domingo, 30 de outubro de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 58




MARTINHO JÚNIOR, Luanda

O FIM DO “CAPALANGA WATER RAILWAYS”?

A 24 de Abril de 2011 publiquei a 1ª das Rapidinhas, “OS 4 COMBOIOS CHINESES MERECEDORES DEGUINESS BOOK”… começando por ilustrar com esse exemplo as (muitas) deficiências ou insuficiências dos projectos em curso em Angola, bem como a ausência de fiscalização e controlo sobre as obras e empreiteiros.

Seis meses depois, testemunhando que o estado angolano e seus parceiros reagiram sobre os resultados das obras mal feitas, voltei ao local e tirei uma fotografia sugestiva: a proibição para dar um mergulho não é só para pessoas, pois com a lagoa “controlada” lá se vai a 4ª maravilha ferroviária chinesa, o “Capalanga Water Railways”…

A lagoa artificial do Capalanga, uma lagoa que facilmente se podia detectar com o Google Earth, foi formada a partir do desleixo dos empreiteiros que esqueceram que as águas das chuvas acumuladas ali, se antes tinham garantia de saída em direcção ao Bengo através de circuitos naturais, deixaram-no de o ter quando foram feitos os aterros para a implantação de indústrias, para a reconstrução da ferrovia e para a construção da auto-estrada.

Está-se a iniciar a época das chuvas e com as obras de controlo de caudais em curso, inicia-se a prova dos nove em relação ao que foi emendado e seria a altura ideal para que fosse tornado público todo o contencioso que envolve tanto as falhas técnicas, quanto as eventuais multas que os empreiteiros se sujeitaram (?).

Parece que é mais fácil ao estado angolano e seus parceiros levar a cabo a emenda dos erros técnicos, do que garantir a prestação pública dos resultados da fiscalização, se é que a houve, sobre as deficiências, insuficiências e erros de engenharia encontrados (o Tribunal de Contas continua a ser, em relação a muitas obras, o primeiro dos “submarinos angolanos”, pois não se ouve, não se vê, nem se sente…).

Para a informação pública do estado parece também ser fácil, talvez para esconder o que o Tribunal de Contas não faz, neste caso da lagoa artificial do Capalanga encontrar a causa: foram os moradores que ergueram suas casas a pulso, não recorreram a aterros massivos, nem a tractores, que taparam as saídas naturais das águas que antes permitiam o escoamento em direcção ao Bengo…

Se com este simples fenómeno a informação pública esclarece assim, o que não acontecerá com fenómenos mais complexos?

Foto: Perigo tomar banho! - MJ

ANGOLA E ALEMANHA ESTREITAM RELAÇÕES COMERCIAIS




DEUTSCHE WELLE

A questão dos vistos entre Angola e a Alemanha tem sido um dos obstáculos a ultrapassar no estreitamento bilateral das relações. Um problema que parece agora estar mais perto de uma solução.

A cooperação económica foi o tema central da visita oficial realizada a Angola pela chanceler alemã federal, Angela Merkel, em julho último. Apesar de curta, a estadia de Merkel serviu para reforçar os laços entre os dois países, com o estabelecimento de parcerias estratégicas e protocolos de cooperação em vários domínios.

Três meses mais tarde, a DW foi ao encontro de Ricardo Gerigk, delegado da indústria alemã em Angola. Gerigk faz um balanço positivo e realça, que a visita da chanceler, foi um sinal de confiança do governo alemão na estabilidade politica de Angola: “Uma chanceler nunca viajaria para um país que tivesse guerra, ou coisa do género, então isso é o primeiro sinal”, disse o lobista, acrescentando que a visita contribuiu “sobremaneira para que algumas coisas fossem agilizadas”.

“Traumas” já estão ultrapassados

É o caso do problema dos vistos, repetidas vezes apontado por investidores alemães como um entrave ao reforço das relações comerciais. Embora reconhecendo a existência da problemática, Ricardo Gerigk insiste que Angola já superou determinados “traumas” causados pela invasão repentina de números elevados de investidores estrangeiros: “Não se justifica que pessoas que querem entrar pela porta da frente de Angola sejam barradas quando existe interesse em, pelo menos, conhecer o país”. Gerigk salienta ainda a necessidade de resolver rapidamente a questão dos vistos, até para solucionar outros problemas “porque”, diz “o excesso de burocracia contribui muito para que aumente a corrupção no país”.

Confrontada com a concorrência da China e de outras potências económicas, a Alemanha deseja reforçar a sua parceria com Angola, a nível do desenvolvimento de redes elétricas, energias renováveis, e diversificação da economia angolana. O delegado diz, que a Alemanha não teme a concorrência: “Não, porque há lugar para todo o mundo e há países que têm uma maior especialidade”. Por exemplo, diz Gerigk, as empresas alemãs não estão envolvidas na exploração direta de petróleo em Angola, mas fornecem equipamento a outras empresas do ramo.

Trocas comerciais de 400 milhões de euros

No ano passado as trocas comerciais entre os dois países superaram os 400 milhões de euros. A Alemanha importa sobretudo petróleo, enquanto Angola recebe apoio alemão nos domínios financeiro e da formação de quadros, como contribuição para a reconstrução do País. O combate à pobreza e a criação de empregos são, por seu lado, alguns dos principais desafios da delegação da indústria alemã em Angola.

