domingo, 28 de setembro de 2014

O CALIFADO (4) - conclusão



Rui Peralta, Luanda (continuação - ler anteriores)

IX - Assistimos, nestes complexos tempos que correm, a uma espectacular engenharia  mediática que mistificou (tornou num fetiche) o  sempre indefinido conceito "fundamentalismo islâmico". As estratégias de  manipulação e  propaganda, em voga, criam problemas e numa fase seguinte oferecem soluções. Esta é uma metodologia designada por " problema/reacção/solução" e pode ser grosseiramente descrita da seguinte forma: Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar determinadas impressões no  público, para que este seja  mandatário das medidas que se desejam  fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique  a violência urbana ou organizar atentados sangrentos, para que o  público exija leis de segurança e políticas contrárias á manutenção da liberdade de viajar, de reunir ou de informar.

Uma grande  parte da actual visão  político-ideológica, é consequência das mentiras fabricadas pelos diversos poderes e a manipulação mediática tem um papel decisivo neste fenómeno. O "fundamentalismo", por exemplo, é um termo de uso comum, mesmo que não se saiba muito bem o que significa e seja utilizado nas mais variadas circunstâncias. Em sentido estrito, o termo "fundamentalismo" tem origem numa serie de panfletos publicados  entre 1910 e 1915 nos USA,  intitulados "Os Fundamentos: um testemunho da Verdade",  escritos por pastores protestantes e distribuídos gratuitamente nas igrejas e seminários. O objectivo destes pastores era alertar contra a  perda de influência dos princípios evangélicos no país, durante  as primeiras décadas do século XX. Pretendiam os seus autores efectuar uma declaração cristã da  verdade literal da Bíblia, sendo os seus defensores, considerados (auto-considerados, claro) "guardiões da verdade". Desde então,  fundamentalismo implica "retorno ás fontes, aos fundamentos".

No islamismo, o fundamentalismo preconiza a estrita observância das leis corânicas no âmbito da sociedade. Aspira a  voltar ás fontes ou seja ao Livro, á Sunna (tradição do  Profeta, ditos e actos de Maomé) e á Lei Revelada. É um resgate dos valores do Islão, o que pressupõe a restauração do Estado Islâmico e a oposição á inovação, considerada alienígena e portadora de valores contrários á tradição. No interior deste "amplo movimento" existem diversas tendências, distribuídas pelo cisma sunita e xiita, reveladas em organizações diversas e abrangendo todo o mundo, islâmico, de África ao Extremo Oriente, sem um fio condutor único, comungando de forma difusa alguns aspectos do direito islâmico, como a proibição do casamento entre mulher muçulmana e homem não muçulmano, proibição do muçulmano em mudar de religião, a não aceitação dos sindicatos e de organizações dos trabalhadores, os castigos corporais, a condenação do adultério ou a superioridade do muçulmano sobre o não muçulmano.

A maioria das tendências do fundamentalismo islâmico não estabelecem distinção  entre política e religião (no Irão, por exemplo, a direcção política recai nos líderes religiosos). Para o  fundamentalismo a restauração do Islão originário é a única  alternativa viável, a resposta religiosa frente aos fracassos, ás  crises e ao secularismo e o Ocidente é a principal causa dos males.  Nesta linha de pensamento, muitos dos problemas do mundo árabe actual são provocados pelo abandono da fé  islâmica, sendo essencial retornar ás fontes da fé, depurar todas as escórias e deformações provenientes e resultantes de  séculos de decadência (a pobreza, o atraso económico, a  dominação estrangeira devem-se, nesta óptica, ao abandono do Islão) e recuperar  a época dourada, vista hoje como paraíso perdido.  Este  fundamentalismo difundiu-se, principalmente, entre os estratos mais  pobres das sociedades islâmicas, camponeses expropriados e empurrados a emigrar para a cidade,  trabalhadores e pequena burguesia (os primeiros como assalariados, muitas vezes em situação precária, os segundos como proprietários) do sector da "economia dos bazares", uma parte do clero islâmico e na juventude (60 % da população muçulmana entre os 18 e os 25 anos está desocupada e tem um futuro incerto, independentemente das habilitações e formação técnica e profissional). É um movimento de carácter interclassista que se opõe á "modernidade laica". 

Como no Alcorão está escrito que aqueles que morram em defesa da fé  terão felicidade eterna, estas camadas mais pobres e necessitadas vêm-se  induzidas aos maiores sacrifícios para alcançar a felicidade habilmente explorada pelos seus lideres, que utilizam os textos  sagrados para alcançar os seus fins. Isto explica o terrorismo e os actos suicidas, difíceis de entender se partirmos da concepção ocidental (os norte-americanos e os ingleses foram confrontados com este problema na II Guerra Mundial, no Pacifico, frente ás forças japonesas e aos seus esquadrões Kamikazes). Quando um jovem islâmico lança-se carregado de  explosivos contra um objectivo está convicto de que essa é a "vontade de Deus" e que após a sua morte irá directamente  para o Paraíso onde residirá junto a Alá.  Este contexto de  miséria económica, desemprego e pobreza em que as massas islâmicas se encontram é o combustível do fundamentalismo islâmico, que encontrou no fascismo um discurso mobilizador e uma formula politica eficaz. 

