sábado, 1 de junho de 2013

Portugal: É QUASE IMPOSSÍVEL O GOVERNO COMPLETAR O MANDATO

 

Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião
 
Pós-autárquicas ou fim da tutela da troika são momentos possíveis para antecipar legislativas
 
Uma coisa parece certa: é altamente improvável que o governo chegue ao fim do mandato. Não é apenas a soma dos indicadores económicos, financeiros e sociais que aponta para isso. É também, e talvez sobretudo, a acumulação tensa do ambiente político com vaias e descrença que conduz à alta probabilidade de a crise se consumar e cair em cima de Cavaco Silva.

Quando alguém com a serenidade de Alfredo José de Sousa, o provedor de Justiça, já recomenda, como fez em entrevista à Antena 1, que se convoquem eleições legislativas e autárquicas simultaneamente, é porque algo vai mesmo muito mal.
 
O provedor sabe perfeitamente que o PR nunca fará essa convocatória comum, pelo que a ideia avançada serve mais para fotografar a política nacional do que para propor uma solução tão drástica e rápida.

Os calendários para a queda são dois. Em primeiro lugar o pós-autárquicas. Se o PSD perder câmaras fundamentais, como o Porto, Sintra ou Gaia, é óbvio que Passos Coelho fica na linha de tiro político, por muito que diga que não haverá pântano e que quer que se lixem as eleições. A segunda data possível é Junho de 2014, quando o governo já não puder escudar-se em supostos compromissos com a troika para executar a sua própria política de acumulação de austeridade.
 
Ao contrário do que foi lido pela generalidade dos analistas e dos media, no seu discurso de 25 de Abril Cavaco Silva não pôs só a mão por baixo do governo, também lhe teceu críticas substanciais. Rejeitou eleições antecipadas de forma veemente, mas é natural que o tenha feito para evitar juntar uma crise política imediata à enorme degradação económica e financeira.

É evidente que pode sempre dar-se o caso de se verificar uma ruptura da coligação, mas é mais provável que Paulo Portas continue a fazer uma gestão de “pé dentro pé fora” em nome da sobrevivência política, pelo menos até uma das datas citadas.
 
Apesar dos dados dramáticos de conjuntura do desemprego (com 17,8% recenseados, o que leva para perto de 23% reais) e do défice, é pouco provável que o governo colapse subitamente, o que pode levar à manutenção de um rumo destruidoramente recessivo.
 
Do ponto de vista da política pura, o governo não apresenta, entretanto, quaisquer melhoras. Não há, por exemplo, nota de grande desempenho do ministro Poiares Maduro e do secretário de Estado Pedro Lomba. Pelo contrário. Ainda esta semana se deu o caso de o secretário de Estado da Energia, metendo foice em seara alheia, ter proposto de forma surpreendente e surrealista que a CAVE (contribuição para o audiovisual) deixasse de ser cobrada pelas eléctricas para passar a sê-lo por não se sabe quem. E assim rebentava-se com a tesouraria da RTP num ápice. Aparentemente, Poiares Maduro nem sequer foi prevenido e teve de ir a correr negar a hipótese. Quanto a Lomba, foi por engano a um jantar de apoio ao candidato socialista Miranda Calha à junta de Belém, do qual saiu pela direita baixa, pois supostamente apoiaria o histórico Ribeiro Rosa, da coligação PSD/CDS. Para os dois novéis mandantes da coordenação política, convenhamos que há algum défice de atenção.
 

Portugal: AI QUE SEMANAS DIFÍCEIS AS DO SENHOR MINISTRO

 

 
Vítor Gaspar pediu "simpatia pelas difíceis semanas" que tem vivido "como adepto do Benfica".
 
Pena que não tenha simpatia pelo povo do seu país pelos difíceis anos que têm vivido e que continue a roubá-lo e a espolia-lo dos seus direitos e dignidade. Pena que não tenha simpatia por aqueles que caíram no desemprego, na fome e na miséria devido às suas ideias e politicas de austeridade.
 
E é este sacana que vem pedir simpatia porque tem tido umas semanas difíceis porque o seu clube de futebol perdeu. Vá á merda Sr. Ministro. Vá morrer longe que gente como você só merece o nosso desprezo e vómito. Bandalho.
 

UE – Itália: UM PASSO CONTRA A AUSTERIDADE

 

Mino Carta – Carta Capital
 
A Itália volta à primeira divisão da UE. Com as devidas reservas, está claro. Mesmo assim...
 
As autoridades da UE acabam de readmitir a Itália na primeira divisão das nações europeias. Motivo: o rebaixado retorna porque conseguiu reduzir de forma aceitável o déficit público que até hoje justificava a penalização. Advertem quanto a recaídas, solicitam reformas urgentes tanto políticas quanto econômicas, mas parecem inclinar-se a contestar, ao menos em parte, a linha da austeridade em voga desde a eclosão da crise financeira mundial. Talvez estejam dispostos a irritar a senhora Merkel.
 
Se assim for, poderia ser este o primeiro passo concreto de uma mudança significativa, em detrimento das políticas neoliberais que desencadearam a crise para favorecer as oligarquias financeiras, hoje habilitadas a impor ao mundo as suas vontades e aprofundar o desequilíbrio entre ricos e pobres. Tudo muito estranho, muito esquisito: a evidência é solar, mas os senhores da Terra fingem-se de cegos.
 
Às vezes me entrego ao seguinte, prepotente pensamento: as máfias são, a seu modo, mais honestas, ou menos hipócritas, do que, imaginem, os derradeiros traidores de Adam Smith, aquele pensador inglês capaz de codificar o capitalismo. Traíram ao inverter o rumo e aplicar a fórmula virtual pela qual, em lugar de ganhar dinheiro pelos caminhos usuais da produção e do comércio, fabrica-se o próprio. Florins, dracmas, sestércios, libras, coroas, o que for. A moeda corrente.
 
A Itália é excelente exemplo das vítimas da tragédia gerada pelo neoliberalismo, a contar com a contribuição decisiva de duas damas de ferro, a primeira inglesa, a segunda alemã. Não é que os machos não se tenham adequado prontamente ao jogo. Inclusive no Brasil, onde o cavaleiro do neoliberalismo atende pelo nome de Fernando Henrique Cardoso, aquele que, sem ser de ferro, caía prazerosamente nos braços de Bill Clinton.
 
