quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

UE-ÁFRICA: POR QUE RAZÃO A EUROPA NÃO DEVE PERDER INFLUÊNCIA




NRC HANDELSBLAD, AMESTERDÃO – Presseurop – imagem Faber

A pouco e pouco, os países europeus estão a ser expulsos de África pelos países emergentes, com a China à cabeça. Se a Europa ainda quer desempenhar um papel importante na região, será bom seguir o exemplo de Pequim e Brasília e fazer prevalecer os negócios sobre o seu sentimento de culpa.


As relações de poder detetam-se em alguns pormenores. Em Lusaca, por exemplo, não há um único ministro que vá à festa da Rainha da Holanda ou às comemorações do Dia da Independência dos Estados Unidos. Nos gabinetes ministeriais, os investidores brasileiros, indianos e chineses sentem-se em casa. E é assim que constatamos que, em África, os brancos já não contam para nada.

O grupo dos “leões africanos”, como são conhecidas essas economias em forte crescimento, por analogia com os “tigres asiáticos” dos anos de 1990, alarga-se. Nigéria, Quénia, Gana, Zâmbia, Angola, Uganda, Ruanda e Etiópia. Ao fim de dez anos de crescimento económico, as suas capitais têm arranha-céus, restaurantes de sushi e iPhones.

Os ocidentais ainda estão presentes: são diplomatas e funcionários de organizações humanitárias de todos os géneros. Mas já não desempenham um papel decisivo. Nos anos de 1970, o fluxo do Norte para o Sul era composto por 70% de ajudas. Atualmente, essa quota está reduzida a 13%.

África imprevisível

A diminuição do peso da ajuda não foi acompanhada por uma intensificação de atividades comerciais e investimentos por parte das empresas ocidentais. Em trinta anos, a quota da Europa Ocidental no comércio externo de África recuou de 51% para 28%. É verdade que algumas multinacionais ocidentais como a Heineken e a Unilever investem em África, mas essas empresas já ali estão ativas há muitos anos. O grosso das empresas ocidentais não tem estratégia africana. Têm medo de África, um continente que julgam imprevisível.

A maior reviravolta em África foi provocada por um interveniente que nem sequer estava a tentar provocá-la: a China está no continente à procura de cobre, estanho, bauxite, minério de ferro, coltan e madeiras exóticas e, ao mesmo tempo, está a construir estradas, pontes, linhas de caminho-de-ferro, aeroportos e estádios de futebol em África. Estes últimos são um presente para os líderes africanos, enquanto as infraestruturas servem para transportar para o Oriente as riquezas do subsolo.

Predador capitalista

A superpotência asiática não tem boas intenções. Os brancos veem-na com maus olhos. Refletem a sua própria impotência com uma reprovação moral: a China é um predador capitalista que pilha a África. Tal ponto de vista provoca gargalhadas nas elites africanas que, à medida que prosperam, adquirem uma melhor imagem de si próprias. “Não foi exatamente isso que vocês, ocidentais, fizeram durante séculos?!”

Não resta aos ocidentais outro remédio senão, de rabo entre as pernas, deixarem a África? Resta, evidentemente! Mas têm de questionar o seu papel e a sua relação com África. Antes de mais, precisam de se desfazer do sentimento de superioridade e de paternalismo que caracterizou as suas relações com África durante 150 anos. Se os africanos estão satisfeitos com os chineses isso é porque, entre outras razões – e não a menor delas – estes últimos mantêm com eles uma relação comercial desapaixonada.

Perspetiva desagradável

Depois, o Ocidente tem de ter uma ideia clara daquilo que procura na África. A sua nova política perante o continente deverá articular-se em torno de, pelo menos, três eixos: o geopolítico, o económico e o humanitário. Demorou um pouco, mas a França, com o Reino Unido e os Estados Unidos no seu rasto, acabou por perceber que um Magrebe islamita não é uma perspetiva entusiasmante. Nem os Estados Unidos nem a China assumirão a liderança de uma luta contra os islamitas e os terroristas. A estabilidade de África representa um interesse geopolítico para a Europa.

Neste século em que as matérias-primas são escassas, a África abriga a maior parte das reservas. A China tem acesso a matérias-primas, o Brasil e a Índia também têm o seu quinhão. Mas, envergonhados com a sua história colonial, os brancos mantêm-se à distância. O eixo económico apresenta um duplo interesse. A África não só possui matérias-primas como é um mercado de grande crescimento para a indústria europeia. As empresas de consultoria McKinsey e KPMG defendem que em nenhum outro lugar do mundo a rentabilidade dos investimentos é tão elevada como a sul do Saara.

Libertação do passado

O terceiro eixo da política com África é mais familiar: a empatia para com a pobreza sem outra aparente perspetiva de que são prisioneiras milhares de pessoas. A trajetória de crescimento de África não é semelhante à dos países ocidentais. Não existe, por enquanto, esse fenómeno a que se chama trickle Down, o escoamento das riquezas dos mais afortunados para os mais pobres. Pelo contrário, em economias em pleno crescimento como é o caso de Angola e Moçambique, a pobreza agrava-se. Além disso, essas economias não estão envolvidas em processos de diversificação, o que torna os “Leões” vulneráveis à queda dos preços das matérias-primas.

Os conflitos, consequência das crescentes desigualdades e da fome – em alguns casos devido às alterações climáticas – continuarão a provocar um grande número de catástrofes humanas.

Os europeus têm de se inspirar na arte da realpolitik praticada pela China e conceber a sua própria, e decente, política para África. Têm, por isso, de se libertar do seu pesado passado: sem terem medo de serem acusados de “neocolonialismo” quando participam na corrida às matérias-primas. E, também, de se desfazerem do seu sentimento de superioridade e partirem ao encontro da África de igual para igual.

A França tem razão em empenhar-se no combate contra os rebeldes islamitas no Mali. Mas, depois, quando forem estabelecidas as concessões de urânio e de terras agrícolas, deverá exigir, segundo as regras da realpolitik, ser a primeira a escolher.

EUA E UNIÃO EUROPEIA NEGOCIAM LIVRE COMÉRCIO PARA ENFRENTAR CHINA




Em uma declaração conjunta, o presidente do Conselho Europeu Herman Van Rompuy, o dos EUA, Barack Obama, e o da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, assinalaram que estão comprometidos a aprofundar uma relação transatlântica “equivalente à metade da produção global e a quase um trilhão de dólares anuais”. Na mira, está a China.

Marcelo Justo – Carta Maior

Londres - Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) anunciaram o início de negociações para a formação da maior zona de livre comércio do mundo. Em uma declaração conjunta, o presidente Barack Obama, o do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e o da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, assinalaram que estão comprometidos a aprofundar uma relação transatlântica “equivalente à metade da produção global e a quase um trilhão de dólares anuais”.