X - Nos anos  cinquenta, sessenta e setenta, no mundo islâmico, existiam correntes de  esquerda bastante importantes. Na Síria, Iémen, Iraque, Egipto; Líbia e  outros países islâmicos existiam correntes nacionalistas de esquerda, apimentadas de socialismo (ou vice-versa, socialismo apimentado de nacionalismo, dependendo das circunstancias internas e externas) e existiram importantes movimentos de massas. No clima da  Guerra Fria alguns destes dirigentes, como Gamal Abdel Nasser ou Kadaffi (para referir dois dirigentes africanos) desafiaram o imperialismo ocidental e levaram a cabo  nacionalizações, estatizações e reformas radicais nos seus países. A partir desse momento, uma das pedras angulares da política imperialista foi  organizar, armar e fomentar o fundamentalismo islâmico moderno como uma  arma contra eventuais insurreições islâmicas e regimes nascidos de golpes nacionalistas, que procuravam alianças com o "campo socialista", CIA e Pentágono fizeram inflacionar os orçamentos e forneceram ajuda e formação, armamento e estrutura organizacional a grupos que combatiam, em nome do Islão, este processo de modernização das sociedades islâmicas. O caso da nacionalização do Canal do Suez, por parte do Egipto de Nasser, foi a faísca que incendiou este processo e décadas depois, o Afeganistão representou uma alteração nas formas de actuação dos USA, que através da CIA passaram a criar núcleos de combatentes islâmicos, precursores directos do fascismo islâmico actual, encarnado pelo Califado. A principal fonte de financiamento desta operações procederam  do narcotráfico. Numa primeira fase através do ópio turco e mais tarde, durante as operações contra os soviéticos e as forças nacionalistas no Afeganistão a rede internacionalizou-se, ate por efeitos da produção de ópio afegão e os fundos derivaram com a entrada da Arábia Saudita e dos Estados do Golfo nas estruturas de financiamento a operações da inteligência e contra-inteligência norte-americana (este processo de utilização do narcotráfico e de outros esquemas da economia paralela informal, iniciado pela estruturas da CIA, acabou por autonomizar-se e é, hoje, um mecanismo de funcionamento da economia capitalista á escala global). Hoje, cerca de 70 % da produção mundial de heroína procede dos clãs Afegãos e Paquistaneses e dos laboratórios localizados na fronteira entre ambos os países (onde se transforma o ópio em heroína), instalados  com a ajuda da CIA. 

Em sociedades onde os Estados são  incapazes de proporcionar os serviços básicos de saúde e educação, o fascismo islâmico utiliza estas  privações para construir as suas próprias forças, prosseguindo a politica dos grupos fundamentalistas (foi desta forma que o Hamas se instalou em Gaza, ou que o Hezzbollah ganhou um papel predominante no Líbano, para citar dois exemplos que acabam por fugir á hegemonia norte-americana, mas para o qual os USA contribuíram. É o preço de não ler correctamente as dinâmicas internas e pensar que o mundo é determinado pela externalidade das dinâmicas sociais, politicas, culturais e económicas). Escolas religiosas formam a carne para canhão e ocupam o lugar das escolas publicas laicas. Clínicas e hospitais de campanha tapam o buraco da ausência de um esboço sequer de politica de saúde. O clima de desespero das grandes massas islâmicas – em particular da juventude – gera a tentação da violência e é aqui que residem as raízes dos movimentos fascistas e da sua estratégia terrorista. Em toda e qualquer parte do mundo. O Ocidente parece nada ter aprendido com o seu passado recente, crivado pelos actos da barbaridade fascista, como a II Guerra Mundial e o Holocausto, a Alemanha sob domínio nazi, a Itália debaixo da bota fascista e o Japão militarista.

XI - As linhas de montagem mediáticas do poder no Ocidente – com Washington á  cabeça – confunde fundamentalismo islâmico com terrorismo, batendo tanto nesta tecla, que hoje a realidade mistura-se com a mentira criada pelos propagandistas. O novo perigo, para esta engenharia comunicacional, não é o comunismo, nem o narcotráfico, mas sim o "terrorismo internacional de cunho islâmico".  Surgem diabólicas figuras como Osama Bin Laden (já morto) ou Abu al-Baghdadi (o líder do Califado). Os atentados suicidas são noticias diárias, quotidianas, que acompanham o telespectador na hora da refeição, assim como os números da morte no Afeganistão, Iraque, Síria, Somália, Líbia...Enquanto mastiga o almoço ou o jantar o telespectador ocidental pode ver as mulheres com os rostos tapados e os corpos cobertos sem ponta de pele á mostra.

É uma realidade martelada que tenta comprovar os "maus que estes tipos são, vejam as mulheres deles e como vivem" e que é depois passada para actos como passar nos aeroportos a pente fino tudo o que é suspeito de ser islâmico, porque é terrorista, ou olhar de lado nas ruas, camuflando os centros comerciais e turísticos do Dubai e dos Emiratos, os investimentos estrangeiros provindos do mundo islâmico (que na África não islâmica são imensos e aparecem com as mais diversas formas, muitas vezes sob a forma de médios e pequenos investimentos) e focando, essencialmente, o fanatismo religioso e o terrorismo. O fundamentalismo islâmico é um bom negócio para as grandes corporações da industria mediática e o terrorismo islâmico é o ganha pão da industria de segurança e de muitos serviços dos Estados que encontraram nessa fórmula uma forma de manter o emprego e pôr a trabalhar o cunhado, o genro, a irmã ou o filho. Bem explorado serve para todas as carapuças.

Fundamentalmente esconde-se o que seria obvio se não vivêssemos num mundo alienado pela realidade única, económica, de vistas curtas e cérebros atrofiados. A "guerra contra o terrorismo" é uma formula que justifica as manobras estratégicas de hegemonia dos USA, da U.E e seus parceiros de negócios. Actos de terror contra interesses dos USA ou da Europa apenas serviram para a ingerência e agressão imperialista. Olhe-se para o continente africano e veja-se os avanços da AFRICOM e consegue-se compreender o objectivo final da manipulação. Veja-se a Europa e compare-se a actualidade com 15 anos atrás, para não ir muito longe: a liberdade de movimentos, a liberdade de viajar, o conhecer o mundo e o Outro, o não ver policias a todo o instante, a curiosidade e o prazer de conhecer e comunicar...Hoje, nos escombros causados pela crise, no meio das campanhas propagandísticas da segurança, resta a desconfiança...

A liberdade religiosa e a tolerância correm o risco de tornarem-se bens raros e com a sua raridade asfixiam-se todas as outras liberdades, direitos e garantias, substituídos pela obrigação da eficiência, da produtividade e pelo culto da segurança. As fronteiras voltam a fechar-se sobre si próprias e apenas os capitais e mercadorias têm liberdade de movimentos. O fundamentalismo islâmico é uma marca registada pelas corporações dos media e da industria de segurança, com a cumplicidade das elites ocidentais, dos USA, da U.E. e da NATO, para permitir cobrir os riscos da grande aventura cosmopolita que o actual estágio da economia-mundo exige e que implicaria a certidão de óbito das actuais elites, que nada são sem o espaço nacional inserido, seja no centro ou nas periferias.

Quanto ao crente na fé islâmica, que se cuide: o rotulo está colocado na testa! A tolerância terminou no 11 de Setembro, para gozo dos intolerantes e dos invasores, afinal, uma e a mesma coisa.