A Itália padeceu algo diferente, no entanto, igualmente daninho: Silvio Berlusconi. Equidistante, ele caía nos braços de Bush e de Putin, enquanto, diretamente do palácio do governo, cuidava dos seus exclusivos interesses, facilitada a tarefa pelas brigas intestinas que anos adentro dilaceram a esquerda italiana, outrora determinante na transformação do país em democracia autêntica e potência econômica.
 
Desta complexa e dolorosa situação de marca berlusconiana, a Itália saiu brutalmente empobrecida, entregue à desesperança popular e à lassidão moral das chamadas lideranças políticas. Da intervenção, eu diria paternal, do presidente da República, Giorgio Napolitano, nasceu uma peculiar aliança entre esquerda e direita reacionária para formar um governo de emergência. Consequência de uma rodada eleitoral da qual surgiram três forças distintas e de poderio idêntico. Uma delas, infensa a qualquer entendimento, o Movimento 5Stelle, social-populista, comandado pelo cômico Beppe Grillo.
 
Três meses depois do pleito político, enquanto o governo define propósitos em meio a pendengas internas, realizam-se eleições administrativas em 563 municípios. Encolhe o comparecimento às urnas, prova válida de desânimo. Os resultados, contudo, revelam uma espécie de arrependimento em relação às escolhas de três meses antes. Grillo fracassa, a direita recua sensivelmente, a esquerda avança (leiam a coluna de Wálter Fanganiello). O premier Letta, do Partido Democrático, anuncia reformas com o aparente otimismo de prever no mínimo 18 meses de vida para seu governo, embora seja difícil o acordo entre os insólitos parceiros em torno, em primeiro lugar, de uma nova eleitoral e da reforma da Justiça. Certo é que esta Itália em grande dificuldade, em certos momentos à beira de uma convulsão social, tornou-se um laboratório político cuja atividade vale a pena observar com atenção.
 
Leia também em Carta Capital
 

Suécia: COMO A MINHA CIDADE FOI AO FUNDO

 

Politiken, Copenhaga – Presseurop – imagem mibrant2000
 
Filho de uma sueca e de um dinamarquês, o jornalista Viggo Cavling cresceu num dos bairros afetados pela recente onda de violência. Conta como os edifícios que foram o sonho de uma sociedade progressista se tornaram guetos sem esperança.
 
 
Os distúrbios que eclodiram em Husby, subúrbio [no noroeste] de Estocolmo, propagaram-se às localidades vizinhas de Rinkeby e Tensta, a oeste da capital, e a Hagsatra e Fruängen, para sul. Todos estes aglomerados populacionais foram construídos no âmbito do “Miljonprogrammet”, um programa sueco que visava construir um milhão de casas, entre 1965 e 1975. Muitas dessas cidades receberam nomes poéticos como Lindängen [Prado das Tílias], em Malmo, e Hammarkullen [Colina do Martelo], em Gotemburgo.
 
Quando conheceu o meu pai, na década de 1960, a minha mãe vivia em Fruängen, num edifício baixo que acabava de ser construído e foi a primeira locatária do rés do chão. Esse pequeno estúdio permitiu-lhe pôr fim a dez anos de vida nómada, em que andou de um subaluguer para outro. O meu pai vivia em Copenhaga. O jovem casal optou por um compromisso e instalou-se em Malmo, no bairro de Rosengard [Jardim de Rosas] – o nome mais bonito alguma vez dado a um bairro.
 
Depois do meu nascimento, em novembro de 1969, a família mudou-se para um edifício no Herrgarden, na Rua Bennetsvag. Uma história muitas vezes contada na minha família é a da primeira viagem de autocarro da minha mãe para Rosengard, cheia de sonhos e esperanças. Hoje, o Herrgarden de Rosengard está classificado pela UE entre os aglomerados mais pobres da Europa.
 
Primeiro-ministro não tinha motorista
 
Quando a minha irmã nasceu, o meu pai conseguiu um apartamento de três assoalhadas no quinto e último andar de um edifício novo em Widellsväg, depois de ter almoçado com o funcionário da cooperativa de habitação HSB. Da varanda, via-se o Oresund [o estreito que separa a Dinamarca e a Suécia], e até se lobrigava o seu antigo apartamento no edifício Domus Portus, no bairro de Osterbro, em Copenhaga.
 
Ambos os meus pais pertencem a famílias abastadas. O meu avô paterno era editor do Politiken [jornal dinamarquês] e o meu avô materno era juiz distrital em Ängelholm [no Sul da Suécia].
 
Apesar de não ser mencionado explicitamente em casa, os meus pais viveram intensamente o grande ímpeto de nivelamento económico e social que caracterizou a Suécia do pós-guerra. O primeiro-ministro Olaf Palme também aderiu ao movimento: com a esposa, Lisbet, oriunda da nobreza sueca; deixou o bairro tranquilo da sua infância, Ostermalm [no centro de Estocolmo], para se instalar perto de Husby, no novo bairro de Vällingby, com as suas fileiras de casas idênticas. Para se deslocar para o seu gabinete de primeiro-ministro, não usava carro com motorista, antes conduzia o seu pequeno Saab.
 
Este nivelamento da Suécia atingiu o seu apogeu em 1973. Nesse verão, o assaltante de um banco, em Norrmalmstorg [uma praça no centro de Estocolmo], saltou para as primeiras páginas dos jornais. Fez reféns os funcionários do banco e exigiu que lhe entregassem o mais famoso bandido sueco da época. Clark Olofsson foi então escoltado pela polícia, da sua cela até ao banco. O primeiro-ministro Olaf Palme interrompeu imediatamente a sua campanha eleitoral e regressou à sede do Governo, Rosenbad, para participar nas negociações.
 
“Síndrome de Estocolmo”
 
Imbuídos do espírito da época, os reféns criaram relações de simpatia com os malfeitores [a expressão “síndrome de Estocolmo”, utilizada em psiquiatria, tem origem neste acontecimento], muito menos abonados do que eles. E a caixa do banco telefonou diretamente para Olaf Palme, para lhe apresentar as reivindicações do sequestrador: uma quantia em dinheiro, um carro e a liberdade.
 