O anúncio foi acompanhado por uma solitária frase do discurso do Estado da União, proferido terça-feira à noite por Obama, quando ele anunciou o início das negociações “porque um comércio livre e justo é a base de milhões de postos de trabalho nos Estados Unidos”. Essa frase foi o ponto de partida que estavam esperando na Europa mandatários como a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron que se manifestaram em mais de uma oportunidade a favor de um tratado. “Eliminar as barreiras comerciais que restam para assegurar um amplo acordo não será fácil e exigirá valentia de ambas as partes, mas será amplamente benéfico”, disse Cameron, um dos primeiros políticos europeus a reagir ao anúncio.

Com um 2013 incerto à vista e o permanente desafio da Ásia no horizonte, a possibilidade de um Tratado de Livre Comércio é um dos poucos caminhos que os países desenvolvidos têm para sair no médio prazo da areia movediça deixada pelo estouro da crise financeira de 2008. Nos EUA estava claro quem era o principal competidor. “Os Estados Unidos e a União Europeia estão enfrentando o desafio global colocado pela China. Creio que a melhor maneira de combater esse desafio é nos unirmos”, assinalou Bill Reinsch, presidente do National Foreign Trade Council dos Estados Unidos, um grupo que promove o livre comércio.

Um caminho cheio de pedras

O potencial é indiscutivelmente imenso. Segundo algumas estimativas, os intercâmbios comerciais e de serviços chegam a cerca de US$ 3 bilhões diários. As tarifas alfandegárias são baixas – uma média de 3% -, mas sua eliminação em um intercâmbio tão massivo suporia um gigantesco estímulo e uma significativa poupança que poderia ser dirigida para o consumo doméstico, um setor que precisa de estímulo dos dois lados do Atlântico apesar do sobreendividamento ocorrido na década passada do dinheiro fácil.

Não resta dúvida que ambas as partes precisam disso. Enquanto Ásia, América Latina e África tem uma respeitável perspectiva de crescimento para este ano, a União Europeia, com o marasmo da zona do euro, o gigantesco endividamento e os programas de austeridade, está lutando para evitar a recessão, enquanto que os Estados Unidos sofreram uma contração no último trimestre do ano passado e necessitam um crescimento menos esquelético que o atual para recuperar o terreno perdido.

O reiterado fracasso da Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), que começou em 2001 depois dos atentados contra as torres gêmeas e teve uma tentativa de retomada em 2011, é parte do plano de fundo desta busca de acordos bilaterais que se multiplicaram nos últimos anos. Mas os obstáculos para uma zona de livre comércio EUA-UE também são gigantescos. Se o anúncio de Obama foi música da Merkel e Cameron, o som foi um pouco mais dissonante para o presidente da França, François Hollande, sempre preocupado com qualquer ameaça aos subsídios agrícolas que equivalem a quase 40% do orçamento europeu.

O tema agrícola – que atravancou a negociação de um tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia – não é o único obstáculo. Um verdadeiro pesadelo é a harmonização regulatória das indústrias automotriz, farmacêutica, alimentar e de brinquedos em ambos os lados do Atlântico. Esta harmonização é tão complicada que não está inteiramente resolvida no interior dos 27 países que compõem a UE. Outro caso que promete longas batalhas diz respeito aos alimentos geneticamente modificados que enfrentam fortes obstáculos na Europa.

O fantasma do Mercosul-UE

A brevidade do anúncio de Obama – uma única frase com um infinito potencial – pode se dever a que não havia muito mais o que dizer ou a que, segundo a imprensa estadunidense, o grupo da UE e dos EUA que está trabalhando sobre o tema só pode dar a luz verde na própria terça-feira, poucas horas antes do discurso do presidente. Esse grupo discutiu durante mais de um ano para ver se as negociações serão para chegar a um acordo limitado a tarifas alfandegárias ou a um acordo mais amplo, cobrindo meio ambiente, agricultura, indústria farmacêutica e automobilística.

Os pessimistas assinalam que uma negociação de fundo levará anos. O modelo Mercosul-UE é um exemplo das dificuldades. No final de 1995, ambos firmaram um Acordo Marco Interregional (AMI), passagem prévia a um Tratado de Associação, baseado no livre comércio, na cooperação e no diálogo político. Dezoito anos depois está claro que o livre comércio foi a tumba do assunto, apesar do que, na última sessão plenária da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em dezembro, a presidenta argentina, Cristina Fernández, apoiou uma aceleração das negociações com a União Europeia, desde que se “fale de igual para igual”.

Segundo o professor de Relações Internacionais da Universidade de Nottingham, Andreas Bieler, a crise econômica mundial, que pode complicar a negociação EUA-UE, poderia também acelerá-la, sobretudo quando o fantasma asiático está batendo à porta dos países desenvolvidos. “Este tipo de competição com a China pode empurrar para um acordo, apesar de que em muitas áreas ainda não há uma competição direta com a China que tem muito mais comércio em exportações baratas, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia estão mais centrados em produtos mais sofisticados”, disse Bieler à Carta Maior.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Fotos: Divulgação 

O i falou com o fotógrafo que captou a imagem: “Deus não concordou com a decisão do Papa”




Marta F. Reis – Jornai i

Não foi uma premonição, apenas um palpite profissional de um fotógrafo freelancer de 38 anos, com tudo para estar no momento certo à hora certa. Segunda-feira ao final do dia, quando se abateu um temporal sobre Roma, Alessandro Di Meo estava no Vaticano ao serviço da agência italiana de notícias ANSA. Viu um primeiro raio no céu e achou que se apanhasse um a cair sobre a cúpula da basílica de São Pedro teria o boneco do dia. “Pensei que tinha de conseguir tirar aquela fotografia por isso esperei 40 minutos à chuva até que aconteceu e consegui”, respondeu ontem ao i por email, na enésima solicitação da imprensa, desde que publicou a imagem e viu o raio tornar-se o símbolo da primeira renúncia papal em seis séculos.

Confirmada a veracidade da fotografia, as interpretações em torno do seu significado multiplicaram-se, da mais provável pura coincidência a um sinal de desagrado de Deus ou até ao prenúncio de que os vaticínios de uma figura dos anais da história da igreja, São Malaquias, poderão ser mesmo verdade. Conta-se que no século xii este bispo irlandês que deixou previsões sobre a evolução da cátedra de São Pedro profetizou que Bento XVI seria o penúltimo da história. O seu sucessor, que será conhecido em breve, seria consequentemente o último.