XII - Na agenda da inteligência militar dos USA estes produtos mediáticos obedecem a dois tipos de  construções: Uma, verdadeira, associada ás redes secretas do  terrorismo e outra, fabricada, para consumo mediático. A primeira forma e treina o soldado, preparando-o para os actos de terrorismo, a segunda transforma-o num produto vendável, uma entidade espectral. Os resultados são sempre funcionais aos  interesses estratégicos, políticos e económicos de Washington.

Da mesma forma que utilizou o fascismo islâmico e os núcleos integristas islâmicos para as suas operações encobertas na Ásia e nos Balcãs, agora a CIA fabrica a psicose terrorista que servem os USA para justificar as novas invasões militares necessárias  ao redesenhar planetário que a deslocação do centro financeiro implica, de forma a que os USA não se tornem uma região periférica, mas que permaneça ligada ao centro de decisão (como aconteceu com a Inglaterra, quando o centro financeiro mundial se deslocou de Londres para Washington).

Investigações realizadas pelo FBI e pelo Financial Crimes Enforcement Network (FCEM), determinaram as conexões do  clã Bush com o clã  Salem Bin Laden (dirigido pelo pai de Bin Laden) e o BBCI (Bank of  Credit & Commerce). A investigação revela que os sauditas  utilizaram o BCCI para realizar lavagem de dinheiro, tráfico de  armas e canalização dos fundos para as operações encobertas da CIA na Ásia e América Central, que implicavam subornos a  governos. Este é um exemplo dos "processos de laboratório" dos novos produtos mediáticos e da maquinaria da propaganda e manipulação. O medo foi instalado, os negócios foram feitos, os lucros aplicados, o medo tem de ser perpetuado, para os negócios continuarem e os lucros aumentarem.

Quanto á aldeia global morrem, por dia, 6 mil pessoas de diarreia, 11 mil de fome, cerca de 4 mil pela SIDA, 150 por consumo de drogas, 720 por acidentes rodoviários e 11 são vitimas de "terrorismo".

XII - Os novos esquemas de vigilância, impostos a nível internacional, são eficazes a aterrorizar e incomodar cidadãos, mas ineficazes para fazer face a redes bem estruturadas, como são as que se movimentam nos cenários mundiais do terrorismo, narcotráfico, lavagem de dinheiro, etc. Têm, estes esquemas, o mesmo efeito que as operações stop: manda-se parar toda a gente, ou segue-se um critério arbitrário e havemos de descobrir condutores embriagados, drogas leves, tipos que conduzem sem carta, viaturas não seguradas, etc. Em contrapartida agiu-se arbitrariamente sobre 95% de inocentes, que tinham tudo em dia. Incomodaram-se pais que saíram para passear com os filhos, incomodou-se turistas que vêm para gozar as paisagens com o esforço das suas poupanças, incomodou-se os contribuintes, que pagam os custos de todas estas operações, aparentemente necessárias, mas só aparentemente, pois o motivo real da sua existência é dar emprego, manter pessoas ocupadas, que de outra forma não teriam qualquer utilidade funcional.   

A efectividade das politicas de segurança em curso é um contra senso. Parte-se do princípio errado de que tudo e todos são suspeitos, sendo que estes "todos" são, na sua maioria, os contribuintes, cidadãos que, em ultima analise, deveriam ser os mais beneficiados pelas medidas de segurança e não os mais afectados. Por isso a segurança é, no momento, o maior inimigo do cidadão, um meio de o despir dos seus direitos (inclusive da propriedade, um direito natural á luz da filosofia do direito ocidental), uma canção de embalar cuja letra assenta nos medos colectivos engendrados pelos que não aceitam as regras do jogo democrático e que pretendem enganar os mecanismos de mobilidade social e as engrenagens do rejuvenescimento das elites. O fascismo islâmico serve este objectivo das elites ocidentais de duas formas: cria a necessidade de segurança, fazendo avançar o fascismo no Ocidente e mantém o mito da superioridade da civilização Ocidental, fazendo implantar o fascismo no Ocidente e legitimando a sua ascensão a Oriente.

No fundo estamos a falar de farinha do mesmo saco, sejam farelos do Ocidente ou Oriente, do Norte ou do Sul.

XIII - Os bombardeamentos aéreos e o lançamento de mísseis Tomahawk nas últimas horas sobre território sírio, sob a capa de combater o ISIL é a mais recente invenção da máquina de guerra dos USA. A administração Obama tenta desde o inicio da agressão á Síria, uma forma de ataque directo, sem rodeios, deixando o país num caldo caótico, como aconteceu com o Iraque, a Somália, o Afeganistão e a Líbia.  Claro que os bombardeamentos não se dirigem directamente contra Damasco, nem contra instalações militares ou do governo, pelo menos por enquanto. Por ora estão dirigidas ás forças do Califado e á primeira vista, sem muita reflexão, pode parecer que os ataques norte-americanos contra o Estado Islâmico favorecem o governo sírio de Al Assad. Mas este é um argumento que contorna o objectivo a longo prazo, que é o derrube do regime sírio e a sua substituição por um "governo funcional" como o da Líbia ou da Somália...

Os sírios são submetidos a uma dupla agressão: a da NATO (cujo secretário-geral é a prova comprovada que afinal algo vai podre no Reino da Dinamarca) com os USA á cabeça e com o apoio dos Estados do Golfo; e a do Califado Fascista, disfarçado de Estado Islâmico.

Por outro lado estes bombardeamentos, ao contrario do que acontece no Iraque, violam alguns princípios básicos, porque são efectuados por um país, ou por um consórcio de países, que bombardeiam um terceiro, sem que convidem o Estado deste a participar na coligação e declarando abertamente que dão apoio ás forças que se opõem ao Estado do pais bombardeado. É uma posição curiosa em termos de direito internacional e que deveria ser merecedora de um estudo aprofundado por parte dos especialistas na matéria (dos especialistas e não dos papagaios que ainda cheiram a recém-licenciados ou recém-qualquer- coisa em termos académicos e que usam fatos largos, para parecerem mais responsáveis).

XIV - O que está em perigo? A liberdade do crente e do não-crente. A liberdade de expressar a fé e a de expressar a razão. A tolerância, mãe da liberdade e a liberdade, irmã da dignidade. Está em perigo, meus caros, a Humanidade...

