segunda-feira, 2 de abril de 2012

Timor-Leste: Línguas maternas não são de instrução, mas instrumentais - ME



MSO - Lusa

Aveiro, 02 Abr. (Lusa) - O ministro da Educação de Timor-Leste, João Câncio, revelou hoje que já estão a ser usadas línguas maternas no ensino básico, em três distritos, mas tal não põe em causa as línguas oficiais, Português e Tétum.

De acordo com o ministro, o projeto-piloto de uso das línguas maternas está a começar nas escolas de três distritos, em que o Tétum e o Português não são praticamente falados: Lautém, Manatuto e Oecussi, este último "onde até é ainda a língua indonésia a dominante".

João Câncio Freitas falava à Lusa em Aveiro, à margem da apresentação do livro «Memória das políticas educativas em Timor-Leste: A consolidação de um sistema (2007-2012)» , da autoria de Ana Margarida Ramos e Filipe Teles.

O ministro timorense sublinhou que o uso de línguas maternas no pré-escolar e primeiros anos do básico não pode ser confundido com a sua adoção como línguas de instrução, que são as línguas oficiais, mas apenas como instrumentos de introdução do conhecimento.

"Há quem pense que as línguas maternas vão ser de instrução, mas não é verdade. Em 2005, quando se elaborou o currículo dos primeiros seis anos, não foi bem refletido que o Português e o Tétum não são as línguas faladas em casa de muitas crianças", disse.

João Câncio Freitas deu como exemplo a dificuldade e frustração que é, para um aluno que nunca ouviu Português ou Tétum, entrar para a escola e ter um livro no seu primeiro ano todo em Português.

"As línguas maternas são apenas instrumentos de aprendizagem e de introdução do conhecimento e depois dá-se a passagem para as línguas de instrução", esclareceu.

Para o ministro timorense, a introdução desse projeto-piloto não significa que as duas línguas oficiais, Português e Tétum, sejam postas em causa, havendo mesmo a aposta no seu reforço por parte do Governo Timorense, que está disponível e interessado em acolher um maior número de professores portugueses.

"Temos tido uma colaboração excelente nos últimos cinco anos, com Portugal e o Brasil, primeiro com a reintrodução da Língua Portuguesa, que foi interrompida durante 24 anos, e estamos agora a dar passos à frente para melhorar a qualidade do ensino, com a formação inicial e contínua de professores e com as escolas de referência, o que é importantíssimo para o desenvolvimento do País", concluiu.

O seu homólogo português, Nuno Crato, igualmente presente no lançamento do livro, garantiu que o Estado Português vai continuar a colaborar com as autoridades timorenses, nomeadamente para expandir as escolas de referência (atualmente cinco) de forma a cobrir os 13 distritos do País.

"Angola precisa libertar-se da dependência do petróleo", diz Justino Pinto de Andrade



Deutsche Welle

No aniversário dos dez anos de paz em Angola, o economista Justino Pinto de Andrade acredita que riquezas como petróleo e diamante precisam impulsionar outros setores da economia do país, como a indústria e agropecuária.

Ele é descrito em Angola como um intelectual de mão cheia. Diretor da Faculdade de Economia da Universidade Católica, é ainda cronista, escritor e comentarista político da Rádio Ecclésia, a emissora católica de Angola. Justino Pinto de Andrade também é presidente do partido da oposição, Bloco Democrático.

Antigo membro de proa do MPLA na luta de libertação, ele já foi preso varias vezes por discordar do status quo político em varias épocas. Também foi preso político em Angola e no campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, durante o período colonial.

Em entrevista à DW África, Justino Pinto de Andrade diz que Angola precisa gerar desenvolvimento, e não apenas crescimento econômico. E assinala as principais conquistas do país nos últimos dez anos.

DW África: Quais são, do seu ponto de vista, as maiores conquistas dos dez anos de paz em Angola?

Justino Pinto de Andrade: Muita gente regressou ao interior do país, voltou ao seu habitat natural, com seus familiares, e este reencontro é positivo.

Hoje também já podemos circular dentro do país sem grandes dificuldades. As estradas foram reconstruídas, outras foram construídas, então os angolanos já podem circular por estrada, o que era impossível no passado.

DW África: Depois da paz, Angola teve um crescimento notável em vários aspectos, principalmente econômico. Como se pode explicar, na sua condição de economista, que estes dividendos da paz não sejam notáveis em todos os setores da vida nacional?

JPA: Bom, são dez anos, não são cem anos. E em dez anos é possível fazer alguma coisa, não é possível fazer tudo. A paz permitiu que alguns setores da nossa sociedade se beneficiassem de forma grandiosa, e outros ainda estão a conhecer apenas alguns benefícios, mas há também quem tenha conhecido malefícios. Em resumo, há benefícios diretos e há benefícios indiretos. O que nós queremos hoje são os benefícios diretos.

Não queremos só estradas e pontes. Nós não queremos só poder circular, nós também queremos que haja um aumento no rendimento das famílias, para que se possa viver com maior desafogo, com maior qualidade de vida. É isto que está a faltar. Mas com o tempo e com outras políticas mais ajustadas, nós poderemos seguramente melhorar aquilo que está mal.

DW África: Angola é um país com muita riqueza, como o petróleo e a extração de diamantes. Podemos dizer que esta riqueza se trata, na verdade, de uma maldição?

JPA: Pode ser uma bênção e pode ser uma maldição. Será uma bênção se ela permitir não só aumentar o rendimento global da nossa sociedade, mas permitir também induzir outros rendimentos. Será uma maldição se ela matar outros setores de atividade.

Por exemplo, nas Lundas, que é a zona mais privilegiada em termos de diamantes. Nas Lundas o diamante não é uma bênção; é uma maldição, porque nem toda a gente se beneficia do diamante. As populações originárias daquela zona não tiram benefício do diamante. Apenas algumas pessoas têm benefício com os diamantes.

E inclusive quando se explora o diamante, impede-se o desenvolvimento da agricultura e da pecuária, e nós sabemos que as Lundas são zonas que deveriam ser zonas privilegiadas de produção agropecuária, por exemplo. Não há outras indústrias também que tenham sido induzidas pelo diamante nas Lundas.

