quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Snowden: O MAIS PERIGOSO DA NSA É QUE NINGUÉM A SUPERVISIONA

 


O denunciante explica o porquê de as queixas internas terem sido enterradas e porque ele sabe que a Rússia não tem como acessar os arquivos secretos.
 
Jon Queally, para o Common Dreams – Carta Maior
 
É isso que o denunciante da NSA Edward Snowden disse, em uma entrevista online para o New York Times, feita este mês, referindo-se à montanha de documentos secretos que ele disponibilizou para jornalistas selecionados em nome do “interesse público”.

Pela conversa, feita por troca de emails criptografados, Snowden diz que abriu mão das cópias dos documentos que ele tinha antes de viajar de Hong Kong para a China, em junho.

“Se membros do governo no mais alto escalão podem quebrar a lei sem medo de nenhuma punição ou mesmo de qualquer repercussão, os poderes secretos se tornam extremamente perigosos” – Edward Snowden.

“Qual seria o valor de carregar comigo outra cópia do material?” disse ele ao Times.

Desde que Snowden foi a público como a fonte das informações vazadas, sempre houve controvérsia se os governos chinês ou russo teriam tido acesso aos arquivos secretos por conta da tentativa de Snowden de fugir do governo dos EUA. Mas essa é a primeira vez que ele explica porque tem tanta certeza de que os arquivos não foram comprometidos.

De acordo com o Times:

“Membros da inteligência estadunidense têm demonstrado grande preocupação com a possibilidade de os arquivos terem caído nas mãos de agências de inteligência estrangeiras, mas o sr. Snowden disse acreditar que a NSA sabe que ele não cooperou com os russos ou com os chineses. Ele disse estar revelando publicamente não ter mais nenhum documento da agência para explicar porque estava tão confiante que a Rússia não havia tido acesso a eles. Ele havia relutado em divulgar essa informação antes, diz ele, por medo de expor os jornalistas ainda mais.

Numa ampla entrevista ao longo de vários dias, Snowden deu respostas detalhadas contra acusações imputadas a ele por membros do alto escalão do governo dos EUA e outros críticos, deu novas informações sobre os motivos que o levaram a ficar tão decepcionado com a NSA e divulgar os documentos, e conversou sobre o debate internacional a respeito da vigilância que resultou das revelações.”

Entre os vários tópicos cobertos pela entrevista, Snowden respondeu especificamente às acusações de que ele poderia ter cumprido esse papel de denunciar seguindo os protocolos internacionais e levando as preocupações dele aos seus superiores na NSA. De acordo com Snowden, tais ações não teriam dado em nada. Novamente, do Times:

“O sr. Snowden disse ainda que dentro da agência havia muitas discordâncias – com alguns, era algo até palpável. Mas ele disse que as pessoas eram mantidas na linha por ‘medo e uma falsa imagem de patriotismo’, que ele descreveu como ‘obediência a autoridade’."

Ele disse acreditar que se questionasse as operações de vigilância da NSA de dentro, seus esforços teriam sido ‘enterrados para sempre’ e ele teria sido ‘desacreditado e arruinado’. Ele disse que ‘o sistema não funciona’, acrescentando que ‘você deve apresentar os erros justamente para os responsáveis pelos erros’.

Snowden disse que decidiu fazer alguma coisa quando viu uma cópia de um relatório de 2009. O relatório era sobre o programa de escutas sem autorização judicial durante a administração Bush. Ele disse ter encontrado o documento por uma ‘busca de palavras sujas’, descrita como uma forma de o administrador do sistema checar se não há num computador coisas que não deveriam estar lá.

‘Era confidencial demais para estar ali’, ele disse, a respeito do relatório. Ele abriu o documento para ter certeza de que não deveria estar ali, e depois de ver o que era revelado, ‘a curiosidade foi mais forte’, disse Snowden.

Depois de ler sobre o programa, que passava ao largo das leis sobre vigilância, e de ter concluído que aquilo era algo completamente ilegal, ele disse: ‘Se membros do governo no mais alto escalão podem quebrar a lei sem medo de nenhuma punição ou mesmo de qualquer repercussão, os poderes secretos se tornam extremamente perigosos’.

Ele não quis dizer quando exatamente leu o tal relatório, ou falar sobre quando aconteceram suas ações subsequentes de coleta de documentos da NSA para posterior divulgação. Mas disse que ler o relatório o ajudou a cristalizar sua decisão. ‘Não se pode ler algo como aquilo e não se perceber o significado disso para todos os sistemas que temos’, disse ele.
 
Créditos da foto: Guardian
 

LIVRO JOGA LUZ SOBRE GUERRA SIGILOSA DOS EUA CONTRA O TERROR

 

Deutsche Welle
 
Jornalista americano diz que a CIA se tornou uma organização paramilitar que usa aviões não tripulados para caçar e assassinar indiscriminadamente em nome do combate ao terrorismo.
 
A campanha contra os inimigos dos Estados Unidos é silenciosa e barata. Os comandantes lutam sem tropa, sentados na frente de computadores nos prédios da CIA (agência de inteligência americana) em Nevada ou no Novo México. As armas são aviões não tripulados, os chamados drones.
 
"Nos últimos 12 anos, a CIA voltou ao negócio de matar", diz o jornalista do New York Times Mark Mazzetti, ganhador do prêmio Pulitzer. "Desde os ataques de 11 de setembro de 2001, a CIA se transformou numa organização paramilitar e trava uma espécie de guerra silenciosa."
 
Em seu livro The way of the knife, que acaba de ser publicado também na Alemanha, o autor expõe evidências recolhidas em entrevistas com agentes e políticos. Mazzetti fala de um "complexo" que é alimentado pela nova tecnologia dos drones.
 
"Ele inclui os militares, os serviços de inteligência, assim como companhias privadas mercenárias. Eles criaram em muitos aspectos um novo estatuto que lhes permite matar pessoas em missão secreta", denuncia.
 
Fronteiras sumiram
 
As novas estruturas são resultado dos ataques terroristas do 11 de Setembro, nos quais mais de 3 mil pessoas morreram. Com base na legislação antiterrorismo do governo George W. Bush, segundo Mazzetti, passou a ser permitido matar em nome da guerra contra o terrorismo.
 
"Desde o 11 de Setembro surgiu como que uma espécie mundo novo", diz o escritor. As fronteiras entre Exército e o serviço de inteligência começaram a se esvair. "Cerca de 60% dos atuais funcionários da CIA foram recrutados após os ataques terroristas de 2001", completa o jornalista. Muitos desses agentes teriam apenas uma tarefa: caçar e matar pessoas.
 
