domingo, 16 de junho de 2013

PRETOS AO PODER PORQUE... OS NEGROS JÁ LÁ ESTÃO




William Tonet – Folha 8, edição 1146 de 15 junho 2013

Hoje, depois de muito se ter fala­do sobre a entrevista concedida, pelo Presi­dente da República à SIC, canal de televisão privada portuguesa, decidi não me ater muito a ela, preferin­do fazer uma incursão so­bre o que considero estar na base de muita da confli­tualidade em alguns países de África e, principalmen­te, em Angola, depois de se ter libertado do jugo colonial português e estar, desde 1975, a ser governa­da por angolanos.

No calor da luta de liberta­ção nacional, estes nacio­nalistas ou pseudo-nacio­nalistas pretos, carentes de legitimidade e solida­riedade para a guerrilha, fez juras de, tão logo, che­gados ao poder, inverter o rumo do racismo, da po­breza e da discriminação, enfrentada pelos diferen­tes povos, que despojados das suas terras, viviam na miséria.

Ledo engano.

Instalados no poder, os novos dirigentes forma­dos e forjados nas aca­demias ocidentais, não conseguiram adaptar es­ses conhecimentos à rea­lidade dos seus povos, tal como fazem, com maes­tria os asiáticos e árabes. Os angolanos, preferiram, dar continuidade de forma mais refinada a uma práti­ca institucionalizada pelo regime salazarista: a assi­milação. Esta consistia em transformar o indígena, que adoptasse uma pos­tura distinta dos da maio­ria, como renegar a sua cultura, língua, costumes, alimentação, religião e tra­dição, em negros, melhor, indígenas psicologicamen­te lavados, que renegavam a luta pela independência e por via disso, poderiam ascender a certos cargos, na função pública colonial.

Muitos destes assimilados infiltraram-se nas fileiras da revolução, com o ob­jectivo claro de subverter os propósitos da constru­ção de um verdadeiro Es­tado de cariz africano, mo­derno e tecnologicamente próximo dos demais Esta­dos do mundo.

E tanto assim é que, hoje, podemos verificar os da­nos que os negros causam aos pretos, que sendo a maioria, estão relegados para a mais ignóbil po­breza, miséria extrema, discriminação, para além de não terem educação e saúde, com o mínimo de qualidade e dignidade, enquanto essa minoria se refastela com os milhões de dólares desviados do erário público, transfor­mando por via disso, a corrupção numa norma institucional, com imuni­dade bastante, para não causar danos aos seus ac­tores, com a apropriação dos sistemas de justiça, policial e militar.

Por esta razão, por mais paradoxal que possa pa­recer, neste momento, a maioria dos pretos angola­nos, está refém de negros assimilados, que despre­zam e têm vergonha de assumir as línguas angola­nas, os costumes e a tradi­ção dos diferentes povos que habitam e convivem de forma harmoniosa o território Ngola (Angola), impondo uma que é estra­nha à maioria.

Só um negro pode aplau­dir que uma Constituição de um país onde existem várias línguas, e na qual estas sejam relegadas para segundo plano, por eleição de uma estrangeira.

Só um negro pode or­gulhar-se de colocar na sua Constituição a mes­ma norma, que é a base da colonização: a terra é propriedade exclusiva do Estado. Uma cópia fiel do que defendia o colonialis­mo, mas que se tolerava por ser estrangeiro, mas diante de tantas anormali­dades, não tenho dúvidas; António Salazar, ao lado do que fazem muitos dos actuais dirigentes negros aos pretos, era um feto.

Só os negros continuam a assumir, ainda hoje, tal como o faziam no tempo colonial, que pirão (fun­ge) só comem uma vez por semana, aos sábados, porque senão dormem e com o maior desplante defendem como seu prato preferido o “cozido à por­tuguesa”, tal é o desenrai­zamento.

Os pretos, feliz e orgulho­samente, comem pirão todos e várias vezes ao dia e não dormem, pelo con­trário, trabalham vigorosa­mente.

Os negros, defendem a continuidade das datas co­loniais nas cidades liberta­das, tal como a manuten­ção do livro dos nomes coloniais nas conservató­rias do Registo Civil, onde impera a resistência aos nomes angolanos e africa­nos, diferente da promo­ção, também, dos nomes cubanos e russos.

Politicamente, a elite ne­gra é propensa à acultu­ração e à promoção de valores estrangeiros, base por onde assenta a estra­tégia da discriminação dos adversários políticos, dos assassinatos selectivos dos membros da oposição, da arrogância extrema, da privatização familiar do Estado, da fraude elei­toral, da má distribuição da riqueza nacional, da corrupção endémica e da implantação de uma de­mocracia de fachada. Os negros, também, no seu complexo, transformam as minorias em cobaias, melhor, segundo as con­veniências do seu poder, vão promovendo a intriga entre mulatos, brancos e pretos, para melhor reinar, quando sabem que estas duas raças unidas (já que os mulatos patrióticos, consideram-se pretos), por Angola, são uma força incontornável.

Basta recordar que no tempo colonial, não havia mulatos, pois a maioria, orgulhosamente consi­deravam-se pretos, que o diga o kota Bonga, que “palava” de manhã até a noite se lhe chamassem de laton. Infelizmente, um dos maiores responsá­veis desta divisão de raças entre nós, foi Agostinho Neto, na sua política dra­coniana.

É pois nesta encruzilha­da que se encontra, neste momento, Angola, carente de uma unidade de todos os seus cidadãos: pretos e brancos, unidos e verda­deiramente comprometi­dos com as suas origens, com o fim do racismo, com a democracia e com uma verdadeira paz e po­lítica de reconciliação na­cional.

Por via disso é preciso que nasça um amplo mo­vimento nacional, para a promoção de novas leis, capazes de revogarem aquelas que são a continu­ação da política colonial, como a exclusividade da língua portuguesa, a titula­ridade da terra, as actuais efígies na moeda nacional, os símbolos da República, o hino e a bandeira, princi­palmente.

Os pretos, os mulatos e brancos patrióticos e co­erentes, devem tudo fa­zer para evitar que o país tenha uma transição pacifica e não violenta do poder, que parece ser in­tenção do actual regime, que se sente como peixe na água, com a guerra. Por esta razão, os verdadeiros nacionalistas de todas as raças e povos, maiorias ou minorias, devem redobrar esforços, para que a nova aurora, salve Angola do di­lúvio anunciado.

Angola Fala Só - “PRESIDENTE NÃO TEM COLABORADORES À ALTURA” – Antena Aberta



Voz da América

Mais de 80% da população angolana vive pior do que no tempo colonial, disse um ouvinte no programa “Angola Fala Só” marcado por um aceso debate em redor da figura do presidente José Eduardo dos Santos.

