sexta-feira, 7 de setembro de 2012

ELEIÇÕES EM ANGOLA 2012 – VI

 

Martinho Júnior, Luanda
 
UM “HISTÓRICO” EM LENTA AGONIA!
 
24 – Dos três partidos considerados “históricos” a FNLA é aquele que mais dificuldades tem em se adaptar às mudanças sócio-políticas e antropológicas e nisso faz residir a sua maior dificuldade que resulta em vulnerabilidade.
 
Digo faz residir, por que é dentro de si onde existe a travagem mental e de comunicação, desde o seu berço aliás, quando se formou a própria UPA: para além dum etno-nacionalismo que sempre cultivou, com tanto derramamento de sangue, a FNLA perdurou demasiado tempo sob a condução dum líder que utilizava, sem hipóteses para mais, o culto da sua própria personalidade, como se dum “fechado” e “egocêntrico” chefe tribal se tratasse!
 
Essa forma de conduta, década a década e por muito honesta que fosse para com “os seus”, resultou após a sua morte, na disputa interna entre duas correntes que, ao contrário do que está a acontecer com o outro “histórico”, a UNITA, está a fechar ainda mais “em si” a mentalidade do partido.
 
Os velhos militantes da FNLA têm dificuldades extremas de se abrir para com a sociedade, parece não se conseguirem adaptar a ela, só admitir vida intra-muros, não admitir sequer que isso os isola cada vez mais e faz minguar em lenta agonia o seu partido de “liberdade e terra”!
 
Desse modo as suas mensagens “não passam”, não captam as atenções e isso inclusive em áreas onde a sua influência poderia abarcar maior espectro de gerações além dos “velhos guerrilheiros e nacionalistas”.
 
Enquanto a aparente divisão “a dois” da UNITA implicou numa maior abertura para com a sociedade, quer da UNITA, quer desde logo da CASA-CE, expressa aliás num exponencial aumento de votos e numa inteligente conjugação de esforços (que motiva o apoio externo de entidades diplomáticas norte americanas e europeias), as divisões “a três” na FNLA resultaram precisamente no contrário: todos se voltaram para dentro e esquecem que estão em sociedade!
 
Isto parece querer significar que a FNLA só atingiu o auge em função dos apoios externos, foi historicamente “usada e deitada fora” e agora enfrenta muitas dificuldades para assumir as responsabilidades sociais e de identificação para com o povo angolano, por que o que está em causa é a definição da sua própria identidade!
 
Os sociólogos da FNLA podem ser muito bons em sociologia, mas em política estão mesmo reprovados!
 
25 – A situação da FNLA não é similar à do PRS em termos da expressão geográfica do voto favorável:
 
- Enquanto “histórico” o partido conseguiu espalhar-se por todas as Províncias do país, onde estão disseminadas suas delegações, militantes e simpatizantes, duma forma mais equilibrada, menos concentrada;
 
- Enquanto o PRS se concentrou em 3 Províncias no Leste, acima de sua média percentual, a FNLA tem abaixo de sua média percentual as 10 Províncias mais a Sul a que se junta Cabinda e acima dessa média todas as Províncias a Norte, menos claro está, Cabinda!
 
A dicotomia geográfica Norte-Sul é por demais evidente em relação aos resultados alcançados pela FNLA!
 
Os sociólogos da FNLA parece que também não são assim tão bons em sociologia!
 
A média percentual nacional da FNLA expressa em votos que lhe são favoráveis, atingiu 1,08% e as Províncias que estão acima dela são:
 
- Luanda (1,16%);
- Malange (1,16%);
- Lunda Sul (1,23%);
- Lunda Norte (1,38%);
- Cuanza Norte (1,61%);
- Uíge (1,98%);
- Zaire (2,89%).
 
26 – Essa dicotomia é também confirmada na geografia eleitoral da Província de Luanda:
 
- Onde atingiu a sua maior percentagem, acima da sua média nacional (1,08%) e acima da sua média provincial (1,16%), foi precisamente no Município mais a Norte, o Cacuaco, com 1,58%;
 
- Entre a média nacional e a provincial, a FNLA teve o Cazenga 1,11%, Viana 1,14% e Luanda 1,16%;
 
- Abaixo da média nacional a FNLA teve a Quiçama 0,47%, o Icolo e Bengo 0,74% e Belas 0,91%!
 