Está, neste momento, a ser efetuado o primeiro investimento direto alemão na área de “catering”, com um valor avaliado em dezasseis milhões de euros. Ricardo Gerigk explica que se trata de “catering” no âmbito de voos comerciais, prevendo-se o fornecimento de cinco a sete mil de refeições diárias para os passageiros: “O mais importante é a criação de empregos: são 300 empregos que vão ser criados”.

Autor: Manuel Vieira (Luanda) - Edição: Cristina Krippahl/António Rocha

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Áudios e vídeos sobre o tema

PRESIDENTE DA SÍRIA DIZ QUE INTERVENÇÃO CAUSARIA UM “TERRAMOTO” NO PAÍS





Sob pressão internacional devido à violenta repressão aos protestos contra seu regime, Bashar al-Assad diz a líderes ocidentais que país pode virar um "outro Afeganistão". Os confrontos já deixaram três mil mortos.

O presidente da Síria, Bashar al-Assad, afirmou que as autoridades ocidentais poderão desencadear um "terremoto" no Oriente Médio, caso decidam intervir no país. Manifestantes têm pedido atuação estrangeira em território sírio após a morte de milhares de pessoas, ocorridas nos últimos sete meses, durante os protestos contra o regime de Assad. Segundo estimativas da ONU, mais de 3 mil pessoas já morreram no país em consequência dos confrontos.

Em entrevista ao jornal britânico Sunday Telegraph, publicada neste domingo (30/10), o presidente sírio disse ainda que o país poderá virar "outro Afeganistão", caso as forças ocidentais resolvam invadir a Síria, assim como fizeram na Líbia, culminando com a derrocada do então líder Muamar Kadafi.

"Qualquer problema na Síria vai inflamar toda a região. Se o plano é dividir o país, isso vai significar dividir toda a região", afirmou Assad, segundo o jornal, ressaltando ainda que o país localiza-se no centro de um território conturbado, fazendo fronteira com Israel, Líbano, Turquia, Iraque e Jordânia.

Disposto a ficar no poder

Apesar da pressão internacional, as últimas declarações de Assad reforçam a determinação do presidente em permanecer no poder, apesar da série de levantes populares que pedem o fim de seu regime. O posicionamento do presidente sírio vem despertando uma série de críticas entre a comunidade internacional.

O comitê da Liga Árabe que trata da crise na Síria enviou uma "mensagem urgente" ao governo do país expressando seu "severo descontentamento com as mortes de civis" durante os protestos. Enviados da China ao Oriente Médio também pediram neste domingo que Assad acelere as prometidas reformas para atender às demandas da população, afirmando que a situação é perigosa e que o banho de sangue não pode continuar.

Os Estados Unidos culpam a China e a Rússia por não terem colaborado na tentativa de isolar Assad diplomaticamente e de implantar sanções econômicas à Síria. Os dois países vetaram, no Conselho de Segurança da ONU, a adoção a imposição de sanções contra o país.

Recentemente, manifestantes pedindo mais liberdade e o fim do regime de Bashar al-Assad têm feito protestos pedindo que as Nações Unidas imponham uma área de bloqueio aéreo sobre a Síria, assim como foi feito com a Líbia.

Massacres nas ruas

Os protestos têm ficado mais intensos nos últimos dias. Entre sexta-feira (28/10) e sábado (29/10), cerca de 100 pessoas morreram em sangrentos confrontos, entre civis e soldados.

Na cidade de Homs, pelo menos 20 soldados morreram em confrontos com dissidentes militares no sábado, e mais de 50 pessoas ficaram feridas. Na sexta-feira, 37 pessoas já haviam sido mortas em manifestações em Homs e Hama. O Observatório dos Direitos Humanos na Síria afirma que as mortes ocorreram quando forças do governo entraram na cidade com armamento pesado.

Homs vem se consolidando como um dos principais focos de oposição a Assad, à frente do poder na Síria há 11 anos. Seu pai, Hafez, governou o país por 29 anos até a sua morte.

MSB/afp/rtr - Revisão: Soraia Vilela

CADA DIA SAEM-SE COM UMA NOVA, AGORA PASSOS É O LAMBE CUS!




ANTÓNIO VERÍSSIMO

Chamam-lhe o “Jeitoso” de modo pejorativo, o “Mentiroso”, o “Chefe do Bando de Mentirosos” e muitos outros epítetos representativos do significado desprezível para a pessoa que Passos Coelho politicamente representa. Os seus ministros e restantes seguidores com cargos naquele governo que ele chefia também gozam das mesmas desconsiderações. O “Lambe Cus” é que nunca tinha ouvido chamar a Passos Coelho. Hoje, esta, foi nova. Em cada dia saem-se com uma nova.