Vários ouvintes disseram que o presidente não tem colaboradores à altura das suas responsabilidades, mas outros rejeitaram isso afirmando que a responsabilidade do que vai mal é sempre em última análise do presidente.

A figura do presidente foi com efeito um dos temas que mais discussão causou no programa de estilo  “microfone aberto” em que os ouvintes foram convidados a falarem sobre os problemas nas suas províncias e cidades e também dos progressos registados ou falta deles na reconstrução do país.

Geralmente o programa Angola Fala Só conta com um convidado que responde a perguntas dos ouvintes sobre as questões que ele próprio conhece.

O programa de “microfone aberto” aos ouvintes  foi também marcado por sugestões práticas para se colocar desmobilizados na polícia, para contactos com dirigentes e também para se apoiar Organizações Não Governamentais.

O debate sobre a figura do presidente pode ser exemplificado pela pergunta que o ouvinte Elias Faustino  deixou: “Aqueles que criticam o MPLA e o presidente que me digam qual é o partido que podia ter reconstruído Angola em 10 anos?”

Um outro ouvinte, Mariano Wassuka, disse que o país “não tem rumo” e isso deve-se ao facto do “presidente não ter colaboradores à altura das suas tarefas”.

“Eles é que estão a estragar o nosso presidente,” disse Mariano Wassuka.

“Não hà ética e moral política e sem isso não se faz boa política,” acrescentou.

Mas o ouvinte Mbenguno Daniel disse que culpar “colaboradores” não é desculpa para a má actuação do governo.

“O presidente é responsável e portanto culpado pelos seus colaboradores,” disse afirmando ainda que aqueles que rodeiam o presidente “têm medo” de o criticar porque “quem crítica é culpado”.

O presidente Eduardo dos Santos é eleito dirigente do MPLA sem oposição porque há medo de votar contra.

“Quem é que vota contra quando a votação é de mão no ar?” interrogou Mbenguno Daniel.

Manuel Aleixo Sobrinho foi o primeiro ouvinte a sugerir que desmobilizados das forças armadas sejam integrados na polícia afirmando que o recrutamento para a polícia é feito hoje sem se saber o passado dos recrutas.

“Como é que se sabe que um recruta da polícia não é um delinquente,” disse Manuel Sobrinho que disse que integrar desmobilizados nas forças armadas serviria para pôr fim a essa situação e ao mesmo tempo dar emprego aqueles que serviram nas forças armadas.

João Mulei, ele próprio veterano das forças armadas apoiou a sugestão afirmando que com militares as autoridades sabem sempre se têm ou não “um homem educado”.

O problema disse ele é que “ o partido no poder está virado contra nós” e isso estende-se mesmo aqueles que ainda estão nas forças armadas.

“Os militares não têm condições,” disse, acrescentando que os “generais não olham para o soldado” e o partido no poder “ não liga aos analfabetos”.

Foi o ouvinte Manuel Aleixo Sobrinho  que se insurgiu contra  “ a falta de seriedade” do governo em investigar o que está errado.

Recordou que as autoridades prometeram uma investigação ao desaparecimento há um ano dos activistas Alves Kamulingue e Isaías Cassule e nunc amais se ouviu falar das investigações.

Recordou também o desabamento há meses atrás do edifício da judiciária em Luanda em que foi prometido um inqúeiro  “ e depois como sempre não há resultados”.

“ É preciso seriedade das pessoas que dirigem o país,” disse.

Para Manuel Aleixo embora “não esteja tudo mal” em Angola “80%  da população vive pior do que no tempo colonial, vive em mais miséria do que no tempo colonial”.

Pedro Teca do Uíge sugeriu como meio para se combater o desemprego que o recrutamento governamental dê prioridade a pessoas das zonas onde existem vagas.

Pedro Teca disse que num recente concurso a mais de 80 vagas apenas  “dois ou quatro” eram da região e isso “é inaceitável”.

Serafim Chicomo de Benguela criticou os custos de obras realizadas na sua zona, algumas levadas a cabo por empresas de familiares do presidente.

Serafim Chicomo mostrou grande entusiasmo pelo trabalho da organização “Mãos Livres” que defendeu em tribunal angolanos vítimas de injustiças e sugeriu que a organização criasse uma conta bancária onde os cidadãos pudessem contribuir com qualquer quantia para essas actividades.

Sugeriu ainda que a organização arranjasse meios para que pessoas através de Angola se possam voluntariar para ajudar a organização no seu trabalho.

Alberto Numa do Bié sugeriu que os diversos ministérios criassem meios para os cidadãos poderem transmitir os problemas que vivem e para fazerem sugestões.

Alguns dos ouvintes referiram-se também ao aumento do crime. Mariano Wassuka disse que há zonas de Luanda onde não se circula a partir do cair da noite devido ao crime e falta de segurança e Alberto Numa do Bié exortou as autoridades a tomarem medidas para combater o crime que, segundo disse, tem vindo a aumentar na sua província.

“É preciso que se tomem medidas sérias contra o crime,” disse.


GRUNHIDOS DE UM FALSO JORNALISTA E DUVIDOSO ANGOLANO




Orlando Castro - Folha 8, edição 1146 de 15 junho 2013

Um tal Artur Orlando Tei­xeira Quei­roz, sipaio às ordens dos chefes de posto do regime, resolveu mais uma vez – mesmo atirando a pedra e escon­dendo a pata – utilizar o “Jornal de Angola” para os seus delírios de falso jornalista e duvidoso an­golano.

Basta ler o primeiro pa­rágrafo (ler tudo não só é indigesto como é putre­facto) da suposta prosa erudita gerada nas sar­getas de Luanda para, de imediato, se perceber que o sipaio de serviço, ontem do regime colonial e hoje do regime angolano, é um mercenário ao servi­ço de quem mais pagar.

O MPLA pagou e a UNI­TA não. E, por isso, ele aí está de cavalo-marinho na mão a fustigar todos os que não alinham com o seu chefe de posto.

“Um tal Agualusa, falso escritor e duvidoso an­golano, disse à agência Lusa que depois dos últi­mos livros que escreveu teve que “abrir a janela e respirar um pouco de ar”. Como o compreendemos! Se ler as suas garatujas é uma tortura, imaginamos o estado deplorável em que ficam os seus pés, quando acaba de alinhar palavras por sons e por sí­labas”, escreveu o exímio – citando o Semanário Angolense - “asqueroso”, “víbora” e “fubeiro”.