O sucessor de Bush, Barack Obama, continuou com essa política − entre outras coisas, com ajuda de um acordo secreto com o governo paquistanês. As áreas do país que fazem fronteira com o Afeganistão são consideradas refúgio de combatentes talibãs. Desde 2004, a CIA tem operado drones na região.
 
Os aviões não tripulados disparam mísseis contra casas, carros e áreas onde os militares americanos suspeitam que haja radicais islâmicos. Publicamente, o governo paquistanês protesta contra a violação da sua soberania, mas silenciosamente aprova os ataques. "Há indícios de que os EUA obtiveram permissão para os ataques porque eles também eram dirigidos contra os inimigos do Paquistão", frisa Mazzetti.
 
Naquela época, os agentes americanos mantiveram em sua mira um líder talibã, Nek Mohammed, a pedido do Paquistão. Em troca, os EUA receberam direito de sobrevoo. Os ataques contra supostos terroristas foram ampliados. As operações com aviões não tripulados contra suspeitos de terrorismo se estenderam ao Iêmen e à Somália.
 
Carta branca de Washington
 
Dependendo do país, a inteligência americana recebe uma carta branca de Washington para tais operações. "No Paquistão, por exemplo, a CIA está autorizada a mirar indivíduos ou grupos sem pedir permissão à Casa Branca", comenta Mazzetti. Em outros países, como no Iêmen, Obama tem maior controle. "Essas operações antiterroristas são agendadas por um grupo de funcionários da Casa Branca e do governo", relata o autor.
 
"Entre os ataques com drones menos controversos estão aqueles dirigidos contra pessoas claramente identificadas", explica. "Mas também há os chamados signature strikes, dirigidos contra pessoas desconhecidas ou grupos que apresentam comportamento suspeito", observa. "Quando, por exemplo, um grupo suspeito está tentando atravessar a fronteira para o Afeganistão. Então, há uma licença para um ataque."

Estes ataques são particularmente controversos, especialmente porque causam muitas mortes de civis. Um deles ocorreu em março de 2011 no Paquistão. Cerca de 40 civis foram mortos no ataque de drone sobre um suposto encontro talibã na região do Waziristão do Norte. A reunião, ficou-se sabendo depois, era, na verdade, um encontro tribal ao ar livre.
 
Desenvolvimento continua
 
Os fantasmas invocados pelo governo do Paquistão em 2004 começam agora a assustar. Os protestos contra os drones dos EUA estão aumentando, tanto por parte da população como também do governo. Na terça-feira (22/10), a Anistia Internacional denunciou crimes de guerra no uso de aviões não tripulados.
 
As autoridades paquistanesas registraram até agora, de acordo com dados da ONU, pelo menos 330 ataques com aviões não tripulados. Neles, cerca de 2.200 pessoas foram mortas.
 
Segundo dados da rede independente de jornalistas Escritório de Jornalismo Investigativo, sediada em Londres, essa quota é muito maior. Pelo menos 400 das vítimas seriam civis, segundo informações oficiais paquistanesas. Outras 200 são consideradas "não combatentes".

"O presidente Obama deixou claro, a portas fechadas, que esses ataques no Paquistão continuarão enquanto houver tropas americanas no país. Isso quer dizer que ainda ocorrerão por pelo menos mais um ano", avalia Mazzetti.
 
Obama vai ter que explicar isso ao primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, que visita Washington nesta quarta-feira (23/10). Mazzetti também acha que vai ser difícil para o governo dos EUA na hora que tiver que apresentar argumentos contra o uso de drones por outros países. Na China e na Rússia, a tecnologia de combate não tripulado também está amadurecendo.
 
"A Terra como um campo de batalha silenciosa" é uma visão tão assustadora para Mazzeti como o papel dos drones no cotidiano dos EUA. "A polícia já usa drones para fins de investigação", ressalta o jornalista. "Tenho certeza de que as autoridades criminais um dia vão permitir o uso de drones armados. Em cinco a 10 anos, isso será normal."
 
Autoria: Antje Passenheim (md) – Edição: Rafael Plaisant
 
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A CHINA JÁ NÃO É O QUE FOI

 


Mário Soares – Diário de Notícias, opinião
 
1 A expansão da China foi considerável, após a morte de Mao Tse-Tung e a abertura que se seguiu com Deng Xiaoping. Tratou-se, durante longos anos, de uma contradição impossível: o comunismo mais duro com o capitalismo sem regras sociais ou éticas em que só contava o dinheiro.
 
A China quis rivalizar com os Estados Unidos, uma vez que com a Rússia há muito tempo estava zangada. E pôs-se a comprar dólares, sem conta, peso e medida.
 
Começaram a aparecer os milionários chineses, sem deixarem de ser comunistas. Mas como se sabe são os hábitos que fazem os monges. Os chineses capitalistas percorreram o Mundo, a comprar tudo o que lhes aparecia e a viver um estilo de vida que nada tinha que ver com o comunismo. Construíram arranha-céus em Xangai e Pequim e compraram empresas por toda a parte e em todos os continentes. E, sobretudo, dólares e mais dólares...
 
Simplesmente, esqueceram-se que os americanos fabricam dólares e mais dólares, sempre que lhes são necessários. Infelizmente, o mesmo não aconteceu com o Banco Central Europeu e com o euro, na zona euro. Se assim fosse, não estávamos em crise aguda como estamos...
 
Voltando aos dólares que os chineses compraram - como me disse um antigo ministro chinês, que me visitou recentemente - hoje servem-lhes de pouco...
 
E agora o Presidente da China, que procura ser um comunista a sério, percebendo que, além dos milionários, começa a haver - porque as coisas são o que são - uma classe média importante e ativa, resolveu meter na ordem os milionários, contra o capitalismo neoliberal, o pior de todos os capitalismos, visto que só respeita o dinheiro e ignora as pessoas e está, por todo o lado, isto é, por enquanto, na União Europeia, a criar crises gravíssimas.
 
Julgo que a intervenção do Presidente chinês surge tarde de mais. Porque começa a haver, na China, uma classe média e uma intelectualidade que conta e não está nada satisfeita, contaminando os mais pobres, que são como se sabe imensos milhões... A China é hoje um Estado completamente diferente do que foi e muito complexo.
 
Como irão defender-se os milionários chineses que o Presidente quer castigar? Fugirão da China? Alguns seguramente que sim. Mas os mais visados, certamente que não. Trata-se de um período muito complexo que importa seguir com atenção. Porque não interessa só aos chineses mas ao Mundo em geral.
 
2 Curiosa semana a que passou
 
Tive o gosto de receber o presidente eleito do Porto, Rui Moreira, que teve a amizade de me vir dar um abraço, lembrando que fui eu a quem ele falou em primeiro lugar, quando resolveu candidatar-se. E mais. Veio com o meu camarada Manuel Pizarro, que será o seu vice na Câmara Municipal do Porto. O que achei uma excelente ideia. Portas que disse ser o CDS que levou Rui Moreira à vitória, mais uma vez mentiu.
 