Assim como em Cabinda, onde pelo menos 50% do petróleo são extraídos, nós sentimos que as populações não se beneficiam diretamente da grande riqueza que têm no seu mar. E por isso dizer ao povo de Cabinda que o petróleo é uma bênção é estar a gozar com o seu destino. Porque inclusive por causa desta riqueza e de outras questões desevolve-se ali um conflito que tem custado uma grande instabilidade e até muitas vidas humanas naquela região do país.

É evidente também que hoje se assiste em outras áreas do país a produção agrícola, o surgimento de alguma indústria, o alojamento do comércio, mas tudo isso está condicionado ao petróleo. E quando o petróleo condiciona o desenvolvimento nas outras áreas, significa que um mal momento para o petróleo se transformará também num mal momento para as outras áreas.

Nós temos que alargar o leque da nossa atividade econômica, temos que reduzir cada vez mais a nossa dependência em relação ao petróleo e não estamos a conseguir com êxito ainda. Ainda estamos fortemente dependentes do petróleo.

DW África: O que acha sobre a questão das liberdades, comparando antes do fim da guerra e hoje, qual seria o seu balanço?

JPA: Nós durante a guerra centrávamos toda a nossa atenção sobre o conflito e tudo era desculpável em nome do conflito, inclusive violações flagrantes dos direitos humanos e das liberdades das pessoas. Hoje nós não temos guerra e continuamos a ter flagrantes violações dos direitos humanos em Angola e limitações bastante grandes às nossas liberdades.

Eu penso que isto é fruto da cultura que prevaleceu não só por causa da guerra mas também pela cultura política do partido único. Isto é, deixar formalmente que os outros existam, mas na realidade, na prática, condicionar demasiado a sua atividade. E isto na realidade não pode ser visto como democracia. Nós estamos a viver um momento de contração no espaço das liberdades dos cidadãos.

DW África: Para os próximos dez anos de Angola, qual seria o seu desejo?

JPA: Primeiro de tudo que o país se pacificasse na íntegra. Segundo, que nós tivéssemos um maior desenvolvimento econômico, não só crescimento econômico: um crescimento que se refletisse sobre a vida das pessoas em todas as suas dimensões. Além disso, que nos libertássemos da forte dependência que temos do petróleo e que também tivéssemos uma vida política mais ativa, mais livre e mais democrática.

Autor: Manuel Vieira (Luanda) - Edição: Francis França/António Rocha

Formalmente constituída, coligação CASA propõe "contrato social" aos angolanos



EL - Lusa

Luanda, 02 abr (Lusa) - A coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA), formalmente constituída hoje em Luanda, propõe aos angolanos um "contrato social" para garantir uma alternativa política ao MPLA, no poder, e à UNITA, maior partido da oposição.

"O objetivo fundamental são as eleições gerais de setembro, mas paralelamente a esse objetivo maior, queremos desenvolver ações para apoiar os angolanos e concretizar projetos sociais, em concertação com todos os partidos", disse à Lusa Lindo Bernardo Tito, vice-presidente e porta-voz da CASA.

A coligação é liderada por Abel Chivukuvuku, antigo dirigente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), eleito hoje juntamente com os restantes órgãos de direção, em lista única, pelos 690 delegados presentes.

A cerimónia de abertura, em que não esteve representado nenhum dos partidos com assento parlamentar, foi preenchida com mensagens de apoio, tendo a seguir às eleições do Conselho Presidencial (cinco membros) - encabeçado por Chivukuvuku -, e dos conselhos Executivo (27 elementos) e Deliberativo (223 elementos), os trabalhos passado a decorrer à porta fechada.

As portas abrem-se novamente na manhã de terça-feira para a posse dos órgãos de direção, leitura do comunicado final e o discurso de encerramento de Abel Chivukuvuku.

No seu "Manifesto ao Povo Angolano", a coligação propõe 10 princípios ao eleitorado, que vão desde a "consolidação da paz, reconciliação nacional e estabilidade social", até à "modernização do Estado, através de uma reforma institucional para um novo sistema político".

No documento, a CASA considera que "os atos administrativos ilícitos e de má-governação cometidos no passado" fazem parte de uma etapa que está definitivamente encerrada, pelo que acentuam não ser seu propósito "procurar culpados, mas sim investir energias no engrandecimento de Angola".

De realçar que a coligação propõe a retirada das efígies de personalidades políticas vivas ou falecidas que constam no papel-moeda em circulação em Angola, de selos e documentos de identificação, quando estiverem em causa "propósitos de exploração em benefício político do Governo".

Presentemente, as notas de kwanzas, a moeda nacional de Angola, e os bilhetes de identidade apresentam as efígies do primeiro Presidente da República, António Agostinho Neto, e do atual chefe de Estado e líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), José Eduardo dos Santos.

A CASA foi publicamente apresentada no passado dia 14 de março por Abel Chivukuvuku, que caraterizou a coligação como a terceira via face ao MPLA, atual partido no poder, e a UNITA.

Moçambique: Homens que tentaram vender amigo vão a julgamento



AYAC - Lusa

Chimoio, 02 abr (Lusa) Os dois homens que tentaram vender um amigo de 22 anos há dias no distrito de Manica, no centro de Moçambique, serão julgados próxima semana, disse hoje à Lusa fonte policial.

Pedro Jemusse, comandante distrital da polícia em Manica, disse que os dois homens (genro e sogro), cujo processo-crime já foi remetido ao tribunal local, deverão responder por tentativa de venda de ser humano, mas as investigações continuam para a localização da compradora.

"Agora aguardamos o julgamento dos dois homens e esperamos uma punição exemplar das autoridades competentes para desacelerar as tentativas de vendas de seres e ou órgãos humanos", disse à Lusa, Pedro Jemusse.

Os dois homens, detidos pela polícia, com promessas de emprego terão atraído o jovem a deslocar-se de Nhamatanda (Sofala) para Manica, onde seria vendido supostamente para extracção de órgãos genitais. O jovem seria vendido por 200 mil meticais (5.405 euros)

"Os dois indivíduos decidiram vender uma pessoa, por isso usaram o emprego como isco para o jovem sair de Nhamatanda para Machipanda, onde o negócio deveria decorrer para depois o levar para Tete onde estava a compradora e serem extraídos os órgãos. A polícia infiltrou-se no negócio e conseguiu deter os vendedores", explicou à Lusa Belmiro Mutadiua, porta-voz do comando provincial da policia em Manica.