Para que não fiquem dúvi­das, tanto ao sipaio como aos chefes de posto, com­parar José Eduardo Agua­lusa com Artur Queiroz, seja no que for, é como comparar um violino fei­to com latas de sardinha, ainda por cima enferruja­das, a um Stradivarius.

Artur Queiroz, um supos­to intelectual mas cer­tamente um andrógino (“Que ou quem não tem características marca­damente femininas nem marcadamente masculi­nas, ou tem característi­cas consideradas do sexo oposto”) que sempre esteve do lado dos mais fortes, ou que assim pa­reciam, continua a sua senda a favor dos que, hoje como ontem, mais lhe pagam. Pagaram-lhe e ele descobriu que o holo­causto do 27 de Maio não passou de uma “revolta de racistas” onde terão mor­rido (se calhar um dias destes ainda aparece a di­zer que ninguém morreu) meia dúzia de facínoras.

Artur Queiroz já em 2008 se insurgiu num artigo também publicado no “Jornal de Angola” (onde mais poderia ser?) contra o facto de Agualusa ter dito, embora sem referir nomes, que há torturado­res angolanos que são tra­tados em Portugal como grandes escritores.

Embora saiba muito bem a quem se referia Agualusa (Pepetela, por exemplo, participou no massacre de 27 de Maio de 1977 e, quer se queira quer não, tão responsá­vel é o que puxa o gatilho como aquele que partici­pa na farsa acusatória), Artur Queiroz inferia – tal como agora reedita - que é legítimo “presumir que todos os grandes escrito­res angolanos se dedicam à tortura”.

“Quando algum leitor es­tiver na presença de um desses escritores vai pen­sar que está a ver e ouvir um torturador”, dizia Ar­tur Queiroz do alto da sua cátedra feita de toneladas de sabujices. E tinha ra­zão. Olhar para Pepetela é olhar – no mínimo - para um torturador.

“O senhor José Agualusa lançou um manto de ca­lúnia sobre todos os seus confrades o que é muito grave. Mas mais grave foi ter dado a bofetada e es­condido a mão. Como não nomeou os torturadores, ninguém pode defender-se de tão grave acusação. No tempo em que os animais não falavam, isto era co­bardia. E um cobarde vale tanto como os seus gestos repugnantes”, escouceava então Artur Queiroz para justificar o prato de lenti­lhas, tal como hoje grunhe para continuar a comer.

José Eduardo Agualusa não escondeu a mão. Bas­tava a Artur Queiroz ler o que ele tem dito e escrito e não apenas o que interes­sa aos chefes do posto que ele leia. Se há meia dúzia de pessoas que têm dado o nome aos bois, Agua­lusa é uma delas, mesmo que isso não agrade aos capatazes do sipaio (sem ofensa para estes) Artur Queiroz.

Agualusa é um exemplo de que se pode ser preso por ter cão e por não ter. Reproduzindo a enco­menda, Artur Queiroz não perde uma oportunidade para, quando dá jeito, vol­tar os cascos para o alvo, dizendo que desta vez foi cometido um crime de lesa MPLA por terem sido dados os nomes.

“Uma pessoa que ache que o Agostinho Neto, por exemplo, foi um extraordi­nário poeta é porque não conhece rigorosamente nada de poesia. Agostinho Neto foi um poeta medí­ocre. O mesmo se pode dizer de António Cardoso ou de António Jacinto”, afirmou e bem Agualusa.

Porque o visado já não está no reino dos vivos, Artur Queiroz entende que “a cobardia aqui assume a di­mensão de um assassinato de carácter o que faz de Agualusa uma figura com todos os predicados para entrar na minha lista pes­soal dos leprosos morais”.

Na lista dos “leprosos mo­rais” se, como tanto deseja Queiroz e os seus donos, não for possível enquadrá­-lo num outro qualquer 27 de Maio, entenda-se.

Dado o contributo para que Artur Queiroz reedi­te, como o fez em 2008 junto do Departamento de Investigação e Ac­ção Penal de Lisboa (12ª Secção - Inquérito n.º 3945/08.6TDLSB-1202), as suas queixas, mas, mais do que isso, recolha mais alguns cobres junto dos chefes de posto, res­ta dizer que se o valor do José Eduardo Agualusa se medisse pelo nível (seja intelectual, profissional, humano, cultural ou qual­quer outro) dos seus ini­migos, o Artur Queiroz amesquinhava-o de uma ponta à outra.

Dá, aliás, um certo gozo recordar que Lula da Sil­va, o político considera­do pelo chefe de Artur Queiroz, José Eduardo dos Santos, como uma referência, entregou no dia 26 de Novembro de 2009 a Ordem do Mérito Cultural a… José Eduardo Agualusa e a Mia Couto.

Noutro contexto, consta que numa das suas no­bres missões de jornalista cronicamente candidato a candidato ao Prémio Pulit­zer, Artur Queiroz visitou uma das milhares e milha­res de escolas que o regi­me diz ter construído por todo o país e que, com a autorização da professora, explicou aos alunos o que era ser do MPLA. Feita essa erudita explicação, pediu que levantassem a mão todos aqueles que fossem simpatizantes do partido.

Depois de tão queirosia­na explicação, todos os alunos levantaram a mão, excepto um menino que estava sentado no fundo da sala.

Perante a surpresa, des­de logo porque todos os angolanos são, ou deviam ser, do MPLA, Queiroz perguntou a razão pela qual o puto não levanta­ra, como era sua obriga­ção, a mão. A resposta foi clara: “Porque não sou do MPLA”.

Algo de estranho se estava a passar. Quando indaga­do sobre as suas simpatias políticas, o aluno não teve dúvidas em dizer que era simpatizante da UNITA. E explicou as razões: “A minha mãe é da UNITA, o meu pai é da UNITA, o meu irmão é da UNITA, por isso eu também sou da UNITA”.

Então era isso! Puxando dos seus galões, o perito dos peritos do jornalismo angolano disse: “Tu não tens que ser da UNITA como os teus pais. Por exemplo, se a tua mãe fos­se mentirosa, o teu irmão um ladrão e o teu pai um corrupto, o que é que tu serias?”

“- Nesse caso, respon­deu o puto, aí eu seria do MPLA!”

Na foto: A. Queiroz já chamou JES e pares de pretos matumbos e de liderarem um socialismo de sanzala, hoje pelos dólares diz o contrário.