Foi-me muito grato falar com ambos e fiquei certo de que o Porto vai ser muito beneficiado. O meu amigo Miguel Veiga teve razão desde a primeira hora.
 
Também fui dar um abraço a António Costa no dia em que tomou posse, após a sua esmagadora vitória eleitoral, a correr porque no mesmo dia tinha na Fundação uma homenagem a Fernando Vale, uma figura das mais importantes do socialismo democrático, republicano e maçon. A terceira da série "Vidas com sentido" em que se presta homenagem a todos os grandes líderes do PS já falecidos. O próximo, na quinta-feira, será Manuel Mendes, grande escritor e antifascista, amigo da Acção Socialista, infelizmente bastante esquecido, que morreu antes do 25 de Abril.
 
Mas o acontecimento mais esperado da semana foi o lançamento do livro do ex-primeiro-ministro José Sócrates, intitulado A confiança no Mundo, sobre a Tortura em Democracia. Mais de mil entusiastas - socialistas, claro, mas não só - estiveram presentes, num dia especialmente invernoso e à chuva, muito tempo, para entrarem.
 
O primeiro a falar foi o representante da Editora Babel e depois o autor do prefácio, vindo especialmente do Brasil, Lula da Silva. Fez um discurso de quase uma hora, de improviso, em que falou de tudo e constituiu uma lição para os socialistas. Se foi gravado, como julgo, é bom que seja publicado porque será de grande utilidade para os socialistas europeus e como vencer a crise que nos aflige e à zona euro.
 
Mas, claro, o fundamental da sessão foi o discurso do autor do livro, que é muito interessante e original. Deve ser lido e meditado. Sócrates estudou imenso nestes dois anos e meio que passou em França para tirar o mestrado, com alta classificação, no prestigiado Instituto de Sciences Po.
 
É hoje uma pessoa diferente. E vai continuar em Paris para fazer o doutoramento. Sem deixar de ser político, tornou-se um académico. Sendo um engenheiro licenciado em Coimbra, é hoje um humanista e um pensador político. Tem hoje uma enorme bagagem cultural, como ficou provado. O que não deixa de ser importante em política, nos dias difíceis que correm.
 
3 Um excelente exemplo
 
É indispensável que os juristas - que não estejam só a serviço do dinheiro - e as pessoas de bem admirem e sejam solidárias com o Tribunal Constitucional. Porquê? Porque é uma instituição que fiscaliza a nossa lei suprema - a Constituição - que os titulares do poder juraram por sua honra defender. A independência que tem demonstrado, apesar dos ataques, ameaças e pressões que o Governo indevidamente lhe tem feito, constitui um exemplo a registar. Várias vozes insuspeitas se têm levantado em defesa do Tribunal Constitucional - é verdade - e, obviamente da Constituição. O grande constitucionalista Jorge Miranda, que tanto admiro, assim o escreveu numa excecional entrevista que nos deu a todos no domingo passado. O atual bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto também tem falado, com clareza, em favor do Tribunal Constitucional, como Rui Rangel e Bacelar Gouveia, entre outros magistrados, com acesso à comunicação social.
 
É certo que a justiça portuguesa está pelas ruas da amargura. Há inúmeros delinquentes, que o nosso povo bem conhece e que andam por aí impunemente, como não me tenho cansado de referir. Alguns até parece que foram escolhidos por isso mesmo, como é o caso do atual ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, que conheci no tempo do impoluto professor Mota Pinto, meu saudoso amigo. Machete parecia-me então uma pessoa séria. Mas deixou de o ser, como se sabe agora.
 
Porém, o que é ainda mais grave é que responsáveis europeus como a presidente do Fundo Monetário Internacional, a que preside mal a francesa Christine Lagarde, e a Comissão Europeia, pela voz do seu presidente, Durão Barroso, se permitiram intrometer-se no nosso Tribunal Constitucional, fazendo pressão sobre ele. Chegámos ao ponto de um funcionário da União Europeia, representante desta, de nacionalidade portuguesa, permitir pronunciar-se contra a independência do Tribunal Constitucional. Ao que o dinheiro obriga e o que dele resulta...
 
A tudo isto o Tribunal Constitucional tem resistido em silêncio - como deve - tornando-se um fator de independência e de seriedade.
 
É um exemplo para nós portugueses - que tanto sofremos, com o atual Governo, que está a destruir o nosso querido País - e merece a solidariedade de todas as pessoas sérias. A nossa Justiça é má, em muitos casos não existe, mas o Tribunal Constitucional, com a sua independência e seriedade, é um bom exemplo para todos nós.
 
O problema é que o atual Governo não acredita na nossa Constituição, que jurou respeitar. Veremos se o Presidente da República que tem andado tão ausente, para não ser perguntado quanto à defesa da Constituição e do Orçamento (nem se pronunciou sobre ele no Panamá, ao lado do seu protegido primeiro-ministro), terá agora a ousadia de dizer que a Constituição não se come, como disse Passos Coelho? Engana-se redondamente. Porque a Constituição, que só pode ser revista por mais de dois terços no Parlamento - o que não é o caso - estabelece os direitos dos cidadãos, que não podem nem devem ser tratados desigualmente, respeita os sindicatos, o Estado social e o Estado de direito, tudo o que o Governo quer destruir, como aliás, a própria democracia.
 
Ameaçar o Tribunal Constitucional como o Governo tem feito, e alguns dos que com ele procuram ganhar dinheiro, é algo de inaceitável. Porque implica negativamente com a Constituição e com a democracia. Como vai o Presidente da República, perante tal jogo, reagir em favor dos seus protegidos, tendo jurado a Constituição?
 
O atual Governo nunca diz o que faz nem explica as condições e sarilhos em que está metido. Depois de destruir o Estado, anda desde janeiro a dizer que vai apresentar um guião sobre a reforma do Estado, que Paulo Portas nunca fez nem fará. Também não explica o que se passa com o erário público e os dinheiros que o Governo gasta com os membros deste Governo que são 54 (ministros e secretários de Estado), chefes de gabinete e inúmeros assessores. Para quê? Os automóveis que todos têm e as viagens que fazem permanentemente com os seus amigos e assessores. Nada do que gastam é conhecido. Mas um dia será.
 
Quando se souber - e entre o povo empobrecido, muitas pessoas passam fome -, a revolta que existe hoje já praticamente todos os dias pode levar a uma revolução. O Presidente da República não terá consciência disso? Não será por isso que tem estado agora ausente tanto tempo para não falar aos portugueses?
 
