quinta-feira, 30 de junho de 2011

Ramos-Horta anuncia alteração legislativa para país poder comprar dívida externa a Portugal




i Online, com Lusa

O governo de Timor-Leste está a preparar alterações legislativas que permitam a compra de dívida soberana portuguesa a juros "honestos e não especulativos", anunciou hoje em Lisboa o Presidente José Ramos-Horta.

O governante timorense, que falava à imprensa no final do encontro de 50 minutos, no Palácio de Belém, com o Presidente Aníbal Cavaco Silva, acrescentou ser hoje consensual em Timor-Leste a necessidade de diversificar as aplicações financeiras resultantes do Fundo de Petróleo timorense.

“O governo (timorense) neste momento está a estudar uma alteração da lei do Fundo de Petróleo, para permitir subir a margem de 10 por cento para 50 por cento, o que permitiria ao governo poder comprar dívida externa e obviamente qualquer dívida externa para nós, de países da zona Euro ou da OCDE é vantajosa. É um investimento seguro”, salientou.

Segundo a legislação em vigor, os 10 por cento previstos já foram aplicados, sobretudo na compra de dívida externa norte-americana, opção que Ramos-Horta continua a considerar muito pouco interessante.

A aplicação em títulos do tesouro norte-americano, “embora segura”, reconheceu, “nunca deu grandes benefícios”, vincou.

“Disse sempre que para Timor-Leste a compra de possível dívida soberana portuguesa será por negociação direta com Portugal, para encontrar um juro que seja honesto, e não especulativo”, frisou.

Timor-Leste “nunca deverá alinhar com os especuladores de Londres ou Nova Iorque (...) aproveitando a situação difícil de países como Portugal, Grécia ou Irlanda, e fazer compras de dívida a seis meses ou um ano, a juros totalmente insustentáveis. A aplicação seria de cinco ou dez anos”, defendeu.

José Ramos-Horta, que estava acompanhado do vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Alberto Carlos, disse ter aproveitado a reunião com Cavaco Silva para reafirmar o convite para uma visita do Presidente português a Timor-Leste em maio de 2012, data em que se celebra o 10º aniversário da restauração da independência timorense e que serviria ainda para assinalar os mais de 500 anos da presença dos primeiros portugueses no continente asiático.

Proveniente de Angola, onde efetuou uma visita de estado, em que foi assinado um acordo bilateral no domínio da Defesa, Ramos-Horta disse ainda que além daquele setor, os timorenses estão sobretudo interessados na cooperação nos petróleos.

“O que pode haver de maior cooperação será, do nosso lado, aprender de Angola na área dos petróleos, dos recursos minerais. Angola está totalmente disponível para cooperar connosco nessa área”, concluiu.

O presidente timorense, que deixa Lisboa sábado de manhã em direção a Cabo Verde, onde efetuará igualmente uma visita de estado e assistirá às comemorações do 36º aniversário da independência daquele país, tem agendado para sexta-feira, ainda em Lisboa, encontros com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e com a Presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves.

*Foto em Lusa

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 22




MARTINHO JÚNIOR 

A PODEROSA EMERGÊNCIA EURO ASIÁTICA

As posições geo estratégicas dos Estados Unidos no Médio Oriente, que se fundamentam na hegemonia energética e suas articulações, pouco a pouco têm que se ver com uma poderosa emergência que se vai construindo de forma paciente mas persistente, tendo como “catapulta” o imenso território da Rússia.

Se com Gorbatchov e Ieltsin, os interesses da aristocracia financeira mundial tiravam partido da dissolução da URSS e na Rússia consolidavam posições energéticas por via da associação Menatep – Yukos, com a ascensão de Putin a oligarquia russa e seus aliados internos começou a dar-lhe resposta, impondo-lhe o impedimento de participar nos projectos energéticos nacionais e nas suas articulações, desde logo com a neutralização dos interesses ocidentais no Menatep e na Yukos.

Acerca do desaparecimento da URSS, os analistas cubanos como Alejandro Castro Espin autor de “Império del terror”, (artigos em Cubadebate – http://www.cubadebate.cu/categoria/autores/alejandro-castro-espin/) não têm dúvidas:

(…)

“Porém a realidade histórica demonstra que não foram precisamente as ineficiências produtivas soviéticas, nem a capacidade de resposta da economia dos Estados Unidos para assumir os requerimentos da estratégia militarista do seu executivo, o que provocou o ocaso e a ulterior derrocada do Socialismo no colosso euro-asiático, foi a traição de importantes expoentes da sua cúpula dirigente, que amparados na suposta pretensão de rectificar erros cometidos e aperfeiçoar o sistema político, sabotaram os pilares históricos, culturais e pátrios que conformaram a complexa e heterogénea identidade nacional soviética”.

(…)

Na esteira das “transformações” encetadas por Gorbatchov e Ieltsin, a própria biografia de Mikhail Khodoskovsky ilustra bem o momento da traição como o momento do “efeito boomerang” para os interesses anglo-saxónicos em relação à Yukos e a perda de capacidade de penetração nos bancos e petroleiras russas, que passaram inteiramente para as mãos do crescente poder da oligarquia nacional em ascensão após a introdução da lógica capitalista na Rússia  (http://en.wikipedia.org/wiki/Mikhail_Khodorkovsky).

O crescimento do poder da oligarquia russa com a exclusão dos interesses da aristocracia financeira mundial, uma manobra que visava a conservação dos recursos estratégicos em mãos dos russos, deve-se à tomada de medidas sobre os interesses que se conjugavam no Menatep e na Yukos, o que possibilitou o início duma enorme capitalização, em função do crescimento bancário em estreita sincronização com o crescimento da indústria energética na Rússia.

Os oleadutos e gasodutos cresceram primeiro em direcção a uma Europa ávida, que é obrigada a ir buscar longe de suas fronteiras a capacidade energética que a faz mover, um factor em contradição com o “diktat” geo político e geo estratégico da OTAN, para de seguida a expansão das articulações se dirigir para a China e agora para o Paquistão e a Índia, passando pelo Afeganistão.

Os Estados Unidos dão sinais, particularmente nas fileiras mais conservadoras, da “afronta”, pelo que várias ementas geo estratégicas (algumas de recurso) estão a ser seguidas.