Via Crúcis de imigrantes subsaarianos à Europa é marcada por violência e descaso




Jesús Blasco de Avellaneda/Periodismo Humano - Nador (Marrocos) – Opera Mundi

Histórias de espancamento e assassinatos de africanos se proliferam a cada ano na fronteira entre o continente e a Espanha

A história de Gastón poderia, à primeira vista, parecer uma dessas milhares de histórias que a cada ano – desde que em 2005 as Forças Auxiliares Marroquinas se transformaram oficialmente nos vigilantes da fronteira sul da Europa e muitas vezes nos policiais do descumprimento sistemático dos convênios internacionais e dos direitos humanos – acontecem entre as cercas que separam Melilla e Ceuta.

Um imigrante subsaariano tenta entrar na Espanha superando a barreira metálica tripla de mais de 6 metros de altura, e segundo testemunhas, os Alis (nome coloquial pelo qual esse corpo paramilitar, que se presume “os olhos e os ouvidos do sistema marroquino”, é conhecido) respondem com um uso de força desmedida, causando ao agredido feridas graves que não lhe permitam uma nova tentativa de pular – ou ao menos lhe façam pensar melhor antes de fazer isso – e que sirvam como medida dissuasiva para o resto de seus companheiros de acampamento.

Mas não é exatamente assim. O caso de Gastón tem muitos novos matizes que permitem ver um recrudescimento das atuações policiais na fronteira terrestre sul da União Europeia e de algumas diretrizes políticas em relação aos imigrantes em Marrocos mais desumanas, que se manifestam de maneira diretamente proporcional à implicação e a conscientização da população e da sociedade civil para com este coletivo cada vez mais vulnerável e numeroso.

Ele despertou da anestesia geral e ver tanta gente ao redor de sua cama é um pouco inquietante. Além disso, ele se queixa que seu quarto – o número 209 da Policlínica Al Wahda (A União) de Nador – está quase o dia todo no escuro e ele sente muito frio.

Ele ainda não pode comer nada sólido e apenas toma um pouco de suco com muita dificuldade. “O pobre homem não pode engolir bem. Devem ter feito algum dano à garganta durante a intubação”, informa aos presentes Mónica, coordenadora da assistência sanitária da Delegação de Migrações em Nador, organização a cargo dos coletivos migrantes da região oriental de Marrocos desde a saída dos Médicos Sem Fronteiras do país.

É ainda difícil mover bem as pernas e ele continua com os dois braços engessados, mas está com a cara boa e “parece um novo homem: é realmente um milagre”, assegura entre lágrimas Juliana, ativista voluntária que o recolheu quando estava moribundo e jogado na rua.

Gastón, camaronês de 30 anos da etnia bamileké, estava há apenas três semanas nos acampamentos de Gurugú quando na tarde-noite do dia 15 de maio decidiu, junto a outros dozes companheiros, tentar pela primeira vez chegar a Melilla ultrapassando a cerca fronteiriça. Quando estavam a apenas poucos metros da cerca de ferro, foram surpreendidos por oficiais Forças Auxiliares marroquinas que os encurralaram e começaram a atacá-los com pedras e bastões.

Não é sempre bom ser o mais forte, e menos ainda nesta ocasião: a corpulência de Gastón fez com que ele fosse liderando o grupo, motivo pelo qual estava em pior posição para escapar correndo, e “sempre vão primeiro atrás dos maiores, são como troféus de caça para eles”, comenta Adil, presidente da Associação de Direitos Humanos de Nador.

Segundo testemunhas, os Alis conseguiram “caçar” dois deles e começaram a aplicar neles uma surra brutal. Mas o companheiro de Gastón mostrou duas notas de 50 dirhams (pouco mais de nove euros) e ao entregar o dinheiro aos seus agressores, eles o deixaram escapar com vários golpes e um braço avariado.

Gastón então pediu a eles que parassem e lhes deu tudo o que tinha nos bolsos: uma moeda de 10 dirhams (não chega a 1 euro ). A cifra não foi suficiente para os oficiais, um total de oito, que o golpearam até que ele estivesse meio morto. Então, o levaram até o monte Gurugú e de lá o jogaram. “Se tivesse algo de dinheiro não tinham me batido tanto. Devem ter pensando que eu não estava querendo dar tudo o que tinha ou que estava fazendo graça deles ao lhes dar tão pouca quantidade. Então me bateram mais e mais. Me acertaram com pedras, cassetetes, me deram chutes e socos cada vez mais fortes”, entende-se do que ele diz entredentes, enquanto mantém o rosto hierático, quase sem poder se mover ou gesticular.

No dia seguinte à surra, uma equipe da Delegação de Migrações de Nador subia ao monte para atender aos imigrantes que se refugiam ali em diversos acampamentos quando foi alertada por alguns vizinhos da região que tinham visto um homem envolto em sangue e jogado na lateral de uma das calçadas.

Rapidamente ele foi levado para o hospital provincial Hassani onde foi recebido, mas não foi atendido até o dia seguinte. “Não sabemos por que não quiseram examiná-lo nem lhe dar calmantes. Só depois de quase 24 horas, quando as queixas de várias pessoas que estavam no quarto dele (são salas comuns que atendem entre 8 e 12 doentes) obrigaram aos médicos a lhe atenderem devidamente, já que sofria de dores tremendas”, relata Juliana.

Os exames confirmaram o pior: ele tinha fortes traumatismos na cabeça e nas pernas, ambos os braços quebrados em várias partes e a mandíbula apresentava duas fraturas sérias e um deslocamento.

Os dias iam passando, os ossos começaram a se religar em falso e o hospital público, que havia incitado os ativistas e voluntários a comprarem o material cirúrgico, lavava as mãos e assegurava que não podia operar o jovem camaronês com garantias.

A Delegação de Migrações não pensou duas vezes e com a maior rapidez o transferiu para uma policlínica privada no último dia 4 de junho, que decidiu preparar uma equipe médica e operá-lo com urgência. Na madrugada de 5 a 6 de junho, ele chegava ao quarto com os braços e a mandíbula em seus lugares e duas placas de titânio no rosto que vão acompanhá-lo por alguns anos. “Ficou muito bom. Ele está chateado, mas satisfeito. É um garoto muito bom e muito inteligente. É verdadeiramente forte e esperto”, assegura Mónica.

E, 10 de junho, ele saiu da clínica privada e vai ser novamente transferido ao hospital estadual de Nador para concluir ali seu período de repouso e observação. A operação e o tratamento custaram mais de 20 mil dirhams (uns 2 mil euros) que foram arrecadados graças à generosidade de algumas organizações e indivíduos de Melilla. Um gesto altruísta e comovedor que serve para dar uma nova oportunidade a um homem cujo único delito foi abandonar seus pais e irmãos em Camarões para empreender uma viagem à Europa, buscando formar uma família e dar aos sobrinhos e futuros filhos uma vida melhor do que a que levava na África.

