sábado, 15 de setembro de 2012

A DEMOCRACIA E A CIDADANIA SAÍRAM HOJE À RUA EM PORTUGAL!

 
PSP a proteger as instalações da troika em Lisboa - foto Tiago Petinga/Lusa

Cerca de 40 cidades de Portugal viram as ruas invadidas pelo povo português na maior manifestação realizada desde o 1º de Maio de 1974, dias após o 25 de Abril que derrubou o Salazar-marcelismo. Avançar números nunca cumprirá a exatidão. Há quem faça estimativa de que nas cerca de 40 cidades um milhão de portugueses se manifestaram contra o governo de Passos Coelho pedindo a sua demissão e cumprindo a palavra de ordem mobilizadora: “A troika que se lixe! Queremos as nossas vidas!”
 
TRABALHO EXEMPLAR DA PSP
 
Certo é que hoje nas ruas de Portugal aconteceu cidadania em manifestações pacíficas com um ou outro caso pontual de violência por desordeiros. Poucos, mas os suficientes para desrespeitarem as centenas de milhar de manifestantes por todo o país. De realçar o comportamento, a correção exemplar da PSP. Não fosse os mínimos focos de instabilidade causada por desordeiros e quase nem se dava pela presença da polícia.
 
Desta vez, contrariando maus hábitos mais recentes, a PSP atuou profissionalmente, protegendo aquilo que devia proteger, não hostilizando injustificadamente o povo que se manifestou ordeiramente.
 
400 MIL EM LISBOA, 120 MIL NO PORTO
 
Em Lisboa mais de três quilómetros preenchidos por manifestantes. A concentração deveria de ser na Praça de Espanha mas a verdade é que muitos milhares não chegaram a caber no local, tendo ficado na avenida de Berna e em ruas circundantes. A Praça de Espanha é uma das maiores praças de Lisboa, se não a maior. Falaram em meio milhão de manifestantes. Na nossa estimativa terão sido uns 400 mil com certeza.
 
CONTRA OS PARASITAS
 
Exerceu-se cidadania reeditou-se a democracia. Este é um processo que não pode acabar aqui e que finalmente tem na juventude portuguesa a impulsionadora de algo que pode mudar Portugal para maior Justiça, democracia de facto, equidade, tudo o que os políticos desde há duas décadas andam a retirar aos portugueses – roubando-os material e politicamente, parasitando desde jovens em partidos políticos que sugam uma boa margem da riqueza produzida pelos trabalhadores portugueses. “Meninos” das juventudes partidárias que agora, já adultos, mostram que nada aprenderam a não ser continuar a parasitar e a espoliar o que pertence legitimamente ao Estado, e o Estado é povo português. Exatamente contra as decisões erradas e prejudiciais desses parasitas, de Belém a São Bento, é que tantas centenas de milhares de portugueses se manifestaram. (PG)
 

Portugal - Manifestação: Centenas de milhares saíram à rua contra a troika e o Governo

 
 

Público, com foto
 
Reportagens de: Tolentino de Nóbrega, Luciano Alvarez, Carlos Dias, Sara Dias Oliveira, Graça Barbosa Ribeiro, João Pedro Pereira, Samuel Silva, Hugo Torres
 
Os manifestantes não foram contabilizados, mas as manifestações nas cerca de 40 cidades em que houve protestos apontam para que centenas de milhares se tenham manifestado este sábado contra a troika e as medidas do Governo.
 
O dia de protestos visto pelos jornalistas do PÚBLICO.

22h00, Lisboa O ambiente acalma na manifestação frente à Assembleia da República. Alguns manifestantes começam a dispersar. Chega ao fim uma das maiores manifestações de protesto realizadas em Portugal desde o 25 de Abril de 1974. Os portugueses saíram à rua para dizer “basta” à medidas da troika e do Governo em 40 cidades do país.Luciano Alvarez

Lisboa, 21h25 Manifestantes lançam várias bombas de fumo contra a polícia frente à Assembleia da República. O ambiente aquece. PÚBLICO

21h15, Lisboa Protestos intensificam-se frente à Assembleia da República. Manifestantes rebentaram uma bomba de fumo. Luciano Alvarez

21h13, FunchalOs promotores da manifestação anti-troika na Madeira não decidiram se vão repetir a iniciativa a 22 de Setembro. No final do protesto que concentrou cerca de cinco mil madeirenses na Praça do Município, depois de cantarem o Hino Nacional e proclamarem vivas a Portugal, os manifestantes reuniram-se numa espécie de assembleia popular que foi consultada sobre a realização ou não de nova manifestação no próximo sábado. Face à dificuldade de tomar uma decisão no local, Duarte Rodrigues, um dos promotores da mobilização de hoje, anunciou aos presentes que a decisão será tomada oportunamente, após ouvir a opinião das pessoas, nomeadamente através das redes sociais, e conhecer o que vier a ser acordado relativamente a outras manifestações noutras cidades do país. Tolentino de Nóbrega

20h47, Lisboa Largo fronteiro à Assembleia da República já está completamente cheio de manifestantes. Luciano Alvarez

20h26, Lisboa Houve breves desacatos frente à Assembleia da República. As grades de contenção dos manifestantes chegaram a ser derrubadas, mas foram entretanto repostas. PÚBLICO

20h16, Funchal Milhares de madeirenses manifestaram-se este sábado na baixa do Funchal. Os manifestantes entoaram palavras de ordem contra as medidas anunciadas pelo Governo. “Abaixo a mamadeira, Jardim para a rua” e “A luta continua, Alberto João para a rua”, protestaram no final da concentração, no Largo do Município. “Troikem o Passos”, “A incompetência tem limites”, “Presidente da Republica procura-se, ”Eles roubam e o povo é quem paga”,” Passos ladrão, o vosso lugar é na prisão"e "Quem semeia miséria colhe fúria", foram algumas das inscrições em cartazes e faixas exibidas no protesto. Tolentino de Nóbrega

19h56, Lisboa Alguns dos manifestantes que participaram na marcha alfacinha, que acabou na Praça de Espanha, rumaram para a praça frontal à Assembleia da República, onde vão continuar os protestos. Luciano Alvarez

19h54, Portimão Cerca de um milhar de pessoas manifestaram-se em Portimão contra as medidas de austeridade impostas pelo Governo e pediram a demissão do executivo de coligação PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho. Os manifestantes concentraram-se às 16h, em frente da Câmara de Portimão, e desfilaram depois pelas ruas da baixa da cidade até à marginal, onde quem quis tomou a palavra para dizer o que entendia e protestar contra as medidas de austeridade, como as alterações à Taxa Social Única, que disseram estar a agravar o nível de vida dos portugueses. Com palavras de ordem como “Passos ladrão, não vales um tostão” ou “Passos atenção, não queremos exploração” e cartazes com frases como “Troika que os pariu”, os manifestantes deram voz ao seu desagrado pelo novo pacote de medidas de austeridade anunciadas e contra a situação difícil que o Algarve e o país atravessa em termos de desemprego. Lusa