De entre essas ementas geo estratégicas, os Estados Unidos deram “carta branca” aos Europeus para, como recurso alternativo ao “diktat” russo – chinês, actuar da forma que está patente sobre a Líbia.

Sem Kadafi e depois de tanta “ajuda” que deram e continuam a dar aos “rebeldes”, a Líbia será uma alternativa dócil para a Europa em concorrência à Rússia, pelo menos na década corrente, a fim da Europa ir buscar com vantagens e a seu bel prazer aquilo que tanto necessita em petróleo e gás.

Enquanto com a Rússia é difícil ou mesmo impossível negociar com vantagens, com uma Líbia “domesticada” a Europa pode chegar facilmente e sem obstáculos maiores até à rapina, que já começou aliás, desde o não pagamento das dívidas correntes do petróleo e gás fornecidos imediatamente antes da guerra de agressão à Líbia, ao congelamento dos fundos líbios no exterior, um congelamento que não terá mais “retorno”!

Incapazes de segurarem os interesses e conveniências noutras latitudes, as extremas vulnerabilidades de África fazem do continente um dos alvos preferenciais das políticas de ingerência, como atestam por exemplo as estatísticas de chefes de estado, ou de figuras notáveis que vão ficando à mercê dum Tribunal Penal Internacional instrumentalizado pela hegemonia, mesmo que sejam importantes para os contenciosos em curso em relação aos seus países, povos e regiões.

O caso do Sudão é outro “dossier” flagrante e o Sudão pode ser também considerado um “ensaio” para o que a hegemonia está a fazer com a Líbia e o que pretende continuar a fazer em África.

De “ensaio” em “ensaio”, quantos não poderão vir a ser tocados em África pelas ingerências da hegemonia nos termos em que ela se vai manifestando?

Enquanto as articulações do Brasil e da África do Sul com os outros BRICS terão de levar em conta as distâncias e os oceanos, o que obrigará antes de mais às ligações no âmbito das regiões em que estão inseridos, as articulações da Rússia, da China e da Índia, desde logo em termos de interesses energéticos entre si, estão condenados a ser desenhados por dentro do imenso continente Euro Asiático e à ilharga do Médio Oriente, agenciando outras potências produtoras regionais e outras potências médias.

Os meios mais conservadores norte americanos, ligados aos “lobbies” da energia e do armamento resumem assim a “afronta” russa (http://www.outraspalavras.net/2011/06/09/energia-e-geopolitica-a-batalha-pela-asia-central):

– “O Kremlin vê a energia como ferramenta para perseguir uma política exterior assertiva.

– O nível de dependência da Europa em relação à Rússia, no campo da energia, é inaceitavelmente alto.

– A Rússia tem tentado excluir os EUA dos mercados de energia da Ásia Central e do Cáspio.

– A Rússia usa a energia para “reengajar” a Índia, o Sudeste da Ásia, o Oriente Médio, a África e a América Latina.

– A Rússia força países vizinhos a dirigir suas exportações de energia, via seu sistema de oleodutos e gasodutos.

– A ausência do império da lei impede empresas ocidentais entrarem no setor russo de energia.

– A Rússia continua não interessada em desenvolver laços de energia com os EUA”.
É evidente que não há emergência alguma, mesmo seguindo uma lógica capitalista, que se possa fazer com dependência, ou sem vantagens recíprocas que promovam os interesses conjugados dos estados e dos povos.

Os próprios países emergentes estendem esse entendimento aos seus relacionamentos com estados mais vulneráveis, promovendo parcerias, o que é, face à hegemonia anglo-saxónica, uma nova forma de negociar que, dada a natureza de sua orientação política, econômica e financeira, é proibida.

A natureza da hegemonia protagonizada pelos interesses da aristocracia financeira mundial choca com a natureza da emergência.

A emergência fere o “modus operandi” que recorre à força militar e à guerra, essencial para a hegemonia e essa “afronta” pode estar na base duma nova “Guerra Fria”.

Os Estados Unidos e a Europa, cada vez mais debilitados sob o ponto de vista financeiro, por outro lado começam a dar sinais de ter de recuar no Iraque e no Afeganistão: as políticas de ingerência militar tornam-se com o tempo obsoletas, não integram o sentido de vida e procuram conformar tudo aos interesses que foram impostos pela força a partir de fora, excluindo todos os outros interesses.

Ninguém para além dos promotores da hegemonia anglo-saxónica, está interessado que uma situação dessas se prolongue, pelo que são as ingerências militares que mais contribuem para se criar espaços vazios abertos às aptidões da emergência.

O “efeito boomerang” é para a hegemonia, muito difícil de entender, será ainda mais difícil de digerir.

Timor quer ter a Galp como parceira para desenvolver indústria do petróleo na costa sul




MSO - LUSA

Díli, 30 jun (Lusa) -- O presidente da Galp afirmou hoje que a petrolífera portuguesa "olha para Timor com rigor, qualidade e ambição" e que os planos para a costa sul do território são uma das razões da deslocação a Díli.

Manuel Ferreira de Oliveira falava à Lusa à margem da conferência "Energia em Timor-Leste", coorganizada pelo Parlamento timorense, pelo Governo de Timor-Leste e pela Galp Energia, que decorre durante dois dias em Díli, em que participam também a Petrobras e a Petrogal Angola, além de autoridades timorenses.

Em causa está o "megaprojeto" do Governo timorense, denominado "Tasi Mane", hoje pormenorizadamente descrito na conferência pelo secretário de Estado dos Recursos Naturais timorense, Alfredo Pires, que visa o desenvolvimento industrial da costa sul, com o setor do petróleo e do gás.

O projeto prevê uma base de fornecimento no Suai, com um porto de mar e aeroporto, um pólo de refinação e indústria petroquímica em Betano, e instalações de liquefação de gás em Viqueque/Betasso, que tem estado na origem da polémica com a petrolífera australiana Woodside, porque pressupõe a ligação em gasoduto ao campo de exploração conjunta de Sunrise, e a concessionária prefere fazer uma plataforma flutuante para processar o gás.

"Esses projetos estão todos neste momento em gestação e uma das razões pelas quais estamos aqui é para os conhecer e para perceber quais são os planos que Timor tem para a construção do seu futuro e estudá-los. Temos o dever de o fazer porque olhamos para Timor com rigor, com qualidade e com ambição", declarou Manuel Ferreira de Oliveira.