Este é o terceiro caso de venda de pessoas para extração de órgãos genitais abortada pela polícia este ano. No total oito pessoas estão detidas e investigações ainda estão em curso para descobrir os mandantes e ou compradores.

"A polícia continua a trabalhar para neutralizar a senhora que estava à frente do negócio em Tete, onde o jovem seria recambiado para ser degolado. E estamos atentos para evitarmos que o negócio de órgãos humanos prospere", afirmou Mutadiua.

No princípio de fevereiro a polícia do distrito de Manica deteve um zimbabueano e dois nacionais por rapto de uma criança de cinco anos, quando vendia fruta, e que seria vendida a um comerciante da região.

Antes disso, em janeiro, a polícia abortou a venda de um jovem, 19 anos, no distrito de Gondola, que seria degolado, caso o negócio fosse aprovado pelos traficantes, que pretendiam "adquirir" três crianças entre os zero e os três anos, mas que ficaram de apreciar uma oferta de um rapaz mais velho.

Três pessoas foram detidas, incluindo uma ex-chefe do governo local que era funcionária da Administração distrital de Gondola.

Em 2010, o Tribunal Judicial Provincial de Manica (TJPM) julgou pelo menos sete processos de venda, extração e tráfico de órgãos e 16 pessoas foram condenadas, entre empresários e curandeiros, envolvidos como mandantes e compradores dos órgãos humanos, geralmente usados para "fins satânicos".

Transportadores de passageiros paralisam em protesto contra mau estado das estradas



HYC - Lusa

Maputo, 02 abr (Lusa) - Transportadores privados de passageiros, vulgo "chapas", paralisaram hoje a atividade na estrada T3-Benfica, nos arredores de Maputo, em protesto contra o mau estado da via, impedindo milhares de pessoas de chegar à capital moçambicana.

A polícia moçambicana disparou alguns tiros para forçar os transportadores a retirarem os seus veículos, colocados no meio da estrada para impedir a circulação, e deteve três pessoas.

"É difícil circular com estas estradas esburacadas, o município não repara e sempre que vamos à inspeção dos veículos dizem que os nossos carros não estão em condições de circular devido a avarias por causa dos buracos. Hoje não vamos trabalhar, estamos cansados de estragar os carros", disse à Lusa Vasco Muchanga, um dos transportadores que aderiram ao protesto.

Carlos Novela, transportador na rota Benfica-Cidade da Matola, que passa pela estrada do Bairro T3, disse que, além de estragar as viaturas, a degradação da via faz com que uma viagem que devia ser feita em 10 minutos dure 25 minutos.

"Levamos muito tempo para chegar a tempo, temos estradas esburacadas, quando chove, é lamentável o que acontece, não há como circular. Fazemos essa manifestação para ver se o município nos ajuda, assim não dá", queixou-se Carlos Novela.

Para chegar à capital, muitos utentes da estrada do Bairro T3, principalmente trabalhadores e alunos, tiveram que caminhar várias horas a pé.

"Fiquei muito tempo na paragem, os carros não levam ninguém, eu já estou atrasada, mas tenho que caminhar até um sítio onde irei encontrar ´chapa`. Os ´chapeiros` têm razão em fazer a greve, a nossa estrada está uma lástima, os carros estragam", disse Antonieta Chissandro, estudante.

Os transportadores garantem que vão retomar a atividade na terça-feira, mas poderão voltar a parar a qualquer altura, como forma de pressionar as autoridades a reabilitarem a estrada.

POBRE, POBRE É O ANTÓNIO MEXIA!




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Enquanto Portugal têm gestores que ganham modestamente, casos de António Mexia na EDP e Faria de Oliveira na CGD, 1,9 milhões de pessoas vivem abaixo do limiar da pobreza.

Segundo disse hoje o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), "às vezes parece que não é suficientemente forte a vontade de combater a pobreza, até para se cultivar a clientela".

"Os números da pobreza em Portugal são preocupantes", porque "cerca de 20%" da população vive ou está em risco de viver em pobreza", ou seja, com "menos de 260 euros mensais", lembrou o padre Lino Maia.

Embora consciente de que os problemas dos escravos portugueses não constam das preocupações dos donos do país, Lino Maia lá vai lembrando que os idoso e as famílias numerosas são "os grupos de risco mais propícios a caírem na pobreza", por razões como o "desemprego, salários de miséria e pensões ainda mais miseráveis".

Desemprego? Salários de miséria? Pensões ainda mais miseráveis? Não, não pode ser. Nunca o primeiro-ministro do reino, o tal que dizia que “ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam”, permitiria tal coisa. Ou não será?

"De entre os 27 países da União Europeia, Portugal é um dos nove mais pobres, existindo cerca de 1,9 milhões de pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza, na sua maioria no Norte", recordou Lino Maia, perguntando: "Haverá vontade de fazer diminuir consideravelmente a pobreza?"

O salário mínimo nacional dos portugueses de segunda (todos aqueles que não pertencem ao mundo putrefacto da política e actividades correlativas) teve um acréscimo de apenas 88 euros desde 1974, enquanto que as pensões mínimas de velhice e invalidez aumentaram apenas 38 euros nos últimos 36 anos. Ou seja, até 2010.

E depois venham dizer que o direito à indignação só passa por manifestações pacíficas, do tipo: quanto mais me bates mais gosto de ti. E depois venham dizer que houve uma revolução em Portugal.

A propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, a Pordata divulgou em 2011 alguns dados estatísticos relativamente à situação económica e social do reino lusitano cada vez mais próximo de Marrocos.

Comparando a evolução do salário mínimo e das pensões mínimas de invalidez e velhice desde 1974 até 2010, e descontando o efeito da inflação, constata-se que hoje os beneficiários desses apoios sociais auferem apenas mais 88 euros e 38 euros respectivamente.

E com tão excelentes aumentos, e os dados – repita-se – são vão até 2010, é curial que o Governo actual entenda que pôr esses portugueses a pão e água, eventualmente a farelo, é uma legítima forma de os obrigar a contribuir para o esforço remuneratório da casta superior formada pelos políticos e toda a corja que os rodeia.