Perguntei a razão. Porquê Lambe Cus? A resposta foi pronta. “Porque ele (Passos) passa a vida a lamber os cus dos da Troika, dos banqueiros, dos grandes empresários e da alta finança para lhe agradar. O que ele olha é para a sua “barriguinha” e “barriguinha” dos da sua mafia em vez de agir como deve um primeiro-ministro de Portugal. Governar para o país, governar correspondendo à confiança que os eleitores lhe deram por via das promessas que fez mas não cumpre. Provado que está que ele é um grande aldrabão, cada vez mais ele se afasta do seu eleitorado e lambe os cus aos que têm roubado e hipotecado o que deveria pertencer a todos os portugueses mas que tem ido para rechear ainda mais as fortunas de uns quantos de Portugal e do estrangeiro.”

Assim sendo, dada a explicação, o epíteto não está nada desinserido de lógica. Na realidade Passos Coelho aparece comummente nos areópagos internacionais em bicos dos pés e fazendo declarações imbecis, realmente de “Lambe Cus”.

Para variar deixo aqui uma notícia em que o PS (os pseudo-socialistas) se pronuncia sobre Passos. O PS que agora vai dizendo sem nada dizer, que até deixa uns quantos “sonhar” que vai votar contra este orçamento de estado deveras criminoso, mas que no final apoiará, definido que está – há bastante tempo - o lado da barricada a que pertence. Socialista uma ova!

Entre Seguro e Passos as diferenças são muito pequenas, entre o PSD e o PS também. Compete aos portugueses encontrar o rumo que obste a que esta alternância entre os que nos vigarizam e nos roubam termine. Têm sido sempre eles a governarem-se e a desgovernar e empenhar o país. O que esperas Portugal?

Ajuda externa: PS acusa Passos Coelho de revelar "preocupante voluntarismo"

Pedro Morais Fonseca (LUSA)

Lisboa, 30 out (Lusa) - O Secretariado Nacional do PS acusou hoje o primeiro-ministro de revelar um "preocupante voluntarismo" ao anunciar sem qualquer enquadramento institucional ou consulta prévia a intenção de ajustar junto da troika o acordo de assistência financeira a Portugal.

Em comunicado enviado à agência Lusa, o Secretariado Nacional do PS refere-se a recentes declarações proferidas pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, em Assunção, no Paraguai, depois de ter participado na Cimeira Ibero-Americana.

Pedro Passos Coelho admitiu aí a possibilidade de o Governo português tentar ajustar junto da troika o acordo de assistência financeira a Portugal.

*Foto EPA 

*Também publicado em Página Lusófona, blogue do autor

O CHEFE E OUTRO DO BANDO DE MENTIROSOS EM “A QUINTA LUSITANA”, de Brasilino Godinho




Uma preciosidade do discurso governativo, em passos de coelhal figura; afinal, repisando a frouxa relva de Miguel – o risonho inelástico ministro da borda-d’água nabantina.

Através da Internet chegou-nos a preciosidade citada em epígrafe, inserida num texto que transcrevemos:

O ESPLENDOR DA HIPOCRISIA

Passos Coelho escolheu Brasília para corroborar a doutrina do seu ministro da Propaganda: “Muitos países europeus, em vez de 14, pagam 12 vencimentos. Não excluo que isso possa vir a acontecer em Portugal”.

A hipocrisia em todo o seu esplendor.

O que o primeiro-ministro não disse foi que os subsídios de férias e de Natal fazem parte do rendimento anual bruto dos trabalhadores do sector privado, dos trabalhadores do sector empresarial do Estado, dos funcionários públicos e, naturalmente, do montante indexado às pensões de reforma e aposentação.

Dito de outro modo, o patronato e o Estado arrecadam por antecipação dois catorze avos do rendimento anual bruto dos trabalhadores do sector privado, dos trabalhadores do sector empresarial do Estado, dos funcionários públicos e dos pensionistas.
 
Se fosse um homem de carácter, o primeiro-ministro teria dito o que disse no Parlamento português, sujeitando-se ao contraditório. Nunca no estrangeiro.

Em qualquer dos casos, tratar o tema ao nível da gorjeta é indigno de uma democracia.

Comentário de Brasilino Godinho

É importante assinalar que nos “muitos países europeus” - da lembrança da coelhal figura máxima da governação portuguesa - outras mais favoráveis são as condições, os níveis e a qualidade de vida dos trabalhadores e dos cidadãos autóctones.

Acresce que nesses países ricos, os vencimentos também são mais elevados e não têm comparação com os míseros que são praticados na função pública e nos sectores correlativos às massas trabalhadoras e à classe média, em Portugal - país com uma população cada vez mais empobrecida, mais sofredora e explorada e onde os poderosos e os gestores auferem salários, mordomias e rendimentos, escandalosamente superiores aos dos seus homólogos da estranja (incluindo Europa e Estados Unidos da América); esta, trazida agora à colação sem qualquer nexo de objectividade e seriedade.

Tal “preciosidade” de oratória balofa e inconsistente, do grande chefe do grémio governamental, é uma falácia acintosamente inepta e oportunista que hemos obrigação moral e cívica de repudiar com o maior vigor.


*Título PG

CASAS, CUBATAS, DIAMANTES E GENERAIS




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*

Durante a última campanha eleitoral em Angola, que deu mais de 80% dos votos ao MPLA, o partido de José Eduardo dos Santos prometeu a construção de um milhão de novas casas e a criação de milhões de novos empregos.

Além disso, como poucos se recordam, como cada vez menos se recordam, como ainda menos estão interessados em recordar, prometeu aos angolanos o fim da exclusão social, a consolidação da democracia e a restauração dos valores morais.