As autoridades timorenses estão especialmente interessadas em ver a Galp envolvida no pólo de Betano, como hoje mesmo admitiu à Lusa o secretário de Estado dos Recursos Naturais. 

"Tive uma conversa com a Galp e depois vamos falar melhor sobre as expetativas que temos. Vamos assinar um memorando de entendimento e esse é um dos assuntos que queremos discutir e é uma das possibilidades em aberto", disse. 

"São questões comerciais e os estudos de viabilidade estão feitos. Agora terá que se decidir quem vai participar, mas haverá sempre preferência às parcerias estratégicas", afirmou. 

CUIDADOS MENTAIS POR DIVULGAR




MARIA CAETANO – PONTO FINAL (Macau)

A terapia coerciva dos distúrbios mentais está regulamentada em Macau há 12 anos. Mas os especialistas entendem que a lei não é suficientemente conhecida. As baixas taxas de internamento compulsivo não acontecem por falta de pacientes.

A Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau organiza amanhã, pelas 19h no Clube Militar, um debate sobre os aspectos ético-legais do tratamento compulsivo dos distúrbios mentais. O encontro “com interesse para as comunidades médica e jurídica”, decorre com a participação do psiquiatra Carlos Duarte e do jurista Rui Cascão em torno do Regime da Doença Mental, e dos pressupostos para a imposição de internamento ou ambulatório coercivo a pacientes diagnosticados com perturbações graves do foro psicológico.

A legislação local que enquadra a protecção da pessoa portadora de distúrbio mental data de 1999, replicando o modelo da lei de saúde mental portuguesa adoptada pouco tempo antes, e ainda permanece actual para o psiquiatra Carlos Duarte, que tem vindo a produzir alguns estudos sobre a matéria.

O especialista entende porém que, 12 anos após a entrada em vigor do diploma, este carece ainda de divulgação, tal como parece indicar a baixa taxa local de recurso ao tratamento compulsivo de distúrbios mentais.

O clínico é co-autor de um estudo publicado em 2006 na revista científica da Ordem dos Médicos de Portugal, a “Acta Médica Portuguesa”, no qual se faz um historial analítico da dados relativos aos tratamentos compulsivos ordenados no território durante os primeiros cinco anos de aplicação da lei. O artigo, assinado com outros cinco especialistas chineses, conclui que entre 1999 e 2004 apenas ocorreram 24 casos de pedidos de internamento, com uma taxa máxima de 1,7 doentes forçados a tratamento por cada 100 mil pessoas.

“As quotas e taxas dos tratamentos compulsivos afiguram-se inferiores às verificadas, por exemplo, na União Europeia”, concluiu o documento, onde se reconhece a importância de um mecanismo que permite “iniciar terapêuticas que, de outro modo, seriam inviáveis e ultrapassar situações perigosas”.

A situação manter-se-á actualmente. Num outro estudo a ser publicado em breve pela “Revista de Ciências de Saúde de Macau”, o psiquiatra indica que “as reduzidas quotas e taxas de internamentos compulsivos apontam para a possível existência na RAEM de uma quantidade apreciável de pessoas que não efectuam TC [tratamento compulsivo] apesar de apresentarem critérios para fazerem estes tratamentos”.

O autor, afecto ao serviço de psiquiatria do Centro Hospitalar Conde de São Januário – o único do território –, considera por isso fundamental familiarizar os profissionais de saúde com a regulamentação vigente, de forma a que estes estejam capacitados para identificar pacientes em risco.

De acordo com a lei, o internamento ou tratamento em ambulatório compulsivos podem ser decretados em caso de “distúrbio mental grave”, quando o indivíduo em causa possa criar “uma situação de perigo” para si próprio ou para outros e recuse submeter-se a tratamento. O mecanismo também pode ser accionado quando o portador de distúrbio não tenha “discernimento” para dar consentimento à terapêutica e o seu estado de saúde se possa agravar “de forma acentuada”. O internamento ou tratamento carece de autorização judicial e da autoridade de saúde pública – apenas no primeiro caso há revisão periódica da situação dos pacientes, obrigatória a cada dois meses.

No período analisado no estudo publicado pela revista da Ordem dos Médicos de Portugal, dos 24 pedidos de internamento verificados, e recomendados por psiquiatras, todos foram autorizados. A maioria, 14, disse respeito a indivíduos do sexo masculino e a esquizofrenia foi também o principal diagnóstico a motivar o pedido, verificando-se em 15 casos. O internamento urgente deu-se em 18 situações. O recurso ao tratamento ambulatório ocorreu nas restantes seis situações.

“O internamento compulsivo concluiu-se com os doentes clinicamente melhorados quando da alta hospitalar em 23 casos”, refere o artigo de 2006, realizado pela equipa da unidade de psiquiatria do São Januário. Em apenas um caso se deu a fuga de um paciente, não diagnosticado com psicose, mas com “um perturbação aguda de stress” – o internamento destinava-se a reduzir o risco de suicídio.

Médicos lusófonos de Macau organizam convénio

A Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau, constituída no ano passado, acolhe em Novembro próximo um encontro de clínicos lusófonos num convénio que irá também formalizar a adesão da organização à Comunidade dos Médicos de Língua Portuguesa (CMLP) – grupo internacional da iniciativa da Ordem dos Médicos de Portugal que integra profissionais de saúde portugueses, brasileiros, angolanos, moçambicanos e cabo-verdianos. 

A reunião terá um programa científico de dois dias, com a realização de vários workshops e palestras, recebendo o apoio da Fundação Henry Fok. Com a adesão à CMLP, os médicos lusófonos do território – mais de quatro dezenas que integram a associação – pretendem servir de “ponte” entre a China e os países de língua portuguesa na área da medicina, de acordo com Dulce Trindade, uma das fundadoras da organização local. “Queremos que a nossa associação seja um veículo de apoio a outras comunidades”, explicou, dando como exemplo a possibilidade dos profissionais locais apoiarem a formação de clínicos nos países africanos, no Brasil e em Timor-Leste.

MISSÃO DOS TACV EM BISSAU PARA AVALIAR ESTABELECIMENTO DE PARCERIAS




MSE - LUSA

Bissau, 30 jun (Lusa) -- O presidente do Conselho de Administração dos Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV), António Neves, realiza entre hoje e terça-feira uma visita a Bissau para "avaliar o estabelecimento de parcerias no âmbito dos transportes aéreos".

