segunda-feira, 24 de junho de 2013

Histórico do MPLA revela que “O futuro presidente de Angola é o próprio filho do Presidente”




Maputo  - Marcolino Moco, primeiro-ministro de Angola entre 1992 a 1996 foi o principal orador de uma conferência Internacional sobre Governação da Economia Extractiva, realizada em Maputo e organizada por iniciativa do Grupo Ibis Moçambique sob o lema “Recursos Naturais: Bênção ou Maldição?”.

*Luis Nhachote - NJ

A expectativa de ver e ouvir Moco, era enorme na capital moçambicana, na medida em ia partilhar a experiência angolana, numa altura em que o debate a volta de recursos naturais, desde a sua descoberta em Moçambique esta a levantar vários debates.

A apresentação de Marcolino Moco, tinha como titulo “Responsabilidade dos políticos para que os recursos naturais beneficiem a todos: da situação em Angola e notas soltas sobre Moçambique”. Após a conferência, Marcelino Moco concedeu uma grande entrevista ao principal canal privado de Televisão em Maputo, a STV, onde deixou os seus pontos de vista sobre o país que o via nascer: Angola. A mesma foi integralmente reproduzido no diário O País, um jornal pertencente ao mesmo grupo da STV, a  Sociedade Independente de Comunicação (SOICO).

Os “recados” de Maputo

Marcolino Moco foi de 1991 a 1992 secretário-geral do MPLA, de 1992 a 1996 primeiro-ministro de Angola e primeiro-secretário executivo da CPLP de 1996 a 2000. Como é que um homem que atingiu tão altos cargos no governo de Angola de repente saiu e torna-se um crítico do regime? Esta foi a pergunta que deu pontapé de saída a entrevista que colocou os moçambicanos que conhecem o seu percurso grudados nos aparelhos de televisão que respondeu nos seguintes termos: “Não houve nada de repente. Eu aderi ao nacionalismo angolano em 1974, com a ideia de contribuir para o desenvolvimento do meu país; lutar para harmonização das várias etnias e vários povos de Angola e de todos os países africanos.

Foi um período de partido único em quase toda a África, mas depois fez-se uma reflexão, isso com a queda do Muro de Berlim e houve uma mudança que me apaixonou muito. Criou-se um novo quadro, novo sistema, novo paradigma e, nessa altura, atingi altas funções, tanto no partido, como mais tarde no governo como primeiro-ministro (uma espécie de auxiliar do presidente da República, que era o efectivo chefe do Governo).

Depois de cessar as minhas funções como governante, passei para secretário-executivo da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP). Como primeiro-ministro, dei tudo para se consolidar o novo quadro. Regressei às minhas funções no ano 2000, passando para a Assembleia Nacional e verifiquei que se tinha dado algum retrocesso na consolidação do caminho democrático, provavelmente, pelo prolongamento da guerra. A guerra, normalmente, cria um certo autoritarismo e uma concentração excessiva de poder para a pessoa que está à frente do Estado.”. Nessa mediática entrevista nos círculos intelectuais moçambicanos, Moco referiu que não abandonou a política activa, mas que “fui afastado de forma cínica” no interior do MPLA. Na mesma disse estar muito preocupado com o presidente José Eduardo dos Santos, pois, na sua percepção ele “nunca diz claramente o que pensa”.

O ex-primeiro ministro angolano, disse ser “pura ilusão pensar que o regime angolano é democrático. Ele só o é por proclamação”. Moco diz que a sua forma independente de pensar, faz que que jovens angolanos usem as redes sociais para o insultarem, acusarem-no de cobarde.” A uma questão sobre a sucessão do presidente angolano, Moco disse ser céptico crer que o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente possa suceder dos Santos, pois considera este muito pragmático. “Manuel Vicente vai fazendo o trabalho, vai recebendo missões do Estado, vai representando o presidente em reuniões, conferências, mas já começou-se a falar-se de Eusébio, que é o filho do presidente, de uma forma estranha nomeado um dos administradores do fundo soberano dos petróleos que movimenta muito dinheiro. Se isso tivesse sido discutido na Assembleia Nacional, no próprio Conselho de Ministros não se discutiu. Se olharmos para os antecedentes, só os distraídos é que não vêem que o futuro presidente de Angola é o próprio filho do Presidente. Não seria a primeira vez que isso acontece. Era bom que os angolanos aceitassem isso, mas que fazer, ninguém conhece o futuro”.  

Recursos minerais: Benção ou maldição?

Marcolino Moco considerou em Maputo que os recursos minerais em Angola, não foram nem bênção nem maldição. “Nem uma coisa, nem outra. Eles estão a ser geridos de uma forma preocupante, mas não podemos ir aos extremos. São recursos do povo angolano, de África e do mundo. Eles devem ser geridos com transparência.” Na óptica do orador, os recursos angolanos, o petróleo está a ser gerido de acordo com as normas mais sãs do mundo, os contractos de concessão de partilha, estão sem problemas. Aos moçambicanos Moco disse que para maior gestão dos recursos de que tanto falam – gás natural, carvão mineral, áreas pesadas e eventualmente o petróleo – tudo depende do amadurecimento da sociedade civil, e um controlo rigoroso. Esta fiscalização deve ser feita fundamentalmente pela comunicação social, por isso o bloqueio da comunicação é um perigo. Acho que Moçambique esta muito melhor que Angola. Existe uma televisão como esta, que em Angola não existe, uma entrevista destas lá não é possível. Tenho respondido desta forma em Angola quando dão me questões, mas depois não se divulga. Sai algumas partes moderadas. Angola não deve contentar-se com um discurso moderado, é preciso dizer a verdade da gravidade daquele país. Coisas dessas não saem nem na sociedade civil, nem do líder da oposição e nem dos líderes religiosos. Há essa reclamação mas tudo é sufocado.” A terminar a referida e extensa grande entrevista resumida nesta linhas Moco lançou um desabafo: “Praticamente desde que estamos em paz, Angola deixou de ratificar documentos de importância de direitos humanos e todos os documentos abraçados pelos países democráticos”.

A COBARDIA POLÍTICA DE CAVACO, parte II



Henrique Raposo – Expresso, opinião

Depois do caso apalhaçado, Cavaco Silva resolveu criar outro caso inexplicável. Em Elvas, um cidadão chamado Carlos Costal dirigiu umas palavrinhas amargas ao Presidente. Os impropérios, ao que parece, foram captados por dois polícias à paisana, que, de imediato, agarraram o senhor. Como se esta humilhação não fosse suficiente, Carlos Costal foi ainda forçado a pagar 1300 euros de multa. Ora, mais uma vez, o paizinho da nação perdeu a chance de revelar grandeza. O Presidente devia ter chamado os polícias para lhes dizer "pá, era mesmo necessário?" e, de seguida, devia ter desistido da queixa. Mas não desistiu. Este tipo de cobardia política não se perdoa.