Não é um caso isolado

O trágico e brutal incidente de Gastón não é um caso isolado. Dois dias antes da surra, vários grupos de subsaarianos tentavam entrar em Melilla pela cerca fronteiriça. Cerca de 70 jovens conseguiram chegar ao solo espanhol, mas os outros não tiveram a mesma sorte. A noite terminou com 54 agredidos, detidos e expulsos para Argélia; pelo menos quatro imigrantes deram entrada no hospital Hassani de Nador em estado grave; 30 deles precisaram de assistência médica nos dias posteriores por fraturas e fortes contusões; e pelo menos um foi encontrado sem vida abandonando nos bosques próximos a Nador.

Um dos feridos dessa noite foi Yahya, um jovem guineano que conseguiu escapar das garras dos Alis com tão má sorte que, já longe, foi alcançado por uma pedra no olho direito quando girava a cabeça para ver se eles vinham atrás.

Ele teve que ser internado e esteve a ponto de perder o olho, mas finalmente se recupera no hospital Hassani e logo poderá voltar a estar com seus companheiros. “É um garoto estupendo, atento, divertido, educado. Ainda está se recuperando, mas é uma sorte tenha podido conservar a visão”, assegura Adil.

“Todos os dias temos de velar para que atendam no hospital Hassani de Nador a dois, três, cinco feridos com graves contusões na cabeça, nos braços, nas pernas e muitas vezes com fraturas e deslocamento de ossos. É algo contínuo. Eles tentam entrar em Melilla quase diariamente e as surras acontecem também quase todos os dias”, conta Ibrahim, um dos trabalhadores da Delegação de Migrações em Nador. 

Os subsaarianos que permanecem escondidos nos bosques do monte Gurugú e região asseguram que a presença da polícia marroquina e das Forças Auxiliares nas estradas de acesso é permanente e que os ataques e incursões aos acampamentos são quase diários, chegando inclusive a queimar os acampamentos como na metade do último mês de maio.

Abderrahman: “Nos espancaram até a morte”

Mas, se há uma situação parecida a de Gastón, sem dúvida é a que sofreu em sua própria carne Abderrahman. O jovem malinês de 25 anos foi encontrado no dia 3 de setembro de 2012 se arrastando pelo chão perto da subida para o monte Gurugú – com a cabeça aberta, o rosto cheio de sangue, os braços completamente cheios de cortes e contusões, e as pernas quebradas. Não podia andar.

Era um verão muito intenso em termos de tentativas de entrada de imigrantes subsaarianos a Melilla. A União Europeia e o Governo da Espanha pediram uma colaboração mais intensa da parte de Marrocos. Dito e feito: as Forças Auxiliares realizaram uma brutal carnificina na madrugada do domingo 2 para a segunda-feira 3 de setembro, durante a qual feriram centenas de jovens e deportaram outros tantos, de acordo com declarações de testemunhas.

As pernas de Abderrahman foram quebradas a golpes. Os vizinhos da área deixaram para ele um pedaço de pão e umas bebidas por perto, mas não se aproximavam para lhe socorrer. “Têm medo de que aconteça algo com eles também ou que sejam acusados de colaborar com a imigração clandestina”, sussurrava.

Foram surpreendidos à noite e muitos não tiveram a oportunidade de escapar. “Nos espancaram até a morte. Vieram de madrugada e nos bateram até nossos ossos quebrarem.  Muitos foram levados para Oujda, mas outros foram deixados morrendo nos bosques.”

Até então, os Médicos Sem Fronteiras (MSF) se encarregavam da assistência aos imigrantes na região, mas, nessas datas, estavam trabalhando em Rabat, e por isso alguns ativistas melillenses tiveram que chamar a ambulância para que ele fosse levado com urgência ao hospital estadual.

Dias depois, o MSF teve de insistir para que ele fosse devidamente atendido e Abderrahaman levou vários meses para se recuperar. Quando foi agredido, ele estava somente há algumas semanas em Marrocos e para ele, como para Gastón, era sua primeira tentativa de entrar em Melilla.

Apesar de tudo, ele não perdeu a esperança de ter uma vida melhor. “Não vamos deixar de lutar por nosso sonho. Não somos delinquentes, só pobres. Aqui nos estão matando e não há ninguém que nos defenda. As pessoas no resto do mundo têm de saber o que fazem conosco.”

* Originalmente publicado no site espanhol Periodismo Humano

**Com fotos em Opera Mundi

Médicos turcos denunciam uso "selvagem" de gás lacrimogéneo nas ações policiais



SCA (CP) ROC - Lusa

A Associação de Médicos Turcos denunciou hoje o uso “selvagem” de gás lacrimogéneo por parte das forças policiais turcas durante a repressão das manifestações antigovernamentais que abalam o país há quase três semanas.

“Desde 31 de maio, a polícia tenta reprimir manifestações legítimas e pacíficas. As forças policiais fazem um uso selvagem de gases contra multidões de civis desprotegidos”, referiu a associação, que representa cerca de 80% dos profissionais do setor, num comunicado.

“Pedimos ao Governo que coloque um fim imediato nesta violência bárbara e fazemos um apelo urgente à comunidade internacional para agir contra a repressão brutal das exigências democráticas”, indicou o mesmo texto.

A associação profissional relatou que no sábado à noite, marcado por uma nova intervenção da polícia na praça Taksim, em Istambul, o acesso aos serviços de assistência médica por parte das vítimas das cargas policiais foi bloqueado e vários serviços de saúde foram encerrados.

Durante a semana passada, a organização realizou uma sondagem ‘online’ para avaliar o efeito do gás lacrimogéneo nos manifestantes.

Mais de 11 mil pessoas foram afetadas pelo gás, das quais 65% têm idades compreendidas entre os 20 e os 29 anos. Apenas 13% utilizava máscaras de gás.

A organização estima que 11% dos inquiridos tiveram expostos ao gás durante mais de 20 horas e 53% entre uma a oito horas.

"A exposição ao gás durante mais de um dia aumenta o risco de problemas cardiovasculares", sublinhou a associação.

A Turquia é palco há quase três semanas de uma série de protestos contra o Governo islâmico conservador, liderado por Recep Tayyip Erdogan, que começaram em finais de maio, depois de a polícia ter dispersado com gás lacrimogéneo e canhões de água uma manifestação pacífica contra um plano de construção de um centro comercial num parque de Istambul.