19h48, Lisboa Manifestação também é oportunidade de negócio: na Av. de Berna vendem-se cornetas no meio da rua. "Duas, cinco euros! Duas, cinco euros!" Hugo Torres

19h44 Corre nas redes sociais um apelo a uma manifestação na sexta-feira, à porta do Palácio de Belém, durante a reunião do Conselho de Estado. PÚBLICO19h20, Coimbra A manifestação desagua no Parque Verde, junto ao Mondego. O comissário da PSP aponta para 20 mil pessoas. Graça Barbosa Ribeiro

19h14, Viseu O Rossio de Viseu foi hoje palco de uma das maiores manifestações desde o 25 de Abril de 1974 na cidade, com mais de 2.000 pessoas a participar no protesto nacional. A partir das 16h já se contava mais de uma centena de pessoas na praça do Rossio (praça da República), onde se situa a câmara municipal de Viseu, mas, por volta das 17h, foi perceptível que esta seria uma das maiores manifestações de sempre na cidade. Num pequeno palco improvisado sucederam-se as intervenções de populares, cujo mote que a todas tocou foi a influência da austeridade na vida das pessoas, tendo o poeta António Gil sublinhado a ideia de as forças de segurança e as Forças Armadas “também estarem com este protesto”. Lusa

19h02, Funchal Milhares de pessoas desfilaram hoje no Funchal. Tolentino de Nóbrega

18h50, LisboaSegundo a SIC-notícias na cauda da manifestação, um grupo de militantes de extrema direita desfila cercado por um cordão de protecção policial. PÚBLICO

18h47, LisboaUma pessoa foi hoje detida na manifestação “Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!”, em frente aos escritórios do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Lisboa, na Avenida da República. A Lusa presenciou a detenção, feita por polícias à paisana, depois de vários manifestantes terem arremessado tomates, petardos e garrafas de cerveja contra a porta do edifício nº 57, onde o FMI tem escritórios no 9.º andar. Lusa

18h46, Coimbra Os manifestantes não chegaram a encher o ponto de concentração, a Praça da República. Mas foram muitos os que incorporaram o cortejo quando, às 17h45, as pessoas começaram a descer a avenida Sá da Bandeira, em direcção à baixa da cidade. "Há muito que não via tanta gente na rua", disse um elemento da PSP, que admitiu que o número de manifestantes ultrapassasse os cinco mil. A mancha humana estava pontuada por bandeiras de Portugal. "Não é pelo pais que lutamos?", justificou Lurdes Nunes, que, aos 46 anos, participava pela primeira vez numa manifestação de rua. O filho de 28 anos regressou a casa, desempregado. Ela e o marido são funcionários públicos e sentem que depois de "uma vida a trabalhar para não dever nada a ninguém" estão a "pagar o que os outros gastarram". Graça Barbosa Ribeiro

18h42, Lisboa Hugo Guerra, 18 anos, estudante-trabalhador, é um dos que empunha cartazes. "É terceira ou quarta manifestação a que venho. Como jovem, conheço bem as dificuldades". Também Francisco Salpico, 49 anos, engenheiro na Câmara Municipal de Lisboa, é um assíduo destes protestos: "Tenho participado em muitas [manifestações] nos últimos dois anos. O que é grave é que é um suicídio do país". Enquanto desembocavam na Praça de Espanha, alguns manifestantes cantavam "A troika não manda aqui" e havia quem apelasse a uma greve geral. João Pedro Pereira

18h32, Porto “Ladrão”, “Gatuno” e “O povo unido já mais será vencido”, são as palavras mais gritadas. Sara Dias de Oliveira

18h30, Beja Beja “ tem avondo” (está farta) da política do Governo A palavra de ordem da manifestação de ontem (hoje) em Beja, recuperou um termo do vocabulário local “tem avondo” para realçar a saturação que os mais de meio milhar de manifestantes expressaram contra a política do Governo. O número de pessoas que se concentraram na Praça da República em Beja numa tarde de intenso calor surpreendeu cada um dos presentes. “Há muito que não se via tanta gente junta numa luta em defesa dos seus direitos” exultou um dos organizadores da manifestação de Beja e que se estendeu a mais 23 cidades portugueses. Uma bandeira portuguesa e outra espanhola simbolizaram um objectivo comum num contexto social em que “já não há tempo para mais compassos de espera” avisou um dos oradores. O reconhecimento de que “andávamos todos adormecidos” realçou um dos oradores perante o invulgar número de pessoas presentes e de todos os quadrantes políticos, da direita à esquerda radical “irmanados” num mesmo objectivo: “Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!”.Ficou patente que se esperava menos gente e que as pessoas se deslocavam na expectativa de um fiasco. Advogados, professores, quadros superiores da Função Pública, médicos, estudantes, trabalhadores rurais e operários davam conta de como o problema de fundo que os levou à manifestação é transversal.Carlos Dias

18h,28, Berlim Cerca de 40 pessoas manifestaram-se hoje diante da Embaixada de Portugal em Berlim contra a “troika” e a política de austeridade do executivo PSD/CDS, solidarizando-se com idênticos protestos marcados para numerosas cidades portuguesas. Os manifestantes, a sua maioria jovens estudantes portugueses recentemente emigrados por causa da crise no seu país empunhavam cartazes em português, inglês e alemão, com inscrições como “Trabalho Indigno Não É Trabalho”, “Emigração Não É erasmus? F... Troika”, “Menschen Statt Banken” (Pessoas em vez de Bancos) e “Austerity Labs no Pasaran”. (Laboratórios da Austeridade não Passarão). Lusa

18h20, Lisboa Grande concentração à frente da troika. Arremessadas garrafas de água, uma garrafa de cerveja, tomates e papéis. Insultos constantes. Foram também lançadas duas garrafas de vidro contra a porta de vidro. Polícia sem reacção. Hugo Torres

18h05, PortoAvenida dos Aliados está cheia. A manifestação começa a subir a Rua Sá da Bandeira Sara Dias Oliveira

18h, Lisboa Manifestação chegou à Praça de Espanha. A coluna de manifestantes enche, pelo menos, toda a Av. de Berna. João Pedro Pereira