"Esta missão tem como principal objetivo avaliar o estabelecimento de parcerias no âmbito dos transportes aéreos entre a Guiné-Bissau e Cabo Verde", refere a empresa em comunicado à imprensa.

Segundo o documento, a missão visa também "analisar as principais dificuldades e constrangimentos do mercado, definir ações de melhoria e delinear uma melhor articulação com os parceiros de 'handling' e as estruturas aeronáuticas e governamentais".

Na segunda-feira, a delegação dos TACV faz uma conferência de imprensa numa unidade hoteleira de Bissau para informar sobre os resultados da missão.

A transportadora cabo-verdiana garante atualmente ligações aéreas diárias entre Bissau, Dacar (Senegal) e Praia (Cabo Verde).

Moçambique: GOVERNO DECLARA TOLERÂNCIA ZERO AO ABUSO SEXUAL DE MENORES




FÁTIMA MIMBIRE - AIM

MAPUTO, 29 JUN (AIM) – O Governo de Moçambique declarou hoje tolerância zero a todo o tipo de violência contra a criança, incluindo o assédio e abuso sexual na escola, família e na comunidade, fenómenos que nos últimos anos têm estado a atingir contornos alarmantes.

Nesse contexto, o executivo de Armando Guebuza, juntamente com os seus parceiros de cooperação e a sociedade civil, lançou hoje, em Maputo, a campanha de prevenção da violência e abuso sexual de crianças denominada “Não dá para Aceitar: Tolerância Zero ao Abuso Sexual da Criança”.

Trata-se de uma campanha que visa acabar com a cultura de silêncio e indiferença em relação a todas as formas de violência, incluindo o abuso sexual de crianças, independentemente do sexo, que ocorre na escola, família e na comunidade, por forma a se proporcionar um ambiente são e seguro para esta camada.

Por outro lado, a campanha tem por objectivo estabelecer parcerias para uma resposta multi-sectorial com diferentes sectores governamentais e da sociedade civil, incluindo a comunicação social, para promover um dialogo aberto, bem como assegurar que os alunos saibam se proteger da violência através de jogos e actividades interactivas.

Em Moçambique a violência contra a criança é um crime público, o que significa que qualquer pessoa que testemunhe um caso pode denunciar `as autoridades policiais, que prontamente devem agir.

O Ministro da Educação, Zeferino Martins, disse, durante o lançamento da campanha, que o Governo repudia “veementemente os abomináveis e desumanos actos perpetrados contra as nossas crianças e reafirma o seu cometimento de desencadear um combate acérrimo contra este fenómeno e lograr construir um ambiente escolar tranquilo, são e seguro, no nosso país”.

Zeferino Martins explicou que a campanha é uma acção contra o silêncio e a inércia, pelo que há necessidade de se falar da violência contra a criança, o assédio e abuso sexual na escola, na família e na comunidade.

Para ele, deve se falar das consequências psicológicas, educativas e económicas destes fenómenos na vida das crianças, da baixa auto-estima, fraco rendimento escolar e muitas vezes do abandono a que as crianças vítimas de violência estão sujeitas.

“A nossa acção contra estes males deve ser permanente e consequente, combatendo com coragem a perseverança de atitudes e práticas negativas”, disse o titular da pasta da educação.

Um inquérito realizado pelo Ministério da Educação (MINED), em 2008, revela o quão dramático e preocupante é o problema do assédio e abuso sexuais nas escolas moçambicanas.

Segundo o estudo, no ambiente escolar, 70 por cento das alunas entrevistadas (amostra de quase 900 alunas) afirmaram que alguns professores condicionam a passagem de classe com a relação sexual e muitas vezes o facto 'e consentido pelas mesmas.

O mesmo estudo concluiu que os alunos que sofreram abuso sexual ou qualquer outro tipo de violência não sabem a quem se dirigir na escola para denunciar os casos. O medo de represálias e a vergonha levam os alunos a manterem-se em silêncio.

De acordo com dados da Policia da Republica de Moçambique (PRM), anualmente registam-se cinco mil denúncias de violência e abuso sexual de crianças, número considerado ínfimo para a quantidade de vítimas silenciosas que se estimam em milhares.

“Queremos assumir este compromisso, porque estamos cientes de que uma escola, para cumprir com a sua função educativa, tem de ser um lugar seguro e atraente. Para desenvolver uma personalidade integral e multifacetada tem de se estar num ambiente propício”, frisou.

Para que esta campanha tenha sucesso, o Ministro da Educação apelou à participação de todos os intervenientes da sociedade, desde professores, pais e encarregados de educação, membros dos conselhos de escola, lideres comunitários, tradicionais, religiosos, personalidades influentes, parceiros de cooperação e organizações da sociedade civil.

O Representante Adjunto do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em Moçambique, Roberto de Bernardi, garantiu, por seu turno, a continuação do apoio ao MINED quanto a prevenção da violência contra a criança e exortou outras organizações a fazerem o mesmo.

Bernardi frisou que existem muitas campanhas sobre a prevenção da violência em Moçambique, mas a diferença com a que é liderada pelo MINED é a urgência.

“Moçambique está a tomar medidas para combater esta grave situação. O país sabe o que é preciso ser feito e possui planos nacionais”, sublinhou.

A campanha tem a duração de quatro anos e é coordenada pelos Ministérios da Mulher e da Acção Social, da Justiça, do Interior e da Saúde, para além de organizações da Sociedade Civil.

