Martinho Júnior,
Luanda
1 – Sem dúvida que
os recursos para a implementação do AFRICOM são múltiplos, com ementas “variáveis”
e “criativas”, expandindo também e dessa maneira a constelação de alianças
possíveis não só no quadro do Pentágono, mas também com a NATO, o ANZUS e os “parceiros”
africanos e arábicos cada vez mais instrumentalizados… e disponíveis!
As possibilidades
de através dos interesses se estarem a armar cada vez mais grupos da Al Qaeda e
de outras sensibilidades radicais, facto que eu tenho vindo a apontar em
consonância com os dados evidenciados sobretudo pelos analistas do Global
Research e da Rede Voltaire, passou finalmente às preocupações de alguns estados
europeus, mas parece ser uma preocupação distante dos africanos, salvo no Mali,
no Níger, na Argélia, na Nigéria, no Chade... e na Líbia (após o assassinato do
embaixador norte americano J. Christopher Stevens).
Alguns serviços de
inteligência ocidentais já o haviam assumido “in”, como é o caso dos franceses,
mas o “combate ao terrorismo” como faz parte, enquanto instrumentalização, da
justificação para a presença militar do AFRICOM e da NATO em África e no Médio
Oriente, (dos franceses, por exemplo, em vários países do Sahel na sequência do
que ocorre no espaço CEDEAO), as preocupações vão-se situando, até prova em
contrário, num segundo plano que não deixa de ser deliberadamente controverso…
…É o que está a
acontecer com a Síria…
África está pois cada
vez mais à mercê dos monstros desencadeados pelos tais 1% mandantes do quadro
da presente globalização, uma globalização que se executa ao sabor dos seus
exclusivos interesses e conveniências (entre eles a necessidade de domínio
sobre o petróleo barato do norte de África e da península arábica) e que deixa
as migalhas do grande manjar para os outros tão manipulados 99%!...
…Daí o neo
colonialismo que se vai abatendo sobre o continente, acentuando os casos dos
mais vulneráveis, entre eles o da Guiné Bissau…
2 – Ao relembrar o “Steadfast
Jaguar 2006”, o que então escrevi sobre o papel submisso de Cabo Verde e dos
africanos e o que tem vindo a ocorrer em África, no Médio Oriente, assim como
nos oceanos e mares circundantes, recordo também que é em centros produtores de
drogas pesadas como a Colômbia e o Afeganistão que a presença das Forças
Armadas dos Estados Unidos e de seus aliados da NATO e do ANZUS é mais forte…
as mesmas forças armadas que “ensaiaram” em Junho de 2006, em Cabo Verde, (com
exercícios similares nas Caraíbas e no Mediterrâneo), o “desembarque” no
Afeganistão!...
…Quanto mais
presença militar, mais produção de droga e quanto mais produção de droga, mais
os centros consumidores a absorvem sem remissão.
São precisamente as
potências detentoras das moedas fortes como o dólar, o euro e o rublo, as
potências consumidoras de droga, duas potências ao serviço da globalização neo
liberal e um emergente, os Estados Unidos, a Europa e a Rússia, os mentores do “combate
ao tráfico de droga” e do “combate”, cada vez mais surrealista, ao “terrorismo”!...
Se algum combate há
ao “tráfico de droga” nos principais países receptores como os Estados Unidos e
os diversos componentes Europeus, é impensável que neles os que dominam
corporações multinacionais e os cartéis sejam atingidos pela repressão, por que
o capital à sua disposição se mescla com o capital das oligarquias e da
aristocracia financeira mundial e esses 1% são “intocáveis”!
A repressão fica-se
quanto muito pelos tentáculos, pelos circuitos, por aqueles que foram
instrumentalizados e por isso nunca é feita sobre a cabeça do polvo!
Por isso é “fácil e
oportuno” fazer a repressão na América Latina, em África ou no Médio Oriente,
bem como nos mares próximos: essa é uma “ementa” que aliás serve os interesses
dessas mesmas oligarquias, da aristocracia financeira mundial e de suas novas
elites “parceiras”… tal como acontece com o “terrorismo”!...
Na amplitude da
CEDEAO e na imensa região oceânica circundante, o “combate à pirataria, ao
terrorismo e ao tráfico de droga”, processos típicos do “soft power” da
administração democrata de Barack Hussein Obama, utiliza os mesmíssimos meios
de inteligência e militares, que respondem à NATO e ao AFRICOM!