Ilibar o Sr. Costal era a única saída airosa que o Sôr Presidente tinha à disposição. Para quê lançar o peso do Estado sobre alguém que mandou umas bocas ao Presidente? Para quê? Mais: se uma farpa de um cidadão vale 1300 euros de multa, as acções musculadas da CGTP deviam valer o quê? Chibatadas numa garagem escura de Belém? Por outras palavras, este caso é um absurdo e revela, mais uma vez, a cobardia política de um indivíduo mergulhado numa imensa vaidade pessoal.  Cavaco Silva não tolera qualquer beliscão no seu estatuto, um estatuto que julga sagrado.

Nesse sentido, este caso é sintoma de um mal maior: a distância entre a camarilha que nos governa e a realidade. E aqui existem duas subespécies de distância. Uns não sabem mesmo o que fazer perante a dura realidade que eles próprios criaram. Outros, como Cavaco, até sabem aquilo que é preciso fazer, mas recusam defender certas medidas porque não querem ser associados ao fim de uma época. Em ambos os casos, a conclusão é a mesma: o poder em Portugal está paralisado. As pessoas estão nos cargos, mas não têm poder para alterar a realidade. Este e outros casos (os processos de Sócrates contra jornalistas, por exemplo) revelam precisamente um poder desorientado perante a realidade e focado numa mera encenação de poder. Processar jornalistas e cidadãos é coisa de gente fraca.

Portugal: O MORDOMO DO GOVERNO




Hoje de manhã ouvi chamá-lo de Mordomo. Gostei.

Portugal: UM NOVO PARTIDO À ESQUERDA?



Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião

A esquerda em Portugal está tão bloqueada como a direita

Não vale a pena iludir o essencial: no actual estado da arte, a esquerda em Portugal está tão bloqueada como a direita - e está longe de se afirmar como alternativa consistente ao status quo. A questão essencial é que a integração no euro e o enlouquecido funcionamento das instituições europeias limitam radicalmente qualquer programa alternativo. O espectáculo degradante do passa-culpas entre os criadores da destruição europeia - via imposição de programas concebidos pela Comissão Europeia, FMI e Banco Central Europeu - ilustra o estado de decadência a que chegámos, onde só os mais optimistas vislumbram algum milagre capaz de nos retirar do cerrado fundo do túnel em que estamos.

O pacto entre os socialistas europeus e os partidos de direita (a que pertence a CDU de Angela Merkel) que decretou que a Europa deveria viver num estado de graça de défice zero é um dos compromissos mais abstrusos - e totalmente contra a outrora linha política dos socialistas e sociais-democratas europeus - e que inviabiliza a instituição de políticas sociais-democratas. Como é que em Portugal António José Seguro - ou outro qualquer dirigente do PS - poderá fazer políticas radicalmente diferentes das do actual governo quando está amarrado a esse compromisso, mesmo depois do abandono da troika do país? À esquerda do PS, o debate já está a ser feito no osso - e onde dói. PCP e Bloco de Esquerda já discutem amplamente se devemos sair do euro, aparentemente a única via para não ficarmos submetidos ao pacto orçamental, uma espécie de pacto de austeridade ad eternum. Mas as divergências sobre os riscos desta opção são imensas. A questão é que toda a conversa da esquerda sobre cortar com a troika esbarra numa realidade incontornável - nenhum partido português corta com a troika sozinho, sem assumir as consequências de sair do euro. Uma mudança radical na Europa seria a única coisa que nos poderia "salvar" - infelizmente, ela não está à vista.

O quadro é tão grave que o risco da emergência de populismos (como se verificou em Itália e aqui em Portugal é protagonizado pelo movimento Revolução Branca que admite fazer tudo para se apresentar a eleições) ou de uma alucinada abstenção é severo. Um novo partido à esquerda teria várias vantagens - aparecer expurgado dos complexos que impedem alianças à esquerda e conter a abstenção dos que estão "cansados dos mesmos". Mas falta o programa e isso não há (ainda).

Brasil: MUNDURUKU EXPULSAM 25 PESQUISADORES DE TERRA INDÍGENA




Eles coletavam amostras da fauna e flora da região para os estudos ambientais e de viabilidade das usinas hidrelétricas do rio Tapajós

Ruy Sposati, do Cimi – Brasil de Fato

Cerca de 25 pesquisadores foram retirados da terra indígena Munduruku, pelos próprios indígenas, nesta sexta, 22 em Jacareacanga, extremo oeste do Pará. Os técnicos coletavam amostras da fauna e flora da região para os estudos ambientais e de viabilidade das usinas hidrelétricas do rio Tapajós, que afetarão o território Munduruku.

Segundo os indígenas, os pesquisadores usavam uniformes da empresa Concremat, que presta serviços para o Consórcio Grupo de Estudos Tapajós, liderado pelas empresas Camargo Correia, GDF Suez, Eletrobras e Eletronorte, entre outras. 

"O que nós fizemos foi uma ação política, de resistência. Nós soubemos que tinha pesquisadores na região, há pelo menos dois meses... Fomos atrás deles e trouxemos para a cidade. Foi isso o que aconteceu", explica Valdenir Munduruku, que participou da operação. 

"Eles estavam divididos em duas equipes, uma de pesca e uma de mata. Nós encontramos a equipe de pesca próximo a aldeia Amanhanã. Trouxemos o chefe das equipes para Jacareacanga, com outros dois, para que eles chamassem todos os pesquisadores pra cidade", relata. 

"Tudo correu bem. Eles [os pesquisadores] não imaginavam... Conversamos com eles, foi tudo tranquilo. Agora estamos esperando todos chegarem, e coordenador que vem de Itaituba. Não vamos deixar continuar esse trabalho", diz Valdenir.

Segundo pronunciamento do porta-voz do cacique geral do povo Munduruku, Jairo Saw, "os pesquisadores já estão na quarta etapa de estudo, já na fase final e previsto para apresentarem o relatório final do EIA – RIMA no mês de novembro".

Em nota pública lançada hoje, os Munduruku afirmaram que o governo já sabia que os indígenas não permitiram a entrada de pesquisadores no território. "Nós vamos liberar pacificamente este grupo, mas alertamos que não toleraremos mais essa postura por parte do governo federal e dos empreendedores que querem construir barragens", pontua o documento, que também exige a suspensão "de todos os estudos e pesquisas relacionados às barragens nos rios Tapajós e Teles Pires" por parte do governo federal.