Fim

Fontes
Rodinson, M. Islão Politico e Crença Instituto Piaget, Lisboa, 1997
Almeida, E. C. Fundamentalismo Islâmico: A Ideologia e o Estado Ed. Autonomia 27, Azeitão, 2003
Amin, S. Os desafios da mundialização Ed. Dinossauro, Lisboa, 2000
Graça, P.G. Historia do Presente e Intelligence nas Relações Internacionais IISA, Luanda, 2010
Braudel, F. La Dynamique du Capitalisme Ed. Arthaud, Paris, 1985
New York Times, August, 27, 2014
New York Times, August, 28, 2014
www.democracynow.org
www.rebelion.org
www.lewrockwell.com
www.economicpolicyjournal.com

Portugal - Primárias PS: Candidatura de Costa aponta para larga vantagem do candidato




“Tenho boas razoes para aguardar com toda a confiança”, disse António Costa à chegada ao Fórum Lisboa. Na sede de campanha, resultados provisórios projetados apontam para uma folgada vantagem para o atual presidente da Câmara de Lisboa nas eleições primárias.

Na sede de campanha de António Costa, já são projetados os resultados provisórios das eleições primárias, que estão agora em fase de contagem de votos.

Dando conta de resultados já definitivos, segundo o Expresso, 47 mil militantes e simpatizantes terão selecionado a opção António Costa, sendo que 14 mil votos pesarão na balança de António José Seguro.

O atual presidente da Câmara de Lisboa já chegou ao Fórum Lisboa, onde foi recebido com euforia.

Aos jornalistas, Costa disse que vai esperar pelos resultados finais, mas adiantou que tem “boas razoes para aguardar com toda a confiança”.

Notícias ao Minuto

Portugal - PCP: Jerónimo de Sousa classifica primárias do PS como "uma farsa"




O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa classificou hoje como "uma farsa" as eleições primárias do PS, que decorreram ao longo do dia, considerando que os socialistas apenas querem "esconder responsabilidades passadas e intenções futuras".

"Para o PCP a questão que se coloca ao país não está em saber quem vão ser os futuros protagonistas da política de direita, como dissimuladamente a farsa das chamadas eleições para primeiro-ministro quis impor e o que o PS deliberadamente promoveu, seguramente para esconder responsabilidades passadas e intenções futuras", afirmou o secretário-geral comunistas, numa intervenção no encerramento da sessão pública de abertura da campanha "A força do povo por um Portugal com futuro", que decorreu num hotel em Lisboa.

Para os comunistas, acrescentou, a questão decisiva é "romper com o ciclo infernal de alternância sem alternativa".

Por isso, defendeu o secretário-geral do PCP, mais importante do que "passar a ver pelas costas" o primeiro-ministro e líder social-democrata, Pedro Passos Coelho, e o vice-primeiro-ministro e líder dos democratas-cristãos, Paulo Portas, "é a efetiva substituição da políticas que ao longo deste 38 anos foram executadas por PS, PSD e CDS".

Na sua intervenção, Jerónimo de Sousa anunciou ainda a apresentação na terça-feira, na Assembleia da República, de um projeto de resolução do PCP com "uma proposta clara de rutura".

"Terá como adversários os grupos monopolistas que vão parasitando o país, uma proposta que se eleva perante o lodaçal que marca muitas das querelas artificialmente construídas para esconder as muitas semelhanças entre os três partidos que nos últimos 38 anos estiveram no Governo", disse.

Segundo o secretário-geral comunista, a "proposta integrada" tem como objetivo "resgatar o país da dependência e do declínio", fixando calendários, as condições e opções da política nacional com vista à renegociação da dívida e à criação de condições para Portugal preparar a saída do euro e da União Europeia.

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Portugal: SEGURO DEMITE-SE. ANTÓNIO COSTA É O NOVO SECRETÁRIO GERAL DO PS




Seguro admite derrota nas primárias e demite-se de secretário-geral

O secretário-geral do PS admitiu a derrota nas primárias socialistas deste domingo. António José Seguro anunciou, por isso, a sua demissão do cargo.

TSF

Portugal: NA TERRA DAS AVESTRUZES



Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião

Estamos no meio da pior das crises políticas: a que não nos permite discutir política. Receio mesmo que a análise do fracasso absoluto da governação seja substituída por uma discussão infindável sobre as qualidades pessoais e o passado de Passos Coelho. E, apesar do triste espetáculo que tem protagonizado, estou capaz de apostar que não há eventual mancha no seu passado que se compare à catástrofe económica, social e política que provocou com a sua governação.

É provável que haja uma faixa da população que se sinta mobilizada para vir defender as estranhas falhas de memória, a manipulação do Ministério Público e da Secretaria-Geral da Assembleia da República e a sua santíssima prodigalidade, em nome duma imagem que criou de Passos Coelho e que, assim, se distraia da realidade. Talvez seja isso que o primeiro-ministro quer: tudo, até a sugestão de graves falhas, menos discutir o estado do País.

Seria uma estratégia estranha e, admito, quase inverosímil, mas se pensarmos o que foi a atuação do primeiro-ministro nestas últimas semanas, corremos o risco de acreditar nela.

Não é que não estejamos demasiado familiarizados com a falta de memória de Passos Coelho, mas precisar de uma semana para se lembrar de que, durante três anos, não lhe foi paga uma quantia, que a esmagadoríssima maioria da população portuguesa não consegue arrecadar numa vida inteira, é, digamos, algo que permite recomendar uma caixa inteira de Memofante.

Um primeiro-ministro que não tem a certeza de ter cometido uma ilegalidade grave, tem não só um problema, lá está, de memória, mas um desconhecimento da lei não muito apropriada a um governante. Um líder do Executivo que recorre ao Ministério Público para ser informado duma possível ilegalidade que ele sabe já não poder ser investigada (claro que há sempre a tal possibilidade de os mais simples conhecimentos legais lhe serem estranhos), ou confunde a instituição com um balcão de informações ou quer manipular a PGR para que lhe ofereça uma espécie de álibi. Prefiro a primeira opção.

Alguém que não se recorda de ter assinado uma declaração de exclusividade, num local onde esteve oito anos, e pede mesmo às pessoas que se dirijam aos serviços da Assembleia da República para que o ajudem a avivar a memória, é capaz de não servir para primeiro-ministro. Não por não ter qualidades para a tarefa, mas por ser muito provável que não encontre todos os dias a porta de entrada da residência oficial.