“A mim pareceu-me que Deus não concordou com a decisão do Papa”, diz Alessandro Di Meo, que não é um chamado vaticanista, mas fotojornalista com um portfólio que vai da política, ao desporto ou à arte sacra. Foi uma impressão a posteriori, insiste, não uma premonição.

Nas muitas entrevistas que já deu sobre a imagem, a primeira publicada sobre a ANSA, tem procurado clarificar ao máximo a experiência. Estava sentado num muro, sem um tripé de apoio. O raio foi capturado com a máquina fotográfica regulada para uma exposição de oito, com nove de velocidade e sensibilidade ISO 50. “Montei uma lente grande angular que me permitiu incluir toda a igreja”, explicou. “Entendo que a imagem pode parecer incrível, mas as fotografias de relâmpagos são sempre incríveis. A única diferença, neste caso, é que é o relâmpago certo, no sítio certo e à hora certa. Consegui com obstinação e, porque não, com um pouco de sorte”, admite.

Partidos e organizações sociais da Guiné-Bissau querem espaço para gerir "nova" transição




MB – JMR - Lusa

Bissau, 13 fev (Lusa) - Partidos políticos e organizações da sociedade civil da Guiné-Bissau vão propor ao Presidente de transição a criação de um espaço de concertação para gerir "um novo período de transição" a iniciar a partir de 16 de maio.

Segundo fontes partidárias, a criação de um novo espaço, que poderá ser designado Comissão Partidária Social de Transição, foi estudada numa reunião que juntou hoje partidos políticos, organizações da sociedade civil e sindicatos.

A ideia, disse à Lusa uma fonte sindical, é propor ao Presidente de transição, Serifo Nhamadjo, a criação de um órgão de diálogo "que saia fora do âmbito puramente partidário" e que possa "ajudar o período de transição".

Tanto as fontes partidárias como as sindicais que participaram no encontro, que juntou cerca de 70 pessoas, disseram à agência Lusa que as partes tentam encontrar "uma plataforma de diálogo nacional" que possa vir a gerir o país a partir do dia 16 de maio, data em que formalmente termina o atual período de transição fixado depois do golpe de Estado de 12 de abril de 2012.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que apoia as atuais instituições que gerem a transição na Guiné-Bissau, acordou com a maioria de partidos guineenses que as eleições gerais deveriam ter lugar um ano após o golpe de Estado, mas as autoridades de Bissau já afirmaram ser impossível cumprir esse calendário por falta de condições técnicas e financeiras.

Nos últimos dias, quase todos os partidos e organizações da sociedade civil guineense têm vindo a público afirmar ser necessário fixar-se uma num novo calendário de transição.

Confrontado com a ideia, Orlando Viegas, porta-voz do encontro, confirmou à Lusa que as partes estão a arranjar uma solução para após o período de transição e que esse exercício deve ser de todos os guineenses.

"A partir do dia 16 de maio termina o período de transição. Os guineenses entenderam que devem começar a pensar o país a partir desse período, é esse exercício que estamos a fazer aqui", afirmou Orlando Viegas, um dos vice-presidentes do Partido da Renovação Social (PRS), promotor do encontro.

Orlando Viegas disse ser intenção dos envolvidos no processo criar "as grandes linhas da nova transição" a iniciar a partir de 16 de maio, embora o novo espaço não tenha pretensões de substituir o Parlamento.

Após a aprovação da proposta pelos partidos e organizações da sociedade civil o documento será remetido ao Presidente de transição, ao Governo e às chefias militares.

UNICEF TEM NOVO REPRESENTANTE NA GUINÉ-BISSAU




FP – JMR - Lusa

Bissau, 13 fev (Lusa) - O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) tem a partir desta semana um novo representante na Guiné-Bissau, o moçambicano Abubacar Mamadbhay Sultan, substituindo o britânico Geoff Wiffin.

Segundo um comunicado do escritório da UNICEF em Bissau, o novo responsável era até agora conselheiro para a área de proteção das crianças na sede da organização, em Nova Iorque.

Abubacar Sultan, diz o comunicado, tem "larga experiência no domínio da educação e proteção de crianças" e foi gestor de programas ligados aos direitos humanos das crianças. Foi fundador da Associação Wona Sanana, uma organização não-governamental moçambicana que promove o desenvolvimento integrado das crianças.

"O novo representante da UNICEF desempenhou um papel importante na pesquisa sobre o impacto de conflitos armados em crianças, tendo sido pioneiro na formulação de técnicas e testagem de programas de apoio psicossocial a crianças-soldado em África", diz o comunicado.

Importância do Corredor do Lobito destacada como chave para desenvolvimento...




… da África Austral

EL – APN - Lusa

Lobito, Angola, 13 fev (Lusa) -- O diretor-geral do Corredor do Lobito destacou hoje a importância daquele conjunto de infraestruturas de transportes, cuja ligação ferroviária serve Angola, Zâmbia e República Democrática do Congo, como chave para o desenvolvimento sub-regional da África Austral.

O facto do Corredor do Lobito ser o catalisador da promoção e desenvolvimento da integração da economia regional, deve-se ao conjunto de infraestruturas de transportes que dele fazem parte, José Luindola.

O responsável intervinha na sessão de abertura dos trabalhos de preparação da Conferência Ministerial que juntará Angola, República Democrática do Congo e Zâmbia na sexta-feira.

Reunidos no Lobito, sul de Angola, vários peritos vão debater até sexta-feira os mecanismos financeiros e técnicos para o desenvolvimento do Corredor do Lobito, designadamente a revisão do memorando do projeto de acordo para a governação conjunta daquela estrutura e estabelecimento de instituições de gestão do corredor.

O desenvolvimento de um plano integrado para a construção, reabilitação e financiamento da rede ferroviária do Corredor do Lobito faz também parte do pacote de documentos que serão submetidos sexta-feira aos ministros dos três países.

O desenvolvimento de um plano integrado para construção, reabilitação e financiamento da rede ferroviária do Corredor do Lobito, inclui a conclusão de programas de reabilitação ferroviária em Angola, do Lobito a Luau, junto à fronteira com a Zâmbia, e na República Democrática do Congo, de Diloto até Lubumbashi, e na Zâmbia, a construção da "North Western Railwaiy" de Chingola, passando pelo posto de fronteira em Jimbe e ligando diretamente à rede ferroviária do Lobito/Benguela.

O encontro de peritos decorre sob o lema "União, Integração e Desenvolvimento Económico".

O PLANO BASHAR




Rui Peralta, Luanda

Bashar-al-Assad fez a ouvir a sua voz pela primeira vez em sete meses. Da sua boca näo se ouviu nada de novo, nem outra coisa seria de esperar. Denunciou os terroristas e os “títeres ocidentais”, de forma correcta e consequente, pois é disso mesmo que se trata: terroristas a soldo do imperialismo.