No Município do Cacuaco, onde também há uma implantação importante de pessoas originárias de todo o Norte do país, a FNLA alcançou uma posição que indicia não conseguir sequer contrariar a UNITA, o que é significativo no seguinte:
 
- A “mensagem” do partido ficou aquém da amplitude que lhe é possível atingir;
 
- Que esse alheamento em relação à sua “mensagem” é maior em relação à população jovem;
 
- Que o conflito de gerações visto nestes termos, está a isolar “os velhos” da FNLA das outras faixas etárias, em particular da juventude!
 
27 – Termino aqui a apreciação partido a partido em relação às eleições de 2012 em Angola, não por que desconsidero ou outros, mas por que eles obtiveram resultados inexpressivos.
 
Procurei por via das apreciações feitas a partir das percentagens de votos obtidos por cada partido, uma leitura que procurou ser objectiva, a fim de melhor espelhar o que se passa em Angola.
 
Julgo que só assim se pode produzir uma plataforma suficiente de conhecimentos que permitem uma interpretação mais fiável do actual contexto histórico-sócio-político angolano, tendo em conta uma sociedade que está numa acelerada transformação.
 
Há muitas questões que não chegaram a ser colocadas e outras menos aprofundadas.
 
Não tive tempo para recolher dados sobre as eleições de 2008 e compará-los, mas isso fica em aberto!
 
A CNE parece ter avançado tecnologicamente, mas não teve o peito organizativo ao nível de 2008, mas falta contudo estudar de forma objectiva, entre outros, esta questão sensível.
 
A partir de 2013 poderemos tornar este tipo de apreciações mais aferidas, quando se realizar o Recenseamento Geral da População e da Habitação.
 
Em 2014, para as autarquias, que o Ministério da Administração do Território e o CNE não parem de trabalhar!
 
Foto: Divisão a 3 com maior tensão entre 2; o resultado está patente nas urnas!

A consultar:
- Demografia, identidade nacional, assimetria e eleições – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/08/angola-demografia-identidade-nacional.html
 
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CERCA DE 30% DOS MILITANTES DO MPLA NÃO VOTARAM NO SEU PARTIDO

 

Manuel José – Voz da América
 
O MPLA diz ter seis milhões de militantes e simpatizantes, mas apenas quatro milhões votaram no Partido dos Camaradas. O que aconteceu aos outros dois milhões?
 
LUANDA — Os resultados provisórios das eleições já divulgados indicam que o MPLA é o vencedor das eleições... com cerca de quatro milhões de votos.

Outro facto muito apregoado pelos seus responsaveis, é que o número dos seus militantes e simpatizantes já atingiu os seis milhões.

Ora, seis milhões menos quatro milhões (que é o numero de votos conseguidos pelo MPLA) restam cerca de dois milhões. O que se terá passado com estes militantes e simpatizantes?

Terao traido o seu partido e votado na concorrência? Ou terão ficado entre os que se abstiveram de votar?

Procuramos ouvir a resposta de alguns militantes e simpatizantes mas não houve coragem de revelarem. Quem não teve meias medidas foi o dirigente do Comité Provincial de Luanda do MPLA, Norberto Garcia. Comecou por dizer que houve muitas abstenções as quais é preciso respeitar, por serem uma forma de expressão democrática.

"A abstenção, disse, também é um voto. É uma forma de expressar aquilo que se quer dizer na vida política nacional. É algo que na democracia deve ser respeitado... É natural que muitos militantes não estejam contentes com aquilo que o partido faz", disse Garcia.

Quanto ao diferencial entre o numero de votos e de militantes, Norberto Garcia acredita que o seu partido é um dos maiores do mundo e que por isso é natural que alguns não estejam satisfeitos com tudo que o partido faz.

“Não pense que eu lhe vou dizer que entre nós está tudo bem, que é tudo um mar de rosas. Não. Somos o maior partido angolano, senão mesmo um dos maiores de África e do mundo, mas este número de militantes também tem direito a reclamar e tem direito a sancionar o partido naquilo que acha razoável", disse o dirigente do MPLA de Luanda.

Assim mesmo, diz que o seu partido está atento e que tudo que há por fazer, vai ser feito. "Ninguém vai dizer que no seu acto de governar o MPLA não tenha falhas. O MPLA está preocupado com a corrupção, com o amiguismo; está preocupado com muitas praticas de má governação", disse.