17h48, BruxelasA acção de protesto contra a austeridade convocada para hoje em Bruxelas reuniu algumas dezenas de manifestantes diante da representação permanente de Portugal junto da União Europeia, entre os quais as eurodeputadas Marisa Matias (BE) e Inês Zuber (PCP). Com cartazes onde se podia ler “Povo para a rua! Governo para a rua!” e “Contra os ladrões marchar, marchar”, as cerca de meia centena de manifestantes concentraram-se à hora marcada (17h locais, 16h de Lisboa), no quarteirão das sedes das instituições europeias, em frente ao edifício da representação diplomática portuguesa junto da União Europeia (encerrada por ser sábado), e, apesar do ambiente pacífico, a manifestação mereceu um forte dispositivo policial.Lusa

17h43, Lisboa A cabeça da manifestação está a chegar à Praça de Espanha e ainda há gente a sair do Saldanha. João Pedro Pereira

17h35, Paris Cerca de 30 portugueses, todos jovens, formados, indignados e solidários com a situação que o país atravessa, juntaram-se em frente da embaixada de Portugal em Paris para contestar as políticas do Governo e pedir um país “com oportunidades”. Lusa

17h30, Lisboa SIC Notícias transmite imagens via helicóptero. A coluna de manifestantes em Lisboa é impressionante. Luciano Alvarez

17h22, Lisboa Uma multidão compacta começa a avançar muito lentamente para fora da Praça José Fontana em direcção ao Saldanha. Para além dos muitos cartazes, há bandeiras de Portugal e um ocasional cravo. Ouve-se "Governo para a rua".João Pedro Pereira

17h15, Porto Milhares de pessoas estão na Avenida dos Aliados, no Porto, gritando palavras de ordem como “Passos ladrão, pede a demissão” e “O povo não quer gatunos no poder”. Lusa

17h00, Lisboa Os manifestantes decidiram ser criativos com os cartazes: "Frita-se o Coelho, deixa-se feliz o país inteiro", "O que queres ser quando fores grande? Ministro para ajudar os ricos", "Estado ladrão, Democracia prostituição". Há quem use bidões como uma espécie de bombos de improviso. A manifestação assobia, aplaude, gritou em uníssono "gatunos, gatunos" e "O povo unido jamais será vencido". E prepara-se para arrancar para um percurso atípico nestes protestos e que terminará na Praça de Espanha. João Pedro Pereira

16h59, Lisboa Centenas de pessoas deslocam-se ainda na Av. Fontes Pereira de Melo e ruas próximas em direcção à Praça José Fontana, onde está marcado o início da manifestaçãoLuciano Alvarez

16h45 A 15 minutos da hora marcada para o início da manifestação, a Praça José Fontana está a encher. No coreto no centro da praça foi afixada uma faixa com o mote dos protestos deste sábado:

"Que se lixe a troika. Queremos as nossas vidas". As colunas que estavam a lançar música sobre a multidão foram desligadas e começam a ouvir-se as primeiras palavras de protesto. João Pedro Pereira

16h36, Braga Começa a ser difícil quantificar o número de participantes na manifestação de Braga. Quando começa uma assembleia popular num palco instalado na Avenida Central, há cerca de 6000 pessoas a participar no protesto, mas, a cada momento, vai chegando mais pessoas ao centro da cidade. Samuel Silva

16h06, Braga O percurso da manifestação contra as medidas de austeridade feito pelas principais ruas da cidade fez com que mais pessoas se juntassem ao protesto. Neste momento são já cerca de 5000 pessoas que cruzam o jardim de Santa Bárbara, novamente em direcção a Avenida Central. Samuel Silva

15h47, Braga A manifestação já conta com cerca de 2000 pessoas, muito acima do registado nas ultimas manifestações de indignados na cidade. O protesto segue agora em cortejo pelas principais ruas bracarenses, acompanhado por um dispositivo policial de cerca de 15 agentes da PSP fardados. O euro deputado Rui Tavares é presença notada na manifestação, dizendo-se "emocionado" com a mobilização popular na cidade. "Não tenho muito mais a dizer do que as outras pessoas que aqui estão. Estamos todos a fazer a mesma reivindicação contra uma luta de classes dos ricos contra os pobres", destacou, em declarações aos jornalistas. Samuel Silva

15h30, Braga Cada vez mais pessoas juntam-se ao protesto. Sao já perto de mil pessoas. Os jovens estão na fila da frente, mas reuniram-se também reformados, professores, pequenos empresários e desempregados. As palavras de ordem dirigem-se sobretudo ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças, mas há também cartazes de protesto com a cara de Paulo Portas e críticas ao PS. Samuel Silva

15h15, Braga À hora marcada, a manifestação no centro de Braga conta com cerca de 200 participantes. Reunidos junto à esplanada da Avenida Central o grupo, maioritariamente constituído por jovens, empunha faixas pedindo a "suspensão do pagamento da divida" e grita repetidamente a frase "Passos, ladrão, teu lugar é na prisão". Samuel Silva

14h16, Funchal A realização do rali Município do Funchal e do concerto Banda Panda marcada para o Parque da Santa Catarina obrigaram os promotores da manifestação anti-troika a alterar o percurso do protesto. A concentração dos manifestantes não ocorrerá no topo do parque, como estava previsto, mas na praceta do Infante. Ao apelo para a manifestação "Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!" aderiram já mais de 2500 madeirenses. Tolentino de Nóbrega

Portugal - Manifestação: QUE SE LIXE A TROIKA! QUEREMOS AS NOSSAS VIDAS!

 

OS PORTUGUESES NÃO PODEM FALTAR

UE - DEMOCRACIA: RECOLOCAR OS CIDADÃOS NO SEIO DA UNIÃO

 


 
A democracia representativa e a ideia de cidadania e solidariedade entre europeus estão mais fracas e torna-se cada vez mais difícil de ultrapassar a crise. Sem um aumento da participação dos cidadãos, a União não sobreviverá na sua forma atual, alerta um editorialista polaco.
 
 
Para responder às questões – “De que Europa precisamos?” e “Que Europa está ao nosso alcance?”, vejamos a situação dos europeus, os de hoje e de amanhã. Afinal de contas, estamos a falar de uma construção real, de um ser existente, constituído por pessoas. Não só intelectuais, políticos, altos funcionários, mas também pessoas comuns. As que votam, as que se abstêm, as que se interessam ou não pelos assuntos públicos, que elegem presidentes e parlamentares cheios de sabedoria ou estupidez, exercendo plenamente ou não todos os seus direitos civis, políticos e económicos.
 