Desde o início dos protestos, morreram já quatro pessoas, uma delas polícia, havendo registo de mais de 5.000 feridos, de acordo com fontes médicas citadas pela Efe.

Dois dos principais sindicatos turcos anunciaram hoje uma greve geral a partir de segunda-feira para denunciarem a violência policial usada contra os manifestantes da praça Taksim.

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou hoje ser o seu dever "limpar" a praça Taksim.

"Já disse que chegámos ao fim. A situação tornou-se insuportável. Ontem [sábado], a operação realizou-se e a praça Taksim e o parque Gezi foram limpos, é o meu dever enquanto primeiro-ministro", disse Erdogan durante uma reunião pública do seu partido, realizada em Istambul.

Foto: EVRIM AYDIN / ANADOLU AGENCY/ANADOLU AGENCY

Brasil: DILMA É CONTRA DILMA?




Rui Martins – Berna - Direto da Redação

Berna (Suiça) - O jornalista esportivo da televisão suíça pouco antes do término do jogo vencido pelo Brasil, em Brasília, estava encafifado – não entendia por que a presidenta Dilma tinha sido vaiada pelo público na solenidade de abertura.

“O estádio com o nome do grande jogador Garrincha é novo, tecnologicamente o mais moderno no mundo, e está sendo oferecido ao povo, e por que o povo vaia a presidenta ? É, na verdade, ela não tem carisma!”

Ué, pensei, será que isso é ainda consequência da política suicida da presidenta Dilma, contada aqui por mim, neste site, há quase um ano, dando conta de um evidente distúrbio psicológico na presidenta, pelo qual premia a mídia que critica seu governo e dá uma banana para os jornais e revistas a seu favor ?

Há um problema de síndrome aí, de preferência pelo inimigo. Não sou eu quem possa solucionar, mas os que com ela convivem no dia a dia, na Casa Civil, poderiam tentar alguma coisa, antes de acontecerem novas vaias, cada vez mais perigosas por serem próximas das eleições presidenciais.

Embora vivendo no Exterior tenho testemunhado, nestes três anos, uma campanha insidiosa da grande mídia contra o governo, contra a presidenta Dilma, contra o PT, sem existir um retorno favorável, uma defesa, uma resposta no mesmo volume.

Ora, diante do grande circo das denúncias, cotidiano e insistente, mas sem resposta, acaba ficando alguma coisa, no subconsciente do povo.

Na coluna Governo financia a direita, reproduzida amplamente pela miserável mídia de esquerda e por seus blogs, que funcionam gratuitamente, levantava a questão do porquê do governo Dilma se negar a dar, pelo menos um pouco de sôro, à mídia alternativa de esquerda, já que Brasil de Fato, Caros Amigos (ainda existe?) e Correio do Brasil são praticamente ignorados pelo governo, na distribuição das verbas de publicidade a pretexto de terem poucos leitores... Ora, têm pouco leitores justamente porque não dispõem de condições para competir com Folha, Globo, Estadão.

A esponsável por essa partilha de publicidade, favorecendo sempre a mídia de direita contra a mídia nanica de esquerda, é Helena Chagas, sempre ao lado da presidenta nas excursões ao Exterior. Ela é a prova viva da síndrome.

Não vou transcrever a coluna de setembro do ano passado, mas alguém com mais tato que eu, deve enfim ter peito para dizer à presidenta que se isso não mudar, sua reeleição pode ir pro brejo.

O baixinho Getúlio foi extremanente esperto ao financiar Samuel Wainer e sua Última Hora e mesmo assim não conseguir evitar a campanha desfechada contra ele, a pretexto – o tema é sempre o mesmo – de corrupção no governo.

Acorde presidenta Dilma se não quiser passar outros vexames como os vividos em Brasília. É preciso elaborar e implementar uma verdadeira política de apoio junto à mídia de esquerda. Não será preciso que torçam os fatos, nem que existam conselhos de jornalismo querendo enquadrar quem for contra o governo. Tudo pode ser feito de maneira transparente entro das regras democráticas, sem continuar favorecendo uma mídia adversária já mais que favorecida.

Se não é suicídio e automasoquismo. Aqui na Europa, a mídia de esquerda não tem tratamento de preferência, mas igualitário. Aí no Brasil, a preferência é sempre para a mídia de direita. Ora, num governo de esquerda isso se torna incompreensível.

*Jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante, membro eleito do Conselho Provisório e do atual Conselho de emigrantes (CRBE) junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreveu o livro Dinheiro Sujo da Corrupção sobre as contas suíças secretas de Maluf. Colabora com o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência BrPress.

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Brasil: UM ESTADO POLICIAL




Estamos assistindo a uma perigosíssima associação entre as forças policiais e a extrema direita de caráter fascista no mundo inteiro – o que merece uma análise mais ampla. Mas, no caso brasileiro, parece haver interesse calculado em criar um ambiente de pânico na população, que sempre favorece os golpistas.

Mauro Santayana* – Carta Maior

A violência da polícia, na repressão aos protestos contra o aumento das tarifas de ônibus, em São Paulo, no Rio e em Niterói, deve ser vista além dos episódios em si mesmos. Estamos nos tornando um estado policial, sem que haja uma reação coordenada de defesa da cidadania. É provável que os governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro estejam perdendo o controle de seu sistema de segurança, o que é grave; mas também é possível que eles tenham estimulado a caça indiscriminada aos manifestantes – e isso é alarmante.

Argumenta-se que o aumento anunciado – de apenas vinte centavos – é irrisório e não justificaria a reação popular. Os mais vividos se recordam que quebra-quebras promovidos pelos estudantes – aos quais se somavam os transeuntes disponíveis – sempre houve no passado. Não só se protestava contra o aumento dos transportes coletivos, como, também, contra o aumento dos ingressos cinematográficos. Isso sem esquecer as costumeiras passeatas contra o alto custo de vida, que se faziam sob a percussão de garfos e facas contra panelas vazias.

Um dos símbolos da imprensa alternativa, o Binômio, de Belo Horizonte, que seria depredado por militares na antevéspera do golpe de 1964, nasceu como protesto contra a violência da polícia de Minas – e em pleno governo democrático de Juscelino, em 1953. Os estudantes de Belo Horizonte se amotinaram contra o aumento dos cinemas, quase todos pertencentes a um só homem, e foram golpeados pelos longos porretes dos soldados da cavalaria. Diante da reação policial – e de nenhum protesto dos jornais – os jornalistas José Maria Rabelo e Euro Luis Arantes decidiram editar o jornal em que se reunia o humor crítico aos textos pesados e mais pensados.