Por isso, o mais depressa possível, temos de defender a Constituição e salvar a democracia. Sob pena de ficarmos com um País cada vez mais empobrecido e sem expressão no Mundo. Que desgraça! Por isso todos os portugueses sérios gritam: Governo rua. Todos os dias e por todo o lado. Com o Presidente calado. Nunca se viu nada assim.
 
4 A Igreja Portuguesa
 
A Igreja portuguesa tem estado bastante silenciosa. Como se Portugal não estivesse a ser destruído aos poucos, pelo atual Governo.
 
Porquê? A cerimónia de Fátima de 13 de outubro teve uma enorme multidão e um representante de Sua Santidade o Papa Francisco. A grande maioria dos peregrinos eram pobres, sem emprego. Por isso, muitos rezaram por um tempo melhor.
 
Contudo, ao que se disse, o Governo ameaçou ir buscar algum dinheiro a Fátima. Mas não pôde ir tão longe. O Conselho Episcopal falou contra a situação crítica do nosso País e falou bem, Mas quanto ao Patriarca - o emérito e o atual - o silêncio foi a regra. O primeiro falou contra os sindicatos e as oposições e de algum modo disse que era necessário proteger o Governo. Como se a política de austeridade deste Governo fosse uma fatalidade e não mais um erro intolerável, como tem sido. Com a destruição do nosso Estado e o empobrecimento nunca visto das pessoas.
 
Há muitos portugueses empobrecidos que têm medo de falar. Mas a Igreja, com o sentido da pobreza que deve ter, não é saudável que não o faça.
 
É certo que a Igreja portuguesa apoiou o salazarismo e a sua estúpida política colonial. Por isso surgiram os católicos progressistas e a Igreja foi respeitada e protegida após o 25 de Abril. Tornou-se, de resto, uma Igreja aberta e progressista, em comparação com a Igreja espanhola.
 
Quer agora voltar atrás, para que o atual Governo não lhe vá aos dinheiros de Fátima, como a outros bens, casas, etc.? Que grande erro seria!
 

Polícia chinesa associa "ataque terrorista" em Tiananmen a "extremistas religiosos"

 


Pequim, 30 out (Lusa) - A polícia chinesa associou hoje o "ataque terrorista" de segunda-feira na Praça Tiananmen, que matou cinco pessoas e feriu mais de trinta, a "extremistas religiosos" do Xinjiang, região de maioria muçulmana do noroeste da China.
 
Dentro da viatura utilizada naquele "premeditado ataque terrorista" e nas residências dos cinco suspeitos entretanto detidos a polícia encontrou facas, barras de ferro e bandeiras com slogans "extremistas religiosos", disse a Televisão Central da China (CCTV).
 
O ataque ocorreu na segunda-feira cerca do meio-dia (hora local) quando um jipe abalroou a multidão que se encontrava no topo norte da Praça Tiananmen e a seguir se incendiou, causando a morte dos três passageiros que seguiam no veículo e de dois turistas.
 
"Usmen Hasan, a mãe (Kuwanhan Reyim) e a mulher (Gulkiz Gini) conduziram um jipe com matrícula do Xinjiang contra a multidão, matando duas pessoas e ferindo outras quarenta", disse um porta-voz do Departamento de Segurança Publica de Pequim.
 
Os três ocupantes do jipe "morreram depois de terem incendiado o veículo com gasolina, indicou o porta-voz.
 
Pelos nomes, os ocupantes do veículo - assim como os cinco suspeitos detidos (Husanjan Wuxur, Gulnar Tuhtiniyaz, Yusup Umarniyaz, Bujanat Abdukadir e Yusup Ahmat) - parecem ser uigures, a maior etnia do Xinjiang, de religião muçulmana e cultura turcófona, segundo a mesma fonte.
 
Situada no centro de Pequim, a Praça Tiananmen, com cerca de 40 hectares, é um dos espaços públicos politicamente mais sensíveis e vigiados da capital chinesa. Trata-se também de uma das principais atrações turísticas do país e foi o palco das manifestações pró-democracia da primavera de 1989, esmagadas pelo exército.
 
"O ataque terrorista de segunda-feira foi perpetrado no coração de Pequim", disse um repórter da CCTV.
 
Há três semanas, a imprensa chinesa anunciou que 139 pessoas foram detidas no Xinjiang por advogarem a "jihad" (guerra sagrada) através da Internet.
 
Em junho passado, um outro "ataque terrorista" atribuído a "extremistas religiosos" causou 24 mortos. Foi o mais violento incidente registado no Xinjiang desde os tumultos do verão de 2009 em Urumqi, a capital da região, que mataram 197 pessoas.
 
O Xinjiang, um vasto território de maioria islâmica, rico em petróleo e recursos minerais, confina com o Afeganistão, Paquistão e três ex-repúblicas muçulmanas da Ásia Central.
 
Os uigures constituem 45% dos cerca de 25 milhões de habitantes do Xinjiang.
 
Algumas organizações que advogam a "jihad" no Xinjiang estão ligadas à Al-Qaida e os seus membros receberam treino militar no vizinho Afeganistão, afirmam as autoridades chinesas.
 
AC // VM - Lusa
 

AUSTRÁLIA AJUDOU NA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÃO NA ÁSIA-PACÍFICO

 


Sydney, Austrália, 30 out (Lusa) -- A Austrália espiou em vários países da Ásia Pacífico para depois partilhar a informação obtida com os Estados Unidos, garantiu um especialista australiano em informações numa entrevista ao canal ABC.
 
O Centro Australiano de Sinais partilha os dados que recolhe através dos seus centros locais de espionagem com a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos, declarou Des Ball no programa televisivo "Lateline" divulgado pela ABC.
 
De acordo com este especialista, quatro centros de espionagem australianos participam no programa "XKeyscore", um sistema desenvolvido pela NSA para obter e analisar uma grande quantidade de dados da Internet.
 
Estas instalações estão na base de Pine Gap, próxima da cidade de Alice Spring, no centro da Austrália, numa estação nas imediações da cidade de Geraldton, na Austrália Ocidental, e em outros dois centros de espionagem próximos das cidades de Darwin e Camberra.
 
A Austrália, que tem a segurança como uma das suas prioridades nacionais, vigia as comunicações relacionadas com atividades terroristas, segundo Des Ball.
 
Um mapa secreto revelado pelo ex-técnico da CIA, Edward Snowden, que revelou a espionagem realizada pela NSA, revela que os Estados Unidos têm centros de vigilância em vários postos diplomáticos na Ásia.
 
"A Austrália também utilizou as suas embaixadas no estrangeiro com propósitos de vigilância numa operação designada como 'Reprieve'", disse Ball.
 