Tenho a sensação de que descuramos demasiado o problema que os próprios cidadãos europeus representam para a Europa, mesmo que o problema não esteja propriamente no seio do continente europeu. Os cidadãos mudaram muito e já não são os mesmos que eram dirigidos, há meio século, por grandes líderes europeus como De Gasperi, Schuman, Adenauer ou de Gaulle. Esta mudança influencia não só a atual e futura democracia nos Estados-Nação, como também a forma atual e o futuro da União Europeia.
 
Anos dourados da cidadania
 
Não podemos pensar na União sem relembrar alguns feitos. A União nasceu do traumatismo da Segunda Guerra Mundial e foi construída por sociedades que sobreviveram. Por consequência, os cidadãos conheciam demasiado bem os riscos de uma má gestão política para não se interessarem pelos assuntos públicos. Liam jornais, participavam nas eleições, integravam partidos e organizações sindicais. No Ocidente, as três primeiras décadas do pós-guerra foram os verdadeiros anos dourados da cidadania.
 
Nas décadas que se seguiram, a sociologia e os métodos da democracia mudaram muito. O consumidor substituiu pouco a pouco o cidadão. Na esfera pública, o debate público e a informação foram substituídos pela diversão. Os partidos políticos tradicionais, de esquerda ou de direita, segundo critérios ideológicos e de classe estritos, renderam-se perante uma ideologia sem nome que submeteu todas as esferas da vida à economia, e em seguida, lado a lado, seguiram o caminho da submissão das ideias à economia.
 
O futuro dirá se isto é bom ou mau, mas já se observa uma mudança profunda na cultura das sociedades ocidentais, na estrutura social, no nível de conhecimentos, nas relações humanas, no sistema de valores. É esta mudança, que os politólogos e sociólogos consideram há várias décadas a fonte da crise da democracia nas suas formas tradicionais de representação.
 
Sentido de responsabilidade coletiva
 
Será a democracia representativa, posta em cheque nos Estados-Nação (um mal que Jürgen Habermas combatia com o seu conceito de democracia deliberativa), capaz de resolver a crise da União Europeia? Penso que não. De facto, não compreendo como o modelo representativo, que assenta na ideia de um sentido de responsabilidade coletiva, poderá salvar a União, quando este está em vias de extinção. Como poderá este modelo, que se desvanece a nível nacional, ser benéfico para as instituições supranacionais? Tendo em conta o pensamento de Habermas, e o de John Keane, eu procuraria sobretudo soluções mais inovadoras e mais adaptadas à nossa época, como as formas institucionalizadas e pan-europeias de deliberação e participação para os que assim o desejarem.
 
Dito isto, é essencial saber se essas inovações, que encontram diversos obstáculos a nível nacional, ou local, têm a mínima hipótese de serem aplicadas e funcionarem ao nível da UE. Também não tenho a certeza disso. O que significa que devemos escolher entre uma solução muito provavelmente ineficaz e outra praticamente impossível.
 
A mudança é necessária e urgente. A incapacidade da UE em tomar decisões leva-nos direitos ao desastre. Um reforço dos mecanismos tradicionais da democracia na União poderá destravar processos de tomada de decisão a curto prazo, mas a longo prazo parece contraprodutivo. Por exemplo, é óbvio que as eleições presidenciais diretas levariam ao poder uma personalidade mais forte do que Herman Van Rompuy, mas será que estaríamos melhor se, com o apoio da Mediaset e da News Corporation, esta outra pessoa fosse Silvio Berlusconi?
 
Onda de solidariedade
 
A deterioração da solidariedade social é outro feito marcante do nosso contexto atual. Na maioria dos países, observa-se cada vez mais uma resistência na aceitação de transferências. Os ricos de hoje partilham ainda menos a sua riqueza com os pobres, apoiando-se numa forte ideologia para justificar esta rejeição. O que tanto diz respeito às transferências entre classes, como entre gerações ou até mesmo entre regiões.
 
No entanto, sem o reforço da solidariedade, não será possível vencer eficazmente a crise, nem manter a União Europeia na sua forma atual. Isto deve-se ao fosso cada vez maior entre certos países que enfrentam atualmente problemas sérios e os que estão relativamente bem, como também ao facto de toda a Europa estar envolvida num problema comum, isto é, a mundialização e os diversos processos de mudanças sociais que num futuro próximo vão baixar significativamente o nosso nível de vida (há quem fale de um recuo de 20%). Neste contexto será ainda mais difícil esperar uma onda de solidariedade.
 
Esses dois fatores, a deterioração da cidadania e da solidariedade, levam-me a pensar que nem a crise que a União enfrenta, nem as medidas propostas para a resolver têm um caráter institucional. A forma das instituições europeias, bem como a sua impotência, refletem a situação sociocultural atual; quanto ao agravamento da crise, representa a deterioração dos fundamentos sociais e culturais da União.
 
Crise da democracia representativa
 
Isto não é uma sentença de morte. Não acredito na morte da União, porque não vejo nenhuma vida aceitável para as gerações presentes fora dela. O desmoronamento do euro será prejudicial para todos (sobretudo a Alemanha) e o desmoronamento da União Europeia seria uma catástrofe comparável a uma grande guerra. Felizmente, há muita consciência disso na Europa, pelo menos entre as elites políticas.
 
Mas os pequenos esquemas técnicos, institucionais, jurídicos e constitucionais não darão nada a longo prazo, caso não consigamos atingir a cultura e as instituições. A crise económica (financeira e da dívida) tem fundamentos políticos, é uma consequência da crise da democracia representativa.
 
A crise da democracia representativa é de origem cultural e resulta da deterioração da cidadania e da solidariedade. As medidas eficazes devem, independentemente da dificuldade intelectual e política, ter em conta a natureza sociocultural das tensões atuais, sem se concentrarem apenas na gestão diária desta criatura não identificada que é hoje a União Europeia.
 

Espanha: MILHARES DE PESSOAS PROTESTAM EM MADRID

 

ASP - Lusa
 
Madrid, 15 set (Lusa) - Dezenas de milhares de pessoas estão concentradas na Praça Colon, centro de Madrid, onde confluem várias 'marés' de protesto associadas à "Marcha sobre Madrid", iniciativa da Cimeira Social, que reúne mais de 150 organizações.
 
De todas as ruas de acesso à praça chegam participantes no protesto que aqui ouviram os responsáveis da Cimeira Social, plataforma criada em julho e que exige que o Governo espanhol referende as medidas de austeridade.
 
Famílias, com carrinhos de bebé, outras com os filhos de mãos dadas, trabalhadores de vários setores de atividade - polícias, bombeiros, mineiros, enfermeiros e professores, entre muitos outros - juntaram-se no protesto de hoje.
 