Os indígenas temem uma ação violenta da Força Nacional, que chegou hoje em Jacareacanga, em um avião da Força Aérea Brasileira. "Esperamos que esses militares não tenham vindo para nos atacar, mas sim para defender o nosso direito pela nossa terra, a lei e a Constituição", argumenta a carta.

Leia a declaração dos Munduruku na íntegra:

Declaração Munduruku: pesquisadores, não entrem nas nossas terras

Nós, Munduruku do rio Tapajós, apreendemos um grupo de pesquisadores que estava ilegalmente em nossa terra. Eles estavam coletando animais, plantas e amostras para a construção de barragens nas nossas aldeias. Nós apreenderemos tudo o que foi coletado por eles, todos os materiais, tudo o que foi retirado e anotado das terras indígenas.

Nós deixamos claro para o governo federal que não iríamos deixar entrar nenhum pesquisador nos nossos territórios.

Nós vamos liberar pacificamente este grupo, mas alertamos que não toleraremos mais essa postura por parte do governo federal e dos empreendedores que querem construir barragens.

Um avião búfalo do Exército/FAB pousou hoje em Jacareacanga. Esperamos que esses militares não tenham vindo para nos atacar, mas sim para defender o nosso direito pela nossa terra, a lei e a Constituição. Porque quem está errado é o governo. Nós estamos certos.

Exigimos que o governo suspenda todos os estudos e pesquisas relacionados às barragens nos rios Tapajós e Teles Pires. Nós sabemos que as pesquisas são o primeiro passo para viabilizar a construção das hidrelétricas. Nós não vamos deixar as pesquisas e estudos acontecerem. Se o governo não suspender, nós daremos um jeito. Sugerimos aos pesquisadores que não entrem nas nossas terras.

Estão todos avisados.

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Brasil: DILMA PROPÕE CONSTITUINTE EXCLUSIVA PARA REFORMA POLÍTICA



Agência Brasil

Brasília  - Na abertura da reunião com governadores e prefeitos, a presidenta Dilma Rousseff disse que vai propor a convocação de um plebiscito que autorize uma Constituinte para fazer a reforma política.

"O Brasil está maduro para avançar e já deixou claro que não quer ficar parado onde está", disse a presidenta.

Dilma Rousseff propôs ainda uma nova legislação que considere a "corrupção dolosa [quando há intenção] como crime hediondo", com penas mais severas.  A presidenta pediu ainda agilização na implantação da Lei de Acesso à Informação.

A presidenta defendeu ainda pacto de responsabilidade fiscal, com o objetivo de manter a estabilidade da economia e o controle da inflação.

Edição: Carolina Pimentel

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DUAS MANIFESTANTES MORREM ATROPELADAS DURANTE PROTESTO PERTO DE BRASÍLIA



FYB – PJA - Lusa

Duas manifestantes morreram atropeladas hoje em Luziânia, perto de Brasília, durante um protesto que exigia obras no bairro, elevando para quatro o número de vítimas mortais durante as manifestações no Brasil.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, as duas mulheres atropeladas morreram no local, antes de receberem atendimento médico.

O motorista fugiu do local, depois de o seu veículo ter sido incendiado. A polícia informou que o motorista entrou em contacto com as autoridades, prometendo apresentar-se em breve.

O protesto contava com cerca de 400 manifestantes, de acordo com a imprensa brasileira, e gerou uma com um quilómetro na autoestrada BR-251.

As manifestações no Brasil já causaram outros dois mortos, um jovem atropelado em Ribeirão Peto, no interior de São Paulo, e uma mulher, que teve uma paragem cardíaca após inalar gás lacrimogéneo em Belém, no Pará.

Os protestos começaram no início de junho em São Paulo, exclusivamente contra a subida das tarifas dos transportes públicos, mas estenderam-se a outras cidades no Brasil e de outros países.

A repressão policial às manifestações motivou outras pessoas a protestarem pela paz e pelo direito de manifestação, bem como outras queixas, entre quais corrupção e a falta de transparência.

Em particular, as manifestações criticam os elevados gastos com a organização de eventos desportivos como o Mundial2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, em detrimento de outras áreas como a saúde e a educação.

Foto: Marcelo Sayão/EFE

BRASIL: PROTESTOS, DE ONDE VÊM E PARA ONDE IRÃO




Washington Novaes* - Envolverde

Ao mesmo tempo que se amiúdam na comunicação análises preocupadas com a situação econômica do País, vão-se tornando mais frequentes também manifestações populares de inconformismo e desapreço por governos, de protesto contra preço e qualidade de transportes, custo de vida, insatisfação com a saúde e educação ou ainda por causa do custo de construção de estádios de futebol. Que significado político mais amplo podem ter? Muitos, certamente. Mas índices de inflação e custos de alimentos têm tido presença importante.

Índices de inadimplência de famílias perante o sistema financeiro podem ser, por isso, um dos indicadores, já que em abril (Estado, 11/5) atingiram 7,6%. Já a porcentagem de famílias endividadas subiu, em maio, para 57,1%, a maior desde 2006. E 19,5% delas tinham mais de 50% da renda comprometido com dívidas. Os calotes no sistema bancário subiram para 19,5% em abril. Essa é uma das razões para o índice de confiança do consumidor haver baixado uns 6% desde abril do ano passado.

Segundo artigo de Amir Khair neste jornal (16/6), “o que causou a inflação foram os alimentos in natura”, cujo preço cresceu 53% nos últimos 12 meses, inclusive por motivos climáticos (onde nos faltam políticas adequadas). Mas não apenas por isso. Diz a Organização para Alimentação e Agricultura da ONU (FAO) que é alta a perda de áreas plantadas com alimentos no mundo por causa do alto custo dos agrotóxicos e da produção em geral (25/3). No Brasil, arroz e feijão já perderam 50% das áreas plantadas há 25 anos (Folha de S.Paulo, 7/4). O feijão, inclusive por causa da seca no Semiárido, teve a produção reduzida em 7%. E agora os preços subiram 20% em um ano.

Tudo isso pesa muito num país que, embora tenha reduzido a pobreza por meio de programas como o Bolsa Família, de até R$ 70 mensais por pessoa, ainda tem estas e milhões de outras vivendo abaixo da linha da pobreza, que segundo a ONU é de US$ 1,25 (cerca de R$ 2,50) por dia, ou R$ 75 por mês, por pessoa. E nas palavras do papa Francisco (Estado, 2/5), “viver com 38 (pouco mais de R$ 100) por mês é trabalho escravo, vai contra Deus”. Em sete regiões metropolitanas a taxa de desemprego nos primeiros meses do ano passou de 10%. E a população ocupada em fevereiro diminuiu 2% (Estado, 29/3). Caíram os índices de ocupação na indústria, na construção e nos serviços (26/4).