Quando a polícia libertou os reféns, ao fim de alguns dias, com o drama a ser transmitido em direto pela televisão sueca, Palme foi ao local, à noite, para realizar uma conferência de imprensa improvisada. Alguns meses mais tarde, no outono de 1973, o resultado da eleição confirmava esse nivelamento: os blocos políticos obtinham o mesmo número de lugares no parlamento. Palme continuou na chefia do Governo, procurando apoios do outro lado do centro. Em caso de desacordo entre os políticos, o problema era resolvido por sorteio. Alguma vez uma nação esteve tão perto do consenso?
 
Porém, o nivelamento cessou, na própria década de 1970. O crescimento do produto interno bruto dos anos 1950 e 1960 terminou, mas não a subida dos salários, causando uma enorme inflação. Quando a direita sucedeu a Palme nas eleições seguintes, ele declarou que grande parte do trabalho já estava feita. A verdade é que a direita se meteu num verdadeiro atoleiro. Os social democratas regressaram então ao poder, em 1982. Uma comissão secreta de estratégia eleitoral, liderada pelo futuro ministro das Finanças, Kjell-Olof Feldt, resolveu abandonar a meta do pleno emprego, em prol de uma inflação mais baixa. O movimento de nivelamento atingira o seu auge. Segundo as últimas estatísticas da OCDE, a Suécia é hoje o país da Europa Ocidental onde as disparidades de rendimento mais cresceram.
 
As ruas da infância
 
A família Cavling gostava de Rosengard. O bairro é composto, a sul, por habitações de arrendamento e, a norte, onde vivíamos, por cooperativas de habitação. As duas zonas estão separadas por uma estrada de quatro faixas, a Amiralsgatan. Os dois enclaves eram habitados sobretudo por operários com bom nível de vida, funcionários públicos e trabalhadores independentes, como o meu pai. Manteve o apartamento que lhe serviu de escritório até à morte, em 1983. A minha mãe bem se esforçou por vendê-lo, mas não encontrou comprador. Tivemos, portanto, de o entregar à cooperativa de habitação.
 
A nossa nova habitação faz parte de uma fila de pavilhões. Como em Rosengard, estamos num bairro em que carros e pessoas estão bem separados. Entre os nossos vizinhos, está a família Billström, cujo filho, Tobias, ruivo e obstinado, entrou para a Juventude Moderada [secção de juventude do Partido Moderado, conservador], sendo os seus pais sociais-democratas.
 
Muito ativos na década de 1980, a Juventude Moderada incitava os seus membros a participar nos Conselhos de Alunos dos estabelecimentos de ensino. Tobias tornou-se, pois, o representante dos alunos do seu liceu, que estava bastante degradado. Em vez de ir pedir financiamento à Câmara, Tobias decidiu enviar uma carta ao Papa, apelando à sua generosidade. A resposta positiva da Igreja Católica deu origem a um longo artigo no jornal regional Sydsvenskan. Hoje, Tobias é o ministro sueco para as Migrações e Políticas de Asilo. Nas ruas da nossa infância, 10% dos eleitores votaram a favor do partido xenófobo dos Democratas da Suécia, na última eleição [o partido obteve 5,7% dos votos nas eleições nacionais em 2010, e entrou para o parlamento pela primeira vez]. Mas na nossa juventude, a origem das pessoas não importava.
 
Não há como fugir de Husby
 
Nos últimos dias, os jornais suecos transbordavam de artigos sobre Husby e os outros subúrbios da época. A imagem que emerge é múltipla. Por um lado, instituições como as clínicas de parteiras, os correios e os bancos foram recentemente fechados. Por outro, um programa social enfiou no bairro milhões de coroas suecas. A escola de Husby tem mais recursos do que muitas outras na região de Estocolmo. No entanto, apenas 64% dos alunos terminam o curso. Cerca de 65% dos 12 200 habitantes de Husby nasceram no estrangeiro; 38% dos jovens dos 20 aos 25 anos não estudam nem têm trabalho. Não há muito tempo, retiraram-lhes o cartão que lhes dava direito a descontos nos transportes públicos. Quando se bate no fundo, em Husby, não há nada a fazer nem forma de fugir dali.
 
Vejo uma ligação direta entre estes jovens e os presos que estão em greve de fome em Guantánamo. Não têm nada a perder. A sua única arma é o corpo. O Governo conservador diz que todo o trabalho merece um salário, mas, ao mesmo tempo, com a inflação em queda, a nossa sociedade é muito rentável.
 
Um trabalhador da fábrica de camiões Scania produz hoje quatro vezes mais do que há vinte anos. A maior parte dos empregos não qualificados foi eliminada através da racionalização, e os poucos que subsistem são objeto de uma disputa feroz. Chega a haver centenas de candidatos para um lugar de funcionário da limpeza de escritórios à noite. O salário é miserável e as condições de trabalho são ainda piores.
 
Praticamente 99% dos atiradores de pedras são rapazes e jovens do sexo masculino. Não lutam apenas contra a polícia e os bombeiros. Lutam também com a sua própria imagem. Na escola sueca, os rapazes têm piores resultados do que as raparigas em todas as disciplinas. Há alguns anos, os meninos eram mais fortes nas disciplinas técnicas; mas, quando passou a ser obrigatório os estudantes comunicarem o que faziam, até nisso as raparigas os superaram.
 
O estigma dos que ficam
 
A Suécia está hoje inundada de raparigas brilhantes, “novas suecas de primeira geração” [filhas da primeira geração de imigrantes]. A mais famosa é Gina Dirawi [nascida na Suécia, em 1990, de pais palestinianos do Líbano]. Iniciou a sua carreira a realizar curtas-metragens divertidas, que foram sendo colocadas no YouTube. Em poucos anos, ei-la a apresentar o concurso [nacional] da Eurovisão. E há muitas como ela.
 