Uma pessoa que afirma não ter sido remunerado por serviços prestados a uma organização que tinha como saudável objetivo a busca do lucro, que mesmo não tendo cargos executivos ou de representação (segundo Passos Coelho) viajava para vários destinos, executava tarefas, tinha jantares de trabalho, parece ser, sem dúvida, uma pessoa muito generosa. E ninguém pode dizer o contrário, arriscando um processo de intenção que ninguém quer sugerir. Mas o que acho estranho nesta prodigalidade é a opção. Ou seja, o primeiro-ministro, entre prescindir da possibilidade de receber o subsídio de reintegração ou cobrar à organização, preferiu dar uma borla aos privados. Entre poupar dinheiro ao erário público ou ajudar os particulares, preferiu a rapaziada do privado. Que diferença para o homem que tanto luta contra as gorduras do Estado.

Não, não pode haver tantas falhas de memória, tantos equívocos, tantas confusões. Talvez tenha mesmo de se acreditar na tal estratégia estranha, na tese inverosímil, na que diz que Passos Coelho teve estes comportamentos exóticos para que não se fale da governação. O contrário, por incrível que pareça, seria ainda pior, muitíssimo pior.

Portugal: Primárias socialistas estão a ter «adesão brutal», diz Jorge Coelho




O presidente da Comissão Eleitoral do PS considerou que a adesão a estas eleições é um «grande orgulho» para os socialistas e que há «milhares de pessoas a votar». Os responsáveis das secções de voto de Campolide e Paranhos confirmam esta ideia.

O presidente da Comissão Eleitoral do PS classificou como «brutal» a adesão às eleições primárias socialistas que colocam frente a frente António José Seguro e António Costa, algo que Jorge Coelho entende ser de «grande orgulho».

«Há milhares de pessoas a votarem em todo o país e isto é a maior prova que de que esta decisão do PS tomou de abrir aos cidadãos independentes e à sociedade este processo de decisão de algo tão importante como a escolha do primeiro-ministro tem uma resposta maciça das pessoas», explicou, em declarações à TSF.

O responsável pela secção de voto de Campolide, instalada na Padaria do Povo, confirmou que a afluência estava a ser elevada numa mesa onde estão inscritos 1811 votantes.

Também ouvido pela TSF, Luís Monteiro disse que a afluência estava a ser de cerca de 40 por cento e que não se tinha registado quaisquer tipo de problemas até então.

Na secção de Paranhos, no Porto, o responsável por esta secção explicou que a votação também estava a decorrer sem problemas e que esta estava a ser «massiva».

Ouvido pela TSF, Luís Catarino explicou que «a partir das 9:00 sistematicamente minuto a minuto» houve «sempre gente a chegar», o que, na opinião do responsável desta secção, sitgnifica que o »PS abriu à sociedade e a sociedade respondeu».

«Esperemos que o PS esteja à altura das responsabilidades a partir de hoje à noite, unido e coeso de forma a dar um novo Governo a Portugal», concluiu.

TSF – foto João Alexandre

Portugal: TÃO INIMIGOS QUE NÓS SOMOS. ELEIÇÕES DIRETAS NO PS GERAM FEL


Bocas do Inferno

Helder Semedo, Coimbra

Hoje sim. Este é um dia em que merecidamente os Antónios do Partido Socialistas ganharam o pleno direito de ser incluídos na nossa Imagem Escolhida. Um e outro numa "selfie" de bradar aos céus, de boca aberta. O que os denuncia grandes ingénuos acerca daquela postura bocal. De boca aberta, assim, é sabido que ou entra mosca ou sai asneira. E como não entra mosca... Daquelas bocas quase que só têm saído asneiras e mediocridades com jactos de fel.

As eleições diretas no PS - uma novidade no partidarismo português americanizado - vieram permitir que vislumbrassemos que aqueles candidatos a dirigentes do partido e posteriormente a primeiro-ministro não têm qualidades para o que se propõem. Vença um ou outro Portugal continuará a tramar-se. Não há memória que no PS a mediocridade dos seus dirigentes ou propostos dirigentes existisse em quantidade tão avassaladora. Assim acontece no PS como nos outros partidos do chamado arco da governação ou da corrupção, CDS mais PSD.

A campanha das diretas no PS veio demonstrar quanto é possível as lutas intestinas nos partidos fazerem sobressair quanto os candidatos são personalidades toscas, falsas, gananciosas, comezinhas, para quem tudo vale - até tirar olhos - com o fito de obterem a meta: os poderes por que tanto anseiam. Pessoas assim não prestam para dirigirem partidos políticos e muito menos o país.

A crise instalou-se na seleção nacional de futebol por falta de jogadores com vontade e qualidades. A geração de ouro já aconteceu. O mesmo acontece com estes jogadores políticos cuja geração - saída das juventudes partidárias - não serve, não presta. E neste setor da vida nacional a geração de ouro nem aconteceu. Mas todos os anteriores líderes e políticos eram bem melhores em qualidades. Havia adversários políticos e não inimigos sem escrúpulos o que garantia melhor qualidade da democracia que na atualidade quase já nem é. Democracia cada vez mais deficitária é o que temos.

O que estes "velhos" saídos das juventudes partidárias do arco da governação vêm fazendo é semeando a mediocridade, a incompetência, a inépcia e gerando o fel em que se banham e alagam as instituições e a democracia, destruindo-as. Por tal, nestas eleições primárias do PS, vença um ou outro candidato quase não daremos pela diferença. Tudo como antes. O descalabro vai continuar a acompanhar o quotidiano de Portugal. Também por responsabilidade dos portugueses eleitores porque votam sempre nos mesmos, naqueles que já se constituiram abusivamente donos disto tudo, mais se assemelhando a uma máfia.

Portugal: PASSOS, RIO, SEGURO, COSTA E O PAÍS



Paulo Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

A importância do que hoje se joga nas eleições primárias do PS está muito para lá da mera escolha do novo líder socialista e futuro candidato a primeiro-ministro. Vença quem vencer, o dia seguinte nascerá com duas inevitabilidades. O sangue das navalhadas dadas durante este combate começará a correr em abundância. Até agora, a coisa foi-se amenizando com curativos; a partir de agora, estará exposto um partido em carne viva, carregado de feridas muito difíceis de curar. Por outro lado, as pedras colocadas no xadrez político começarão a mover-se bastante mais às claras e com bastante mais vontade de ganhar posição, sobretudo dentro do PSD.

A turbulência será maior se vencer António Costa. Por duas razões. O PSD sabe que o atual presidente da Câmara de Lisboa é, por estes dias, o mais forte íman do descontentamento: é para ele que olham os que, tendo poder e influência, desejam uma alternativa a Passos Coelho; é para ele que olham os portugueses que gostam de vozes encantatórias, aquelas que, para o bem ou para o mal, enfeitiçam o povo, por serem facilmente audíveis e entendíveis.

