sábado, 19 de janeiro de 2013

LISTAS LAGARDE – A GUARDAR EVASORES FISCAIS?




Ana Gomes – Causa Nossa

O Parlamento grego decidiu que o ex-ministro das Finanças Giorgos Papaconstantinou será ouvido para responder às acusações de ter manipulado a apelidada "lista Lagarde". 

Papaconstantinou é suspeito de ter modificado a lista de cerca de 2000 nomes de gregos com depósitos avultados no banco suíço HSBC não declarados ao fisco grego. 

A lista, entregue pela então Ministra das Finanças do Governo Sarkozy, "perdeu-se" na altura, entre a gaveta do ministro e os corredores do poder, tendo sido recriada por Evangelos Venizelos, sucessor de Papaconstantinou.

As autoridades gregas, que pediram entretanto a lista original às autoridades francesas, notaram que três nomes na lista original estavam ausentes da oficiosa: o de uma prima de Papaconstantinou, do marido desta, e ainda da mulher de outro primo do então ministro. Tudo em família, portanto.

O Parlamento e as autoridades gregas cedem assim à intensa pressão do povo grego, que compreensivelmente não se conforma com a complacência das autoridades para com os milhares de milhões criminalmente evadidos ao fisco pelas suas elites, enquanto vê o seu nível de vida degradar-se drasticamente e a economia do país arrasada, após anos de austeridade imposta pela Europa e pelo FMI.

E em Portugal? 

Poucos parecem preocupar-se em saber se o Governo português recebeu ou não também a sua "lista Lagarde" (eu enviei duas cartas a Christine Lagarde sobre o assunto - vd abaixo).

Mas sabemos que o Ministro Teixeira dos Santos teve acesso à lista de portugueses com contas parqueadas no Liechtenstein. 

Em vez de serem tornadas publicas estas listas - tal como pedi na altura a Teixeira dos Santos, e também a Vitor Gaspar (vd abaixo) - continuamos sem saber que diligências tomou o Estado português para recuperar esses activos que tanta falta fazem ao erário público. Se é que tomou alguma.

Sabemos também que, em virtude do acordo de troca de informação fiscal celebrado com a Suíça, Portugal poderia ter acesso às contas de portugueses em bancos naquele país, informação imprescindível para o Ministério Público poder agir com processos-crime.
Mas não: o Governo de Passos Coelho preferiu, com o RERT III, oferecer amnistia fiscal a todos os evasores, garantindo-lhes sigilo no que respeita à sua identidade e origem dos capitais, mediante o pagamento de uma taxa de...7,5%!!! o que muitos fizeram, convenientemente, antes de o Acordo com a Suíça entrar em vigor. 

Como aparentemente fez Ricardo Salgado, o CEO do BES, que, segundo o Jornal I de ontem, invoca "esquecimento" para não ter declarado ao fisco a bagatela de 8.5 milhões de capitais próprios...

Segundo o "Sol" de 21.12.12 "Ricardo Salgado foi prestar declarações no processo Monte Branco, esta terça-feira, para esclarecer milhões de euros que colocou no estrangeiro até 2010 e que não declarara ao Fisco. Trata-se de capitais movimentados para fora de Portugal através dos serviços da Akoya Asset Management, fundada em 2009, e do seu líder, o suíço Michel Canals".

A Akoya é considerada a maior rede de fraude fiscal e de branqueamento de capitais que operou em Portugal. Por acaso conta entre os seus accionistas o Sr. Álvaro Sobrinho, da Newshold que quer fazer negócio com o Ministro Miguel Relvas e comprar a RTP (vd D.Economico de 28.12.12) Tudo imaculado, está bem de ver.

Segundo o Jornal I, o esquecido banqueiro Salgado teve de corrigir por diversas vezes a declaração de IRS que fez em 2011 e por isso terá acabado por pagar 4,5 milhoes de euros.
Claro que tudo isto só se sabe porque o MP abriu a investigação "Monte Branco" e topou que o Dr. Salgado e a Akoya tinham relações... 

O que continua a não se saber é quanto o Dr. Salgado poupou por ter transferido tudo o que transferiu para o exterior, durante anos, sem nada declarar ao Estado, só corrigindo quando foi apanhado pelo MP e, presume-se, pagando apenas 7,5% de imposto, taxa para proteger os ricos evasores fiscais no esquema engendrado no OE 2012 pelo Governo de Passos/Gaspar/Portas e Paulo Nuncio, o Secretário de Estado do Tesouro - e do CDS/PP - especialista na matéria.

Mas não era elementar, até para a credibilidade e descanso do BES, que o Dr. Salgado explicasse a que montante depositado no exterior corresponde a quantia de 4,5 milhoes que pagou ao fisco, em correcção do seus "esquecimentos"? 

E não era elementar que o Governo prestasse contas aos portugueses sobre as quantias que o Estado cobrou e deixou de cobrar, ao deixar corrigir os "esquecimentos" do banqueiro Salgado? E que montante afinal deixou que ele mantivesse a bom recato em cofres no exterior do país? E com que justificação, quando sobrecarrega violentamente os contribuintes que nunca se "esqueceram" de pagar impostos e que ganham o que o Dr. Salgado pode gastar em amendoins?

É que quando o Estado impõe os níveis confiscatórios e iníquos de impostos que Gaspar/Coelho/Portas impuseram este ano às classes médias e pobres, era elementar tornar transparentes as doçuras por eles oferecidas ao banqueiro Salgado...

Portugal: ESTADO SOCIAL E DESPESA PÚBLICA




Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

O violento ataque dirigido pelo Governo contra os direitos sociais fundamentais dos portugueses assenta numa campanha ideológica fascizante, num chorrilho de argumentos manipulados e mentirosos, num determinismo perigoso e absolutamente antidemocrático.

Trata-se de um receituário venenoso para os objetivos de igualdade, solidariedade, universalismo e dignidade humana que sustentam e dão sentido à democracia.

Urge denunciar os seus objetivos, organizar a resistência e passar à ofensiva, com reposição de verdade sobre as condições concretas de cada vetor do Estado social e sobre o seu papel no desenvolvimento da sociedade.

Temos hoje mais informação sobre o papel do Governo na produção da encomenda feita ao FMI. Passos Coelho, Gaspar e Portas, e também os Moedas do Governo, não só orientaram como municiaram - com manipulação e leituras enviesadas de dados estatísticos - os seus colegas "mercenários" do FMI. Ficou-se a saber que um destes, o espanhol Carlos Mulas, colabora nesta trapaça ao mesmo tempo que propagandeia no Twitter campanhas contra a austeridade e os perigos da destruição do Estado social.