Nesse mesmo ano (2010), correspondia a 15 por cento da população portuguesa o número de pensionistas de invalidez e velhice da Segurança Social com pensões inferiores ao salário mínimo, o que significa que perto de um milhão e meio de pessoas estavam nessa situação.

Além disso, existia mais de meio milhão de pessoas a receber o Rendimento Social de Inserção, dos quais quase metade (47%) com menos de 25 anos.

A Pordata revela ainda que em 2009 (últimos dados disponíveis) Portugal era o quarto país da União Europeia com maiores desigualdades de rendimentos entre os mais ricos e os mais pobres, sendo que o rendimento dos mais ricos era 6 vezes superior ao dos mais pobres (a média europeia era de cinco).

Daí que, como muito bem dizem os donos do reino, continua a ser necessário pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres. Continuam os milhões que têm pouco ou nada a trabalhar para encher o bandulho dos poucos que têm cada vez mais milhões.

Mesmo após as transferências sociais, quase uma em cada cinco pessoas (17,9%) era pobre, 37 por cento dos agregados constituídos por um adulto com uma ou mais crianças e 33 por cento dos agregados só com idosos também viviam em situação de pobreza.

Em apenas quatro anos (de 2005 a 2009), Portugal passou do 17º para o 9º país com a taxa de risco de pobreza mais alta da UE. Seja como for, esqueléticos fisicamente e apodrecidos mentalmente, os portugueses de segunda continuam a ser uma povo pacífico capaz, pelo menos até agora, da dar o cu e uns cêntimos (os euros já foram todos) por um prato de lentilhas.

Sem as transferências sociais, a taxa de risco de pobreza em Portugal seria cerca do dobro do que é actualmente, revela ainda a Pordata, esclarecendo que em Portugal é pobre quem vive com um rendimento mensal (por adulto) próximo dos 400 euros. Não seria aconselhável, para haver menos pobres, baixar esse valor para 200 euros?

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: Se Sócrates lambia as botas a Chavez, o que faz Passos Coelho a Eduardo dos Santos?

Desemprego: Subsídios mais baixos e por períodos mais curtos a partir de hoje



Isabel Tavares – i online

Em Julho entram em vigor as regras a aplicar aos trabalhadores independentes

Os trabalhadores dependentes têm a partir de hoje novas condições de acesso ao subsídio de desemprego, com prestações mais baixas e por períodos de tempo mais curtos. Estas regras só são válidas para aqueles que se inscreverem no Instituto do Emprego e Formação Profissional a partir de hoje, pois quem já está a beneficiar desta prestação social mantém as condições anteriormente definidas. Em Julho entram em vigor as regras a aplicar aos trabalhadores independentes.

Regra geral, as alterações prevêem menos dinheiro e por períodos de tempo mais curtos.

O valor máximo por desempregado baixa de 1257,66 para 1048,05 euros, o equivalente a duas vezes e meia o Indexante dos Apoios Sociais (IAS), e o montante mínimo passa a ser de 419,22 euros.

Uma novidade introduzida na lei é o corte de 10% no subsídio de desemprego ao fim de seis meses, uma medida que tem como objectivo pressionar o beneficiário a reintegrar-se no mercado de trabalho.

As famílias com filhos menores a cargo e em que ambos os membros do casal estejam de-sempregados, assim como as famílias monoparentais, passarão a beneficiar de uma majoração de 10% (por cada membro do casal) no subsídio de desemprego.

Esta é uma medida provisória e extraordinária, que apenas será aplicada em 2012. Actualmente, estima-se que existam perto de 5500 casais nesta situação que já irão beneficiar deste apoio suplementar.

Os prazos de atribuição de subsídios também são alterados, beneficiando os trabalhadores mais velhos e com carreiras contributivas mais longas.

O período de tempo depende da idade do beneficiário e das contribuições feitas para a Segurança Social, podendo beneficiar de um acréscimo de 60 dias por cada cinco anos, nos últimos 20 anos, uma extensão máxima de oito meses.

A duração mínima de atribuição do subsídio baixa de nove para cinco meses e a máxima passa de 38 para 26 meses, abrangendo apenas os desempregados com mais de 50 anos de idade.

A partir de agora, será necessário ter apenas 12 meses de trabalho, em vez dos anteriores 15 meses exigidos pela lei.

As novas regras não se aplicam àqueles que já estão a beneficiar destas prestações sociais. Para ter direito ao subsídio, o trabalhador tem de se encontrar numa situação de desemprego involuntário, um conceito em que cabem também as situações em que os trabalhadores foram despedidos sem que a entidade empregadora tivesse cumprido todas as formalidades do Código do Trabalho. Neste caso, o trabalhador terá de provar que avançou com um processo judicial contra a empresa.

A partir da data de apresentação do pedido de prestação, o desempregado terá de se apresentar quinzenalmente no seu centro de emprego. Por outro lado, fica obrigado a aceitar trabalho fora da sua profissão. As convocatórias e notificações dos centros de emprego, que têm de ter uma antecedência mínima de três dias relativamente à data de comparência, são consideradas entregues mesmo que devolvidas.

As regras aplicáveis aos trabalhadores independentes também serão alteradas. A partir de 1 de Julho os trabalhadores a recibos verdes vão poder passar a beneficiar de subsídio de desemprego, desde que cumpram os requisitos previstos na lei (ver caixa). Estes são os primeiros diplomas decorrentes do Compromisso para a Competitividade e Emprego, que fazem parte do Memorando de entendimento assinado com a troika.

Número de trabalhadores em risco de despedimento colectivo disparou até Fevereiro



i online – Lusa

O número de trabalhadores em risco de despedimento colectivo mais do que duplicou até Fevereiro deste ano, face ao período homólogo de 2011, com mais de 200 empresas a iniciar este tipo de processos em Portugal continental em 2012.

Segundo os dados publicados pela Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), em comparação com igual período do ano passado, o número de trabalhadores que as empresas tencionam despedir nos próximos meses ao abrigo de processos de despedimento colectivo disparou 116,9 por cento até fevereiro para 2.037 pessoas.

O número de empresas que apresentou junto do Ministério da Economia e Emprego um pedido inicial para realizar despedimentos coletivos disparou assim num ano, passando das 114 para as 207 até fevereiro deste ano.

Só durante o mês de Fevereiro foram 93 as empresas que manifestaram esta intenção (contra as 44 de fevereiro de 2011), e que colocam assim em risco 898 postos de trabalho (375 em fevereiro do ano passado).