Só há um exemplo do sexo masculino que alcançou o topo vindo de bastante baixo, o futebolista Zlatan Ibrahimovic, que nasceu e cresceu em Rosengård, em Malmo. Na semana passada, expôs as suas ambições como membro da equipa nacional sueca: quer ser o melhor jogador de todos os tempos e marcar o máximo de golos. Ainda lhe faltam onze. Quando se vai de bicicleta do centro de Malmo para Rosengard, passa-se por dentro de um túnel. À entrada, está escrito: “Pode-se sair em rapaz de Rosengard, mas não se sai de Rosengard um rapaz. Zlatan”
 
Para alguns, os subúrbios tornam-se como uma medalha que se usa a vida inteira. Mas isso só se aplica aos que saem. Para os que ficam, é um estigma de que se torna impossível livrar-se. Independentemente do número de pedras que se atirem ou de quantos carros se incendeiem, esse estigma será cada vez mais flagrante.
 
Na nova Suécia, muitas pessoas beneficiam de melhores condições de vida. Como eu. Moro no centro, tenho um salário mais que decente e posso passear por todo o mundo. Estou constantemente a sair do centro. Ao mesmo tempo, vivo aterrorizado com medo de falhar e de ser atirado para baixo. Sei que, se isso me acontecer, ninguém me pode salvar. Eu e os meus filhos ficaríamos tão perdidos como aqueles que andam a atirar pedras.
 
Relacionados
 

Turquia. Polícia retira-se da praça Taksim, milhares ocupam-na em seguida

 

Jornal i - Lusa
 
Desde sexta-feira que aquela praça estava ocupada pelas forças de segurança que impediam os protestos e dispersavam qualquer concentração no local
 
A polícia turca retirou-se hoje à tarde da praça Taksim, no centro de Istambul, que foi imediatamente ocupada por milhares de pessoas, no segundo dia de violentas manifestações contra o governo, constataram jornalistas da agência France Presse.
 
Desde sexta-feira que aquela praça estava ocupada pelas forças de segurança que impediam os protestos e dispersavam qualquer concentração no local.
 
A retirada acontece depois do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan ter declarado que a polícia se iria manter no local para manter a ordem.
 
“A polícia estava lá ontem, está lá hoje e estará ainda amanhã porque a praça Taksim não pode ser um local onde os extremistas fazem o que querem”, disse Recep Tayyip Erdogan, durante um discurso em Istambul, no qual pediu aos manifestantes para pararem “imediatamente” com o protesto.
 
Milhares de pessoas ocuparam durante vários dias o Parque Gezi, perto da praça Taksim e um dos ‘pulmões’ de Istambul, em protesto contra um projeto urbanístico que prevê a construção de um centro comercial, até que na sexta-feira a polícia recorreu ao uso de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, que responderam com pedras.
 
A repressão da manifestação pela força antimotim da polícia turca causou pelo menos 20 feridos, 12 em estado grave.
 
O presidente turco, Abdullah Gul, apelou hoje ao “bom senso” e à “calma”, considerando que os protestos atingiram um “nível preocupante”, exortando a polícia a “agir com o sentido da proporção”.
 
Erdogan, por seu turno, admitiu que “existiram alguns erros, extremismo na resposta da polícia” e o ministro do Interior informou, num comunicado, que os polícias que ajam de “forma desproporcionada” serão processados.
 
Leia também em Jornal i
 
Foto: EPA/TOLGA BOZOGLU
 

MILHARES CONTRA A TROIKA NAS PRINCIPAIS CIDADES EUROPEIAS




Houve incidentes em Frankfurt entre a polícia e os manifestantes. Na Grécia, quase ninguém saiu à rua e nem a polícia apareceu.

As manifestações contra a “troika” e a austeridade juntaram na tarde deste sábado vários milhares de pessoas em 80 cidades europeias. Só na cidade alemã de Frankfurt, onde fica a sede do Banco Central Europeu (BCE), terão sido 7000 os manifestantes, segundo a polícia.

A organização, o colectivo anticapitalista Blockupy, esperava 20 mil participantes mas ainda não divulgou números da adesão. Segundo a agência France Press, o protesto foi marcado por alguns incidentes, com a polícia a usar gás lacrimogéneo para exigir a um grupo de manifestantes que desfilassem de cara destapada.

“Queremos dizer claramente que a política do BCE e da ‘troika’, sujeitos à influência do governo federal, não é a solução”, disse à AFP o porta-voz do Blockupy, Roland Suess, que reúne sindicatos e organizações de esquerda.

Em Espanha, várias centenas de pessoas concentraram-se em frente à sede do Banco de Espanha, em Valência, e gritaram contra a política de cortes imposta pela "troika", escreve o El País. Em Madrid o protesto ainda decorria às 21h (20h em Lisboa), animado por centenas de pessoas que tocando e cantando, em direcção à sede da represenatação europeia na capital espanhola. Noutras cidades como Bilbao, Saragoça e Vigo as ruas encheram-se de manifestantes que empunhavam cartazes e faixas com o lema desta manifestação global: “Povos unidos contra a troika!”

Em Bruxelas, escreve a agência EFE, um grupo de jovens do movimento 15-M estiveram concentrados no bairro europeu para protestar.

Também em Toulouse, no sul de França, e em Paris se ouviram gritos contra o BCE, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional. Centenas de manifestantes, franceses e estrangeiros, juntaram-se ao início da tarde na Praça do Trocadero, em frente à Torre Eiffel, para mostrar o seu descontentamento.

“O interesse desta manifestação é ela ser europeia e é a compreensão dos cidadãos de que os problemas que estão a atravessar a Grécia, Portugal, Irlanda, Chipre, os países que estão sob o império da ‘troika’, mas também os problemas que estão a atravessar países como a França”, disse à Lusa a economista Cristina Semblano, representante do Bloco de Esquerda em França.

Por volta das 15h15 locais (14h15 em Lisboa) ouviu-se em Paris a célebre “Grândola, Vila Morena”, pela voz de João Rufino. Os portugueses presentes aproximaram-se e cantaram juntos a senha da Revolução dos Cravos. Durante a tarde ouviram-se gritos de revolta em várias línguas, empunharam-se cartazes onde se podia ler “Povos unidos contra a ‘troika’” e “Somos expulsos de Portugal”.

