, num condomínio?”, voltou o meu amigo á carga. “Repara:”, disse-lhe, “um terreno permite-me construir a casa como eu quero. Essa é a grande vantagem. Mas teria de ser um terreno numa área distante da cidade, para sair a um preço que me liberte orçamento para a construção. Ora, tudo isto, acarreta desgostos, despesas e dores de cabeça. A fase de construção, a fase do saneamento básico, os acabamentos, a água e a luz, o processo burocrático, as gasosas, enfim toda uma serie de despesas variáveis, não contabilizadas no período de planeamento. Tudo isto sempre com o risco de, quando tudo tiver processado, morrermos com um ataque cardíaco, na conclusão da análise de custos, ou, na melhor das hipóteses, aparecer um tipo qualquer a bater-te á porta, cheio de medalhas de honra e divisas de general de não sei quantas estrelas e luas reclamando a propriedade.” Bebi um gole de cerveja e continuei. “ Por sua vez, ao comprar uma casa num condomínio, poupo todos esses desgastes, fiscos, morais, psíquicos e financeiros, embora fique com uma estrutura que não foi concebida a meu gosto.” “É verdade”, retorquiu o amigo, pensativo. “Tens de pesar os prós e os contras. De qualquer forma quando te decidires fala comigo. A propósito: o que vais fazer com o teu actual apartamento?” “ Alugá-lo”, respondi de imediato. “Apita”, despediu-se o amigo.

A caminho de casa optei pelo condomínio. Os condomínios cresceram como cogumelos em torno de Luanda. Produtos para a classe média alta e para as elites, com algumas ilhas para a incipiente e incerta classe média-baixa, inacessíveis aos bolsos rotos, estas construções constituem uma das muitas formas de não resolver coisa nenhuma. Ficam para ali, como bolhas de isolamento, onde as aparências e a ilusão são as palavras de ordem. Os mais ricos usufruem-nas de diversas formas, servindo muita vez de 3ª, 4ª ou 5ª habitação, arrendando-as, ou utilizando-as como refúgio de alguns fins-de-semana. Quanto á classe média alta permite-lhe um elevado exclusivismo que os seus componentes adoram. As classes médias mais abaixo, gradualmente, ostentam outras prioridades. Para uns sectores representa uma forma de se passearem num infindável viver com qualidade, para outros representa um sacrifício compensatório. Depois, todos, mais ricos, ricos e menos ricos, encontram-se no caminho e percorrem as filas da manhã até chegarem á cidade, peregrinação repetida no sentido inverso durante a tarde, saltitando por vastas zonas de musseques, habitados por trabalhadores, desempregados, bons malandros e malfeitores, ausentes e delinquentes, velhos arrastando-se e jovens de olhar vazio, mulheres fazendo pela vida e mulheres de vida feita, ladrões e polícias.

Os condomínios são sempre coisas estandardizadas, onde a própria noção de personalização é estandardizada. As habitações eram razoáveis e minimamente interessantes. Os preços pouco racionais, um pouco a caminharem para a fronteira do absurdo, o que é absolutamente normal nas economias de contentores mais avançadas, as economias de casino-contentor, forma de transição de uma economia geradora de pobreza para uma economia de manutenção da pobreza.

Concluindo: acabei por ficar com uma coisa chamada T3, que tem piscina, garagem e jardim, para além de um muro que garante a privacidade de um espaço que estava inserido num microuniverso de privacidade. Privacidade dentro da privacidade foi das poucas coisas que me agradaram. Só que comprar uma casa para habitar, não é, ao contrário da opinião geral, adquirir um activo. Os activos são investimentos que nos garantem receitas. Ora a aquisição de habitação é uma fonte de despesas. Hipotecas, empréstimos, escrituras, impostos, taxas, recheios, decoração, alterações...tudo despesas, nada de receitas. Para ser um activo a casa tem de ser vendida ou arrendada. Só então poderá dizer-se que foi ou não um bom investimento, pois este só poderá ser qualificado no acto de rentabilização e não no acto de compra. Estou ciente de que adquiri um passivo.