Moçambique: DIREITOS HUMANOS, GUEBUZA QUE AJUDE NA CRISE DE BISSAU

 


ONU considera criação da Comissão Nacional dos Direitos Humanos "passo significativo"
 
06 de Setembro de 2012, 15:51
 
Maputo, 06 set (Lusa) - A coordenadora-residente do Sistema das Nações Unidas em Moçambique, Jennifer Topping, considerou hoje que o país deu "um passo significativo" no respeito dos direitos humanos com a tomada de posse da primeira Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH).
 
A CNDH foi empossada na quarta-feira pelo chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, e tem como presidente Custódio Duma, advogado conhecido por defender casos contra o Estado moçambicano em processos de abusos dos direitos humanos.
 
Falando hoje na cerimónia de apresentação pública dos 11 membros da entidade, Jennifer Topping afirmou que o país registou um avanço na consolidação dos mecanismos de fiscalização do respeito dos direitos humanos.
"A criação da Comissão Nacional dos Direitos Humanos simboliza mais um passo significativo na materialização da observância dos direitos humanos", disse.
 
O Estado moçambicano, ressalvou a coordenadora-residente do Sistema das Nações Unidas, tem conseguido destacar a importância dos direitos humanos nas suas políticas de desenvolvimento e combate à pobreza.
 
"A observância dos direitos humanos constitui o cerne para o desenvolvimento de qualquer sociedade. Moçambique tem sabido progressivamente priorizar esta premissa na sua agenda de desenvolvimento", frisou.
 
Por seu lado, o presidente da CNDH disse que a entrada em funcionamento da instituição é uma etapa importante para o processo de construção do Estado de Direito.
 
"É um marco histórico para o país, dado que a Comissão se irá juntar à ação de consolidação do Estado de Direito", disse Custódio Duma.
 
PMA.
 
Modelos para resolução da crise "não são efetivamente aplicáveis e funcionais", diz diplomata
 
06 de Setembro de 2012, 16:23
Maputo, 06 set (Lusa) - O ex-representante da ONU na Guiné-Bissau João Bernardo Honwana considera que os modelos adotados pela comunidade internacional para resolver a crise guineense "não são efetivamente aplicáveis e funcionais" para a situação que se vive naquele país africano.
 
O moçambicano João Bernardo Honwana, atual diretor da segunda Divisão de África do Departamento dos Assuntos Políticos da ONU, integra uma missão conjunta das Nações Unidas e da União Africana, que hoje apelou ao Presidente moçambicano, Armando Guebuza, para encontrar uma saída para a situação sociopolítica na Guiné-Bissau.
 
Falando na quarta-feira numa palestra no Instituto Internacional de Relações Internacionais de Moçambique, João Bernardo Honwana assinalou que "a comunidade internacional ainda não foi capaz, até aqui, de fazer aceitar à massa pensante guineense os valores da paz e da democracia, diferentemente do caso moçambicano, por exemplo", após o acordo geral de paz em 1992.
 
"Não há soluções fáceis para um problema como a Guiné-Bissau", disse o diretor da segunda Divisão de África do Departamento dos Assuntos Políticos da ONU, citado pelo jornal Notícias de Maputo.
 
Hoje, a missão conjunta da ONU e da União Africana, liderada pelo atual representante das Nações Unidas na Guiné-Bissau, Joseph Mutaboba, reuniu-se com Armando Guebuza, presidente em exercício da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
 
Falando na qualidade de porta-voz, João Bernardo Honwana disse que Moçambique foi uma das etapas das consultas que a missão está a realizar na CPLP, que continua a reconhecer o Governo deposto no golpe de Estado de abril, e na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que defende o Governo de transição na Guiné-Bissau.
 
"O ponto de situação atual neste momento é que o país está praticamente paralisado. Existe um Governo de transição cuja capacidade operacional é bastante reduzida", disse.
 
O diplomata assinalou que o Presidente moçambicano deu "vários pontos de vista de vários aspetos da crise na Guiné-Bissau" e encorajou a missão a continuar a trabalhar para a busca de consenso.
 
"A solução do problema da Guiné-Bissau terá que vir dos próprios guineenses e a comunidade internacional tem um papel importante de apoio, de aconselhamento de procurar utilizar experiências adquiridas noutros contextos para que se encontre uma solução durável e viável, uma solução que permite o país avançar", afirmou, no entanto, Honwana.
 
MMT.
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG

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