A Austrália integra há décadas o acordo secreto dos "Five Eyes" (Cinco Olhos), ao qual pertencem os Estados Unidos, o Reino Unido, o Canadá e a Nova Zelândia para partilharem informação e evitar a espionagem entre eles.
 
PNE // PNE - Lusa
 

Timor-Leste: DESASTRES NATURAIS CAUSAM SEIS MORTOS

 

30 de Outubro de 2013, 14:26
 
O secretário da administração do distrito de Lautem, Júlio Maria de Jesus Castro informa que se deu um desastre natural na passada quinta feira no suco de Pirara devido à chuva forte.

Segundo o comandante da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) do distrito Lautem e dos líderes comunitários, três famílias foram afetadas por este desastre natural.

No seguimento o administrador e os líderes comunitários estão a fazer um esforço para conseguir salvar os corpos que ficaram subterrados com o deslizamento da terra, resultando em 6 mortos, incluindo duas crianças.

Após ter recebido a informação da parte competente do distrito de Lautem, o Ministério da Solidariedade Social tratou de enviar caixões, arroz e plásticos para cobrir os corpos.

Para além disto as vítimas irão receber dinheiro oferecido pela PNTL. Por outro lado o vice-primeiro ministro Fernando Lasama de Araújo fez um alerta a todas as comunidades para não construirem casas ao pé das montanhas e nos lugares onde facilmente acontecem deslizamentos de terra.

O mesmo solicita também aos “Lia Na’in” para realizarem um ritual relacionado com o acontecimento no suco Baru onde uma criança de 10 anos foi apanhada por um crocodilo e pede para que as comunidades permaneçam afastadas do mar, nomeadamente na área de Iralalaro.

SAPO TL com STL
 

Timor-Leste: Ministério da Educação entregou Certificados para 176 professores

 

30 de Outubro de 2013, 17:27
 
O Ministro da Educação Bendito Freitas, esta terça feira, distribui Certificados dos cursos de formacão complementar intensivos para 176 professores dos 13 distritos no antigo salão do CNRT, Balide Díli.

Bendito de Freitas disse aos jornalistas após ter feito a distribuição dos certificados, que os mesmos servem para completar os requisitos pedidos pela lei vigente na área da educação, assim os professores estarão aptos para preencher o regime de carreira. Com esta distribuição vai facilitar também a acreditação perante o estado.

Esta formacão baseou-se no conteúdo singular e na parte da ética, no domínio das línguas oficiais para facilitar a tarefa do ensino, assim como encontrarem novas visões do ensino.

A vantagem da formação é de fortalecê-los na parte da ética de modo a tornarem-se professores efetivos e bons formadores.

O Presidente do INFORDEPE Adérito Coreia disse que o curso complementar leva a que os professores pertençam a três regimes de carreira. O certificado indica que eles já estão preparados para o regime de carreira, disse Adérito.

Os 176 professores participaram na cerimónia de entrega dos certificados, o professor Domingos da Costa Cruz disse que da sua parte sente-se orgulhoso porque durante a formação aprendeu muita coisa relacionado com a educação, com estes materiais irá ajudar-nos a melhorar a qualidade do ensino para que os nossos alunos sejam cidadãos responsáveis em Timor-Leste.

SAPO TL
 

“EXÉRCITO MOÇAMBICANO TENTA OCUPAR BASE DA RENAMO” EM SITATONGA

 


Homens armados e forças de segurança voltaram a confrontar-se na madrugada de quarta-feira na região de Sitatonga, centro de Moçambique, quando as forças governamentais tentavam desativar uma base militar da oposição, disseram hoje à Lusa várias fontes.
 
"Soubemos dos ataques e temos informação de que houve baixas de ambos lados. Já foi enviada uma equipa de socorro para retirar os feridos. O hospital está em prontidão neste momento para receber as vítimas", disse à Lusa Pedro Vidamão, diretor do Hospital Rural de Muxúnguè.
 
Contudo, as forças governamentais não conseguiram ocupar a base, pela prontidão de resposta dos homens armados em Sitatonga, uma "temida" base da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que tem estado a reagrupar os seus homens, segundo fonte militar.
 
Ainda hoje, homens armados atacaram a escolta militar de viaturas no troço Save-Muxúnguè, tendo provocado vários feridos, que igualmente estão a ser levados para o hospital, confirmou à Lusa fonte médica.
 
Este é o terceiro ataque intercalado em cinco dias naquela região, depois de investidas a 29 e 27 de outubro, que resultaram numa morte e 15 feridos, dos quais quatro graves, incluindo o comandante da escolta.
 
Moçambique vive a sua pior crise política e militar desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992, na sequência de confrontos entre o exército e homens armados da Renamo, principal partido da oposição, devido a divergências em torno da lei eleitoral.
 
AYAC // VM – Lusa – foto António Silva
 

Forças governamentais atacam Renamo nas matas de Rapale, no norte de Moçambique

 

Verdade (mz)
 
Na sequência do clima de insegurança instalado no país, militares das forças governamentais protagonizaram tiroteios na manhã desta terça-feira (29) contra supostos homens armados da Renamo que se refugiaram na zona de Navevene, no povoado de Naphome, no posto administrativo de Caramaja, distrito de Rapale, em Nampula.
 
Trata-se de homens pertencentes à guarda-pessoal do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que se encontravam a guarnecer a residência oficial em Nampula, e terão ido àquela região montanhosa para se esconder.
 
“Eles sempre diziam que estavam no local aguardando que a situação regressasse à normalidade, e nunca nos passou pela cabeça que se tratava dum eventual retorno à guerra”, disse uma fonte. A nossa fonte confirma igualmente que apesar os supostos homens armados da Renamo estão equipados com armas de fogo de diferentes calibre, mas não responderam às investidas das forças governamentais, que ainda se encontram na região.
 
Segundo o testemunho do director de uma das escolas primárias daquele povoado, que se encontra na cidade de Nampula, os supostos homens armados da Renamo, cerca de cem, escalaram as zonas montanhosas daquela região há sensivelmente duas semanas, mas sem causarem actos de vandalismo contra a população local.
 
“Logo que as forças governamentais chegaram avisaram a população local para que não se intimidasse com a sua presença. Mas hoje fomos colhidos de surpresa pois ouvimos disparos. Na verdade tratou-se de uma perseguição levada a cabo pelas forças governamentais contra os homens da Renamo, mas estes não responderam, e acho que ainda se encontram naquelas montanhas”.
 
O nosso interlocutor disse ainda que, devido à insegurança, a população local viu-se obrigada a abandonar a região, tendo-se refugiado na vila sede de Rapale, sendo que outras preferiram dirigir-se à capital da província, a cidade de Nampula.
 