Na praça, todos procuram as poucas sombras, com o sol forte de início da tarde a sentir-se enquanto se esperam os discursos e a leitura de um manifesto da Cimeira Social que pretende que esta "grande manifestação sobre Madrid" tenha "grande importância histórica em termos sociais e reivindicativos".
 
Ao longo do Paseo da Castellana, por onde confluíram várias das marchas - cada cor representando um setor de atividade, o negro para o geral da função pública - ouviram-se petardos e gritos de contestação às políticas do Governo.
 
Num ambiente reivindicativo, grupos de toda a Espanha - dezenas de autocarros estão estacionados ao longo do percurso - juntaram-se no protesto que ocorre a poucas dezenas de metros do local, na Calle Génova, onde está a sede do Partido Popular (PP), partido do Governo em Espanha.
 
Fachas de várias cores denunciam o corte dos serviços sociais, dos salários e o ataque à função pública.
 
"Sim, sou funcionário público. Não, não tenho culpa da crise. Basta!", é uma das mensagens mais repetidas, escrita a branco nas camisolas negras de muitos.
 
A presença das principais centrais sindicais é claramente visível, com bandeiras das Comissões Operárias (CCOO), da UGT e da CGT, entre outras, representando os trabalhadores da função pública espanhola, os mais penalizados pelas medidas de austeridade.
 
Vários dirigentes políticos tinham previsto participar no protesto, entre os quais dirigentes do PSOE e da IU.
 

Portugal: QUE SE LIXE O GOVERNO DA TROIKA! QUEREMOS AS NOSSAS VIDAS!

 


A manifestação já estava programada há algum tempo e com bastantes aderências, quis a coincidência que o governo da troika proclamasse mais e maiores injustiças por via da austeridade brutalmente imposta, que há quase dois anos desbarata como invasor estrangeiro Portugal e os portugueses. As aderências a nível da página do Facebook subiram em flecha.
 
Largas dezenas de milhar comprometeram-se a comparecer na manifestação de hoje, esta tarde, a ocorrer por várias cidades do país. Estima-se que pelo menos um milhão de portugueses se manifeste em Portugal contra a austeridade, contra o governo da troika.
 
Os portugueses não podem nem devem ficar indiferentes perante os ataques que o governo ao serviço da troika tem infligido. Portugal já não tem como “apertar mais o cinto”. Por todo o país existem famílias com fome, que perderam as suas casas. Pais desempregados que já venderam quase tudo para atender as carências dos seus filhos e deles próprios. Crianças e jovens em idade escolar que começaram o ano letivo sem a possibilidade de possuírem os manuais e material que lhes permita ter uma aprendizagem normal. Muitos vão para a escola sem comer, imensos perderam os direitos de subsídios de transporte e outros. Só lhes resta faltarem à escola ou irem a pé (impraticável em imensos casos). O desespero invade as famílias. Aumentaram os suicídios, o número dos Sem-Abrigo, os desempregados (que são cada vez mais de mês para mês), as famílias desfeitas com pai para um lado, mãe para outro… E as crianças? E as crianças?
 
Deixe-se também aqui uma palavra para os mais velhos. Esses, para o governo da troika encabeçado por Passos Coelho, ainda são considerados mais “lixo” que os restantes portugueses, o que revela a insensibilidade dos ditos governantes.
 
É contra toda esta situação que os portugueses se devem e querem, e vão, manifestar-se dentro de poucas horas. Nas manifestações também vão estar militares e polícias na sua qualidade de cidadãos. Organizações policiais já alertaram para que todos os outros manifestantes se recordem que os polícias também são pais de família, também sentem a desumanidade da austeridade, também querem protestar e contribuir para “que se lixe a troika e se recuperem as nossas vidas” através da veemência e do testemunho da sua indignação. Saibamos todos ser cidadãos portugueses indignados e não mais que isso. (PG)
 

Portugal: PASSOS COELHO VOLTOU A MENTIR, PORTAS CONTRA AUMENTO DA TSU

 


Portas critica aumento da taxa social única
 
TSF - Publicado hoje às 09:43
 
O líder do CDS escreveu ao primeiro-ministro com críticas à medida, mas não quer pôr em causa a estabilidade do governo.
 
O CDS está contra as alterações à Taxa Social Única. A posição está escrita num documento que, segundo o jornal Expresso, foi enviado por Paulo Portas ao primeiro-ministro.
 
A existência desse documento foi revelada pelo líder do CDS na reunião desta semana da comissão executiva do partido.
 
O texto subscrito por Paulo Portas revela também as razões que o levam a estar contra as mudanças nas contribuições para a Segurança Social.
 
Segundo o semanário, o líder do CDS tem sido muito claro nas conversas com o seu círculo mais próximo: discorda das alterações propostas pelo primeiro-ministro e ministro das Finanças.
 
Dirigentes centristas presentes nas reuniões desta semana com Portas garantem que o ministro dos negócios estrangeiros disse que «discordei há um ano, continuo a não concordar e alertei para os perigos».
 
Nuno Guedes
 
Cardeal patriarca «muito preocupado» com Portugal
 
TSF - Publicado ontem às 21:54
 
O cardeal patriarca de Lisboa, José Policarpo, afirmou que está «muito preocupado com Portugal» e sugeriu que os bispos «não vão ficar em silêncio».
 
«Estou muito preocupado com Portugal», disse o cardeal, à chegada à cerimónia de entrega do Prémio Champalimaud 2012, que decorre em Lisboa, e em resposta a perguntas dos jornalistas sobre a situação do país e «os sacrifícios» que estão a ser pedidos aos portugueses.
 
José Policarpo disse que não acrescentaria mais nada, justificando: «Nós, os bispos, temos de ser muito discretos. Não nos compete a nós pronunciar-nos sobre situações concretas».
 
Perante a insistência dos jornalistas, que lhe perguntaram se a situação não é «demasiado grave» para os bispos ficarem em silêncio, o cardeal patriarca de Lisboa respondeu: «Quem disse que vamos ficar em silêncio? Vou ficar em silêncio aqui».
 
- Título PG
 
*TSU – Taxa Social Única
 

Portugal: PS ou PSD? PASSOS ou SEGURO? ENTRE OS DOIS VENHA O DIABO E ESCOLHA!

 


Sondagem: PS ultrapassa PSD
 
TSF - Publicado ontem às 20:07
 
Uma sondagem realizada pelo expresso/SIC adianta que o PSD perdeu, pela primeira vez nesta legislatura, a liderança na intenção de votos dos portugueses, após o anúncio das novas medidas de austeridade.
 