Mas a violência, no passado, tinha os limites dos cassetetes e das chamadas bombas de efeito moral. Mais ainda: a polícia evitava golpear quem não estivesse praticando atos de vandalismo – e os jornalistas eram sempre respeitados. Nos incidentes dos últimos dias, os jornalistas foram os alvos preferenciais da repressão, e há uma razão: eles são testemunhas públicas da violência. Vários companheiros nossos foram vítimas de empurrões, pescoções, jatos de pimenta nos olhos, bombas de gás lacrimogêneo endereçadas, porretadas e balas de borracha no rosto. Um deles, fotógrafo, atingido em um dos olhos, provavelmente terá sua visão reduzida à metade.

Estamos assistindo a uma perigosíssima associação entre as forças policiais e a extrema direita de caráter fascista no mundo inteiro – o que merece uma análise mais ampla. Mas, no caso brasileiro, parece haver interesse calculado em criar um ambiente de pânico na população, que sempre favorece os golpistas. Todos os testemunhos são os de que as pessoas se manifestavam pacificamente, quando a polícia tomou a iniciativa do ataque. 

O governo federal considerou exagerada a repressão nos dois estados. Isso explica por que não houve excesso na contenção, ontem, dos manifestantes contra os gastos da Copa do Mundo, na abertura dos jogos da Copa das Confederações, no estádio Mané Garrincha. A polícia do Distrito Federal é paga com recursos da União.

Há políticos em governos que esperam dividendos eleitorais por sua tolerância com a brutalidade de seus subordinados policiais. No entanto, eles correm o risco de serem vítimas eventuais da mesma estupidez. Os governadores Geraldo Alckmin e Sérgio Cabral devem retomar as rédeas de suas corporações militares, antes que elas recusem qualquer freio.

*Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

FALTA UM LÍDER FORTE PARA ENFRENTAR ATUAL GOVERNO DA TURQUIA - portuguesa



ICO – MLL - Lusa

A emigrante portuguesa na Turquia Ana Mota, de 21 anos, disse hoje à Lusa que há milhares de jovens nas ruas de Istambul e Ancara, mas tem dúvidas que o Governo caia enquanto não aparecer um líder “forte” que enfrente o atual primeiro-ministro.

“Se nós tivéssemos um líder faríamos uma luta grande. Como não temos, as pessoas não sabem o que fazem. Vamos para as coisas, mas não vamos atrás de ninguém. Se nós tivéssemos um líder ninguém nos poderia parar. Há pessoas que aparecem, mas muito fracas para lutar contra este homem, Tayyip Erdogan”, relatou a estudante universitária à agência Lusa por via telefónica.

Nascida no Porto, filha de mãe portuguesa e pai turco, Ana Mota reside na Turquia desde muito pequena, é atualmente estudante de Gestão na Universidade de Istambul e diz que tem participado nas manifestações antigovernamentais nas ruas de Istambul e Ancara e que começaram há cerca de duas semanas.

“O Governo está louco, sinceramente… os polícias atacam os hospitais, as crianças, as mulheres, tudo para irmos embora. Percebemos que está com medo e por isso quer que as pessoas saiam dali mas isto não vai acabar. Hoje as pessoas vão andar até Taksim de onde quer que estejam”, disse.

Em Ancara, onde se encontra hoje, está também tudo “muito mal”, com muitos confrontos e muita gente nas ruas.

“Vê-se muita gente nova nas ruas, especialmente na faixa dos 18 até aos 30, muitos jovens universitários”, disse.

De acordo com Ana Mota, as pessoas estão muito revoltadas, em especial os jovens: “São terríveis para nós. Dividem quem é tapado e quem não é tapado. Ninguém pode falar mal do primeiro-ministro, porque vão para a prisão. Quem fala mal vai para a prisão”.

A estudante lamentou ainda que “apenas um ou dois canais de televisão” locais difundam informação e imagens sobre a situação das manifestações, “mas como se tratam de canais com poucos recursos, as imagens são muito poucas”.

A estudante universitária diz assim que tem acompanhado as notícias em relação aos incidentes através da Internet, ou pela BBC e CNN internacionais.

“Eu consigo ver no rosto do primeiro-ministro e da mulher que eles estão em pânico e querem que isto acabe, mas quanto mais a polícia usar a força as pessoas vão ficar cada vez mais revoltadas e isto não vai acabar”, declarou.

De acordo com a agência Efe, milhares de pessoas estavam esta noite nas ruas de Istambul com a intenção de seguirem para a praça Taksim, em resposta à retirada pela polícia dos ocupantes do parque Gezi no sábado, depois de um novo ultimato do primeiro-ministro turco a exigir a saída dos manifestantes das ruas.

Segundo a France Presse, a polícia continuou a intervir durante a noite com recurso a gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar a multidão nas ruas de Istambul.

Para hoje, a Plataforma de Solidariedade da Praça Taksim agendou um grande protesto para as 16:00 (14:00 em Lisboa), tendo o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, convocado igualmente os seus apoiantes.

O ministro turco dos Assuntos Europeus, Egemen Bagis, entretanto advertiu que quem entrar na praça Taksim será considerado terrorista.

“A partir deste momento, qualquer pessoa que se encontre ali, lamentavelmente terá que ser considerada pelo Estado como membro de uma organização terrorista”, avisou o membro do Governo numa entrevista ao canal "A Haber", citado pela agência Efe.

De acordo com as autoridades turcas, os protestos provocaram 44 feridos até ao momento, quando fontes médicas asseguram que há mais de 7.500 feridos, 50 dos quais em estado grave, além de quatro mortos, três manifestantes e um polícia.

Foto: VASSIL DONEV/EPA

DOIS SINDICATOS TURCOS ANUNCIAM GREVE GERAL A PARTIR DE SEGUNDA-FEIRA



CP – CC - Lusa

Dois dos principais sindicatos turcos anunciaram hoje uma greve geral a partir de segunda-feira para denunciarem a violência policial usada contra os manifestantes da praça Taksim, disse um porta-voz do sindicato KESK.

"Entramos em greve amanhã (segunda-feira) em todo o país, com o sindicato DISK e outras organizações", disse Baki Cinar, porta-voz do KESK.

Médicos, engenheiros, arquitetos e dentistas aderiram já ao apelo à greve que visa o fim "imediato" da violência policial.

Estes sindicatos já tinham cumprido uma greve na quarta-feira, na véspera de uma opçeração policial para evacuar as dezenas de milhares de manifestantes da Praça Taksim, em Istambul.