Portugal: O PRESIDENTE E O GOVERNO ESTÃO SURDOS

 


Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião
 
Já ninguém confia no Governo." A frase é lugar-comum, mas adquire um peso maior quando dita por alguém como Luís Campos e Cunha, da SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social), e junta--se ao grande coro de indignações que percorre a sociedade portuguesa. Entretanto e por outro lado, Freitas do Amaral esclarece que o Executivo está a defrontar o Tribunal Constitucional no intuito de sair airosamente de uma situação degenerada. Também D. José Policarpo, patriarca emérito de Lisboa, manifesta o descontentamento que lhe provoca esta gente, lamentando que as alternativas não aparecem. Por último, numa notável entrevista a António José Teixeira, no programa A Propósito, da SIC-Notícias, Carlos do Carmo dizima a actividade do dr. Cavaco, como primeiro-ministro e como Presidente da República, acusando-o de causador de todos os males que nos afectam, por inépcia e falta de percepção histórica. Poucas vezes o nosso drama foi tão claramente enunciado como o fez o grande cantor, claramente emocionado.
 
A pátria está de pantanas, por uma governação aparentemente impune e alegremente estouvada. Os gritos de desespero que a fome e a desgraça despertam não são ouvidos em Belém. O crime terá, mais tarde ou mais cedo, de ser punido, e cada vez mais se acentuam as responsabilidades políticas e morais de um Governo que o não é, e de um Presidente que não há. Todos os dias da semana há protestos nas ruas, os governantes andam com um batalhão de "gorilas" a resguardar-lhes o corpo, os suicídios aumentam, milhares de famílias não têm pão para pôr na mesa, o País despovoa-se da sua juventude e temos a gelada sensação de que ninguém nos ajuda. Nas Jornadas Parlamentares do PSD-CDS, Paulo Portas, cuja imagem, distorcida e embaciada, está cada vez mais parecida com a do espelho em que se revê, abriu a sessão garantindo que já se vislumbra melhorias na economia. Mas que é isto? Vivemos nesta mentira, neste embuste, nesta pouca--vergonha que degrada a ética republicana e provoca amolgadelas maiores nos valores e nos padrões morais do nosso modo de relação social.
 
António José Seguro permanece ofuscado por qualquer problema que se desconhece. Nada diz, nada faz, em nada age. Cumplicia-se com o silêncio tenaz dos que se não querem comprometer. E as hostes agitam-se, cada vez mais, no PS, adquirindo proporções de que se registou uma pálida ideia na sessão de lançamento de um livro de José Sócrates. Esta agitação impeliu o antigo ministro Catroga ao beligerante comentário de que o ex-primeiro-ministro do PS deveria ser julgado. Bom. Neste caso e decorrências, o Catroga passaria ao lado? Ele, os que o antecederam e sucederam são santos impolutos e criaturas intocáveis?
 
O mal-estar que envolve o País tem muito a ver com este distúrbio, da natureza da consciência e de uma identidade própria que eles desagregam.
 

Portugal: GOVERNO TAMBÉM ABRE GUERRA A CÃES E GATOS

 

Diogo Pombo – jornal i
 
Para promover a "detenção responsável de animais", o governo quer um máximo de dois cães por habitação
 
Seja um T0 sem divisões seja um apartamento com sete assoalhadas e 150 metros quadrados, o limite não muda: em "fracções autónomas de prédios urbanos e moradias sem logradouro" poderá em breve ser ilegal albergar mais de dois cães ou quatro gatos. Ou quatro animais de companhia, no máximo. Mas se for um criador de raça portuguesa, canina ou felina, aí já lhe será permitido ter dez animais. Estas são duas das alterações que o Ministério da Agricultura e do Mar incutiu na sua proposta de Código do Animal de Companhia. Para já não passa de um "projecto de diploma", que ainda se encontra em fase de "análise técnica", carecendo de "qualquer avaliação política", como explicou ao i a tutela.
 
O documento, redigido pela Direcção-Geral da Alimentação e Veterinária, é preliminar e visa, "em primeiro lugar", evitar "a criação não planeada e indiscriminada de animais". A justificação, lê-se na cópia do projecto a que o i teve acesso, passa por "reunir num único diploma legal todas as regras em matéria de reprodução, criação, detenção, maneio e comércio de animais de companhia". Mesmo sem datas ou prazos já definidos para a sua entrada em vigor, as vozes do sector (e não só) já consideraram o projecto "ridículo" e "sem pés nem cabeça".
 
As expressões foram das primeiras que Jorge Cid utilizou. "É quase um projecto de um país de terceiro mundo", defendeu o presidente da Associação dos Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia (AMVCAC), ao argumentar que "não se considerou as possibilidades de as pessoas terem ou não os animais", além "das suas características". Em prédios urbanos, o documento diz que "podem ser alojados até dois cães ou quatro gatos por fogo", não podendo, "no total", ser ultrapassado "o número de quatro animais" de companhia. A legislação actual estipula um máximo de três cães e quatro gatos por habitação, com o limite conjunto a ficar nos cinco animais.
 
Na proposta do Ministério da Agricultura, as regras mudam caso a habitação englobe um pátio ou espaço exterior. "Com logradouro de uso exclusivo e nos prédios rústicos e mistos", explica, o limite passa para "seis animais adultos". E "nenhuma" razão justifica o alargamento do limite para os criadores de raças nacionais, defendeu Laurentina Pedroso. A bastonária da Ordem dos Veterinários - uma das entidades consultadas pela tutela, em Junho, a par da Associação Nacional de Freguesias e da sua congénere dos municípios - diz que a proposta "só pode e deve ser" alterada, "a não ser que o governo pretenda discriminar todos os outros cidadãos que tenham animais".
 
Em matéria de números e limites, nada mais é referido - nem a tipologia e dimensão do apartamento nem o porte e tamanho da raça do animal. "Como é óbvio, não será igual ter dois chihuahuas ou dois Grand Danois num apartamento", lembra Jorge Cid, pegando no exemplo de duas raças caninas de diferente porte. As queixas do dirigente chegam ao "descalabro" ao explicar que "o projecto de lei" não permite "a uma pessoa que viva numa quinta ter mais de seis cães". Isto quando "tem condições para ter cinco, seis, sete ou dez".
 
O diploma, porém, indica que um "regulamento de condomínio" pode estabelecer "um limite inferior ao previsto" no diploma. Traduzindo, se partilhar um prédio com pelo menos três outros condóminos, e tiver o azar de os vizinhos não gostarem de animais, corre o risco de não poder ter sequer um cão. Um ponto no qual António Frias tem "sérias dúvidas quanto à exequibilidade". O presidente da Associação Nacional de Proprietários explicou ao i que um senhorio, "em rigor, não pode dizer se quer ou não quer cães e gatos" na casa do arrendatário, pois isso seria "interferir na sua liberdade". O dirigente assegurou assim que um regulamento de condomínio ou o proprietário do apartamento "não pode proibir um inquilino de ter animais de companhia".
 