E assim, vários projectos habitacionais estão em curso, ou em vias disso, ou em vias de estar em vias, em todo o país, seja por iniciativa pública, seja privada (no caso de Angola não sei bem qual é a diferença).

O Governo do MPLA mantém que a construção de habitações sociais é uma das prioridades. Se calhar é por isso que a maior parte dos projectos habitacionais decorrem em Luanda onde, segundo revelou em tempo útil o Notícias Lusófonas citando o próprio ministro o Urbanismo e Construção, faltam 1,7 milhões de habitações.

Os projectos localizados nos municípios do Kilamba Kiaxi, Cacuaco, Viana (Zango) e quilómetro 44 são os mais conhecidos, diz o próprio “Jornal de Angola”, pormenorizando que o complexo habitacional do Kilamba Kiaxi vai beneficiar 160 mil habitantes, com a conclusão de 20 mil apartamentos, até 2011.

No projecto do Quilómetro 44, diz o JA, estão a ser erguidas duas mil casas, cujos beneficiários, na sua maioria, serão os funcionários do futuro aeroporto de Luanda.

Continuando a citar o órgão oficial do Governo, o projecto do Cacuaco vai ser construído em três fases e no final tem 30 mil apartamentos, em prédios de cinco a 11 andares, estando agora em fase de execução dez mil apartamentos que ficarão prontos em dois anos e meio.

Saindo da capital, no Huambo está em execução um projecto habitacional que contempla a construção de 130 moradias, num investimento de 500 milhões de dólares.

Na Huíla, 25 mil novas casas de renda económica são construídas a partir deste ano. Numa primeira fase vão ser edificadas na cidade do Lubango mais de duas mil habitações, e outras mil nos municípios da Matala e da Chibia.

A região Leste - províncias do Moxico, Lunda-Norte e Lunda-Sul -, vai beneficiar de 28 mil habitações sociais. O projecto compreende a construção de 20 mil casas na cidade do Dundo (Lunda-Norte), cinco mil em Saurimo (Lunda-Sul) e três mil no Luena (Moxico).

E enquanto esperam, sentados à porta da cubata, os angolanos ficam a pensar no facto de Angola figurar na lista dos países africanos que apresentaram uma grande taxa de crescimento económico, tendo como motor a extracção do petróleo. Ficam, também, a meditar na certeza de que os moradores em bairros de barracas são a maioria, mais de 80 por cento da população urbana.

Recordam-se, por mero acaso – é óbvio, que segundo revelou em 2009 a organização não-governamental Parceria África-Canadá (PAC), uma sociedade de generais angolanos ganhou perto de 120 milhões de dólares (83 milhões de euros), nos últimos dez anos, com uma participação “silenciosa” no negócio dos diamantes?

Na Revista Anual da Indústria dos Diamantes 2007 dedicada a Angola, a ONG afirmava que abundam por todas as regiões mineiras angolanas casos como o da “Lumanhe Extracção Mineira, Importação e Exportação”, em que empresas “aliadas do governo” impõem a sua presença em projectos de exploração, um negócio que deverá render vários milhares de milhões de dólares nas próximas décadas.

“Na corrida para conseguir uma parte da indústria angolana de diamantes, a Lumanhe demonstrou ser extremamente afortunada, captando uma participação de 15 por cento nos projectos aluviais de Chitotolo e Cuango, e uma participação de percentagem semelhante no projecto de exploração em Calonda”, afirmava o relatório.

A empresa tem como sócios António Emílio Faceira, Armando da Cruz Neto, Luís Pereira Faceira, Adriano Makevela McKenzie, João Baptista de Matos e Carlos Alberto Hendrick Vaal da Silva, cinco dos quais generais das Forças Armadas de Angola.

De acordo com a PAC, o rendimento anual da “empresa dos generais” passou de cinco milhões de dólares em 1997 para 22 milhões de dólares em 2006.

No total, o rendimento no período foi de 120 milhões de dólares, o equivalente a dois milhões de dólares por general, por ano.

“Os investidores estrangeiros que actuam em Angola parecem ter incluído essas transferências de dinheiro simplesmente como fazendo parte dos custos de negociação. Contudo, ao reivindicarem cinco a 25 por cento de cada projecto, essas empresas aliadas do governo não estão a tirar dinheiro ao governo ou aos investidores. É o povo angolano que paga o preço”, afirmava.

“A pergunta fundamental”, dizia a ONG, é “o que os angolanos poderiam ter feito com esse dinheiro”, que equivale ao necessário para construção de cem hospitais provinciais como o do Dondo, capital da Lunda Norte, no valor de 1,25 milhões de dólares.

“Os 120 milhões de dólares recebidos pelos generais dariam para construir 150 escolas e pagar a 800 professores um salário mais digno de 300 dólares todos os meses durante 25 anos, sobrando ainda dinheiro para giz, papel e canetas”, afirmava a PAC.

De acordo com a ONG, existem um pouco por todas as regiões produtoras de diamantes “projectos de mineração onde as empresas angolanas apoiantes do governo retiram a sua parte”.