Este primeiro apelo à greve geral foi pouco seguido. A Confederação Sindical dos Trabalhadores Revolucionários (DISK) reinvindica 420.000 sindicalizados enquanto a dos assalariados do setor público - KESK - conta com 250.000 membros.

Entretanto, o primeiro-ministro, Erdogan, declarou hoje ser seu dever "limpar" a Praça Taksim em Istambul, depois da intervenção da polícia, no sábado, contra o último bastião de manifestantes que reclama a demissão do governante.

"Já disse que chegámos ao fim. A situação tornou-se insuportável. Ontem (sábado), a operação realizou-se e a Praça Taksim e o parque Gezi foram limpos, é o meu dever enquanto primeiro-ministro", disse Erdogan durante uma reunião pública do seu partido, realizada em Istambul.

Foto: TOLGA BOZOGLU/EPA

MILHARES DE ESPANHÓIS SAEM À RUA EM PROTESTO CONTRA A AUSTERIDADE



RCR – CC - Lusa

Milhares de pessoas manifestaram-se hoje, em Madrid e outras cidades espanholas, contra as políticas de austeridade, apelando ao primeiro-ministro Mariano Rajoy que se concentre na criação de empregos para tirar o país da recessão.

Ao som de tambores e apitos, os manifestantes desfilaram pelas ruas centrais da capital espanhola, empunhando bandeiras vermelhas e brancas (as cores dos sindicatos) e cartazes onde se lia: “A austeridade destrói e mata” e “Os cortes orçamentais são um roubo”.

O protesto começou por volta do meio-dia junto ao Ministério da Saúde e acabou na Puerta del Sol, onde foi lido um manifesto.

“Esperamos que o Governo perceba que não podemos inverter a situação com cortes e mais cortes. É altura de mudar de rumo e fazer mais pelo crescimento económico”, declarou Diana Rodriguez, de 47 anos, antiga bancária, no desemprego há quase dois anos.

“O Governo deve mudar de rumo. É evidente que o caminho pelo qual nos têm levado ainda nos vai afundar mais”, avisou Carlos Lago, um funcionário de 32 anos que trazia um cartaz com a seguinte frase: “Sem pão, não há paz”.

As manifestações aconteceram em 28 cidades espanholas, entre as quais Barcelona, a segunda cidade do país, e Vigo, a maior cidade galega.

Foram organizadas pelos três principais sindicatos espanhóis sindicatos: CCOO (Confederação Sindical das Comissões Operárias), UGT (União Geral dos Trabalhadores) e USO (União Sindical Operária).

Desde que foi eleito, em dezembro de 2011, o primeiro-ministro Mariano Rajoy anunciou uma série de cortes orçamentais, aumento de impostos e a reforma do sistema de pensões para consolidar as finanças públicas.

O Governo Rajoy prometeu recuperar 150 mil milhões de euros até 2014 graças a um plano de rigor orçamental sem precedentes que tem originado protestos em massa.

A economia espanhola, a quarta da zona euro, recuou 0,5% nos primeiros três meses de 2013, a sétima queda trimestral consecutiva.

O desemprego atingiu uma taxa recorde de 27,16%, o nível mais elevado desde a restauração República espanhola depois da morte de Franco em 1975.

Foto: TONI GARRIGA/EFE

Portugal: PASSOS E GASPAR PAGARAM SUBSÍDIO DE FÉRIAS A 1454 “BOYS”




Afinal, o roubo do subsídio de férias aos funcionários públicos não foi para toda a gente: quase 1500 nomeados pelo Governo tiveram direito a recebê-lo. O número é dez vezes superior ao que tinha sido comunicado pelo gabinete de Passos Coelho

Segundo a resposta do gabinete do primeiro-ministro a um requerimento entregue pelo PS na Assembleia, 1454 pessoas nomeadas pelo Governo para cargos de assessoria no executivo e no universo dos institutos públicos e entidades do Estado tiveram direito a receber o subsídio de férias negado à generalidade dos funcionários públicos e aos reformados.

Em setembro, o Governo admitia estarem nesta situação 131 assessores dos gabinetes ministeriais. Os números agora revelados mostram a dimensão das exceções abertas por Passos e Gaspar aos seus homens de confiança que trouxeram para a máquina do Estado: são dez vezes mais do que o Governo admitia há dois meses.

O chefe de gabinete de Passos Coelho começou por garantir a 31 de julho que não tinham sido pagos subsídios de férias a quaisquer membros do Governo e respetivos assessores, prometendo corrigir "qualquer situação identificada em contrário". Mas no mesmo documento justificava a exceção em relação aos restantes funcionários públicos, dizendo que o pagamento dos subsídios se aplicava "aos casos em que se inicia uma nova relação jurídica" no âmbito do regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas.

Com esta exceção oferecida a 1454 'boys' nomeados pelo PSD e pelo CDS - e não os 131 inicialmente admitidos pelo Governo - fica exposta a diferença de comportamento do Governo, que tirou o subsídio de férias aos funcionários públicos, mantendo-os para os escolhidos para preencherem cargos em gabinetes do Estado.


Portugal: TRIBUNAIS




Fernanda Mestrinho – Jornal i, opinião

Uma mulher é vítima de negligência médica num hospital privado. O director clínico confirma, a Ordem dos Médicos também. Acabou por morrer. O processo está há mais de sete anos (e estará) nos tribunais.

O problema inicial está nos legisladores. Os arguidos têm direitos, os autores (vítimas) carregam o ónus da espera, sobretudo nos cíveis, a que se sucedem recursos até à náusea. A ministra da Justiça mostrou vontade de alterar a situação. É como puxar um comboio com os dentes; a locomotiva nem saiu da estação.

As arbitragens e os pareceres (a privatização) são o El Dorado de alguns escritórios, os processos anónimos esbarram desesperados num muro de betão.

Algumas figuras públicas cumprem pena. E mesmo assim só com a persistência dos colectivos dos tribunais. À berraria seguiu-se o silêncio.

Nos últimos dias ouvi uma notícia pouco comentada. Alguns administradores do BPN terão sido absolvidos porque o processo foi posto no tribunal errado. Dá para rir.

O Tribunal Constitucional mandou que se faça o julgamento de ex-administradores do BCP. Aquele, e o Tribunal de Contas, são as duas instituições que têm evitado que o país se transforme num verdadeiro faroeste.

Os casos de corrupção são os que ficam mais impunes. Et pour cause? Quanto a investidores estrangeiros ou nacionais que queiram fazer jogo limpo, fogem como o Diabo da cruz. Razão principal: a justiça. Como eu os percebo.

Nota final: aquela mulher é minha mãe.

Jornalista/advogada - Escreve ao sábado

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