Christine Lagarde, dirigente do FMI, chama a atenção (5/6) para o “enfraquecimento da economia mundial em meses recentes”. A seu ver, “perde ritmo a expansão econômica dos países emergentes” e no Brasil são “menos brilhantes” as perspectivas de investimentos. Não chega a surpreender. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) adverte (3/5) para os riscos de nova crise bancária na Europa, onde os bancos estão “precariamente capitalizados” e o PIB de 34 países pouco passará de um crescimento de 1% este ano. No Brasil, o superávit nas contas externas, de US$ 1,6 bilhão em 2007, recuou para um rombo de US$ 54,2 bilhões em 2012 (Panorama Econômico, 9/6). Por tudo isso, não são otimistas as projeções do mercado financeiros para o crescimento econômico este ano, juntamente com um “rombo externo” recorde e taxas de juros altas.

É inevitável, assim, retornar à crise econômico-financeira externa e às perguntas que vem suscitando nos últimos anos: quem pagará o custo astronômico das “bolhas financeiras” que explodiram, os bancos ou a sociedade (por meio da redução dos programas sociais e da alta do desemprego)? As classes de maior renda ou as menos favorecidas? Esses custos se limitarão aos países industrializados ou eles também tentam e tentarão repassá-los aos demais? Como tudo isso se traduzirá nos países fora da Europa e da América do Norte?

O desemprego nos EUA continua alto para padrões norte-americanos (7,6%). A crise de 2008 “deixou um déficit de 14 milhões de empregos no mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho; somados aos 16,7 milhões de jovens que chegarão ao mercado de trabalho em 2013, o déficit global será de 30,7 milhões de empregos” (Agência Estado, 4/6). Na Europa, o desemprego já está em 12,2%, ou 19,37 milhões de pessoas. Entre os menores de 15 anos, num recorde de 24,4% – 1 em 4 jovens desempregado; na Espanha, total de 26,7%; Portugal, 17,5%; Grécia, quase 27% (entre jovens, 64%). Não por acaso, 1 milhão de pessoas migraram da Europa desde 2008, o maior êxodo em meio século. Ainda assim, 40 milhões de pessoas no mundo ascenderão à classe C (6/4), o que aumentará o consumo e, certamente, terá reflexos nos preços, principalmente de alimentos.

É preciso dar atenção especial, no Brasil – pelas características da população -, ao quadro dos alimentos. Os preços dos insumos usados na agropecuária, controlados por um cartel global de fabricantes, estão em forte alta e o País é o maior consumidor mundial. O dos herbicidas subiu 71,1%; o dos inseticidas, 66,4%; e o dos fungicidas, 55,3% (IBGE, 13/5). Consumimos mais de 1 milhão de toneladas em 2010, segundo a Anvisa. Cerca de 1/5 do consumo mundial.

É fundamental ter muita atenção nessa área. Inclusive porque os protestos e manifestações de insatisfação recentes mostram que chega também a nós o caminho observado em muitos países da África e do Oriente Médio, de movimentação política não comandada por partidos, e, sim, por redes sociais – sem projetos políticos claros e definidos. Se não reorientarmos nossas políticas – que insistem num desenvolvimentismo à outrance (que inclui, por exemplo, incentivos bilionários à fabricação de automóveis que ninguém sabe onde poderão trafegar), conjugado com heranças da política externa concebida na década de 1960 -, certamente teremos pela frente momentos muito difíceis. Ainda mais com a grande maioria da corporação política praticamente descolada da sociedade, voltada para os interesses diretos de seus membros.

* Washington Novaes é jornalista.

** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.

OS DAVIS, OS GOLIAS E A “QUESTÃO SNOWDEN”




De um lado estão Edward Snowden, Bradley Manning, e Julian Assange, fechando o círculo dos Davis. O lado dos Golias conta com as agências de segurança e inteligência dos governos dos EUA e do Reino Unido. Poderia ser um romance de John Le Carré. Aliás, espero que venha a ser.

Flávio Aguiar – Carta Maior

Poderia ser um romance de John Le Carré. Aliás, espero que venha a ser. Hollywood jamais vai filmar uma história destas. E se filmar, vai ser, provavelmente, sobre a “justa” caçada ao “traidor” Edward Snowden.

Mas os elementos do roteiro estão dados. De um lado, os Davis, a começar por Snowden, o ex-(nessa altura)agente da CIA, que trabalhava para uma empresa privada prestadora de serviços para a Inteligência norte-americana, a Booz Allen Hamilton Inc., com sede em Virginia, “a consulting firm for communication and information technology”. Além dele, Julian Assange, confinado na Embaixada do Equador em Londres há um ano; Baltasar Garzón, o juiz espanhol que teve o peito de mandar deter Pinochet na Grã-Bretanha, para escândalo de Mme. Thatcher (que Deus a tenha) e de muitos governos pelo mundo, hoje escorraçado pelo judiciário de seu país; na prisão, acusado de alta traição, Bradley Manning, o corajoso soldado que liberou informações para Assange, fechando o círculo dos Davis.

Agora os Golias: a National Security Agency dos EUA e o governo norte-americano, lançando ordens – ordens, não pedidos – de extradição de Snowden pelo mundo, ameaçando os governos latino-americanos que derem asilo ou facilitarem a locomoção do acusado. Ao mesmo tempo, o britânico GCHQ – UK Government Communication Headquarters – junto com seu congênere SIGINT – UK Government Signal Intelligence – denunciados, como os anteriores dos EUA por invasão de privacidade, controle abusivo da web, espionagem com possíveis resultados no campo comercial, industrial e outros. Parece até que para desmoralização de Washington o controle exercido por Londres era maior e mais eficiente.

Em todo caso, ambos se provaram altamente ineficientes contra o que apregoam quererem controlar: ameaças de ataques terroristas.

Coadjuvantes: do lado dos Davis, gente como Daniel Ellsberg, dos “Pentagon Papers”, no tempo da Guerra do Vietnã, provando, entre outras coisas, que os Estados Unidos forjaram informações para justificar sua intervenção no conflito. Da mesma maneira como forjaram dados – com apoio da velha mídia internacional – sobre a suposta posse de armas de extermínio em massa pelo Iraque, para justificar a invasão de 2003. Ainda do lado dos Davis está Michael Moore, o cineasta que vem denunciando sistematicamente a violência na sociedade norte-americana.