Entre as recomendações da ONG ao governo angolano estava a realização de leilões ou licitações para atribuição das participações em sociedades mineiras, e que os ganhos destes sejam encaminhados para projectos sociais nas regiões diamantíferas.

“O governo angolano e a Endiama devem deixar de oferecer grandes percentagens dos projectos de sociedade conjunta às empresas angolanas apoiantes do governo. Todos os vínculos nominais que existem entre as áreas de concessão e as empresas angolanas deveriam ser cancelados”, defendia o relatório.

Além disso, adiantava, o executivo e a Endiama deve “trabalhar a questão da distribuição dos benefícios do sector diamantífero angolano», uma vez que os beneficiados actualmente resumem-se ao governo, empresas e aos amigos do governo, «e pouco é retribuído aos moradores das regiões que produzem diamantes”.

Conclusão? Nas próximas eleições, se as houver, o MPLA via ter bem mais do que 80% dos votos…

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor compilado em Página Global: A LEI (DA BALA) NA COLÓNIA DE CABINDA

ANGOLA – A “QUESTÃO LUNDA” CONTINUA POR RESOLVER




Protectorado Lunda

FACTOS NA HISTÓRIA NUA E CRUA SOBRE A LUNDA

REPRESENTANTES PORTUGUESES E BELGAS QUE A FIZERAM

A História , que significa "pesquisa", "conhecimento advindo da investigação" é a ciência que estuda o Homem e sua ação no tempo e no espaço, concomitante à análise de processos e eventos ocorridos no passado, é o estudo do passado e dos seus acontecimentos.

Concepção Psicológico-social - Apóia-se na teoriade que os acontecimentos históricos são resultantes, especialmente, de manifestações espirituais produzidas pela vida em comunidade. Segundo seus defensores, que geralmente se baseiam em Wilhelm Wundt ("Elementos de Psicologia das Multidões"), os factos históricos são sempre o reflexo do estado psicológico reinante em determinado agrupamento social.

O estudo do passado não pode ser feito directamente, mas de forma mediada através dos vestígios da actividade humana, a que é dado o nome genérico de fontes históricas.

E A QUESTÃO DA LUNDA exactamente tem estas fontes históricas verdadeiras que hoje vamos transcrever para o conhecimento do público.

REPRESENTANTES PORTUGUESES NA HISTÓRIA DA LUNDA

1.- Marquez de Penafiel, par do reino, oficial mor da sua casa, gran-cruz da ordem de nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, commendador da ordem de Nosso Senhor Jesus Christo, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário  do Rei de Portugal junto a Sua Magestade o Imperador da Allemanha e Rei da Prússia, foi o Chefe da Delegação Portuguesa a Conferência de Berlim 1884-1885, celebrou o acordo de 14 de Fevereiro de 1885entre Portugal e o Estado Independente do Congo, sobre as fronteiras na região da LUNDA.

2.- Henrique Augusto Dias de Carvalho, major do exercito, Cavalleiro das ordens militares de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa e de S.Bento de Aviz, chefe da Expedição Portugueza (1885-1888) a MUASSUMBA,  capital económica, centro estratégico e ciêntifico da época do Imperio do MUATIANVUA e delegado do Governo de Sua Magestade Fidelíssima, celebrou os tratados de protectorado com Muana Samba-Capenda, com Xá-Muteba Caungula, comMuatchissengue, com Suana Mujinga Calenga e com o Muatiânvua Mucanza XVII. Entre1895 – 1906 foi o primeiro Governador/Representante de Portugal no Estado da Lunda.

3.- Jayme Lobo de Brito Godins,  Governador Geral Interino da província de Angola entre 1892 – 1893, foi o Chefe da Delegação Portuguesa do grupo técnico Internacional de limites de fronteiras na Lunda e assinou a actada ractificação das fronteiras na Lunda em nome de Portugal em 1893.

4.- Carlos Roma du Bocage, deputado, major do estado maior de engenharia, ajudante de campo honorário, cavaleiro da ordem de S. Tiago, foi Chefe da Delegação Portuguesa na Convenção de Lisboa de 1891 sobre o conflito entre a Bélgica e Portugal de 1890 da QUESTÃO DA LUNDA, assinou o Acordo de 24 de Março de 1894 do reconhecimento Internacional da Questão da Lunda, ractificada a 1 de Agosto do mesmo ano emBruxelas, ou seja a PROTECÇÃO INTERNACIONAL DA LUNDA POR PORTUGAL.

"A História com o registro consiste em três estados, tão habilmente misturados que parecem será penas um. O primeiro é o conjunto dos factos. O segundo é a organização dos factos para que formem um padrão coerente. E a terceira é a interpretação dos factos e do padrão".

É essa história do nosso passado presente que o povo Lunda Tchokwe esta a reivindicar a sua “Autonomia Administrativo, Económico e Jurídico”.

REPRESENTANTES BELGAS NA HISTÓRIA DA LUNDA

1.- Edouard de Grelle Rogier, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário de Sua Magestade o Rei dos Belga, Soberano do Estado Independente do Congo, oficial daordem de Leopoldo, etc., etc., etc., . Celebrou o acordo de 14 de Fevereiro de 1885 entre Portugal e o Estado Independente do Congo, sobre as fronteiras na região da LUNDA.