Por outro lado, Costa garante mais depressa do que Seguro uma candidatura de António Guterres à presidência da República. O partido deseja ardentemente o regresso de Guterres. O tempo, o notável trabalho que tem feito como Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados e a afabilidade do ex-primeiro-ministro são suficientes para que o passado seja relevado pelo povo eleitor.

A dupla Costa-Guterres é eleitoralmente poderosa. É por isso que no topo da pirâmide social-democrata se desenham e definem cenários para enfrentar o que aí vem. Há em (quase) todos eles um nome comum: Rui Rio. Para quem está perto de Passos, o ideal seria uma candidatura a Belém do ex-autarca do Porto. Para quem está mais afastado, Rio é um trunfo essencial para apear Passos, chegue, ou não, a legislatura ao fim.

Sucede que Rui Rio é, a cada dia que passa, mais um problema do que uma solução. Por causa de tanta cautela, seja ela tática ou não, Rio arrisca-se a ficar sozinho, sem tropas nem apoiantes de topo, definitivamente longe de cumprir o sonho de revirar o regime. Nessa altura talvez se arrependa de ter andado a brincar às conferências, de ter escrito biografias em registo narcísico, de ter incentivado guerras inúteis com Rui Moreira, de esperar por uma vaga de fundo que, afinal, nunca chegou. Ter-se-á perdido, quiçá, um grande estadista...

Aceitando que o país teria a ganhar com uma coligação Costa-Rio, não é indiferente chegar à mesa da negociação na qualidade de vencedor ou perdedor. O ex-presidente da Câmara do Porto sabe disso. O PSD também. E é precisamente por isso que, depois de conhecidos os resultados das primárias, é chegada a hora de Rio dizer o que quer. Ou não quer.

China: Milhares de manifestantes pró-democracia paralisam centro de Hong Kong




Hong Kong, 28 set (Lusa) - Milhares de manifestantes pró-democracia paralisaram hoje o centro de Hong Kong, numa ação de desobediência civil contra a decisão de Pequim de limitar o sufrágio universal, que ocorreu num ambiente tenso com a polícia.

As forças de segurança usaram gás pimenta e lacrimogénio contra os manifestantes, que invadiram uma importante via no centro daquele território chinês, ex-colônia britânica, sob domínio da China desde julho de 1997.

Os manifestantes gritaram "Vergonha, Vergonha e Vergonha", tentando, com chapéu-de-chuva e lonas de plástico, travar as nuvens de gás lacrimogénio, raramente utilizadas pela polícia em Hong Kong.

"Nós temos o direito de estar aqui e protestar", disse um estudante de 19 anos, Ryan Chung, citado pela France Presse, acrescentando: "O mundo deve saber o que está a acontecer em Hong Kong. O mundo deve saber que queremos a democracia, mas que não conseguimos isso".

O protesto paralisou o trânsito no centro de Hong Kong, centro de negócios da cidade.

Esta manifestação sucedeu ao protesto de hoje junto ao complexo governamental de Hong Kong, no primeiro dia da campanha de desobediência civil promovida pelo movimento "Occupy Central", inicialmente previsto para iniciar-se na próxima quarta-feira.

No protesto junto ao Governo local, no qual os manifestantes forçaram o cordão de segurança montado pela polícia, cinco pré-democratas, incluindo três deputados, foram detidos.

A China fez a promessa a Hong Kong que o seu chefe do Executivo, a eleger em 2017, poderia ser escolhido livremente pela população.

No entanto, a 31 de agosto, o Governo de Pequim, liderado por Leung Chun-ying, determinou que os candidatos ao cargo necessitam do apoio de mais de metade dos votos de um comité de nomeação.

"Occupy Central" exige que o Governo chinês "recue" na decisão e que "relance um processo de reformas políticas".

"Exigimos que o Governo de Leung Chun-ying apresente novas propostas sobre as reformas políticas que reflitam plenamente as aspirações de democracia da população de Hong Kong", disse uma fonte do "Occupy Central", que promete mais ações em caso de recusa.

Todavia, Leung Chun-ying reafirmou a "determinação em lutar contra as ações ilegais de ocupação".

JOP //GC - Lusa

China: Cinco pró-democratas, incluindo três deputados, detidos em protesto em Hong Kong




Hong Kong, China, 28 set (Lusa) -- Cinco figuras pró-democratas, incluindo três deputados, foram hoje detidos pela polícia num protesto junto ao complexo governamental de Hong Kong, no primeiro dia da campanha de desobediência civil promovida pelo movimento "Occupy Central" inicialmente previsto para 01 de outubro.

Entre os manifestantes detidos estão a presidente do Partido Democrata, Emily Lau, e Joseph Cheng, da Aliança para a Verdadeira Democracia, segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

Os três outros pró-democratas detidos eram os membros do Partido Democrata Albert Ho e Yeung Sum e o vice-presidente do Partido Trabalhista, Fernando Cheung, disse o deputado Lee Cheuk-yan, um dos signatários da Declaração Conjunta Sino-britânica, assinada em 1984.

Segundo a RTHK, vários voluntários envolvidos nos protestos foram também detidos hoje.
O académico e cofundador do movimento 'Occupy Central' Benny Tai anunciou esta madrugada a antecipação do início da campanha de desobediência civil por uma democracia autêntica em Hong Kong, depois de duas noites de protestos promovidos pelos estudantes daquela cidade do sul do China.

"O Occupy Central começa agora", disse Benny Tai perante milhares de pessoas concentradas em várias avenidas da zona de Admiralty, perto da sede do governo -- o complexo Tamar, que alberga o gabinete do chefe do Executivo, o Conselho Legislativo (parlamento) e as principais secretarias de Hong Kong.

Alguns estudantes manifestaram, todavia, o seu descontentamento com a antecipação da campanha do "Occupy Central", por considerarem que se estavam a aproveitar do movimento estudantil em benefício próprio, referem o jornal South China Morning Post e a RTHK.

A Federação de Estudantes iniciou esta segunda-feira uma semana de boicote às aulas.

O "Occupy Central" é um movimento que nasceu em janeiro de 2013 com o objetivo de paralisar a atividade no distrito de Central, centro financeiro e comercial de Hong Kong, contra a decisão de Pequim de limitar o sufrágio universal.