Por regiões, Lisboa e Vale do Tejo é a região com mais processos de despedimento coletivo abertos em Janeiro e Fevereiro (94), seguindo-se o Norte (78), o Algarve (17), o Centro (16) e Alentejo (2).

Por tipo de empresas, os processos foram maioritariamente abertos por micro (73) e pequenas empresas (91), mas também por médias (27) e grandes empresas (16).

De acordo ainda com os dados da DGERT, em janeiro e fevereiro o número de empresas que concluiu processos de despedimento coletivo também aumentou, face a igual período de 2011, passando de 102 para 159.

Num ano, o número de trabalhadores despedidos ao abrigo de processos de despedimento coletivo aumentou de 1.007 para 1.248 pessoas, mas as empresas, ainda assim, conseguiram "segurar" 77 postos de trabalho em relação aos 1.332 estimados no início dos respetivos processos de despedimento coletivo.

Em fevereiro deste ano, face ao mesmo mês de 2011, foram concluídos processos de despedimento coletivo em mais empresas (passou de 46 para 51 empresas), mas foram despedidos ainda assim menos trabalhadores (377 contra os 413 de 2011).

No processo de despedimento colectivo, a empresa entra com um pedido inicial junto do Ministério da Economia e Emprego, manifestando a sua intenção e o número de trabalhadores abrangidos pela ação.

Segue-se uma fase de negociação entre a empresa, os representantes dos trabalhadores e os serviços do Ministério, onde se tentam soluções, nomeadamente de reconversão, e negociações compensatórias.

Finalmente, a entidade empregadora comunica a decisão definitiva de despedimento e entrega um mapa final aos serviços do Ministério onde consta o número de trabalhadores efetivamente dispensados e o processo dá-se por concluído.

No conjunto do ano passado, recorreram ao despedimento colectivo um total de 641 empresas, tendo sido despedidos 6.526 trabalhadores.

Portugal chegou ao final de Fevereiro com uma taxa de desemprego de 15% uma subida de 0,2 por cento face a janeiro e a terceira mais elevada da União Europeia (UE), revelou hoje o Eurostat.

Com golpe no Mali, Alemanha suspende ajuda financeira ao país



Deutsche Welle

O Mali foi um dos países africanos que mais beneficiou da ajuda ao desenvolvimento alemã. Há cerca de uma semana, militares tomaram o poder no país. Será este o fim definitivo da ajuda alemã?

Juntamente com a França, os Estados Unidos da América, a Holanda e o Canadá, a Alemanha é um dos maiores parceiros de ajuda ao desenvolvimento do Mali. Só nos últimos três anos, o Governo de Berlim assistiu Bamako com mais de 110 milhões de euros.

Mas, tal como fizeram a União Europeia e Washington, também a Alemanha suspendeu agora a assistência, anunicou o ministro responsável pelo pelouro, Dirk Niebel, logo na sexta-feira (23.03), um dia após o golpe de Estado militar. O que isso significa concretamente, é que para já está interrompido o pagamento para projectos no âmbito da cooperação bilateral.

Apesar do corte na ajuda, projetos continuam

Yehia Ag Mohammed Ali, o coordenador do programa Mali Norte, não vê motivo para preocupação, apesar do seu projeto de irrigação estar a ser financiado com dinheiros alemães. Ele admite que pode haver alterações no que toca novos financiamentos, mas não espera uma mudança imediata.

"Para aqueles [projetos] em curso foram assinados contratos que deverão ser respeitados. Temos certas obrigações que, penso, iremos cumprir na íntegra", revela.

Futuro incerto

Atualmente o Ministério Alemão da Cooperação Económica ainda analisa os projetos que deverão continuar a ser financiados após o golpe no Mali. Mas uma coisa é certa: a junta militar não deverá beneficiar de qualquer jeito desses projetos, que deverão assistir diretamente a população.

É o caso do Programa Mali Norte. Também a União Europeia pretende continuar a custear projectos que se dirigem à população. Washington congelou a ajuda militar e dinheiros versados diretamente ao governo maliano. Mas também os Estados Unidos dão seguimento a projectos de ajuda direta à população civil, confirmou a porta-voz da embaixada norte-americana no Mali à DW.

A grande parte do financiamento da organização alemã Welthungerhilfe - ou Ação Agrária Alemã - provem dos cofres do governo alemão e da União Europeia. O director do programa no Mali, Willi Kohlmus, diz que aguarda uma decisão definitiva de Berlim.

Mas também Kohlmus não está sobremaneira preocupado. "Estamos mais preocupados com a segurança e com o que se vai passar de uma forma geral", revela. Sobre os projetos em andamento, Kohlmus afirma que "os projectos no interior andam para a frente - não temos, neste momento, motivo para suspender os nossos trabalhos".

Atuação alemã no Mali

O especialista alemão em ajuda de desenvolvimento e em assuntos do Mali, Henner Papendieck, exige, neste contexto, uma política de desenvolvimento alemã mais diferenciada naquele país. Papendieck critica a política levada a cabo nos últimos anos e diz que o governo alemão apreciou mal o presidente deposto, Amadou Toumani Touré.

"Houve uma estranha sobrevalorização deste personagem, que sempre se mostou completamente inofensivo, entusiasmando os políticos alemães. Algo que me causou enorme admiração!", afirma Papendieck. O especialista explica ainda que "Touré tinha uma forma muito habilidosa de ir ao encontro das expectativas dos políticos alemães e europeus".

Só nas próximas semanas, ficará claro como a política de desenvolvimento alemã passará a lidar com o Mali. Particularmente afetados serão, sem dúvida, os projetos de boa governação e democratização, uma área em que a Agência Alemã de Cooperação Internacional, GIZ, é muito activa.

Autoras: Christine Harjes (Bamako)/Cristina Krippahl - Edição: Cris Vieira/Renate Krieger

AZAWAD – A AREIA E A FÚRIA – II




Martinho Júnior, Luanda

4 – Apesar de não haverem evidências de ligações dos toubus aos tuaregues, o racismo cultivado na Líbia contra os negros por parte de quem tomou o poder, sob a alegação que eles são todos “mercenários de Kadafi”, pode acabar por unir as populações dispersas em todo o Sahara e Sahel, tendo em conta os relacionamentos que efectivamente Kadafi cultivou com os países a sul da Líbia, nessa imensa região e na África do Oeste.