Os Golias contam sobretudo consigo mesmos. Mas têm outros Golias pela frente. O pedido (ou ordem) de extradição que o governo de Washington enviou a Hong Kong esbarrou no governo chinês – objeto, ao que parece preferencial, das espionagens norte-americanas. Assinale-se ainda o enorme contencioso que já existia entre os dois países exatamente sobre espionagem (mútua) cibernética, invasões de hackers, etc. Outro Golias na frente dos EUA. é a Rússia, também objeto das espionagens norte-americanas. Certamente Moscou autorizou a viagem de Snowden para seu aeroporto para se apossar do que em seus documentos há sobre ela mesma. Além disso, Rússia e Estados Unidos estão reescalando um clima de Guerra Fria em torno da Síria.

Por fim, assinale-se a presença do Equador, país que guarda contenciosos com os E. U. A. e com a Grã-Bretanha, e que não vai se curvar ante as exigências de Washington. Além disso, há Cuba, por onde eventualmente Snowden pode passar se for mesmo para o Equador.

De fato, o caso mostra que os Golias têm um imenso poder. Mas não ilimitado.

Também mostra que o espaço virtual é, de fato, um dos espaços primordiais das guerras e disputas do futuro. Como no caso das redes brasileiras, hoje espaços privilegiados das tentativas de cerco do governo de Brasília pelas palavras-de-ordem da direita.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim

Ex-agente da CIA – KREMLIN PREPARA ENVIO DE SNOWDEN PARA CUBA




O ex-consultor da CIA Edward Snowden deverá partir hoje para Cuba com destino ao Equador, informa a agência Interfax, o que representará uma resposta negativa do Kremlin ao pedido de extradição avançado pelos EUA.

De acordo com a agência de notícias russa, que cita fonte próxima, o antigo agente da CIA deverá dirigir-se para Havana no voo SU 150, da companhia de aviação russa Aeroflot, sendo o destino final o Equador. As autoridades norte-americanas tinham pedido a Moscovo para extraditar o antigo agente da CIA, que é acusado de espionagem, mas o Kremlin alega que não recebeu qualquer pedido.

"Snowden não cometeu nenhuma ilegalidade no território da Rússia, as autoridades judiciais russas não receberam ainda qualquer pedido, por isso não há razões para a extradição", disse uma fonte policial à agência Ria-Novosti. A maior parte dos analistas russos considera que este caso irá deteriorar ainda mais as relações entre Moscovo e Washington.

Edward Snowden, antigo agente da CIA e ex-consultor da Agência de Segurança Nacional, de 30 anos, é acusado de espionagem depois de ter divulgado documentos sobre programas de vigilância das comunicações. No domingo, Snowden deixou Hong Kong rumo a Moscovo, apesar de Washington ter pedido a sua detenção e extradição. As autoridades de Hong Kong argumentaram, no entanto, que a documentação apresentada para suportar o pedido de extradição estava incompleta.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador afirmou hoje que o seu país "está a analisar" o pedido de asilo do ex-consultor dos serviços secretos norte-americanos. "Vamos tomar uma decisão (...) estamos a analisar", disse Ricardo Patiño em Hanói, capital do Vietname, referindo-se ao requerimento de Edward Snowden, acusado de espionagem pela justiça norte-americana, depois de ter divulgado documentos sobre programas de vigilância das comunicações. O pedido de concessão de asilo, apontou, "tem a ver com a liberdade de expressão e com a segurança de cidadãos em todo o mundo. Agimos sempre por princípio e não no nosso próprio interesse. Há alguns governos que agem mais em conformidade com os próprios interesses, nós não".

Edward Snowden, antigo agente da CIA e ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA), chegou à Rússia este domingo, procedente de Hong Kong, na esperança de obter asilo no Equador e de escapar à detenção por ter divulgado os pormenores de programas norte-americanos de vigilância de comunicações secretos.

"Sabemos que ele está em Moscovo, estamos em conversações com as autoridades superiores", disse o chefe da diplomacia equatoriana, que se encontra de visita oficial ao Vietname. O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, procurado pelos Estados Unidos por ter divulgado milhares de documentos confidenciais e que se encontra refugiado, desde junho do ano passado, na embaixada do Equador em Londres, após Quito lhe ter concedido asilo político.

A Casa Branca tinha afirmado que esperava cooperação por parte da Rússia no que toca à entrega do ex-consultor dos serviços secretos norte-americanos (CIA) Edward Snowden, que enfrenta acusações por espionagem. "Atendendo à nossa intensa cooperação depois dos atentados da Maratona de Boston e ao nosso historial de trabalho com a Rússia no âmbito de assuntos ligados à aplicação da lei - em que se inclui o regresso de criminosos à Rússia a pedido do governo russo -, esperamos que o governo russo olhe para todas as opções disponíveis para expulsar o senhor Snowden de volta para os Estados Unidos para que este enfrente a justiça pelos crimes dos quais é acusado", afirmou a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Caitlin Hayden. Caitlin Hayden também expressou o desapontamento para com as autoridades de Hong Kong por terem permitido que Edward Snoden deixasse o território "apesar de todos os pedidos legalmente válidos dos Estados Unidos para o deter com vista à sua extradição ao abrigo de um acordo de entrega de fugitivos entre os Estados Unidos e Hong Kong.

"Demos conta das nossas fortes objeções às autoridades de Hong Kong, bem como ao governo chinês através dos canais diplomáticos e observámos que tal comportamento é prejudicial às relações bilaterais EUA-Hong Kong e EUA-China", afirmou a mesma responsável. Edward Snowden, antigo agente da CIA e ex-consultor da Agência de Segurança Nacional, de 30 anos, é acusado de espionagem depois de ter divulgado documentos sobre programas de vigilância das comunicações.

Portugal: OS ERROS NAS ESTIMATIVAS E A OBSESSÃO DAS METAS




Alexandre Homem Cristo – Jornal i, opinião

O cumprimento das metas nominais tornou-se uma obsessão - para o governo, para a oposição, para a troika, para os mercados financeiros

A publicação de um relatório sobre a situação do país, nos últimos meses, leva-nos sucessivamente à mesma questão: os valores que nele constam estão alinhados com as estimativas do governo? A pergunta é pertinente, mas está longe de ser a mais relevante. O problema é que, na prática, essa é a questão que monopoliza o debate político, pois o escrutínio político reduziu-se à comparação entre os resultados e as estimativas do ministro Vítor Gaspar. É fácil perceber por que razão a oposição tanto aprecia o exercício. Gaspar já errou previsões macroeconómicas. Já falhou metas da execução orçamental. Já sobrestimou receitas fiscais e já subestimou a evolução dos níveis de desemprego. Digamo-lo sem rodeios: o ministro das Finanças poucas vezes acertou. Mas o que significa isso, realmente?

