Dziennik Gazeta
Prawna, Varsóvia – Presseurop – imagem AFP
Nos países mais
afetados pela crise, serão precisas várias dezenas de anos para voltar ao nível
de vida anterior. E o fosso com os que melhor se saiem não para de aumentar,
colocando em risco a unidade e estabilidade da União.
Já em 2009, Angela
Merkel alertou: não esperemos por milagres, pois nenhuma decisão política, por
muito corajosa que seja, poderá evitar o colapso da economia europeia. Na
altura já se encontrava muito isolada na sua forma de encarar o futuro. Hoje,
vemos que esta tinha razão, comenta Nicolas
Veron, especialista do instituto belga Bruegel. Cinco anos após o início da
crise, a situação económica da União continua lamentável: dos 27 Estados-membros,
17 estão em recessão.
Nos países mais
afetados pela crise, como a Espanha ou Portugal, será necessária mais do que
uma geração para compensar a queda do nível de vida. Um espaço de tempo que
poderá tornar-se insuportável para a UE. Pela primeira vez desde a sua criação,
a União Europeia, contrariamente à zona euro, corre o risco de se desmoronar.
Com o passar dos meses, este cenário torna-se mais claro, sem que possamos
claramente dizer que processo será privilegiado: o da criação de uma Eurolândia
reforçada à volta da Alemanha ou o da desintegração do bloco dos países
eurocéticos, com o Reino Unido na liderança.
Pedra angular da
integração
Uma coisa é certa,
esta evolução não é desejada por Angela Merkel, que fez tudo para a impedir.
Esta pretende sobretudo que a nova União mais integrada garanta um lugar sólido
à Polónia e aos outros países da Europa central. Países esses que não só constituem
uma base industrial para a República Federal (para onde as empresas alemãs
deslocalizaram uma grande parte da sua produção), mas que também servem de
aliados valiosos no seio do Conselho da UE, quando, tal como Berlim, defendem
reformas estruturais e uma política orçamental responsável.
No entanto, o
projeto para esta União já fracassou. Pressionados pelos mercados, os
dirigentes da zona euro criaram finalmente as bases de um sistema institucional
para a zona euro distinto das instituições dos 27, com uma supervisão bancária,
uma governação orçamental e um orçamento específico. Estas medidas deveriam ser
consideradas essenciais para assegurar o bom funcionamento da zona euro, sem
comprometer os fundamentos da União Europeia. Hoje em dia, constatamos que esta
hipótese é irrealista, admite Cinzia
Alcidi do CEPS (Center for European Policy Studies).
A situação
particularmente perigosa afeta a pedra angular da integração, o mercado único.
Nos países em que o estado da economia inspira confiança aos investidores, como
a Alemanha ou a Holanda, o custo dos empréstimos realizados pelos empresários
são muito mais baixos do que nos países periféricos. Já não se pode falar em
concorrência leal, algo para que Bruxelas tem trabalhado ao longo das últimas
cinco décadas.
O fim do modelo
social europeu
A derrota do modelo
europeu que pretendia estabelecer um certo equilíbrio entre os níveis de vida
na União é vista como mais um fracasso. Graças aos fundos estruturais, assim
como ao livre acesso ao mercado da UE para todas as entidades económicas,
conseguimos efetivamente reduzir os desequilíbrios do nível de vida entre os
países europeus. A Grécia, por exemplo, podia gabar-se, ainda em 2009, de um
rendimento por habitante correspondente a 94% da média da União Europeia. Não
se afastava muito da realidade alemã (115%). Mas hoje, o fosso entre esses dois
países aumentou consideravelmente: o nível de vida na Grécia caiu para 75%,
atingindo o mesmo nível do que Polónia, enquanto o da Alemanha disparou para
125%.
Segundo as
estimativas dos economistas, estes desequilíbrios vão acentuar-se cada vez mais
nos próximos anos. Esta evolução significa que os interesses dos
Estados-membros serão cada vez mais diferentes. Enquanto os romenos, os
búlgaros, os gregos ou os portugueses tentarão garantir a sobrevivência das
suas populações, realçando o que está em jogo perante Bruxelas, a Alemanha e a
Suécia darão maior importância à ecologia e às fontes alternativas de energia.
Segundo Veron assistiremos a um diálogo de surdos.
A crise varre
igualmente um outro grande feito da integração: o modelo social europeu,
invejado pelo mundo inteiro. Os sucessivos cortes orçamentais não só na Espanha
e na Grécia, como também em França e no Reino Unido, provocam uma redução
drástica da proteção social, em matéria de direito de trabalho, de reformas ou
de desemprego, criando assim uma geração de jovens sem perspetivas de emprego
estável e desprovidos de condições materiais para construir uma família.
O fracasso da
política estrangeira comum
Até mesmo o
pró-europeu Der Spiegel admite que o centro de decisão da UE passou de Bruxelas
para Berlim. Uma mudança que se fez sem qualquer pressão particular por parte
dos alemães, mas por exclusão de partes. Dos seis principais países da UE,
dois, sendo estes a Itália e a Espanha, foram imediatamente excluídos devido
aos seus graves problemas económicos. O Reino Unido afastou-se de livre
vontade. Quanto à Polónia, tendo em conta o seu potencial económico ainda muito
fraco e o facto de não pertencer à zona euro, não pode pretender desempenhar um
papel decisivo.
Durante algum
tempo, a Europa parecia ser dominada por um duo franco-alemão, o famoso
“Merkozy”. Mas desde a eleição do novo Presidente francês, François Hollande,
tornou-se evidente que Paris, confrontado com grandes problemas económicos,
deixou de ter as condições necessárias para desafiar a Alemanha. Berlim acaba
portanto por ficar só no campo de batalha.
Focada nos seus
próprios problemas a Europa não consegue cuidar do resto do mundo. Assim sendo,
o colapso da política estrangeira comum é mais uma profecia sombria que surge
perante os nossos olhos. A evolução autoritária da Ucrânia, o drama da Síria, o
abandono da luta pelos direito humanos na China, são alguns exemplos da
impotência da UE.
Os projetos que
envolviam futuros alargamentos da UE foram colocados de parte: a adesão à UE
passou agora a ser apenas possível para os países dos Balcãs, situados no
interior do espaço da Europa Unida. Uma oferta mais ambiciosa, nomeadamente
para os países da antiga União Soviética e a Turquia, deixou de estar na ordem
do dia.
Cinco anos após o
início da crise a Europa sobrevive, pelo menos por agora. Mas as perdas são
colossais e a União Europeia interrompeu o seu processo de integração para se
deparar com problemas que pareciam ter sido resolvidos há 30 ou 40 anos. Agora,
até os otimistas dizem: esperemos que não piore.