O presidente dos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia não vê "sequer utilidade" num documento "com 94 páginas" que "tenta regulamentar uma coisa que já é pacífica". A quantidade de cães ou gatos numa residência, defende Jorge Cid, "não determina o seu tratamento". Algo que poderia ser analisado caso um "veterinário municipal" se deslocasse à residência e avaliasse "se o dono tem condições para manter os animais em boas condições de bem-estar, higiene e saúde", sugeriu Laurentina Pedroso.
 
A bastonária garante que foram "muitos" os pontos em que requereu "alterações fundamentais" ao diploma, como a "inexistência" de coimas para o abandono. Ao i, porém, a tutela apontou "contrariar práticas de abandono" como um dos objectivos da proposta - "trabalhada tecnicamente durante sete anos".
 
O projecto estipula também que sejam "imediatamente eutanasiados" os animais recolhidos da rua num estado "que não seja passível de recuperação", além de não permitir a adopção de exemplares com "doenças infecto-contagiosas ou parasitárias". Medidas, diz Laurentina Pedroso, que deveriam ser "a excepção, e não a regra".
 
O que diz o projecto
 
Manutenção de cães e gatos
 
Em “fracções autónomas de prédios urbanos e moradias sem logradouro” o documento restringe até “dois cães ou quatro gatos” por “cada fogo”. No total, o número de animais de companhia não pode exceder os quatro. O limite actual está nos cinco animais (ou três cães e quatro gatos). Nada refere quanto à dimensão e tipologia do apartamento, ou ao tamanho/porte do animal.

Criadores nacionais
 
No caso dos “detentores de animais de raças nacionais” com o objectivo de “melhoramento e preservação do património genético”, é permitido alojar até dez animais adultos.

Deveres dos donos
 
Os proprietários devem“assegurar as necessidades básicas de bem-estar” dos animais e “garantir o controlo da sua reprodução, salvaguardar a sua saúde e prevenir os riscos inerentes à transmissão de doenças a pessoas e outros animais”. Além de preservar “a salubridade dos locais e tranquilidade das pessoas”.

Contenção
 
Qualquer cão ou gato que circule na via pública deve “usar coleira ou peitoral”, que deve obrigatoriamente incluir “o contacto” com o proprietário. Ou seja, a trela. Os cães, aliás, “só podem circular na via ou lugares públicos conduzidos à trela ou com o açaimo funcional”.

Eutanásia
 
A propostaestipula que devem ser “imediatamente eutanasiados” os animais que cheguem aos centros de recolha“em estado terminal ou em sofrimento, que não sejam passíveis de recuperação. Também “não podem ser destinados à adopção” os exemplares que “apresentem sinais evidentes de doenças infecto-contagiosas ou parasitárias”.
 
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Portugal: COELHO PROTEGIDO, CÃES E GATOS PRÁ RUA

 

Balneário Público
 
Dois cães e quatro gatos é quantos animais quadrúpedes a ministra Cristas quer impor como limite nas casas dos portugueses. Não refere outros animais de estimação nem de desprezo. Já avisei o meu feiérrimo coelho Passos que pode ficar descansado porque a ministra Cristas é amiga dos coelhos. E ele foi transmitir a notícia aos outros oito compinchas orelhudos que vagabundeiam pela varanda a abarrotar de caganitas e muito pouco comida por estarem a pão e água, por castigo e desprezo. É que para mim coelhos é para desprezar e sentir o prazer de os ver andar por ali pela varanda ao frio, ao calor, ao sol tórrido… Mesmo assim não morrem, nem adoecem. São de má-raça. Talvez da raça do dia da dita a que Cavaco se péla por homenagear. Ele, tal qual Salazar. Mas voltando aos limites animalescos que cada português pode ter em casa (acreditem porque é verdade) vou ter de me desfazer de dois cães e três gatos para cumprir a lei de Cristas, a ministra que anda a brincar com o país porque a crise já terminou e estamos na melhor das sociedades, e do progresso, e da abastança, etc. Com esta lei vai ser uma alegria ver-mos os cidadãos sem-abrigo acompanhados pelos gatos sem-abrigo e pelos cães sem-abrigo escorraçados das casas por Cristas. Coelhos sem-abrigo é que não, nem constam por limites na lei da escorraça animais. Podemos ter em casa os coelhos que quisermos. Na rua é que não podem andar. Compreende-se a ministra. Imaginem o que aconteceria se a lei do limite dos animais nas casa portuguesas incluíssem os coelhos e tivéssemos de os pôr fora de casa. Andava tudo com uma moca à caça do Coelho para lhe dar traulitadas, descarregar a bílis e ter o que cozinhar na panela. Nem outra atitude seria de esperar, com a fome que vai por este Portugal. Ponto assente: coelhos protegidos, cães e gatos prá rua. Coelho Passos e os outros na minha varanda estão protegidos pela lei Cristas e não vão para a rua. Resta-me o consolo de ver os coelhos na varanda a penarem. Ao menos isso, enquanto a fome cá em casa não apertar, permitindo assim que por agora não os encaminhe para a panela depois de umas traulitadas. Que é o mais certo.
 
Álvaro Tomeu
 
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JOAQUIM OLIVEIRA E MARINHO PINTO NA EQUIPA DE EDUARDO DOS SANTOS

 

Folha 8 – 26 outubro 2013
 
Joaquim Olivei­ra, presidente e suposto dono da Controlinveste, empresa pro­prietária – entre outros meios – do Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Dinheiro Vivo e TSF, e Marinho Pinto (bas­tonário da Ordem dos Ad­vogados portugueses em fim de mandato) também saíram à rua para defender a honra, que dizem vilipen­diada, de Eduardo dos San­tos e do seu regime.
 
Curiosamente ambos usam a mesma argumenta­ção, dizendo que se ques­tiona sempre a origem do dinheiro de Angola (quase exclusivamente originá­rio de um grupo restrito ligado aos dirigentes do regime) e – note-se – não se questionam os investi­mentos norte-americanos, por exemplo.
 
Ambos, e é verdade que estão acompanhados cada vez em maior número, es­quecem o que nesta maté­ria é essencial e valorizam, numa atitude mesquinha que só leva em conta o próprio umbigo, o acessó­rio.
 
Vejamos, fazendo uso dos EUA e de Angola. Os in­vestimentos ditos ango­lanos têm origem no nú­cleo-duro do presidente. Os norte-americanos têm origem em algum núcleo, duro ou não, ligado a Bara­ck Obama?
 
Quantos anos esteve Bara­ck Obama como presiden­te dos EUA sem ter sido eleito? Eduardo dos San­tos esteve 32 anos. O pre­sidente norte-americano tem limite de mandatos, o seu homólogo angolano não.
 