O governo do Níger por exemplo, não aceitou o pedido das novas autoridades líbias para entregar um dos filhos de Kadafi refugiado no país, em Agadez, onde se encontram militares de alguns dos batalhões líbios que abandonaram Bani Walid (“Large Libyan convoy arrives in Níger” – http://english.aljazeera.net/news/africa/2011/09/20119622012794420.html; “Líbia quer extradição de filho de Kadafi; Níger recusa” – http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRSPE81A02E20120211).

O efeito da situação da Líbia durante toda a fermentação de 2011, impulsionou os tuaregues, que no norte do Mali estão em efervescência, não mais com pouco poder militar, mas com as armas e bagagens que trouxeram da Líbia, dum arsenal que pode não só ser proveniente do espólio do Exército Líbia ao serviço de Kadafi, mas de outros, inclusive de grupos fundamentalistas ligados à Al Qaeda, que por seu turno podem estar a ser manipulados por inteligências ao nível do que nos tem vindo a habituar os Estados Unidos!

O “Movimento Nacional de Libertação do Azawad” (“Tuaregs fight for Azawd independence” – http://english.ruvr.ru/2012_03_31/70248383/) está a demonstrar melhor organização, comando e enquadramento que as rebeliões tuaregues anteriores, a ponto de tomar cada vez mais posições no norte e de levar as derrotadas tropas malianas ao efeito boomerang do golpe de estado militar no Mali, outra ratoeira para África, que contribui para os interesses ocidentais e suas tão múltiplas quão “versáteis” manobras de ingerência e manipulação: “jogos africanos”, já se vê!

5 – Os militares do Mali estão a ser derrotados no norte do seu país, precisamente no território reclamado para a independência dos tuaregues, o Azawad.

Cairam nas mãos do “Movimento Nacional de Libertação de Azawad” as capitais regionais de Kidal e, logo a seguir, Gao e, no dia 1 de Abril, a milenar Tombuctu.

A aparente apatia do governo do Presidente Amadou Toumani Touré (http://en.wikipedia.org/wiki/Amadou_Toumani_Tour%C3%A9) pode-se definir em várias factores que se voltaram internamente contra si, por exemplo:

- Foi incapaz de avaliar as repercussões no seu território dos riscos provocados pela rebelião dos tuaregues, em função da evolução das transformações na Líbia: se antes eram riscos de “relativamente baixa intensidade”, o acesso a arsenais militares importantes e as recentes experiências em combate permitia-lhes uma organização e um potencial que nunca antes haviam conseguido (“La crisis líbia impulsiona la ofensiva tuareg contra el Gobierno de Mali” – http://www.gara.net/paperezkoa/20120119/316422/es/La-crisis-libia-impulsa-ofensiva-tuareg-contra-Gobierno-Mali);

- Esqueceu compromissos antigos com os tuaregues, tornando-se displicente em relação às próprias Forças Armadas, conforme se pode constatr numa análise bastante fundamentada (“The causes of the uprising in Northern Mali” – http://thinkafricapress.com/mali/causes-uprising-northern-mali-tuareg);

- Foi incapaz de reforçar a tempo e horas o poderio militar das suas guarnições a norte, ao nível das ameaças que se incrementaram a partir sobretudo da segunda metade de 2011 e quando o fez limitou-se ao esforço militar sem fazer uso de outras medidas (“Caos no Sahara” – http://sol.sapo.pt/inicio/Internacional/Interior.aspx?content_id=45593);

- Não se preveniu, por influência das políticas neo liberais que consomem o continente, do facto das forças militares do Mali reagirem com um golpe militar em Bamako, em função da derrota militar do Exército do Mali no norte (Kidal, Gao e Tombuctu), apesar do Presidente ser um militar; neste aspecto veja-se quão irrisória foi a “ajuda” norte americana, feita por via da sua Embaixada em Bamako EM Outubro de 2009 e à margem do AFRICOM ( “U.S. Government Provides Equipment to Malian Army” – http://www.africom.mil/getArticle.asp?art=3601&blog=all).

Os aliados do governo do Mali, Estados Unidos e França incluídos, poderiam previamente informar o Presidente Amadou Toumani Touré dos movimentos hostis que os tuaregues faziam no Sahara / Sahel, mas como a sua pretensão no quadro das políticas neo liberais é cada vez mais enfraquecer os africanos à custa de regionalismos e divisões, redesenhando assim o mapa do continente, preferiram aguardar a evolução dos acontecimentos, até por que desse modo obtinham acrescidas garantias de aumento de capacidades nas suas ingerências e manipulações em todos as dinâmicas do seu relacionamento: político, económico, financeiro, social, militar e de inteligência, conforme aliás ao carácter das estruturas, no caso norte americano, do AFRICOM.

6 – O golpe militar ocorreu a 21 de Março de 2012 em Bamako (“2012 malian coup d’état” – http://en.wikipedia.org/wiki/2012_Malian_coup_d'%C3%A9tat) e o Presidente aparentemente estará em parte incerta, podendo a sua localização ser conhecida por parte da inteligência francesa (“French ambassador to Mali reassured after talking to ousted President Touré” – http://www.english.rfi.fr/africa/20120327-french-ambassador-mali-reassured-after-talking-ousted-president-toure).

Enquanto isso acontece o MNLA está rapidamente a tomar todo o norte.

Todos os africanos pouco a pouco vão reagindo condenando os golpistas, alinhando assim com a condenação norte americana, europeia, francesa, russa, chinesa e internacional.

As organizações regionais da África Ocidental, CEDEAO e ECOWAS, são unânimes não só em condenar o golpe, mas em reagir procurando assumir o controlo da situação, incluindo em resposta à bem sucedida ofensiva-relâmpago do “Movimento Nacional de Libertação do Azawad” no norte.

O Mali está sob sanções rigorosas, sem governo, com os militares golpistas completamente isolados e com a rebelião tuaregue do MNLA senhora da situação no norte.

Os africanos condenando o golpe e isolando os golpistas, estão sem opções para fazer frente aos tuaregues, que podem a partir do fulcro Azawad procurar estabelecer um precedente que será difícil de tornear.

Qualquer que seja a reacção africana e regional, a situação favorece tacitamente os interesses do império e de suas políticas neo liberais: uma vez mais dividir, dividir e dividir… para melhor reinar!

O neo colonialismo em época de capitalismo neo liberal está a ser imposto pouco a pouco a toda a África, à custa do redesenhar do mapa sócio-político do continente e a África, onde a unidade é a maior das utopias, continua a comportar-se como “aquele corpo inerte onde cada abutre vem depenicar o seu pedaço”!

Foto: O Presidente maliano em visita ao Presidente George W. Bush; a cerimónia faz parte dos “jogos africanos”: “dar as cartas e baralhar de novo”.


Angola: Coligação de ex-dirigente da UNITA inicia hoje convenção constitutiva



EL - Lusa

Luanda, 02 abr (Lusa) - A Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA), coligação anunciada pelo antigo dirigente da UNITA Abel Chivukuvuku, inicia hoje em Luanda a sua convenção constitutiva, com as eleições gerais de setembro no horizonte.

Dissidentes da UNITA, o maior partido da oposição angolana, quatro partidos legalizados mas sem representação parlamentar e cidadãos independentes dão corpo à nova formação política, que vai apresentar Abel Chivukuvuku como seu candidato à Presidência da República, cargo que passa a ser eleito naquele escrutínio por via indireta, conforme a nova Constituição.

Nos trabalhos deverão participar 690 delegados, dois terços dos quais em representação de 17 das 18 províncias de Angola, cabendo o terço restante à província de Luanda.

Além de eleger os órgãos de direção da coligação, que terá Abel Chivukuvuku como presidente, a convenção vai debater e aprovar os estatutos, o manifesto político, que constitui o programa mínimo de governação e o programa de ação.

Entre o MPLA, atual partido no poder, e a UNITA, a CASA pretende representar o centro do espectro político angolano, como salientou Abel Chivukuvuku no passado dia 14 de março, quando anunciou publicamente a criação da coligação.

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Angola: "Não considero que estamos a viver em paz", avalia José Patrocínio



Deutsche Welle

Ainda é preciso construir a paz em Angola, considera José Patrocínio (na foto, com os braços erguidos). Ao falar à DW África, o ativista critica o favoritismo, fala em rever a Constituição e sonha com um país mais justo.

Há dez anos, foi assinado o acordo de paz em Angola. Para as armas, significou o silêncio. Para a população, a voz. Foi uma década de conquistas: eleições e uma nova Constituição. Mas ainda há que se construir a paz e avançar no âmbito social.

Segundo dados das Nações Unidas, Angola tem um desenvolvimento humano ao nível do Madagáscar, apesar de ter um PIB per capta cinco vezes mais alto que o do país insular. Para o coordenador da ONG Omunga, José Patrocínio, a explicação está na falta de vontade política e na má distribuição dos recursos económicos. Na entrevista a seguir, ele afirma que as conquistas são méritos do povo angolano e devem ser revertidas para o bem estar comum.

DW África: Quais são, no seu ponto de vista, as maiores conquistas nestes dez anos de paz?

José Patrocínio: Não considero que estamos a viver em paz. Considero, sim, que estamos a viver dez anos de calar das armas. Talvez esta seja a maior conquista, precisamente as armas terem se calado, a guerra ter terminado. Mas, obviamente, é necessário continuar a construir a paz.

DW África: Por que considera que não são dez anos de paz, mas dez anos do calar das armas?

JP: Porque continuamos com a intolerância política e com os ódios guardados dentro dos nossos corações. Não se fez um processo de pacificação, não se fez um processo de transição. Acredito que o processo constituinte poderia ser esse processo de pacificação e reunificação, mas não foi utilizado nesse sentido, já que o resultado é esse que estamos a ter agora.

DW África: A seguir à paz, Angola viveu um dos maiores crescimentos económicos entre todos os países do mundo, atingindo um crescimento de mais de 20%, em 2005 e em 2007. Apesar disso, muitos angolanos continuam a viver na pobreza. Como se explica esta falta do "dividendo da paz" para muitos?

JP: A questão fundamental está na vontade política, nas estratégias definidas, nas políticas traçadas e no sentido de justiça. Isso reverte-se porque precisamente esse calar das armas tem favorecido a vida de alguns cidadãos angolanos, mas isso em prejuízo da maioria.

Tem-se dado um enfoque à questão económica, mas essa questão económica apenas beneficia um grupo específico, ligado ao poder - seja o poder político, económico ou militar - e, portanto, eles têm ganho com o crescimento. Mas a maior parte da população obviamente não obtém benefícios. Não há um investimento do crescimento económico no bem social, no bem de todos.

DW África: Segundo dados das Nações Unidas, Angola tem um desenvolvimento humano ao nível do Madagáscar. Apesar de ter um PIB per capita cinco vezes mais alto. O que se passa?

JP: Os recursos que Angola ganha com a exportação de algumas matérias-primas, nomeadamente o petróleo, não são usados na melhoria da qualidade de vida dos próprios cidadãos. É revertido apenas no benefício da qualidade de vida de algumas das pessoas que cresceram a sua qualidade de vida - e muito mesmo.

DW África: Os recursos naturais que abundam em Angola, como o petróleo e os diamantes, são uma bênção ou uma maldição para o país?

JP: Obviamente que os recursos naturais nunca são uma maldição, são sempre uma bênção mesmo que não sejam geridos para o bem de todos. É mais importante termos petróleo do que não termos.

O que é importante agora é gerirmos esses recursos em benefício de todos. Das reservas de petróleo que temos, trazemos bens sociais nos setores da saúde, da educação e de todos os bens que as pessoas precisam para ter uma qualidade de vida digna.

DW África: Se compara o estado da liberdade antes do fim da guerra e a realidade nos dias atuais, qual é o seu balanço?

JP: Há mudanças e para o positivo. Portanto, só o calar das armas permite já às pessoas melhorias e certas condições. Poderem circular e se comunicar. As pessoas terem acesso a uma série de tecnologias que não tinham antes, no tempo da guerra. As pessoas terem mais possibilidades de se manifestar, de expressar as suas opiniões e de participar, mesmo que encontrem muitos obstáculos.

Mas há, com o calar das armas, muito mais conquistas e muito mais abertura. Não porque o poder nos facilita esta abertura, mas à custa das conquistas das lutas dos cidadãos.