Onde as coisas talvez näo tenham sido tão correctas e consequentes como a denuncia inicial, foi na apresentação do seu plano. A burocracia síria propõe um diálogo nacional, que conduza a uma carta nacional, submetida a referendo e aplicada por um governo amplo. Esta carta seria secundada por uma amnistia geral. Mas com quem? Com os terroristas, os títeres ocidentais? Com os que querem a fragmentação da Síria e a instituição de emiratos no território?

Estas e outras questões näo säo respondidas pelo plano de Assad, que em contrapartida exige que a OTAN e todas as potencias que financiam os terroristas, devem cessar o financiamento, de imediato, sendo que o exercito sírio numa segunda fase suspenderia todas as operações militares, reservando-se o direito de responder a provocações. Neste plano näo é mencionada uma única palavra sobre o que acontecerá ao presidente sírio, embora explicite que pretende candidatar-se em pleito eleitoral a definir pelo acordo.

Isto é apresentado como um mero detalhe, mas o único ponto que unifica as diversas oposições ao regime é: Assad. Para as oposições é ponto assente que Assad tem de afastar-se antes que seja exercível qualquer negociação. Portanto este pequeno detalhe do plano de Assad torpedeia por completo a construção do mediador da ONU, Lakhdar Brahimi, que insiste na inclusão da Irmandade Muçulmana Síria, num governo de transição, partindo do pressuposto do afastamento de Assad.

Seria melhor os bananocratas (burocratas bananas, expressão diplomática para burrocratas) da ONU, aconselharem-se ou consultarem os serviços secretos do Hezbollah, os melhor informados e com projeções mais realistas sobre um eventual afastamento de Assad: “A Síria näo será mais um Estado unitário e sim uma sucessão de emiratos, junto á fronteira turca, aguardando a chegada de um messias que proclame um Estado Islâmico”. E prosseguem: “Os combatentes säo religiosos extremistas e grande parte das armas estão sob seu controlo, através de um acordo efectuado com os curdos, que se abastecem a partir destas armas, ficando com um terço do total e deixando passar dois terços para o Exercito Sírio Livre e outras organizações islâmicas.”

Assim sendo, prepara-se um cenário idêntico ao do Afeganistão, depois da saída das tropas soviéticas, antes da tomada do poder pelos Taliban. O problema é que a Síria está na costa Mediterrânica, perto, muito perto da Europa. Näo fiquem chocados as mentes sãs, por eu estar a recorrer ao Hezbollah, que muitos consideram ser terroristas. Nada disso! Fiquem a saber que o Hezbollah coopera com a ONU, para manter o problema sírio afastado das fronteiras libanesas. E o general italiano Paolo Serra, o comandante dos capacetes azuis no sul do Líbano, considera-os os mais exemplares e bem informados colaboradores da ONU.

Assim sendo näo é de estranhar que os mercenários sírios pretendam, em uníssono, o afastamento imediato de Assad. A Irmandade Muçulmana considera-o um criminoso de guerra e o lambe-botas número de Obama na Síria, Geoges Sabra, vice-presidente do Coligação Nacional, considera que o plano de Assad é uma declaração de guerra contra o povo sírio (como pode falar em povo sírio, um tipo que expressa-se melhor em inglês do que na sua língua mãe?). A cobrir os filhotes vem o Departamento de Estado dos USA, que acusou Assad de estar longe da realidade. O governo turco, através de um dos seus porta-vozes de óculos e de dentes amarelados (será que näo há PEPSODENTE ou COLGATE, por aqueles lados?) fotocopiou as palavras do Departamento de Estado, acrescentando que Assad só lê o que os serviços secretos sírios escrevem.

O governo britânico, através de William Hague, referiu a cassete: Assad tem de sair e convocou mais uma daquelas conferências secretas de quarenta e oito horas no Wilton Park, em West Sussex, onde se misturam os especialistas, os académicos de alcova e os funcionários dos estados do golfo, para além de uns organismos alienígenas, denominados “agências multilaterais”.

É claro que Assad näo vai a lado nenhum e continuará no seu posto. Näo porque os trabalhadores e desempregados sírios (o proletariado urbano e rural) o deseje muito, mas porque para qualquer sírio que deteste Assad, tudo isto näo passa de uma encenação que tem como objectivo instalar no poder uma serie de tipos que säo paranoicos e carteiristas, como aconteceu na Líbia, ou traficantes de droga, como no Afeganistão, já para näo falar dos proxenetas do Iraque (perguntem á máfia servia sobre os negócios com as elites iraquianas para abastecer os mercados do leste europeu com iraquianas). Ou seja: por muito que a Síria necessite de que Assad seja varrido do mapa, ele foi transformado na ultima garantia contra a barbárie. Ë claro que é um contra-senso, mas a História está cheia deles.

Os sírios estão cansados de guerra, näo a querem e também näo pretendem mudanças financiadas para a barbárie. Säo um povo culto, que tem o peso da História. Näo é um Estado com trezentos anos, nem com oitocentos ou mil. Já eram cultos quando os antepassados dos norte-americanos viviam nas florestas da Europa em grupos tribais, com o corpo coberto por peles de animais.

É por isso, por essa sábia desconfiança síria, que os clérigos sunitas mais influentes (e dos mais respeitados em todo o Islão) continuam leais ao governo, para desespero dos mercenários terroristas. E mais desconfiados ficam, os sírios, quando presenciaram que este assunto foi iniciado em torno do gasoduto Irão-Iraque-Síria, um projecto de dez mil milhões de USD, que representaria um importante factor de desenvolvimento e de independência Síria. O problema é que seria realizado, na passagem pela Síria e pelo Irão, sem participação das petrolíferas do costume, que limitar-se-iam ao Iraque.

Quem näo ficou alheio ao discurso do presidente sírio, foram as autoridades libanesas, que foram previamente informadas do mesmo. Mas Assad não teve apenas preocupações diplomáticas com os libaneses. A Arábia Saudita näo é directamente mencionada no discurso e isso devido às posições assumidas pelo seu ministro da economia, que num comunicado conjunto com o seu congénere egípcio, refere a importância da solução politica para a Siria e o afastamento do cenário militar, o que representa uma alteração da atitude saudita.

Aliás os contactos dos sauditas com o governo sírio têm sido uma constante no último mês, utilizando os egípcios na mediação. Idêntico comportamento foi assumido pelo Koweit e pelos Emiratos Árabes Unidos, através de movimentações de reaproximação e abertura de canais de comunicação com Damasco, através da Jordânia.