2.- George Grenfell, Missionario da Missão inglesa baptiste, Chefe da Delegação BELGA do grupo técnico Internacional de limites de fronteiras na Lunda e assinou a actada ractificação das fronteiras na Lunda em nome da Belgica em 1893

QUEM FOI DUMBA WATEMBO

Régulo do Tchiboco, Rei da Lunda Tchokwe entre 1860 – 1880, primo da Rainha Nhakatolo, tio materno do Tchissengue ou Muatchissengue, personalidade aristocrática da corte do Muatiânvua dos mesmos anos.

Muene N’Dumba-Tembo ou Dumba Watembo, é homem elegante, da figura distinta, tipo inteligente, ar nobre e maneira delicada. Trajava um pano de riscado preso á cinta por uma correia, tendo suspensa adiante pequena pele de antílope. Casaco de fazenda escura, coberto de quadradinhos bordados a cassungo completava a sua modesta mas esquisita «toilette».

Uma coroa de latão, como a dos monarcas da Europa, singular cópia de que nunca podemos conhecer a proveniência, cingia-lhe a frente, tendo na parte inferior uma fila bordada a missanga de cores. Pendia-lhe no pescoço exótico colar, onde figurava dois búzios (Cyprea Moneta) e um pequeno chifre de antílope.

Os seus dedos guarnecidos de anéis de latão, terminavam por longas unhas do mesmo metal, dificultando os movimentos, e não lhe permitindo segurar o bordão que muitas vezes lhe caía por terra. Em extremo industrioso, segundo nos afiançaram, anéis, unhas e coroa, tudo era obra sua nos momentos roubados à governação do Estado.

ENCONTRO COM EXPLORADORES CAPELO E IVENS, CAMERON E LEVINGSTONE

Assim descreveram os exploradores portugueses Capelo e Ivens a figura de Dumba Watembo, quando no dia 11 de Julho do ano já distante de 1878 ou 1874, entravam em contacto com ele, no CUCHIQUE, sanza-capital dos Tchokwes daquela época (...) a sanza-capital cuchique situava-se um pouco a oeste das nascentes do rio Cuango e do rio Cassai. O rio cuchique, que difere frequentemente de nome, de mapa para mapa, é afluente norte do rio Luando, subafluente do rio Cuanza (...).

Na primeira das paginas citadas dão-nos os autores um muito curioso retrato do antigo Rei do Tchiboco, instruindo com ele a propósito, as páginas em que o descrevem. É sem dúvida um documento interessante e o único identificado que conhecemos, não apenas do referido Rei nativo dos Tchokwes como dos seus antecessores e sucessores.

Isolados nas extensas e formosas florestas hiemisilva dos seus territórios do TCHIBOCO, país do mel e do embriagante hidromel, os Dumba Watembo, e os seus irrequietos tchokwes, encheram aquelas espessuras duma reputação temerosa que afastou, prudentemente, os viajantes, até porque as suas comitivas indiginas se negavam penetrar naqueles amedrontadores dominios dos «demonios silviculas do Tchiboco», segundo a expressão de CAMERON que se desviou daqueles caminhos na sua travessia Zanzibar-Benguela, em 1875.

Já anteriormente, em 1854, o mesmo fizera LEVINGSTONE. Para mais, tivera ele a má ideia de retribuir um soba Tchokwe daquelas proximidades com um boi vivo ao qual faltava o rabo. Valeu-lhe, e dificilmente, a forte escolta dos seus Makokolos que aliás, o tornaram afoito para entregar boi incompleto, em tão exigentes paragens.

O Tchiboco foi, na verdade, e durante longo tempo, um país ensombrado de florestas e de atemorizantes lendas, e por isso sistemáticamente evitado pelos exploradores europeus, como bem o confirmam as primeiras palavras do Rei Dumba Watembo aos exploradores: «NUNCA POR AQUI SE VÊM OS HOMENS BRANCOS»...

Isto explica a raridade de notícias e de documentos iconograficos dos antigos régulos daquela região ou estado e o interesse histórico da gravura citada.

Não há dúvida nenhuma que Dumba Watembo provinha das estirpes aristocráticas dos Muatiânvuas, criadores e governantes do Império LUNDA, constituido nos finais do Século XV ou XVI, na Katanga Ocidental.

Á margem de dessidentes familiares e politicas, que inimizaram e dividiram LUNDAS e TCHOKWES, os altos chefes Tchokwes eram de etnia Lunda e das familias aparentadas aos Muatiânvuas. O próprio Dumba Watembo, historiando a sua genealogia, descreveu a Capelo e Ivens a existência, na Lunda de além-Cassai ou seja na Mussumba, duma mulher denominada Lukokessa mãe de três chefes Tembos, um deles ele próprio (Dumba).

Podemos esclarecer que a Lukokessa (algumas vezes sob a forma gráfica de Lucoqueça) era um alto dignatário feminino da corte dos LUNDAS.

Dumba era filho da Tembo irmã de Yala ya Muaka ou (Iala Maku deturpação), tia da Lueji, mãe ou avô de Muatiânvua Ianvo que foi o primeiro Muatiânvua eleito.