(AIM) FTA/mz

*Foto em Lusa

PORTUGAL AO ESPELHO




JORGE MORBEY - PONTO FINAL (Macau)

Ao fim de seis anos de governo, o legado que José Sócrates e o PS deixam a Portugal é inventariado no último livro do economista e professor universitário Álvaro Santos Pereira:

O pior crescimento económico dos últimos 90 anos, na última década;

A maior dívida pública dos últimos 160 anos, em percentagem do PIB, que não inclui as dívidas das empresas públicas (25% do PIB); nem os encargos, no valor de 60 mil milhões de euros  (35% do PIB), com as parcerias público-privadas, na construção de auto-estradas, hospitais, escolas, etc., cujo pagamento será efectuado por futuras gerações e governos vindouros;

A pior taxa de desemprego dos últimos 90 anos, que continua a aumentar após ter chegado aos 11,1% no ano corrente: com 620 mil desempregados, em que se incluem 300 mil no desemprego, há mais de 12 meses;

A maior dívida externa dos últimos 120 anos: a dívida externa bruta de Portugal era inferior a 40% do PIB, em 1995. Em 2011, ronda os 230% do PIB; a dívida externa bruta aproxima-se de um valor que é quase oito vezes o valor das exportações portuguesas; Portugal figura entre os dez países mais endividados do mundo em praticamente todos os indicadores possíveis; a dívida externa líquida, em 1995, equivalia a 10% do PIB. Em 2011, aproxima-se dos 110% do PIB;

O endividamento das famílias é de cerca de 100% do PIB e 135% do rendimento disponível;
A dívida das empresas é equivalente a 150% do PIB;

Cerca de 50% de todo o endividamento nacional é imputável, directa ou indirectamente, ao Estado;

Portugal passa pela segunda vaga de emigração dos últimos 160 anos; e sofre a segunda maior fuga de cérebros entre os países da OCDE;

O país tem a pior taxa de poupança dos últimos 50 anos;

Nos últimos 10 anos, os défices da balança corrente oscilaram entre os 8% e os 10% do PIB;
Na Justiça, em 1995, havia 630 mil casos pendentes nos tribunais cíveis; em 2011, esse número subiu para 1,6 milhões. No entanto, na Europa, Portugal é um dos países que mais gasta com os tribunais por habitante;

Na Educação, Portugal tem a terceira pior taxa de abandono escolar entre todos os países da OCDE, melhor do que o México e a Turquia, apenas;

O peso da despesa do Estado já ultrapassa os 50% do PIB. Existem: 349 institutos públicos, 87 direcções regionais, 68 direcções-gerais, 25 estruturas de missões, 100 estruturas atípicas, 10 entidades administrativas  independentes, duas forças de segurança, oito entidades e sub-entidades das Forças Armadas, três entidades empresariais regionais, seis gabinetes, um gabinete do primeiro-ministro, 16 gabinetes de ministros, 38 gabinetes de secretários de Estado, 15 gabinetes dos secretários regionais, dois gabinetes de Presidente de Governo Regional, 2 gabinetes da Vice-Presidência dos Governos Regionais, 18 Governos Civis, 2 áreas metropolitanas, nove inspecções regionais, 16 inspecções-gerais, 31 órgãos consultivos, 350 órgãos independentes (tribunais e afins), 17 secretarias-gerais, 17 serviços de apoio, dois gabinetes dos representantes da República nas regiões autónomas, 308 câmaras municipais, 4260 juntas de freguesia, comissões de coordenação e desenvolvimento regional, comunidades intermunicipais. É obra!!!

Em vez de travar e reduzir drasticamente o peso do Estado para reduzir o défice das contas do Estado, o Governo PS/José Sócrates, que Portugal teve nos últimos seis anos, optou por cortar salários e pensões, e aumentar impostos, nos orçamentos de Estado mais recentes e nos sucessivos PECs que complementaram aqueles.

O resultado está à vista: o PS/José Sócrates obteve 28,05% dos votos expressos, contra os seus opositores principais – PSD com 38,63% e CDS/PP com 11,74%.

Portugal, que futuro?

Na leitura dos resultados das Legislativas de 2011, assume importância capital o valor da abstenção (41,1%) e de votos brancos (2,67%). A abstenção, aliás, tem vindo a crescer permanentemente: 35,7% (2005) e 40,3% (2009).

Já nas eleições presidenciais de 23 de Janeiro de 2011, a maioria do eleitorado não foi às urnas (53,6%). Os eleitores que votaram em branco, isto é, que optaram também por não escolher nenhum dos candidatos, foi de 4,26%.

Temos, portanto, que 43,8% dos eleitores dos deputados à Assembleia da República e 57,9% dos eleitores do Presidente da República, quiseram ficar de fora do processo de escolha dos dois órgãos de topo do sistema político português. Estamos face a dois recordes de não participação dos portugueses na vida política do seu país registados em 2011.

Não pondo em causa a legitimidade formal para o exercício do poder pelo Presidente da República e pela Assembleia da República, eleitos em 23 de Janeiro e 5 de Junho de 2011, parece oportuno questionarmo-nos sobre se se deverá prosseguir com um sistema político, assente num sistema eleitoral, que corre o risco de ser cada vez menos representativo da vontade colectiva dos portugueses.

É verdade que só não vota quem não quer. Mas este alheamento dos portugueses, no que se refere à escolha das cúpulas do seu sistema político, não augura nada de bom. Será apenas desinteresse irresponsável? Não acredito. É também uma forma de protesto e uma manifestação visível de descrédito relativamente às instituições políticas que não têm estado à altura das legítimas expectativas de vida de um número assustadoramente crescente de portugueses, e que encontra explicação nos dados inventariados pelo Prof. Álvaro Santos Pereira.

Mudar o povo ou alterar o sistema

Escrevia o Prof. Jorge Dias em 1950 que “a única constante de um povo é o seu fundo temperamental e que o português não gosta de fazer sofrer e evita conflitos, mas, ferido no seu orgulho, pode ser violento e cruel”.

O voto em branco e a abstenção têm consequências diferentes na aritmética eleitoral. Ambos podem ter por motivação: a não identificação com nenhum dos partidos políticos ou candidatos presidenciais; um modo de protestar contra a classe política; uma intenção de retirar legitimidade ao sistema político. Se os respectivos valores percentuais se apresentam baixos, podem ter a leitura do inconsequente ‘agarrem-me, se não eu…’.

Onde se situa a fronteira a partir da qual os não votantes e os que votaram em branco adquirem peso político bastante para que a sua opção seja tomada em conta? Essa fronteira não existe. Alguns sistemas eleitorais estabelecem a obrigatoriedade do voto, prevendo penalidades para os eleitores que não votarem, o que também perverte a representatividade da vontade colectiva. Mas a regra é a de conferir valor aritmético somente aos votos expressos, o que também não garante essa representatividade. De modo que, ou o poder político tem a inteligência suficiente para perceber a necessidade de alterar o sistema, procurando torná-lo, o mais possível, genuinamente representativo; ou arrisca-se à ruptura do sistema, por via revolucionária ou por golpe de Estado. Em Portugal, a I República foi fértil em rupturas desta natureza em que acabou por sucumbir.