         Á priori o Homem não devia ter domos. O domos é uma consequência da sedentarização, embora tenha começado no nomadismo. O Homem caminhante transportava a casa para onde quer que fosse. Talvez numa fase anterior o Homem fosse um ocupador de espaços, caminhasse sobre a Terra toda e pernoitasse ou permanecesse durante algum tempo num determinado espaço e que depois partisse e assim vivesse. Mas a livre tarefa da ocupação de espaços deu lugar a actividade de andar com a casa atrás. E este foi, sem dúvida, o momento inicial da sedentarização, onde esta se começou a sedimentar no espírito humano. As casas tornaram-se cada vez mais complexas, mais pesadas, maiores e eis que nasce a habitação fixa, com toda a sua carga tenebrosa de responsabilidade familiar, obrigações, fetiches e todas as coisas que nos levaram ao que somos hoje no presente, enquanto espécie política.

Cidade, cidadania, polis, politica…. Urbanismo… Será que os abutres das imobiliárias também andam atrás dos nómadas?

* Ver todos os artigos de Rui Peralta – também em autorias na barra lateral

INDIGNADOS DA ESPANHA PEDEM APOIO POLÍTICO DO BRASIL




Naira Hofmeister, Madri – Carta Maior

Integrantes do movimento apostam na interlocução com agentes públicos do país para fortalecer a organização, vista por governos e por parte da população como um grupo de protesto sem objetivos concretos. "Nas suas reuniões pelo mundo, quando ouvirem que o 15M não tem propostas, indiquem a leitura da nossa Demanda de Mínimos que está na internet", sugeriram ativistas ao governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, em Madri. A reportagem é de Naira Hofmeister, direto de Madri.

Madri - Eles não se sentem representados por partidos políticos e questionam até a atuação de sindicatos, mas viram em experiências de participação popular desenvolvidas pelo governo do Rio Grande do Sul elementos comuns a suas demandas. São Os Indignados, que questionam a agenda política que atende aos interesses de 1% da população ligada ao capital financeiro em detrimento dos outros 99%.

A crítica ao sistema foi exposta publicamente nas ruas da Espanha a partir de maio de 2011 e ganhou repercussão com os acampamentos em praça pública que inspiraram atos semelhantes em todas as partes do mundo.

Em Madri, onde manteve uma agenda política e econômica no primeiro final de semana de maio, o governador Tarso Genro se encontrou com integrantes do movimento - eles não admitem ser chamados de líderes, porque defendem uma organização horizontal.

O que era para ser uma troca de ideias, na qual Tarso se dispunha a ouvir críticas à estrutura tradicional dos partidos e outras bandeiras do grupo, se transformou em um convênio informal entre o governo do Estado e o 15M (o movimento também é chamado assim em alusão à sua data de fundação, 15 de maio). E em um ato de desagravo aos Indignados.

“Acampar se tornou ilegal na Espanha, a imprensa nos criminaliza, a polícia nos persegue. Precisamos de pronunciamentos em nível internacional para suportar isso. Queremos apenas falar dos problemas da sociedade e de como ela poderia ser”, explicou Javier Toret, um jovem catalão que participou da montagem da rede digital de descontentes que disparou a campanha “Toma as ruas” e que originou o 15M.

Ocorre que em razão da heterogeneidade de manifestantes e bandeiras, a força política do grupo - que calcula ter mobilizado 8 milhões de pessoas em toda a Espanha nos três primeiros meses de atuação - se diluiu um pouco. “Temos capacidade de construir uma alternativa, mas para isso precisamos de interlocutores em governos e na sociedade civil”, avaliou Raúl Sanchez, que ciceroneou o governador Tarso Genro pelo centro cultural comunitário La Tabacalera, onde ocorreu o encontro.

Os Indignados salientaram a importância de ter apoio internacional e formar uma rede de cidadania global diante das pressões que vêm sofrendo na Europa: eles temem, inclusive, uma repressão violenta no próximo 12 de maio, quando ocorrerá um grande ato em diversas cidades espanholas para marcar um ano do movimento. “Se tivermos esse tipo de problema, é muito importante divulgar em outros países”, exemplificou Toret.

“Também queríamos pedir que nas suas reuniões, quando ouvirem que o 15M não tem propostas, indiquem a leitura de Demanda de Mínimos que está na internet. São meia dúzia de documentos e estão direcionados tantos a socialistas como à classe média”, complementou a ativista Simona Levi.

Tarso se mostrou simpático à provocação democrática que o movimento propõe, mas não deixou de fazer observações críticas. “Quando vocês tomaram a praça para dizer '¡No nos representan!', foram notícia em todo o mundo, mas depois desapareceram porque propõem a radicalização do Estado de Direito. Como os argentinos, quando em 2001 saíram às ruas para pedir '¡Que se vayan todos!' – o problema é que se sai a política, ela é substituída pela burocracia e pelo capital
, avaliou o governador.