É um escândalo! Como é possível estes indivíduos instalados na gestão da coisa pública afirmarem que o sistema da Segurança Social ou as transferências sociais são elementos de desigualdade e de mais benefício aos ricos? Ou que pensões na ordem dos 600 euros são pensões de ricos?

Os governantes e os funcionários nacionais e estrangeiros que manipulam estudos para fabricar estas conclusões deviam ser corridos e julgados por objetiva má-fé e atentado à dignidade dos portugueses.

O Governo prossegue na sua azáfama, embora cada vez mais isolado. Juntou meia dúzia de amigos no Palácio Foz num paupérrimo e ridículo "debate" sobre "reformas do Estado", enquanto o PSD e o CDS impõem uma Comissão Parlamentar fantoche.

Entretanto, o Banco de Portugal vai afirmando que é errado o caminho da austeridade e de ataque às prestações sociais, demonstrando exatamente que no nosso país essas prestações são mais orientadas para as pessoas de menores rendimentos do que na generalidade dos países.

Infelizmente, nas hostes do Partido Socialista as opiniões contraditórias em torno do futuro da ADSE vieram dar uma ajudita ao Governo. Até deu para o sr. Relvas surgir a autoconvencer-se de que o sujo nos outros o torna limpinho.

O futuro do Estado social tem de ser discutido com realismo, transparência, verdade e com participação da sociedade, mas isso só será possível, como aqui afirmei na semana passada, no contexto da construção e formulação de políticas e de governação verdadeiramente alternativas.

Dizem-nos o Governo e os seus apoiantes que não há dinheiro e que temos uma despesa pública excessiva.

Não há dinheiro para quê e porquê?

Não há dinheiro para garantir um mínimo de recursos a milhões de portugueses, mas alguns continuam a enriquecer aceleradamente. Há milhares de milhões para cobrir roubos privados na Banca e noutros setores, ou para recapitalizar a Banca. E alimenta-se, sempre em nome do "interesse nacional", a exploração desmedida que significa o Memorando e as políticas feitas a seu pretexto.

Sobre a despesa pública, a manipulação e a mentira não são menores. Como está exposto no último Barómetro das Crises * , a evolução da despesa pública em Portugal, em comparação com a União Europeia (UE), mostra-nos que até final da década de 70 ela se situava abaixo da média da UE, que houve um movimento de convergência nos anos 80 e 90 significando para nós um grande impulso de desenvolvimento, que em 2009 e 2010 tivemos as mesmas oscilações que a UE e que agora em 2011 e 2012, com as políticas de austeridade, estamos a descer desse padrão médio, gerando mais desigualdades, pobreza e bloqueio ao desenvolvimento.

Decisões erradas sobre a despesa pública podem ter consequências de grande gravidade e dificilmente revertíveis.

* O Barómetro das Crises é publicado pelo Observatório sobre Crises e Alternativas, criado pelo Centro de Estudos Sociais da Univ. Coimbra, em parceria com o Instituto para os Estudos Laborais da OIT.

Portugal: Mau tempo causa um morto, 21 feridos e 46 desalojados - ANPC




Lusa – foto Nuno Veiga

O mau tempo em Portugal Continental causou hoje um morto e 21 feridos, dois deles graves, e 46 desalojados, além de estragos em casas e viaturas, informou a Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC), no mais recente balanço.

A vítima mortal é um idoso de 85 anos, que morreu em Abrantes, após ter sido projetado para o chão pelo portão da casa, impelido pela força do vento.

Os dois feridos graves são dois turistas que foram atingidos em Sintra por uma árvore que caiu.

Seis bombeiros ficaram igualmente feridos, mas sem gravidade, no decurso de trabalhos de socorro, precisou à agência Lusa o Adjunto Nacional de Operações da ANPC, Miguel Cruz, adiantando que o mau tempo provocou 46 desalojados temporários.

Dirigentes da CEDEAO apelam para mobilização internacional militar "mais ampla" no Mali




MC – VM - Lusa - foto George Gobet AFP

Os dirigentes da África Ocidental apelaram hoje para uma mobilização internacional "mais ampla" nas operações militares no Mali, onde soldados franceses e do Mali combatem contra grupos islâmicos armados, à espera do destacamento de uma força africana.

“A hora chegou para um compromisso mais amplo das grandes potências e do maior número de Estados e organizações nas operações militares, para que uma maior solidariedade rodeie a França e a África na guerra total contra o terrorismo no Mali”, declarou o chefe de Estado da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, presidente em exercício da Comunidade económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Ouattara falava hoje na abertura da cimeira destinada a acelerar o destacamento da força regional no Mali, na qual também participou o presidente interino do Mali, Dioncounda Traoré.

O presidente do Chade, Idrisse Deby, – cujo país não faz parte da CEDEAO, mas que prometeu enviar 2.000 soldados – e o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, também participam na cimeira.

Os participantes devem combinar “acelerar” o destacamento da Missão Internacional de Apoio ao Mali (MISMA), que recebeu mandato da ONU para ajudar o Mali a retomar o controlo do norte do país, que estava ocupado há mais de nove meses por grupos armados islâmicos.

A operação francesa começou há oito dias “não quer substituir à ação da MISMA”, que se deve destacar o “mais rapidamente possível e é o objetivo da nossa reunião”, afirmou Fabius.

Cerca de 2.000 membros da MISMA devem ser destacados para o Mali a partir de agora e até 26 de janeiro.

Uma centena de soldados do Togo e da Nigéria já chegaram a Bamako.

MILITARES MATAM TERRORISTAS E RETOMAM USINA DE GÁS NA ARGÉLIA




Deutsche Welle

Exército argelino invadiu unidade. Antes da operação, sete reféns estrangeiros teriam sido executados pelos sequestradores. Central estava tomada desde quarta-feira por islamistas. Drama terminou com dezenas de mortos.

O Exército argelino invadiu neste sábado (19/01) a central de exploração de gás localizada numa área desértica próxima a cidade de In Amenas, no sudeste da Argélia, dando um fim sangrento à crise com reféns. A unidade estava tomada desde quarta-feira por um grupo islamista fortemente armado.

Todos os 11 terroristas foram mortos, segundo a agência de notícias argelina APS. Antes, os sequestradores haviam executado sete reféns estrangeiros que ainda eram mantidos no complexo. Respondendo a críticas do Ocidente às operações militares, o Exército da Argélia afirmou que sua ação preveniu "um massacre real".

Um grupo de homens fortemente armados havia invadido a usina na quarta-feira, fazendo reféns. A central é explorada pela empresa britânica BP, juntamente com a norueguesa Statoil e a argelina Sonatrach. Os islamistas exigiam, entre outras coisas, o fim das operações militares internacionais no Mali, lideradas pela França. Na quinta-feira, os militares haviam feito um primeiro assalto ao complexo.

Execuções

Segundo informações do jornal El Watan, os sequestradores começaram a executar os reféns na manhã de sábado. O Exército invadiu, então, a central, encontrando os sete estrangeiros mortos – três belgas, dois norte-americanos, um britânico e um japonês.

Segundo a estação de rádio Chaine 3, os sequestradores tentaram na sexta-feira incendiar uma parte do complexo, tendo sido impedidos por soldados e trabalhadores da usina.

A empresa estatal de petróleo e gás Sonatrach afirmou que os islamistas tinham colocado uma série de minas no complexo.

Corpos carbonizados

Horas depois do ataque, o número exato de mortos entre terroristas e funcionários estrangeiros e argelinos da central permanecia ainda desconhecido. Mais cedo, forças especiais do Exército argelino haviam encontrado na unidade 15 corpos carbonizados. No mesmo dia, outros 16 reféns estrangeiros também conseguiram ser libertados, segundo uma fonte próxima às equipes que estavam no local, entre eles, dois norte-americanos, dois alemães e um português.

Relatos anteriores haviam divulgado um número de reféns mortos entre 12 e 30, com possivelmente dezenas de estrangeiros, entre eles, cidadãos de países como Noruega, Japão, Reino Unido e EUA.

O ministro britânico do Exterior, William Hague, afirmou que dez cidadãos do Reino Unido continuam "desaparecidos e em perigo", admitindo que o país deve se preparar para "continuar a receber más notícias" em relação à crise de reféns na Argélia, depois do assalto final das forças militares argelinas.

Centenas de operários conseguiram escapar na quinta-feira, quando o Exército argelino lançou uma primeira operação de resgate. Segundo a agência APS, 12 reféns e 18 terroristas morreram durante a intervenção.

ONU condenou tomada de reféns

O Conselho de Segurança condenou o ataque e a tomada de reféns no complexo de gás por militantes islâmicos. Em declaração divulgada na noite de sexta-feira, o Conselho ressaltou que os terroristas, ligados à rede Al Qaeda, e seus ajudantes devem ser levados à Justiça.

O Conselho expressou "condolências às vítimas desses atos hediondos e a suas famílias e ao povo e governo da Argélia e aos países cujos cidadãos foram afetados".


MD/afp/dpa/rtr - Revisão: Soraia Vilela

Comando político-militar colonial na origem da morte de Cabral - Pedro Pires




JSD – JPF - Lusa

Cidade da Praia, 19 jan (Lusa) - O Comando Político-Militar Colonial montou uma campanha "insidiosa" e usou "intriga política" para tentar afastar cabo-verdianos e guineenses durante a luta de independência da Guiné e Cabo Verde, abrindo caminho ao assassínio de Amílcar Cabral.

A afirmação foi feita sexta-feira à noite pelo ex-presidente cabo-verdiano Pedro Pires (2001/11), na abertura do Fórum Amílcar Cabral, organizada pela fundação homónima e presidida pelo também antigo comandante da Frente Sul na guerra de libertação e primeiro primeiro-ministro do Cabo Verde independente (1975/91).

"É preciso ter em mente que as guerras coloniais versus guerras de libertação nacional apresentam várias facetas: a militar, a política, ideológica e psicológica, a de conspiração, subversão e desinformação, de intoxicação ideológica, de espionagem, de assassínios e de golpes sujos", começou Pedro Pires, falando da sua vivência pessoal.

Sem explicitar nomes, nem responder à questão que domina os debates do Fórum, quem mandou matar Cabral, Pedro Pires lembrou que é "nesse contexto de guerra, conspiração e métodos criminosos e repressivos coloniais" que se deve entender o recurso ao assassínio de Amílcar Cabral, abatido a tiro a 20 de janeiro de 1973.

"Um dos argumentos de intriga política dos conspiradores e assassinos era que os cabo-verdianos teriam um tratamento privilegiado no PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde)", afirmou.

Aludindo, sem nomear, aos "homens da pena ao serviço dos restos ideológicos do poder imperial", Pedro Pires salientou que ainda recentemente tentaram "desresponsabilizar e branquear os crimes dos seus chefes coloniais", que, na sua opinião, se "converteram em heróis serôdios".

"Não há lugar para confusão. No quadro da guerra psicológica, intoxicação, diversão e desinformação, o CPMC, não confundir com Portugal e com os portugueses, montou uma insidiosa campanha contra os funcionários e os cabo-verdianos na Guiné", afirmou.

Essa campanha, prosseguiu, tinha um "intuito perverso e cínico" de confundir a opinião guineense, alijar responsabilidades e de tentar transferir para os cabo-verdianos e para Cabo Verde as responsabilidades dos crimes e desmandos que "foram e são da responsabilidade do colonizador e do colonialismo português".

"Na repressão colonial, muitos agricultores e pequenos empresários de origem cabo-verdiana foram assassinados e outros presos e deportados por envolvimento com o PAIGC. Naquela fúria repressiva, várias personalidades cabo-verdianas foram presas, torturadas e deportadas para as masmorras da PIDE, em Portugal", salientou.

No seu entender, a partir de 1970, as campanhas militares "desesperadas" do CPMC, na tentativa de reverter a seu favor o estado de equilíbrio militar "já em declínio", conjugadas com a propaganda lusa no "Por Uma Guiné Melhor", não deixaram margem para dúvidas.
"O recurso ao assassínio do líder do PAIGC insere-se na busca de uma saída para o grave dilema em que vivia o poder colonial. (?) Nada melhor do que decapitar o PAIGC, solução já experimentada em outras guerras coloniais. Reside aí a razão principal de avançar com a operação do assassínio de Cabral pelos serviços secretos portugueses e por seus homens de mão", sustentou.

Para Pedro Pires, em novembro de 1970, o CPMC fracassou "vergonhosamente" (Operação Mar Verde) na tentativa de provocar a mudança de regime na Guiné-Conacri, destruir as instalações do partido em Conacri e assassinar os dirigentes do PAIGC.

"Esses desaires, conjugados com os riscos eminentes de um colapso militar e do afundamento do império colonial, obrigaram-no a ir mais longe na sua miopia política e na ação criminosa e recorreu decididamente ao assassínio do lúider do PAIGC", rematou.

Empate com África do Sul afinal soube a pouco para os adeptos de Cabo Verde




JSD – JP - Lusa

Cidade da Praia, 19 jan (Lusa) - O empate de Cabo Verde diante da África do Sul no jogo inaugural da Taça das Nações Africanas de futebol (CAN2013) acabou, afinal, por saber a pouco para os cabo-verdianos, que asseguram que os "Tubarões Azuis" mereciam ganhar.

Despreocupados, embora algo nervosos no início do jogo de hoje, disputado no Soccer City, em Joanesburgo, os adeptos cabo-verdianos presentes no Parque 5 de Julho, onde assistiram à partida através de um ecrã gigante, depressa "exigiram" um golo aos comandados de Lúcio Antunes, face à inépcia dos jogadores sul-africanos.

No final, e face às oportunidades de golo desperdiçadas por Platini, Heldon e Júlio Tavares, os adeptos, alguns com exagero, exultavam já o feito da seleção, admitindo que, a jogar como hoje, Cabo Verde vai chegar aos quartos de final.

Poucos foram, porém, os festejos do empate com sabor a vitória na primeira vez que Cabo Verde disputa uma fase final da CAN, com apenas algumas buzinadelas nas ruas da capital, onde grande parte dos cidadãos trajavam ou camisolas dos "Tubarões Azuis" ou roupa em tons de azul.

A transmissão do jogo na televisão, certeza obtida meia hora antes do início do jogo (15:00 locais, 16:00 em Lisboa), levou a que a grande maioria dos praienses assistisse à partida em casa, juntando familiares e amigos em convívios que, no fim do encontro, rapidamente se estenderam para a rua.

"Angola e Marrocos não nos assustam", gritavam convictamente alguns jovens junto ao Parque 5 de Julho, dando como certa a passagem aos quartos-de-final da prova, apesar de Cabo Verde só ter disputado uma partida, faltando os jogos com aquelas duas seleções.

E se a convicção dos jovens era convincente, o primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, entrevistado pela Rádio de Cabo Verde (RCV), mostrou-se mais cauteloso, mas admitiu também que, a haver um vencedor, teriam de ser os "Tubarões Azuis".

"Cabo Verde fez um excelente jogo e dominou na primeira parte. A segunda foi mais equilibrada, mas tivemos uma prestação de grande nível num jogo inaugural de uma CAN e logo contra a equipa anfitriã", disse o chefe do executivo cabo-verdiano.

Para Neves, o empate acaba por ser um excelente resultado, pelo que se a equipa continuar com a "humildade" hoje demonstrada poderá ir longe.

"A nossa presença na CAN, por si só, é já uma vitória e o empate de hoje, perante as câmaras (de televisão) de todo o Mundo, dignificou Cabo Verde", concluiu.

Após o empate entre a África do Sul e Cabo Verde, a primeira jornada do Grupo A conclui-se ainda hoje com Angola a defrontar Marrocos.

A segunda jornada do Grupo A, a 23 deste mês, oporá Cabo Verde a Marrocos e Angola à África do Sul.

Na derradeira jornada, agendada par adia 27, os "Tubarões Azuis" defrontam os "Palancas Negras" (Angola), enquanto os "Bafana Bafana" (África do Sul) os "Leões do Atlas" (Marrocos).

Governo são-tomense está a negociar adiamento dos nonos Jogos Juvenis da CPLP




MYB – NFO - Lusa

São Tomé, 19 jan (Lusa) - O governo são-tomense está a negociar com as autoridades dos países da comunidade de língua portuguesa "a possibilidade" de adiamento dos nonos Jogos Juvenis da CPLP, previstos para a capital São Tomé, anunciou na sexta-feira o ministro dos Desportos.

"O governo tomou a decisão de negociar com os parceiros [da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] a possibilidade de realizar esses jogos numa data posterior a 2014. Esta negociação está a ser feita e brevemente o governo anunciará uma nova data em que o país possa acolher esta competição e com possibilidade de ganhar medalhas", disse Albertino Francisco.

De acordo com o governante, "as infraestruturas desportivas disponíveis, a capacidade financeira do estado, a questão do alojamento, da saúde e segurança", que o governo considera "fundamentais e que neste momento ainda não estão reunidas", foram apontadas como motivos para este adiamento.

O executivo são-tomense considera também que o estado de preparação dos atletas do arquipélago "para participar nesses jogos em casa e ganhar alguma medalha" ainda está muito aquém do desejado.

A realização dos nonos Jogos Juvenis da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) estava prevista para 2014 na capital são-tomense.

"Estamos a envidar todos os esforços para preparar os nossos atletas para participar nestes jogos, independentemente de eles se realizarem aqui ou noutro país", acrescentou Albertino Fernandes, adiantando que estão em curso obras para a realização dos jogos, avaliadas em mais de 32 mil milhões de Dobras (mais de 1,3 milhões de euros).

Ativista angolano denuncia corrupção na compra de armas brasileiras por Angola





Rafael Marques denuncia em seu blog a relação da empresa brasileira Taurus com comissário da Polícia Nacional angolana em vendas de armas. A Taurus terá facilitado o enriquecimento ilícito de Ambrósio de Lemos.

O comandante-geral da Polícia Nacional angolana, comissário Ambrósio de Lemos Freire dos Santos, poderá, em breve, tornar-se num dos maiores negociantes privados de armas da África Subsaariana.

Quem o afirma é o blog Maka Angola, dirigido pelo ativista dos direitos cívicos Rafael Marques. Em entrevista à DW África, Rafael Marques disse que o que está em causa é um negócio de venda de armas brasileiras à polícia angolana atráves de uma empresa de que o comandante da polícia é sócio.

Em agosto de 2009, por exemplo, a R&AB, empresa de Ambrósio de Lemos, teria intermediado a venda de 2.600 pistolas da fabricante brasileira de armas Taurus à Polícia Nacional angolana. Porém, a R&AB teria sobrefaturado a venda das armas à polícia angolana, de acordo com o blog Maka Angola.

"Além disso, os dados oficiais do governo brasileiro apontam para uma discrepância no número de armas vendidas. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil (MDIC) registou formalmente a venda a Angola de 2,613 armas leves", diz o texto do blog. "Há portanto uma discrepância de 13 pistolas entre os dados oficiais brasileiros e os registos da Polícia Nacional."

A R&AB também teria realizado o negócio com a Taurus sem ter licença de importação ou alvará de comercialização de armas, segundo o Maka Angola, que ainda acrescenta: "Fonte da Polícia Nacional garante que a empresa brasileira Taurus tinha claro conhecimento do esquema de corrupção do comandante-geral e o alimentou como forma de fechar negócio."

DW África: Como sustenta a afirmação de que Ambrósio de Lemos poderá vir a ser um dos maiores negociantes privados de armas da África Subsaariana?

Rafael Marques: Esta afirmação é sustentada por um negócio feito pelo comandante Ambrósio de Lemos, o comandante geral da Polícia Nacional em Angola. Ele é sócio de uma empresa, a R&AB, que é a representante, para a África Austral, da fabricante de armas brasileira Taurus – uma das quatro maiores fabricantes de armas, pistolas, revólveres e armas ligeiras no mundo. É uma venda de mais de 95 mil armas que tem estado a ser negociada. E, concretizando-se este montante, das quais já foram entregues 2.600 pistolas à Polícia Nacional, certamente o comandante será um dos principais negociantes de armas na África Austral.

DW África: Refere-se também que há uma discrepância entre o número de pistolas, entre os dados oficiais brasileiros e os registos da Polícia Nacional: aparentemente, faltarão algumas armas nesses registos. O que isso significa?

RM: É um negócio altamente corrupto porque, primeiro, as vendas de armas devem ser sempre autorizadas pelo governo brasileiro. A participação do comandante geral da polícia no negócio de venda de armas para a própria Polícia Nacional, como intermediário, é do conhecimento das autoridades brasileiras porque o nome do comandante consta da escritura da empresa intermediária, que é um documento público e encontra-se disponível no Diário da República. Portanto, qualquer cidadão angolano pode consultar e ver o nome do comandante ali estampado.

E mais: a declaração de venda de armas em Angola e pela própria empresa não confirma os dados – há essa discrepância nos dados apresentados pelo Ministério do Comércio brasileiro e o número de armas faturado à Polícia Nacional, de 13 armas. É importante que as autoridades brasileiras e a própria fabricante Taurus esclareçam esta situação. Porque, à partida, a Taurus viola as leis contra a corrupção em Angola ao engajar-se diretamente no negócio com um comandante geral da Polícia, no sentido de facilitar o seu enriquecimento ilícito como por via da decisão que ele tomou enquanto comandante da Polícia.

Em termos muito simples: o empresário Ambrósio de Lemos, que é o comandante geral da Polícia, vendeu armas à Polícia, autorizadas por ele próprio, o comandante Ambrósio de Lemos. E é importante continuar a denunciar este tipo de casos porque, neste momento em Angola, os dirigentes não conseguem realizar um ato público, um ato de serviço que não seja de seu interesse pessoal. E o país está à deriva exatamente por causa destes níveis, já há praticamente falta de controlo sobre a corrupção.

DW África: Portanto, no fundo, apesar da existência da Lei da Probidade Pública, continua tudo na mesma, mantém-se a impunidade, continua a haver corrupção, corruptores, corruptos, mas não sucede mais nada?

RM: Não se mantém na mesma. É pior. A lei foi simplesmente feita para conferir uma imagem de seriedade ao regime, uma imagem de que o presidente da República está interessado em combater a corrupção, quando, na verdade, hoje, a situação é pior – a começar pelo próprio presidente da República. Veja os cinco mil milhões de dólares que atribui ao filho para gerir um fundo [o Fundo Soberano do Petróleo] que legalmente não existe. São cinco mil milhões de dólares do Estado.

NOTA DA REDAÇÃO: A DW África tentou obter uma reação da polícia angolana, mas telefonemas e e-mails ficaram sem resposta.

Autora: Helena Ferro de Gouveia - Edição: Renate Krieger/António Rocha

Angola Fala Só - Antena Aberta: "Ouça o nosso grito" - apelo ao governo de Angola




Voz da América

Ouvintes queixam-se da pobreza e falta de qualidade de infra-estruturas em microfone aberto do Angola Fala Só

A pobreza, corrupção e falta de infra-estruturas adequadas continuam a ser a grande preocupação dos ouvintes do “Angola Fala Só” da Voz da América que reconhecem no entanto ter havido um aumento na construção dessas infra-estruturas.

Muitos queixaram-se no entanto que a construção dessas infra-estruturas, como estradas e hospitais é de fraca qualidade ou então não é acompanhada, como no caso dos hospitais, do envio de pessoas especializado.

Durante uma hora a Voz da América manteve um diálogo em microfone aberto com vários ouvintes depois de ter falhado o contacto com aquele que deveria ser o convidado desta semana para o diálogo com os angolanos, nomeadamente o dirigente da FNLA Lucas Ngonda.

A Voz da América desconhece a razão porque falhou o contacto com o dirigente da FNLA já que pouco antes do programa começar tinha sido confirmado o telefone de contacto com aquele dirigente político.

O programa foi assim dedicado a uma conversa com os ouvintes que versou essencialmente a situação nas diversas províncias  onde foram contactados.

O ouvinte Basílio Victorino da Lunda-Norte disse que a situação na sua província tinha vindo  “a piorar”.

“As estradas estão péssimas, não temos nada,” disse.

“ A maioria dos jovens estão desempregados,” acrescentou.

Andre Kawenha  da Lunda-sul disse não haver intolerância política na sua província.

“Os dirigentes da UNITA circulam sem problema e muitos dirigentes do PRS são professores,” disse.

Essa opinião foi compartilhada  por outro ouvinte da mesma província, Mihola Vunge.

Contudo um outro ouvinte da Lunda-Sul, João Guedes, não concordou, afirmando que  “para se ter emprego é preciso ser do MPLA”.

Guedes disse que a construção de um novo hospital na sua zona não tinha qualquer significado.

“Não tem nada, não tem médico, não tem enfermeiro,” acrescentou.

Pepe Mbonjo do Moxico abordou também a questão da falta de cuidados médicos afirmando que na sua zona doentes tem que ser transportados de bicicleta para a Zâmbia para serem tratados.

Mihola Vunge da Lunda Sul abordou também a questão da corrupção afirmando que os alunos têm que pagar “10.000 ou 15.000 kwanzas aos professores do ensino superior para serem aprovados nos exames finais”.

“Que tipo de quadros se estão a formar?” interrogou.

Vunge disse que muitas das novas infra-estruturas construídas por empresas chinesas não têm qualidade e “são de pouca duração”.

“Tem que haver mais fiscalização da qualidade dessas obras,” disse.

O padre Afonso Mavitidi do Uíge disse que é “vergonhoso” e uma “miséria” o estado de pobreza da província e a falta de estradas.

“ A situação não vai para a frente nem para trás,” disse o Padre Mavitidi.

“Peço aos nossos governantes que ouçam o nosso grito,” acrescentou.

Vários dos ouvintes referiram-se também á questão dos veteranos das forças armadas que não recebem os subsídios ou reforma a que têm.

Um dos ouvintes era um veterano da batalha do Cuito Cuanavale.

“Os que combateram connosco no Cuito Canavale, os cubanos, os da Namibia recebem o que lhes é prometido mas nós não,” disse..

O ouvinte, Andre Kawenha da Lunda Sul também se referiu ao problema dos veteranos.

“Os militares desmobilizados estão a passar mal,” disse Kawenha que acrescentou que ninguém em Angola quer ver o país cair na situação semelhante à República Democrática do Congo ou da República centro Africana.

“Apelo ao general Kopelika que ouça este meu grito,” disse Kawaenha numa referência ao chefe da casa Militar da presidência da república.

Talvez o ouvinte mais critico do governo tenha sido  Samuel Puati de Cabinda que disse quer toda a riqueza desse território  “é só para o governo do MPLA, para os governantes”.

“Os que estão no poder só cuidam com aquilo que é deles,” acrescentou acusando tropas governamentais de arbitrariedades e brutalidade.

“Há paz ou não em Cabinda?” Interrogou para acrescentar: “O MPLA é como era no passado o colono”.


Angola: Enfermeiros de "mãos amarradas" por causa de interpretação de decreto




Arão Ndipa – Voz da América

Os enfermeiros da região de Luanda paralisaram as suas actividades alegando estarem a cumprir com o referido decreto.

A interpretação de um decreto presidencial que remonta ao ano de 2010 tem forçado os enfermeiros de Luanda a cruzarem os braços em vários centros de saúde.

Alegadamente o referido documento proíbe estes profissionais de exercerem funções tais como a realização de consultas, de exames físicos ou de determinação de diagnósticos.

Como consequência os enfermeiros da região de Luanda paralisaram as suas actividades alegando estarem a cumprir com o referido decreto.

Esta situação tem causado muitos constrangimentos em matéria de assistência médica às populações uma vez que Luanda se debate com um deficit considerável de técnicos superiores de enfermagem e de pessoal médico qualificado.

Recentemente as autoridades governamentais reuniram-se com os dirigentes sindicais e outros responsáveis representativos dos enfermeiros para esclarecer as dúvidas relativas à interpretação do decreto presidencial 254 de 17 de Novembro de 2010.

Na reunião os responsáveis sanitários angolanos afirmaram que os técnicos de enfermagem dos níveis médio e básico devem continuar a observar as funções e responsabilidades que lhes são dadas em conformidade com o decreto 54 de 5 e Agosto de 2003, incluindo a realização de consultas, exames físicos e complementares e determinação de diagnósticos e prescrição de tratamentos nos termos dos protocolos existentes.

Para nos falar sobre o assunto, ouvimos o ministro da saúde, José Van Dunen, o secretário-geral da ordem dos enfermeiros, Paulo Luvualo e António Kileba, secretário-geral adjunto do sindicato dos técnicos de saúde de Luanda.


Moçambique: O JORNALISMO DO TACHO




Verdade (mz) - Editorial

Tem vindo a lume, nos últimos dias, a notícia do insucesso da greve dos médicos. Não sabemos se há algum fundamento nestas notícias veiculadas por órgãos públicos e analistas do regime, mas desconfiamos que não, até porque é prematuro falar do que quer que seja em relação à greve antes de se saber quais são e serão os seus reais impactos. O número de mortos que resultou da greve será guardado a sete chaves e apenas em Abril saberemos, mesmo que não nos digam, se o salário estará perto do exigido.

Na verdade, o insucesso da greve dos médicos já tinha sido profetizado pelos apóstolos da graxa. Só que da profecia à realidade, quando esta nasce das lentes turvas dos nossos “analistas” políticos, mora um abismo monumental. Diante, portanto, da impossibilidade de ver realizada a bendita profecia os sisentinhos da auto-estima passaram a relatar veemente o fracasso da greve. Gritavam feito loucos que “o serviço nacional de saúde” estava a funcionar muito bem, como se alguma vez o tivessem feito.

O conteúdo do e-mail tornado público pelo jornalista Lázaro Mabunda, segundo o qual os textos da Agência de Informação de Moçambique em relação à greve dos médicos tinham de ser aprovados pela assessora do Primeiro- -Ministro, diz muito do tipo de órgãos de informação que o país possui e do carácter dos responsáveis desses mesmos órgãos.

Este e-mail veio deixar claro que as notícias são escritas de um modo absolutamente especulativo e tendo como fundamento o facto de que as urgências continuam a funcionar. Na verdade, este é um “equívoco” propositado, o de avaliar a greve em função do funcionamento das urgências pois, desde o início, a AMM revelou que a mesma não englobava sectores.

Ou seja, não abrangeria os serviços sensíveis como urgências, pediatria e ginecologia... Porém, há quem quis, para salvaguardar o tacho, escamotear esta verdade e assim ridicularizar a luta de uma classe que clamava pelos seus direitos.

Infelizmente, esta é uma cartilha seguida por vários órgãos de informação alinhados que, na urgência de produzir novidades jornalísticas e desanimar os médicos, foi transformada em notícia. O que é cobarde e constitui um atentado intelectual é que este tipo de notícia condiciona opiniões e cola rótulos que, a maior parte dos leitores, por não ter convicções fortes, aceita facilmente.

O caso da referida agência de informação e a promiscuidade do seu dirigente não é certamente o mais grave, mas é um exemplo perfeito de como, às vezes, uma opinião aparentemente inocente tem um lado criminoso.

Toda a pessoa de bom senso deve ser alertada para este tipo de coisas. Porque a diferença entre uma opinião sensacionalista e uma opinião informada é, muitas vezes, uma coisa ténue.

Publicar uma notícia com este grau de irregularidade, ainda por cima eivada de preconceitos e claramente tendenciosa (referindo-se por exemplo com desdém ao líder da Associação Médica de Moçambique para salvaguardar viagens com o Chefe de Estado), é algo que condiciona fortemente quem lê e não tem espírito crítico para contestar o que lê.

Este tipo de acção constitui, na verdade, um atentado intelectual e é uma das mais perigosas consequências do poder do Estado sobre os órgãos de informação alinhados. Assim se constroem mitos e se manipulam verdades. Assim se inflacionam ideias e se conquistam simpatias.

É por causa de coisas como estas que as opiniões erradas abundam na praça pública. Não criar condições para uma educação de qualidade é um dos trunfos para manter o povo sem espírito crítico e assim continuar a escrever e a difundir atrocidades como estas. Lamentavelmente, claro. Ainda que tudo isto, a avaliar pela “vitória dos médicos, tenha dias contados.

O poder sempre foi um castelo de areia. Só precisa, como tudo, de um pouco mais de vento.

Revelações sobre “Mbuzini” são pista para chegar à verdade - Samito Machel




Rádio Moçambique

Samito Machel, filho do primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Moises Machel, é citado pelo diário Notícias de Maputo, a dizer que as recentes revelações de um ex-agente dos serviços secretos militares do antigo- regime sul – africano do “Apartheid”, que assumiu publicamente o seu envolvimento na morte do ex-estadista, são uma pista que pode conduzir ao esclarecimento da verdade sobre a tragédia.

Explicou que não só a família Machel está preocupada em conhecer os autores do acidente aéreo de Mbuzini, território sul-africano, “mas também é interesse de todos os moçambicanos em que se esclareça a verdade dos factos”.

Disse ainda estar crente de que as autoridades governamentais moçambicanas sempre se empenharam na investigação da tragédia de modo a que se chegue ao desfecho do acidente que vitimou Samora Machel e 33 outros membros da sua comitiva presidencial.

Numa entrevista exclusiva publicada pelo semanário «Sowetan Sunday World», Hans Louw, ex-agente do apartheid, afirmou que participou nos planos que causaram a morte, em Outubro de 1986, num desastre de avião, ao antigo Presidente de Moçambique, Samora Machel, bem como a outras 33 pessoas que integravam a sua comitiva.

Louw afirma que a morte de Samora Machel não resultou de um acidente e que não foi por acaso que o avião em que este seguia, um Tupolev de fabrico soviético vindo de Lusaka, Zâmbia, em direcção a Maputo, caiu nas colinas em Mbuzini, perto da fronteira sul-africana com Moçambique.


GRUPO DE MINEIROS AMPLATS PREVÊ CORTE DE 14.000 EMPREGOS NA ÁFRICA DO SUL





A Anglo American Platinum (Amplats), considerada a maior produtora de platina do mundo, anunciou hoje que pode vir a reduzir 14.000 postos de trabalho na África do Sul no âmbito de um plano de reestruturação, noticiou a AFP.

O plano, anunciado hoje em comunicado da empresa, inclui o fecho de quatro explorações na região de Rustenburg, a oeste de Joanesburgo, e a venda de uma mina considerada insustentável pela empresa.

"As mudanças propostas para o negócio, podem afectar até 14 mil postos de trabalho, 13 mil dos quais na área de Rustenburg", a 110 quilómetros a noroeste de Joanesburgo, informou o grupo, que estima uma redução da produção anual na ordem das 400 mil onças por ano.

As operações na África dos Sul estão insustentáveis "há já algum tempo" devido ao capital intensivo, baixa qualidade do minério e aumento dos custos, disse a empresa.
A África do Sul registou a maior greve de sempre do sector mineiro no país em 2012.

AS MARCAS DE ÁFRICA: SUBDESENVOLVIMENTO E NEOCOLONIALISMO




Martinho Júnior, Luanda

Os impactos da globalização segundo o decisório do capitalismo neo liberal em África são palpáveis, mas os especialistas têm muita dificuldade em, na profundidade, “avaliar os estragos” no tempo e no espaço, em toda a sua intensidade e amplitude antropológica, histórica, sociológica e efectivamente humana.

A dificuldade torna-se maior quando se avaliam também as questões ambientais que se inter-relacionam com as possibilidades da vida, até por que as ciências e investigações relativas à natureza e sobretudo à água interior do continente estão longe de cobrir o conhecimento satisfatório que possibilite a adopção de melhores opções para com o homem e com ele para com o planeta…

Não há dúvida que o “arco de crise” em África é de tal maneira tenso e crítico, que a matéria extravasa para as esferas antropológica e ambiental como em nenhum outro continente, até por que tudo isso acontece na maior parte dos casos longe dos olhos dos “media de referência” e na prática “aproveitando” o subdesenvolvimento crónico a que o continente tem sido votado historicamente, com evidências de brutal neocolonialismo e de formas mais subtis de opressão e exploração em apenas alguns casos, os casos excepcionais que ajudam a comprovar a regra…

Escrevo “avaliar os estragos” não por que esteja a ser conduzido a uma mera retórica de pessimismo sobre o continente africano, mas por que objectivamente a crise do capitalismo afecta África com facturas que põem em causa a lógica da vida como talvez em nenhum outro continente (daí uma das razões de me colocar entre aqueles que definem o seu pensamento por essa lógica antes de tudo o mais, por que o que está em causa é já, pelo menos em África e numa dimensão “crónica”, a sobrevivência).

Os terríveis desgastes ambientais provocados por acção directa (e indirecta) do homem fazem desaparecer as espécies (por via de vários “flagelos” atingindo também o homem) e os intermináveis conflitos entre os homens que se lhes adicionam, vão causando directa e indirectamente, milhões e milhões de mortos em África, resultando o conjunto na “irreversibilidade” do subdesenvolvimento por via do aumento exponencial da precariedade da vida!

Ao colocar-se na cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano, África assume o contraditório entre ricos e pobres, mas também a impotência de sair dessa situação em direcção a equilíbrios globais indispensáveis para o homem e para o planeta!

Quer no desaparecimento das espécies, quer nas mortes humanas (a média de idade do homem africano situa-se bastante abaixo do valor médio mundial), os números parecem cada vez mais impossíveis de contabilizar e os seus efeitos em cadeia, em redundância, impossíveis de equacionar!

A até há pouco maior “arca de Noé” do planeta está, nos termos que antecederam a Revolução Industrial, em termos de imensa biodiversidade, “em vias de extinção” e os Parques Nacionais são, sobretudo na África Austral e do Leste, cada vez mais vestígios residuais dum passado pré Vitoriano sob o ponto de vista dessa biodiversidade, mas elitista e sobrevivente à Rainha Vitória, conforme ao génio “oxfordiano” de Cecil John Rhodes e dos seus “fieis” seguidores de um século!...

A ciência e a investigação, o conhecimento, está ao serviço daqueles que por via da acumulação da riqueza são os herdeiros dos impérios coloniais britânico e francês e o que os extractos humanos africanos recebem de benefício estão condicionados, limitando-se o seu âmbito e impedindo de se poder avançar em direcção a amplos contextos de equilíbrio humano e ambiental.

Imaginem o que se passa (e não se passa) com o homem que habita o continente onde o choque permanente se vem sucedendo desde o tempo do embrião do capitalismo global, do tempo do “comércio triangular” que tinha na escravatura e no trabalho escravo uma das componentes que atraía os interesses da burguesia nascente europeia a África e às Américas!

A luta do homem feito “marginal” que define o imenso e difuso proletariado africano é (ainda) uma luta pela sobrevivência, que nunca alcançou a etapa da energia potenciadora que a partir da consciência em si do proletariado, conforme àquele surgido com a Revolução Industrial, assume a dialéctica no quadro da luta de classes!

A “democracia representativa” ao não ser aprofundada absorvendo a vocação pela cidadania e a participação, favorece o papel das elites e cristaliza o processo fazendo aumentar as tensões, os conflitos e as guerras, que por seu turno impedem encontrar soluções no quadro da luta contra o subdesenvolvimento !

Por essa razão se tornam algumas elites originariamente vitorianas senhoras também da biodiversidade possível neste início de século XXI: aquela que por causa ainda do capitalismo é confinada por via do “eco-turismo” aos Parques Naturais, incluindo os transfronteiriços que respondem ao “Peace Parks Foundation” na África Austral… que vão servindo de exemplo aos Parques Naturais a outras latitudes africanas…

Se não chegou a esse patamar, acaso a sobrevivência desse imenso proletariado africano inibe as potencialidades de luta em prol da lógica com sentido de vida, quando essa lógica começa a ser tão premente para o planeta e acima de tudo para toda a humanidade e quando a dialéctica inerente a este processo de globalização neoliberal e neocolonial impõe a esse proletariado as condições mais extremas em termos de sobrevivência?!

O homem africano está preso às ingerências e manipulações que chegam de fora, sem melhores alternativas, por que o ciclo neocolonial se abateu efectivamente sobre o continente, em alguns casos intimamente associado às heranças coloniais!

Por isso uma coisa me parece certa para as elites post vitorianas que se têm encarregues das potencialidades do “eco-turismo”: para que haja alguma vez capacidade equilibrada de gestão para esta casa comum que dá pelo nome de Terra e nos termos da vida tal qual ela é hoje conhecida, uma capacidade que respeite planeta e humanidade, nada nem ninguém poderá levar de ânimo leve a existência e as aspirações desse proletariado tão historicamente avassalado pelo subdesenvolvimento, nem mesmo quando as únicas comunidades existentes no seu espaço físico-geográfico de implantação e acção, são comunidades “residuais” que animam os desertos!

Os poderosos, no âmbito da Revolução Industrial e da contemporânea Revolução Tecnológica, ao fim e ao cabo sempre procuraram “cultivar” em África os processos de lucro e especulação que os levaram a agarrar-se ao continente, com o apenas indispensável que para ele “transferem”, mesmo que beneficiem dos imensos conhecimentos científicos e técnicos acumulados!

Em África tem-se sobretudo desenvolvido o sector primário da economia e a implantação de estruturas e infra estruturas resulta em função disso e dos estímulos que as elites aplicam aos outros sectores em função desse sector primário, de forma circunscrita, pontual, limitada!

Quanto, por exemplo na África Austral, o eco-turismo não está a ser dimensionado pelas mesmas elites que são detentoras dos projectos kimberlíticos dos diamantes, ou das minas de ouro e urânio, bem como do seu aproveitamento tecnológico e do seu comércio a nível global?

Por muito sedutoras que essas experiências sejam, não passam logo à partida de meras miragens no deserto, ou não fossem essas elites de cartel, um dos mais conseguidos “aríetes” de penetração em África, a verdadeira “lança” típica do império que hoje se move por vias das condutas económicas e financeiras e que vai inspirando, na medida de sua própria crise, a emergência de outros!

As evidências de neo colonialismo em África são cada vez mais enfáticas e uma grande parte das elites africanas não passam de meros instrumentos dos interesses que são estimulados a partir das opções assumidas pela aristocracia financeira mundial e por tabela pelas oligarquias ou elementos decisórios dos “emergentes”!

Desse modo será extremamente penoso ganhar capacidade de luta contra o subdesenvolvimento e enveredar-se por um caminho de desenvolvimento efectivamente sustentável, capaz de renascimento humano e garante de respeito para com o homem, a natureza e o planeta!

Martinho Júnior, Luanda - 13/01/2013

A consultar:
- Memória da escravatura e da sua abolição – Martinho Júnior – http://paginaglobal.blogspot.pt/p/memoria-da-escravatura-e-da-sua-abolicao.html
- Um planeta à beira do precipício – Martinho Júnior – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/um-planeta-beira-do-precipicio.html
- Salvar a humanidade já! – Martinho Júnior – http://pagina--um.blogspot.com/2011/02/salvar-humanidade-ja.html
- A lógica com sentido de vida – II – Martinho Júniir – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/12/01/a-logica-com-sentido-da-vida-ii-angola-cuba/
- A lógica com sentido de vida – III – Martinho Júnior – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/12/a-logica-com-sentido-da-vida-iii.html
- A lógica com sentido de vida – IV – Martinho Júnior – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/12/clicar-para-ampliar-martinho.html
- A lógica com sentido de vida – V – Martinho Júnior – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/12/a-logica-com-sentido-da-vida-v.html
- Construamos uma arca de Noé que nos salve a todos – Miguel d’Escoto – Martinho Júnior – http://pagina--um.blogspot.com/2010/08/construamos-uma-arca-de-noe.html
- A Terra é um ser vivo – José Lutzemberger – http://www.anjodeluz.com.br/gaiaeviva.htm
- “La Tierra no necesita de nosotros, nosotros necesitamos de la Tierra” – Leonardo Boff – Alberto Mora – http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=ES&cod=45728; http://www.rebelion.org/noticia.php?id=101770
- Razões e estratégias do ecossocialismo – Michael Lowy – http://www.outraspalavras.net/2012/10/30/razoes-e-estrategias-do-ecossocialismo/

Gravura: Quadro de Malangatana

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