As filhas do Barack Oba­ma, ou de qualquer outro presidente, são as mais ri­cas cidadãs do país? Não. As de Eduardo dos Santos são.
 
Nos EUA, é Barack Oba­ma que escolhe – grosso o modo e no que é aplicável - todos os juízes do Tri­bunal Constitucional, to­dos os juízes do Supremo Tribunal, todos os juízes do Tribunal de Contas, o Procurador-Geral da Re­publica, o Chefe de Estado Maior das Forças Arma­das, os Chefes do Estado­-Maior dos diversos ra­mos? Não.
 
Em Angola é o Presidente que escolhe.
 
Na democracia norte­-americana, o poder ju­dicial é independente, o Povo sabe quem elege ou quem não elege. Em An­gola não.
 
Portanto, os EUA ofere­cem mais garantias de transparência nos seus investimentos do que An­gola. Ou, melhor, do que aquele protagonizado por alguns, poucos, angolanos.
 
Bem antes dos novos arau­tos da honorabilidade dos investidores angolanos, já em Setembro de 2009, Ângelo Correia – um dos “pais” de Pedro Passos Coelho – aconselhava o lí­der do PSD a falar (bem, é claro) do regime de Eduar­do dos Santos.
 
Em Luanda, Ângelo Cor­reia considerou (27 de Setembro de 2009) “legí­timos e legais” os investi­mentos feitos por empre­sas angolanas em Portugal.
 
Em declarações à impren­sa no âmbito das pales­tras sobre o ambiente, o ex-ministro da Adminis­tração Interna do PSD, afirmou “não existir nada no ordenamento jurídico português” que impeça empresários estrangeiros de investirem no mercado luso, procurando gerar ca­pitais e conhecimentos.
 
“Da mesma forma que os portugueses investem em Angola, é legitimo que os angolanos o façam tam­bém no nosso país. Os be­nefícios são mútuos e em alguns casos Portugal sai mesmo a ganhar porque recebe investimentos em áreas onde não tem pro­dução”, sublinhou, apon­tando o sector petrolífero como exemplo.
 
Considerando “reaccio­nárias” as pessoas que já então se manifestavam contrárias ao investimento de angolano ligados ao clã presidência em Portugal, Ângelo Correia referiu-se ao investimento da petro­lífera Sonangol na Galp, como sendo uma iniciativa que ajudava a reforçar os laços de cooperação entre os dois estados.
 
“Nada está a acontecer à margem da lei, portanto, é legítimo que os angolanos escolham determinadas áreas para investir. Quem se manifesta contra é por­que ainda vive no passado e deve, por isso, actualizar­-se. Estamos num mundo globalizados e num mer­cado aberto para todos”, disse o inspirador, mentor e criador da criatura que hoje é primeiro-ministro de Portugal.
 
De facto, com tantos flo­reados, até parece que tudo é transparente nos in­vestimentos feitos em Por­tugal. Parece mas não é.
 
Ângelo Correia sabia e sabe isso muito bem. Mas, é claro, há coisas que se sabem mas não se dizem, sobretudo porque isso po­deria ser visto como estar a cuspir no prato onde se come. E Joaquim Oliveira, Marinho Pinto e Ângelo Correia (entre muitos ou­tros) são pessoas de gran­de e bom alimento.
 
Ao contrário do que dizia Ângelo Correia e agora re­petem o “dono” da Contro­linveste e o bastonário dos advogados portugueses, ninguém cá como lá põe em causa os investimentos angolanos em Portugal. O problema está em que não são investimentos ango­lanos, são investimentos de uma família e de meia dúzia de amigos que quase representa 100 por centro do Produto Interno Bruto do nosso país.
 
Fossem, de facto, empre­sas angolanas e tudo esta­ria bem. Mas não são. São de um clã.
 
Aliás, quantas empresas tem o homólogo portu­guês de José Eduardo dos Santos? Que percentagem do PIB português repre­senta, por analogia com o presidente angolano, Ca­vaco Silva?
 
Ao contrário de Ângelo Correia, os reaccionários não estavam, não estão e nunca estarão contra as empresas angolanas. Estão isso sim (e até ficava bem Ângelo Correia estar tam­bém desse lado) contra o facto de haver meia dúzia de pessoas, todas ligadas ao clã Eduardo dos Santos, que são donas de Angola.
 
Do outro lado da questão estão os investimentos portugueses em Angola. Que se saiba, legais ou não, transparentes ou não, não pertencem ao núcleo-duro de Cavaco Silva. Mas isso é irrelevante.
 
Segundo o vice-primeiro­-ministro português, Paulo Portas, o sucesso dos in­vestimentos de empresas portuguesas em Angola é a chave para a manuten­ção de postos de trabalho em Portugal.
 
Assim, mais de um milhão e duzentas mil pessoas que estão no desemprego fica­ram, valha-lhes ao menos isso, a saber que nada de­vem ao regime que foi pre­sidido por um cidadão que esteve 32 anos no poder sem nunca ter sido eleito.
 
“O mercado angolano é o primeiro fora da Europa para as nossas empresas, que fazem aqui uma apos­ta muito importante, que fazem aqui investimentos significativos e que ao ter uma posição importante em Angola estão a prote­ger postos de trabalho na rectaguarda, em Portugal”, disse Paulo Portas.
 
Recorde-se que o comen­tário bajulatório (como todos os que partem de Lisboa) de Paulo Portas veio na sequência de de­clarações do então minis­tro de Estado e da Coorde­nação Económica, Manuel Vicente, segundo o qual Angola não iria reforçar os investimentos no tecido produtivo português.
 
“Angola é um país cujo crescimento económico é enorme. Tem uma prio­ridade importante que é fazer com que esse cresci­mento signifique também uma melhor distribuição. Tem inúmeros planos nas áreas económica e social para o território angolano e na internacionalização, Portugal foi, é e será im­portante, como se vê to­dos os dias pelos factos”, salientou Paulo Portas.
 
As relações entre Portu­gal e Angola “são boas e podem ainda ser me­lhores, sempre numa perspetiva duplamente ganhadora. É preciso que os interesses de Portugal em Angola sejam defen­didos e é preciso que os investimentos de Angola em Portugal sejam prote­gidos”, disse Paulo Portas, certamente depois de ter sido suficientemente afa­gado pelos especialistas do regime.
 
“Há muitas empresas portuguesas presentes no mercado angolano: grandes, médias e peque­nas, e há inúmeros planos para o futuro de Angola onde a participação das empresas portuguesas é relevante e hoje em dia é muito significativa, em sectores importantes, a entrada de capitais ango­lanos em Portugal”, acres­centou Paulo Portas.
 

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