Várias razões têm contribuído para esta alteração. A começar pela incapacidade da OTAN e pelo receio que os regimes árabes detêm sobre faccões islâmicas näo controladas pelos seus serviços secretos, como a Frente al-Nusra, um ramo da Al Qaeda. Depois pela posição da Rússia e da China, que mantêm inalterável o seu apoio a Damasco. Por fim pelo facto do governo sírio näo ter perdido o controlo da situação e por continuar a ser apoiado por largos sectores da população, inclusive por sectores que inicialmente o contestavam.

De qualquer forma, apesar destas leituras e neurastenias diplomáticas, näo há nada de novo no discurso de Assad. Podemos afirmar que este é um discurso que tem tanto sumo como um limão seco, que depois de exprimido é só caroço. Resta a importância do acto e a parte referente á denúncia de agressão. A proposta é indicadora de que a guerra vai continuar, apesar de estarem a ser abertos canais de comunicação entre alguns sectores e estados da região.

Parafraseando Erich Maria Remarque: Em Damasco nada de novo.

Fontes
Síria: Un paraíso yihadista; Pepe Escobar. http://www.rebelion.org
¿Está Arabia Saudí modificando su posición sobre Siria? Daoud Rammal http://www.rebelion.org
El discurso de Bashar; As'ad AbuKhalil; http://www.rebelion.org
Al-Ajbar (edição em língua inglesa); 11/01/2013.

O LEGADO DA CRISE: REVER E REINVENTAR CONCEITOS




Leonardo Boff*

Nutro a convicção, partilhada por outros analistas, de que a crise sistêmica atual nos deixará como legado e desafio a urgência de repensar a nossa relação para com a Terra, para com os modos de produção e consumo, reinventar uma forma de governança global e uma convivência que inclua a todos na única e mesma Casa Comum. Para isso é forçoso rever conceitos-chaves, que como bússola nos possam apontar um novo norte. Boa parte da crise atual se deriva de premissas falsas.

O primeiro conceito a rever é o de desenvolvimento. Na prática ele se identifica com o crescimento material, expresso pelo PIB. Sua dinâmica é ser o maior possível, o que implica exploração desapiedada da natureza e a geração de grandes desigualdades nacionais e mundiais. Importa abandonar esta compreensão quantitativa e assumir a qualitativa, esta sim como desenvolvimento, bem definido por Amartya Sen (prêmio Nobel) como “o processo de expansão das liberdades substantivas”, vale dizer, a ampliação das oportunidades de modelar a própria vida e dar-lhe um sentido que valha a pena. O crescimento é imprescindível pois é da lógica de todo ser vivo, mas só é bom a partir das interdependências das redes da vida que garantem a biodiversidade. Em vez de crescimento/desenvolvimento deveríamos pensar numa redistribuição do que já foi acumulado.

O segundo é o manipulado conceito de sustentabilidade que, no sistema vigente, é inalcançável. Em seu lugar deveríamos introduzir a temática, já aprovada pela ONU, dos direitos da Terra e da natureza. Se os respeitássemos, teríamos garantida a sustentabilidade, fruto da conformação à lógica da vida.

O terceiro é o de meio-ambiente. Este não existe. O que existe é o ambiente inteiro, no qual todos os seres convivem e se interconectam. Em vez de meio ambiente faríamos melhor usar a expressão da Carta da Terra: comunidade de vida. Todos os seres vivos possuem o mesmo código genético de base, por isso todos são parentes entre si: uma real comunidade vital. Este olhar nos levaria a ter respeito por cada ser, pois tem valor em si mesmo para além do uso humano.

O quarto conceito é o de Terra. Importa superar a visão pobre da modernidade que a vê apenas como realidade extensa e sem inteligência. A ciência contemporânea mostrou e isso já foi incorporado até nos manuais de ecologia, que a Terra não só tem vida sobre ela, mas é viva: um superorganismo, Gaia, que articula o físico, o químico e as energias terrenas e cósmicas para sempre produzir e reproduzir vida. Em 22 de abril de 2010 a ONU aprovou a denominação de Mãe Terra. Este novo olhar, nos levaria a redefinir nossa relação para com ela, não mais de exploração mas de uso racional e respeito. Nossa mãe a gente não vende nem compra; respeita e ama. Assim com a Mãe Terra.

O quinto conceito é o de ser humano. Este foi na modernidade pensado como desligado, fora e acima da natureza, fazendo-o “mestre e senhor”dela (Descartes). Hoje o ser humano está se inserindo na natureza, no Universo e como aquela porção da Terra que sente, pensa, ama e venera. Essa perspectiva nos leva a assumir a responsabilidade pelo destino da Mãe Terra e de seus filhos e filhas, sentindo-nos cuidadores e guardiães desse belo, pequeno e ameaçado Planeta.

O sexto conceito é o de espiritualidade. Esta foi acantonada nas religiões quando é a dimensão do profundo humano universal. Espiritualidade surge quando a consciência se apercebe como parte do Todo e intui cada ser e o inteiro Universo sustentados e penetrados por uma força poderosa e amorosa: aquele Abismo de energia, gerador de todo o ser. É possível captar o elo misterioso que liga e re-liga todas as coisas, constituindo um cosmos e não um caos. A espiritualidade nos confere sentimento de veneração pela grandeur do universo e nos enche de autoestima por podermos admirar, gozar e celebrar todas as coisas.

Temos que mudar muito ainda para que tudo isso se torne um dado da consciência coletiva! Mas é o que deve ser. E o que deve ser tem força de realização.

*Leonardo Boff é autor de Opção-Terra:a solução para a Terra não cai do céu, Record 2010.

Fonte: Cuba Debate

HABEMUS INACIUS I





Na tarde do domingo de Carnaval (10), Bento XVI (foto) tuitou: “Somos todos pecadores”. No dia seguinte, os católicos foram surpreendidos com o anúncio oficial da renúncia papal, algo que não acontecia há quase 600 anos (o último papa a renunciar foi Gregório XII, em 1415). Numa curta mensagem, o alemão Joseph Ratzinger afirmou ter “examinado repetidamente” sua consciência e chegado à conclusão de que “suas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério de São Pedro”. Por pouco não fez uma hastag: #Fui.

A renúncia de Bento XVI não surpreende. Desde sua ascensão, há quase oito anos, a Igreja Católica voltou a mergulhar em anacrônico dogmatismo. Em tempos de explosão horizontal da informação e domínio absoluto das ferramentas digitais, algumas doutrinas religiosas perecem ante a sociedade contemporânea. Não é uma questão de fé, mas de premente laicismo nas relações com a “Res Publica”(“Coisa Pública”). Fé todos podem (e talvez devem) ter, adeptos a religião ou seita que melhor lhe convir (ou até sem elas). No entanto, essa fé não pode pretender guiar ou nortear as ações de um Estado.

Mergulhados em dogmas e tentando resgatar algum poderio nas nações onde ainda tem grande número de fiéis (como no Brasil e nos países africanos, por exemplo), sob Bento XVI os católicos assistiram o levante de igrejas protestantes e reformistas e o Vaticano tornou-se alvo de sucessivas denúncias de corrupção, entre elas a vultosa acusação de lavagem de dinheiro no Instituto para as Obras de Religião, mais conhecido como Banco do Vaticano. As autoridades italianas responsáveis pela investigação estimam que o esquema tenham movimentado 200 milhões de Euros.

Fartamente criticado, Bento XVI abriu dois flancos de luta: tentou se aproximar da juventude digital (chegando a abrir uma conta no Twitter); e proferiu discursos supostamente diplomáticos com outras religiões e seitas na busca esquizoide de apoio às orientações de forte conservadorismo de seu pontificado. Paixões e ardores à parte, Joseph Ratzinger falhou. Muito além das denúncias de corrupção, fez vista grossa a temas de urgente observação na Igreja, como as constantes denúncias de abuso sexual por padres (incluindo até pedofilia), o reconhecimento do sacerdócio feminino, a assunção de direitos humanitários (que vão muito além do conceito de Direitos Humanos) e a responsabilidade da religião nas mazelas do continente africano, especialmente no que tange à Saúde. Provavelmente, sua renúncia esteja situada no reconhecimento desse malogro na condução da Igreja Católica rumo ao século 21.

Por outro lado, a renúncia de Bento XVI pode revelar uma nova “estratégia comercial”, digamos assim, da Igreja Católica. Tão logo anunciada a abdicação papal, especialistas do Vaticano trataram revelar uma lista com os dez cardeais favoritos à sucessão. Dentre eles, há destaque para dois religiosos brasileiros: Odilo Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo; e João Braz de Aviz, cardeal-chefe do Departamento para Congregações Religiosas e ferrenho defensor da aproximação com a América Latina. Analistas internacionais, ouvidos pela imprensa desde a tarde de segunda-feira (11), apontam Dom Odilo Scherer como franco-favorito ao “Trono de Pedro”.

É fato: o Brasil desponta em importância no cenário mundial em crise; nosso país, neste 2013, será sede da Jornada Mundial da Juventude; no ano seguinte os olhos do mundo estarão voltados para a Copa do Mundo em solo brasileiro; e a mira internacional será mantida até 2016, quando o Rio de Janeiro irá sediar, pela primeira vez na América Latina, os Jogos Olímpicos. Num momento de tal foco planetário, a Igreja Católica pode realizar um movimento cirúrgico: consagrar, pela primeira vez na História, um brasileiro como seu Sumo Pontífice. Vem daí o favoritismo de Odilo Scherer.

Como as redes sociais não perdoam quase nada, a vacância do “cargo” de líder supremo dos católicos já virou motivo de piada e os internautas criaram a hastag“#Inacius I”, referência burlesca à candidatura ao papado do ufano ex-presidente Lula da Silva. Já imaginaram o anúncio oficial? “Habemus Papam! Sua Santidade, Inacius Primeiro e Único!” Senhor, afaste-o (e afaste-nos!) deste cálice.

*Helder Caldeira é escritor, jornalista político, palestrante e conferencista, autor do livro “A 1ª PRESIDENTA” (Editora Faces, 2011, 240 páginas), primeira obra publicada no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff, e comentarista político da REDE RECORD de Mato Grosso, onde apresenta o quadro“iPOLÍTICA” e os telejornais “JORNAL MÉDIO NORTE” e “JORNAL PISOM”.

www.heldercaldeira.com.br – helder@heldercaldeira.com.br

EUA-EUROPA: APELO CONTRA “UMA NATO DA ECONOMIA”




WELT AM SONNTAG, BERLIM – Presseurop – imagem Ruben L. Oppenheimer

Com a bênção de Barack Obama, a zona de comércio livre transatlântico deverá ser uma realidade dentro de dois anos. No entanto, há pelo menos quatro boas razões para a Europa não participar no projeto, segundo o diário liberal “Die Welt”.


Já passaram pelas siglas NTA, NTMA, TAD, TED ou TAFTA: são iniciativas destinadas a fortalecer os laços económicos entre os Estados Unidos e a Europa, de que nunca mais se tinha ouvido falar.

Está para breve uma nova investida. Os grupos de pressão dos empresários de ambos os lados do Atlântico estão cheios de esperança. A economia é-lhes favorável, a classe política também e, por princípio, o comércio livre é uma vantagem. No entanto, há várias razões para acolher a notícia com profundo ceticismo.

1. Um mau exemplo para o resto do mundo

Se as alfândegas ainda desempenham algum papel no comércio transatlântico, deve-se apenas ao grande volume de mercadorias comercializadas. Em 2010, as empresas químicas europeias pagaram cerca de €700 milhões ao fisco norte-americano pelas suas exportações – uma média de direitos alfandegários de apenas 2,25%.

A eliminação das tarifas desta ordem pode aliviar as empresas, mas não terá nenhum impacto sobre o crescimento macroeconómico. Para tal, seriam necessários avanços de outra envergadura que não sobre as tarifas alfandegárias, mas sobre os entraves comerciais, que são significativos.

Ora, é precisamente nessa área que a margem de manobra é limitada – porque poderosos grupos de interesses, como o lóbi agroalimentar, defendem-se e porque a opinião pública também não estaria pelos ajustes.

Assim, a legislação dos Estados Unidos impede uma maior harmonização na introdução de medicamentos no mercado. Por seu lado, os europeus recusam-se a importar carne com hormonas ou milho geneticamente modificado dos Estados Unidos; já os norte-americanos temem as bactérias que possa conter a carne de importação ou os queijos franceses fabricados por processos naturais.

As negociações para uma maior liberalização do comércio multilateral, que, desde 2001, se arrastam sob o nome "Ronda de Doha" revelam a extensão das divergências de opinião.

Se algum dia o acordo de livre comércio transatlântico chegar a ver a luz do dia, será necessariamente incompleto – o que coloca um problema. É que, no caso de um acordo incoerente entre a União Europeia e os Estados Unidos, os dois blocos comerciais mais poderosos do mundo estariam a dar "um mau exemplo a outras zonas de comércio livre", adverte Rolf Langhammer, do Instituto de Economia Mundial de Kiel, na Alemanha.

2. Os outros países ficam em desvantagem

Se a Europa e os Estados Unidos chegarem a acordo sobre a liberalização das suas trocas comerciais, todos os outros países serão automaticamente discriminados. O maior risco é não se criarem novos fluxos comerciais, apenas se deslocando os fluxos existentes. Além disso, o resto do mundo veria num acordo transatlântico "uma forma de exclusão, ou mesmo de chantagem, em detrimento de países terceiros", denuncia Rolf Langhammer.