Provavelmente, a data do colapso e da separação das dinastias com o tabú da Lueji, fixa-se entre os anos de 1595 – 1650, a contar da presença do Tchinguri em Luanda.

Trata-se, neste caso, do antepassado de Dumba Watembo que conduziu a invasão dos tchokwes da Mussumba, atráves do rio Luau, e seguidamente ao longo do Cassai superior, em épocas que fixamos no primeiro quartel do século XV ou XVII, seja uns dois e meio século antes da vista dos exploradores Europeus, ao Dumba Watembo, no Tchiboco.

Se atribuíssemos 20 anos a cada Reinado, o Dumba Watembo em questão seria o 12º ou 13º Rei do Tchiboco.

Dumba significa Leão, Tembo sua mãe, significa que Leão da Tembo. Trata-se de uma hierarquia nobre, apoiada no prestigio de nome ou de familia e um titulo da governação no reino, tal igual o nome do Muatchissengue.

Encontram-se os nomes Tembo junto ao Lucala e a Massangano. Na língua de Matamba, o local onde se guardava os idolos era designado Tembo. Há notícias dum nome Tembo-Ndumba, da mulher do Jaga Zimbo, e na Jinga venerava-se a memória de Tem-Bam-Dumba. Aliás, vários etnógráfos e historiadores têm encontrado correlações entre os Tchokwes e os Jagas.

Desse facto, e das ramificações do nome Tembo em Angola, o próprio Dumba Watembo deu elementos, nas conversas com os exploradores europeus, ao referir como parentes Muzumbo Tembo dos Songos ou Massongos, e Cassange Tembo, que se institui Jaga do Quembo-Songo e Holo.

O Dumba Watembo, da época de Capelo e Ivens, ainda se empenhou no alargamento de domínio, e blasonava do seu poderio, em arengas como esta: - Os meus domínios são tão grandes que estendem daqui a catende para lá do norte; neles só eu mando, a mim tudo obedece.

Mantinha, também hábitos de grande corte Africana, com a sua guarda pessoal do comando dum seu sobrinho, «armado até aos dentes», um corpo de tamborileiros e xilofonistas para festas e recepção, e um estado-maior de notáveis de conselho e de guerra.

Esta actividade bélica e praxe da corte, estão de acordo com as ambições dos primeiros Dumba Watembo, que imaginaram a criação no Tchiboco dum Estado poderoso e organizado, nos moldes do estado dos LUNDAS da Katanga (do qual, aliás, foram dissidentes, para se eximirem ao seu poder nascente, aliado ao dos Balubas do II Império, nos finais do século XVI).

Aquela tentativa do Tchiboco, porém, foi uma concepção de classes aristocráticas, a que a massa tchokwe, irrequieta e nómada, de perfeito acordo com a sua ancestralidade de caçadores savanicos, se não prestou.

Á volta dos anos 1857 a 1878 ou 1879 já os tchokwes imigravam através dos Lutchazes, atacavam os povos matabas no norte da lunda e alcançavam com os seus primeiros bandos os territórios dos Batchilangues, por altura do quinto grau de latitude sul. O estado de Tchiboco entrava em rarefação.

Ao Dumba Watembo da época do Capelo e Ivens, outros se seguiram até a passagem do trono ao Tchissengue ou Muatchissengue, decerto mais decadentes, até que uma terrível época de fome assolou o Tchiboco, haverá pouco mais de meio século, levando as populações a um êxodo que baixou extraordináriamente os efectivos demográficos do Estado de Tchiboco. Uma epidemia de varíola elevou a alto grau o índice de mortalidade. Esta catástrofe, que ficou conhecido por “Muaka ua kapunga ou Muaka ua Nzala (Época da fome), terá sido a grande responsável pelo desaparecimento do Estado do Tchiboco.


Com morte de Kadafi, presidente de Angola vira africano há mais tempo no poder




ESTADÃO, em 20 de outubro de 2011

José Eduardo dos Santos está no cargo desde 1979, quatro anos após independência

LUANDA - A visita da presidente Dilma Rousseff a Angola nesta quinta-feira, 20, ocorre no mesmo dia em que seu anfitrião, o presidente José Eduardo dos Santos, obtém, junto com o guinéu-equatoriano Teodoro Nguema, o título de líder africano há mais tempo no poder, após a confirmação da morte do líbio Muamar Kadafi.

Presidente de Angola desde 1979, quatro anos após o país tornar-se independente de Portugal, Santos, de 69 anos, chegou ao cargo no mesmo ano em que Nguema e um ano antes que o zimbabuano Robert Mugabe.

Os três são remanescentes dos "big men" (grandes homens, em inglês), como foram apelidados os vários mandatários longevos que controlavam grande parte da África até uma década atrás.

Nas ruas de Luanda, a capital angolana, retratos do presidente ilustram numerosos outdoors, pôsteres e adesivos colados em carros de militantes do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), o partido no poder desde a fundação do país.

O culto à personalidade do líder também é exercido pelos meios de comunicação oficiais: basta que o presidente receba algum visitante em seu palácio - mesmo que um empresário ou um músico estrangeiro em turnê pelo país - que o encontro pode se tornar a manchete do Jornal de Angola, único diário com alcance nacional. Mas as manifestações recentes que levaram à queda de três big men africanos - Kadafi na Líbia, Zine Abidine Ben Ali na Tunísia e Hosni Mubarak no Egito - agora respingam em Angola.