Em Atenas, na Grécia, a convocatória não teve grande êxito, segundo um correspondente do El País. Apareceu um pequeno grupo de pessoas na praça Syntagma, nem sequer se viu a polícia. "É porque esta é uma iniciativa independente e também porque as pessoas estão fartas de manifestações", disse um dos participantes.

Foto: Em Frankfurt houve confrontos entre a polícia e os manifestantes KAI PFAFFENBACH/REUTERS

MILHARES DE PESSOAS MANIFESTAM-SE EM PORTUGAL CONTRA O GOVERNO E A TROIKA

 

Jornal i - Lusa
 
O protesto realiza-se em várias cidades europeias contra a ‘troika’, mas os portugueses exigem a demissão do Governo liderado por Pedro Passos Coelho
 
Centenas de manifestantes exigem em Lisboa a queda do governo
 
Centenas de pessoas estavam, pelas 16:30, concentradas junto à rotunda de Entrecampos, em Lisboa, para pedir a demissão do Governo num protesto comum a várias cidades europeias.
 
A manifestação, que vai fazer o percurso entre Entrecampos e a Alameda com passagem pelo escritório do Fundo Monetário Internacional (FMI), é promovida em Portugal pelo movimento “Que se lixe a Troika".
 
O protesto realiza-se em várias cidades europeias contra a ‘troika’, mas os portugueses exigem a demissão do Governo liderado por Pedro Passos Coelho.
 
“Queremos a queda do Governo. Não há mais condições para este Governo continuar, eles estão isolados”, disse à Lusa Myriam Zaluar, uma das signatárias do movimento “Que se lixe a Troika".
 
A ativista adiantou que o protesto também tem importância a nível internacional, sendo uma “luta de todas os povos da Europa”.
 
“Estamos juntos numa luta pelo futuro da Europa e até da humanidade”, referiu.
 
Myriam Zaluar afirmou ainda que nesta manifestação é esperada “menos gente” do que nos anteriores protestos, como o de 15 de setembro de 2012 e o de 02 de março deste ano, também organizados por este movimento.
 
A ativista justificou a menor adesão com o número de protestos que se têm realizado nos últimos tempos, mas sublinhou que “cada protesto é um protesto”.
 
“Não devemos medir os protestos pelo número de pessoas mas, sim, pela frequência e multiplicidade”, considerou.
 
Presente no protesto, o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, disse à Lusa que esta é uma oportunidade para as pessoas saírem à rua a manifestarem o seu descontentamento.
 
“Todas as iniciativas são boas, todas as iniciativas públicas são importantes, não importa a dimensão, o que importa é sair à rua porque em casa não resolvemos nada e na rua podemos resolver", afirmou o responsável pela central sindical.
 
"É possível pôr fim a esta política e a este desastre", concluiu ainda Arménio Carlos, que na sexta-feira anunciou a marcação de uma greve geral para 27 de junho contra as medidas de austeridade, por eleições antecipadas e por novas políticas económicas e sociais.
 
Mais de mil pessoas gritam contra a troika e o governo no Porto
 
Mais de mil pessoas participam hoje no Porto na manifestação contra a ‘troika’ convocada para várias cidades do país gritando pela demissão do Governo.
 
Os manifestantes concentraram-se a partir das 15:30 na Cordoaria da cidade e desceram depois os Clérigos, dirigindo-se para os Aliados, ao som de palavras de ordem como: “Passos, escuta, o povo está em luta”, “FMI fora daqui” ou “Sai do passeio e vem para o nosso meio”.
 
Helena Morais, uma advogada de 26 anos, disse à Lusa estar na manifestação não por ela, mas “pelas pessoas que estão na miséria”.
 
“Estão a tirar tudo aos pobres e isso revolta-me. Conheço pessoas que estão a sofrer muito, é importante estarmos aqui para derrubar o Governo e mandar embora a ‘troika’”, afirmou.
 
Augusta da Conceição, de 77 anos e empunhando um cartaz onde se lê “’Troika, go home” (‘Troika’, vai para casa), disse que aquilo que a moveu para ir à manifestação foi ver que “há pessoas que estão em grandes dificuldades”. Acrescentou que se sentiu na obrigação de “seguir os outros nesta luta contra a troika”.
 
Os organizadores dizem que estão a participar na manifestação 2.500 a 3.000 pessoas, enquanto os agentes policiais no local referem mil a 1.500.
 
Dezenas de cidades portuguesas aderiram ao protesto europeu do movimento "Povos Unidos contra a 'troika'" convocado para hoje.
 
Realizada em 102 cidades europeias de 18 países, a manifestação visa contestar as políticas que se têm desenvolvido nos países onde a ‘troika’ do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional tem intervenção.
 
Veja também em Jornal i
 

Portugal - Silva Pereira. "Não devemos esperar nada do Presidente da República"

 

Pedro Rainho – Jornal i
 
O ex-ministro da Presidência de José Sócrates diz que Cavaco Silva "não tem estado à altura do juramento que fez da Constituição" e "daquilo que se espera das funções presidenciais"
 
O ex-ministro Pedro Silva Pereira participou no encontro promovido por Mário Soares com o lema "Libertar Portugal da Austeridade" e defende que "a prioridade número um do país" deve ser demitir o governo liderado por Passos Coelho. Numa entrevista ao i no final da iniciativa que reuniu o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda na Aula Magna, o ex- -ministro e braço-direito de José Sócrates faz duras críticas ao governo, mas também ao Presidente da República, que "patrocinou esta obsessão governativa desde o início" e "antes mesmo de ela existir". Já em relação a António José Seguro, Pedro Silva Pereira, que desencadeou o processo de antecipação do congresso do PS, diz que o actual secretário-geral tem hoje "uma liderança consolidada".
 
Foi possível reunir na mesma sala o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda. Como encara a possibilidade de um governo alargado de esquerda?
 