Assim, e de acordo com a sondagem, o PS alcança 33,7%, o PSD obtém 33%, o CDS consegue 10,3%, a CDU conquista 9,3% e o BE fica com 7%.
 
Seguro não quer crise política; Governo deve governar
 
TSF - Publicado hoje às 09:24
 
O secretário-geral do PS disse ontem à noite que não deseja nenhuma crise política em Portugal; compete ao Governo manter as condições políticas para resolver os problemas dos portugueses.
 
«Nós não desejamos, nem queremos nenhuma crise política em Portugal. O Governo dispõe de maioria absoluta para governar, compete ao Governo manter essas condições políticas e tem a obrigação de resolver os problemas dos portugueses», afirmou António José Seguro.
 
O líder socialista falava num convívio organizado pelo PS/Algarve, em Faro, aonde chegou cerca das 22:00, duas horas depois da hora marcada para o início do evento, realizado ao ar livre, no Largo do Mercado.
 
Discursando perante uma plateia de poucas centenas de pessoas, afirmou que será «intransigente» na defesa da relação entre os trabalhadores e as empresas, reiterando a sua discordância com a descida da Taxa Social Única (TSU) para estas.
 
António José Seguro lamentou que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, tenha insistido em manter aquela medida, mesmo tendo já sido contestada por empresários, trabalhadores e pelo principal partido oposição.
 
«Porque é que o primeiro-ministro insiste? O que está por trás desta proposta que não o faz olhar o país, compreender os portugueses e reconhecer que esta é uma medida injusta, inútil e que nos indigna tanto?», questionou.
 
O líder do PS acusou ainda o Governo de «incompetência» na execução do orçamento, lamentando que o facto de o país ter agora mais tempo para corrigir o défice orçamental não tenha aliviado a situação das famílias.
 
«É que eu pedia mais tempo para aliviar os sacrifícios dos portugueses e neste momento foi dado mais tempo a Portugal para compensar e corrigir os erros do Governo», referiu.
 
António José Seguro assegurou ainda que o partido pretende continuar no rumo da «responsabilidade» e da «seriedade», honrando os seus compromissos e apresentando propostas alternativas.
 
«Nós não somos a oposição do bota abaixo, nós não somos a oposição do quanto pior melhor, nós não somos a oposição que tudo critica e nada propõe, não. Nós somos a oposição séria, que ambiciona ajudar a resolver os problemas de Portugal e a solucionar os problemas dos portugueses», sublinhou.
 
Lusa
 
POVO IMBECILIZADO…
 
PÁTRIA
 
“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]
 
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
 
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
 
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.”
 
- Guerra Junqueiro, “Pátria”, 1896.
 
“Pátria” foi compilado de Conversa Avinagrada
 
- Título PG
 

Angola: Ausência da comunidade internacional nas eleições de 2012 gera críticas

 

Deutsche Welle
 
A comunidade internacional é criticada por ter "fechado os olhos" às irregularidades verificadas no processo eleitoral angolano. Por interesses, políticos ou económicos, ela terá aceite a continuidade do regime.
 
A Comunidade Internacional acredita que as eleições gerais em Angola foram justas e, de todos os cantos do mundo, surgiram felicitações ao MPLA, o partido no poder, pela vitória no pleito.
 
Uma atitude que divide analistas, bloggers e instituições, na altura de analisar o porquê desta aceitação geral da continuidade de um regime que já conta 32 anos com José Eduardo dos Santos à frente do país.

Paulo Gorjão, analista e diretor do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS), não se surpreende com a atitude. De acordo com o director do IPRIS, a explicação recai na própria tradição da comunidade internacional: “Ela, por regra, independentemente da natureza do regime, tem sempre posições favoráveis a quem está no poder." Para o analista a reação da comunidade internacional era expectável.
 
Durão Barroso, o culpado pela não observação da UE?

Mas, apesar da justificação dada pelo analista, há quem tenha mais dificuldades em aceitar a falta de intervenção internacional no processo eleitoral angolano. É o caso de Wolfgang Kreissl-Dörfler. O deputado alemão no Parlamento Europeu critica, por exemplo, o facto de a União Europeia não ter enviado uma delegação de observadores internacionais ao país africano: "A culpa é certamente de Durão Barroso, uma vez que Portugal e Angola têm grandes ligações económicas."
 
Wolfgang Kreissl-Dörfler defende que se deve consolidar o quão bom é o trabalho do regime, que se tem confiança no regime, no MPLA, mas ressalta: "considero errado."
 
Opinião diferente tem Paulo Gorjão, que desvaloriza o não envio de observadores por parte da União Europeia. O diretor do IPRIS admite que terão existido irregularidades no processo eleitoral angolano mas afirma que, sem elas, o resultado não teria sido diferente: “A União Europeia não enviou observadores, mas houve quem tivesse enviado, a União Africana (UA) e a Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), que, no essencial, entenderam que as eleições foram livres e justas."
 
O analista não nega a existência de irregularidades e acrescenta que a oposição não as inventou na totalidade, mas por outro lado não acredita que essas irregularidades poderiam ter tido um impacto estrutural nos resultados das eleições.
 
Ausência por conveniência
 
Contudo Paulo Gorjão lembra que há uma componente de interesses na conivência da comunidade internacional para com a continuidade do regime de Angola: “A comunidade internacional nunca iria valorizar essas queixas da oposição porque, evidentemente, aqui também há uma componente clara de real politik."
 
Ainda segundo ele, alguns Estados da União Europeia, nomeadamente Portugal, quer outros Estados extra-europeus – os Estados Unidos da América e alguns parceiros de Angola no continente africano – sabendo que pouco adiantará criar ruído à volta da forma como correram as eleições, pura e simplesmente aceitam, sem criar grandes incidentes, esses mesmos resultados.

O sim da comunidade internacional, frisa Paulo Gorjão, é independente de quem está à frente do governo de Angola: "Aquilo que interessaria à comunidade interacional é que essa transição - seja uma transição intra MPLA, seja uma transição entre MPLA e a CASA-CE, segunda maior força da oposição, ou a UNITA, a maior força da oposição – o que interessa é que isso se faça com o mínimo de instabilidade política, social e económica possível.
 
Autora: Maria João Pinto - Edição: Nádia Issufo/António Rocha
 

Angola: UM POLÍTICO IMBATÍVEL

 


José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião, em A Palavra ao Diretor
 
Muito há para dizer sobre as eleições gerais, da composição de coligações negativas às estratégias eleitorais erradas, do conteúdo agressivo das campanhas à omissão da política externa, até ao envolvimento de jornalistas na actividade política activa. Mas hoje escrevo sobre o perfil do político que foi eleito, mais uma vez, por voto popular, Presidente da República de Angola.