Nos últimos seis anos, Portugal resvalou em plano inclinado para um clima de crescente tensão social que pode inviabilizar a governabilidade do país. A esquerda parlamentar apresenta-se minoritária. Mas a esquerda social tem condições para mobilizar e liderar o descontentamento de todos os sectores da população unidos pelo desemprego, pela fome, pela redução de salários e pensões, pelo corte de benefícios sociais e crescentes dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, pelo endividamento das famílias que põe em risco a sua própria habitação, pela crescente desigualdade social que circula com nomes, fotografias e escandalosos rendimentos auferidos pelos ‘príncipes do sistema’, pela dor da emigração de entes queridos, pelo aumento da insegurança e da violência, etc.

A internet, as redes sociais, as sms, têm-se revelado meios céleres de mobilização, protesto e derrube dos sistemas políticos que se divorciaram da vontade colectiva. Estar-se-á a tempo de evitar o pior?

Dizia também o Prof. Jorge Dias: “[o português] é um povo paradoxal e difícil de governar. Os seus defeitos podem ser as suas virtudes e as suas virtudes os seus defeitos, conforme a égide do momento”.

D. Sebastião e Salazar

Segundo o mesmo ilustre antropólogo, “a saudade é um estranho sentimento de ansiedade que parece resultar da combinação de três tipos mentais distintos: o lírico sonhador – mais aparentado com o temperamento céltico –, o fáustico de tipo germânico e o fatalístico de tipo oriental”. Este último tipo mental invade os portugueses nas épocas de abatimento e de desgraça. Então a saudade toma uma forma especial, em que o espírito se alimenta morbidamente das glórias passadas e cai no fatalismo de tipo oriental, que tem como expressão o ‘fado’, cujo nome provém do étimo latino ‘fatu’ (destino, fadário, fatalidade).

Em 2007, num programa da RTP intitulado “Os Grandes Portugueses”, Salazar foi eleito “o maior português de sempre” contra tudo o que seria de esperar de uma vontade colectiva identificada com o sistema político português instituído na vigência da Constituição de 1976.

O referido programa de televisão, um modelo original da BBC, havia sido  realizado em outros países. Em França foi eleito Charles De Gaulle, em Inglaterra Winston Churchill e nos Estados Unidos Ronald Reagan. Resultado nada discrepante com a identificação desses povos com o seu sistema político.

O Sebastianismo tem as suas raízes na perda da independência nacional de Portugal, em 1580, e na dominação dos portugueses por um poder estrangeiro, até 1640. Oliveira Martins, em 1879, explicava que o povo português, abandonado e perdido, fizera do lendário D. Sebastião um génio e da sua história um mito. Sampaio Bruno, em 1904, abordou as pistas para o desvendamento do mito. José Lúcio de Azevedo, em 1918, traçou a sua origem e evolução. António Sérgio, em 1920, classificou-o como um fenómeno social e intelectual produzido em condições que se resumem numa consciência de “queda”, acompanhada da falta de verdadeira independência. Acrescenta que, com a persistência de tais condições, o mito segue paralelamente a tradição do bandarrismo. E concluía: “O messianismo terá vida (ou poderá tê-la) enquanto se impuser a este povo, para comparar e contrapor à sua efémera grandeza, o espectáculo persistente da sua lúgubre decadência”.

O mito sebastianista vicejou em poetas como António Nobre, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e outros. A sua permanência na História de Portugal, com metamorfoses e ressurgências em determinadas épocas, deu azo a que o historiador já referido, José Lúcio de Azevedo, tivesse concluído que o sebastianismo “nascido da dor, nutrindo-se da esperança, é na história o que é na poesia a saudade, uma feição inseparável da alma portuguesa”.

Pode estar a germinar em Portugal novamente um messianismo, metamorfoseado agora em Salazar: ‘homem honesto, professor universitário prestigiado, político incorrupto, guardião indomável da independência nacional durante os 40 anos de exercício do poder, que nasceu e morreu pobre’; em contraposição à imagem da liderança política mais recente de Portugal que Urbano Tavares Rodrigues, meses atrás, sintetizava do seguinte modo: “Como explicar que o povo que foi sujeito da Revolução de Abril tenha hoje como Primeiro-ministro, transcorridos 35 anos, uma criatura como José Sócrates? Como podem os portugueses suportar passivamente há mais de cinco anos a humilhação de uma política autocrática, semeada de escândalos, que ofende a razão e arruína e ridiculariza o País perante o Mundo?”

Portugal ao espelho

Convenhamos que José Sócrates foi o elo mais recente de uma cadeia de lideranças políticas em que se acumularam erros graves.

Portugal sentiu as maiores dificuldades em se voltar a situar no mundo. Ao projecto nacional de construção de uma ‘nação pluricontinental e multirracial’, nenhum outro projecto nacional mobilizador se seguiu.

A entrada de Portugal na CEE/UE deu-se não como gente trabalhadora que  embarcava para trabalhar como tripulação de um dos navios de uma frota,  mas como turistas que entravam a bordo de um paquete de cruzeiros, sem dinheiro para as despesas da viagem.

Terá Portugal vocação europeia? Desde Aljubarrota (1385) e Ceuta (1415), Portugal virou costas à Europa, até ao 25 de Abril (1974). Ao fim de seis séculos de História, era previsível que não fosse fácil a reconversão da identidade colectiva e da personalidade base dos portugueses.

A fragilidade da economia portuguesa, enraizada na Política Ruralista do Estado Novo de auto-suficiência alimentar (1926-1950) e na Lei do Condicionamento Industrial (1931), altamente proteccionista da produção nacional, serviu para eliminar a concorrência interna das empresas já existentes em cada ramo mas, ao mesmo tempo, contribuiu para a estagnação tecnológica, a criação de monopólios, a fraca qualidade dos bens e serviços produzidos, isto é, resultou na construção de um tecido empresarial português muito frágil.

O mercado das colónias, com escritórios instalados em Portugal que decidiam sobre as suas importações e exportações – sobrefacturando aquelas e subfacturando estas cujos diferenciais retinham em Portugal – eram altamente compensadores para a economia portuguesa.