Os protestos de uma semana promovidos por estudantes e ativistas culminaram na noite de sexta-feira com a entrada forçada no interior do complexo Tamar e com o uso de gás pimenta pela polícia para tentar dispersar os manifestantes.

Entre a noite de sexta-feira e sábado foram detidas 74 pessoas, incluindo o líder estudantil Joshua Wong, de apenas 17 anos.

Entretanto, democratas veteranos acorreram hoje ao complexo de Tamar, apelando ao público para apoiar a luta por um sufrágio universal autêntico.

O deputado e líder do Partido Cívico Alan Leong descreveu a ação como um momento crucial e apelou às pessoas para fazerem ouvir as suas vozes.

Já o fundador do Partido Democrata, Martin Lee, pediu para o público se unir e "trazer a democracia para Hong Kong o mais rápido possível".

Em declarações citadas pela RTHK, a vice-presidente da comissão de redação da Lei Básica, Elsie Leung, disse que a ação extrema para tentar forçar Pequim a dar concessões sobre a reforma política em Hong Kong vai ter um efeito contrário.

Para Elsie Leung, tais ações afetam a estabilidade social e a economia e não vão conquistar os corações e mentes da opinião pública.

A China prometeu à população de Hong Kong que poderia escolher o seu chefe do Executivo em 2017. Mas a 31 de agosto, Pequim decidiu que os aspirantes ao cargo vão precisar do apoio de mais de 50% de um comité de nomeação para concorrer à eleição e que apenas dois ou três serão selecionados.

FV (DM) //GC - Lusa

Diretora do turismo de Macau quer dinamizar pontos turísticos para retirar pessoas do centro




Macau, China, 27 set (Lusa) - A diretora dos Serviços de Turismo de Macau defendeu que a cidade "não se pode queixar de falta de turistas", mas sustenta que o "centro" está lotado e há que dinamizar outros pontos da cidade e novos mercados.

"O turismo está a andar bem. Não nos podemos queixar que não temos turistas. Claro que neste momento o que é necessário é pensar como fazer um melhor trabalho para satisfazer os nossos turistas em termos de procura e em termos de qualidade de serviços para eles", disse Helena de Senna Fernandes em declarações à agência Lusa.

A mesma responsável acrescentou que o turismo de Macau tem agora um novo desafio pela frente, que passa por atender aos "sentimentos das pessoas locais".

"Daqui para a frente, o que é necessário é ver qual a possibilidade de balancear um bocado a nossa procura de turistas e as pessoas locais", disse ao salientar que o "tema não é fácil, mas tem de ser enfrentado".

Helena de Senna Fernandes recordou os sinais diferentes da comunidade local, lembrou que na China "estão a pensar em alterar a maneira de tirar férias", mas uma solução vai sempre "demorar algum tempo" para que as pessoas se adaptem a uma nova ordem.

Do lado de Macau, afirmou, os esforços concentram-se em novos mercados da Ásia, mas também da Rússia, Índia, entre outros.

"Temos de diversificar a nossa fonte de turistas e para diversificar esta fonte temos de fazer mais além dos nossos territórios vizinhos. É um desafio, mas temos de fazer", considerou.

Com um recorde de mais de três milhões de visitantes em agosto, Helena Senna Fernandes disse também que, ao olhar para as zonas centrais de Macau, o "sentimento geral" é que há "turistas a mais".

"Mas há outras zonas que poucos turistas visitam. Por isso acho que temos de fazer é balancear um bocado a distribuição dos turistas e dar uma oportunidade a outras zonas da cidade para também mostrar aos turistas", disse à Lusa.

Com o "turismo e comunidade" a vincar o lema do Dia Mundial do Turismo, que hoje se assinala, Helena de Senna Fernandes quer mais esforços e mais trabalho com a população de Macau para "desenvolver melhor todas as zonas de Macau como pontos turísticos".

Por isso, salientou, um dos grandes desafios é desviar os turistas das zonas mais centrais e levá-los a conhecer outros pontos de interesse.

"Por um lado é necessário fazer desvio de turistas das zonas mais centrais e por outro há muitas zonas de Macau que não são bem aproveitadas para acolher os turistas. Há esta possibilidade de trabalhar mais em consonância com a comunidade", afirmou.

Com a capacidade turística de Macau no limite, Helena de Senna Fernandes quer também turistas que fiquem vários dias e não apenas excursionistas que permanecem no território menos de um dia.

Macau acolheu em 2013 quase 30 milhões de visitantes.

JCS //GC - Lusa

Xanana Gusmão critica funcionamento de organizações internacionais




Nações Unidas, Nova Iorque, 27 set (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, disse hoje à agência Lusa, em Nova Iorque, que "a comunidade internacional esta a enveredar pelo caminho errado para resolver os problemas do mundo."

"A comunidade internacional está a enveredar pelo caminho errado para resolver os problemas do mundo. Em vez de resolver a exclusão e desigualdades sociais e económicas, sempre que há um pequeno conflito, enviam logo uma forca militar", disse o primeiro-ministro timorense.

Impõem-se "os direitos humanos fazendo guerra, impõe-se a paz fazendo guerra e às vezes impõe-se uma democracia, como foi o caso da Líbia, do Egito e do Iraque", sublinhou Xanana Gusmão.

Já na sexta-feira, o timorense tinha criticado, durante o seu discurso na 69.ª Assembleia-geral das Nações Unidas, o funcionamento ONU e pedido uma agenda de desenvolvimento transformadora.

"Sempre defendemos que os meios militares não resolvem os problemas. Não resulta. É preciso ver qual é a causa real dos problemas, se não estamos apenas a adotar as leis medievais de olho por olho dente por dente", disse o representante.

Xanana Gusmão defende também uma alteração radical na organização das instituições internacionais, nomeadamente na forma como gerem os seus orçamentos.

O político entende que "é preciso mudar a forma como as doações estão a funcionar, porque, de um milhão, nem 30% chega [às pessoas]. 70% vai para salários de consultores e gestores de projeto, salários enormíssimos."

"Temos de mudar isso tudo, se não há muito dinheiro que se pensa que vai para algum sítio diminuir a pobreza e isso não acontece, a migalha que se recebe não chega", disse.

O primeiro-ministro percebeu, em Timor-Leste e nos países que visitou, que "as pessoas que vão para os locais muitas vezes não têm qualquer experiência, passam de organização para organização, de quatro em quatro semanas estão de licença e ganham muito dinheiro."