José Eduardo dos Santos anda na política activa desde os seus tempos de estudante liceal. A sua causa foi sempre a mesma: Angola e os angolanos. A liberdade e as condições concretas que a sustentam. A dignidade e a honra enquanto marcos que limitam a vida humana. Numa sociedade segregada onde todos eram vigiados em permanência, ele rejeitou a submissão e juntou-se aos que lutavam pela libertação da pátria.

Não era fácil atravessar todo o Norte de Angola até à fronteira com os Congos. José Eduardo dos Santos conseguiu. Essa foi a sua primeira grande vitória política. Embora jovem, já era um quadro. Na Angola daquele tempo, quem tinha o Curso Geral dos Liceus estava em condições de assumir cargos de responsabilidade na administração pública ou na iniciativa privada.

A direcção do MPLA viu nele um futuro dirigente e apostou na sua formação académica. Estudou e tornou-se um técnico qualificado. Foi até onde poucos tinham ido. Subiu até à alta direcção do movimento revolucionário que lutava de armas na mão, contra a dominação estrangeira. José Eduardo dos Santos foi escolhido pelos seus pares para coordenar a Frente Norte, que em Abril de 1974 era a única que tinha forças de combate no terreno.

Há alguns anos, publiquei neste jornal uma foto onde o responsável máximo da Frente Norte estava com os comandantes Pedalé, Jika e Eurico Gonçalves nas bases avançadas de Cabinda. Foi sob a sua direcção esclarecida que os combatentes do MPLA puseram fim à aventura de Themudo Barata, então governador do distrito de Cabinda, com a FLEC. Nessa altura revelou-se a sua faceta de diplomata. Conseguiu um acordo com o Movimento das Forças Armadas (MFA) para a defesa conjunta do território e também para um governo partilhado. José Eduardo dos Santos foi o arquitecto desse acordo que transformou a província de Cabinda na retaguarda segura do movimento, numa altura em que Nixon, Mobutu e Spínola decidiram afastar o MPLA do poder numa Angola independente.

José Eduardo dos Santos foi escolhido para Presidente da República era ainda jovem. É verdade. Mas era já um dos mais experientes políticos angolanos. E tinha no seu currículo grandes vitórias políticas. Uma das mais importantes foi, com certeza, ser um dos dirigentes mais próximos de Agostinho Neto, que nos momentos decisivos daquela época o teve sempre a seu lado.

O Presidente José Eduardo dos Santos, até 2002, foi mais um chefe militar do que um político. Os governos eram formados tendo em conta a guerra. Os ministros eram escolhidos em função da sua capacidade para enfrentar a situação de guerra. A economia era de guerra. A sociedade foi-se moldando e construindo em função das condições impostas pela guerra.

O Presidente da República, nesses anos dolorosos, era acima de tudo um líder militar, que muitas vezes esteve com os seus soldados nas frentes de combate e com os aliados regionais. A política era feita nos campos de batalha e os dias dos angolanos ensombrados pela dor e o luto.

Foi este homem forjado pela guerra que teve a coragem de assinar o Acordo de Bicesse. Foi este político experimentado, este chefe militar coberto de glória por ter vencido as mais duras batalhas, que aceitou o desafio da democracia multipartidária, depois de uma longa guerra de agressão contra o seu povo. Ao aceitar eleições para o ano de 1992, assumiu o maior risco da sua carreira política. Depois de quase duas décadas de sacrifícios e de penúria, os angolanos iam às urnas escolher o partido que havia de governar o país e o seu Presidente.

José Eduardo dos Santos mostrou em 1992 que no quadro nacional é um político imbatível. O partido que liderou desde 1979 ganhou as eleições com maioria absoluta, apesar de uma boa parte de Angola ter votado sob coacção dos homens armados de Jonas Savimbi. E ele passou os 49 por cento, batendo estrondosamente o seu adversário directo que, sabedor de uma derrota humilhante, regressou à guerra, com alguns que agora se reclamam democratas.

O político imbatível voltou a comandar as suas forças, agora para defender a democracia. Esse caminho doloroso só terminou em 2002. Então, José Eduardo dos Santos pôde, finalmente, mostrar os seus dotes de líder político imbatível. Na sua imensa generosidade ainda quis dar uma oportunidade aos derrotados, prolongando o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional. Mas eles pensaram que tinha chegado a sua hora e exigiram eleições. Pela primeira vez na sua longa carreira política, José Eduardo dos Santos foi a eleições, num clima de liberdade e estabilidade política e social. Venceu os adversários com mais de 81 por cento dos votos.

O político excepcional mostrou então a sua imensa capacidade de decisão e previsão. Dotou o novo regime de uma Constituição que promove e favorece a estabilidade política. Neste novo quadro foi de novo a votos. Conquistou mais de 71 por cento dos votos. Uma maioria qualificada que premeia um grande político mas também um extraordinário chefe militar. Quando a CNE proclamou os resultados definitivos das eleições, ficou provado, sem qualquer dúvida, que José Eduardo dos Santos é um político imbatível.

Os seus adversários, que se enredam em “contagens paralelas” deviam perceber isto, até para se valorizarem. Bater-se e perder eleições com um político da envergadura do líder do MPLA é uma honra.

Angola: EX-COMBATENTES ANGOLANOS EXIGEM FIM DE GENERAIS FANTASMAS

 

 
Existência de generais fantasmas em Angola aumenta revolta de ex-combatentes que já andam descontentes com o governo por outros motivos. Segundo eles os generais são próximos ou familiares de gente ligada ao poder.
 
Segundo o site Maka Angola, antigos combatentes da província angolana da Huíla continuam a manifestar o seu descontentamento pela forma como a direção das Forças Armadas Angolanas (FAA) tem promovido algumas figuras, entre empresários e políticos, ao generalato.
 
O coronel Nunes Manuel, presidente do Fórum Independente dos Desmobilizados de Guerra, explica: "As promoções são polémicas, porque as pessoas em causa têm se beneficiado por via partidária. Também não há uma vontade do governo em aliar-se a pessoas e organizações que procuram fazer um acordo de denúncias e sabemos que determinadas pessoas estão colocadas como generais quando na verdade não o são", afirma.
 
Generais fantasma com salários reais
 
Na perspetiva do coronel Nunes Manuel essas promoções não têm sentido de existir, e somente acontecem porque "a corrupção e a impunidade são a base que garantem a prevalência dessas situações. Até pela idade os generais não deveriam ocupar o cargo. O general que lá está, pertence à elite, vai tirando cinco ou seis mil dólares sem ter direito", constata.