Ainda assim, o equilíbrio das contas públicas conseguia-se com as remessas dos emigrantes. Portugal era um país rico – que se dava ao luxo de manter uma guerra em três frentes – povoado de gente pobre.

A descolonização retirou à economia portuguesa o controlo dos mercados coloniais. Apesar do profundo golpe que sofreu, a economia portuguesa conseguiu manter por alguns anos o equilíbrio das contas públicas. Os 48 anos de Estado Novo, no meio de tudo o que de mau deixou ao país, legou-lhe uma pesada herança, em ouro e divisas.

O Prof. Mário Murteira, vice-primeiro ministro do Governo da Eng.ª Maria de Lurdes Pintassilgo, afirmava publicamente que o que faltava em Portugal não era dinheiro. Do que havia falta – dizia – era de ideias e projectos. Mas o empresariado português passou a fazer negócios com o dinheiro dos bancos. Os capitais sociais, os capitais próprios, eram mais ou menos ficção. Começou o endividamento das empresas.

O endividamento das famílias teve início em consequência da política populista das ocupações de bens imóveis que se seguiu ao 25 de Abril. O desfavorecimento dos proprietários, incluindo os senhorios de imóveis para habitação e a contenção do valor das rendas de casa levou à rápida deterioração do parque habitacional e à extinção do mercado de arrendamento para habitação. Desapareceram os escritos nas janelas que indicavam casa para arrendar. Quem necessitava de casa não encontrava oferta de habitações  para arrendar.

A solução passou a ser a compra de apartamentos em urbanizações na periferia das cidades, com recurso ao financiamento bancário garantido por hipoteca.

A inexistência de redes de transportes colectivos entre a habitação e o local de trabalho, com passagem pelas amas, creches, jardins de infância ou escolas, resolveu-se com a compra de viatura própria, com recurso a crédito titulado por letras. Assim começaram as famílias a viver acima das suas possibilidades. O hábito entranhou-se na sociedade portuguesa e cresceu como bola de neve.

A nível político, os governos do Estado Novo eram alcunhados de “governos de catedráticos”. Na verdade, os ministros, secretários e subsecretários de Estado, originários de famílias humildes, na sua maior parte, eram professores universitários, oficiais das forças armadas, gente que tinha uma carreira profissional prestigiada, a que regressava quando saía do Governo.

A democracia portuguesa passou a privilegiar, como é natural, a filiação partidária. Os filiados dos partidos foram perdendo qualidade. Gradualmente foram aumentando ministros e secretários de Estado recém-formados nas Jotas partidárias, com habilitações adquiridas já no exercício de funções políticas, sem exercício profissional prévio e credenciado. Com excepções, é certo. Mas cada vez em menor número.

A fragilidade da economia, encostada ou mesmo dependente da política e dos partidos, trouxe para a arena política a maior promiscuidade de que há memória entre a política e a economia. Daí o espectáculo degradante e típico das “repúblicas das bananas”, do favorecimento recíproco. A política passou a ser o trampolim para a entrada no mundo dos negócios e das negociatas. Passou a ser regra nos chamados partidos com vocação para governar. O casamento da política com os negócios e as negociatas pariu um polvo, agora em idade adulta, cujos tentáculos têm a cor dos partidos que têm governado Portugal em democracia.

Saneamento nacional

Portugal parece precisar urgentemente de um verdadeiro saneamento nacional. Não só nas finanças e na economia, como agora lhe é imposto de fora. Mas na política, principalmente. É imperativa a reconciliação dos portugueses com o seu sistema político, de que o sistema eleitoral é parte integrante. É inadiável que os portugueses voltem a ter confiança em quem governa. Na política, na Administração e nas empresas. Não se restaura a confiança a pedir-lhe sacrifícios enquanto persistir o fosso das remunerações e das pensões que os separa de políticos e gestores públicos.

Faço eco ao grito de revolta de Clara Ferreira Alves, com excertos do artigo que publicou no Expresso, em Março de 2009:

“É muito triste, mas fomos nós, a nossa inépcia e indiferença que permitiu que estes senhores tornassem Portugal o país mais atrasado da Europa. Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo  ter formação, que nunca adquiriram, que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido. Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.”

A “escavação da verdade”, a cargo do poder judicial realmente independente e imune a pressões políticas, é condição essencial para restituir confiança dos portugueses nas suas instituições. Em 1975, após a queda do Estado Novo, vigorou legislação de saneamento de que resultou na declaração de incapacidade cívica, activa e passiva, dos indivíduos ligados ao antigo regime.

Se os partidos com assento parlamentar tiverem a coragem de firmar um Pacto de Transparência visando o apuramento da responsabilidade civil e criminal dos políticos e gestores públicos comprometidos com o empurrão que levou Portugal a resvalar para o fundo do abismo em que se encontra, terão o prémio de passarem a ser depositários da confiança dos portugueses, principalmente porque alguns deles terão de se purificar pelo hara-kiri de correligionários.

Por outro lado, se os mesmos partidos firmarem um pacto de equidade que reduza o leque de retribuições diminuindo o fosso que separa todos os portugueses de alguns portugueses, reforçarão as possibilidades de impor sacrifícios a todos, após ser público e notório o sacrifício desses ‘alguns’.

É este o caminho por que se salvará a democracia em Portugal e se abrirão as portas para a felicidade colectiva dos portugueses.

*Jorge Morbey, investigador e professor universitário - 10.06.2011

AS PALAVRAS, ESSA CHATICE




FERREIRA FERNANDES – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião

Chegar às portagens e fazer o que quase todos fazem, sair, levantar a cancela e andar sem pagar, isso é explosivo. Transformar a capital do país, durante dias, palco de combate entre tropas de choque e manifestantes, granadas e cocktails Molotov, isso é explosivo.

Votar à justa (155 em 300) porque a oposição não alinha, quando a alternativa era a bancarrota do país, isso é explosivo. Isso é explosivo e saber o que significa não exige consultar dicionários, basta ligar a televisão à hora do telejornal. A Grécia está explosiva. Portugal, não.

As manifestações, ontem, por exemplo, em Viana, foram ordeiras. Os portugueses estão descontentes mas não se deixam desesperar. Podem estar zangados mas não estão irados. O Governo adopta soluções duras, sabendo que não será recebido à pedrada. A oposição que está no Parlamento com o fito de vir a ser Governo (e este alcançado por votos, não pela rua) é responsável. É este o retrato do País, cordato, não explosivo.