Protestos

Inspirados pela primavera árabe, jovens angolanos têm organizado protestos para exigir abertura democrática e o fim dos 32 anos de mandato do presidente. Eles afirmam que as vastas riquezas naturais do país - que é o segundo maior exportador de petróleo da África Subsaariana - têm enriquecido apenas uma elite ligada ao governo, ao passo que a grande maioria da população continua à margem do progresso.


AO SABOR DAS CONVENIÊNCIAS




FILOMENO MANAÇAS – JORNAL DE ANGOLA, opinião

1. A morte de Muammar Kadhafi após ter sido capturado ainda vivo e as circunstâncias em que o linchamento ocorreu vão manter-se como uma sombra perturbadora sobre a OTAN, o Conselho Nacional de Transição da Líbia e sobre a própria Nações Unidas, cujo Conselho de Segurança viu uma resolução sua ser transformada num mandato para fazer a guerra. Apesar de a pressão para o esclarecimento do caso recair sobre as novas autoridades líbias, que tentam responder como podem, pelo papel jogado no desfecho do conflito militar na Líbia a OTAN não é parte isenta.

As Nações Unidas juntaram-se à Amnistia Internacional no pedido de um inquérito independente sobre a morte do ex-líder líbio, mas a verdade é que, a somar-se à execução de Saddam Hussein, no Iraque invadido e onde não foram encontradas armas de destruição massiva, o mundo olha cada vez mais para a organização com muitas e sérias interrogações. Tarda a chegar a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e, num mundo em profunda recessão económica, em que as dificuldades tendem a produzir conflitos de ordem política, a ONU devia ser uma plataforma de mudanças positivas, tendo como base a preservação da estabilidade.

O que se assiste é um jogo viciado em que os mais fracos são sacrificados, com a media internacional a ser arrastada, ora a exaltar os ânimos, ora a fazer esquecer rapidamente os acontecimentos e a atirar para debaixo do tapete as verdades que deviam ser ditas. Foi assim com Saddam Hussein e também com Muammar Kadhafi. Quando foi preciso fazer o coro da condenação da “ditadura”, quer um, quer outro foram pintados das mais diversas maneiras. Uma verdadeira campanha foi montada e durou vários meses até chegar ao fim a consumação do objectivo.

Este mês a Amnistia Internacional lançou um pedido às autoridades canadianas para prenderem e processarem o ex-Presidente George Bush por responsabilidades em crimes contra o direito internacional, entre eles a tortura. De certeza que o pedido da Amnistia Internacional tem a ver com a actuação de George Bush na sequência dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001. Mas o apelo foi ignorado pelo Canadá e não teve praticamente eco na media internacional.

Em França, o ex-Presidente Jacques Chirac deveria ser julgado e condenado por desvio de fundos públicos e por ter criado empregos fictícios quando esteve à frente da Câmara de Paris, nos anos 90. O facto é que, devido à sua “condição de saúde”, o julgamento caiu em saco roto. Não vimos, com Jacques Chirac, o espectáculo triste e macabro que foi o transporte do ex-Presidente do Egipto, Hosni Moubarak, acamado e numa “gaiola prisão”, para responder em tribunal.

O que se pode concluir é que o Ocidente protege os seus dignitários, ainda que sejam inequívocas as evidências de corrupção, ainda que se tenham excedido largamente na defesa dos seus direitos. E um dos segredos da estabilidade política duradoura nesses países reside precisamente na salvaguarda que é feita à figura do ex-Chefe de Estado.

No Terceiro Mundo, com a devida ressalva, é gritante a irracionalidade com que alguns políticos se agarram aos clichés produzidos no Ocidente para as realidades locais, preferem de modo propositado não diferenciar os contextos, fazem coro com os chavões e não enxergam a responsabilidade que têm na defesa e reforço das instituições do seu próprio país.

2. O acordo para reduzir em 50 por cento a dívida da Grécia e o compromisso de recapitalização da banca envolvida nos esforços de resgate da dívida dos países em crise financeira levou um certo alívio à Europa. Os mercados reagiram positivamente, mas ainda é cedo para se tirar conclusões mais profundas. Mas uma que é inevitável, partilhada por várias figuras e já avançada, é a de que a Grécia não estava preparada para entrar na União Europeia.

A crise grega começou com uma fraude monumental nas estatísticas fornecidas pelo partido conservador (Nova Democracia), no poder de 2004 a 2009, para que o país fosse admitido na UE. O Governo de Kostas Karamanlis falseou as contas públicas e atribuiu ao país um défice de 15.7 por cento do PIB, quando na realidade o seu valor era quase o triplo. Mais grave é que a Grécia manteve o alto nível de despesas, havendo informações de que, no que concerne a previdência social, na estrutura dos gastos há rubricas que são um autêntico paradoxo. Ainda assim, o líder da Nova Democracia, Antonis Samaras, diz que não se sente obrigado a colaborar com Georges Papandreou para tirar o país da crise em que se encontra. Não admira que, depois disso tudo, Kostas Karamanlis ainda apareça a concorrer para um novo cargo político no futuro.

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