Movimento quer aproveitar modelo de participação popular

O governador gaúcho Tarso Genro se comprometeu a enviar para Os Indignados documentos que embasaram a construção do chamado Sistema de Participação Popular no Rio Grande do Sul. Trata-se de um conjunto de ferramentas que une desde a experiência do Orçamento Participativo, que dá às comunidades o poder de decidir prioridades nos gastos públicos em assembleias presenciais, até a Consulta Popular, no qual a população elege um projeto através de uma votação nas urnas e na internet.

Outro processo que integra o sistema chamou a atenção dos Indignados: o Gabinete Digital, com projetos como O Governador Pergunta e O Governador Responde, no qual dialoga virtualmente com a população, ou a Agenda Colaborativa, que recebe sugestões de pauta dos cidadãos via web.

“É preciso organizar um controle público sobre o Estado, implementar mecanismos de transparência e democratização da gestão para reduzir a força normativa do capital financeiro sobre os governos”, avaliou o chefe do executivo do Rio Grande do Sul.

Tarso ainda se comprometeu a encaminhar ao grupo relatórios sobre o Marco Civil da internet brasileira, texto que estabelece os princípios de uso da rede no país e que foi redigido quando ele era ministro da Justiça. Atualmente tramita no Congresso Nacional.

“Aqui na Europa se tende a restringir ao máximo o uso da internet. Estamos patrocinando apresentações para explicar aos eurodeputados que a rede é uma ferramenta para a democracia”, lamentou Simona.

O grupo se interessou ainda em receber informações sobre os projetos de economia solidária desenvolvidos no Brasil e no Rio Grande do Sul.

Fotos: Caco Argemi/Palácio Piratini

Brasil: Aproximadamente 10 anos depois, 5 réus são julgados no caso Celso Daniel


Celso Daniel

Correio do Brasil, com ABr - de Brasília

No julgamento desta quinta-feira, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, o Ministério Público Estadual vai sustentar a tese de crime com motivação política para a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, disse o promotor Márcio Augusto Friggi de Carvalho.

- O Ministério Público defende, com relação ao homicídio do prefeito Celso Daniel, a tese de crime político, por motivação política. A tese do Ministério Público sempre foi essa. O Ministério Público nunca concordou com a versão inicial dada pela Polícia Civil e depois respaldada pela Polícia Federal. Não se trata de discordar da polícia. A polícia fez um excelente trabalho – disse.

- Essa primeira conclusão andou bem: a polícia identificou os executores efetivos do arrebatamento. Mas o Ministério Público já investigava a situação de corrupção envolvendo a prefeitura de Santo André e, dentro desse cenário, indícios apareceram que levaram à conclusão de que não se tratava de crime comum, nem de sequestro convencional – acrescentou.

De acordo com o promotor, “o prefeito de Santo André conhecia o esquema, sabia que havia corrupção e que o dinheiro era desviado para o caixa 2 do Partido dos Trabalhadores (PT). Ele foi morto porque, em determinado momento do funcionamento desse esquema de corrupção, ele descobriu que o dinheiro não era todo encaminhado para a campanha política. Parte do dinheiro era levado para enriquecimento pessoal dos participantes do esquema, dentre eles, o Sérgio Gomes da Silva, empresário e amigo de Celso Daniel, conhecido como Sombra”.

O esquema de corrupção, segundo Carvalho, envolvia fraudes em licitação e corrupção no setor de transportes e de coleta de lixo. O dinheiro desviado era então utilizado para a campanha eleitoral do partido em 2002. O Ministério Público ainda não sabe quanto foi movimentado nesse esquema, mas avalia que mais de R$ 1,2 milhão foi movimentado pelo partido em um primeiro momento.

Sentaram no banco dos reus cinco acusados da morte do prefeito, são eles: Itamar Messias dos Santos Filho, Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como Monstro, Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho, José Edison da Silva e Elcyd Oliveira Brito, o John. Na denúncia, o Ministério Público pede a condenação dos réus por homicídio duplamente qualificado mediante pagamento e com recurso que dificultou a defesa da vítima.