Creio que esta sessão serviu sobretudo para sublinhar uma convergência a propósito da necessidade de parar a política de austeridade. E esse é o começo de tudo, porque realmente o país chegou a uma situação em que a prioridade número um é realmente demitir o governo. O governo está a fazer mal ao país. Quanto a soluções governativas, não foi uma sessão de debate de soluções. E creio que nesse domínio há um caminho a fazer. Julgo que há vontade de convergências, mas uma convergência depende sempre de um compromisso. E esse compromisso tem de ser exteriorizado por uma disponibilidade dos partidos políticos.
 
Há espaço para ir além dos debates públicos e conseguir uma coligação, que até hoje nunca foi possível entre os partidos de esquerda?
 
O que creio é que esta sessão sublinhou uma dinâmica de oposição ao governo. Construir uma alternativa é muito mais do que isto. Construir uma alternativa e um consenso governativo é mais do que isto. É preciso um compromisso, uma agenda governativa. E esse não era o objectivo deste encontro, mas creio que se a esquerda compreender esta urgência percebe também que tem de oferecer ao país uma alternativa e não apenas protesto.
 
O diálogo à esquerda tem sempre sido difícil de manter. O facto de ser difícil conseguir consensos entre o PS e o governo está a contribuir para a aproximação entre os partidos de esquerda que estão na Assembleia da República"?
 
O governo tem fomentado todas as oposições. As oposições à esquerda e as oposições à direita dentro dos partidos da maioria, dentro do próprio governo. Portanto, o isolamento do governo, neste momento, refere-se ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças - ao núcleo duro da governação. E o próprio governo é o primeiro responsável pelas dinâmicas de convergência das oposições.
 
Falou na necessidade de demissão deste governo. O Presidente da República tem servido de trave de sustentação da coligação?
 
O Presidente da República patrocinou esta obsessão governativa desde o início. Antes mesmo de ela existir. Foi ele que promoveu a crise política que deu lugar e oportunidade a esta maioria de direita. Tem protegido o governo usando de dois pesos e duas medidas a propósito daquilo que fez com o governo anterior. E portanto acho que está tudo dito. Julgo que não devemos esperar nada do Presidente da República.
 
Temos um Presidente da República e um governo que já não representam os portugueses. É isso?
 
Creio que o Presidente da República não tem estado à altura do juramento que fez da Constituição e daquilo que se espera do exercício das funções presidenciais. Com certeza que o governo, desde o início, faltou ao seu compromisso eleitoral para com os portugueses. Não se tratou apenas de o governo executar esta ou aquela medida que não estava no seu programa eleitoral. O governo o que está é a executar uma agenda, uma estratégia governativa totalmente oposta àquilo que prometeu. E isso faz dele um governo sem legitimidade, sem mandato.
 
A agenda a que alguns chamam neoliberal não é mero reflexo da necessidade de ajustar gastos à capacidade produtiva do país?
 
Não, esta agenda é bastante mais do que isso. O próprio ministro das Finanças explicou que a austeridade que aplicou nos dois primeiros anos em Portugal foi o dobro da austeridade que estava prevista no Memorando inicial. Isto significa que não se trata apenas de cumprir aquilo que é necessário para o ajustamento. Trata-se de ir além da troika para cumprir uma agenda ideológica neoliberal contra o Estado. É isso que naturalmente não pode ter nem o assentimento do Partido Socialista, nem qualquer concordância do país, e está a suscitar estes movimentos de oposição alargados.
 
Fala-se na necessidade de apresentar uma alternativa. António José Seguro tem sabido materializar essa alternativa em nome do PS?
 
O António José Seguro tem hoje uma liderança consolidada. Viu-se recentemente no congresso do PS. Afirma-se nas sondagens de uma forma que é cada vez mais clara. E portanto está a fazer o seu caminho de liderança de uma oposição e de uma alternativa política.
 

Moçambique - Saúde: 13º DIA DE GREVE COM IMPACTO DIFERENTE NAS PROVÍNCIAS




A porta-voz do Ministério da Saúde, Francelina Romão, disse ontem em Maputo, durante uma conferência de imprensa, que ainda não estão a ser dados grandes passos no diálogo com a Associação Médica de Moçambique (AMM), quando entramos hoje no 13º dia da greve convocada por esta classe de profissionais de saúde, reivindicando melhores salários.

A mesma fonte indicou que isso deve ao facto da direcção da AMM continuar a exigir que a equipa do MISAU seja composta por quadros superiores entretanto, segundo ela, não identificados.

A mesma acusação foi recentemente apresentada pela AMM ao afirmar que não concordava com a equipa do MISAU porque é habitualmente renovada. “Cada dia é substituído um dos componentes do grupo e isso perturba o diálogo”, refere a AMM. 

Entretanto, os enfermeiros e pessoal de apoio que continuavam a trabalhar no Hospital Geral José Macamo, na cidade de Maputo, aliaram-se à greve dos médicos.

Esteve por detrás desta paralisação um suposto pagamento semanal de cinco mil meticais aos profissionais de saúde que por inerência de funções foram afectos à Direcção de Saúde da Cidade bem como ao Ministério de Saúde (MISAU), mas que, por causa da greve, deixaram os seus postos e foram prestar serviço nas diferentes unidades sanitárias.

A saída deste grupo de trabalhadores fez com que alguns serviços do “José Macamo” fossem prestados apenas por pessoal ligado à chefia com assistência dos estudantes dos Institutos de Saúde e dos voluntários da Cruz Vermelha de Moçambique.

Por seu turno, pronunciando-se sobre a paralisação registada ontem no “José Macamo, a porta-voz do MISAU, Francelina Romão, disse em conferência de imprensa, que não constituía verdade a alegação de que os profissionais destacados para as unidades sanitárias da capital estariam a receber algum pagamento diário ou semanal.

“Não é verdade que há gente que esteja a receber um valor extra por estar a trabalhar nestes dias. É um boato que está a ser espalhado pelas pessoas que pretendem paralisar ou prejudicar o sistema nacional de saúde”, afirmou Romão.

GREVE NÃO SE FAZ SENTIR EM CABO DELGADO 

Pelo menos até ontem, décimo segundo dia do inicio da greve geral decretada pela Associação Médica de Moçambique (AMM), não tinha se registado ainda nenhuma paralisação das actividades em Cabo Delgado em todas 17 unidades sanitárias existentes nesta parcela do país, segundo fez saber a respectiva directora provincial de saúde, Sãozinha Agostinho, que acrescentou que médicos, técnicos, enfermeiros e outro pessoal de apoio continuam a trabalhar normalmente.