É por isso que o Ministério da Economia de Berlim insiste em que os europeus deveriam assegurar que o acordo permaneça aberto à adesão de outros países.

É, contudo, improvável que um acordo já de tão difícil compromisso fosse redesenhado para acomodar novos membros – é pegar ou largar.

3. Golpe de misericórdia na “Doha”

A Ronda de Doha continua enredada e pode nunca chegar à prática. A aliança entre a União Europeia e os Estados Unidos poderia significar o sinal de partida para uma era de acordos comerciais bilaterais. No entanto, cada novo acordo assinado não vai tornar mais livre o comércio global, apenas mais complexo.

Jagdish Bhagwati, professor de origem indiana da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, é um dos maiores especialistas do mundo em trocas comerciais. Para ele, corre-se também o risco de a Europa perder o seu papel de força motriz da liberalização do comércio multilateral: depois de assinar um tratado transatlântico de liberalização, "os europeus teriam de redobrar a vigilância contra interesses norte-americanos e respetivos lóbis".

4. Um projeto centrado nos parceiros comerciais errados

Nos últimos anos, o comércio transatlântico tem crescido de forma espetacular, levando as associações industriais de ambos os lados do Atlântico a pressionar a classe política no sentido de avançar com as negociações. No entanto, será na América Latina e na Ásia que pulsará o coração do comércio global no futuro.

Rolf Langhammer teme que uma aliança transatlântica acabe por ser prejudicial para a Europa, por prejudicar as relações comerciais com os países em desenvolvimento.

Uma opinião que é partilhada por Jagdish Bhagwati. Numa perspetiva europeia, o projeto "não é uma boa ideia". A Europa é nitidamente mais flexível em questões comerciais do que os Estados Unidos e, através doregulamento TMA [Tudo menos armas], permite aos países mais pobres beneficiar da isenção de direitos aduaneiros para produtos de exportação para a Europa – à exceção de armas. "A União Europeia deve, pois, enterrar esse projeto, que a enfraqueceria. E os países em desenvolvimento ficarão seguramente melhor sem ele."

REAÇÃO NOS EUA

Parceria de €275 mil milhões

Por ocasião do seu discurso anual sobre o estado da nação, a 12 de fevereiro, Barack Obama anunciou que os EUA iam estabelecer negociações comerciais globais com a União Europeia com vista à criação de uma zona de comércio livre. A Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, como a batizou o Presidente norte-americano, vai permitir potenciar o comércio entre as duas margens do Atlântico, que representou perto de €480 mil milhões em 2012,nota The New York Times.

Em Bruxelas, estima-se que “esta parceria possa representar cerca de €275 mil milhões por ano e possa criar dois milhões de postos de trabalho”, escreve o EUobserver.

As negociações poderão prolongar-se por dois anos, “com o regulamento europeu sobre alimentação e produtos farmacêuticos a ser o principal obstáculo”, acrescenta o New York Times. “Um acordo de harmonização dos regulamentos sobre produtos tão diversos como os alimentos, os automóveis, os brinquedos e os medicamentos seria mais importante do que a abolição das pautas aduaneiras, mas também mais complexo”, acrescenta o jornal, “nomeadamente por ainda não existirem nos 27”.

Escândalo da carne de cavalo expõe falhas da segurança alimentar na Europa




O escândalo da contaminação por carne de cavalo nasceu no Reino Unido, mas já se disseminou por vários países da União Europeia. Além da retirada de toneladas de produtos das prateleiras, está exposta uma complexa cadeia de terceirização de comida processada que se estende do Reino Unido até a Romênia. A reportagem é de Marcelo Justo, de Londres

Marcelo Justo – Carta Maior

Em novembro passado, a Autoridade de Segurança Alimentar da Irlanda coletou uma amostra de 27 bifes de hambúrguer dos supermercados mais importantes do país. Em janeiro, os exames mostraram que dez continham traços de DNA equino e 23 de porco. Hoje o escândalo se disseminou por vários países da União Europeia, provocando massivas retiradas de produtos das prateleiras e expondo uma complexa cadeia de terceirização de comida processada que se estende do Reino Unido até a Romênia.

“A partir da recessão em 2008 houve uma tentativa de baratear custos ante um público que busca produtos cada vez mais econômicos. Isso fez crescer ainda mais uma cadeia de produção já muito globalizada que torna muito mais difícil o controle de qualidade”, disse ao Financial Times Louise Manning, especialista em produção de alimentos do Royal Agricultural College de Londres.

As autoridades irlandesas descobriram que os hambúrguer com DNA equino foram produzidos em três fábricas, duas na Irlanda e uma no Reino Unido. No caso das duas empresas irlandesas a carne importada vinha da Polônia. No da lasanha vendida pela gigante sueca Findus, a carne vinha de uma empresa do noroeste da França, Comigel, que participa na cadeia de produção de comida processada para 16 países. Comigel é, por sua vez, a porta de entrada para um dos tantos labirintos da produção globalizada.

O fornecedor da Comigel era a Spanguero, uma companhia francesa subsidiária de outra, Poujol, com sede no sudoeste do país. A Poujol adquiriu a carne congelada de um intermediário cipriota que, por sua vez, havia subcontratado o fornecimento com outro intermediário na Holanda. Os provedores deste são dois matadouros da Romênia, aparentemente o último elo da cadeia.

A repercussão foi tão internacional quanto este complexo de produção. As grandes cadeias de supermercados britânicos, irlandeses e franceses retiraram de suas prateleiras os produtos em questão, a empresa sueca Findus questionou a francesa Comigel, o chanceler da França, Laurent Fabius, apontou seus canhões para a Romênia, o presidente romeno, Traian Basescu, disse que o escândalo afeta a nação em seu conjunto e a máxima autoridade de Segurança Alimentar da Romênia, Constantin Savu, tentou lavar as mãos dizendo que os dois frigoríficos estavam autorizados pela própria União Europeia, mas que ninguém podia garantir o que ocorria com a carne depois que ela era exportada.

O problema não é tanto sanitário – a carne de cavalo é considerada uma iguaria em algumas culturas -, mas sim um fantasma de toda sociedade industrial: determinar que o produto seja o que diz a etiqueta e não qualquer outra coisa. O controle de qualidade necessário para este tipo de certificação, fundamental no caso dos alimentos por causa de seu impacto na saúde, ficou gravemente abalado em países como o Reino Unido por causa dos cortes orçamentários do governo.