A oposição acha que os erros do ministro se explicam com o facto de Gaspar viver aprisionado em ficheiros Excel - coisa que, sendo mais ou menos verdade, não explica o essencial. No actual contexto económico europeu, e em particular nos países sob assistência financeira, fazer estimativas é uma actividade de risco. Num espaço de meses, às vezes semanas, tudo se altera. Ratings, desemprego, crescimento ou recessão, exportações, receitas fiscais, despesas sociais e chumbos do Tribunal Constitucional, tudo conta. E só não se engana quem deixa os prognósticos para o fim. É claro que isto não explica tudo, nem iliba politicamente Vítor Gaspar. Mas, pelo menos, ajuda-nos a perceber - o que não é pouco.

Contudo, nem todos os erros nas estimativas são compreensíveis. A distinção é importante. A oposição, que é implacável com Gaspar e não lhe perdoa uma décima fora do sítio, é composta pelos mesmos que, há anos, poluem a política nacional com estimativas erradas e previsões irrealistas. Não esqueçamos que foi o PS que, no governo, cavou o buraco onde nos encontramos e, através de um endividamento galopante, construiu estradas, aeroportos, pontes e escolas afirmando, na altura, serem muito necessários. Só que, afinal, não eram. Esta orgia de PPP, sustentada em estimativas de utilização absurdas, teve o resultado que todos sabemos. Hoje, as estradas não têm carros, os aeroportos não têm passageiros e as escolas não têm alunos, embora continuem a custar milhares de milhões de euros aos portugueses. Ora, que não se façam confusões: os erros de Gaspar não têm a mesma natureza, nem representam os mesmos custos para o país.

Tendo em mente o ponto acima, é impossível deixar de constatar que o cumprimento das metas nominais se tornou uma obsessão - para o governo, para a oposição, para a troika, para os mercados financeiros. O sucesso (ou o insucesso) das políticas mede-se exclusivamente pelo atingir dessas metas, de tal modo que os governos (todos eles) estão dispostos a quase tudo para as alcançar - por vezes, mesmo a sacrificar o mais importante, que são as metas estruturais. Julgo que, nesta fase, já ninguém terá dúvidas: apesar das metas nominais, sem objectivos estruturais (reformar o Estado e a Economia), o esforço actual não impedirá um novo resgate no futuro.

Passam agora dois anos deste governo e um pouco mais do programa de ajustamento. Nesse período, conseguiu-se ser o "bom aluno" (metas nominais), mas ainda falta preparar o futuro (metas estruturais). Que seja esta, agora, a prioridade. Supere-se a obsessão das metas nominais e reforme-se o Estado. Enquanto há tempo.

Investigador - Escreve à segunda-feira

Portugal: PRIMEIRO-MINISTRO VAIADO EM ÉVORA À CHEGADA À EMBRAER



Jornal i - Lusa

Os manifestantes, em que se incluíam dirigentes da União dos Sindicatos do Distrito de Évora (USDE), afeta à CGTP, foram mantidos pela PSP a uma distância considerável da sede da Embraer

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, foi hoje apupado, em Évora, por algumas dezenas de pessoas, à chegada para uma visita às duas fábricas da construtora aeronáutica brasileira Embraer.

Os manifestantes, alguns deles empunhando bandeiras da CGTP e da Fenprof, estavam concentrados na variante que dá acesso às instalações da Embraer, no Parque da Indústria Aeronáutica de Évora, a alguma distância do edifício da administração.

À chegada do chefe do executivo, às 15:45 (com 45 minutos de atraso em relação à hora prevista) e sob intenso calor, os manifestantes empunharam cartazes e entoaram palavras de ordem contra o Governo, como "Está na hora de o governo ir embora", "É preciso, é urgente, correr com esta gente" e "É preciso mudar de política e de governo".

Os manifestantes, em que se incluíam dirigentes da União dos Sindicatos do Distrito de Évora (USDE), afeta à CGTP, foram mantidos pela PSP a uma distância considerável da sede da Embraer e começaram a desmobilizar depois de Passos Coelho ter entrado no edifício da administração, sem prestar declarações aos jornalistas.

O chefe do governo está acompanhado pelo ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira.

Inauguradas a 21 de setembro de 2012, pelo Presidente da República, Cavaco Silva, as duas fábricas da Embraer, a terceira maior construtora aeronáutica do mundo, representaram um investimento de quase 180 milhões de euros, tendo já sido concretizadas as primeiras exportações para o Brasil.

Uma das fábricas é de estruturas metálicas (partes de asas) e a outra de materiais compósitos (componentes para caudas).

“CAPITAL ANGOLANO EM PORTUGAL SÓ ENRIQUECE ALGUNS”



Folha 8 – edição 1147 de 22 junho 2013

O dinheiro que cidadãos angolanos aplicam em Portugal não é investimento, serve unicamente para enriquecer alguns portugueses, disse Paulo de Morais, vice-presidente da Transparência e Integridade, Associação Cívica – Portugal à margem da conferência realizada terça-feira em Luanda, promovida pelo Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC), da Universidade Católica de Angola.

Tal como defendera em artigo exclusivo publicado pelo Folha 8, Paulo de Morais diz que não há propriamente investimento angolano em Portugal. Explica que se poderia falar de investimento se ele fosse direcionado para novas fábricas, ou para os sectores primário, secundário ou o terciário.

Ora, diz Paulo de Morais, o capital angolano que chega a Portugal destina-se maioritariamente à compra de participações em empresas que já existem, que já estão a laborar. “No fundo, vai é aumentar as fortunas de alguns portugueses. A actividade económica portuguesa pouco beneficia dos capitais angolanos que chegam a Portugal. Quem beneficia são os amigos dos angolanos que estão disponíveis a alienar parte das empresas que têm em Portugal”, acrescentou.

Paulo de Morais fez questão de frisar que a chegada de capitais angolanos a Portugal tem acontecido porque “há um conjunto de portugueses cúmplices dos detentores desses capitais angolanos”. “Investimento é outra coisa. Investimento produtivo seria se capitais provenientes fosse de onde fosse, chegassem a Portugal para criar agricultura, indústria, pescas, metalomecânica. Nada disso está a acontecer. O que está a acontecer é a compra de participações”, acentuou.

Instado a comentar as afirmações recentemente feitas em Luanda pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros português, Francisco Almeida Leite, segundo o qual o investimento angolano em Portugal, “mais do que bem-vindo, é desejado”, Paulo de Morais respondeu que o investimento em Portugal “deve ser sempre desejado se duas coisas acontecerem”. Ou seja, “se for de facto investimento que produza riqueza, crie emprego, e se for proveniente de dinheiro que seja de facto limpo. Porque o dinheiro sujo não é um bom investimento, nem em Portugal nem em lado nenhum do mundo”.

No artigo “Vassalagem à corrupção”, um exclusivo que o Folha 8 publicou, Paulo de Morais disse que “o poder oligárquico angolano invadiu a vida económica, social e até politica de Portugal”. Nesse texto, dizia o vice-presidente da Transparência e Integridade, “é dominante a presença angolana nas maiores empresas portuguesas. São inúmeras as suas participações, que vão das telecomunicações através da Zon, aos petróleos, onde marcam posição predominante na Galp; passando pela banca, através do Millennium ou do BIC, e estendendo-se a muitos outros sectores. Angola domina hoje, directa ou indirectamente, uma parte significativa do capital bolsista português. O dinheiro proveniente das riquezas naturais angolanas jorra a rodos nos grupos económicos portugueses. Mas o benefício para a economia lusa é praticamente nulo. Os angolanos não investem em nada de produtivo, não criam riqueza agrícola ou industrial. Limitam-se a comprar participações de capital aos seus amigos portugueses que assim enriquecem, vendendo uma parte do tecido económico português. Mas não há qualquer acréscimo de riqueza real, aumento de actividade económica ou crescimento do emprego, por via da presença angolana”.

Sobre a corrupção, Paulo de Morais escreveu que,“para além do mais, o fortalecimento das relações económicas com Angola estimula a corrupção, pois esta contamina-se. Angola tem os piores indicadores de corrupção do mundo lusófono. Ocupa uma das mais baixas posições mundiais no ranking de transparência da Transparency International. Uma presença permanente de angolanos em sectores chave da economia portuguesa virá ajudar a piorar a já de si débil e decadente situação de Portugal, um humilhante, em termos europeus, 33.º lugar. Não serão seguramente os angolanos e os seus negócios que ajudarão Portugal a recuperar os níveis desejáveis de transparência”.

De um outro ponto de vista, o também autor do livro recém publicado “Da corrupção à crise – que fazer?”, afirmava que “no plano social, a presença angolana é descomedida. Nas lojas mais caras de Lisboa, os milhões jorram. Os consumidores de luxo são a oligarquia constituída pelas famílias dos grandes grupos económicos portugueses, os futebolistas e os milionários angolanos”. E acrescentava: “Em Portugal, em tempo de crise, os portugueses mais pobres estão na miséria, a classe média experimenta as provações do desemprego, das dívidas familiares e da ausência de futuro. Em Angola, o desenvolvimento não chega, a assistência na saúde é uma miragem, falta educação, o povo vive na miséria. Entretanto, as elites angolanas compram os apartamentos mais caros de Lisboa e Cascais, gastam milhões em automóveis topo de gama e frequentam os mais caros restaurantes da capital portuguesa.”

Por tudo isto, Paulo de Morais não tem dúvidas de que“por via deste predomínio económico e influência social, o domínio dos governantes angolanos sobre o poder político português é crescente. Há uma corrida de políticos portugueses que se deslocam a Luanda a prestar vassalagem ao poder vigente. A influência angolana é galopante e chega a todo o aparelho da Administração portuguesa. Observam-se hoje situações inimagináveis, como a do deputado Mota Pinto, que coordena a fiscalização dos serviços secretos portugueses e é, em simultâneo, administrador da ZON, de Isabel dos Santos. Jamais se imaginaria que um empregado de Isabel dos Santos pudesse fiscalizar as secretas portuguesas.”

Por fim, escrevia que “as nossas autoridades estão numa dependência tal do governo de Eduardo dos Santos, que o ministro dos estrangeiros Paulo Portas teve de vir desculpar pelo facto de a justiça portuguesa andar a investigar alguns poderosos cidadãos angolanos. Uma atitude indigna dum ministro de um governo ocidental. Com posturas destas, o governo português transformou-se num dos principais instrumentos das oligarquias corruptas de Angola na Europa e torna-se cúmplice da miséria a que o governo de Eduardo dos Santos condenou os seus concidadãos, nossos irmãos angolanos.”

LIVRO INQUIETANTE E MOBILIZADOR

“Da corrupção à crise - que fazer?”, de Paulo de Morais, editado pela Gradiva, foi recentemente apresentado,no Porto (Portugal) por António Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados.

O livro da autoria de Paulo de Morais, vice-presidente da Associação Cívica Transparência e Integridade,capítulo português da organização não-governamental Transparency Internacional, contraria – diz o autor – “duas mentiras colossais que contaminam a sociedade portuguesa: a de que os portugueses andaram a gastar acima das suas possibilidades e a de que não há alternativa à austeridade”.

A principal causa da crise em que Portugal se encontra mergulhado é, tal como o autor defende ao longo desta sua obra, a corrupção. Alguns grupos económicos, apoiados pelas grandes sociedades de advogados, dominam completamente a actividade política plasmada na Assembleia da República e que se transformou, ela própria, numa grande central de negócios.

“Ainda agora, enquanto o país empobrece, a classe média se extingue e o desemprego alastra, a corrupção continua a aumentar, os mecanismos de corrupção agravam-se e cresce a promiscuidade entre a política e os negócios”, diz o autor.

Paulo de Morais, um dos principais nomes que dão a cara neste combate desigual pela transparência em Portugal, desmonta e explica o círculo vicioso da corrupção em Portugal. É uma obra de denúncia, mas também de alternativas à chaga que devasta e inviabiliza Portugal. Um livro inquietante e mobilizador.


ANGOLA, “PODER JUDICIAL NÃO EXISTE”



Deutsche Welle

Entre 2008 e 2012, triplicou o número de juízes em exercício em Angola. Este números foram revelados por José Eduardo dos Santos, na sequência de um discurso público, onde apresentou um conjunto de reformas judiciais.

Dez juízes conselheiros do Tribunal Supremo, quatro juízes conselheiros do Tribunal de Contas e oito Procudores-Gerais adjuntos da República, foram empossados pelo Presidente da República, esta terça-feira (11.06), em Angola. Tudo isto na sequência do anúncio que o chefe de Estado do país fez, afirmando que o sistema judicial de Angola vai ultrapassar uma nova fase no âmbito de uma reforma judicial profunda.

Segundo José Eduardo dos Santos, o Poder Judicial e de Justiça vai atravessar um momento de "grande impulso" com a modernização e informatização dos seus sistemas, assentes no princípio de simplificação dos procedimentos.

Com esta medida quer-se também garantir uma maior proximidade dos serviços junto das comunidades, garantindo o acesso dos cidadãos ao direito e à justiça. Mas será que estas reformas planeadas vão-se traduzir numa maior credibilidade do sistema judicial angolano? Para Elias Isaac, director da organização Open Society, a resposta é clara. Não! "Toda a reforma só vai servir os interesses do executivo, mais nada", afirma Issac.