A directora provincial de saúde de Cabo Delgado disse que todas unidades sanitárias da província estão abertas ao atendimento público sem restrições e os serviços de consultas externas, enfermarias, maternidades e outros continuam em funcionamento nos 17 distritos existentes e não há casos de pacientes que regressam sem ser atendidos pelos médicos e técnicos da saúde. “Por isso, não temos queixas de utentes que não são satisfeitos”-referiu Sãozinha Agostinho.

Por seu lado, o director distrital de saúde de Montepuez, a segunda maior cidade de Cabo Delgado, José Carimo, contactado pelo “Notícias” via telefone a partir daquele ponto, confirmou o funcionamento pleno de todas unidades sanitárias naquele distrito, incluindo as das zonas mais recônditas. “Aqui não há nenhuma greve, isso é fruto de uma sensibilização dos médicos, técnicos e enfermeiros numa acção liderada pelo governo distrital que disse que toda a insatisfação relativa aos salários e outros direitos, os pacientes não podem ser castigados porque não têm a culpa por isso, todos estamos a trabalhar plenamente”-disse José Carimo.

COMOANE SAÚDA PESSOAL DA SAÚDE

Entretanto, a Governadora de Manica, Ana Comoane, saudou os médicos e funcionários da Saúde que apesar a greve que vem sendo observada pelos seus colegas no pais, não aderiram à iniciativa e decidiram redobrar esforços para cobrir a lacuna deixada por aqueles, que reivindicam salários dignos e melhores condições de vida.

O gesto da governante foi feito no decurso de um encontro com os funcionários da Saúde afectos ao Centro de Saúde de Chimoio, integrada no âmbito da visita que Ana Comoane efectuou a cidade de Chimoio, destinada a verificação do grau de cumprimento do manifesto e das recomendações da última visita a urbe.

Na província de Manica, com excepção de dois médicos, sendo um do Hospital Provincial de Chimoio e um do Centro Saúde de Chitobe, no distrito de Machaze, todos os restantes 47 médicos estão de serviço e não há registo da aderência dos restantes funcionários da Saúde.

Enquanto isso, em Gaza a situação de paralisação do trabalho por parte de dois médicos e igual número de enfermeiros no Hospital Rural de Chókwè desde o primeiro dia da greve ainda continua, segundo informações fornecidas pelo director distrital de saúde, Luís Nhaia.

Dados em poder do nosso jornal indicam ainda de que uma maneira geral a situação do sector de saúde em Gaza está sob controlo.

Enquanto isso, a maior parte dos médicos e profissionais de saúde dos 18 distritos, dos 21 existentes, da província de Nampula que até a passada quarta-feira se mantinham em suas casas devido à greve convocada pelas respectivas associações, regressou na passada quinta-feira aos seus postos de trabalho, segundo foi dado a conhecer pelo director provincial de saúde, Armindo Tonela.

Segundo Tonela, a nível dos hospitais e centros de saúde rurais, apenas em Ribáuè (médico distrital e respectivo médico-chefe), Murrupula (o médico do distrito) e Angoche (uma médica dentista) continuavam até quinta-feira última, ausentes dos seus locais de trabalho.

Na cidade capital provincial, exceptuando os 21 médicos do hospital central, os restantes terapeutas do hospital geral de Marere, Centros de Saúde da Muhala Expansão, 1º de Maio, 25 de Setembro bem como os profissionais de saúde, que estavam em greve, regressaram já aos seus postos de trabalho, segundo foi dito pelo director provincial de saúde.

Armindo Tonela deu este informe no decurso do encontro entre a governadora, membros do governo e religiosos representantes das mais de 200 confissões religiosas registadas naquele ponto do país.

A delegada provincial da Associação Médica de Moçambique em Nampula, Ana Lopes, reconheceu há dias que nem todos os médicos estão a aderir a greve da classe, que dura há 12 dias em reivindicação da melhorias salariais, facto que está a possibilitar o atendimento normal dos doentes.

População do centro de Moçambique descobre água potável e sem sabor a sal



André Catueira, da agência Lusa

Chimoio, Moçambique, 01 jun (Lusa) - A maioria da população de Bassane, em Manica, centro de Moçambique, passou a vida inteira sem conhecer água potável, mas agora, graças a um furo, evita pedalar 30 quilómetros para chegar às lagoas e riachos.

Segundo a líder local, o único poço aberto nos anos 1990 em Bassane, embora com água salgada, desabou em 2006 aquando da ocorrência de um sismo, fazendo com que os quase 14 mil habitantes da zona tivessem que voltar a percorrer grandes distâncias para a busca de água.

"O problema de água foi sempre um assunto sério. Depois de desabar o único furo em 2006, um trator com tanque abastecia, mas também com água salubre, duas vezes por semana a população", disse à Lusa Magret Chissano, a chefe da localidade de Bassane.

O assoreamento do distrito de Machaze impediu que duas empresas chinesas conseguissem abrir furos para abastecer com água potável a população de Bassane, matando o sonho de muitos de poderem beber água incolor e sem sal.

Das 98 fontes existentes em Machaze, apenas 57 funcionam para abastecer 105 mil habitantes, e as longas filas, que, às vezes, obrigam a oito horas de espera para abastecer a casa com água são motivo até para divórcios na localidade.

Um furo foi aberto com sucesso em maio, com uma profundidade de 120 metros, que está a fazer diferença a mil consumidores de povoados de Bassane, mas há população a percorrer até 10 quilómetros para provar a "água verdadeiramente potável".

"Duas empresas chinesas com tecnologia de ponta não conseguiram abrir furos aqui. Eu abri três furos, mas dois desabaram aos 80 e 90 metros de profundidade, porque o solo não tem rocha. No terceiro furo, tivemos sucesso e há água limpa e não salubre", disse Mário Pangaia, um empreiteiro nacional.

Dados do Governo indicam que a taxa de uso de água potável no meio rural (onde vive 70% da população) era de 30 por cento em 2008. O executivo estima que agora a água potável chega a 54 por cento da população, mas as organizações da sociedade civil colocam o número muito abaixo - menos de 40 por cento.