DW África: Para os próximos dez anos de Angola, qual seria o seu desejo?

JP: Uma Angola mais justa para todos. Uma Angola em que as diferenças entre as pessoas seja a menor possível. Não estamos a dizer para acabar com os ricos, mas que haja menos diferença entre as pessoas mais ricas e as pessoas mais pobres.

Que todas as pessoas tenham acesso aos serviços de saúde e de educação, aos serviços sociais. Que tenham acesso ao respeito à sua dignidade, possam participar livremente e manifestar-se livremente. Possam ter acesso à informação e que os jornais não estejam controlados, mas sim livres.

Enfim, acredito num país justo e democrático, em que a Constituição deverá ser revista. Que voltemos a ter uma forma de eleição do presidente diferente daquela que consta na atual Constituição e que os cidadãos vão ter mais paz e participação.

Autor: Nelson Sul D'Angola (Benguela) - Edição: Cris Vieira/Renate Krieger

Angola: “UMA PAZ SEM VOZ NÃO É PAZ, É MEDO”, diz Kamalata Numa



Deutsche Welle

Dez anos depois do fim da guerra em Angola, o general Kamalata Numa, antigo secretário-geral do maior partido da oposição, UNITA, deseja mais alternância de poder na próxima década. E mais direitos e liberdades.

Abílio Kamalata Numa chegou a lutar ao lado de Jonas Savimbi, o líder histórico da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), cuja morte em fevereiro de 2002 iniciou o processo de reconciliação nacional. No dia 4 de abril desse ano foi assinado em Luanda o acordo de paz entre a UNITA e o governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) que pôs fim a uma das mais longas e sangrentas guerras no continente africano.

Em entrevista à DW África, Abílio Kamalata Numa, um dos últimos generais da UNITA que ainda continua politicamente ativo, faz um balanço destes dez anos de paz em Angola. Um país onde, a seu ver, ainda é preciso lutar pelo direito à vida e onde muitos direitos consagrados na Constituição não são exercidos na sua plenitude.

DW África: Do seu ponto de vista, quais são as maiores conquistas nestes dez anos de paz?

Abílio Kamalata Numa (AKN): Primeiro, é ter terminado a guerra. Esta é uma das conquistas importantes. E a outra premissa é estarmos nos primórdios do Estado de direito democrático. Acho que estas duas conquistas têm de ser aprofundadas para que, de facto, todos nós consigamos usufruir dos seus frutos.

DW África: A seguir à guerra, Angola viveu um dos maiores crescimentos económicos no mundo, atingindo um crescimento do PIB de mais de 20% em 2005 e em 2007. Apesar desse crescimento, muitos angolanos continuam a viver na pobreza. Como explica esta falta de dividendos da paz para muitos?

AKN: O desenvolvimento de Angola é irrisório porque não reflete o desenvolvimento da economia nacional. É um desenvolvimento direcionado só para um setor da economia: a extração do petróleo e a extração de diamantes.

E naquela altura em que o preço do petróleo tinha atingido picos altos – quando o barril andava a volta dos cento e tal dólares – isso refletiu-se também na economia de Angola, sobretudo com o incremento da exploração do petróleo.

Em determinada altura, Angola chegou a exportar dois milhões de barris por dia. Isso refletiu-se nos indicadores que foram fornecidos à comunidade internacional, mas internamente esta situação não teve nenhum efeito.

DW África: Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), Angola tem um desenvolvimento humano ao nível de Madagáscar, apesar de ter um Produto Interno Bruto (PIB) cinco vezes mais alto do que o de Madagáscar. Como se explica isso?

AKN: Os níveis de corrupção são tão altos no país que a maior parte do dinheiro que vem do setor extrativo do petróleo e dos diamantes é desencaminhado para mãos indevidas. [Daí] o enriquecimento ilícito de muitas famílias, enriquecimento de todos os funcionários, corrupção endémica em todos os setores do Estado angolano.

Isso tem feito com que os dinheiros públicos não sejam encaminhados prioritariamente para a saúde, para a educação e para o desenvolvimento económico na área primária, isto é, fomento das zonas rurais, com maior produção agropecuária e também da pequena indústria que deve ser o fundamento de qualquer desenvolvimento sustentável de um país como o nosso, saído de um colonialismo que foi longo e de uma guerra que também foi longa.

DW África: Os recursos naturais que abundam em Angola, como o petróleo e os diamantes, são uma bênção ou uma maldição para o país?

AKN: São uma bênção. Agora nós é que temos de ter consciência de que devem servir os angolanos e não mãos indevidas. O que tem acontecido nos últimos tempos é que [os recursos] têm sido desencaminhados.

Angola foi abençoada com esses recursos e os angolanos têm de ter consciência de que esses recursos têm de servir os angolanos e não pequenos grupos e famílias bem conhecidas.

DW África: Se comparar o estado de liberdade antes do fim da guerra e hoje, qual é o seu balanço?

AKN: Eu tenho dito que uma paz sem voz não é paz. É medo. Nós aqui em Angola ainda lutamos pelo direito à vida e isso significa que, em termos de liberdades consagradas na Constituição, não usufruímos de nenhuma.

Fala-se do direito de expressão, do direito à manifestação e de outros direitos consagrados na nossa Constituição, mas nenhum desses direitos é exercido na sua plenitude, porque há um senhor que quer que assim seja. O senhor Presidente da República fez recuar imenso Angola nesse contexto.

E neste preciso momento, em Angola não há direitos. Um cidadão como o Filomeno Vieira Lopes, [secretário-geral] do Bloco Democrático, vai para uma manifestação e sai de lá machucado, com um braço machucado. Um cidadão vai para uma manifestação e é preso.

Portanto, não pensemos que estamos com mais liberdades neste momento em Angola, mas temos de ir à conquista desses direitos.

DW África: Para os próximos dez anos, o que é que deseja?

AKN: O meu primeiro desejo é que os angolanos entendam que o MPLA precisa de um tempo para refletir melhor como gerir os angolanos. Isso significa que nos próximos dez anos devíamos ter alternância de poder em Angola para termos um regime que refunde o Estado angolano.

Autor: Nelson Sul D’Angola (Benguela) - Edição: Madalena Sampaio/Johannes Beck

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