Para o presidente do Fórum dos ex-militares, também as lideranças militares cometeram erros na promoção de pessoas que nada tinham a ver com o exército: "Promoveram parentes, sobrinhos. Mesmo estando este em casa os seus nomes estavam nas folhas de salário. Mas queremos pedir ao governo que chame a razão as pessoas que estão nessa situação., acusa.
 
Manuel Nunes defende por isso a sua despromoção, embora não publicamente, porque eles não estão no ativo. Mas de acordo com o responsável do Fórum dos Desmobilizados, "isso passa pela vontade do próprio partido."
 
Nunes toma as dores dos ex-militares que deviam estar a beneficiar de uma boa renda justamente. Na sua óptica os generais da polémica "são fantasmas permitidos."
 
Ex-militares adormeceram com as eleições?
 
Recorde-se que pouco antes das eleições gerais de 31.08 no país, os ex-militares faziam manifestações exigindo o pagamento das suas pensões atrasadas, aumento das mesmas, e outras regalias. A mais marcante foi a 07.07 quando centenas deles concentraram-se nas imediações do Ministério da Defesa.
 
A maioria deles eram antigos militares das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), braço armado do MPLA durante a guerra civil angolana, mas havia também ex-militares da UNITA, agora a maior força da oposição. Mas depois das eleições de 31.08 as suas ações esmoreceram.
 
Manuel Nunes justifica que tal se deve a uma auto-apreciação da sua atuação e estão também a traçar estratégias. Por outro lado, o representante dos ex-militares explica que o governo falhou nas comissões de pagamento de subsídios em todo o país, e que por detrás disso há ainda outros problemas.
 
Entretanto, os militares, ao que tudo indica, têm ideias para melhorar as suas vidas. O responsável do Fórum: "O governo deve aceitar que de cada ex-militar seja ensinado a conceber um programa de negócios e cada um será responsável por si", diz.
 
Mas caso esta e outras exigências dos ex-militares não forem respondidas satisfatoriamente, estes tem já previsto um momento para reagir, como garante Manuel Nunes: "A nossa postura ofensiva de exigência, segundo as nossas apreciações, só vai acontecer no próximo ano."
 
Autor: António Rocha - Edição: Nádia Issufo/Renate Krieger
 

Portugal: O MEDO

 


José Alberto Quaresma – Expresso, opinião, em Blogues
 
O medo ensopa o país. Dissemina-se de mansinho por todo o lado como a peste. Penetra nas escolas, nas famílias. E nas repartições, esquadras, quartéis, empresas, mercados, câmaras, tribunais. Não há quarentena que o valha.
 
O medo espalha o medo. Nos infantários, escolas primárias, escolas de 2º e 3º ciclo, escolas secundárias, universidades. O medo manda dezenas de milhar de professores para casa com medo. E os que estão na escola a medo ficam. Foçam em papelada transidos de medo. Na aula frente aos alunos sorriem a medo. Os alunos vêem o baço brilho do medo nos olhos docentes. Os alunos brincam, estudam, distraem-se. Mas pressentem a ameaça. O medo já vive dentro deles.
 
O medo mandou transformar novas oportunidades em velhíssimas inoportunidades. Mascara com as defuntas novas oportunidades a diminuição de alunos para justificar o despedimento de professores. O medo manda atulhar os alunos em contentores que fazem lembrar as salas de aula do passado recente. O medo manda milhares de alunos para a rua da universidade porque não podem pagar as propinas e passam fome. E têm medo porque lhes estão a saquear o futuro.
 
O medo de hoje nasceu na rua de S. Caetano à Lapa e no Largo do Caldas de forma legítima directamente vertido das urnas abertas. O medo mentiu sem vergonha para entrar com pompa no Palácio de S. Bento. Subiu decidido à rua Gomes Teixeira. Propagou-se pelo Terreiro do Paço. Chegou ao Palácio Ratton e ao Palácio de Belém.O medo faz medo com o medo que tem do FMI, do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia.
 
E agora o medo tem medo da rua. Encapsula-se com medo a sete chaves em recintos fechados por muros de polícias. No Aquashow, em Quarteira, no fim das férias. Na fortaleza da Gomes Teixeira.
 
O medo tem medo de ir à RTP explicar-se a medo. Medo dos trabalhadores e da populaça que possa vociferar na Gomes da Costa. O medo chama a parafernália de carros de exteriores, parabólicas, técnicos, para uma transmissão televisiva em directo do seu bunker. O medo por ter medo não tem pudor em esbanjar assim dinheiros públicos.
 
O medo manda um ministro de Estado, agora silencioso e outrora palavroso e que não admitia mais austeridade, cancelar à última hora a sua presença na homenagem a um antigo presidente do Brasil, apesar de lá ter regressado há pouco de um passeio oficial. E manda o inefável desmemoriado ministro da 5 de Outubro substitui-lo.
 
E o medo tem medo de apear a segunda figura do governo que comprou um canudo nos salvados da feira da ladra em que uma universidade por onde passou furtivo se transformou.
 
O medo atingiu quem pode porque amanhã tem medo de não poder. O medo finge não ter medo de espoliar reformados e trabalhadores por conta de outrem para meter no bolso da administração de empresas grandes o dinheiro que será seu e que fará dele tudo o que entender menos criar emprego porque as pessoas com medo fazem dieta espartana e não consomem mais do que aconchegos de estômago.
 
As pequenas empresas agonizam e fecham as portas. E a calçada frente ao Instituto de Emprego peja-se de gente que a medo vai mendigar ao Estado o subsídio que tarde e a medo chega.
 
O medo manda para a emigração gente qualificada com medo e necessidade de sobreviver, como outrora mandava muito querido jovem compatriota dar o salto para um qualquer bidonville de Paris a preencher o buraco na barriga ou para fugir dos buracos que as balas, minas e armadilhas em África podiam abrir nos camuflados.
 
O medo finge não ter medo da raiva em que o medo se pode metamorfosear. Em palavras obscenas de angústia, em bandeiras negras de cólera, em ovos que falham o alvo. Ou, esperemos que nunca, em balas como as que mataram o penúltimo rei ou o quarto presidente da República, o ditador Sidónio.
 
O medo pode levar a perder o medo. E o medo perdido incendeia cabeças perdidas. E as cabeças perdidas, em solitário ou em bandos radicais, metem mesmo muito medo.
 
*Leia mais sobre Portugal - (símbolo na barra lateral)
 

Mais lidas da semana