"Tudo isto faz com que muitas organizações não funcionem bem. A intenção é muito boa, os programas são fantásticos. Ensinam-nos sustentabilidade, transparência, muita coisa, mas a atuação de muitas organizações não corresponde ao que ensinam", concluiu o timorense.

AYS // VC - Lusa

TIMOR-LESTE E AUSTRÁLIA DEBATEM FRONTEIRAS MARÍTIMAS




Nova Iorque, 27 set (Lusa)- O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, disse hoje à agência Lusa em Nova Iorque que o país está em negociações com a Austrália sobre as fronteiras marítimas dos dois países.

"Estamos em negociações. O que posso afirmar é que defendemos a nossa soberania e o direito internacional", disse Xanana Gusmão.

Timor-Leste acusou formalmente de espionagem a Austrália no Tribunal Permanente de Arbitragem, em Haia, quando estavam a ser negociados tratados sobre o gás e petróleo no mar de Timor.

Com a arbitragem internacional, Timor-Leste pretende ver o tratado anulado, podendo assim negociar a delimitação das fronteiras marítimas e tirar todos os proveitos daquilo que considera serem os seus recursos de petrolíferos.

"Estamos agora numa outra fase, em que os dois países estão a falar", disse o primeiro-ministro, explicando que "o direito internacional diz que, quando dois países estão muito próximos, a linha intermédia é que delimita as fronteiras, o que não acontece neste momento."

"É isso que queremos", acrescentou o timorense.

Xanana Gusmão criticou na sexta-feira, durante um discurso proferido na 69.ª Assembleia-geral da ONU, a Austrália na questão da delimitação da fronteira marítima entre os dois países e a atuação das multinacionais nos países pobres.

Sem nunca referir diretamente o nome do país vizinho, Xanana Gusmão alertou, no seu discurso, para a "necessidade de definir com clareza e seriedade as fronteiras marítimas entre países à luz do direito internacional".

Paralelamente à acusação contra a Austrália, o governo timorense iniciou também uma série de ações judiciais contra empresas petrolíferas por alegada fuga ao pagamento de impostos provenientes do petróleo.

AYS // PJA - Lusa

Moçambique: DIA DAS FORÇAS ARMADAS. 50º ANIVERSÁRIO DA LUTA DE LIBERTAÇÃO



Notícias (mz) - editorial

O país celebrou ontem o Dia das Forças Armadas, data que este ano coincidiu com a passagem do quinquagésimo aniversário do desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional.

Efectivamente, reza a história que foi a 25 de Setembro de 1964 que o Comité Central da então Frente de Libertação Nacional (FRELIMO) lançou a palavra de ordem para o início da insurreição geral armada do povo moçambicano contra o colonialismo português, depois de goradas as tentativas de obter a independência nacional por meios pacíficos.

Esta data reveste-se de particular simbolismo porque rebusca e aviva o espírito dos notáveis e destemidos jovens patriotas e altruístas, que sacrificaram os seus sonhos pessoais para se dedicar à causa nacional, escolhendo lutar por moçambique.

A justeza e pureza da sua causa fizeram com que a luta armada se transformasse numa guerra popular, facto que se consubstanciou nas sucessivas vitórias alcançadas, em todas as frentes, incluindo a diplomática, contra um inimigo forte que era o colonialismo português, culminando assim na proclamação da independência nacional a 25 de Junho de 1975.

Hoje, volvidos 50 anos do desencadeamento da luta armada, novos desafios se colocam para as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). É preciso continuar a garantir a defesa da pátria, da integridade territorial e da soberania nacional tendo em conta que a nível nacional uma nova realidade política, económica e social está a despontar.

Em Moçambique a pluralidade política já é uma realidade. Cada vez mais surgem relatos sobre a descoberta de novos focos de recursos naturais, sobretudo os minerais como petróleo e gás. O desenvolvimento económico que se regista está a elevar o nível de vida dos moçambicanos. Há cada vez mais compatriotas nossos com emprego, a concluírem estudos superiores e/ou a especializarem-se em actividades produtivas.

Tudo isto obriga a que as Forças Armadas de Defesa de Moçambique apostem cada vez mais na melhoria da sua prestação, o que, segundo palavras do Presidente da República, Armando Guebuza, deve assentar na formação e capacitação permanente assim como no seu apetrechamento em termos de meios materiais.

É assim que na última quarta-feira vimos, na baía de Maputo, a Marinha de Guerra de Moçambique, um ramo das FADM, a exibir novos meios para a defesa do litoral. Aliás, a defesa marítima é um dos “novos” desafios das FADM não só por questão dos recursos ali existentes, como também para fazer frente à pirataria marítima que tem assolado o Oceano Índico, como a pesca ilegal, tráfico de drogas e imigração ilegal.

Também na Força Aérea, novos ventos sopram. Para além da capacitação de jovens pilotos, o país está a adquirir aviões e helicópteros, que vão ajudar no patrulhamento aéreo do território.

Estes meios também serão úteis no socorro dos cidadãos que eventualmente venham a ser vítimas de calamidades naturais, com destaque para as cheias e inundações, visto que o nosso país está geograficamente situado numa zona propícia para este tipo de situações.

Na passagem dos 50 anos do desencadeamento da luta de libertação nacional, uma palavra de apreço vai para os 250 jovens que constituíram o primeiro grupo de guerrilheiros da Frelimo e que foram impulsionadores da insurreição armada que viria a prolongar-se por desgastantes dez anos.

Vimos, ontem, alguns desses “jovens” a serem condecorados com a “Ordem Eduardo Mondlane do 1.º Grau”, a mais alta condecoração da República de Moçambique, criada com o objectivo de valorizar os actos e sacrifícios extraordinários consentidos na luta pela unidade nacional e libertação económica, social e cultural contra o colonialismo e o racismo, pela paz, amizade, solidariedade e progresso da humanidade.

No mesmo acto, o Estado moçambicano reconheceu, com a “Ordem Samora Machel do 1.º Grau” um outro grupo de antigos combatentes, entre os quais o antigo Chefe do Estado, Joaquim Chissano; o veterano da luta, Marcelino dos Santos, entre outros.

Bem-haja o povo moçambicano por saber reconhecer o trabalho destes cidadãos que, com coragem e sacrifício, souberam elevar bem alto o nome de Moçambique, contribuindo para a libertação do seu território e do seu povo do jugo colonial português.  

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