Para o director da Open Society em Angola vive-se "uma situação em que o sistema de justiça está completamente a reboque do executivo angolano" e todas as reformas implementadas "não terão fundamento nenhum porque só irão servir os interesses do executivo" porque segundo Elias Isaac, em Angola o sistema de justiça "não é independente do executivo". "O Presidente é que nomeia todos os juízes nas instâncias superiores do sistema de justiça" e no país o sistema de justiça "está para punir o cidadão e proteger a oligarquia política", conclui.

Poderes judiciais e executivos confundem-se

Segundo o Presidente angolano, os últimos anos foram marcados por algumas reformas judiciais e por um aumento significativo do investimento público no sector da justiça, tanto no plano das infraestruturas, como dos próprios equipamentos, meios de mobilidade a ainda investimento na qualificação dos recursos humanos. Mas para o advogado angolano Luís do Nascimento, o que não viu reformulado, foi a separação efectiva entre os poderes executivos e judiciais. "Ao longo de toda a intervenção do Presidente, em nenhum momento ele se refere à independência do poder judicial, à independência dos juízes", diz o advogado. 

Para ele "o poder judicial como um poder independente não existe" em Angola. Afirma que "é um poder completamente dependente da figura do Presidente" e que no país se vive "uma autêntica recuperação do Estado autoritário". Para além disso, afirma ainda, aproxima-se de uma Estado "autocrático... Portanto, é o poder do Presidente!" afirma o advogado.

Triplicou o número de juízes

O número de juízes em Angola triplicou nos últimos cinco anos, e José Eduardo dos Santos realçou no seu discurso que, hoje no país, quatro em dez juízes, são mulheres. Com um número crescente espera-se que os valores se traduzam numa maior celebridade no tratamentos dos processos judiciais, e o advogado angolano Martinho da Cruz, acredita que com as reformas anunciadas haja maior rapidez no julgamento dos processos. "Acredito que com este impulso, possamos ver de facto bastante melhorado este sector estruturante", afirma o advogado. Com a nomeação "de novos magistrados acredito que poderemos respirar de algum alivio, num futuro, que esperamos, seja próximo", diz Martinho da Cruz.

José Eduardo dos Santos frisou ainda no seu discurso que "continuaremos a conjugar esforços para acelerar a conclusão do ordenamento jurídico necessário ao pleno funcionamento do Poder Judicial e para estabelecer um sistema adequado de formação, qualificação e gestão de recursos humanos.

Moçambique: HOMENS ARMADOS MATAM PESSOAS E QUEIMAM VIATURAS EM MACHANGA




O País (mz) – 24 junho 2013

Alta tensão no centro do país

A polícia deteve dois presumíveis integrantes dos homens armados que estão a criar pânico na EN1. Um dos   indiciados negou todas as acusações que pesam sobre si e diz que é apenas um curandeiro.

Duas pessoas morreram e outras três, entre elas uma criança de apenas duas semanas de vida, contraíram ferimentos graves e ligeiros na madrugada da última sexta-feira, no troço entre o rio Save e o posto administrativo de Muxúnguè, na província de Sofala, concretamente nas margens do Rio Ripembe, no distrito de Machanga.

O ataque surge na sequência do apelo deixado pela Renamo, segundo o qual iria interditar a circulação de pessoas e bens naquele troço. Os mesmos, que ocorreram entre as 04h00 e 05h00 da manhã, visaram dois camiões de mercadoria, que foram incendiados, e autocarros de transporte de passageiros, pertencentes às empresas TCO e Etrago.

Desde a ocorrência dos ataques, a circulação naquela região é restrita e só acontece mediante escolta das forças de defesa e segurança e durante o dia. As viaturas são organizadas em colunas e os agentes da Força de Intervenção Rápida e ou das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, fortemente armados, são introduzidos nas viaturas privadas, autocarros de passageiros e camiões de carga, para além de serem acompanhados por um tanque de guerra blindado, que transporta outros militares.

Mónica Malate, de 34 anos de idade, empregada de um estabelecimento hoteleiro em Muxúnguè, contou que na noite do dia anterior ao ataque pernoitou na região de Save, porque não havia escolta. Partiu no dia seguinte, muito cedo, num dos autocarros atacados e contou como foi: “quando chegámos no rio Ripembe, o motorista reduziu a velocidade, pois a ponte não está em condições. Quando estávamos no meio da ponte, de repente, vimos nas bermas da estrada, tanto a frente como atrás, vários homens armados, alguns fardados e outros a civil. Mandaram-nos parar, mas o motorista não parou. Disparam e atingiram o motorista, que perdeu o controlo da viatura e foi embater, violentamente, numa árvore. Ouvi mais tiros e um deles passou e raspou a minha testa. Consegui saltar do carro e corri para o mato. A viatura foi posteriormente incendiada pelos homens armados”, explica.

Mónica contou ainda que mesmo ferida conseguiu arrastar-se até à estrada, onde pediu socorro a um automobilista que seguia no sentido contrário.

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Moçambique: “A GUERRA NÃO É SOLUÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO”




De acordo com Alberto Vaquina

O País (mz) – 24 junho 2013

O primeiro-ministro, Alberto Vaquina, disse, na vila sede distrital de Homoíne, província de Inhambane, Sul de Moçambique, que o Governo fará tudo para a realização das eleições autárquicas deste ano na data agendada.

Falando numa breve saudação à população local, Vaquina justificou este seu posicionamento afirmando que só com as eleições é que se garante uma eleição democrática dos dirigentes deste país.

“O governo tudo fará para que este ano haja eleições autárquicas, por serem uma forma democrática de eleger os governantes deste país”, vincou o primeiro-ministro.

O coordenador do executivo moçambicano lembrou, na ocasião, ter sido durante uma das fases de preparação deste pleito, marcado para 20 de Novembro próximo, que a Renamo, o maior partido da oposição em Moçambique, começou com ameaças de inviabilizar o exercício deste direito constitucional.

Com efeito, vezes sem conta, a Renamo apareceu publicamente a afirmar que vai inviabilizar as eleições autárquicas e gerais, se não forem acomodadas as suas pretensões, que incluem a alteração do pacote eleitoral aprovado pelo parlamento, onde este partido também está representado.

“Agora que caminhamos para a concretização das eleições, eles começaram com ataques, matando e ferindo pessoas”, indicou para, depois, lamentar o sucedido e reiterar que o Governo vai continuar a privilegiar o diálogo para que o povo moçambicano viva em harmonia.

Segundo o primeiro-ministro, dialogar não é mostrar força que cada interveniente tem, mas sim saber ouvir e ser ouvido.

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