Segundo o prestigiado Instituto de Estudos Fiscais do Reino Unido, o orçamento britânico para saúde ambiental foi reduzido em 32% enquanto que os sindicatos afirmam que dos 800 funcionários que tinha a Agência de Controle Alimentar durante a crise da chamada “vacam louca” nos 90, restou apenas a metade. “A adulteração de alimentos é um fato que sempre ocorreu. Com a atual situação, podemos antecipar que as autoridades ficarão muito ocupadas durante bastante tempo”, disse Louise Manning ao Financial Times. Cabe acrescentar que, a menos que se reverta a situação da contratação de pessoal, a reduzida equipe de inspetores que restou deverá trabalhar dia e noite.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Fotos: Divulgação 

Moçambique: HERMINIO FOI DETIDO, NICK CLEEG PARA INGLÊS VER, RÚSSIA PERDOA




Detido presidente do Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique

13 de Fevereiro de 2013, 16:11

Maputo, 13 fev (Lusa) - O presidente do Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique, Hermínio dos Santos, foi detido hoje na sua residência em Maputo e será julgado na sexta-feira, anunciou em comunicado o Partido de Ampliação Social de Moçambique (PASOMO).

O Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique, que integra antigos combatentes da guerrilha da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), atual maior partido da oposição, e do exército governamental, organizou na terça-feira uma concentração nas imediações do gabinete do primeiro-ministro, Alberto Vaquina, para exigir uma pensão mensal de mais de 492 euros.

Em comunicado enviado à Lusa, o PASOMO, partido extraparlamentar que firmou um acordo de parceria com o Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique, refere que Hermínio dos Santos foi levado da sua casa por agentes à paisana e "encarcerado na cela do Tribunal Judicial Khampfumo", em Maputo.

Sem adiantar as razões da detenção do presidente do Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique, o PASOMO refere que Hermínio dos Santos será julgado na próxima sexta-feira.

Jornalistas que estiveram no tribunal confirmaram à Lusa ter visto Hermínio dos Santos a entrar no local acompanhado de agentes da polícia.

A Lusa tentou ouvir a polícia moçambicana sobre o caso, mas não obteve ainda a reação.

A concentração de terça-feira, do Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique, segue-se a várias manifestações que o grupo realizou no ano passado nas imediações do gabinete do primeiro-ministro pelo pagamento de pensões.

Para resolver a situação, a Assembleia da República aprovou em 2012 o "Estatuto do Combatente", que contém os critérios de atribuição da pensão, mas o Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique rejeitou o documento.

PMA //JMR.

Vice-PM britânico defende que multinacionais paguem impostos justos em Moçambique

13 de Fevereiro de 2013, 14:20

Maputo, 13 fev (Lusa) - O vice-primeiro-ministro do Reino Unido, Nick Clegg, defendeu hoje que as multinacionais que se instalam em países como Moçambique devem pagar "impostos justos", assegurando que a presidência britânica do G8 defende a transparência no comércio mundial.

Nick Clegg, que hoje iniciou uma visita de dois dias a Moçambique, vai reunir-se com o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, e lançará um fundo para a promoção da educação da rapariga.

Falando aos jornalistas, à margem de visitas a empreendimentos empresariais com participação de capitais britânicos em Moçambique, o vice-primeiro-ministro britânico defendeu a ideia de se evitar diferenças nos sistemas fiscais entre os países.

"O que quer que façamos, temos que fazer juntos, porque há claramente casos de multinacionais em alguns países capazes de evitar de forma perfeitamente legal à luz da lei pagar o que deviam pagar", disse.

De acordo com Nick Clegg, "a ideia é evitar as diferenças fiscais nos sistemas fiscais entre os países", mas essa medida "não pode ser vista como de hostilidade aos negócios. É só para criar condições para que se paguem os impostos justos".

Segundo o programa da visita, Nick Clegg será orador principal de uma palestra dedicada ao lema: "Engajando o Público sobre o G8: Transparência e Governação e a sua importância para África, no geral, e Moçambique, em particular", em Maputo.

Numa carta escrita por ocasião da visita a Moçambique, o governante britânico assinalou que a presidência britânica do G8 está a dar "enfoque a questões tributárias, transparência e comércio".

Nick Clegg lembrou que muitos dos problemas que os governos do Reino Unido e os de outros países do G8 enfrentam estão a tornar-se mais comuns em lugares como Moçambique.

"Por demasiado tempo, o mundo desenvolvido ignorou a maneira como as receitas dos impostos, que legitimamente pertenciam aos países em desenvolvimento, desaparecessem com pessoas que exploravam diferentes regimes fiscais e faziam desdém aos governos dos países em desenvolvimento, mas agora é um problema que também enfrentamos no mundo desenvolvido".

De resto, "devemos trabalhar juntos para superá-lo", disse.

"É por isso que nós procuramos tornar as normas fiscais internacionais mais fortes e melhorar a forma como diferentes países compartilham informações. A coleta de receitas fiscais é essencial para se certificar de que a riqueza das culturas, terra e outros recursos naturais é em benefício dos cidadãos daquele país", defendeu.

Moçambique foi declarado cumpridor da Iniciativa de Transparência da Indústria Extrativa (EITI) em outubro passado, um acontecimento que o governante descreveu como "significativo", porque demonstra que o Reino Unido e Moçambique "partilham os mesmos objetivos" na área mineira.

"A transparência vai atrair empresas responsáveis que irão contribuir para o desenvolvimento económico e social de Moçambique a longo prazo, e não simplesmente explorar os seus recursos naturais para o máximo lucro privado", disse.

MMT // VM.

Rússia perdoa dívida de 144 milhões de dólares a Moçambique

12 de Fevereiro de 2013, 18:19

Maputo, 12 fev (Lusa) - A Rússia anunciou hoje que vai perdoar uma dívida a Moçambique no valor de 144 milhões de dólares, cujo montante será utilizado no reforço da cooperação bilateral, sobretudo nas áreas da defesa, agricultura, prospeção geológica e formação.

O anúncio foi feito pelo ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, após um encontro em Maputo com o seu homólogo moçambicano, Oldemiro Balói.

Lavrov recordou a forte presença de material originário da União Soviética e da Rússia nas forças armadas moçambicanas para defender uma maior cooperação no domínio militar entre os dois países.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, que se encontra numa visita de dois dias a Moçambique, revelou haver interesse de empresas do seu país na concorrida área dos recursos minerais de Moçambique.

Esta foi a primeira visita de um MNE da Rússia a Moçambique, após décadas de relações privilegiadas entre a antiga colónia portuguesa e a União Soviética.

Os dois países manifestaram agora o desejo de reforçarem as relações bilaterais, após um percurso "altos e baixos", como referiu o chefe da diplomacia moçambicana, Oldemiro Balói.

LAS // PJA

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