Lembro-o porque, anteontem, o Presidente disse: "(...) se bem se recordam, há talvez mais de dois anos que disse que Portugal se aproximava de uma situação explosiva, lamentavelmente chegámos a essa situação explosiva." Não me recordo do que Cavaco Silva disse há dois anos e também não me vou recordar mais do que ele disse anteontem. Eu gostava, mesmo, era de um Presidente que não tropeçasse nas palavras.

Portugal: MARATONA NA ASSEMBLEIA PARA DISCUTIR PROGRAMA DO GOVERNO




PÚBLICO, com Lusa

Aprovação marcará entrada oficial em funções do executivo

Um debate de mais de oito horas, que começa hoje e se estende até sexta-feira à tarde, em que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho não terá limite de tempo para a sua intervenção. Arranca hoje uma autêntica maratona na Assembleia da república para apresentar o programa do Governo de coligação PSD – CDS-PP. E só depois o novo Governo entra oficialmente em funções.

A abertura do debate, marcada para as 15h00, será feita pelo primeiro-ministro, que deverá anunciar as “medidas de carácter extraordinário”, previstas no âmbito do Memorando de Entendimento com a troika ou não. Mas sobre essas medidas, apesar de Passos já ter dito a semana passada, em Bruxelas, que as ia executar, será preciso esperar por esta tarde para as conhecer uma vez que nada ainda foi revelado. A criação de um imposto extraordinário, a subida do IVA ou a alteração dos escalões de IRS são algumas das possibilidades que se foram avançados pela comunicação social ao longo da semana.

Depois da intervenção de Passos Coelho, os partidos terão uma hora e 15 minutos para fazer pedidos de esclarecimento ao executivo, com o PS a abrir, seguido do PSD, CDS-PP, PCP, BE e Partido Ecologista Os Verdes, que poderão ‘gastar’ cinco minutos na primeira pergunta. O Governo terá uma hora e 20 minutos para responder.

De seguida abre-se, então, o tempo de debate, uma ‘maratona’ de quase quatro horas e meia, com o Governo a poder intervir na discussão após a primeira ronda de intervenções que seguirá a mesma ordem dos pedidos de esclarecimento (PS, PSD, CDS-PP, PCP, BE e Os Verdes).

As intervenções seguintes dos grupos parlamentares e do executivo ocorrerão de acordo com a precedência das inscrições. Ao todo, ao longo do período de debate, o Governo terá 80 minutos, o PS 40, PSD 50, CDS-PP 35, PCP 30, BE 20 e Os Verdes 10.

De acordo com o número 3 do artigo 192º, “até ao encerramento do debate pode qualquer grupo parlamentar propor a rejeição do programa ou o Governo solicitar a aprovação de um voto de confiança”. Segundo estabelece o número 4 do mesmo artigo, “a rejeição do programa do Governo exige maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções”.

BE e PCP deixaram em aberto a apresentação de uma moção de rejeição ao programa do Governo. Contudo, qualquer iniciativa nesse sentido será inevitavelmente chumbada, já que o Governo liderado por Pedro Passos Coelho é apoiado pela maioria PSD/CDS-PP. Já o PS prometeu uma estratégia de "oposição construtiva".

Em 2009, a discussão do programa do último executivo socialista liderado por José Sócrates, que terminou sem votação, ficou marcado pela controvérsia em torno da avaliação dos professores e pelo anúncio do aumento das pensões.

Só depois da apresentação e discussão do programa do Governo na Assembleia da República o Governo estará plenamente em funções. Antes da apreciação do seu programa pela Assembleia da República, conforme estabelece a Constituição, o executivo apenas pode praticar os “actos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos”.

Portugal: TSF RELEMBRA TEMPOS DO ULTRAMAR E “AMÉRICAS”





Há em todas as famílias portuguesas alguém que um dia viajou no Vera Cruz, no Santa Maria, no Pátria ou nos muitos navios que faziam, nos anos 50 e 60, as viagens para o Ultramar ou para as "américas". 

Na reportagem TSF, "Carta de um Navegante para o Ultramar", escutamos esses testemunhos e ficamos a conhecer o navegante Carlos do Carmo, que antes de ser cantor, andou nesses navios como conferente e animador de bordo.

Pode ouvir na íntegra a grande reportagem TSF, "Carta de um Navegante para o Ultramar", esta quinta-feira na emissão da TSF, depois das notícias das 20h00.
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Mais de 700 mil funcionários públicos em greve nas próximas 24 horas no Reino Unido





Cerca de 750 mil funcionários públicos estão  hoje em greve em protesto contra os planos do governo de mudar o sistema  de pensões de reforma. 

A greve de 24 horas foi convocada por cinco sindicatos que representam  cerca de 750 mil funcionários públicos britânicos, o que faz deste protesto  um dos maiores dos últimos anos.   

Além de professores e funcionários que inspecionam os passaportes nos  aeroportos, portos e estações ferroviárias internacionais, a greve deverá  ter adesão também entre inspetores de condução, funcionários de tribunais,  de centros de emprego e outros serviços públicos.
 
Os funcionários públicos britânicos consideram que a reforma de pensões  os obrigará a "trabalhar e contribuir mais para ganharem menos dinheiro". 

A greve obrigará ao encerramento de várias escolas no Reino Unido e  serão realizadas manifestações em várias cidades, como Londres, onde está  convocado um protesto em frente à sede do Parlamento de Westminster cerca  das 13:15 de Lisboa.
 
As forças de segurança foram mobilizadas para vigiarem os diferentes  protestos. 

Em alguns organismos públicos, os trabalhadores foram autorizados a  levarem os seus filhos para o trabalho para evitar que tirem o dia tendo  em conta que milhares de professores se juntaram à greve.  

A greve responde ao plano do governo de elevar a idade de reforma para  os 68 anos e reduzir as pensões, medidas que os sindicatos consideram que  terão um "impacto significativo" na indústria.  O governo invoca a necessidade de "reequilibrar o sistema" para que  os custos de sustentar as pensões públicas não recaiam sobre os contribuintes. 

O primeiro-ministro, David Cameron, afirmou na quarta-feira no Parlamento  não existir razão para esta greve "até porque as negociações continuam"  e considerou que as reformas são "justas para os contribuintes e também  para o setor público".

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