Celso Daniel foi sequestrado no dia 18 de janeiro de 2002, quando saía de um jantar com o amigo e empresário Sombra, que não foi levado pelos bandidos. O prefeito ficou em um cativeiro, em Juquitiba, próximo à Rodovia Régis Bittencourt, que liga São Paulo ao Sul do país, mas dois dias depois foi executado com oito tiros. Para o promotor, Sombra é o mandante do crime.

O empresário é também réu no processo e responde em liberdade, beneficiado por um habeas corpus. Sombra, no entanto, não estará no julgamento amanhã, já que o seu processo foi desvinculado dos demais. Ele entrou com recurso no Tribunal de Justiça para não responder por participação no crime, mas a sentença de pronúncia foi confirmada pelos desembargadores. O juiz aguarda apenas o retorno do processo ao tribunal para marcar a data de seu julgamento.

Na versão do Ministério Público, o empresário contou com a ajuda de Dionísio de Aquino Severo (morto dentro da prisão, em 2002) para contratar, por cerca de US$ 40 mil, um grupo de pessoas a fim de cometer o crime.

Passados dez anos da morte do prefeito, Marcos Roberto Bispo dos Santos foi o único condenado até agora. Em novembro de 2010, Santos foi sentenciado a 18 anos de prisão.

O Ministério Público disse que não arrolou testemunhas para o julgamento por entender que não há necessidade, já que mais de 100 pessoas foram ouvidas durante o processo. Os advogados dos réus, no entanto, relacionaram 13 testemunhas de defesa.
A Agência Brasil procurou o PT para falar sobre o julgamento. A legenda informou, por meio de nota, que “o Partido dos Trabalhadores acompanha o julgamento esperando que a justiça seja feita e que todos os culpados sejam exemplarmente punidos”.

O caso

As investigações também: seguindo um estranho roteiro, a procura pelos assassinos esbarrava sempre em evidências de corrupção. E mais mortes. Sete pessoas ligadas ao crime morreram em circunstâncias também misteriosas, entre acusados, testemunhas, um agente funerário, um investigador e o legista do caso.

Conforme a versão da polícia, abraçada pelos petistas, Celso Daniel foi vítima de crime comum: extorsão mediante sequestro, seguido de morte. Já familiares afirmam desde o início do caso que a morte do prefeito é um crime político em torno de um esquema de propina em Santo André que era do conhecimento da cúpula petista. É também a tese do Ministério Público: desentendimentos sobre a partilha dos recursos teriam motivado o assassinato.

O MP saiu vitorioso no primeiro julgamento do caso, em 2010. Ao sentenciar Marcos Roberto Bispo dos Santos a 18 anos de prisão, por ter atuado como motorista do bando que sequestrou Daniel, a Justiça acolheu a tese de que o prefeito foi morto por encomenda, após romper com participantes de um crime do qual ele fazia parte com a cumplicidade do PT: desvio de verbas para abastecer o caixa 2 do partido.

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Portugal: Portugueses forçados a pagar 21 MME do descalabro do BPN e das PPP



Sol – Lusa, com foto

O antigo secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, afirmou hoje, em Bragança, que os portugueses têm uma conta para pagar de 21 mil milhões de euros relativa apenas aos processos do BPN e das Parcerias Público Privadas.

«Nós estamos forçados a pagar até 2020, só dos custos da Parcerias Público Privadas (PPP) e do descalabro do BPN, 21 mil milhões de euros. Já está na conta para pagarmos», declarou.

Carvalho da Silva falava a uma plateia de estudantes do Instituto Politécnico de Bragança, numa conferência sobre trabalho e desigualdades perante a crise, onde defendeu ser necessário «romper com isto» e questionou os sacrifícios que estão a ser pedidos aos portugueses.

O dirigente sindical considerou que a riqueza do país «não pode continuar assim» e que os problemas não se resolvem «por imposições autoritárias: têm de ser discutidos na sociedade».

«Temos de contrapor à crise uma crítica acutilante que abra caminhos alternativos, a crise não pode acabar por ser a submissão às inevitabilidades e a poderes desequilibrados que, em regra, vêm associados ou são construídos com o próprio conceito de crise», declarou.

Carvalho da Silva defendeu ainda a necessidade de «um sistema financeiro, bancário, que apoie o desenvolvimento privado e público e das actividades que o país possa desenvolver».

«Como é que se pode dizer às pessoas que sejam empreendedores, criem emprego, quando as pessoas não têm no sistema financeiro disponibilidade para apoiarem as iniciativas? Isto é uma vigarice, anda-se a enganar as pessoas», afirmou.



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