"Foi uma sensação diferente beber essa água. Dá-me um paladar diferente, pois é limpa e não é salgada, pode ser o fim de beber de lagoas, onde também cabritos, galinhas e bois bebiam", disse à Lusa Salomão Muchanga, 63 anos, na inauguração do sistema de abastecimento de água em Bassane.

O Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS) de 2011 a 1.195 agregados familiares em Manica (13.964 no país), conduzido no meio urbano e rural, indica que o número de agregados familiares que consome água potável em Moçambique duplicou nos últimos nove anos, ao passar de 42,2 por cento em 2003 para 84,2 em 2011.

Os números sugerem que Moçambique dificilmente atingirá o Objetivo de Desenvolvimento do Milénio até 2015 no domínio de saneamento e água.

"Na componente água, o distrito está a trabalhar, apesar das condições da região que são muito difíceis, devido ao assoreamento. Continua um desafio levar água para zonas mais complicadas", precisou Gabriel Machate, administrador de Machaze.

Por seu lado, a governadora de Manica, Ana Comoane, disse à Lusa que "para colmatar o défice de água potável, o governo está a alocar 25 bombas manuais, anualmente, para cada distrito, para responder à procura de água potável pela população".

AYAC – VM

Angola - Silva Mateus: "Agostinho Neto não é herói, nem humanitário" – “Angola Fala Só”




O primeiro presidente de Angola Agostinho Neto não foi “nem herói nem humanitário”, disse o presidente  da Fundação 27 de Maio de Angola o General  Silva Mateus.

O general falava no programa “Angola Fala Só” sobre os acontecimentos de 27 de Maio de 1977 quando uma facção do MPLA liderada pelo Comandante Nito Alves esteve envolvida na organização de uma manifestação popular que as autoridades dizem ter sido na verdade uma tentativa de golpe de estado.

Silva Mateus recordou que foi o presidente Agostinho Neto quem ordenou a perseguição aos “fraccionistas” o que resultou no fuzilamento ou desaparecimento de dezenas de milhar de pessoas.

“Não se pode chamar de humanitário  ou de herói a uma pessoa que ordena fuzilamentos sem julgamento,” disse o general. Ele próprio esteve preso após a alegada intentona.

O general recordou que antes do 27 de Maio de 1977 o MPLA encontrava-se profundamente dividido, sendo uma facção liderada por Nito Alves e negou que este e os seus apoiantes tivessem tentado levar a cabo um golpe de estado.

“Não houve tentativa nenhuma de golpe de estado, houve uma tentativa de manifestação de que foi silenciada a tiro,” disse.

Para o general Mateus nesse dia estava programada uma manifestação popular a favor de Nito Alves tendo sido isso que resultou nos confrontos.

Silva Mateus negou que os apoiantes de Nito Alves tivessem sido responsáveis pelo assassinato de alguns dos membros do governo como o ministro das finanças Saidy Mingas no dia da alegada tentativa de golpe.

Interrogado  pelo ouvinte Jorge Muata que falava de Luanda sobre se o actual presidente José Eduardo dos Santos teve algum papel nos acontecimentos que ensanguentaram o país, Silva Mateus disse que antes dos acontecimentos de 27 de Maio e face às crescentes divisões dentro do partido, tinha sido decidido criar uma comissão de investigação para vêr se “existia ou não fraccionismo dentro do MPLA”.

José Eduardo dos Santos disse o general era o coordenador dessa comissão que não chegou a conclusão nenhuma após 30 dias como requerido e após outros 30 dias  “não apresentou um relatório concludente”.

Para Silva Mateus  foi essa “comissão” que permitiu que o presidente Neto e um dos seus mais próximos colaboradores, Lúcio Lara determinassem a existência do “fraccionismo”.

O general recordou que se estava próximo da realização  do congresso do MPLA e que devido à existência de duas alas, uma delas liderada por Nito Alves, havia que eliminar esta facção porque esta facção era  “popular  ou se assim o quiserem populista”.

“A facção de Nito Alves tinha que morrer antes do congresso,” disse.

O general confirmou que Nito Alves contava com o apoio da União Soviética. As simpatias tinham sido fortalecidas por Nito Alves que tinha representado o MPLA num congresso do Partido Comunista da União Soviética, PCUS.

Após o 27 de Maio de 1977 estudantes angolanos que estavam a estudar nos países europeus então sob dominação comunista tinham sido repatriados e fuzilados.

“Um estudante que estava na União Soviética ou na Roménia participou numa tentativa de golpe de estado?” interrogou o general pra sublinhar o seu ponto de vista que não houve qualquer tentativa de tomar o poder pela força.

Os cubanos tinham intervindo ao lado da facção do presidente Neto porque estavam em Angola como “mercenários”, acrescentou

O general disse Nito Alves e outros seus colaboradores foram enterrados na fortaleza de São Miguel em Luanda após terem sido fuzilados sumariamente.

A sua fundação estima que cerca de 80.000 pessoas foram mortas após o 27 de Maio de 1977. O governo teria informado que 30.000 “desapareceram” das prisões.

O general Silva Mateus reconheceu que muitas das mortes foram causadas por “excesso de zelo” e também por “rixas pessoais” e disse não ser importante agora elaborar-se uma comissão da verdade, mas sim “estabelecer o diálogo e a discussão” para se resolver as questões humanitárias associadas ao caso.

Entre estas questões mencionou a ajuda a familiares das vítimas e o reconhecimento de que foram mortos.

O MPLA deve reconhecer que isto não é uma questão interna do partido mas sim uma questão nacional, afirmou

O general Silva Mateus disse não acreditar no entanto que o modo de governar do partido no poder tenha mudado.

Há apenas uma “democracia de fachada”, disse  em resposta a uma pergunta de um ouvinte sobre o desaparecimento dos activistas Alves Kamulingue e Isaías Cassule há um ano atrás.

“O regime não mudou desde 1975,” disse o general.

“Eles têm medo do povo e é por isso que não se pode permitir manifestações, é por isso que elas são reprimidas,” disse. 



Mais lidas da semana