3 – No preciso
momento, em Março e Abril de 2013, que convergiam várias armadas à região
atlântica entre Cabo Verde e o Senegal, recorrendo às experiências que se
desencadearam a partir do “Steadfast Jaguar 2006”, foi detido em nome do “combate
ao tráfico de droga”, numa operação singular de inteligência dos Estados Unidos,
o Almirante da Guiné Bissau, José Américo Bubo Na Tchuto…
De entre as armadas
que acorreram na época à região entre Cabo Verde e o Senegal, estavam os navios
da armada colonial britânica que se dirigia para as Malvinas, entre eles o HMS
Argyll, que haveria de tocar Luanda em finais de Abril de 2013!
O HMS Argyll na
altura, além de escalar Cabo Verde, realizou exercícios no quadro do “Saharan
Express 2013” (Março de 2013) e com os navios da Marinha de Guerra francesa que
fazem o reabastecimento das forças militares francesas do Senegal ao Gabão
(Abril de 2013).
Eis os países que
participaram no exercício multifunções “Saharan Express 2013”: Cabo Verde,
Costa do Marfim, Espanha, Estados Unidos, França, Gâmbia, Libéria, Holanda,
Mauritânia, Marrocos, Portugal, Reino Unido, Serra Leoa e Senegal, oito países
oeste-africanos, cinco da NATO, 10 navios e 4 comandos operacionais…
Os navios franceses
que realizaram exercícios com o HMS Argyll foram o FS Mistral e FS Henaff…
Só o Almirante da
Guiné Bissau parece ter andado distraído em relação ao amplo movimento de
interesses e de naves da NATO e dos países africanos circunvizinhos nos mares
mais próximos e só o governo da Guiné Bissau se parece ter distraído com o
facto de ter sido considerado como um “estado falhado”, simultaneamente como um
“narco estado”.
A caracterização da
vulnerabilidade da Guiné Bissau enquanto “estado falhado”, está a ser útil à
AFRICOM e à NATO: é a partir dessa qualificação que a Guiné Bissau tem sido
colocada à margem das relações na região (o que não acontece com o actual
governo do Mali, produto também dum golpe de estado naquele país) e por isso
podem ser sacrificadas algumas das entidades que compõem a sua elite política e
militar.
Nesse aspecto os
Estados Unidos estão a utilizar a experiência em relação à Guiné Bissau como
uma experiência pioneira que depois irão também utilizar em relação a outros “estados
falhados”!
O uso do cacete
para com essas entidades, que estando ligadas ao tráfico de droga são apenas
tentáculos dele, (a Guiné Bissau quando muito é produtora em muito pequena
escala de canábis) serve para o uso da cenoura em relação a todos os outros
países africanos da região, agenciando para a causa do AFRICOM e da NATO as suas
elites políticas e militares, de forma a colocá-las ao seu serviço com o rótulo
de “parceiros”…
De facto, para que
houvesse um agenciamento tão extensivo de “parceiros” no Atlântico afecto ao
espaço CEDEAO, era necessário sacrificar o elo mais frágil: a Guiné Bissau e
alguns dos que nela sustentaram o último golpe de estado!
Desse modo se
trabalha no agenciamento das elites militares africanas da CEDEAO, em estreita
conjugação com o “esforço” no “combate ao terrorismo”!
É evidente que nada
há de referência a Amílcar Cabral, assassinado há 40 anos, nas actuais
conjunturas sócio-políticas de Cabo Verde e da Guiné Bissau, muito menos nos
outros países africanos da região: está-se a todo o vapor a trabalhar nas
ingerências e nos expedientes de agenciamento, que conduzem ou pela via da
afirmação ou pela da negação, à constituição dos grupos afins à globalização
neo liberal que em cada um dos países CEDEAO estão a assumir o tributário poder
local neo colonizado!
Esse quadro da
CEDEAO, dado o peso da região na União Africana, transmite à organização
continental 50 anos depois da sua fundação, um estado de neo colonialismo com
consequências gravosas, sob o ponto de vista humano e político, que podem
inclusive conduzir ao redesenhar do mapa político do continente, sem diminuir a
fragilidade e a vulnerabilidade dos estados!
É o AFRICOM ao seu
melhor estilo!
A consultar: