quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Angola | A MANIFESTAÇÃO DOS INORGÂNICAS E XANGUTEIROS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O 11 de Novembro de 1975 foi possível porque antes os angolanos derrotaram os invasores estrangeiros nas Grandes Batalhas do Ntó (Cabinda) e Kifangondo (Luanda). Onde estão os heróis que resistiram à guerra e aos anos? Ninguém sabe. Nem é preciso saber. Graças ao Presidente João Lourenço (e mais ninguém) Angola é um Estado Soberano. Hoje, 23 de Novembro de 1975, faz precisamente 47 anos, foi travada no Cuanza Sul a primeira grande batalha após a Independência Nacional. No Ebo as FAPLA e combatentes cubanos, liderados pelo comandante Arguelles, desbarataram as tropas invasoras.

Os heroicos combatentes angolanos e cubanos lutaram “bota com bota” contra o inimigo. Foi assim que o comandante António Faceira (Defunto) qualificou os combates de proximidade. Vários soldados sul-africanos, altos e loiros, foram presos durante a batalha e mais tarde mostrados em Adis Abeba, na sede da OUA (hoje União Africana). Para que África e o mundo soubessem que Angola estava a ser agredida pelo regime racista de Pretória, usando como capa os homens de Jonas Savimbi. O mundo ficou indiferente. Nem um protesto. 

Aa grandes potências mundiais não mandaram milhares de milhões para o Governo de Angola se defender do regime racista de Pretória. Nem armas. Essa factura foi paga inteiramente por Cuba, Jugoslávia e União Soviética. Mas Cuba em primeiríssimo lugar. Na Grande Batalha do Ebo morreram cubanos. O próprio general Arguelles morreu. Está sepultado no Cemitério do Alto das Cruzes, em Luanda, como grande filho de Angola que é. 

Naquele 23 de Novembro, se FAPLA e cubanos fraquejassem, se as tropas invasoras sul-africanas passassem, hoje Angola era um bantustão da África do Sul racista com a UNITA a fornecer a criadagem para fingir que era um país independente. Graças ao Presidente João Lourenço, hoje ninguém assinalou esta data histórica. Para quê? Angola só existe desde 2017.

A UNITA divulgou hoje um comunicado a lamentar a morte do artista Nagrelha. Eu também lamento. Sou fã dele ainda que não seja adepto do kuduro. O homem é que me interessa. O seu percurso, a sua figura. Contestatário, marginal, indomável. Revejo-me muito nele. Só me movo se for para me perder. Vou para onde meus passos me levam sem bússola nem Cruzeiro do Sul. Os meus passos é que me guiam, mais ninguém, nem os que tiveram pai, nem os que tiveram mãe. 

REPÚBLICA DO GANA DEFRONTA PORTUGAL NO MUNDIAL

QUEM?

Gana (oficialmente República do Gana; em inglês: Republic of Ghana) é um país da África Ocidental, limitado a norte pela Burquina Fasso, a leste pelo Togo, a sul pelo Golfo da Guiné e a oeste pela Costa do Marfim. A capital e maior cidade do Gana é Acra. A palavra Gana significa "guerreiro" e é derivada do nome do antigo Império do Gana.[5]

O Gana foi habitado em tempos pré-coloniais por antigos reinos dos acãs como o Reino Bono e o Império Axante. Antes do contato com os europeus, o comércio entre os acãs e vários estados africanos floresceu devido à riqueza do ouro acã. O comércio com os países europeus começou após o contacto com o Império Português nos séculos XV e XVII. Os ingleses estabeleceram a Costa do Ouro como colônia em 1874.[6]

Costa do Ouro alcançou a independência do Reino Unido em 1957,[7] e se tornou a primeira nação Africana a fazê-lo do colonialismo europeu.[8][9] O nome "Gana" foi escolhida para a nova nação para refletir o antigo Império do Gana, que se estendia por grande parte da África Ocidental.

O Gana é um membro da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul, a Organização das Nações Unidas, a Comunidade das Nações, a União Africana, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental e um membro associado da Francofonia. Gana é um dos maiores produtores de cacau do mundo[10] e também onde se situa o Lago Volta, o maior lago artificial do mundo em superfície.[11]

Etimologia

A palavra Gana significa Guerreiro Rei (em inglês: "Warrior King") e foi o título concedido aos reis do Império do Gana, no Oeste Africano medieval.[12]

Geograficamente, o Império do Gana era de aproximadamente 500 milhas (equivalente à 800 km) ao norte e oeste do atual Gana, e governou territórios na área do Rio Senegal e leste em direção ao Rio Níger, na moderna SenegalMauritânia e Mali.[13]

Segundo os griôs, após o Império do Gana ter sido dominado pelo Império do Mali, o povo de Gana fugiu para o sul, tentando manter suas tradições religiosas e não se converterem ao Islã, esta seria a origem mitológica do atual nome da República de Gana. Gana foi adotada como o nome legal para a Costa do Ouro combinado com a Togolândia britânica após a conquista da autonomia em 6 de Março de 1957.[13]

Ver a História – Wikipédia

UMA NOTÍCIA FALSA PODE DESTRUIR O MUNDO?

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

Quando a informação das duas mortes causadas pela queda de um míssil na Polónia chegou à reunião da semana passada do G20, em Bali, o que o mundo sabia estava condicionado por um despacho da Agência Associated Press, que, violando regras básicas do jornalismo, citava uma única fonte (deviam ser pelo menos duas, de origens distintas), anónima (num caso desta gravidade, e em clima de propaganda de guerra, aceitar o anonimato é um erro grave), identificada como "sénior" da inteligência norte-americana (seja lá o que isso for) e sem contraditório. Segundo a AP, essa fonte dava como certo que se tratava de um ataque russo.

No entretanto, outras agências, "falcões" da guerra, militares, analistas, comentadores em todos os meios de comunicação social, mesmo ressalvando a incerteza das informações disponíveis, começavam a falar detalhadamente da possibilidade do ataque à Polónia, país da NATO, motivar o envolvimento direto de forças da aliança militar ocidental numa guerra contra a Rússia.

Nas televisões, em todos os canais de notícias, vi passar durante umas duas ou três horas, em carrossel incessante, variantes desta informação, taxativa: "Mísseis russos atingem a Polónia"

O espírito dessas comunicações preparava já a opinião pública para a possibilidade da deflagração de uma III Guerra Mundial e até para a guerra nuclear.

Recordo que, oficialmente, a Rússia tem 1600 ogivas nucleares ativas, os Estados Unidos o mesmo número e Inglaterra e França acrescentam 410 ogivas ao lado da NATO. Deve dar para destruir a Humanidade várias vezes em qualquer coisa como 10 minutos, caso esses países disparassem mísseis com essa carga uns contra os outros.

Em Bali, onde inicialmente a maior parte dos chefes de Estado e de governo presentes só tinham a informação que estava a ser dada pelos jornalistas, Ursula von der Leyen sugeriu que os dirigentes dos países do G7 (os mais industrializados do mundo) e os que fossem membros da NATO reunissem para decidir o que fazer: Estados Unidos da América, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e os dois representantes da União Europeia convidaram a Espanha e a Holanda, da NATO, a participar na discussão.

Ficou, portanto, o destino de toda a Humanidade a ser debatido por este grupo ocidental (mais o Japão, que alinha sempre com os Estados Unidos), com base num critério formalmente arbitrário: porquê G7+NATO, porquê essa mistura informal de estruturas com naturezas e missões tão diferentes? Porque é que, segundo as notícias, a Turquia, que é da NATO e do G20, não foi convocada para esta reunião?...

Ostensivamente, este grupo decidiu ignorar os chefes de Estado e de governo do restante G20 (as maiores economias do planeta), incluindo líderes de grandes democracias: África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, México, China, Índia, Indonésia e Turquia (para não falar da Rússia) ficaram de fora de uma discussão que, basicamente, tinha este tema: "Vamos, ou não, para a guerra com a Rússia?..."

Como é que se deixam os representantes de quase metade da população mundial, com quem se estava antes a debater o futuro do planeta, "pendurados" na sala ao lado de um debate que podia decidir o destino de toda a gente?!

Quando o presidente norte-americano Joe Biden, já com conhecimento trabalhado pelos seus serviços de informação, anunciou que, afinal, o míssil que caiu na Polónia provinha, quase de certeza, das forças ucranianas, a correção nos media lá se fez.

A agência norte-americana Associated Press, autora, portanto, de "fake news" de difusão mundial, acabaria por publicar, bastante tempo depois, uma correção à notícia inicial. Claro que, se um dia uma notícia falsa deste tipo provocar a guerra nuclear, não vai haver tempo para um desmentido...

A ostensiva indiferença com que este norte ocidental, mais Japão, tratou os países do sul e oriente, numa questão de relevância mundial, teve uma réplica insólita em Bali: inusitadamente, contra a tradição chinesa e oriental, Xi Jiping fez um número para as câmaras televisivas. Ele ralhou com o presidente canadiano por este ter passado para a imprensa o conteúdo de umas negociações secretas entre Canadá e China. "Não é assim que se conduzem conversações", disse o líder chinês ao embaraçado primeiro-ministro canadiano.

Não sei se antes da reunião G7+NATO (sem Turquia) separada do resto do G20, Xi Jiping seria capaz de fazer esta cena, mas deteto nela a irritação dos dirigentes do sul oriental face à cada vez mais evidente infantil irresponsabilidade dos dirigentes do norte ocidental.

O mundo está a dividir-se, sim, mas não é entre países democráticos e países autoritários.

*Jornalista

"Liberdade para todos." No Catar, Marcelo fala sobre mulheres, migrantes e LGBTI+

Presidente da República tinha prometido falar de direitos humanos no Catar e a promessa foi cumprida. Sob pretexto da educação de qualidade para todos, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu coesão social que deve incluir toda a gente, independentemente de ideias políticas, proveniências socioeconómicas e orientação sexual.

A premissa base era falar do quarto objetivo do desenvolvimento sustentável das Nações Unidas - educação de qualidade - e Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu, de forma mais ou menos clara, incluir a questão dos direitos humanos que havia dito em Portugal que levaria até ao Catar.

Ao lado do presidente do Gana, Marcelo até começou por fazer uma comparação com o futebol para, em seguida, colocar os temas todos de rajada.

"Temos de ter liberdade para todos. Aqui temos apenas equipas masculinas de futebol, mas em Portugal a maioria dos estudantes no ensino superior são mulheres, a maioria dos doutoramentos são de mulheres", começa por realçar o Chefe de Estado notando que Portugal está, neste campo, acima da média europeia.

Da educação para a coesão social foram segundos. "Mas a coesão social é muito mais do que isso, é incluir toda a gente, incluir os pobres - e ainda temos muitos cidadãos pobres -, incluir os migrantes, - as migrações são uma realidade que preocupam a Europa. Incluir pessoas com diferenças socioeconómicas, ideias politicas e até diferentes orientações, sabemos que cada país tem a sua maneira de pensar, mas também orientação sexual e de género", defendeu Marcelo Rebelo de Sousa nesta conferência promovida pela Fundação do Catar e pela Fundação Aga Khan.

"Todos os objetivos diferentes, pensando em 2030, precisam de ser colocados juntos", destaca o presidente para quem é "muito importante investir e apostar no ensino superior para mudar cientifica e tecnologicamente mais rápido".

Mas fica a nota que, "ao mesmo tempo", aqueles que não conseguem pagar essa educação não podem ser deixados para trás. "E nunca, nunca esquecer que isto é o que chamamos, às vezes, direitos humanos. Direitos humanos são direitos sociais, económicos, políticos mas também direitos individuais e isso é tão importante. O direito de acesso à educação é vital, isso faz a diferença", conclui.

Filipe Santa-Bárbara | TSF | Imagem: © Manuel de Almeida/Lusa

Regime do Catar tal como é: Arrogante, antidemocrático e violador dos direitos humanos

Embaixador foi chamado. Governo do Qatar desagradado com declarações de Marcelo e Costa

Vice-primeiro-ministro do Qatar disse a embaixador português que essas declarações não são aceitáveis e que só a histórica amizade que une os dois países vai evitar que sejam tomadas medidas drásticas.

O embaixador português em Doha, no Qatar, foi chamado pelo vice-primeiro ministro daquele país do Médio Oriente para lhe mostrar o desagrado do governo local perante as declarações consideradas "hostis" de figuras do Estado português como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, avançou na quarta-feira a CNN Portugal.

O governante do Qatar declarou a Paulo Pocinho que essas declarações não são aceitáveis e que só a histórica amizade que une os dois países vai evitar que sejam tomadas medidas drásticas.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros confirmou à CNN Portugal que o embaixador de Portugal em Doha esteve, "conforme prática habitual", no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, no quadro da preparação da deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa ao país a fim de assistir ao primeiro jogo da seleção do Mundial de futebol, mas sem adiantar detalhes.

O Presidente da República, muito criticado por ter mudado o assunto quando questionado sobre os direitos humanos após a vitória de Portugal sobre a Nigéria em Alvalade há cerca de uma semana e mais recentemente por ir ao Qatar assistir ao encontro, garantiu que vai falar sobre a questão dos direitos humanos quando estiver naquele país e explicou que Portugal mantém "relações diplomáticas com a maioria dos Estados do mundo e a esmagadora não é democrática".

Já António Costa disse que os responsáveis políticos portugueses vão estar no Qatar a apoiar a seleção e não a violação dos direitos humanos, a discriminação das mulheres ou o regime do Qatar. "O Campeonato do Mundo é lá e quando formos lá não vamos seguramente apoiar o regime do Catar, a violação dos direitos humanos no Catar e a discriminação das mulheres no Catar. Quando formos lá vamos apoiar a seleção nacional, a seleção de todos os portugueses, a seleção que veste a bandeira", frisou o primeiro-ministro, que vai assistir ao terceiro encontro de Portugal na fase de grupos, diante da Coreia do Sul.

Também o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, vai estar no Qatar.

A deputada do PS e antiga ministra Alexandra Leitão defendeu, no domingo, que Portugal não devia fazer-se representar ao mais alto nível no Mundial de futebol que está a decorrer no Qatar. Para a ex-governante, as três mais altas figuras do Estado não deveriam assistir aos jogos da seleção no Mundial do Qatar, país que "não merece nenhum respeito do ponto de vista dos direitos humanos".

A estreia de Portugal no Mundial 2022 vai ser esta quinta-feira frente ao Gana, em jogo a contar para o Grupo H da competição que termina a 18 de dezembro.

Imagem: Tamim bin Hamad bin Khalifa Al Thani, emir dono do Catar / Wikipédia

A GUERRA APÓS NOVE MESES, SEGUNDO CHOMSKY

Noam Chomsky* | em entrevista a C.J. Polychroniou, no Other News | em Outras Palavras | Tradução: Maurício Ayer

Breve panorama do conflito na Ucrânia. Após derrotas militares, Moscou evoca poderio nuclear. Europa capitula aos EUA, que usam seu arsenal para dissuadir qualquer resistência. Paz está mais distante; e os falcões da guerra, apreensivos

#Publicada em português do Brasil

A guerra da Rússia na Ucrânia se prolongou por quase nove meses, e agora escala a níveis altamente letais. Putin tem como alvo a infraestrutura de energia da Ucrânia e pôs em pauta repetidamente o fantasma das armas nucleares. Os ucranianos, por outro lado, continuam acreditando que podem derrotar os russos no campo de batalha e até retomar a Crimeia. De fato, a guerra na Ucrânia não tem fim à vista. Como Noam Chomsky aponta nesta entrevista, a escalada do conflito colocou as alternativas diplomáticas ainda mais em segundo plano.

Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofia do MIT e professor laureado de linguística e catedrático Agnese Nelms Haury no Programa de Meio Ambiente e Justiça Social da Universidade do Arizona. Um dos estudiosos mais citados do mundo e um intelectual público considerado por milhões de pessoas como um patrimônio nacional e internacional, Chomsky publicou mais de 150 livros em linguística, pensamento político e social, economia política, estudos de mídia, política externa dos EUA. Seus livros mais recentes são The Secrets of Words (com Andrea Moro; MIT Press, 2022); A retirada: Iraque, Líbia, Afeganistão e a fragilidade do poder dos EUA (com Vijay Prashad; The New Press, 2022); e The Precipice: Neoliberalism, the Pandemic and the Urgent Need for Social Change (com C.J. Polychroniou; Haymarket Books, 2021).

C.J. Polychroniou – Noam, a guerra na Ucrânia se aproxima da marca do nono mês e, em vez de um arrefecimento, caminha para uma “escalada sem controle”. Na verdade, está se tornando uma guerra sem fim, já que a Rússia tem alvejado a infraestrutura de energia da Ucrânia nas últimas semanas e intensificado seus ataques na região leste do país, enquanto os ucranianos continuam pedindo mais e mais armas do Ocidente, acreditando que têm a capacidade de derrotar a Rússia no campo de batalha. Como as coisas estão na conjuntura atual, a diplomacia pode acabar com a guerra? De fato, como é possível desescalar uma guerra quando o nível de intensidade é tão alto e os lados em confronto parecem incapazes de chegar a uma decisão sobre as questões sobre as quais eles têm conflito? Por exemplo, a Rússia nunca aceitará reverter as fronteiras para a posição que estavam antes de 24 de fevereiro, quando a invasão foi lançada.

Noam Chomsky – Tragédia anunciada. Vamos fazer uma breve retrospectiva do que discutimos ao longo de meses.

Antes da invasão de Putin, havia alternativas baseadas geralmente nos acordos de Minsk, que poderiam ter evitado o crime. Há um debate não resolvido sobre se a Ucrânia aceitou esses acordos. Pelo menos verbalmente, a Rússia parece ter feito isso até pouco antes da invasão. Os EUA os rejeitaram em favor da integração da Ucrânia ao comando militar da OTAN (ou seja, dos EUA), recusando-se também a levar em consideração quaisquer preocupações de segurança russas, conforme já foi admitido. Esses movimentos foram acelerados sob Biden. Poderia a diplomacia ter conseguido evitar a tragédia? Só havia uma maneira de descobrir: tentar. Essa possibilidade foi ignorada.

Putin rejeitou os esforços do presidente francês Macron, até quase o último minuto, de oferecer uma alternativa viável à agressão. Rejeitou-os no final com desprezo – um tiro no pé de si próprio e da Rússia, pois colocou a Europa no bolso de Washington, o que era seu maior sonho. Ao crime de agressão somava-se o crime de tolice, do seu ponto de vista.

As negociações Ucrânia-Rússia ocorreram sob os auspícios da Turquia em março-abril. Falharam. Os EUA e o Reino Unido se opuseram. Devido à falta de investigação, o que é parte do menosprezo geral da diplomacia nos círculos tradicionais, não sabemos até que ponto essa oposição foi um fator para o colapso das negociações.

Washington inicialmente esperava que a Rússia conquistasse a Ucrânia em poucos dias e estava preparando um governo no exílio. Analistas militares ficaram surpresos com a incompetência militar russa, a notável resistência ucraniana e o fato de a Rússia não ter seguido o esperado modelo de guerra dos EUA e Reino Unido (também o modelo seguido por Israel na indefesa Faixa de Gaza): atacar direto na jugular, usando armas convencionais para destruir comunicações, transporte, energia, o que quer que mantenha a sociedade funcionando.

Com a escalada do conflito, as opções de diplomacia diminuíram. No mínimo, os EUA poderiam retirar sua insistência em sustentar a guerra para enfraquecer a Rússia, barrando assim o caminho para a diplomacia.

Os EUA então tomaram uma decisão fatídica: continuar a guerra para enfraquecer severamente a Rússia, evitando assim as negociações e fazendo uma aposta medonha: que o destino de Putin seria fazer  as malas e escapar da derrota para o esquecimento, se não pior, e que não usaria as armas convencionais que, como todos sabem, ele tinha com capacidade para destruir a Ucrânia.

Se os ucranianos querem arriscar a aposta, isso é problema deles. O papel dos EUA é problema nosso.

Agora Putin avançou para a escalada que fora prevista, “visando a infraestrutura de energia da Ucrânia nas últimas semanas e intensificando seus ataques na região leste do país”. A escalada de Putin igualando-se ao modelo celebrizado pelos EUA-Reino Unido-Israel foi condenada com razão por sua brutalidade – condenada justamente por aqueles que aceitam os “originais” com pouca ou nenhuma objeção, e cuja aposta medonha deu as bases para essa escalada, tal como foi amplamente advertido. Não haverá responsabilização, embora algumas lições possam ter sido aprendidas.

Enquanto os apelos liberais, mesmo muito moderados, para que se considerasse uma saída diplomática dando apoio total à Ucrânia foram imediatamente submetidos a uma torrente de difamação, e muitas vezes apagados com medo, as vozes do mainstream que clamam por diplomacia foram poupadas desse tratamento, incluindo vozes da principal revista do establishment, a Foreign Affairs. Pode ser que as preocupações a respeito de uma guerra destrutiva, com consequências potencialmente cada vez mais sinistras, estejam chegando aos “falcões” neocons que parecem estar conduzindo a política externa de Biden. É o que parecem indicar algumas de suas declarações recentes.

Muito possivelmente eles também estão ouvindo outras vozes. Enquanto as corporações de energia e militares dos EUA estão rindo à toa, olhando as contas no banco, a Europa está sendo duramente castigada pelo corte de suprimentos russos e pelas sanções iniciadas pelos EUA. Isso é particularmente verdadeiro para o complexo industrial alemão que é a base da economia europeia. Permanece uma questão em aberto se os líderes europeus estarão dispostos a monitorar o declínio econômico da Europa e o aumento da subordinação aos EUA, e se suas populações vão tolerar tais consequências da adesão às demandas dos EUA.

O golpe mais dramático para a economia europeia é a perda do gás russo barato, agora parcialmente substituído por suprimentos americanos muito mais caros (aumentando também a poluição em trânsito e na distribuição). Isso, porém, não é tudo. Os suprimentos russos de minerais desempenham um papel essencial na economia industrial da Europa, incluindo os esforços para mudar para energia renovável.

O futuro do abastecimento de gás para a Europa foi prejudicado severamente – talvez permanentemente – com a sabotagem dos gasodutos Nord Stream que ligam a Rússia e a Alemanha através do Mar Báltico. Este é um grande golpe para os dois países. Foi recebido com entusiasmo pelos Estados Unidos, que vinham tentando há anos barrar esse projeto. O secretário de Estado [Antony] Blinken descreveu a destruição dos oleodutos como “uma tremenda oportunidade para remover de uma vez por todas a dependência da energia russa e, assim, tirar das mãos de Vladimir Putin a belicização da energia como meio de avançar em seus desígnios imperiais.”

Os fortes esforços dos EUA para bloquear o Nord Stream precederam em muito a crise na Ucrânia e as atuais narrativas febris sobre os desígnios imperiais de longo prazo de Putin. Eles remontam aos dias em que Bush II olhava nos olhos de Putin e percebia que sua alma era boa.

O presidente Biden informou à Alemanha que se a Rússia invadisse a Ucrânia, “então não haverá mais Nord Stream 2. Vamos colocar um fim nisso”.

Essa sabotagem, um dos eventos mais importantes dos últimos meses, foi rapidamente despachada para a obscuridade. Alemanha, Dinamarca e Suécia conduziram investigações sobre a sabotagem em suas águas próximas, mas mantêm silêncio sobre os resultados. Há um país que certamente tinha capacidade e motivo para destruir os oleodutos. Isso não pode ser mencionado na sociedade polida. Então vamos deixar por isso mesmo.

Ainda há uma oportunidade para o tipo de esforço diplomático que as vozes do establishment estão pedindo? Não podemos ter certeza. Com a escalada do conflito, as opções diplomáticas diminuíram. No mínimo, como mencionado, os EUA poderiam retirar sua insistência em sustentar a guerra para enfraquecer a Rússia. Uma posição mais forte é a das citadas vozes do establishment: pedem que opções diplomáticas sejam exploradas antes que os horrores se tornem ainda piores, não apenas para a Ucrânia, mas muito além.

As autoridades ucranianas afirmam que têm uma estratégia para retomar a Crimeia porque foi anexada ilegalmente por Moscou em 2014. Anúncios semelhantes foram feitos antes mesmo da invasão da Ucrânia pela Rússia. Embora nenhum estrategista militar acredite que a Ucrânia esteja em posição de retomar a Crimeia, isso não seria mais uma evidência de que não há um fim à vista para a guerra Rússia-Ucrânia? Não é esta outra razão pela qual as armas ATACMS de longo alcance que a Ucrânia diz precisar não devem ser entregues a eles?

A administração Biden e o Pentágono tiveram o cuidado de limitar o fluxo maciço de armas àqueles tipos que provavelmente não conduziriam a uma guerra OTAN-Rússia, que seria efetivamente terminal para todos. Se esses assuntos delicados podem ser mantidos sob controle, ninguém pode ter certeza. Mais uma razão para tentar acabar com os horrores o mais rápido possível.

A China alertou a Rússia contra ameaças de usar armas nucleares na guerra contra a Ucrânia. Seria esse um sinal de que Pequim pode estar pensando em se distanciar das aventuras militares de Putin na Ucrânia? Em ambos os casos, indica que há limites para a amizade entre China e Rússia, não é?

Há poucas evidências, que eu saiba, de que a China esteja se distanciando da Rússia. Ao contrário, parece que suas relações estão se estreitando em oposição comum ao entrincheiramento de um mundo unipolar dirigido pelos Estados Unidos, sentimentos compartilhados na maior parte do mundo. A China certamente se opõe ao uso de armas nucleares, assim como qualquer um que ainda tenha um pingo de sanidade. E como quase todo o mundo, quer uma solução rápida para o conflito.

Deveria ser uma grande preocupação o fato de que a conversa sobre a guerra nuclear esteja sendo cogitada casualmente como uma possibilidade a ser considerada.

As conversas sobre armas nucleares têm ocorrido principalmente no Ocidente. A Rússia reiterou a posição universal dos Estados nucleares: que eles podem recorrer a armas nucleares em caso de ameaça à sobrevivência. Essa posição tornou-se mais perigosa quando Putin anexou partes da Ucrânia, estendendo a doutrina universal a um território mais amplo.

Não é bem verdade que a doutrina é universal. Os EUA têm uma posição muito mais extrema, enquadrada antes da invasão da Ucrânia, mas anunciada apenas recentemente: uma nova estratégia nuclear que a Associação de Controle de Armas descreveu como “uma expansão significativa da missão original dessas armas, ou seja, dissuadir ameaças existenciais contra os Estados Unidos.”

A expansão significativa é explicada pelo almirante Charles Richard, chefe do Comando Estratégico dos EUA (STRATCOM). Sob a recém-anunciada Revisão da Postura Nuclear, as armas nucleares fornecem o “espaço de manobra” necessário para os Estados Unidos “projetar estrategicamente o poder militar convencional”. A dissuasão nuclear é, portanto, uma cobertura para operações militares convencionais em todo o mundo, impedindo outros de interferir nas operações militares convencionais dos EUA. As armas nucleares, portanto, “impedem todos os países, o tempo todo” de interferir nas ações dos EUA, continuou o almirante Richard.

Stephen Young, representante sênior de Washington na Union of Concerned Scientists (União de Cientistas Preocupados), descreveu a nova Revisão da Postura Nuclear como “um documento aterrorizante [que] não apenas mantém o mundo em um caminho de risco nuclear crescente, mas aumenta esse risco”, já intoleravelmente alto, “de muitas maneiras”.

Uma avaliação justa.

A imprensa mal noticiou a Revisão da Postura Nuclear, descrevendo-a como não sendo uma grande mudança. Por acaso eles estão certos, mas por razões que evidentemente eles desconhecem. Como o comandante do STRATCOM, Richard, sem dúvida, poderia informá-los, essa tem sido a política dos EUA desde 1995, quando foi elaborada em um documento do STRATCOM intitulado “Fundamentos da Dissuasão Pós-Guerra Fria”. Sob Clinton, as armas nucleares devem estar constantemente disponíveis porque “lançam uma sombra” sobre o uso convencional da força, impedindo outros de interferir. Como disse Daniel Ellsberg, as armas nucleares são usadas constantemente, assim como uma arma é usada em um assalto, mesmo que não seja disparada.

O documento do STRATCOM de 1995 pede ainda que os EUA projetem uma “persona nacional” de “irracionalidade e vingança”, com alguns elementos “fora de controle”. Isso vai assustar aqueles que podem ter pensar em interferir. É a “doutrina do louco”, que foi atribuída a Nixon com base em poucas evidências, mas que agora aparece em um documento oficial.

Tudo isso está dentro da estrutura da doutrina abrangente de Clinton de que os EUA devem estar prontos para recorrer à força multilateralmente se pudermos, unilateralmente se precisarmos, para garantir “acesso livre a mercados-chave, suprimentos de energia e recursos estratégicos”.

É verdade, então, que a nova doutrina não é muito nova, embora os americanos desconheçam os fatos – não por causa da censura. Os documentos são públicos há décadas e citados na literatura crítica, que é mantida à margem.

Deveria ser uma grande preocupação que a conversa sobre a guerra nuclear esteja sendo cogitada casualmente como uma possibilidade a ser considerada. Não é. Definitivamente não é.

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*Noam Chomsky é um renomado linguista, filósofo e ativista político estadunidense. É professor de linguística da Universidade do Arizona.

NÃO DEVIAM TER MANCHADO A BOLA, NOVAMENTE

Tiago Santos | TSF | opinião

Que imagem vai sobrar do Mundial de 2022? A despedida de Messi ou de Ronaldo do grande palco do futebol? A subida ao altar do futebol de Pedri ou Mbappé, os golos de Lewandowski, ou de Lukaku, ou Mitrovic. As defesas do herói nacional mexicano Ochoa? Dificilmente. Como ninguém se lembra do que jogava a Argentina em 1978, ou da qualidade que tinha Meazza em 1934.

Os nomes de Mário Kempes ou de Giuseppe Meazza não fazem os cartazes do Argentina 1978 ou do Itália 1934. Não são esses os nomes que marcam as competições, não são esses protagonistas os motivos pelos quais essas duas provas se destacam na história dos campeonatos do mundo de futebol. São dois mundiais marcados pela anomalia que é a celebração de uma festa mundial num local onde reina a opressão ou o terror.

Maradona pediu, no discurso com o qual encerrou a carreira no mítico La Bombonera, que, acontecesse o que acontecesse, "nunca se manche a bola" - "El fútbol es el deporte más lindo y más sano del mundo. Porque se equivoque uno, no tiene que pagar el fútbol. Yo me equivoqué y pagué, pero la pelota no se mancha" - e este mundial no Catar é apenas mais um episódio já visto. Mais uma vez, roubaram o protagonismo aos jogadores e ao público.

Roubaram o protagonismo a Saleh Javier Al Shehri, o antigo jogador do Beira-Mar que um dia, já lá vão dez anos, disse numa entrevista num estágio em Fornos de Algodres, ao jornalista João Miguel Machado, do jornal Record, que queria ir ao Mundial de 2022 pela Arábia Saudita, o primeiro Mundial na península arábica, já agendado na época para o Catar. Saleh jogou e marcou à Argentina (1-2) de Lionel Messi, e festejou um novo feriado para o público saudita. Saleh deve ter orgulho do que a equipa consegiu: Arrigo Sacci ou Jorge Jesus vão guardar o DVD ou a cassete daquela linha defensiva ordenada de Hervé Renard.

Mas a FIFA roubou também o protagonismo a Kevin Rodriguez, promessa equatoriana que chega ao mundial como atleta de um clube da segunda liga do seu país, o Imbabura SC. Sorriu no final do jogo com o Catar, entrado aos 90 minutos, quando nas bancadas já milhares de pessoas tinham virado as costas ao jogo de abertura do campeonato do mundo, com aversão à derrota ou ao desporto. Gustavo Alfaro, o treinador que convocou Kevin Rodriguez explicou a chamada da seguinte forma. "Ele fez-me lembrar de quando eu tinha de lutar por um lugar, do ano em que fiz viagens de 44 mil quilómetros para jogar a segunda liga na Argentina, o meu país. Eu sirvo para dar oportunidades."

Roubaram o palco de Iñaki Williams, o supersónico avançado basco da seleção ganesa, irmão de Nico Williams - que neste mundial vai representar a seleção espanhola. Inãki contou, em 2021, ao jornal The Guardian, que a família, pai e mãe, cruzaram o deserto do Saara à procura de uma vida melhor na Europa. Pagaram mil dólares pela viagem, "uma parte do percurso numa dessas carrinhas de caixa aberta, com 40 pessoas encavalitadas, e depois, a pé, caminharam durante dias". Encontram porto seguro em Espanha, onde nasceram Iñaki (1994) e o irmão Nico (2002). Talvez se cruzem em campo ainda durante este Mundial, os dois ágeis bascos jogadores do Atlético de Bilbau.

Levaram o palco de Awer Mabil, antigo jogador do Paços de Ferreira, que se estreou em Mundiais pela Austrália. Os pais eram do Sudão do Sul, mas Mabil nasceu e viveu os primeiros dez anos da sua vida num campo de refugiados no Quénia, em Kakuma. "Mas também vivi na Austrália durante dez anos, por isso é metade de um lado e metade do outro", explicou ao The Guardian antes do Mundial. Mabil criou com o irmão uma fundação, Barefoot to Boots - De descalço às chuteiras, em português - que recolhe fundos para ajudar jovens em campos de refugiados do Quénia, Turquia, Líbano e Uganda.

Não há cartão amarelo que lhes roube o "seu" Mundial. O campeonato do mundo em que o capitão belga, Jan Vertonghen, usou o silêncio para marcar uma posição. "Se falar sobre a braçadeira posso ser punido. Por isso, estou com medo e não vou dizer nada. Não estou confortável com esta situação. Estamos a ser controlados (...) Mas não gosto de fazer comentários políticos. Certo que estou aqui para jogar futebol, mas que lógica há em que não o possa fazer porque digo algo que devia ser normal, como que estou contra o racismo ou a discriminação? Só não vou dizer nada porque amanhã quero estar no pontapé de saída."

O MUNDIAL DO CATAR SOBRE CADÁVERES, CORRUPÇÃO E DESUMANIDADES

Vem aí pontapé na bola. Às 16:00 horas de hoje é o Portugal x Gana no Mundial de Futebol no Catar, sobre cadáveres e corrupção. Repleta de gentinha que se está nas tintas para isso. Os Direitos Humanos... Oh, sim, pois… Mas na prática e nas suas vidas, no íntimo, estão-se borrando para esses tais direitos dos outros. Preferem obstinadamente olharem para os seus umbigos e usar carradas de hipocrisia a fazer de conta que são contra as desumanidades que tramam os plebeus, o povinho, os que constroem prédios, pontes, estradas, mobílias, labutam na agricultura, higienizam as ruas das cidades repletas de porcalhões displicentes, etc.

Dirão os recos: Ora, ora, isso agora não interessa nada. Que se lixem os moralismos e os direitos humanos. O meu umbigo é que não pode nem deve lixar-se. Pois. 

É assim que “a coisa” funciona. É assim que dá para ver, cheirar, ser vítima, sentirmos – os que sentem – a grande desilusão acerca da humanidade. O reino animal assim funciona e se comporta em grande escala. Deixem-se de loas porque na verdade existem milhões que parece que não raciocinam ou fazem-no de forma errada, não reconhecendo quanto lhes falta para serem realmente humanos com tudo que isso implica. Levam a vida no seu próprio chiqueiro apoiados nos seus próprios eus, e mais eus, limitados por cercas repletas de longos e permanentes egoísmos… Oh porra! Que se lixe esta conversa, pensaram de si para si logo loguinho a meio do parágrafo anterior… O mundial sobre cadáveres é que é. Bom recreio e adiante.

Fiquem com isso e com o mundial sobre cadáveres. Adeusinho e um queijo. Bom dia, se conseguirem.

O Curto já a seguir. A mostra de como e quanto a FIFA é pífia. Goooolo!

MM | PG


O (primeiro) Dia B

José Cardoso, editor adjunto | Expresso (curto)

Bom dia,

B, de bola. Hoje, quinta-feira, 24 de novembro, é o primeiro dia do resto da participação da seleção portuguesa no Mundial de Futebol do Catar. A partir das 16h no continente, pode ver (na TVI) Portugal a enfrentar o seu primeiro adversário da competição, o Gana.

Quem são e que características têm os jogadores ganeses é o que pode ver AQUI, com uma certeza: eles são jovens, ambiciosos e procuram uma inspiração como a de 2010. Seja como for, o selecionador nacional, Fernando Santos, diz que se deitou esta noite muito tranquilo.

Vamos lá, cambada, que a questão é mais séria do que se possa pensar?

Um dos espectadores que estará no estádio é o Presidente Marcelo, que o Parlamento autorizou (como manda a lei) a deslocar-se a Doha. Mas será que esta norma, que já tem dois séculos, ainda faz sentido? Constitucionalistas consultados pelo Expresso consideram que sim.

Um dos jogadores portuguesas que vai estar em campo e de que mais se tem falado é… Cristiano Ronaldo, não por causa da seleção nem do Mundial mas por causa do clube onde jogava até agora. Mas não é disso que ESTE ARTIGO trata, mas sim do primeiro clube onde jogou. Que será feito dos seus camaradas de equipa de então?

Se não acompanhou, os resultados dos jogos mais recentes foram: a Bélgica venceu por 1-0 o Canadá, que voltou a um Mundial 36 anos depois; a Espanha deu uma goleada de 7-0 à Costa Rica; mais uma surpresa, o Japão venceu por 2-1 a Alemanha, cujos jogadores tinham sido proibidos de fazer um gesto e fintaram a FIFA fazendo outro; e Marrocos empatou 0-0 com a Croácia.

Sobre o Mundial do Catar – não sobre futebol, mas sim sobre o país anfitrião e o seu regime – há outras sugestões de leitura que deixo lá mais para baixo, na habitual secção O Que Ando a Ler. Por agora, vamos a

OUTROS ASSUNTOS

Orçamento Depois de três dias de debate, terminam hoje as votações, na especialidade, do Orçamento do Estado para 2023. Ontem o PS deixou passar 15 propostas da oposição e aprovou mais de 30 dos próprios socialistas, incluindo novas regras para as pensões e para o arrendamento. Está tudo resumido AQUI. E a partir das 15 horas pode seguir ALI, em direto, o último dia de debate e de votações.

Ucrânia A capital enfrenta o pior inverno desde a II Guerra Mundial na sequência dos ataques russos a infraestrurturas ucranianas de energia e o parlamento Europeu foi alvo de um ataque informático depois de ter aprovado uma Resolução reconhecendo a Rússia como “um Estado patrocinador do terrorismo”. Pode ir acompanhando a evolução da situação no nosso DIRETO.

Prevaricação Mais um caso de crimes autárquicos, agora envolvendo o anterior e a atual presidente da Câmara de Arouca. Decidiram entregar “de boca” uma empreitada viária à empresa de construção do presidente do clube de futebol local.

Pinho Mais uma achega para o processo judicial do ex-ministro Manuel Pinho no “caso EDP”. Agora porque Pinho se queixou à Procuradoria Geral da República da atuação do procurador que chefiou as buscas a sua casa em Braga – e a Procuradoria abriu um processo de averiguações.

Votos O PSD apresentou uma proposta de revisão constitucional que inclui a redução para 16 anos da idade legal para votar em Portugal, mas deve ter o mesmo destino de propostas semelhantes feitas no passado por BE e PAN. Mas qual é afinal a idade certa para começar a votar? Depende do país.

Tráfico De pessoas Foi ontem notícia o desmantelamento de uma rede de tráfico de imigrantes no Alentejo liderada por pessoas da mesma nacionalidade. Foi a maior operação policial dos últimos anos, envolvendo 400 inspetores. Tem os pormenores NESTE ARTIGO.

Censos 2021 Foram publicados os dados do recenseamento feito em Portugal no ano passado e pelo menos dois deles são desoladores: há demasiados portugueses que vivem sozinhos e também ainda há demasiados portugueses que não sabem ler e escrever. Sobre residentes em Portugal, emigrantes, regressados, municípios e idosos veja AQUI os números.

Energia A União Europeia reúne hoje os ministros da energia para discutirem o travão ao aumento excessivo do preço do gás, que atinge valores recorde. Também hoje, Portugal vai exportar eletricidade o dia inteiro para Espanha.

Black Friday Como estamos a viver esta semana a febre anual da Black Friday, leia ESTE ARTIGO para evitar dissabores em compras feitas online.

Alertas Para ISTO e para AQUILO.

FRASES

“[Marcelo] tem de conseguir censurar-se um bocadinho mais, ponderar melhor os momentos em que intervém”
Miguel Poiares Maduro, ex-ministro coordenador do PSD para a revisão constitucional

“A Constituição não pode permitir que seja o Parlamento a decidir qual é a agenda de viagens do presidente”
Idem

“Portugal continuará a ser o campeão do esbulho à classe média”
Carlos Guimarães Pinto, deputado da Iniciativa Liberal

“Eu prevejo que a decisão seja uma condenação”
Catarina Pires, juíza do caso Duarte Lima, cuja frase levou o ex-deputado a pedir o seu afastamento

O QUE PODEMOS OUVIR

No Mundial, prognósticos só no fim! Quem pode vencer o torneio? Entre os portugueses há quem acredite ser possível chegar à final e ganhar. Ambição legítima ou presunção e água benta, que cada um toma a quer? O comentador da SIC Luís Cristóvão responde a Paulo Baldaia no Expresso da Manhã

Estamos a viver o fim de uma bolha nas empresas tecnológicas? Queda a pique nas cotações, lucros a encolher e milhares de despedimentos. O cenário é assustador no mundo da tecnologia depois de anos de forte crescimento. Dias a lembrar as dot.com do início do século XX, para ouvir no Money Money Money com João Silvestre

Não vamos lá, cambada? Isto é mais sério que um jogo de bola. Na Comissão Política moderada por Vítor Matos, as questões éticas que se levantam com a viagem das mais altas figuras do Estado ao Mundial do Qatar, apoiar a seleção, estão no centro do debate público, mas a discussão é muito mais séria e abrangente do que se possa pensar

O QUE ANDO A LER

Nada – no que diz respeito a livros.

O que não significa que não deixe aqui três propostas de leitura de outros tantos artigos que (Catar oblige…) andei a ler.

O primeiro foi publicado na mais recente edição da nossa revista e explica o que ganha o Catar com este Mundial. Pode lê-lo AQUI (no caso de não ser assinante, pode resolver o assunto rapidamente e a preço de saldo indo AQUI).

A revista The Atlantic considera que o mundial do Catar é o maior absurdo da história do desporto – e explica porquê. Por último, pode ler a História do Catar, o perfil da família reinante (do atual emir, Tamim bin Hamad al-Thani, ao seu pai e antecessor, Hamad, que por sua vez tinha derrubado o pai) e quando e como o dinheiro começou literalmente a jorrar clicando aqui, por exemplo.

Para se manter informado, quer sobre a pequena petromonarquia que deixa muito a desejar no respeito pelos direitos humanos quer sobre outros assuntos, vá andando por aqui. Sobre futebol propriamente dito, o caminho mais direto é este.

Boas jogadas

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